segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20282: Controvérsias (141): o triângulo Jabicunda / Sonaco / Contuboel... Nunca foi atacado, porque tinha à volta uma série de zonas-tampão, Bafatá e a Geba, a sul e a oeste; Fajonquito, Sare Bacar, Pirada e Paunca, a norte e a leste... (Cherno Baldé)


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Contuboel > 16 de Dezembro de 2009 > O João Graça, médico e músico, posando ao lado do dignitário Braima Sissé. Por cima deste, a foto emodulrada de Fodé Irama Sissé, um importante letrado e membro da confraria quadriyya [, islamismo sunita, seguido pela maior parte dos mandingas da Guiné; tem o seu centro de influência em Jabicunda, a sul de Contuboel; a outra confraria tidjanya, é seguida pela maior parte dos fulas].

O Braima Sissé foi apresentado ao João Graça como sendo um estudioso corânico, filho de uma importante personalidade da região, amigo dos portugueses na época colonial [, presume-se que fosse o próprio Fodé Irama Sissé].(*)

Foto: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Bafatá > Jabicunda (?) > C. 1975/76 > Em primeiro plano, sentado, mais do lado esquerdo,  está Fodé Irama Sissé. Em segundo plano, de pé, à direita, O Braima Sissé está à direita, de chapéu vermelho, ainda jovem; atrás de Fodé Irama Sissé, está Sissau Sissé (já falecido) e, "vestido à civil", Malan Sissé que foi quem em Bissau mostrou a fotografia ao nosso amigo, e membro da nossa Tabanca Grande, o antropólogo Eduardo Costa Dias, e lhe me deixou tirar "fotografia da fotografia". Entre Malan e Braima está Arafan Cont+e, aluno de Irama. Fotografia de fotografia, de autor desconhecido, datada provavelmente de 1975/76. 

Foto (e legenda): © Eduardo Costa Dias (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Mapa geral da província (1961) > Escala 1/500 mil > Detalhes > Zona leste > O triàngulo Jabicunda, Sonaco e Contuboel.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)



Cherno Baldé, Bissau
1. Comentário do nosso assessor para as questões etnolinguísticas, Cherno Baldé (Bissau), ao poste P20267 (**):

Caros amigos,

Acabo de regressar de uma viagem (missão de serviço) à zona Leste, mais precisamente ao Sector de Boé, tendo visitado as localidades de Canjadude, Tchetche (Ché-Ché), Dandum e Beli onde funcionam centros de saúde para a população.

Depois, no regresso e na região de Bafatá,  visitamos Contuboel, Cambaju e Fajonquito. Todas estas localidades estão hoje irreconhecíveis, uma sombra do que foram, sem falar das cidades de Gabu e Bafatá que estão numa situação lastimosa. Entregaram o ouro aos bandidos e não se podia esperar melhor.

Sobre o tema do presente Poste (*), só tenho a dizer aliás a reiterar o que já tinha dito em tempos: Contuboel nunca foi atacada e, na minha modesta opinião, porque não fazia parte dos planos da guerrilha e porque tanto Contuboel como Sonaco estavam rodeados de postos militares que serviam de dissuasão a qualquer ataque (Geba e os seus destacamentos, Fajonquito e seus destacamentos, Saré-Bacar, Paunca, Pirada, entre outros, a servir de tampão).



Mesmo Fajonquito, a 20 km da fronteira e situado perto da região do Oio, só foi atacada em 1964
entre os meses de Agosto e Setembro e, nessa altura, foi muito pressionado com ataques prolongados e sucessivos como nos testemunhou o Diário do soldado Incio Maria Góis´,  da CCaç 674 (1964/66), mas com a resistência da companhia e a colaboração da população e autoridades tradicionais que recrutaram milicias, a guerrilha contentou-se com emboscadas e flagelações aos postos avançados. Na verdade, já tinham conseguido assegurar o isolamento do corredor de Sitató e uma vasta zona de infiltração para o Centro do país e para o  Morés.

Uma observação que queria deixar ao Luis Graça é que, para quem vem de Bambadinca e Bafatá, o trajecto para Sonaco faz-se por estrada a partir da localidade de Djabicunda, antes de Contuboel. Embora muito próximos, a ligação entre as duas localidades fazia-se via terrestre passando por Djabicunda por causa do rio Geba.

Com um abraço amigo.

Cherno Baldé

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9 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Temos apenas 3 referências no nosso blogue a Jabicunda (lê-se: Djabicunda)...

Recorde-se que, segundo o nosso especialista em etnolinguística, Cherno Baldé, os topónimos terminados em "Cunda" designam, em mandinga, bairro, povoação, localidade, tabanca, de mandingas de confissão muçulmana.

Estes topónimos teriam a sua origem no império de Kaabu ou Gabu, em meados do séc. XIX, com o aparecimento das guerras santas [Jiade] e dos primeiros reinos teocráticos fundados por marabus fulas e saracolés no território do actual Senegal, Mali e Guiné-Conacri.

Há escassas referências também na Net a esta povoação, vértice do triángulo que inclui Contuboel e Sonaco. Obrigado ao Cherno por me lembrar que, para Sonaco, tinha-se de passar por Jabicunda...

Passei por lá várias vezes, em Jabicunda, entre junho e julho de 1969... A ideia que tenho é que estas povoções, deste triângulo, a norte de Bafatá, tinham frondosos e centenários "poilões" respirando uma calma e uma paz que nunca encontrei no resto do território da Guiné... E de facto lá não havia guerra!...

Na Amora, Seixal, há pelo menos uma Rua de Jabicunda... Vá-se lá saber porquê...E há pelo menos um cidadão, português, Ussuamane Fati, nascido em Jabicunda em 1958:

No Diário da República enconteri este aviso:



Aviso n.º 18368/2007
Publicação: Diário da República n.º 186/2007, Série II de 2007-09-26
Emissor:Ministério da Administração Interna - Serviço de Estrangeiros e Fronteiras
Tipo de Diploma:Aviso
Parte:C - Governo e Administração direta e indireta do Estado
Número:18368/2007
Páginas:28188 - 28188


SUMÁRIO
Concede a nacionalidade portuguesa, por naturalização, a Ussumane Fati

TEXTO
Aviso n.º 18 368/2007

Por decreto do Secretário de Estado Adjunto e da Administração Interna de 5 de Fevereiro de 2007, foi concedida a nacionalidade portuguesa, por naturalização, a Ussumane Fati, natural de Jabicunda, República da Guiné-Bissau, de nacionalidade guineense, nascido em 15 de Maio de 1958, o qual poderá gozar os direitos e prerrogativas inerentes depois de cumprido o disposto no artigo 34.º do Decreto-Lei n.º 322/82, de 12 de Agosto, com as alterações introduzidas pelos Decretos-Leis n.os 253/94, de 20 de Outubro, e 37/97, de 31 de Janeiro.

15 de Setembro de 2007. - Pelo Director-Geral, a Chefe de Departamento de Nacionalidade, Marina Nogueira Portugal.

https://dre.pt/home/-/dre/2673584/details/maximized

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Consuktei, na Casa Comum / Fundação Mário Soares, o seguinte documento:

"Caderno para arrolamento de palhotas, Circunscrição Civil de Bafatá, Posto Administrativo de Contuboel, ano económico de 1935/36, arrolador Armando N. Pereira Vale e Silva."


Pois nessa altura, 1935/36, Contubo-El (era assim a grafia...) era um povoação composta por gente "raça fula e mandinga" (sic). Foram "arrolados" 67 contribuintes que, no total, possuíam, possuíam 179 "palhotas" (fogos ou moranças)... Só 10 foram "isentas" do imposto de palhota...

ESte é um dos aspetos mais odiosos do "colonialismo europeu" (e, por tabela, "português"): era a forma de submissão dos habitantes, obrigando-os a entrar na "economia capitalista"... e a "civilizarem-se"... Para pagares o imposto e poderes viver na tua casa, produzes e vendes mancara à Casa Gouveia e outras casas comerciais...

Quem não podia (ou queria) pagar o imposto de palhota (o IMI da época...), ficava sujeito ao "trabalho forçado" (, utilizado nas obras públicas, como estradas, fontes, pontes, etc.). O "trabalho forçado" foi foi, "de jure", extinto em 1961, por iniciativa de Adriano Moreira...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Ezqueci-me de citar o documento:

(1936), Sem Título, Fundação Mário Soares / C1.6 - Secretaria dos Negócios Indígenas, Disponível HTTP: http://www.casacomum.org/cc/visualizador?pasta=10430.136 (2019-10-28)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O contribuinte nº 37, Cherno (?) Fati tinha 3 palhotas [... havia quem tivesse 9 como o Arafan
Malan Sissé (nº29), 10 como o Caussatam Sissé (nº 43), ou 11 como o Biló Baldé (nº 49..)].

E não estava isento, o Fati. O seu neto (?) Ussumane Fati, nascido 22 anos depois, em 1958, em Jabicunda, chegaria a obter a nacionalidade portuguesa em 2007...

Espero que ainda hoje esteja vivo e que até nos possa ler...

Valdemar Silva disse...

Voltando a 'Contuboel nunca foi atacada porque tinha à volta uma série de zonas-tampão' e o Manuel Oliveira Pereira escreve '...estamos no interior duma mata densa no triângulo Sonaco/Contuboel/Nova Lamego…. quatro ou cinco guerrilheiros bem armados que nos emboscaram...'.
Como é que estes guerrilheiros bem armados passaram/vieram por este triangulo com uma série de zonas-tampão, apenas para conversações com as NT? Com esta facilidade de movimentação nunca pensaram num ataque, porquê?

Valdemar Queiroz

Cherno Baldé disse...

Caro amigo Luis e Valdemar,

Pelas informaçoes que tenho e pelo nome que ostenta, Djabicunda teria sido fundada por Saracolés da familia Djabi e Sissé, mais tarde vieram os mandingas das linhagens Fati (sapateiros). Hoje a maioria dos habitantes sao mestiços destes grupos que ai se assentaram, creio que, desde o seculo XIX.

Sobre Contuboel, antes de tudo frizei que nao tinha sofrido nenhum ataque porque "nao fazia parte do plano da guerrilha ataca-la". Se tinham conseguido a proeza de atacar/flagelar Bafata e Bissau, nao vejo porque nao podiam flagellar Contuboel mesmo que de longe e por alguns minutos. Todavia, convenhamos que o triangulo Contuboel-Sonaco-Djabicunda estava bem protegido, pois para além dos aquartelamentso e destacamentos mencionados no mapa, ainda haveria a destacar pequenos destacamentos espalhados na mesma zona, como Cantacunda, Suna, Saré-Djamara (a Oeste), Saré-Uale, Sumbundo e Guiro-Iero-Bocar (onde o nosso amigo Valdemar Embalo passou as férias da juventude) a Norte, entre outros. De uma coisa eu tenho quase a certeza, se o nucleo duro de Sancorla (Fajonquito-Canhamina-Cambaju) tivesse caido em 1964, como tentaram e nao conseguiram, acho que o triangulo Contuboel-Sonaco-Djabicunda nao teria a paz e o sossego que teve até 1974.

Como bem faz notar o Valdemar, nao existe um triangulo Contuboel-Sonaco-Gabu, pois estas cidades estao mais ou menos na mesma linha de Este-Oeste. Mas, nao quero discutir e muito menos por em causa palavras vindas de uma pessoa muito idonea e credivel e ao qual nutro muito respeito e admiraçao.

Com abraço amigo de sempre,

Cherno Baldé

Valdemar Silva disse...

Caro amigo Cherno Baldé

Que me dera estar, agora, em Guiro Iero Bocari. Quem me dera, quem me dera.
Agora é como quem diz, recuar no tempo para ter 24 anos.
Evidentemente, não foram dias de férias festivas, de ócio ou descanso, como se fosse premiado com um mês de férias numa pequena aldeia na savana africana.
Foram os dias de absoluta calmaria passados na pequena tabanca de Guiro Iero Bocari que podem ser considerados férias em plena de guerra.
Inesquecível

Um abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz Embaló

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não sei se o fator religioso foi important como no caso de Almeida Formosa (Quebo) de quem se dizia que era poupada pelo PAIGC por causa do venerável Cherno Rachid... Mas quando foi preciso atacar Aldeia Formosa, atacou-se ou flagelou-se, com ou sem a benção do Cherno Rachid (que, de resto,se aproximou de Spínola...).

Nestas coisas da guerra de guerrilha, há sempre muitas variáveis em jogo, a começar pela implantação no terreno, a análise de custo / benefício... Mas concordo com o essencial do raciocínio do Cherno Baldé (e com a observação certeira do Valdemar 'Embaló': se a sua "terra natal" (, a do Cherno), a noroeste, tem caído em 1964, as coisas tinha-se complicado para o subector de Contuoel... Esdtamos a fakar do subsetor de Fajionquito. Mas não esquecemos a valemte rapaziada que esteve no Geba, a começar pelo nosso querido amigo e camarada A. Marques Lopes... Estavam espalhados por uma vasta rede de destacamentos (incluindo tropa e milícias)...

Basta lembrar-nos da tragédia de Banjara... Por outro lado, só quero aqui também lembrar, muito modestamente, o meu pequeno contributo para o reforço de Saré Ganá, em agosto de 1969: foi a primeira primeira missão no TO da Guiné... E um ano antes o PAIGC entrou na Tabanca...

Sobre Banjara, vd,. poste de


1 DE FEVEREIRO DE 2011
Guiné 63/74 - P7702: Memória dos lugares (130): Banjara, destacamento a 45 km de Geba, CART 1690 / BART 1914, subunidade com um dos mais trágicos historiais do CTIG (1967/69) (A. Marques Lopes / Alfredo Reis)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Cherno e Valdemar, depois é preciso ter em conta que havia 1 Kalash para 10 G3 na Guiné... Da tropa às milícias eà população em autodefesa, havia muita G3 (e Mausers) espalhadas pelo leste...

É verdade que a guerrilha em territórios como a Guiné podia mover-se como "peixe dentro de água"... Mas não era bem assim, na zona leste... No sector L1 (Bambadinca), também era difícil ao PAIGC penetrar no regulado de Bador... Bambadinca nunca foi atacada no meu tempo tempo, ou seja, ao tempo da CCAÇ 12, justamente formada por militares do chão fula (Badora e Cossé).

EE também se aí, com muita descontração, e às vezes à civil (embora fosse proibido...) de Bambadinca a Bafatá (, estrada alcatroada)... nas "horas de lazer". O PAIGC nunca arriscou montar lá uma emboscasda...