quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20292: Episódios da minha guerra (Manuel Viegas, ex-fur mil, CCAÇ 1587, Empada, Catió e Ilha do Como, 1966/68) - Partes II/III: Em Tite, ordem (frustrada) para caçar o 'Nino' Vieira, vivo ou morto; em Bissalanca, voluntário para apanhar as 'canas dos foguetes'


Guiné-Bissau > Bissau > Presidência da República > 6 de Março de 2008 > 'Nino' Vieira em pose de Estado... Foto extraída de vídeo feito durante a audiência que o Presidente João Bernardo Vieira, 'Nino' (1939-2009) deu a cerca de duas dezenas de participantes estrangeiros do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de Março de 2008)... Sem dúvida, faz hoje parte dos 'mitos' fundadores da jovem e conturbada República da Guiné-Bissau... Seguramente foi o homem mais procurado do PAIGC durante a guerra colonial... O seu fantasma era visto por todo o lado... Chegou às mais altas responsabilidades do Estado... Mas nunca nenhum bom guerrilheiro deu um bom estadista... Como político, 'Nino' Vieira é uma figura controversa. O que pensarão dele, hoje, os jovens guineenses que nada sabem da luta pela independência?...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição; Blogue Luís Graça & Canaradas da Guiné]



[Foto à esquerda: Manuel Rosa Viegas, ex-Furriel da Companhia de Caçadores, nº 1587, Empada , Catió e ilha do Como, entre 1966 e 1968; vive em Faro; é o mais recente membro da Tabanca Grande, nº 798 (*)]

Episódios da minha guerra (Manuel Viegas, ex-fur mil, CCAÇ 1587, Empada, Catió e Ilha do Como, 1966/68) - Partes II/III:  Em Tite, ordem (frustrada) para caçar o 'Nino' Vieira, vivo ou morto; em Bissalanca,  voluntário para apanhar as 'canas dos foguetes'

Há dias o meu amigo Zé Viegas acordou-me de uma hibernação de mais de cinquenta anos, e convenceu-me a não levar comigo o que vi e o que passei.

Este episódio que vou transcrever é sobre a minha ida a Tite (Parte II). E o outro sobre Bissalanca (Parte III).

Encontrava-me na tabanca dos Fulas, em Empada,  que ficava perto do aeródromo, vi uma avioneta que sobrevoava o aeródromo, pensei que vinha entregar frescos, porque o correio tinha sido entregue de manhã.

Quando me deslocava na sua direção, apareceu o impedido do comandante no jipe a dizer que o comandante queria falar comigo. Pelo caminho fomos à procura do Ceia e do Hermenegildo, um era o apontador da bazuca, o outro era municiador. Começamos a fazer contas de cabeçal  que não estava para acontecer coisa boa. 

Fomos à presença do capitão, que nos cumprimentou efusivamente e disse-nos que tínhamos como missão deixar bem representada a Companhia 1587, e para nos fardarmos devidamente e levarmos o material de guerra que costumávamos utilizar, as instruções seriam dadas depois no local do desembarque. 

Fiquei apreensivo e amedrontado,  não transmitindo aos meus camaradas o que me ia na alma. Fomos para a avioneta sem saber para onde íamos, o piloto cumprimentou-nos e disse para não estarmos preocupados, que tudo ia correr bem... Já no ar perguntei qual era o o nosso destino. Respondeu-me que íamos para Tite. 

Ao aterrarmos veio um oficial buscar-nos, cumprimentou-nos e disse que já me conhecia de uma operação que tínhamos feito juntos. No trajeto até ao gabinete das operações, vi tropas espalhadas por todo o lado, fez- me uma grande confusão... Quando chegámos ao gabinete do capitão é que soubemos a finalidade da nossa ida ali, disse-nos que íamos fazer um ataque surpresa a um sítio onde estava o 'Nino' Vieira, e que receberíamos instruções sobre o nosso lugar na coluna.

Passado um bom bocado fomos jantar, os soldados começaram-se a organizar, íamos descansar e pela madrugada iríamos ao alvo. Veio o dia, quando de repente recebemos ordem que já não se efetuava a operação, o 'Nino' Vieira tinha sido avisado do que estava a ser organizado em Tite, tendo desaparecido do lugar. Por esse motivo a operação não foi concretizada, o que foi um alívio.

Ao transcrever esta operação frustrada, lembrei-me de quando estava em Bissau numa consulta externa... Nessa noite atacaram Bissalanca com canhões sem recuo e não só, apareceram dois condutores à procura de voluntários para Bissalanca, os voluntários não foram muitos, mas chegados lá verificamos que o inimigo largara as granadas e desaparecera...

O pessoal estava todo em alvoroço. Entrei na caserna ocupada por três militares e vi que uma granada caiu lá dentro e desfez quase tudo. Um dos três ocupantes era meu amigo, cabo especialista da Força Aérea, cujo nome era Pinho. Foi ver os estragos dos seus aprestos, estes estavam todos traçados inclusive um casaco de antílope estava todo traçado e preto, não houve mortos nem feridos que eu tenha conhecimento.

Manuel Rosa Viegas
Furriel Miliciano – 75 anos
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