1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo CAR da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro,
1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem", com data de 18 de Outubro de 2019, trazendo um poema dedicado ao seu neto que completa hoje o seu primeiro ano de vida:
Caros camaradas,
É costume falarmos das agruras do nosso passado de militares mas hoje cabe-me falar das alegrias do presente, bem como de algumas dores nas costas.
Faz um ano, hoje dia 31, que nasceu o meu neto Henrique, e como esse acontecimento veio transformar a minha vida de piloto experimental de sofás, bem como umas reconfortantes sestas, numa agitação de parques infantis, sopas e fruta esmagada, fraldas mijadas e pior que isso choradeiras e agora já com umas nódoas negras.
Não é nada que milhares de camaradas não tenham passado e perguntarão alguns para quê tanta tragédia.
Mas para que servem os momentos felizes se não falarmos deles e dos seus actores, agora que estão aí as castanhas e a água-pé mais logo o vinho novo?
Assim sendo cá vai um poema que as cataratas me deixaram escrever.
Um abraço para todos
Juvenal Amado
Porque tardaste?
Porque tardaste tanto?
- Não conhecerás se não os meus olhos cansados
As minhas mãos que tremulam
O meu andar pesado e lento
As minhas barbas brancas
O meu cabelo raro.
-Porque tardaste tanto?
Miro-te
Não sabes ainda que o tempo será sempre pouco
Vou guardar o teu sono
Pois os dias em que te contemplo serão curtos
Não te assustes com o vento e trovoada
Que eu rezo a Santa Bárbara.
- Vou ajudar nos teus os primeiros passos
Vou magoar-me com o teu choro
Quero-te mostrar a beleza do mar
Ensinar-te o quanto é suave o odor das árvores
Por recompensa beberei o teu riso
Cada gargalhada tua será um hino.
- Só chegaste no meu entardecer
Fizeste-me renascer
Trouxeste-me amanheceres límpidos
- Porque demoraste tanto a chegar?
Só tenho amor para dar e estórias para te contar.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 27 de Outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20279: Blogpoesia (641): "Noites bravas", "Os frascos" e "Vales sombrios", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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8 comentários:
Que maravilha, meu caro camarada Juvenal Amado! Sim, camarada, porque também eu me atolei nos lodos da Guiné, me rasguei nas lalas e matas, convivi com a morte e os feridos e até descansei à sombra do poilão sagrado… Parabéns, camarada, e viva a vida porque o nosso tempo poderá ser pouco, mas há-de guardar ainda muitos sonos e beber muitos sorrisos, como tu dizes. Um abraço para ti e para todos vós, camarigos.
José Torres (ex-alferes CC 1566 - Jabadá - Fulacunda - 1966/68).
Belo poema Juvenal para o teu neto que completa o seu primeiro aniversário, não te preocupes ainda vem a tempo de te dar muitas alegrias e algumas chatices, são todos iguais. Já tenho 4, um com quase 19 anos está no 2º ano da ISEG e tenho o poema que lhe fiz nesse dia do 1º aniversário, quando não tinha mais nenhum neto. Pena é não poder colocar aqui o Poste, Fica para outro dia.
Foi uma sensação indescritível, com direito a foto e tudo, mas nada sobre a guerra.
Todos se admiraram com a minha veia poética, que nunca tive, e depois desse poema, nunca mais fiz nenhum, nem a esse neto nem aos outros. Foi-se a veia...
Parabéns para ti, o teu neto e os seus pais,
Virgilio Teixeira
O grande, o excelente Juvenal Amado. Separam-nos algumas opções, alguns entendimentos do fluir da vida, mas admiro a tua visceral honestidade, une-nos a alma e o coração.
Abraço,
António Graça de Abreu
Que lindo poema, Juvenal!...Prometo lê-lo à minha neta que está para nascer por estes dias!... Parabéns, e obrigado!
Juvenal, meu "malvado"!
Quem, com um mínimo de sensibilidade, não se emocionará ao ler este poema e sem esforço nenhum perceber não só as palavras escritas nas linhas mas também as entrelinhas?
O poema é uma maravilha, de facto.
Mas, ao mesmo tempo que é uma saudação também não deixa de ser um lamento ("porque tardaste?").
E lamento não tanto pelo facto de ter "tardado" mas principalmente pelo que as entrelinhas deixam perceber e que é o teu sentimento do pouco tempo que possas ter.
Ora, amigo Juve, agarra-te ao que te anima e deixa o resto fluir como se fosse "um destino traçado".
Um grande abraço.
E não te esqueças de dar as notícias que ficaste de dar....
Hélder Sousa
Meu camaradas venho aqui agradecer as vossas palavras dozervos que este ano que passei com ele foi benção. É insdicritivel assistir ao desabrochar de uma vida. Abraço para todos
Juvenal, meu querido camarada e amigo:
Vou lendo o poema e a emoção irrompe "in crescendo" até ao último verso.
Repito a leitura, em voz alta e a partilhar com alguém ao lado. Agora são dois avós a emocionarem-se, a sentirem fundo a força e beleza destes teus versos maravilhosos.
E foi com embargo na voz e lágrimas a espreitar que "ficámos" a ouvir:
"- Porque demoraste tanto a chegar?
Só tenho amor para dar e estórias para te contar."
Muito obrigado por estes momentos, amigo. Muitas felicidades!
Um abração
Manuel Joaquim
Näo fiquei surpreendido com a qualidade,frontalidade e,näo menos,sensibilidade do teu poema.
"Caminhas-te caminhos",näo fáceis mas...importantes.
E as caminhadas,por difíceis, formaram-te.
Sinceros parabéns pelo nascimento do teu neto.
Ao mesmo tempo...dou parabéns ao teu neto pelo Avô que a seu lado tem.
E meu Caro Amigo e Camarada,ao ler o teu poema aqui no extremo norte da Suécia,bem dentro do Círculo Polar Árctico,informo-te teres conseguido fazer esquecer os muitos graus negativos,neblinas cerradas e alta neve que neste momento se fazem sentir lá fora.
Um abraco do J.Belo
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