sábado, 2 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20304: Manuscritos (Luís Graça) (172): as cores quentes e frias do outono da Tabanca de Candoz - Parte I
















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Fotos (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Agora que corremos o risco de, num futuro ainda próximo, deixarmos de ser um país temperado, com quatro estações, sabe bem vir aqui até ao Norte e apanhar três dias de chuva sem parar... e ver a paisagem com cores outonais, numa  magnífica paleta de tonalidades, quentes e frias, onde predomina os verdes escurecidos, os amarelos alaranjados, os vermelhos alaranjados,  os violetas, os azuis arroxeados, os castanhos, os brancos sujos... 

É essa mistura de cores quentes e frias que gosto de encontrar, quando aqui volto, à Tabanca de Candoz, depois das vindimas... Este ano nem sequer vim às vindimas... Na Guiné só havia duas estações, e era um sufoco. Sempre me faltou o outono e, de certo modo, a primavera. Mas o outono é(era) uma estação especial da minha infância... Reencontro-o  aqui, por estes dias...


Tabanca de Cando< As nossas comidinhas >
No dia dos mortos,
arroz de pica no chão (não é de cabidela,
porque há quem não o possa comer...)
Comem-se castanhas e romãs, bebe-se o vinho verde do ano passado, acabado de engafarrar, mais espumoso do que o espumante, com quase 13 graus, mistura fabulosa de azal, loureiro e alvarinho... Não há rolhas que o aguentem este ano...

É o nosso São Martinho, depois de evocados e homenageados os nossos queridos mortos, que ele  não há flores que cheguem para as campas nos cemitérios  nesta altura...

O almoço, neste dia, antes de "atacar o cemitério" (missa e visita às campas), é "o arroz de pica no chão"... Simplesmente, cinco estrelas!... 

E, à laia de provocação, a gente diz, à mesa: 
"Ó Avillez, tens cá disto ?"... Em voz alta, que esta gente, à mesa, é ruidosa e galhofeira... 

Como se pode ler no "Cancioneiro de Candoz" (2ª edição revista e aumentada, 2017. p. 105), "É um povo hospitaleiro / Que sabe receber e dar, / Se na fé é o primeiro, / Não fica atrás no folgar".

E, no entanto, com chuva, sem sol, no dia dos mortos, este tempo presta-se à meditação e... à depressão!... Os dias são curtos, a noite chega cedo... E já se acende a lareira.

Ainda dependente da canadiana, lá me atrevo a dar uma volta pela terra, à procura de "santieiros" (cogumelos) e sobretudo das cores outonais... Aqui deixo uma seleção de fotos em três partes... Nem todos os amigos e camaradas da Tabanca Grande, que vivem na cidade, têm o privilégio de, como eu,  sentir o pulsar da natureza, que é vida, rodeado de dois rios, o Douro e o Tâmega e de montanhas altas, da serra de Montemuro à serra da Aboboreira, com o Marão mais lá ao longe...

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