quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20414: Historiografia da presença portuguesa em África (190): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (5): "O Império Marítimo Português”, por Charles Ralph Boxer; Edições 70, 2017 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Janeiro de 2019:

Queridos amigos,
Depois de um quadro expositivo, marcadamente teórico sobre a evolução do racismo, caraterização e manifestações, era altura de entrar declaradamente na apreciação do colonialismo português. Charles Ralph Boxer (1904-2000) publicou este livro em 1969, caiu nos governantes do Estado Novo como uma bomba. Só não lhe chamaram comunista porque ele era visceralmente conservador. Era professor no King's College em Londres, Doutor Honoris causa em Utrecht e Lisboa, agraciado com a Ordem de Santiago de Espada. Ora Boxer ia desmontar, na sequência de outros trabalhos já publicados nessa década, a falácia do Portugal multirracial e luso-tropical, revelou, com documentação sólida na mão que o colonialismo português era categoricamente discriminador e com práticas raciais indesmentíveis, desde os primeiros séculos do império, como se verá também no texto seguinte.

Um abraço do
Mário


A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (5)

Beja Santos

Charles Boxer
Nesta polémica inextinguível sobre o racismo no colonialismo português, o historiador britânico Charles Ralph Boxer tem uma palavra determinante a dizer. Na sua obra mais acessível em termos de aquisição, e em língua portuguesa, temos “O Império Marítimo Português”, Edições 70, 2017, com introdução do historiador Diogo Ramada Curto. Este título surgiu em 1969, e o professor Boxer que era profundamente estimado, inclusive condecorado pelo Estado Novo, causou indignação, consternação, repúdio, na continuação de trabalhos recentes que desenvolvia sobre o império colonial português e as relações raciais. Era um ataque frontal à propaganda do Estado Novo que fazia apanágio da multirracialidade, e que desde 1951 procurava apagar as marcas evidentes do esclavagismo encapotado, do trabalho forçado, da discriminação e das múltiplas manifestações de preconceitos. Nenhum editor se atreveu a traduzir a obra, a primeira edição em Portugal data de 1977, graças a Edições 70.

Em termos historiográficos, como salienta Ramada Curto, é de leitura indispensável. Boxer distanciara-se das teses de António Sérgio e de Jaime Cortesão, para quem a formação de Portugal estaria nas atividades marítimas, enfatizando que o Portugal medieval era uma sociedade cuja estratificação social e base económica eram determinadas pela agricultura, as atividades marítimas eram fragmentárias e intermitentes, a dinâmica da marinha comercial situa-se no fim do século XIV. Boxer irá sugerir um outro feixe de razões económicas para a expansão portuguesa, e detalha-as neste livro. É uma longa viagem, redigida numa escrita vibrante e acessível como só os grandes mestres possuem o dom, percorrer-se-á todo o Império Português desde a cristandade medieval, disseca-se o projeto henriquino, o ouro da Mina e a demanda do Preste João, a longa exploração em torno do litoral da costa africana, depois o fundamento do império militar no Oriente e a constituição da rota das especiarias nos mares da Ásia, a evangelização dos locais do Oriente onde se fixaram os portugueses, depois os escravos e o açúcar do Atlântico Sul, entre os séculos XVI e XVII, os renhidos combates contra os holandeses; depara-se-nos, entre os séculos XVII e XVIII o refluxo do I Império, dá-se a contração no Oriente, assiste-se nesse mesmo período a um renascimento económico de Portugal e do seu império ultramarino graças ao Brasil, não já o açúcar mas o ouro e as pedras preciosas; dar-se-á nota da carreira da Índia e das frotas do Brasil, em simultâneo disseca-se o que foi o Padroado da Coroa e as missões católicas, e é então que se chega à matéria mais explosiva que o autor designa por “pureza de sangue” e “raças infectas”.
E logo o primeiro período ameaça tempestade:
“Não faltam eminentes autoridades contemporâneas que afirmem que os Portugueses nunca tiveram quaisquer preconceitos raciais dignos de menção. O que essas autoridades não explicam é a razão pela qual, nesse caso, os Portugueses, durante séculos, puseram uma tal tónica no conceito de ‘limpeza’ ou ‘pureza de sangue’ não apenas de um ponto de vista classista mas também de um ponto de vista racial, nem a razão por que expressões como ‘raças infectas’ se encontram com tanta frequência em documentos oficiais e na correspondência privada até ao último quartel do século XVIII”.
E logo adianta que os cristãos-novos e os escravos negros não eram os únicos indivíduos em relação aos quais se fazia discriminação, nem todos os católicos apostólicos romanos eram, de modo algum, elegíveis para os cargos oficiais.

A abordagem não pode ser linear, tem matizes de complexidade, e Boxer dá exemplos que disparam em várias direções. Um congolês educado em Lisboa foi nomeado bispo titular de Útica em 1518. Um breve papal desse mesmo ano autorizava o capelão real de Lisboa a ordenar “etíopes, indianos e africanos” que pudessem ter atingido os padrões morais e educacionais exigidos para o sacerdócio. Em 1541, o Vigário-Geral de Goa convenceu as autoridades civis eclesiásticas a patrocinarem a fundação de um seminário para a educação e treino religioso de jovens asiáticos e africanos orientais, os jesuítas assenhorearam-se da instituição e associaram-na ao seu Colégio de São Paulo. Mas muitos religiosos eram céticos à experiência multirracial. São Francisco Xavier advogava a ideia de que noviços indianos não deviam ser admitidos na Companhia de Jesus. Boxer observa o desdenhoso desprezo manifestado pelos leigos portugueses face aos padres indianos e euroasiáticos.

E quando se fala em complexidade, tendo havido apenas um indiano que foi ordenado padre da Companhia de Jesus, tendo mesmo o grande reorganizador das missões jesuítas na Ásia, Alexandre Valignano, aberto uma exceção em favor da admissão de japoneses ao sacerdócio, alargando-a aos indochineses e coreanos, opôs-se determinantemente à admissão de indianos na Companhia de Jesus, e escreveu mesmo: “Tanto porque todas as raças escuras são muito estúpidas e viciosas, e espiritualmente do mais baixo nível que é possível, como também porque os portugueses as tratam com o maior dos desprezos, e ainda porque entre os habitantes da região são menos estimados do que os portugueses”. Mais tarde ou mais cedo, diz Boxer, todas as ordens religiosas que trabalhavam sob a alçada do padroado asiático adotaram o precedente estabelecido pelos Jesuítas.

Complexidade, os portugueses compreenderam que não podiam destruir o antiquíssimo sistema de castas hindu, teriam de viver em harmonia com ele: com os brâmanes, ou classe sacerdotal; os xátrias, ou classe militar; os vaixiás, de que faziam parte mercadores e camponeses; e os sudras, ou lacaios e servos. Tudo Boxer descreve minuciosamente, e com documentos na mão.

Referindo-se a África Ocidental, dirá que aqui predominou uma atitude muito mais liberal, tendo sido ordenados alguns congoleses educados em Lisboa logo no reinado de D. Manuel, precedente que foi seguido sucessivamente nas ilhas de Cabo Verde, em S. Tomé, e, depois de considerável hesitação, em Angola. E no Brasil nunca se pôs sequer o problema de ordenar ameríndios puros.
Como se irá ver seguidamente.

(continua)
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Nota do editor

Poste anterior de 27 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20389: Historiografia da presença portuguesa em África (188): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (4): "Portugueses e Espanhóis na Oceânia", por René Pélissier (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 30 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20399: Historiografia da Presença Portuguesa em África (189): I Exposição Colonial, Porto, junho/setembro de 1934: fotogaleria do encerramento...

Guiné 61/74 - P20413: Álbum fotográfico de Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7 (Bissau e Fulacunda, 1969/71) - Parte IV: Acção Mabecos (subsetor de Piche, 22-24 de fevereiro de 1971)


Guiné > Região de  Gabu > Piche > Acção Mabeos > 22-24 de fevereiro de 1971 > Progressão da coluna


Guiné > Região de  Gabu > Piche > Acção Mabeos > 22-24 de fevereiro de 1971 > Progressão da coluna


Guiné > Região de  Gabu > Piche > Acção Mabeos > 22-24 de fevereiro de 1971 > Progressão da coluna



Guiné > Região de  Gabu > Piche > Acção Mabeos > 22-24 de fevereiro de 1971 > Progressão da coluna


Guiné > Região de  Gabu > Piche > Acção Mabeos > 22-24 de fevereiro de 1971 > Progressão da coluna


Guiné > Região de  Gabu > Piche > Acção Mabeos > 22-24 de fevereiro de 1971 > Progressão da coluna


Guiné > Região de  Gabu > Piche > Acção Mabeos > 22-24 de fevereiro de 1971 >  "Eu estava sob as ordens do Capitão Osório [, de origem macaense,  aqui na foto], homem da artilharia, já falecido. No relatório desta operação está referido a forma elevada como o pessoal da Artilharia participou na resposta ao fogo IN, na sequência de emboscada, logo no primeiro dia, 22".


Guiné > Região de  Gabu > Piche > Acção Mabeos > 22-24 de fevereiro de 1971 >  O fur mil art Domingos Robalo, adjunto do cap art Osório: "A minha posição na coluna era na retaguarda, numa Berliet com um obus 14. Noutra viatura, na retaguarda da minha, ía o alferes Sá Viana Rebelo (sobrinho o Ministro do Exército)."

Imagens da progressão da coluna, de Piche  até à fronteira (, no rio Campa): "Sem fazer grandes cálculos, mas tendo em mente as tropas envolvidas, a nossa coluna teria um comprimento, em movimento de cerca de entre 1500 m a 1800m".

Fotos (e legenda): © Domingos Robalo (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico (*) de Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7, Bissau, 1969/71; foi comandante do 22º Pel Art, em Fulacunda (1969/70); vive em Almada; tem mais de 20 referências no nosso blogue. [, Foto atual, à esquerda].

Já no final da comissão, que terminaria em abril de 1971 [, 24 meses!], o  Domingos Robalo, de rendição individual, colocado no BAC 1 / GAC 7,depois de trer comandado o 22º Pel Art, em Fulacunda (1969/70),  ainda participa na Acção Mabecos, em 22, 23 e 24 de fevereiro de 1971 (**):

A Acção Mabecos, executada a partir de Piche, tinha como objecto a retaliação,  com fogo de artilharia, à base IN de Foulamory, na região fronteiriça, a cerca de 12/13 km  Os obuses adequados e definidos para a operação eram os de 14 cm [, Saré Bacar e Canquelifá], e as peças de 11,4 cm, com maior alcance [ Piche.]

Então, convocaram-se os Pelotões de Artilharia de Saré Bacar, com 3 obuses 14,0; Canquelifá com 2 obuses [,14,0] e o pelotão reforçado de Piche, com 4 obuses [, peças 11.4]. [Bajocunda e Pirada tinham obuses 10,5 cm, não sendo adequados à operação.] 

O objectivo era Posicionar - se próximo da fronteira, Rio Campa, junto ao Corubal, e bombardear posições IN na região de Foulamory (Guiné Conacri).

Participaram as seguintes forças:

(i) 1º, 2º, 3º e 4º P el / CART 3332.

(ii) 3º e 4º Pel / /CCAV 2749 / BCAV 2922).

(iii) Duas secções de milícias da CM 249;

(iv) Uma secção de milícias da CM 246, com Morteiro 60, e 30 granadas;

(v) Uma secção Morteiro 81, 30 granadas;

(vi) Artilharia Pesada: 4 peças 11,4 com 160 Granadas [Piche], 2 Obus 14, com 100 [Canquelifá], 3 Obus 14 com 120 [Sare Bacar] ;

(vii) duas WHITE PEL/REC 2.


(...) Estávamos em semana de carnaval. A emboscada foi ao fim da tarde, de 22 de fevereiro de 1971. desencadeada com fogo muito forte. Lembro-me de haver referência à existência de soldados cubanos nas forças que nos atacaram. 

Com o decorrer do tempo parecia que o fogo era cada mais intenso.Daqui resultou que ordenei aos meus soldados que instalassem o obus 14 em posição de fogo. Creio que 5 minutos depois, estavam no ar as primeiras granadas do obus 14. Passados momentos aparece o Capitão Osório, também do GAC7, apoiando a decisão tomada. Passados 2 ou 3 minutos, o fogo do inimigo cessou. Todavia, as noticias não eram agradáveis porque, no pelotão que estava na frente [, o 3º Gr Comb / CART 3332], havia baixas e na manhâ seguinte havia a confirmação de um desaparecido, a do 1º cabo Duarte Fortunato [, além de 3 mortos e feridos graves]

Naquela mesma área, a artilharia [, 9 bocas de fogo,] tomou posição e durante toda a noite efectuaram-se bombardeamentos.   O erro desta operação foi a demora na reunião da logística bélica, porque estivemos em Piche alguns dias com movimentações anormais, o que despertou a curiosidade da população e consequentemente a organização do inimigo.

De certo modo, lembro-me que havia a expectativa de haver condições para uma emboscada, que se verificou. Lembro-me, também do acidente, na caserna, com uma bazuca [ que fez 3 vítimas mortais entre o pessoal do 4º Pelotão da CCAV 2749 / BCAV 2922]. O pessoal já saiu para a operação completamente desmoralizado e entristecido. (...)





Guiné > Região de Gabu > Carta de Piche (1957) (Escala 1/50 mil) > A tracejado azul, o provável trajecto da coluna, com um cumprimento de 1500 a 2000 metros, que, no âmbito da Acção Mabecos, partiu de Piche até fronteira. (Em linha reta, não devem ser mais de 15 km.)

Nas proximidades do Rio Campa, afluente do Rio Coli,  a par do Rio Cimongru e do Rio Nhamprubana, 9 bocas de fogo (obuses 14 e peças 11.4, c. 500 granadas) flagelaram toda a noite de 23 para 24 de fevereiro de 1971 a base IN de Foulamory, do outro lado da fronteira: A fronteira, aqui,  é delimitada pelo Rio Coli.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)
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(**) Vd. postes de:

22 de novembro de  2019 > Guiné 61/74 - P20370: Fotos à procura de uma... legenda (113): Camaradas artilheiros, quando media, em comprimento, o conjunto Berliet ou Mercedes ou Matador + reboque + obus 14 ou peça 11,4 ?.. 15 metros!... E quanto pesava ? 15 toneladas!... Façam lá o TPC: 9 bocas de fogo, mais 9 rebocadores, mais 9 Unimogs e Whites, mais 300 homens em armas... mais 500 granadas... Qual o comprimento (e o peso= de uma coluna destas, a progredir numa picada, no mato, de Piche, a caminho da fronteira, "Acção Mabecos", 22-24 de fevereiro do século passado, numa guerra do outro mundo ?!..

21 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20368: Blogues da nossa blogosfera (115): "A guerra nunca acaba para quem se bateu em combate": o dramático relato da Acção Mabecos, Piche, 22, 23 e 24 de fevereiro de 1971 (texto de Eduardo Lopes; fotos de Jorge Carneiro Pinto, CART 3332, 1970/72)

19 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20364: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - IX (e última) Parte: Nunca mais esquecerei aquele abraço, num lojeca em Bissau, antes do meu regresso a casa, daquele negro de Fulacunda, o Eusébio, suspeito de colaborar com o IN, e a quem poderei ter salvo a vida...

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20412: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte XI: Mais fotos, parte delas sem legendas...


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) >  S/l > s/d > Progressão em coluna no mato (a famosa bicha de pirilau) (1)


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) >  S/l > s/d > Progressão em coluna no mato (a famosa bicha de pirilau) (2)


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Cachil  S/l > Aquartelamento: queimando papéis (documentos classificados), antes de deixar o Cachil.


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 617 (1964/66) > Casa de banho improvisada, à prota do quarto que partilhava com outros camaradas...


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Cachil: hora do recreio...


 Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Cachil: LDM 309


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Porto do Cachil. Primeira etapa do regresso a casa (1)


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Porto do Cachil. Primeira etapa do regresso a casa (2)


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) >  Algures num tabanca, morança fula.


Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do João Gabriel Sacôto Martins Fernandes: 

(i) ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66);

 (ii) trabalhou depois como Oficial de Circulação Aérea (OCA) na DGAC (Direção Geral de Aeronáutica Civil);

 (iii) foi piloto e comandante na TAP, tendo-se reformado em 1998.

Mais dados biográficos: 

(iv) estudou no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF, hoje, ISEG):

 (v) andou no Liceu Camões em 1948 e antes no Liceu Gil Vicente;

(vi) é natural de Lisboa;

 (vii) casado; 

(viii) tem página no Facebook (a que aderiu em julho de 2009, sendo seguido por mais de 8 dezenas de pessoas); 

(ix) é membro da nossa Tabanca Grande.

Estas mais algumas fotos que dispomos do seu álbum, parte delas sem legendas.
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P20411: Pequeno dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (6): edição, revista e aumentada, Letras D/E


Foto nº 1



Foto nº 2

Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2006 > Viagem Porto-Bissau > Duas imagens que queremos ver banidas para sempre: na foto nº 1, um chimpanzé em cativeiro;  na foto, aparece também a Inés, filha do Xico Allen...Na foto nº2, um babuíno, macaco-cão ("sancu", em crioulo), segura a mão de um outro elemento da "comitiva humana" de que a Inês faz parte...

Fotos (e legenda) : © Hugo Costa  (2006). Todos direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Observações: 

O chimpanzé  não é macaco, é símio ( "dari", em crioulo)... O "dari", o "sancu" e a Inês pertencem à ordem dos Primatas... O "dari" é um símio e a Inês um(a)hominídeo(a), ambos têm cerca de 98% do mesmo ADN... O "dari" é um Pan (género) Troglodytes (espécie). A Inês, um exemplar da espécie Homo Sapiens Sapiens. 

Por sua vez, o macaco-cão (babuíno) é um antropóide cercopitecídeo do género Papio... 

Os três têm em comum um antepassado longínquo, que remonta há 70 milhões, antes da extinção dos dinossauros... O "sancu" e o "dari" são espécies ameaçadas, o "dari" é seguramente o que vai desaparecer primeiro, depois talvez o "sancu" e a seguir o ser humano...

De um modo geral, as populações da Guiné-Bissau, não muçulmanas, caçam e comem o "sancu". No "mato", no tempo da "guerra de libertação", o macaco.cão fornecia muita da proteína animal de que precisavam os guerrilheiros do PAIGC, e as populações sob o seu controlo... Sobretudo depois de 1980, a caça (ilegal) ao macaco-cão aumentou (*). Hoje é, infelizmente, produto-gourmet nalguns restaurantes de Bissau...

Quanto ao "dari", o chimpanzé da matas do Cantanhez e do Boé , há em princípio um maior respeito pelas suas semelhanças com o ser humano. Os muçulmanos respeitam-nos pro ser um homem, um ferreiro que não respeitava as   Mas os juvenis são objeto de tráfico... O habitat do "dari" está condicionado pelas atividades humanas (além da caça, o risco de epidemias, a expansão das áreas de cultivo, e nomeadamente do caju, e a desmatação ilegal para extração de madeiras exóticas, como o pau de sangue, exportado para a China).


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez > Madina > 10 de Dezembro de 2009 > 7h32 > Um "dari" (chimpanzé) descendo uma árvore ... Este grande símio (o mais aparentado, do ponto de vista genético, ao ser humano) é muito difícil de observar e fotografar... Contrariamente a outros primatas que existem no Parque, ainda com relativa abundância como o macaco fidalgo ("fatango", em crioulo). Duvido que algum de nós, durante a guerra colonial, tenha visto algum "dari" no seu habitat... As regiões a que hoje está confinado (Cantanhez e Boé) foram palco de guerra entre 1961 e 1974 e,  antes disso, de caça e tráfico animal.


Diz a lenda (guineense) que o "dari", em tempos, era um homem, um ferreiro, que Deus transformou em animal selvagem, por castigo, por não respeitar o dia de descanso da semana... 

Foto: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, 
 de A a Z: 
[Em construção, desde 2007]

Letras D / E

1. Continuação da publicação do Pequeno Dicionário da Tabanca Grande (**), de A a Z, em construção desde 2007, com o contributo de todos os amigos e camaradas da Guiné que se sentam aqui à sombra do nosso poilão, e que até têm um livro de estilo (***). Entradas das letras D e E:


Dari - Chimpanzé (das matas do Cantanhez e do Boé) (crioulo)

DC 3 - Avião de transporte (FAP) 

DC 6 - Avião de transporte (FAP) 

DCON - Missão de acompanhamento (FAP) 



Degtyarev [ou Dectyarev RDP] - Metralhadora ligeira, de calibre 7,62 mm x 39 mm, m/13 , 1953 de origem soviética (PAIGC) Metralhadora ligeira Dectyarev RDP, calibre 7,62 x 39 mm, m/13,  (Origem: ex-URSS)(PAIGC)

Degtyarev-Shpagim - Metralhadora pesada 12,7 mm, de origem soviética (PAIGC) 

Desenfianço - Escapadela (por ex., até Bissau) (gíria) 

Dest - Destacamento 

Dest A - Destacamento A 

DFA - Deficiente das Forças Armadas 

DFE - Destacamento de Fuzileiros Especiais 

Diorama - Maqueta a 3 dimensões (v.g., aquartelamento de Guileje) 

Djídio (ou gigio) - Cantor ambulante que ia de tabanca em tabanca, transmitindo as notícias (crioulo) 

Djila - Vd. Gila 

Djubi - (i) Olha! (crioulo); (ii) mas também criança, menino


Djurtu -  Mabeco, ou cão selvagem (crioulo);  "djurtus" é a alcunha da seleção nacional de futebol da Guiné-Bissau.

DO 27 - Dornier 27 (Avioneta), avião ligeiro de transporte; também era usado como PCV  - Posto de Comando Volante(FAP), que os "infantes" abominavam...

Drone - Máquina voadora não tripulada (não existia no nosso tempo) (FAP) 

Drop Tanks - Depósitos de combustível (FAP) 

EAMA - Escola de Aplicação Militar de Angola, com sede em Nova Lisboa (hoje, Huambo)

ECS - Escola Central de Sargentos (Águeda)


EE - Escola do Exército (antecessora da AM - Academia Militar)


Embondeiro - Cabaceira, baobá (Senegal) 

Embrulhanço - Contacto pelo fogo com o IN, ataque, emboscada (gíria)

Embrulhar - Ser atacado (pelo IN) (gíria) 

Enf - Enfermeiro 

Enf Para - Enfermeira paraquedista 

Engine Master - Botão principal de uma aeronave (FAP) 

EP - Exército Popular (PAIGC)


EPA - Escola Prática de Artilharia (Vendas Novas)

EPC - Escola Prática de Cavalaria (Santarém) 

EPI - Escola Prática de Infantaria (Mafra), também conhecida por Máfrica (gíria)ou ainda Entrada Para o Infermo (gíria)

EREC - Esquadrão de Reconhecimento [de Cavalaria]

Esp - Espingarda 

Esp Aut - Espingarda Automática




Esp Aut FN (Vd. FN) - Espingarda automática, de calibre 7,62 mm, FN FAL [, acrónimo de Fabrique National, Fusil Automatique Léger]. De origem belga (1954), equipou as NT no início da guerra colonial.

Esp Aut G3 {Vd. G3]- A Gewehr 3 (G3) (em alemão, Gewehr quer dizer espingarda) é uma espingarda automática, de fabrico alemão (1959), usada pelo Exército Português durante a guerra colonial, e recentemente descontinuada (em setembro de 2019). De calibre NATO (7.62 × 51 mm), tinha como rival, do lado do PAIGC, a famigerada Kalash!



Esp MMA - Especialista Mecânico de Manutenção Aeronáutica (FAP) 


Espaldão (de obus, de morteiro...) - Termo usado em engenharia militar para designar um  anteparo de uma trincheira ou fortificação, que serve para proteger a artilharia (ou armas pesadas de infantaria) e a respetiva guarnição.

Esq - Esquadrão 

Esq Mort - Esquadrão de Morteiro 

Esquadra - Organização militar de aeronaves (FAP) 





Um caça Fiat G.91 R/4 dos “Tigres” da Guiné.




Esquadra 121 Tigres - Constituída por Fiat-G 91, T-6 e DO-27 (BA 12, Bissalanca) (FAP) 

Esquadra 122 - Heli AL III (BA12, Bissalanca) (FAP) 

Esquadra 123 - Nord Atlas e DC-3 (BA12, Bissalanca) (FAP) 

Esquentamento - Blenorragia, doença venérea (corrimento de pus pela uretra) (calão) 

Estado Novo - Regime político que vigorou em Portugal, de 1933 a 1974. Foi antecedido pela Ditadura Militar que, com o golpe de Estado de 28 de maio de 1926, pôs fim à República (1910-1926).

Estilhaços de frango - Pouca comida (gíria) 
 
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de: 


21 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16744: Em bom português nos entendemos (15): Comer macaco, não obrigado... "Santchu bai fika na matu"... E cão ("kakur") fica com o dono, no restaurante em Bissau... Ajudemos a salvar os primatas da Guiné... O "santchu", o "dari"..., ao todo são 10 primatas que correm o risco de extinção se os hominídeos continuarem a destruir o seu habitat e a fazer deles um petisco...


14 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16717: Manuscrito(s) (Luís Graça) (101): Comer macacos... só os do nariz!... Ajudemos os guineenses a proteger o "sancu" (macaco) e o "dari" (chimpanzé)...Ficaremos todos mais pobres quando eles se extinguirem... e quando as areias do deserto do Sará chegarem às portas de Bissau!... Ficaremos todos mais pobres, os guineenses, os amigos da Guiné, todos nós, os últimos dos hominídeos...

(**) Vd. postes anteriores da série:

18 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20255: Pequeno dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (5): edição, revista e aumentada, Letra C

14 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20240: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (4): 2ª edição, revista e aumentada, Letras M, de Maçarico, P de Periquito e C de Checa... Qual a origem destas designações para "novato, inexperiente, militar que acaba de chegar ao teatro de operações" ?

13 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20237: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (3): 2ª edição, revista e aumentada, Letra B

13 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20235: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (2): 2ª edição, revista e aumentada, Letra A


(***) Vd. 22 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18548: O nosso livro de estilo (11): Proverbiário da Tabanca Grande, 4ª edição revista e aumentada: "Camarada, mais do que um dever, é uma honra que te é devida, ir a Monte Real pelo menos uma vez na vida"...

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20410: Dossiê Cap Cav Luís Rei Vilar (Cascais, 1941- Susana, 1970) - Parte I: Certificado de óbito, do HM 241 (Bissau), e parecer do Serviço de Justiça e Disciplina / CTIG, mais a participação do óbito por parte da CCAV 2538 (Susana, 1969/70)







As três primeiras páginas do processo do cap cav Luís Rei Vilar (1941-1970). Cortesia de Morais da Silva, cor art ref.


1. Mensagem,  com data de 1 de dezembro de 2019, 19h31, enviada pelo cor art ref Morais da Silva, membro da nossa Tabanca Grande [, tendo sido, no CTIG, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972]:

Assunto - Envio de documentos 

Viva.

Junto cópia do Processo de Averiguações elaborado quando da morte do Capitão Villar. Acrescento a Participação, Certidão de Óbito e Despacho. 

Da leitura dos documentos resulta não surgirem dúvidas sobre as circunstâncias da morte.

Abraço, Morais Silva

Cor artilheiro-infante cmdt comp em Gadamael

P.S. Estes documentos não têm classificação de segurança

2.  Comentário do editor, LG:

Obrigado, Morais da Silva. Já dei conhecimento, em primeira mão, à família, na pessoa do Miguel e do Duarte, irmãos mais novos do nosso camarada Luís Rei Vilar, ex-comandante da CCAV 2538 (Susana, 1969/71), morto em combate em 18/2/1970. No entanto, essa documentação já era do seu conhecimento.

Para esclarecimento das circunstâncias da morte deste oficial de cavalaria,no TO da Guiné, vamos publicar, sob a forma de dossiê, os documentos que nos enviou:  "Processo de Averiguações elaborado quando da morte do Capitão Villar", incluindo "Participação, Certidão de Óbito e Despacho" (10 páginas em formato digital).

A certidão de óbito, passado pelo HM 241, Bissau, com data de 21 de fevereiro de 1970, diz o seguinte, em síntese:

(i) a morte ocorreu às 19h00 do dia 18 de fevereiro de 1970;

(ii) a causa da morte foi "traumatismo torácico / tamponamento cardíaco";

(iii) entrou já  cadáver no hospital;

(iv) o médico que verificou o óbito foi o alf mil médico João Manuel Mota Horta e Vale;

(v) o corpo foi autopsiado, e encerrado em caixão de chumbo para seguir depois para a metrópole.

No despacho, de 5 de junho de 1970,  do comandante militar, constante do processo por ferimentos em combate, organizado pelo Serviço de Justiça e Disciplina do CTIG,  esta morte é considerada em combate: "este militar foi  mortalmente ferido num combate com o IN na zona de Susana durante a Operação Selva Viva" ( e não Operação Cassum, como temos visto escrito em postes anteriores).

Na participação do óbito, são arroladas duas testemunhas, os fur mil op esp, José Vigia Batalha Polaco (, natural da Nazaré,) e José Manuel Teixeira (,natural de Fafe). No essencial, é referido que,  às 14h30 d0 dia 18 de fevereiro de 1970, na sequência de uma operação na zona de acção ode Susana, de dois dias,   "quando se aguardava a evacuação de um ferido (guia nativo), as NT foram atacadas  por um grupo inimigo.  Do ataque resultou a morte do capitão de cavalaria nº  31672562, Luis Filipe Rei Villar, atingido por um projéctil inimigo que lhe perfurou o tronco na região  da zona torácica esquerda e da omoplata direita".  É omitido nome da operação.

O ferido foi evacuado para Susana de helicóptero e, às, 18h30, para o HM 241 (Bissau), quatro horas depois, "já cadáver".

Neste processo não consta cópia do relatório da autópsia, se é que existe,  Já que o cor art ref Morais da Silva teve, entretanto, a gentileza de me enviar esta documentação, vamos continuar a publicá-la, para conhecimento dos nossos leitores, e nomeadamente dos camaradas que conheceram o Luís Rei Vilar. O nosso intuito é apenas o de partilhar informação e conhecimento sobre os acontecimentos ocorridos no TO da Guiné, durante a guerra colonial, não querendo de modo algum alimentar polémicas sobre um assunto, para mais  tão delicado,  como é, sempre, a morte violenta de alguém das nossas relações, familiar, amigo ou camarada. Neste caso, do bravo comandante da CCAV 2538, morto em combate  aos 29 anos (*), e que eu não conheci pessoalmente, mas era do meu tempo,  e era irmão de um amigo meu, o Duarte Vilar (**).

(Continua)
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Guiné 61/74 - P20409: Notas de leitura (1242): Mário Cláudio, nos cinquenta anos da sua obra literária (4): “O Prazer da Leitura”; Teorema e FNAC, 2008 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Novembro de 2019:

Queridos amigos,
Consta que esta peça literária de Mário Cláudio terá dado polvorosa uns tempos atrás. Acontece que em todas as guerras há manifestações de horror, de práticas homicidas e até da sua exibição, servem para intimidar, de forma exemplar, outros desafiantes, revelam igualmente exibicionismo de quem entendeu que a crueldade ilimitada deve aparecer em ecrã gigante. É pesadelo universal, com mentiras de todas as espécies, basta pensar no genocídio arménio, negado pela Turquia, ou nos crimes japoneses, para os quais ainda não se pediu perdão.
O que Mário Cláudio revela aqui é a duplicidade de certo heroísmo, que é galardoado e posto em paralelo com aquele heroísmo de quem deu o peito às balas ou transportou, com destemor, um camarada ferido, no aceso de uma emboscada. O que aqui também se esconjura, estou em crer, é premiar o homicídio como se de heroísmo se tratasse. Impossível reabilitar, na sua plenitude, o heroísmo praticado nas nossas últimas guerras em África, sem trazer à colação os quadros de horror, que os houve.
O que me é dado ler, na documentação que consulto, do que se viveu a partir do segundo semestre de 1962, na Guiné, as monstruosidades praticadas de parte a parte precisam de ser reparadas, mostradas em ambas as histórias nacionais, para que haja entendimento que propicie a reconciliação e a retoma fraterna, sem cadáveres no armário, entre dois povos que se devem reconciliar falando a verdade e perdoarem-se.

Um abraço do
Mário



Mário Cláudio, nos cinquenta anos da sua obra literária:
Um notável escritor que é nosso camarada da Guiné (4)

Beja Santos

“O Prazer da Leitura”, foi editado em 2008 pela Teorema e pela FNAC, uma obra coletiva, além de Mário Cláudio participaram Francisco José Viegas, João Aguiar, Lídia Jorge, Luísa Costa Gomes, Manuel Jorge Marmelo, Maria Teresa Horta, Filipa Melo, Nuno Júdice e Rui Zink.
Pelo que me é dado saber, foi a primeira digressão de Mário Cláudio pelos teatros da guerra, escolheu o território do horror, da truculência, do poder arbitrário de despedaçar vidas. Não é terreno virgem. Para quem viu o filme “Apocalypse Now”, realizado por Francis Ford Coppola, nele surge um herói sanguinário, de que as Forças Armadas norte-americanas se querem libertar, magistralmente desempenhado por Marlon Brando. Acontece que a trama da história tem por detrás uma obra-prima de Joseph Conrad, “O Coração das Trevas”.

Mário Cláudio não escolhe a Guiné, fala em embondeiros, a Guiné tem algo de similar, são os poilões. O seu conto intitula-se “Para o Livro de Ouro do Capitão Garcez”, é um jogo entre o lugar e o tempo, um jogo entre o surreal, pois o escritor apresenta uma grande bandeja de cabeça de guerrilheiros ao Capitão Garcez, salta-se desse lugar para a visita a um bancário aposentado, ele conversa com o escritor, irá falar do Capitão Garcez, mostra-lhe lembranças, estão numa caixa de cartão, são fotografias de várias dimensões, o Capitão Garcez é facilmente identificável pelas orelhas de abano, de calções de caqui, entre dois camaradas. Garcez e o entrevistado estão na mesma fotografia. Garcez teve a projeção de um herói, as suas façanhas terão sido descritas em muitos aerogramas, seguramente que muitos desapareceram, é bem difusa a recordação deste herói tenebroso.
E Mário Cláudio escreve:
“Continuo a observar a foto dos idos da campanha, não tanto porque dela espere obter mais do que aquilo que deduzi já, o apagado fácies do Capitão Garcez, alferes na altura, debaixo do cabelo liso e ruço claro, e na palidez que o distingue dos companheiros. Vou meditando no que o meu informador depreende do jogo fisionómico que lhe proponho, tão relevante para ele como o dele para mim, e de idêntica forma à mercê de suspeitas e traições. Apercebe-se da curiosidade com que lhe persigo o desvio da vista, e da minúcia com que lhe inventario os bibelots expostos na biblioteca, babushkas alinhadas em progressão aritmética, e miniaturas de teares e caldeiras, óbvios momentos das peregrinações a Leste, promovidas pelo partido da esquerda bem-comportada de que foi militante. E não deixará de reparar ainda no modo como lhe expio o gesto de selecção dos clichês da caixinha (…). Desde a escuridão para além da vidraça, e o clarão da lâmpada denuncia com acrescida clareza quanto guardamos, ele e eu, nas algibeiras mais secretas das intenções que nos movem”.

E o texto continua:
“A peça televisiva, sobrevivente num preto e branco que as décadas foram zurzindo, oferece a deslocação lenta, um pouco rígida, do Capitão Garcez, subindo os degraus da tribuna no Terreiro do Paço, erguida para as comemorações do 10 de Junho. Transporta o rosto anódino de sempre, indeciso entre a melancolia e a austeridade, o que redunda na absoluta ausência de emoções. Avança para o Presidente do Conselho que lhe impõe a Torre e Espada, e que o abraça com a finura sinuosa de quem restringiu a paixão a um cálice, um cálice apenas, de porto tawny”.
Quem foi entrevistar é o autor e o que ele regista daqueles clichês é a dor de quem perdeu gente amada, é um espetáculo de sangue que se derramou com muita gente degolada e muitos corpos estraçalhados. No jogo do tempo e do lugar, o Capitão Garcez presta a justificação de que os atos praticados decorriam da guerra, se acaso celebrou a morte, não tem contas a prestar nem ao autor nem a qualquer cobardolas de merda. Prossegue esta marcha labiríntica entre o lugar e o tempo, alguém que andou com o Capitão Garcez nas lutas africanas mandou ao autor uma mensagem sobre o mito, ele era detestado, toda a gente fugia a confraternizar com aquele militar de gestos homicidas, as imagens que ficaram das cabeçorras dos pretos, espetadas nos paus, a bordejar a picada, eram um aviso de solene advertência aos rebeldes de que não eram menos mortais do que aqueles que os combatiam.

O autor está agora no seu espaço, escrevinha, enfrentou o rosto do Capitão Garcez, apresenta-se restituído à amenidade do seu lugar, e disso nos dá conta:
“Junto a mim pousa a grande jarra de gerberas, arauta da Primavera que desponta, a projetar aquele macerado amarelo, tão caraterístico dos que retornam dos trópicos. A verdade é que, há muito, muito tempo, me não assalta o organismo de pretérito miliciano essa coloração dos surtos palúdicos, precipitando-me em convulsos pesadelos, atrelados a outros experimentados já. Serenamente afastaram-se de mim aqueles transes inexplicáveis, vividos por um soldado sonâmbulo que devagar conduz o Unimog através da povoação em labaredas, cruzada pelo balido das cabras espavoridas, e pelo guincho das fêmeas e crianças que ardem numa habitação esbarrondada. Apagado pela ventania que espanta o incêndio, o rosto do Capitão cristaliza em mim numa neutralidade de cera, de órbitas vazadas, tão frágil e tão efémero como a paisagem que o circunda”.
E neste jogo entre o real e o surreal, tudo culmina com o desaparecimento do vetusto Capitão Garcez, “levanta-se da poltrona, e as imensas asas negras, rompendo-lhe das espáduas, batem numa vibração, desplumam-se na treva, e desfazem-se em pó”.

A literatura tem fartas apresentações do horror que a guerra permite, há a sua banalidade, como Curzio Malaparte descreve na sua obra-prima, “Kaputt”, caso de um passeio noturno de Hans Frank, o Governador da Polónia nomeado por Hitler, num passeio a um gueto, a comitiva anda divertida com os tiros dados às crianças pelas forças de vigilância. E há a investigação histórica, como é o caso de “O massacre português de Wiriamu: Moçambique, 1972”, de Mustafah Dhada, acaba-se com a mentira montada no final do Estado Novo de que nada tinha acontecido, ouve-se o depoimento compungido de um antigo oficial dos Comandos que descreve o morticínio.
Não vale a pena os escrivães da puridade virem bater com a mão no peito, encolerizados por se desvelarem horrores da guerra, que os houve, do mesmo modo que houve atos de bravura daqueles que combateram heroicamente, e que tiveram de matar sem praticar o horror e muito menos de o exibir, como comprovam muitas fotografias que para aí circulam.
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Nota do editor

Poste anterior de 25 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20381: Notas de leitura (1240): Mário Cláudio, nos cinquenta anos da sua obra literária (3): “Tiago Veiga”; Publicações Dom Quixote, 2011 (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 29 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20395: Notas de leitura (1241): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (34) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20408: Da Suécia com saudade (61)... E agora também dos States, Florida, Key West... Carta aberta aos Editores e Camaradas da Tabanca Grande: o que todos (!) temos em comum é termos participado, cada um de seu modo e à sua maneira, na experiência incrível que foi a guerra da Guiné... Por favor, não caiamos na perigosa tentação de nos dividirmos em operacionais... e não operacionais (José Belo)

1. Mensagem do nosso régulo da Tabanca da Lapónia... ou, nesta altura do ano, da Tabanca de Key West, Florida:

De: Joseph Belo Data: 1 de dezembro de 2019 17:13

Assunto: Carta aberta aos Editores e Camaradas da Tabanca Grande

 Resumindo uma vida, o nosso Zé Belo [, foto atual à esquerda]: 

(i) é o português mais 'assuecado' (ou o sueco mais 'aportuguesado') da Tabanca da Lapónia e da Tabanca Grande;

(ii) ex-alf mil inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, cap inf ref; (não precisa de certificado para comprovar que andou no mato, no Norte e no Sul da Guiné);


(iii) jurista, vive na Suécia há mais de 4 décadas, e onde constituiu família: continua a ter um pontinha nnas suas raízes portuguesas: "Com netos sueco-americanos, o sangue Lusitano vai-se diluindo cada vez mais. Mas, como dizem os Lusíadas... 'Se mais mundos houvera, lá chegara'...".

(iv) reparte os dias do ano entre a Suécia, o círculo polar ártico e a Flórida, EUA, onde a família tem negócios; 
 
(v) tem 133 referências no nosso blogue; entrou "de jure e de facto" para a nossa Tabanca Grande em 8 de março de 2009


(vi) é mestre na arte e na ciência da simulação, camuflagem, guerrilha e contra-guerrilha,  bem como da criação de renas, e ainda arranja tempo para beber uns daiquiris à sombra das palmeiras de Key West, curtindo a sua musiquinha; pode estar meses 'desaparecido' e 'incontactável' mas volta sempre ao 'local do crime', quer dizer, a este blogue, ao seu blogue, ao nosso blogue, aos seus velhos camaradas; afinal, "os velhos soldados nunca morrem, podem é desaparecer"... por uns tempos;

(vii) mandou-nos esta mensagem, pro volta das 5 da tarde de ontem, domingo, com a seguinte nota: "Algumas pequenas, mas actuais, considerações pessoais, não desde a escuridão gelada da Suécia mas desde a solarenga Key West/Florida... Em carta aberta a Camaradas escrevi algumas linhas sobre o assunto talvez tornado actual. Vai seguir com os meus infelizmente cada vez mais numerosos erros ortográficos que, com o passar das já muitas décadas, cada vez me tornam mais num verdadeiro..."Bacances".

 
Os operacionais e os outros... divisões artificiais


Em alguns dos últimos comentários no blogue, meus e de outros, muito se escreveu sobre francamente... nada!  O que nas nossas idades é patético. Os "piropos" foram desnecessariamente variados, esquecendo-se que o que se procura comentar são as ideias apresentadas e não quem as apresenta. Misturar maneiras de ser, de estar na vida, de educação recebida na juventude, e não menos, das condições sociais onde nascemos, nada disto terá a ver com os assuntos comentados.

 É óbvio que este  conjunto de factores formará as nossas maneiras diferentes de olhar o mundo. Mas justificará a maneira intempestiva como alguns a expressam? Todos podem não concordar em tudo e... ainda bem! Não nos torna uns melhores que outros pelo facto de discordarmos, mesmo que profundamente.

Mas os nossos patéticos "piropos" têm a importância que têm, e  não é isso que aqui me traz. Entre as linhas de alguns comentários começou a insinuar-se a ideia de divisão entre militares operacionais e os outros.

Ora, o que todos (!) temos em comum é termos participado, cada um de seu modo e à sua maneira, na experiência incrível que foi a guerra da Guiné. Marcou os nossos verdes anos. Marcou-nos para toda a vida. O que por lá se sacrificou em sangue, lágrimas, suor, juventude, e, não menos, saúde, tem sido quase impossível de descrever nos nossos livros. Mas em verdade é isso que nos une.

 Uma tão importante e vasta Organização como são as Forças Armadas não criou as inúmeras Especialidades militares existentes por simples capricho. Todas elas são necessárias para a "máquina" funcionar dentro dos parâmetros desejados.

O mais heroico combatente das tropas especiais não "funciona" sem as... "Côbinhas Quentes"... produzidas pelo humilde cozinheiro do Quartel. Assim como o cozinheiro não viria a sobreviver na mata sem a guarda atenta do combatente. (Clarinho, clarinho, para militar entender. ) Se alguns de nós tiveram o azar de passar toda a sua Comissão nas matas da Guiné, e outros a sorte de servir em especialidades colocadas em localidades mais resguardadas..., na maioria dos casos estas situações nada tinham a ver com eles próprios.

 As colocações eram decididas a outros níveis mais centrais. As eternas cunhas e corrupção? É claro que também por lá andavam, como em todos os Exércitos do mundo. Mas, e a não cairmos no "micro-analisar" as situações, será difícil de nos acusarmos uns aos outros. Ao reparar-se na diversidade dos contribuintes para este blogue, de tudo existe quanto a Especialidades militares.

É isso que o tem enriquecido, mantido, e feito crescer muito para além de outros blogues de ex-combatentes. Depois de uma já longa vida de experiências feita, devemos estar atentos e não nos deixarmos cair em divisões que, por artificiais, são desnecessárias.

 Um abraço.
 J. Belo
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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20105: Da Suécia com saudade (60): E agora também dos States, Florida, Key West... Acenando aos amigos através das câmaras ao vivo do mítico Sloppy Joe's Bar (José Belo)

Guiné 61/74 - P20407: Agenda cultural (717): Homenagem a Samuel Schwarz: Belmonte, Museu Judaico, 19 e 20 de dezembro de 2019





Cartaz do programa de homenagem que Belmonte vai prestar, nos dias próximos dias 19 e 20, ao engenheiro de minas, arqueólogo, bibliófilo, poliglota, escritor,  investigador e historiador da comunidade judaica portuguesa,   Samuel Schwarz (Zgierz, Polónia, 1880 - Lisboa, 1953), "cidadão do mundo, português por opção", e que foi, além disso:

(i)  avó dos nossos amigos Pepito  (1949-2014)  [, tem 230 referências no nosso blogue] e João Schwarz da Silva [, autor do sítio "Des Gents Intéressants"];

(ii) pai da nossa "Mulher Grande", Clara Schwarz  (1915-2016) [, tem meia centenas de referências no nosso blogue];

(iii)  e bisavô (paterno) da nossa jovem amiga e grã-tabanqueira Catarina Schwarz que vive em Bissau.

O cartaz chegou-nos por email de João Schwarz da Silva, membro da nossa Tabanca Grande, nº 768, desde 30 de março de 2018. (Recorde-se que o João nasceu em Alcobaça em 1944, e foi para a Guiné pela primeira vez com 4 anos. Depois da morte do seu avô Samuel Schwarz em Lisboa , em 1953, voltou para Bissau onde frequentou o Colégio Liceu Honório Barreto, onde a mãe era professora,  até à sua vinda para a universidade, em Lisboa, em 1960.)

Informações adicionais:

Museu Judaico de Belmonte:

Aberto de Terça a Domingo
Horário de Inverno  (15 de Setembro a 14 de Abril)
das 9h00 às 12h30m e das 14h00m às 17h30m

Sinagoga de Belmonte:

Rua da Fonte da Rosa 41, 6250 Belmonte


Na sua página na Net, "Des Gens Intéressants", João Schwarz, membro da nossa Tabanca Grande, tem uma detalhada, extensa  e bem documentada nota biográfica, em francês, com alguns excertos em português,  sobre o seu querido avô, Samuel Schwarz.  (Na foto acima, que reproduzimos com a devida vénia, podemos ver avô e neto, em Lisboa, em 1952, um ano antes de o Samuel morrer ; na época, ele vivia no 1º andar do nº 118, da Av António Augusto de Aguiar.)

O João vive, de há muito,  em Paris. Mandou-me o programa de homenagem ao seu avô, dizendo-me que gostaria muito de me ver por lá..., em Belmonte.  Eu, também, gostaria, mas vai-me ser impossível deslocar-me a Belmonte, nessa data,. por compromissos de agenda: tenho de acolher os outros avós da minha neta, que acaba de nascer, e que vêm do Funchal passar o Natal connosco. Desejo ao João um feliz regresso a Belmonte, terra com a qual o seu avô tinha uma relação muito especial, única. Afinal, foi ele quem descobriu a comunidade cripto-judaica de Belmonte, nos anos 20 do século passado.

E,  a propósito, relembro algumas das conversas que tive o privilégio de manter, na Tabanca de São Martinho do Porto,  com a saudosa mãezinha do Pepito, do João e do Henrique, a Clara Schwarz, que foi, durante anos, a decana da nossa Tabanca Grande. Como os nossos leitores sabem, a nossa querida Clara morreu em 2016, com 101 anos: aliás, "não morreu, simplesmente desistiu de fazer anos"... Era uma grande senhora e tinha pelo pai um amor incondicional, uma admiração imensa... Não posso deixar de reproduzir o comentário que ela escreveu, em janeiro de 2011, na véspera de fazer 96 anos (!), a respeito do seu pai, Samuel:

 "Como não sentir uma forte emoção, ao dar-me conta de que o meu pai é ainda hoje lembrado e os seus trabalhos continuam a ser editados, passadas que são quase seis décadas depois da sua morte?

"Recordo-o como uma personalidade forte e empreendedora, um homem de uma cultura vastíssima, um hebraísta reconhecido, um militante sionista, que falava correntemente nove línguas e possuía uma valiosa biblioteca. Engenheiro de minas de formação, era também um estudioso e um escritor, tendo feito a primeira tradução, directamente do hebraico para o português, do 'Cântico dos Cânticos' de rei Salomão.

"Para além de 'Os Cristãos-Novos em Portugal no Século XX', uma investigação sobre a comunidade marrana da vila de Belmonte e os seus rituais secretos, o seu livro mais conhecido, publicado em 1925 e de que aqui se apresenta a tradução em língua francesa, cito de memória dois outros escritos seus: a monografia 'As inscrições Hebraicas em Portugal' e o livro editado postumamente sobre 'A Moderna Comunidade Israelita de Lisboa'.

"Graças a ele, foi possível recuperar a Sinagoga de Tomar, a única que se conserva posterior ao decreto da expulsão dos judeus de Portugal, de Dezembro de 1496, mandada construir por Henrique, o Navegador, no século XV. Adquiriu-a, com o intuito de nela se vir a estabelecer um Museu Luso-Hebraico e, nesta condição, doou-a em 1939 ao Estado português.

"Lembro-me dele como uma pessoa tolerante, que com todos se relacionava, sem distinção de raça, cor da pele ou religião, um homem de uma grande bondade, mas sem disso fazer qualquer alarido. Soube, por exemplo, ainda há pouco tempo, com total surpresa, lendo o livro 'Mémoires', recentemente publicado em França, da autoria do irmão dele, o pintor e escultor Marek Szwarc, que foi o meu pai que lhe sugeriu a ida para Paris e o ajudou materialmente nos primeiros tempos da vivência nesta cidade.

"Nascido numa família de judeus polacos, sionista convicto, o seu sonho era o de poder um dia ir viver para Israel. Algo que se transformou numa intenção firme, sobretudo após o falecimento da mulher. A doença que o atingiu nos últimos anos da vida, impediu-o infelizmente de concretizar este desejo.

"Em 1953, estando junto dele com os meus dois filhos mais velhos [, Henrique e João]
, perdi-o para sempre. Ele foi para mim também um irmão, um amigo e um querido mestre, alguém por quem tinha uma adoração profunda e que permanecerá para sempre na minha memória.

"Clara Schwarz da Silva."


[Fonte: Página de João Schwarz >  Des Gens Intéressants >  Samuel Schwarz ] (com a devida vénia...)]
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Nota do editor: