Cartaz do programa de homenagem que Belmonte vai prestar, nos dias próximos dias 19 e 20, ao engenheiro de minas, arqueólogo, bibliófilo, poliglota, escritor, investigador e historiador da comunidade judaica portuguesa, Samuel Schwarz (Zgierz, Polónia, 1880 - Lisboa, 1953), "cidadão do mundo, português por opção", e que foi, além disso:
(i) avó dos nossos amigos Pepito (1949-2014) [, tem 230 referências no nosso blogue] e João Schwarz da Silva [, autor do sítio "Des Gents Intéressants"];
(ii) pai da nossa "Mulher Grande", Clara Schwarz (1915-2016) [, tem meia centenas de referências no nosso blogue];
(iii) e bisavô (paterno) da nossa jovem amiga e grã-tabanqueira Catarina Schwarz que vive em Bissau.
O cartaz chegou-nos por email de João Schwarz da Silva, membro da nossa Tabanca Grande, nº 768, desde 30 de março de 2018. (Recorde-se que o João nasceu em Alcobaça em 1944, e foi para a Guiné pela primeira vez com 4 anos. Depois da morte do seu avô Samuel Schwarz em Lisboa , em 1953, voltou para Bissau onde frequentou o Colégio Liceu Honório Barreto, onde a mãe era professora, até à sua vinda para a universidade, em Lisboa, em 1960.)
Informações adicionais:
Horário de Inverno (15 de Setembro a 14 de Abril)
das 9h00 às 12h30m e das 14h00m às 17h30m
das 9h00 às 12h30m e das 14h00m às 17h30m
Rua da Fonte da Rosa 41, 6250 Belmonte
Na sua página na Net, "Des Gens Intéressants", João Schwarz, membro da nossa Tabanca Grande, tem uma detalhada, extensa e bem documentada nota biográfica, em francês, com alguns excertos em português, sobre o seu querido avô, Samuel Schwarz. (Na foto acima, que reproduzimos com a devida vénia, podemos ver avô e neto, em Lisboa, em 1952, um ano antes de o Samuel morrer ; na época, ele vivia no 1º andar do nº 118, da Av António Augusto de Aguiar.)
O João vive, de há muito, em Paris. Mandou-me o programa de homenagem ao seu avô, dizendo-me que gostaria muito de me ver por lá..., em Belmonte. Eu, também, gostaria, mas vai-me ser impossível deslocar-me a Belmonte, nessa data,. por compromissos de agenda: tenho de acolher os outros avós da minha neta, que acaba de nascer, e que vêm do Funchal passar o Natal connosco. Desejo ao João um feliz regresso a Belmonte, terra com a qual o seu avô tinha uma relação muito especial, única. Afinal, foi ele quem descobriu a comunidade cripto-judaica de Belmonte, nos anos 20 do século passado.
E, a propósito, relembro algumas das conversas que tive o privilégio de manter, na Tabanca de São Martinho do Porto, com a saudosa mãezinha do Pepito, do João e do Henrique, a Clara Schwarz, que foi, durante anos, a decana da nossa Tabanca Grande. Como os nossos leitores sabem, a nossa querida Clara morreu em 2016, com 101 anos: aliás, "não morreu, simplesmente desistiu de fazer anos"... Era uma grande senhora e tinha pelo pai um amor incondicional, uma admiração imensa... Não posso deixar de reproduzir o comentário que ela escreveu, em janeiro de 2011, na véspera de fazer 96 anos (!), a respeito do seu pai, Samuel:
"Como não sentir uma forte emoção, ao dar-me conta de que o meu pai é ainda hoje lembrado e os seus trabalhos continuam a ser editados, passadas que são quase seis décadas depois da sua morte?
"Recordo-o como uma personalidade forte e empreendedora, um homem de uma cultura vastíssima, um hebraísta reconhecido, um militante sionista, que falava correntemente nove línguas e possuía uma valiosa biblioteca. Engenheiro de minas de formação, era também um estudioso e um escritor, tendo feito a primeira tradução, directamente do hebraico para o português, do 'Cântico dos Cânticos' de rei Salomão.
"Para além de 'Os Cristãos-Novos em Portugal no Século XX', uma investigação sobre a comunidade marrana da vila de Belmonte e os seus rituais secretos, o seu livro mais conhecido, publicado em 1925 e de que aqui se apresenta a tradução em língua francesa, cito de memória dois outros escritos seus: a monografia 'As inscrições Hebraicas em Portugal' e o livro editado postumamente sobre 'A Moderna Comunidade Israelita de Lisboa'.
"Graças a ele, foi possível recuperar a Sinagoga de Tomar, a única que se conserva posterior ao decreto da expulsão dos judeus de Portugal, de Dezembro de 1496, mandada construir por Henrique, o Navegador, no século XV. Adquiriu-a, com o intuito de nela se vir a estabelecer um Museu Luso-Hebraico e, nesta condição, doou-a em 1939 ao Estado português.
"Lembro-me dele como uma pessoa tolerante, que com todos se relacionava, sem distinção de raça, cor da pele ou religião, um homem de uma grande bondade, mas sem disso fazer qualquer alarido. Soube, por exemplo, ainda há pouco tempo, com total surpresa, lendo o livro 'Mémoires', recentemente publicado em França, da autoria do irmão dele, o pintor e escultor Marek Szwarc, que foi o meu pai que lhe sugeriu a ida para Paris e o ajudou materialmente nos primeiros tempos da vivência nesta cidade.
"Nascido numa família de judeus polacos, sionista convicto, o seu sonho era o de poder um dia ir viver para Israel. Algo que se transformou numa intenção firme, sobretudo após o falecimento da mulher. A doença que o atingiu nos últimos anos da vida, impediu-o infelizmente de concretizar este desejo.
"Em 1953, estando junto dele com os meus dois filhos mais velhos [, Henrique e João], perdi-o para sempre. Ele foi para mim também um irmão, um amigo e um querido mestre, alguém por quem tinha uma adoração profunda e que permanecerá para sempre na minha memória.
"Clara Schwarz da Silva."
[Fonte: Página de João Schwarz > Des Gens Intéressants > Samuel Schwarz ] (com a devida vénia...)]
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Nota do editor:
Último poste da série > 1 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20404: Agenda cultural (716): lançamento do novo livro do José Saúde, "Um ranger na guerra colonial": Beja, Biblioteca Municipal, dia 10 de dezembro, 3ª feira, às 21h30
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