segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20408: Da Suécia com saudade (61)... E agora também dos States, Florida, Key West... Carta aberta aos Editores e Camaradas da Tabanca Grande: o que todos (!) temos em comum é termos participado, cada um de seu modo e à sua maneira, na experiência incrível que foi a guerra da Guiné... Por favor, não caiamos na perigosa tentação de nos dividirmos em operacionais... e não operacionais (José Belo)

1. Mensagem do nosso régulo da Tabanca da Lapónia... ou, nesta altura do ano, da Tabanca de Key West, Florida:

De: Joseph Belo Data: 1 de dezembro de 2019 17:13

Assunto: Carta aberta aos Editores e Camaradas da Tabanca Grande

 Resumindo uma vida, o nosso Zé Belo [, foto atual à esquerda]: 

(i) é o português mais 'assuecado' (ou o sueco mais 'aportuguesado') da Tabanca da Lapónia e da Tabanca Grande;

(ii) ex-alf mil inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, cap inf ref; (não precisa de certificado para comprovar que andou no mato, no Norte e no Sul da Guiné);


(iii) jurista, vive na Suécia há mais de 4 décadas, e onde constituiu família: continua a ter um pontinha nnas suas raízes portuguesas: "Com netos sueco-americanos, o sangue Lusitano vai-se diluindo cada vez mais. Mas, como dizem os Lusíadas... 'Se mais mundos houvera, lá chegara'...".

(iv) reparte os dias do ano entre a Suécia, o círculo polar ártico e a Flórida, EUA, onde a família tem negócios; 
 
(v) tem 133 referências no nosso blogue; entrou "de jure e de facto" para a nossa Tabanca Grande em 8 de março de 2009


(vi) é mestre na arte e na ciência da simulação, camuflagem, guerrilha e contra-guerrilha,  bem como da criação de renas, e ainda arranja tempo para beber uns daiquiris à sombra das palmeiras de Key West, curtindo a sua musiquinha; pode estar meses 'desaparecido' e 'incontactável' mas volta sempre ao 'local do crime', quer dizer, a este blogue, ao seu blogue, ao nosso blogue, aos seus velhos camaradas; afinal, "os velhos soldados nunca morrem, podem é desaparecer"... por uns tempos;

(vii) mandou-nos esta mensagem, pro volta das 5 da tarde de ontem, domingo, com a seguinte nota: "Algumas pequenas, mas actuais, considerações pessoais, não desde a escuridão gelada da Suécia mas desde a solarenga Key West/Florida... Em carta aberta a Camaradas escrevi algumas linhas sobre o assunto talvez tornado actual. Vai seguir com os meus infelizmente cada vez mais numerosos erros ortográficos que, com o passar das já muitas décadas, cada vez me tornam mais num verdadeiro..."Bacances".

 
Os operacionais e os outros... divisões artificiais


Em alguns dos últimos comentários no blogue, meus e de outros, muito se escreveu sobre francamente... nada!  O que nas nossas idades é patético. Os "piropos" foram desnecessariamente variados, esquecendo-se que o que se procura comentar são as ideias apresentadas e não quem as apresenta. Misturar maneiras de ser, de estar na vida, de educação recebida na juventude, e não menos, das condições sociais onde nascemos, nada disto terá a ver com os assuntos comentados.

 É óbvio que este  conjunto de factores formará as nossas maneiras diferentes de olhar o mundo. Mas justificará a maneira intempestiva como alguns a expressam? Todos podem não concordar em tudo e... ainda bem! Não nos torna uns melhores que outros pelo facto de discordarmos, mesmo que profundamente.

Mas os nossos patéticos "piropos" têm a importância que têm, e  não é isso que aqui me traz. Entre as linhas de alguns comentários começou a insinuar-se a ideia de divisão entre militares operacionais e os outros.

Ora, o que todos (!) temos em comum é termos participado, cada um de seu modo e à sua maneira, na experiência incrível que foi a guerra da Guiné. Marcou os nossos verdes anos. Marcou-nos para toda a vida. O que por lá se sacrificou em sangue, lágrimas, suor, juventude, e, não menos, saúde, tem sido quase impossível de descrever nos nossos livros. Mas em verdade é isso que nos une.

 Uma tão importante e vasta Organização como são as Forças Armadas não criou as inúmeras Especialidades militares existentes por simples capricho. Todas elas são necessárias para a "máquina" funcionar dentro dos parâmetros desejados.

O mais heroico combatente das tropas especiais não "funciona" sem as... "Côbinhas Quentes"... produzidas pelo humilde cozinheiro do Quartel. Assim como o cozinheiro não viria a sobreviver na mata sem a guarda atenta do combatente. (Clarinho, clarinho, para militar entender. ) Se alguns de nós tiveram o azar de passar toda a sua Comissão nas matas da Guiné, e outros a sorte de servir em especialidades colocadas em localidades mais resguardadas..., na maioria dos casos estas situações nada tinham a ver com eles próprios.

 As colocações eram decididas a outros níveis mais centrais. As eternas cunhas e corrupção? É claro que também por lá andavam, como em todos os Exércitos do mundo. Mas, e a não cairmos no "micro-analisar" as situações, será difícil de nos acusarmos uns aos outros. Ao reparar-se na diversidade dos contribuintes para este blogue, de tudo existe quanto a Especialidades militares.

É isso que o tem enriquecido, mantido, e feito crescer muito para além de outros blogues de ex-combatentes. Depois de uma já longa vida de experiências feita, devemos estar atentos e não nos deixarmos cair em divisões que, por artificiais, são desnecessárias.

 Um abraço.
 J. Belo
 __________

Nota do editor:

Último poste da série > 29 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20105: Da Suécia com saudade (60): E agora também dos States, Florida, Key West... Acenando aos amigos através das câmaras ao vivo do mítico Sloppy Joe's Bar (José Belo)

9 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Querido José: concordo inteiramente contigo sobre esta falsa questão dos operacionais / não operacionais, ou do mato "versus" o ar condicionado de Bissau...

A malta está a ficar velha e azeda... O teu texto, que eu acabo de publicar, é uma lufada de ar fresco... Estou-te muito grato. De facto, às vezes, se calhar muitas vezes, estamos para aqui a discutir "o sexo dos anjos"... quando as calotas polares estão a derreter...

Estamos de acordo: todos somos importantes, todos somos filhos de um deus maior, do contabilista ao médico, do jurista ao cabo quarteleiro, do "ranger" ao fuzileiro, do paraquedista ao polícia militar...

Abraço, Luis. Bebe um copo, em Key West, à nossa saúde e à dos nossos filhos e netos... P Para que os sinos não dobrem por eles...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Lê o poste atrás, com a nossa agenda cultural... Se bem recordo, ainda tens raízes em Belmonte...


2 DE DEZEMBRO DE 2019
Guiné 61/74 - P20407: Agenda cultural (717): Homenagem a Samuel Schwarz: Belmonte, Museu Judaico, 19 e 20 de dezembro de 2019

Anónimo disse...

Retirei isto de um Poste dos 50 anos de partida da CC2381, que passou por Ingoré de Maio até Julho de 1968.

""
Os MAIORAIS - CCaç 2381, embarcaram para a Guiné no dia 1 de Maio de 1968. Andaram pelas picadas de Ingoré, até finais de julho e seguiram para o Sul. No restante tempo de comissão, até ao regresso em abril de 1970, palmilharam as matas de Buba, Quebo (Aldeia Formosa) Mampatá Forreá, Chamarra e Empada. Estacionaram em Quebo, Mampatá e Chamarra. Desgastaram-se nas colunas de Quebo para Buba e vice-versa e de Quebo a Gandembel. Quedaram-se em Buba na proteção à construção da estrada nova para Quebo. Em maio de 1969, dois Grupos foram para Empada, mantendo-se o restante pessoal entre Buba e Mampatá no apoio e segurança à estrada. Acabaram a comissão em Empada onde se juntaram em novembro de 1969.""


Como sabem, ou ficam a saber, nesta data, Ingoré fazia parte dos comandados pelo BCAÇ1933, sediado em S. Domingos, desde Abril de 1968 até 3 de Agosto de 1969, do qual eu fazia parte integrante.
Com um bocado de jeito esta malta da CC2381, conviveu, de perto ou à distância de um lápis, com o pessoal de S. Domingos...
Tendo eu visitado, em serviço, Ingoré, não sei se foi neste período, até poderia ter cruzado com o nosso alferes José Belo, ou então já Capitão, não sei.

Então porque andamos aqui todos às guerras de palavras tendo nós partilhado os mesmos solos de terra vermelha, quente, húmida...

Não gostei nada mesmo destas trocas de palavras, a propósito do Poste sobre Bissau, Nhacra. Safim, nada condizentes com pessoas desta idade.
Cada um tem a sua forma de estar e escrever, eu tenho a minha, e há muitas outras de que não gosto também, mas daí até o insulto, francamente, não foi para isto que vim parar a este blogue, não foi não. Fiquei podre, isso sim, embora não chegasse a ler tudo ao pormenor, pois vi logo que isso me ia afectar, sem quaisquer razões para tal, e já chega a vida do dia a dia.

Não sou muito de palavras filosóficas, a minha formação e actividade profissional de mais de 60 anos, são de natureza técnica, números e poucas palavras, pois isso deixo para os politiqueiros de hoje.

Se essa carta aberta, é um pedido (escondido) de desculpas, pela minha parte o assunto está encerrado, mesmo que não gostem que eu diga 'encerrado'.

Vamos à vida pois a morte anda por aí.

Virgilio Teixeira







Anónimo disse...

Caro Virgílio Teixeira

Näo vamos mais uma vez pessoalizar o que aqui se escreve quando as intencöes säo outras.

Todos nós temos os nossos egos, e certamente,uns mais do que outros.
É natural.
Mas näo é sobre isso que eu procurei escrever esta "carta aberta".
Se ler atentamente verificará que está centrada na análise de afirmacöes por parte de vários Camaradas,que por desnecessárias ( na minha opiniäo) poderiam vir a provocar uma devisäo entre os que foram militares operacionais e os outros.
Ora,e mais uma vez quanto a mim,isso seria profundamente indesejável para o Blogue.

Sempre tenho procurado proceder com frontalidade.
Custou-me,textualmente,algumas bofetadas violentas por parte de uma certa autoridade policial,quando nos tempos de estudante participava (como muitos outros!) em manifestacöes várias contra a ditadura.
Mais tarde,na vida militar,essa frontalidade foi também menos conveniente.
As minhas estadias na prisäo de Custóias e no presídio Militar de Tomar estiveram unicamente ligadas à mesma frontalidade ao apresentar opiniöes políticas entäo... inconvenientes.
Mais tarde,na minha profissäo de jurista,perdi ,por vezes, algumas oportunidades de ganhar uns bons dólares extras por ter sido demasiado frontal em opiniöes.

Escrevo aqui isto tudo na sincera tentativa de o fazer compreender que...a ter sentido qualquer necessidade de lhe pedir desculpas...o teria feito aberta e frontalmente.
Nunca por caminhos travessos porque desnecessários.

E,a haver alguém a quem pedir-se desculpa pelo desnecessário "pin-pong" de comentários patéticos seria aos Camaradas que acabaram por ler os mesmos.

Espero que,mais uma vez,näo se sinta incomodado mas,e repetindo-me...a sentir necessidade de pedir quaisquer desculpas pelas minhas ideias,opiniöes ou atitudes fá-lo-ia sem qualquer tipo de complexos,tanto quanto a Si como a qualquer outro.

Porque meu Caro Camarada,se vamos continuar a "brincar" com palavras quando isso aparenta ser conveniente para a "plateia".....repare que termina o seu comentário com algo de menos verdadeiro.
Quando afirma "Pela minha parte o assunto está encerrado"...mesmo que näo gostem que diga "encerrado"...

Näo tendo procuracäo de aqui me expressar em nome de outros,creio no entanto que nunca viria a reagir ao termo "encerrado" do mesmo modo que ao exclamativo..."Ponto Final"!

Mas,e para näo cairmos em novos patéticos "ping-pongs" de comentários feitos,seria boa oportunidade de procurar-se os tais "terrenos altos" referidos por Manuel Teixeira em um comentário a poster anterior.

PONTO FINAL!?!
ou
ASSUNTO ENCERRADO!?!

Vamos pelo último.

J.Belo

Anónimo disse...

Sr.Virgílio Teixeira.

Creio que foi Alberto Branquinho quem escreveu qualquer coisa como:-Falar com o meu umbigo.

Manuel Teixeira.

Valdemar Silva disse...

Assim, até dá gosto.
Já passaram 50 anos!! Meio século!!!!!
Que bom, ainda cá estamos.
Qual ter escapado da pneumónica ou gripe asiática e ficar 'vacinado' para outras gripes/gripinhas?
Aguentamos a guerra na Guiné, agora aguentam connosco e com os nossos comentários neste nosso blogue Luis Graça e Camaradas da Guiné. Isto do ter estado na guerra da Guiné não é para todos, qual 'estranha-se e depois entranha-se', qual quê. É outra coisa do caraças.
O mosso blogue não é apenas um boletim informativo de necrologia, é um blogue de camaradas vivos, resilientes, bonacheirões, poetas, viajantes, contadores de histórias, amigos, confraternizadores, e com lágrimas nos olhos quando se recordam dos mortos em combate ou dos que, agora, a morte os vai embrulhando.
Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Caro José Belo,

Sem mais comentários, porque infrutíferos entre pessoas adultas, o ping-pong está encerrado, num caixão de chumbo.

E para os restantes bloguistas, lamento que tenham assistido a esta troca de piropos.

Mudando de assunto, fui ver a HU do BCAÇ1933, e acho isto mais interessante, no mês de Abril de 68, encontrava-se em Ingoré a CCAÇ1801, com o 1º pelotão no Sedengal, como eu previa.
E em Maio de 68 a CCAÇ2381 fica sob o comando do nosso sector O1B - S. Domingos.
É enviada para Ingoré, como reforço da zona, acumulando com o 1º pelotão da CCAÇ1801, pelo menos até Julho de 68 foi assim.

Bate certo?

E por hoje é tudo,
Boa noite a todos,
Virgilio Teixeira


Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
joao crisostomo disse...

Caro josé Belo, ( e mais camaradas que leiam este)
Vejo que este "post" foi enviado ainda há poucos dias e portanto tenho esperança de que ainda leias os "comentários".
O meu nome é João Crisóstomo, da CC1439 que esteve na Guiné 1965/67( Xime, Babadinha,Enxalé, Missirá Porto Gole). Vivo em Nova Iorque. O Luis Graca teve a ideia de criar ou chamar aos que se encontram fora de Portugal a "Tabanca da Diáspora". Não vai aumentar ou diminuir nada aos que, como tu e eu e muitos mais, se encontram e já fazem parte da umbrela maior: a "Tabanca Grande". Mas creio que nos ajudaria a conservar vivos os nossos laços comuns de luso----e qualquer nome mais, seja ele "sueco/americano" como é o teu caso ou simplesmente luso-americano no meu caso, luso- venezuelano e tantos mais luso(s)..... espalhados pelo mundo. Porque a verdade é que nós temos uma faceta que nos é exclusiva e que só nós podemos sentir e compreender como ninguém: somos os "camaradas da guiné" que são também emigrantes. Esta denominação de "Diáspora" tem a vantagem de facilitar contactos com outros camaradas --que o são não porque estiveram na Guiné, ---mas o são também pela mesma experiência que tiveram em outros lugares geográficos como Angola, Moçambique etc. Ainda há dias falei com um deles que esteve em Angola e que ficou satisfeito da existência deste novo elo, pois que o grupo a que pertence-- antes numeroso--, com o passar dos anos está tão reduzido que é praticamente inexistente, pela falta de comunicação entre os poucos ainda sobreviventes. Daí a racionalidade do Luis Graça de nos englobar sob este apelido de Tabanca da Diáspora. Eu pessoalmente sinto este "extra elo suplementar" como relevante e significante e é com emoção que "reencontro" camaradas que conheço por já pertencerem à Tabanca Grande com quem agora estou em contacto mais directo por E mail ou mesmo por telefone. No meu caso, se me quiseres dar a satisfação de te poder contactar directamente, liga-me para o meu E mail << jcrisostomo@earthlink.net>> e dar-te-ei depois os restantes contactos. Eu quase não uso o facebook e outras redes sociais que acho por vezes muito controversas. Mas há casos que eu acho de interesse que se aplicam mais a nós emigrantes do que a outros que o não são. Por exemplo há semanas atrás vim a "descobrir" um "Monumento dos Descobrimentos" ( dos portugueses ) aqui nos Estados Unidos, que é uma réplica "melhorada' -porque muito mais esclarecedora e abrangente-- e de que todos os portuguese em qualquer parte do mundo se podem orgulhar-- do que existe no Algarve. De tal maneira relevante que tendo dado conhecimento deste facto a muita gente, recebi de muitos deles mensagens de agradecimento pelo envio, inclusive do senhor Presidente da República que me instruiu que me fizesse eco do seu reconhecimento e gratidão a todos os que estiveram envolvidos neste Monumento e o fizeram possível. Mandei isto ao Luis Graça, mas até ao momento ainda não foi referenciado pelo que quanto possível eu tento fazê-lo pessoalmente. Se me contactares pelo E mail terei todo o gosto em te enviar copia da carta e fotos deste fabuloso monumento que, como se apresenta , é uma lição de geografia e de história de Portugal para todos os que o visitam. E dele podes dar conhecimento a outros para o caso de uma possível viagem pelos Estados Nordeste dos Estados Unidos.
Este vai longo... Para o caso de o receberes e a todos os que o lerem,--- porque a distancia e outras razões não me permitem fazê-lo pessoalmente,--- permito-me este "post" para me associar a todos os que lhes são queridos nos votos de que tenham um Natal e um Ano Novo tão bons quanto possam desejar.
Nova Iorque 6 de Dezembro de 2019
Um abraço do camarada João Crisóstomo