domingo, 1 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20403: Blogpoesia (648): "O dia a nascer", "O comboio em andamento..." e "Estuário de poesia", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana, que continuamos a publicar com prazer:


O dia a nascer

Grande espectáculo gratuito ao nascer de cada dia.
Suavemente, vai clareando o céu.
Deixando atrás o negrume e o silêncio da madrugada.
Quando os espíritos se banquetearam, a bel-prazer, no reino enigmático da escuridão.
Vem a aurora radiante de luz apaziguadora.
Anunciando a chegada triunfal do astro-rei.
Semeador de vida, com a prodigalidade real e soberana, que não esquece nem discrimina.

Ressurge em nosso espírito, de novo, a vontade de viver, apesar das tormentas que assolam e varrem a Terra.
Sua lei é a esperança que tudo reverdece.
Com a sensação interna e geral de que não nascemos por mero acaso.
Há uma meta que nos puxa e galvaniza...

Ouvindo Schubert
Berlim, 30 de Novembro de 2019
8h57m
Jlmg

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Comboio em andamento…

Parece que viemos distraídos.
Sem dar conta, quase passou a vida e a sensação é que nada se fez.
Foi tudo trivial.
Cada dia igual ao de ontem.
Mediania…
Excepto no errar.
Se esqueceu a exaltação da infância e juventude, possibilitada pela solicitude de nossos pais.
Quando o sonho era o estado dominante da consciência.
Depois, a rotina do ganha-pão de cada dia.
O infindável rosário da prestação da casa e carro.
O insaciável IRS, um Adamastor, devorador dos subsídios de cada ano.
A sensação de perigo a ameaçar em cada canto.
O medo do infortúnio e da falta de saúde nossa e dos nossos queridos.
Não fosse a fé em Deus, sempre presente e o restante lenitivo da aposentação, já com netos a nosso redor, a vida seria um mar tormentoso indesejável…

Berlim, 26 de Novembro de 2019
9h56m
Jlmg

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Estuário de poesia

Desagua em mim um estuário de poesia.
Sulcos que a magnanimidade da Natureza traçou delicadamente no cair da tarde da minha existência.
Prenda surpreendente. Brinde imerecido mas muito bem-vindo.
Um pôr-do-sol luminoso depois da batalha atribulada que tive de travar.
Um clarão que desfez todos os negrumes da luta.
Me compraz em cada dia a visita, sempre inesperada, dum poema.
Lampejos fulgurantes que cintilam quando menos se espera.
Sensações que só a graça do divino pode explicar…

Ouvindo Schubert
Berlim, 25 de Novembro de 2019
8h52m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20377: Blogpoesia (647): "O corvo negro", "O encanto da vitória" e "Abram clareiras!...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

2 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A escrita poética, a música, os netos e a tua fé... são quatro ingredientes fundamentais para te dar alento, e chegar ao... centenário!...Escrever poesia todos os dias... quem me dera!... Pode ser dom divino (, outros chamam-lhe inspiração...), não contesto, mas tem também muito de "transpiração"... Muito trabalhinho, meu caro!...Parabéns!... Quando fazes uma seleção (crítica) e publicas o próximo livro ?... Luís

Joaquim Luís Mendes Gomes disse...


Exacto, Luís. Publicar, espero outra oportunidade. Abraço e muito Bom Natal.