domingo, 24 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20377: Blogpoesia (647): "O corvo negro", "O encanto da vitória" e "Abram clareiras!...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana, que continuamos a publicar com prazer:


O corvo negro

Sobre o alto daquele prédio em frente, está poisado um corvo negro.
Astuto. Atento a tudo.
Na sua vida.
Eu aqui a vê-lo.
Nada de mim ele sabe. Nem sequer se existo.
E eu dele. Senão que ele ali está.
Domina o mundo. Voa livre e poisa onde quer.
Pega e vai.
Que ideia fará de nós, mortais?
Caminhamos lentos sobre terra firme.
uns latagões.
Não imagina como vão cheios pelo ar acima aqueles passarões gigantes, tão estranhos.
Não batem as asas e, num instante, desaparecem no infinito dos céus.
Ainda lá está o corvo negro. Sua cabeça não pára.
Afinal, é o mesmo de ontem…

Berlim, 17 de Novembro de 2019
8h37m
Jlmg

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O encanto da vitória

Vencer é conseguir alcançar o bom.
Sempre e em todo lugar.
Aprender com as falhas.
Da próxima será melhor.
Tem seu preço.
O esforço que faz doer o corpo.
Não a alma, onde se guardam todas as vitórias.
A paz e a tranquilidade, o motor do nosso viver, só se ganham à força dos nossos braços.
Que sabor teria a vida se tudo nos fosse ofertado?
Não tem preço a alegria que nos dá um diploma.
A simples carta de conduzir.
Ou o duma licenciatura em qualquer ramo do saber.
Chegar à meta à frente e olhar de pé o pelotão que ainda vem subindo…

Ouvindo Músicas Clássicas Lindas
Berlim, 18 de Novembro de 2019
10h14m
Jlmg

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Abram clareiras!...

Faça-se silêncio. Vai passar o concerto para piano e orquestra, nº 3 de Rachmaninoff.
Vai arrasar todo o passado de harmonia e exaltação.
Chegam ao céu seus trinados comoventes.
Derretem os corações empedernidos seus acordes vigorosos.
Descem vagabundos seus andamentos como corcéis pela serra abaixo até ao rio.
Como vagas enfurecidas sobre a praia, cavalgam os dedos da pianista transfigurada.
O piano se transforma num vulcão efervescente de sons arrepiantes.
Receia mesmo não resistir ao que lhe pede a artista galvanizada por uma melodia incandescente nunca ouvida.
Que duelo aterrador entre um piano tão sentido com os ademanes duma orquestra titubeante!
Ficou para a história a vitória retumbante do piano preto de cauda aberta pelas mãos divinas da pianista.

Que pena não poder estar presente na plateia o seu autor!...

Ouvindo Rachmaninoff: Piano Concerto No. 3 - Anna Fedorova
Berlin, 19 de Novembro de 2019
19h54m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de Novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20355: Blogpoesia (646): "Pé-ante-pé sobre o mar...", "Páginas inúteis" e "Brincando com as formas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

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