Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019)
Elegia
fúnebre para um amigo e camarada:
quando morre um de nós,
também morremos todos um pouco
quando morre um de nós,
também morremos todos um pouco
Querido
Eduardo:
Hoje,
em pleno Outono,
O
barqueiro de Caronte
Levou-te
para a outra margem
Desse
rio que nos separa.
É
sempre triste a despedida,
A
separação,
Pior
ainda quando não anunciada.
Mas
um dia,
De
um qualquer dia das Quatro Estações,
Todos
tomaremos lugar
Nesse
barco do barqueiro de Caronte.
Alguns
dirão: é o fim, é o nada.
Mas,
não, mesmo para quem não é crente,
Não
é uma miragem,
Do
lado de cá,
Continuaremos
a ver-te
Com o teu sorriso luminoso,
Com
a tua voz de comando,
Com a tua presença tranquila.
Os
que te conheceram,
E
tiveram o privilégio de
lidar contigo,
A
começar pela mulher da tua vida, a São,
E
os teus filhos, João e Rui,
E
os teus netos,
Para
quem foste sempre um pai e um avô carinhoso,
A São, em Monte Real, no XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande. em 25 de maio de 2019. Foto: Luís Graça (2019) |
E
aqui deixa-me destacar a tua São,
Discreta,
mas magnânima,
Aparentando
a fortaleza do rochedo,
A
tua São,
Que passou ontem o teu velório
Que passou ontem o teu velório
A
afagar o teu rosto, já roxo e frio,
E
cujo amor e coragem
São
uma referência para
todos nós,
Seus
amigos.
Se
há um lugar, para
os humanos,
No
condomínio de luxo dos deuses,
Lá
no Olimpo,
Ela
já ganhou esse direito,
Quando
também chegar a hora
Da
sua partida no
barco de Caronte,
Para ir ter contigo.
Haveremos
então, todos juntos,
De
reatar as conversas e convívios,
Que
a tua morte, súbita, interrompeu.
Não
fiques triste, amigo,
Por
ires à frente de todos nós.
A
tua vida iluminou-nos
E
a tua nobreza nesta terra da alegria
Engrandeceu-nos,
A
todos nós,
Teus
amigos e camaradas.
Temos
muito orgulho em ti.
E,
no entanto,
Quantos
projetos não ficaram
Por
concretizar, Eduardo!
E
se tu tinhas ganas de
viver,
De
vivê-los,
Com
os teus filhos e netos,
E
com a tua São, que se ia reformar.
E, claro, com os teus amigos
Da
Associação Memória da Batalha do Vimeiro!
Guardaremos
connosco
As
melhores recordações,
Do
melhor de ti,
Tu
que foste um dos melhores de todos nós,
Um homem inteligente
E
bom
E
generoso
E
amigo do seu amigo,
Com
um coração tão grande
Que
não cabia no teu peito!
Quem
fica do lado de cá,
Separado
por um rio intransponível,
Fica
sempre desolado
Pela
perda irreparável
Que
é a morte,
A
tua morte,
A
qual é também a nossa futura morte.
Quem
fica do lado de cá,
Como
nós,
Fica
a dizer-te adeus,
Numa
despedida
Que
é sempre breve, porém
dolorosa,
Tingida
já da doce e triste saudade,
Que
dizem ser tão típica dos portugueses.
Os
teus amigos do seminário, da tropa, da guerra,
Das nossas nossas tabancas e tertúlias,
Das nossas nossas tabancas e tertúlias,
De Porto Dinheiro, de Ribamar,
do Vimeiro,
Da Lourinhã, de Almeida, de Lisboa, de Nova Iorque…
Enfim,
de todos os lugares do mundo
Onde
foste feliz e/ou onde tinhas amigos…
Ficam
no planeta azul a dizer-te adeus,
Convencidos
que partiste apenas
Para outro planeta de outra galáxia.
Leva
contigo estas últimas palavras
Dos
teus amigos,
Que
elas te ajudem a atravessar o Caronte,
A
fazer boa viagem.
E vela por todos nós.
E vela por todos nós.
De
regresso a casa,
Vamos
ajudar a tua São
E os teus demais entes queridos
E os teus demais entes queridos
A
suportar um pouco melhor
A
tua partida,
A
dulcificar as lágrimas de sal,
A
fazer o luto,
A
construir a ponte sobre o Rio de Caronte.
É
por isso que aqui estamos,
É
para isso que servem os amigos,
Os
muitos que fizeste em vida.
Até
um dia destes, Eduardo,
Um
abraço, um alfabravo,
Um
chicoração apertado.
Luís Graça, Alice & demais amigos e camaradas
aqui presentes, na tua despedida, na igreja do Vimeiro.
aqui presentes, na tua despedida, na igreja do Vimeiro.
Lourinhã, Vimeiro, 25
de Novembro de 2019, 14h00
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Nota do editor:
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25 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20380: In Memoriam (355): Um alfabravo (ABraço), Eduardo, até qualquer dia!
24 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20379: In Memoriam (354): Eduardo Jorge Pinto Ferreira (1952 - 2019), ex-alf mil, Polícia Aérea, BA 12, Bissalanca, 1972/74, régulo da Tabanca de Porto Dinheiro / Lourinhã: o funeral é amanhã, 2ª feira, no Vimeiro, às 14h00
24 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20379: In Memoriam (354): Eduardo Jorge Pinto Ferreira (1952 - 2019), ex-alf mil, Polícia Aérea, BA 12, Bissalanca, 1972/74, régulo da Tabanca de Porto Dinheiro / Lourinhã: o funeral é amanhã, 2ª feira, no Vimeiro, às 14h00
5 comentários:
Junto-me a este eloquente poema de despedida de um camarada da Guiné, que não conheci.
A tristeza invade todos, e em especial para quem parte tão cedo, quando ainda há tanto para percorrer, mas ninguém pode fazer nada, quanto à data marcada por alguém mais divino, que o simples ser humano.
Um Adeus e até sempre ao Eduardo Jorge Ferreira,
As minhas condolências à familia, em particular a esposa,
Virgilio Teixeira
O Eduardo tinha uma paixão de Montejunto, talvez dos tempos, não sei, da Força Aérea... Não sei se ele chegou a passar por cá, já que ele esteve 6 seis como voluntário na FAP, enter 1971 e 1977...Veja-se a história da sua ligação à serra de Montejunto que, vista de Ribamar ou da Lourinhã, parece ser azul...
Um dia ele desafiu-me, a mim e outros camaradas, a ir à aldeia do Pereiro, nas faldas da serra de Montejunto, à festa do "cantar e pintar os reis"...
6 DE JANEIRO DE 2017
Guiné 61/74 - P16925: Manuscrito(s) (Luís Graça) (108): Com o Eduardo Jorge Ferreira, o Jaime Bonifácio Marques da Silva e outros amigos da Tabanca do Oeste, cantando as janeiras em Pereiro, nas fraldas da serra de Montejunto
Lembro-me de ter feito ocasião os seguintes versos, que são um homenagem ao Eduardo:
Que importa a noite fria de janeiro,
Se o desafio é ir a Montejunto,
Os Reis cantar na aldeia de Pereiro
E a amizade celebrar em conjunto?!
E a amizade celebrar em conjunto,
Homens e mulheres, velhos e moços,
E, se não houver salpicão nem presunto,
Come-se o chouriço, as pevides e os tremoços.
Come-se o chouriço, as pevides e os tremoços,
Que o Eduardo Jorge é o nosso guia,
Em voltando da Guiné com todos os ossos,
Prometeu que a Pereiro voltaria.
Prometeu que a Pereiro voltaria.
Lá nas faldas daquela bela serra,
As janeiras cantar com alegria,
Com mais alguns camaradas de guerra.
Com mais alguns camaradas de guerra,
Qual frio, qual carapuça, qual nevoeiro,
Viemos de longe cantar os reis nesta terra,
Que Portugal hoje chama-se Pereiro.
Que Portugal hoje chama-se Pereiro,
E tem da brisa atlântica um cheirinho,
Pode não haver, como no Norte, o fumeiro,
Mas há o branco, o tinto e o abafadinho.
Pereiro, Vilar, Cadaval, 5-6 de janeiro de 2016
Caros amigos
Já é por demais referido que a morte é a consequência da Vida. Temos consciência disso, é verdade mas também é verdade que nunca se está verdadeiramente "preparado" para a separação física.
Conheci o Eduardo dos post aqui colocados e tive a oportunidade de falarmos, ainda que brevemente, em Monte Real.
Esta homenagem que o Luís Graça lhe faz é, sem dúvida, não só justa como também um forma de prolongar mais um pouco a sua memória.
Abraço
Hélder Sousa
Hoje foi um dia muito triste. Fui ao funeral do Eduardo Jorge, meu amigo e colega de longa data. Durante a cerimónia religiosa foram proferidas palavras que me fizeram reviver muitos momentos… mas a recordação que mais me assaltava à memória relacionava-se com BISSAU: Quando, eu todo mordido pelos mosquitos e suado até ao tutano, chegava de Fulacunda na Dornier do nosso saudoso comandante Pombo e o Eduardo Jorge, ainda no aeroporto Bissalanca pegava em mim e me levava para os seus aposentos na Base aérea. Ligava o ar condicionado e dizia "pá, agora, já te podes coçar à vontade e tomar banho, porque aqui a guerra é outra"...Depois, passado uma hora pegava na motoreta e levava-me até NHACRA, comer umas ostras… Era assim o Eduardo Jorge, generoso, ativo, pensando sempre no BEM dos outros. Hoje é um dia muito triste…
Deixo aqui a minha singela homenagem à partida de um camarada. Porque sou crente, acredito que Deus dará à sua alma o eterno descanso.Nesta hora de dor envio os meus sentidos pêsames à sua esposa, filhos, restante família, bem como aos que com ele partilharam a vida e estão a sentir a perda de um companheiro.
Abraço para todos os camaradas e amigos da nossa Tabanca Grande.
Luís Dias
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