1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 17 de Junho de 2013:
Caríssimos Luís / Carlos,
Ontem fiz um comentário, no P11711 sobre "piras", e usei o termo "ALFERO DI CANHÃO".
Resolvi discorrer sobre o tema, mesmo correndo o risco de parecer arrogante ou pretensioso, o que de modo algum é minha intenção, e sim, simplesmente relatar a experiência de jovens soldados.
Primeiramente, Alfero di Canhão, não é a mesma patente que Alferes Miliciano de Artilharia.
Alferes de Artilharia era um soldado que recebia formação de guerra clássica, em Vendas Novas, e era "lançado" algures em África.
"Alfero di Canhão" era um Alferes de Artilharia, que chegado a Bissau, era jogado no primeiro buraco disponível e começava a tornar-se tal no primeiro ataque ao quartel, mas era um processo lento.
Logo o jovem soldado sentia que era ele que fazia mais barulho, atirava mais longe e ficava fora das valas quando todos lá estavam. Não fazia isso porque era mais corajoso, mas porque era o lugar onde se sentia mais seguro. Podia acontecer o "raio" cair no lugar "errado", não é C. Martins? Mas ele sentia assim?
Também sentia que era tratado de modo diferente dos outros Oficiais, pela população local, bem como por seus superiores da outra tropa, afinal era ele que acalmava as hostes (mesmo só fazendo barulho) na hora da verdade!
Havia também momentos de grande tensão, quando a tropa no mato pedia fogo para bem próximo, imaginem que eles estavam com o IN a curta distância, debaixo de fogo, e por vezes com referências precárias.
Assim, Caríssimos Editores, quando ele se tornava realmente um "ALFERO DI CANHÃO", voltava para casa.
forte abraço
Vasco Pires
Fotos ©: Vasco Pires (2013). Todos os direitos reservados
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Nota do editor
Último poste da série de 15 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11709: Memória dos lugares (235): Cobumba e a trágica realidade das minas (António Eduardo Ferreira)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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domingo, 23 de junho de 2013
Guiné 63/74 - P11750: Bom ou mau tempo na bolanha (14): "Tarrafo", um livro, um documento (Tony Borié)
Décimo quarto episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66.
Abri o envelope, dos modernos, almofadado, tinha vindo de Portugal, tinha na estampilha o nome de uma simpática povoação da região de Águeda, lá dentro vinha um livro, assinado pelo autor, com uma dedicatória que me fez emocionar. Abri-o, tinha o cheiro daqueles livros, quando novos, usávamos desde a primeira à quarte classe, depois com o uso, e com algum mal trato, pois muitas vezes serviam de balizas para aqueles tremendos desafios de futebol, da “Terceira”, contra a “Quarta”, que era o pessoal da terceira classe contra os “ranhosos” da quarta classe, que envolvia talvez uma equipa de quarenta e tantos “garotos”, contra outra equipa de outros quarenta e tal, e que acabava sempre quando tocava a campaínha para o regresso às frias e inconfortáveis salas de aula, onde havia um professor, “com cara de mau”, parecia mesmo um “pirata”, e a terceira classe quase sempre perdia, com um golo “roubado”, pois tinha sido marcado depois de forte empurrão que estatelou no chão de terra batida, da Escola do Adro da Igreja, o franzino “puto” da terceira classe. Esses livros, quase sempre ficavam todos riscados, com marcas, nomes do colega de carteira, sinais de “copianço”, enfim toda a qualidade “gatafunhos”.
Estou a falar da Escola do Adro, como havia tantas escolas do Adro, como havia tantas ruas da Farmácia, dos Correios, da Fonte, do Rio, de Cima, de Baixo, em tantas vilas e cidades de Portugal, mas esta era a Escola do Adro, de Águeda, região onde vivem os companheiros combatentes Paulo Santiago e Armor Pires Mota. O Paulo teve o simpático gesto de me enviar o livro, para que revivesse os tempos do conflito e me lembrasse do que era essa maldita polícia que nos acompanhava nesse mesmo conflito, o livro tem esse cheiro, tem essas marcas, que nós “putos” fazíamos, muitas vezes para enganar o professor.
O Armor Pires Mota, não era eu, creio, que se a minha já um
pouco debilitada memória não me atraiçoa, que o vi uma vez ou
outra na tipografia onde trabalhava em Águeda, creio que até o
cumprimentei, mas como dizia, o Armor Pires Mota, não era eu, o
Armor Pires Mota, não enganava ninguém, teve na altura, uma
personalidade e uma visão um pouco arrojada para a época, tirava os seus apontamentos durante
o conflito, ali, a quente, e mesmo antes de chegar à Europa,
começa a contar a verdade do que via, num jornal de província,
da pequena localidade donde era oriundo, mas pertencente à
região onde eu nasci e na altura viviam os meus pais, que eu, já
incorporado no exército, visitava assim que tinha oportunidade,
apontamentos esses, que logo tiveram alguma publicidade, e ele,
sem se preocupar um pouco sequer, pois a tal polícia do estado,
vigiava-nos. Por fim, chegado de vez à Europa, publica esses
apontamentos em livro. Resultado, o tal livro foi logo
apreendido e com os “gatafunhos” escritos a lápis, talvez
vermelho e azul, como usava o pai do meu companheiro de escola,
que me trazia alguns desses lápis, depois de eu o ajudar nas
contas de multiplicar e dividir, em que ele não era lá muito
bom, e que tinha vindo dos lados de Leiria, cujo pai era chefe
dos correios que também fazia a revisão e censura dos jornais da
vila nesse tempo.
O livro “Tarrafo”, para mim é um documento, com “crónicas e reportagens feitas na hora”, algumas a quente, a verdade do que via, não importava se as aldeias eram queimadas, se havia bombardeamentos com bombas de napalme, se havia emboscadas, tiros, granadas, morteiros, catra-pum-pum-pum, mortos, feridos, guerrilheiros com armas, algumas com mais potencial do que as usadas pelas nossas forças, lama, bolanhas, tarrafo, fome, sede, fartura, bajudas, umas a fugirem, outras a refugiarem-se nos braços dos soldados, risos, abraços ou beijos, companheiros com o camuflado roto e sujo de sangue, alguma alegria, ou gritos de dor e angústia, nos momentos de aflição, em que alguns companheiros feridos, pediam a morte, era a verdade, que nós combatentes sabemos que existiu, eu, pelo menos, que lá cheguei uns meses depois dele e calquei aquela terra vermelha, e dada a minha especialidade no conflito, tomei conhecimento de algumas “façanhas” do célebre Batalhão 490, assim como de outras unidades de combate que andavam por lá, principalmente pela região do Oio. Vi que era verdade, mas não tive a coragem ou talvez a lucidez, de chegar à Europa e descrever em jornais, revistas ou livros, alguns pormenores daquela maldita guerra. Na minha modesta opinião, este livro em parte deve ser lido nessa vertente, como um documento, vou colocá-lo num lugar especial da minha pequena biblioteca.
Um grande bem haja aos amigos combatentes Paulo Santiago e Armor Pires Mota e não perco a esperança de um dia os poder abraçar.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 19 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11733: Bom ou mau tempo na bolanha (13): Durante 30 anos trabalhei numa multinacional em New Jersey (Tony Borié)
Abri o envelope, dos modernos, almofadado, tinha vindo de Portugal, tinha na estampilha o nome de uma simpática povoação da região de Águeda, lá dentro vinha um livro, assinado pelo autor, com uma dedicatória que me fez emocionar. Abri-o, tinha o cheiro daqueles livros, quando novos, usávamos desde a primeira à quarte classe, depois com o uso, e com algum mal trato, pois muitas vezes serviam de balizas para aqueles tremendos desafios de futebol, da “Terceira”, contra a “Quarta”, que era o pessoal da terceira classe contra os “ranhosos” da quarta classe, que envolvia talvez uma equipa de quarenta e tantos “garotos”, contra outra equipa de outros quarenta e tal, e que acabava sempre quando tocava a campaínha para o regresso às frias e inconfortáveis salas de aula, onde havia um professor, “com cara de mau”, parecia mesmo um “pirata”, e a terceira classe quase sempre perdia, com um golo “roubado”, pois tinha sido marcado depois de forte empurrão que estatelou no chão de terra batida, da Escola do Adro da Igreja, o franzino “puto” da terceira classe. Esses livros, quase sempre ficavam todos riscados, com marcas, nomes do colega de carteira, sinais de “copianço”, enfim toda a qualidade “gatafunhos”.
Estou a falar da Escola do Adro, como havia tantas escolas do Adro, como havia tantas ruas da Farmácia, dos Correios, da Fonte, do Rio, de Cima, de Baixo, em tantas vilas e cidades de Portugal, mas esta era a Escola do Adro, de Águeda, região onde vivem os companheiros combatentes Paulo Santiago e Armor Pires Mota. O Paulo teve o simpático gesto de me enviar o livro, para que revivesse os tempos do conflito e me lembrasse do que era essa maldita polícia que nos acompanhava nesse mesmo conflito, o livro tem esse cheiro, tem essas marcas, que nós “putos” fazíamos, muitas vezes para enganar o professor.

O livro “Tarrafo”, para mim é um documento, com “crónicas e reportagens feitas na hora”, algumas a quente, a verdade do que via, não importava se as aldeias eram queimadas, se havia bombardeamentos com bombas de napalme, se havia emboscadas, tiros, granadas, morteiros, catra-pum-pum-pum, mortos, feridos, guerrilheiros com armas, algumas com mais potencial do que as usadas pelas nossas forças, lama, bolanhas, tarrafo, fome, sede, fartura, bajudas, umas a fugirem, outras a refugiarem-se nos braços dos soldados, risos, abraços ou beijos, companheiros com o camuflado roto e sujo de sangue, alguma alegria, ou gritos de dor e angústia, nos momentos de aflição, em que alguns companheiros feridos, pediam a morte, era a verdade, que nós combatentes sabemos que existiu, eu, pelo menos, que lá cheguei uns meses depois dele e calquei aquela terra vermelha, e dada a minha especialidade no conflito, tomei conhecimento de algumas “façanhas” do célebre Batalhão 490, assim como de outras unidades de combate que andavam por lá, principalmente pela região do Oio. Vi que era verdade, mas não tive a coragem ou talvez a lucidez, de chegar à Europa e descrever em jornais, revistas ou livros, alguns pormenores daquela maldita guerra. Na minha modesta opinião, este livro em parte deve ser lido nessa vertente, como um documento, vou colocá-lo num lugar especial da minha pequena biblioteca.
Um grande bem haja aos amigos combatentes Paulo Santiago e Armor Pires Mota e não perco a esperança de um dia os poder abraçar.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 19 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11733: Bom ou mau tempo na bolanha (13): Durante 30 anos trabalhei numa multinacional em New Jersey (Tony Borié)
Guiné 63/74 - P11749: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (10): "O Nosso Dicionário"
1. Mensagem do António J. Pereira da Costa cor art ref, ex-alf art CART 1692/BART 1914, (Cacine, 1968/69); e ex-cap art e cmdt, CART 3494/BART 3873 (Xime e Mansambo) e CART 3567 (Mansabá) (1972/74):
Data: 19 de Junho de 2013 às 22:19
Assunto: "O Nosso Dicionário"
Olá, Camarada
Aqui vão 4 páginas de um dicionário de termos militares relativos à Guiné. Foram os de que me lembrei. Se houver mais, é só acrescentar. Um Ab.
2. A Minha Guerra a Patróleo (10) >
O Nosso Dicionário Militar
Nota Prévia: Na elaboração deste pequeno dicionário:
Último poste da série > 28 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11172: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (9): A praxe da Ivone
Data: 19 de Junho de 2013 às 22:19
Assunto: "O Nosso Dicionário"
Olá, Camarada
Aqui vão 4 páginas de um dicionário de termos militares relativos à Guiné. Foram os de que me lembrei. Se houver mais, é só acrescentar. Um Ab.

O Nosso Dicionário Militar
Nota Prévia: Na elaboração deste pequeno dicionário:
(i) não foram considerados acrónimos e abreviaturas regulamentares incluídas na linguagem militar do tempo;
(ii) Também não se consideraram designações regulamentares de certos materiais, ainda que tenham provindo de alcunhas ex. "jipe", (inicialmente "GP" ou "Jeep"); ex. matador (viatura militar de fabrico britânico da AEC), etc.;
(iii) Não se consideraram expressões de crioulo, pois essa é a língua usada pelos povos da Guiné para comunicarem entre si não constituindo, por isso, linguagem militar;
(iv) As expressões da gíria militar "oriundas" de outros TO também não foram aceites, bem como as expressões vindas da I Guerra Mundial ou de outras, ex. ameixa de Elvas, (inicialmente pelouro e depois sinónimo de granada) e que ficaram na gíria militar, por que não foram "adoptadas" durante a Guerra Colonial.
Este critério reduziu muito o número de palavras ou expressões características da Guerra da Guiné.
APANHADO (do clima) – Situação do foro psicológico que poderemos comparar a certas situações de stress laboral e que se manifestava por comportamentos absurdos ou inconvenientes. O termo era, muitas vezes usado como chacota, para designar os militares com atitudes hilariantes e bem-dispostas, mas, noutros casos, era indício de um cansaço psicológico que não deixava de se fazer sentir em consequência da permanência na "Província".
ATACADORES DE PARAQUEDISTA (Ou de PM) – Esparguete. Este tipo de massa era, talvez pela sua melhor capacidade para se conservar e baixo preço, muito frequente na alimentação das unidades militares. Acompanhava carnes, era incluído em sopas, mas há notícias de ter sido consumido de outros modos nomeadamente acompanhado de marmelada.
BANANA – Rádio portátil de curto alcance normalmente usado para ligação entre grupos de combate e com uma forma bastante sugestiva. Permitia a ligação com a Força Aérea em duas frequências (uma de contacto inicial e outra para utilização subsequente). Inicialmente de origem francesa – o THC 736 de maiores dimensões foi substituído pelo AVP – 1, mais portátil e, sensivelmente, com o mesmo alcance.
BARCOS DE BRAÇO-DADO – Conjunto de duas embarcações que navegavam muitas vezes sem escolta e incluindo uma pequena força de fuzileiros pelos rios da Guiné. O aspecto exterior de ambas era idêntico. Porém, só uma tinha motor. Assim, navegavam solidamente ligadas pelas amuradas. Eram semelhantes a batelões com uma capacidade de carga, a granel, muito considerável. Frequentemente transportavam pessoas em condições bastante incómodas, sobre a carga e com reduzida protecção contra as intempéries.
BATE-ESTRADAS – Aerograma. A fim de simplificar o manuseamento da correspondência para o Ultramar foi criado este tipo de correspondência que já existia noutros países. Este tipo de "envelopes" abertos e consultáveis facilitava a possível acção da censura de guerra. O Movimento Nacional Feminino fazia a distribuição de aerogramas que também podiam ser obtidos noutras fontes, como as juntas de freguesia.
BAZOOKA – Cerveja de 0,6 dl. Exclusivamente para o Ultramar as cervejeiras (Sagres, Nocal, Cuca, etc.) apresentavam a cerveja em garrafas de 0,6 dl às quais foi dado aquele nome por oposição às normalmente comercializadas com 0,33 dl de capacidade e por consequência com maior poder "explosivo" como sucedia com as bazookas, armas anti-carro de calibre 6 cm ou, mais frequentemente, 8,9 cm de fabrico americano.
BIANDA – Comida em geral. Do crioulo arroz, base da alimentação da população.
BICHA DE PIRILAU – Designação comum a todos os TO. Progressão, em coluna por um, mantendo cada homem uma distância regulamentar, adequada à situação táctica, em relação ao que se lhe seguia.
CACO (Baldé) – Alcunha do brigadeiro e, depois, general António de Spínola, aludindo ao monóculo que usava. Diz-se que a lente não tinha graduação e que se destinava a compor a sua figura. Ao cert, sabe-se que o general usava óculos, sempre que precisava de ler. A designação baldé vem da protecção dada às populações e ao esforço que promoveu para a sua captação para o apoio às tropas e à política do governo.
CANHOTA – Espingarda. Inicialmente a espingarda Mauser, de calibre 7,9 mm, cujo desempenho insuficiente obrigou à aquisição de uma espingarda automática – a G – 3 (também de fabrico alemão) – de calibre 7,62 mm.
CAPITÃO-PROVETA – Nos últimos anos de guerra, devido a dificuldades de recrutamento, foram graduados no posto de capitão, oficiais, normalmente licenciados, que, após o curso de oficiais milicianos (COM), embarcavam com o posto de alferes miliciano para um estágio de quatro meses numa unidade operacional e num dos três TO para que pudessem familiarizar-se com o ambiente que iriam encontrar. Ao regressar eram graduados em tenentes, preparavam uma subunidade e voltavam a embarcar, agora como comandantes de companhia. Esta forma de recrutamento de comandantes de companhia entra em vigor quando se esgotou a possibilidade de chamar às fileiras os oficiais milicianos que não tinham sido mobilizados, ou porque a guerra ainda não se iniciara, à data da sua passagem à disponibilidade ou porque, durante o seu serviço militar, não tinham sido mobilizados como subalternos.
CICLISTAS – Feijões-frade. Esta designação estava divulgada na Metrópole e no Ultramar. Resulta da semelhança entre um pelotão de ciclistas a passar pelos espectadores. (todos iguais e movendo-se rapidamente). Julga-se que se deveria ao facto de este tipo de feijões (muito utilizado como acompanhamento de diversos pratos de peixe e conservas) ser cozido e depois a água da cozedura ser escorrida. Sendo todos iguais e movimentando-se depressa nessa altura temos que considerar que a "semelhança" era evidente.
CIFRA – Operador cripto. Até ao nível companhia existiam normalmente dois cabos operadores-cripto que cifravam e decifravam as mensagens, expedidas e recebidas. A alcunha vem claramente da sua actividade.
COSTUREIRINHA – Pistola-metralhadora PPSH de fabrico soviético de calibre 9 mm que equipou os exércitos da URSS e do Pacto de Varsóvia, respectivamente, durante a II Guerra Mundial e durante grande parte da Guerra Fria. Tinha um carregador circular de cerca de 60 munições e distinguia-se pelo som do seu funcionamento que lembrava uma máquina de costura.
EMBRULHAR – Ser atacado pelo IN.
ENXOTA-PINTOS – Também chamado burro-do-mato ou simplesmente burrinho. Viatura de fabrico alemão Mercedes Unimog 411. Inicialmente era uma viatura agrícola destinada a serviços em pequenas explorações. Trabalhava a gasóleo e tinha um ruído de motor agudo e muito característico. Era uma viatura muito utilizada pela sua potência e manobrabilidade. Transportava habitualmente uma equipa de atiradores.
ESCRIBA – Primeiro-cabo escriturário que trabalhava, normalmente, na secretaria com o primeiro-sargento que "respondia [1]" pela companhia.
ESTILHAÇOS – Carne de frango, normalmente em pequena quantidade e, por isso, muito dividida em pequenos bocados, habitualmente comida misturada com massa ou com arroz.
FERRUGENTO – Qualquer elemento da "ferrugem", secção de manutenção auto, e não só, de uma subunidade.
KIKO, QUICO ou TAPA-CHAMAS – Barrete do uniforme n.º 3 ou do camuflado. Totalmente confeccionado em pano com uma pequena pala, em redondo, para diante, e outra, para trás, que se abria em duas partes, de forma a adaptar-se à nuca. Muitas vezes, para se não perder nos movimentos de progressão no mato, era atado por uma das pontas a uma platina do camuflado. Esta designação generalizou-se e era usada em todos os TO e na Metrópole.
KALACHE – Espingarda automática de fabrico soviético, utilizando o calibre 7,62 (curto) denominada Kalashnikov, nome do seu inventor Mikhail Kalashnikov. No exército de origem é designada por AK – 47 (Avtomat Kalashnikova odraztzia 1947 goda).
LERPAR – Por analogia com o jogo de cartas, significava morrer. Podia também ser usado em relação a qualquer outra coisa que falhasse ou não se concretizasse. (viagem, dinheiro a receber, etc.)
MANGA DE CAPOTE – Tipo de massa alimentícia que também era assim designada pela própria Manutenção Militar e que aumentava substancialmente de volume, depois de confeccionada.
MÉZINHO ou PASTILHAS – Adoptando uma expressão do crioulo, era a designação dada a qualquer elemento da equipa sanitária da subunidade, normalmente o furriel.
NHARRO – Expressão de significado depreciativo que designava o preto (normalmente interessado em tirar partido da acção da tropa) ou o branco residente e exercendo comércio numa povoação do interior à maneira dos "lançados" no Brasil antigo.
PAGA-DEZ – Grande lagarto de cores vivas, mas inofensivo que se movimenta por pequenos e rápidos lanços. Ao parar subitamente, fazia um movimento com as patas dianteiras semelhante ao das flexões de braços em apoio no solo. "Pagar dez" (flexões de braços) era a punição mais comum durante o treino físico, praxe militar ou em consequência de um qualquer procedimento tido como não regulamentar.
PBX – Designação atribuída a um qualquer elemento da secção de transmissões da subunidade. Corruptela da expressão em inglês Private Branch Exchange (mudança de ramais privados) e que designava, naquele tempo, um centro de distribuição telefónica pertencente a uma entidade que geria, no seu interior, os seus próprios serviços telefónicos.
PERIQUITO ou PIRA – Novato. Todo aquele que tinha acabado de chegar à Guiné para continuação do serviço militar. Esta designação era utilizada noutros sectores da vida e da acção nas unidades ou fora delas.
PICAR (a estrada) – Operação de grande perigo que consistia em progredir por itinerário ou trilho procurando detectar minas (normalmente) ou armadilhas. Uma vez que a quase totalidade das minas usadas pelo inimigo eram de plástico ou de madeira não era possível utilizar o detector de minas. Por isso este trabalho era realizado com recurso a uma vara de verguinha afiada – a pica – que se espetava no solo e pelo som ou pela diferença de textura do terreno encontrada permitia a detecção do engenho.
REBENTA-MINAS – Designação, comum a todos os TO, para a primeira viatura de uma coluna auto, geralmente mais pesada, de cabine recuada e com diversos sacos de areia, visando aumentar-lhe o peso e proteger o pessoal da cabine, no caso de ser accionada uma mina anti-carro.
SALGADEIRA ou SOBRETUDO DE MADEIRA - Caixão.
SUPOSITÓRIO – Granada de artilharia. Aludindo à forma aerodinâmica deste tipo de munições.
TROPA-MACACA – Unidades do Exército, de quadrícula ou intervenção, formadas na Metrópole ou do recrutamento local, não incluídas na designação de tropa especial (comandos, pára-quedistas ou fuzileiros especiais).
TUGA – Designação pejorativa dada pelo PAIGC aos militares portugueses.
TURRA – Designação pejorativa dada aos combatentes do PAIGC. Abreviatura de terrorista.
VAGUEMONSTRO – Furriel vagomestre da companhia.
VÉLHICE – Expressão designava uma unidade ou grupo de unidades que já tinha terminado a sua comissão ou estava à espera que tal sucedesse, a curto prazo.
VÉLHINHO. – Militar de uma unidade da velhice.
VIÚVA NEGRA – Mina anti-pessoal PMN de fabrico soviético. De plástico negro e formato circular, apresentava duas tampas que lhe conferiam um aspecto de pequena panela e continha uma quantidade relativamente pequena de explosivos. Era adequada a ser manuseada por guerrilheiros pouco evoluídos como sapadores, já que tinha a particularidade de, uma vez implantada, só ficar activa após algum tempo destinado a cortar com um arame semelhante a uma corda de guitarra uma cavilha de chumbo.
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[1] Esta expressão designava as funções gerais administrativas e logísticas do primeiro-sargento de qualquer subunidade. Actualmente estas funções são desempenhadas por um sargento-ajudante.
Este critério reduziu muito o número de palavras ou expressões características da Guerra da Guiné.
APANHADO (do clima) – Situação do foro psicológico que poderemos comparar a certas situações de stress laboral e que se manifestava por comportamentos absurdos ou inconvenientes. O termo era, muitas vezes usado como chacota, para designar os militares com atitudes hilariantes e bem-dispostas, mas, noutros casos, era indício de um cansaço psicológico que não deixava de se fazer sentir em consequência da permanência na "Província".
ATACADORES DE PARAQUEDISTA (Ou de PM) – Esparguete. Este tipo de massa era, talvez pela sua melhor capacidade para se conservar e baixo preço, muito frequente na alimentação das unidades militares. Acompanhava carnes, era incluído em sopas, mas há notícias de ter sido consumido de outros modos nomeadamente acompanhado de marmelada.
BANANA – Rádio portátil de curto alcance normalmente usado para ligação entre grupos de combate e com uma forma bastante sugestiva. Permitia a ligação com a Força Aérea em duas frequências (uma de contacto inicial e outra para utilização subsequente). Inicialmente de origem francesa – o THC 736 de maiores dimensões foi substituído pelo AVP – 1, mais portátil e, sensivelmente, com o mesmo alcance.
BARCOS DE BRAÇO-DADO – Conjunto de duas embarcações que navegavam muitas vezes sem escolta e incluindo uma pequena força de fuzileiros pelos rios da Guiné. O aspecto exterior de ambas era idêntico. Porém, só uma tinha motor. Assim, navegavam solidamente ligadas pelas amuradas. Eram semelhantes a batelões com uma capacidade de carga, a granel, muito considerável. Frequentemente transportavam pessoas em condições bastante incómodas, sobre a carga e com reduzida protecção contra as intempéries.
BATE-ESTRADAS – Aerograma. A fim de simplificar o manuseamento da correspondência para o Ultramar foi criado este tipo de correspondência que já existia noutros países. Este tipo de "envelopes" abertos e consultáveis facilitava a possível acção da censura de guerra. O Movimento Nacional Feminino fazia a distribuição de aerogramas que também podiam ser obtidos noutras fontes, como as juntas de freguesia.
BAZOOKA – Cerveja de 0,6 dl. Exclusivamente para o Ultramar as cervejeiras (Sagres, Nocal, Cuca, etc.) apresentavam a cerveja em garrafas de 0,6 dl às quais foi dado aquele nome por oposição às normalmente comercializadas com 0,33 dl de capacidade e por consequência com maior poder "explosivo" como sucedia com as bazookas, armas anti-carro de calibre 6 cm ou, mais frequentemente, 8,9 cm de fabrico americano.
BIANDA – Comida em geral. Do crioulo arroz, base da alimentação da população.
BICHA DE PIRILAU – Designação comum a todos os TO. Progressão, em coluna por um, mantendo cada homem uma distância regulamentar, adequada à situação táctica, em relação ao que se lhe seguia.
CACO (Baldé) – Alcunha do brigadeiro e, depois, general António de Spínola, aludindo ao monóculo que usava. Diz-se que a lente não tinha graduação e que se destinava a compor a sua figura. Ao cert, sabe-se que o general usava óculos, sempre que precisava de ler. A designação baldé vem da protecção dada às populações e ao esforço que promoveu para a sua captação para o apoio às tropas e à política do governo.
CANHOTA – Espingarda. Inicialmente a espingarda Mauser, de calibre 7,9 mm, cujo desempenho insuficiente obrigou à aquisição de uma espingarda automática – a G – 3 (também de fabrico alemão) – de calibre 7,62 mm.
CAPITÃO-PROVETA – Nos últimos anos de guerra, devido a dificuldades de recrutamento, foram graduados no posto de capitão, oficiais, normalmente licenciados, que, após o curso de oficiais milicianos (COM), embarcavam com o posto de alferes miliciano para um estágio de quatro meses numa unidade operacional e num dos três TO para que pudessem familiarizar-se com o ambiente que iriam encontrar. Ao regressar eram graduados em tenentes, preparavam uma subunidade e voltavam a embarcar, agora como comandantes de companhia. Esta forma de recrutamento de comandantes de companhia entra em vigor quando se esgotou a possibilidade de chamar às fileiras os oficiais milicianos que não tinham sido mobilizados, ou porque a guerra ainda não se iniciara, à data da sua passagem à disponibilidade ou porque, durante o seu serviço militar, não tinham sido mobilizados como subalternos.
CICLISTAS – Feijões-frade. Esta designação estava divulgada na Metrópole e no Ultramar. Resulta da semelhança entre um pelotão de ciclistas a passar pelos espectadores. (todos iguais e movendo-se rapidamente). Julga-se que se deveria ao facto de este tipo de feijões (muito utilizado como acompanhamento de diversos pratos de peixe e conservas) ser cozido e depois a água da cozedura ser escorrida. Sendo todos iguais e movimentando-se depressa nessa altura temos que considerar que a "semelhança" era evidente.
CIFRA – Operador cripto. Até ao nível companhia existiam normalmente dois cabos operadores-cripto que cifravam e decifravam as mensagens, expedidas e recebidas. A alcunha vem claramente da sua actividade.
COSTUREIRINHA – Pistola-metralhadora PPSH de fabrico soviético de calibre 9 mm que equipou os exércitos da URSS e do Pacto de Varsóvia, respectivamente, durante a II Guerra Mundial e durante grande parte da Guerra Fria. Tinha um carregador circular de cerca de 60 munições e distinguia-se pelo som do seu funcionamento que lembrava uma máquina de costura.
EMBRULHAR – Ser atacado pelo IN.
ENXOTA-PINTOS – Também chamado burro-do-mato ou simplesmente burrinho. Viatura de fabrico alemão Mercedes Unimog 411. Inicialmente era uma viatura agrícola destinada a serviços em pequenas explorações. Trabalhava a gasóleo e tinha um ruído de motor agudo e muito característico. Era uma viatura muito utilizada pela sua potência e manobrabilidade. Transportava habitualmente uma equipa de atiradores.
ESCRIBA – Primeiro-cabo escriturário que trabalhava, normalmente, na secretaria com o primeiro-sargento que "respondia [1]" pela companhia.
ESTILHAÇOS – Carne de frango, normalmente em pequena quantidade e, por isso, muito dividida em pequenos bocados, habitualmente comida misturada com massa ou com arroz.
FERRUGENTO – Qualquer elemento da "ferrugem", secção de manutenção auto, e não só, de uma subunidade.
KIKO, QUICO ou TAPA-CHAMAS – Barrete do uniforme n.º 3 ou do camuflado. Totalmente confeccionado em pano com uma pequena pala, em redondo, para diante, e outra, para trás, que se abria em duas partes, de forma a adaptar-se à nuca. Muitas vezes, para se não perder nos movimentos de progressão no mato, era atado por uma das pontas a uma platina do camuflado. Esta designação generalizou-se e era usada em todos os TO e na Metrópole.
KALACHE – Espingarda automática de fabrico soviético, utilizando o calibre 7,62 (curto) denominada Kalashnikov, nome do seu inventor Mikhail Kalashnikov. No exército de origem é designada por AK – 47 (Avtomat Kalashnikova odraztzia 1947 goda).
LERPAR – Por analogia com o jogo de cartas, significava morrer. Podia também ser usado em relação a qualquer outra coisa que falhasse ou não se concretizasse. (viagem, dinheiro a receber, etc.)
MANGA DE CAPOTE – Tipo de massa alimentícia que também era assim designada pela própria Manutenção Militar e que aumentava substancialmente de volume, depois de confeccionada.
MÉZINHO ou PASTILHAS – Adoptando uma expressão do crioulo, era a designação dada a qualquer elemento da equipa sanitária da subunidade, normalmente o furriel.
NHARRO – Expressão de significado depreciativo que designava o preto (normalmente interessado em tirar partido da acção da tropa) ou o branco residente e exercendo comércio numa povoação do interior à maneira dos "lançados" no Brasil antigo.
PAGA-DEZ – Grande lagarto de cores vivas, mas inofensivo que se movimenta por pequenos e rápidos lanços. Ao parar subitamente, fazia um movimento com as patas dianteiras semelhante ao das flexões de braços em apoio no solo. "Pagar dez" (flexões de braços) era a punição mais comum durante o treino físico, praxe militar ou em consequência de um qualquer procedimento tido como não regulamentar.
PBX – Designação atribuída a um qualquer elemento da secção de transmissões da subunidade. Corruptela da expressão em inglês Private Branch Exchange (mudança de ramais privados) e que designava, naquele tempo, um centro de distribuição telefónica pertencente a uma entidade que geria, no seu interior, os seus próprios serviços telefónicos.
PERIQUITO ou PIRA – Novato. Todo aquele que tinha acabado de chegar à Guiné para continuação do serviço militar. Esta designação era utilizada noutros sectores da vida e da acção nas unidades ou fora delas.
PICAR (a estrada) – Operação de grande perigo que consistia em progredir por itinerário ou trilho procurando detectar minas (normalmente) ou armadilhas. Uma vez que a quase totalidade das minas usadas pelo inimigo eram de plástico ou de madeira não era possível utilizar o detector de minas. Por isso este trabalho era realizado com recurso a uma vara de verguinha afiada – a pica – que se espetava no solo e pelo som ou pela diferença de textura do terreno encontrada permitia a detecção do engenho.
REBENTA-MINAS – Designação, comum a todos os TO, para a primeira viatura de uma coluna auto, geralmente mais pesada, de cabine recuada e com diversos sacos de areia, visando aumentar-lhe o peso e proteger o pessoal da cabine, no caso de ser accionada uma mina anti-carro.
SALGADEIRA ou SOBRETUDO DE MADEIRA - Caixão.
SUPOSITÓRIO – Granada de artilharia. Aludindo à forma aerodinâmica deste tipo de munições.
TROPA-MACACA – Unidades do Exército, de quadrícula ou intervenção, formadas na Metrópole ou do recrutamento local, não incluídas na designação de tropa especial (comandos, pára-quedistas ou fuzileiros especiais).
TUGA – Designação pejorativa dada pelo PAIGC aos militares portugueses.
TURRA – Designação pejorativa dada aos combatentes do PAIGC. Abreviatura de terrorista.
VAGUEMONSTRO – Furriel vagomestre da companhia.
VÉLHICE – Expressão designava uma unidade ou grupo de unidades que já tinha terminado a sua comissão ou estava à espera que tal sucedesse, a curto prazo.
VÉLHINHO. – Militar de uma unidade da velhice.
VIÚVA NEGRA – Mina anti-pessoal PMN de fabrico soviético. De plástico negro e formato circular, apresentava duas tampas que lhe conferiam um aspecto de pequena panela e continha uma quantidade relativamente pequena de explosivos. Era adequada a ser manuseada por guerrilheiros pouco evoluídos como sapadores, já que tinha a particularidade de, uma vez implantada, só ficar activa após algum tempo destinado a cortar com um arame semelhante a uma corda de guitarra uma cavilha de chumbo.
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[1] Esta expressão designava as funções gerais administrativas e logísticas do primeiro-sargento de qualquer subunidade. Actualmente estas funções são desempenhadas por um sargento-ajudante.
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Nota do editor:
Último poste da série > 28 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11172: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (9): A praxe da Ivone
sábado, 22 de junho de 2013
Guiné 63/74 - P11748: Efemérides (133): Lisboa /Belém, 10 de Junho de 2013: Fotos das Cerimónias junto ao Monumento dos Combatentes da Guerra do Ultramar (Jorge Canhão)
10 de Junho de 2013
Monumento dos Combatentes da Guerra do Ultramar em Belém /Lisboa
Malta da Tabanca Grande: Jorge Cabral, João Parreira, Mário Fitas e Vacas de Carvalho
Representantes de várias Unidades
Representação dos Comandos
Representantes dos Fuzileiros
Representantes dos paraquedistas
Um dos paraquedistas que ajudaram a alegrar e dignificar as cerimónias
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
13 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11700: Efemérides (130): Atalaia, Lourinhã, domingo, 16 de junho, às 10h45: Inauguração de Monumento aos Combatentes
Guiné 63/74 - P11747: Convívios (515): Fotos do Encontro de Confraternização da CCAÇ 763, dia 16 de Junho, em Arruda/Alverca (Mário Fitas)

COMPANHIA DE CAÇADORES 763
ENCONTRO DE CONFRATERNIZAÇÃO
16 de JUNHO de 2013
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
20 DE JUNHO
DE 2013 > Guiné 63/74 -
P11736: Convívios (531): Encontro anual do pessoal da CART 494, que comemora os
50 anos da sua partida para a Guiné, dia 21 de Julho de 2013, em Viana do
Castelo... (Esteve em Ganjola, Gadamael, Ganturé e Bissau) (Coutinho e Lima)
Guiné 63/74 - P11746: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (19): Monte Real, 8 de junho de 2013 (Parte VI): Dando de comer ao corpo e à alma: seleção de fotos do Jorge Canhão
O sítio (o Palace Hotel Monte Real) já nos é familiar. Desde o V Encontro Nacional, em 2010, que nos encontramos lá. Temos sido bem recebidos e acarinhados. Em contrapartida, o dia não estava esplendoroso, mas o convívio foi fraterno e caloroso. Todos os anos aparecem "caras novas", sinal de vitalidade e capacidade de atração da nossa Tabanca Grande, que este ano fez 9 anos, em 23 de abril de 2013.
E, como em anos anteriores, foram lançados livros recentes, de camaradas nossos, nascidos no caldo de cultura do nosso blogue onde somos todos iguais e todos diferentes: as últimas três fotos, de cima para baixo, mostram a banca de livros que se montou à tarde, depois do almoço: Manuel Lomba (e filho, que vieram de Faria, Barcelos): o alentejano bejense José Saúde (tendo à sua direita o Joaquim Nunes Sequeira, que expôs, para venda, um pequeno mostruário de artigos do Núcleo de Sintra da Liga dos Combatentes); e, por fim, o Manuel Domingues (à esquerda) e o Manuel Maia (à direita). Iremos falar, com mais detalhe dos seus livros. Falta ainda a banca do Alberto Branquinho, já aqui apresentada em poste anterior. Os nossos camaradas escritores merecem uma menção especial, aqui no nosso blogue, e um Alfa Bravo de apreço e admiração. Na forja estão já outros livros, de outros autores, para apresentação no próximo IX Encontro Nacional.
E, como em anos anteriores, foram lançados livros recentes, de camaradas nossos, nascidos no caldo de cultura do nosso blogue onde somos todos iguais e todos diferentes: as últimas três fotos, de cima para baixo, mostram a banca de livros que se montou à tarde, depois do almoço: Manuel Lomba (e filho, que vieram de Faria, Barcelos): o alentejano bejense José Saúde (tendo à sua direita o Joaquim Nunes Sequeira, que expôs, para venda, um pequeno mostruário de artigos do Núcleo de Sintra da Liga dos Combatentes); e, por fim, o Manuel Domingues (à esquerda) e o Manuel Maia (à direita). Iremos falar, com mais detalhe dos seus livros. Falta ainda a banca do Alberto Branquinho, já aqui apresentada em poste anterior. Os nossos camaradas escritores merecem uma menção especial, aqui no nosso blogue, e um Alfa Bravo de apreço e admiração. Na forja estão já outros livros, de outros autores, para apresentação no próximo IX Encontro Nacional.
Fotos: © Jorge Canhão (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: L.G.]
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Último poste da série > 16 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11713: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (18): Intenções e Acção de Graças da Missa celebrada na Capela de Sta. Rita de Cássia, Monte Real (Joaquim Mexia Alves)
Guiné 63/74 - P11745: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (6):De Iemberém a Guileje, a caminho de um casamento no Xitole
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > 5 de maio de 2013 > Os bangalôs do ecoturismo.
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 5 de maio de 2013 > A capela restaurada de Guiledje
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 5 de maio de 2013 > Aspeto exterior do Núcleo Museológico Memória de Guiledje
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > 5 de maio de 2013 > Recordações: objetos do quotidiano recuperados, provenientes das escavações do antigo quartel das NT
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > 5 de maio de 2013 > Armamento do PAIGC: as armas da nossa dor e sofrimento.
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > 5 de maio de 2013 > Cópia (digitalizada) de carta de um soldado portuguesa: a famosa carta que o nosso camarada J. Casimiro Carvalho mandou a seus pais, datada de Cacine, 22/5/1973, a anunciar a retirada de Guileje.
Cacine, 22/5/73: Queridos pais: Vou-lhes contar uma coisa difícil de acreditar como vão ter oportunidade de ler: Guileje foi abandonada [a bold, no original], ainda não sei se foram os soldados que se juntaram todos e abandonaram o quartel, ou se foi ordem dada pelo Comandante-Chefe, mas uma coisa é certa: GUILEJE ESTÁ À MERCÊ ‘DELES’ [, em maíusculas, no original].
Não sei se as minhas coisas todas estão lá, ou se os meus colegas as trouxeram. Tinha lá tudo, mas paciência.
Se foi com ordem de Bissau que se abandonou a nossa posição, posso dar graças a Deus e dizer que foi um milagre, mas se foi uma insubordinação, nem quero pensar…
Mas… já não volto para lá!!! Não tinha dito ainda que Guileje era bombardeada pelos turras há vários dias e diversas vezes por dia. Os soldados e outros não tinham pão, nem água. Comida era ração de combate e não se lavavam. Sempre metidos nos abrigos e nas valas. A situação era impossível de sustentar. Vosso para sempre (…).
Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: LG]
1. Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau (30 de Abril - 12 de maio de 2013) - Parte VI
por José Teixeira
O dia nasceu suavemente, com um mango a acordar-me ao cair encima do telhado de capim e rolar até ao chão. Talvez um dos macaquitos que estava a tomar o seu matabicho se tenha descuidado. Estes macacos, de pelo cinzento, não armam aquela gritaria a que nos habituamos em tempos idos com o macaco cão. Habituaram-se a viver com o homem e passeiam-se nas árvores por cima de nós, pacifica e calmamente. Certo é que neste dia 5 de Maio, o sol já ia alto quando me sentei para tomar o pequeno-almoço, que começou por um mango madurinho e saboroso.
A hora da despedida tem encanto e dor. É agradável sentir mais uma vez a amizade que nos devotam aqueles com quem convivemos e se juntam para se despedirem de quem parte, com a promessa de voltar. Faz doer o coração, no abraço que damos, sabendo que talvez seja o último, mas faz parte da vida e a esperança é sempre a última a morrer.
Partimos com destino a Bissau. Duas horas depois estávamos a admirar o Museu Memórias de Guiledje, inaugurado em 2008 e pretende documentar todo um passado de luta pela independência da Guiné-Bissau. À nossa espera estava o diretor Domingos Gomes, como tinha prometido, para uma visita guiada. Foi um regresso ao passado para mim e para o Francisco no reencontro com as armas e canhões, com as viaturas, com as imagens da guerra que ambos vivemos em locais e tempos diferentes.
Em cada visita que faço, noto com alegria que o museu vai crescendo. Há outras partes do antigo quartel levantadas. No pavilhão principal estão os instrumentos de guerra portugueses, bem como as armas que o PAIGC usava, as fotografias da guerra e outros memoriais. Livros, poucos, sobre a guerra, são o princípio de uma biblioteca que se pretende seja enriquecida com todos os livros e documentos possíveis para enriquecer a história do conflito que existiu para separar e afastar os portugueses da Guiné e de facto separou-nos com muito sangue derramado, dor e pranto, mas creio que estranhamente nunca os guineenses estimaram tanto os portugueses como agora que estão livres da sua tutela política.
Um Unimog bem conservado transportou-nos ao tempo das colunas por aquelas picadas inóspitas atapetadas de perigosas minas. Transportou-nos até ao grupo de picadores que, à sua frente e com todo o cuidado, picavam a terra, centímetro a centímetro, na esperança de as detetar e assim salvar possivelmente algumas vidas. Transportou-nos a um tempo que já passou, mas as suas marcas continuam bem presas na nossa mente e só desaparecerão com o pó da terra que nos há-de tragar.
A capela com a imagem de Nª Senhora de Fátima no seu altar, tal como no tempo da guerra, e a capelinha do Santo Cristo dos Milagres construída pelos devotos Gringos açorianos. Locais, onde os mais devotos se ajoelhavam a pedir por seu intermédio a bênção de Deus para os momentos difíceis que a guerra e agradecer os perigos passados dos quais se livraram com vida.
O Museu foi enriquecido com um novo auditório onde está patente, onde foi instalado o Museu de Cultura e Ambiente onde se pretende espelhar o ecossistema da mata do Cantanhez e as culturas dos diferentes grupos étnicos que habitam a região.
O tempo não tem paciência para esperar e os ponteiros do relógio vão marcando as horas. Tínhamos encontro marcado na tabanca do Xitole para participarmos na festa do casamento da filha do nosso amigo Mamadu Aliu que há três dias atrás atuou de cicerone na visita/peregrinação que o Francisco Silva ali fez em busca do seu passado.
Com pesar para o Domingos Gomes, que bem insistiu para ficarmos mais um pouco e havia muito para ver e refletir, mas não queríamos ficar mal com a família da noiva que tão amavelmente nos tinha convidado.
Ao passar pelo Saltinho, ainda houve tempo para dar um abraço de despedida ao Suleimane e à Dáda sua esposa, que ofertou à Armanda um lindo vestido típico das mulheres fulas. Uma surpresa linda que nos emocionou profundamente.
E lá seguimos para o Xitole.
(Continua)
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Nota do editor:
Último poste da série > 13 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11699: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (5): Visitando Cabedu, Cautchinké e Catesse... A alegria com que somos recebidos, a par da tristeza com que vemos a floresta ser destruída no Cantanhez...
Mas… já não volto para lá!!! Não tinha dito ainda que Guileje era bombardeada pelos turras há vários dias e diversas vezes por dia. Os soldados e outros não tinham pão, nem água. Comida era ração de combate e não se lavavam. Sempre metidos nos abrigos e nas valas. A situação era impossível de sustentar. Vosso para sempre (…).
Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: LG]
1. Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau (30 de Abril - 12 de maio de 2013) - Parte VI
por José Teixeira
O José Teixeira é membro sénior da Tabanca Grande e ativista solidário da Tabanca Pequena, ONGD, de Matosinhos; partiu de Casablanca, de avião, e chegou a Bissau, já na madrugada do dia 30 de abril de 2013; companheiros de viagem: a esposa Armanda; o Francisco Silva, e esposa, Elisabete; no dia seguinte, 1 de maio, o grupo seguiu bem cedo para o sul, com pernoita no Saltinho e tendo Iemberém como destino final, aonde chegaram no dia 2, 5ª feira; na 1ª parte da viagem passaram por Jugudul, Xitole, Saltinho, Contabane Buba e Quebo; no dia 3 de maio, 6ª feira, visitam Iemberém, a mata di Cantanhez e Farim do Cantanhez; no dia 4, sábado, estão em Cabedú, Cauntchinqué e Catesse; hoje, 5, domingo, vão de Iemberém, onde estavama hospedados, visitar o Núcleo Museológico de Guileje, e partem depois para o Xitole, convidados para um casamento ] (*) [LG]
O dia nasceu suavemente, com um mango a acordar-me ao cair encima do telhado de capim e rolar até ao chão. Talvez um dos macaquitos que estava a tomar o seu matabicho se tenha descuidado. Estes macacos, de pelo cinzento, não armam aquela gritaria a que nos habituamos em tempos idos com o macaco cão. Habituaram-se a viver com o homem e passeiam-se nas árvores por cima de nós, pacifica e calmamente. Certo é que neste dia 5 de Maio, o sol já ia alto quando me sentei para tomar o pequeno-almoço, que começou por um mango madurinho e saboroso.
A hora da despedida tem encanto e dor. É agradável sentir mais uma vez a amizade que nos devotam aqueles com quem convivemos e se juntam para se despedirem de quem parte, com a promessa de voltar. Faz doer o coração, no abraço que damos, sabendo que talvez seja o último, mas faz parte da vida e a esperança é sempre a última a morrer.
Partimos com destino a Bissau. Duas horas depois estávamos a admirar o Museu Memórias de Guiledje, inaugurado em 2008 e pretende documentar todo um passado de luta pela independência da Guiné-Bissau. À nossa espera estava o diretor Domingos Gomes, como tinha prometido, para uma visita guiada. Foi um regresso ao passado para mim e para o Francisco no reencontro com as armas e canhões, com as viaturas, com as imagens da guerra que ambos vivemos em locais e tempos diferentes.
Em cada visita que faço, noto com alegria que o museu vai crescendo. Há outras partes do antigo quartel levantadas. No pavilhão principal estão os instrumentos de guerra portugueses, bem como as armas que o PAIGC usava, as fotografias da guerra e outros memoriais. Livros, poucos, sobre a guerra, são o princípio de uma biblioteca que se pretende seja enriquecida com todos os livros e documentos possíveis para enriquecer a história do conflito que existiu para separar e afastar os portugueses da Guiné e de facto separou-nos com muito sangue derramado, dor e pranto, mas creio que estranhamente nunca os guineenses estimaram tanto os portugueses como agora que estão livres da sua tutela política.
Um Unimog bem conservado transportou-nos ao tempo das colunas por aquelas picadas inóspitas atapetadas de perigosas minas. Transportou-nos até ao grupo de picadores que, à sua frente e com todo o cuidado, picavam a terra, centímetro a centímetro, na esperança de as detetar e assim salvar possivelmente algumas vidas. Transportou-nos a um tempo que já passou, mas as suas marcas continuam bem presas na nossa mente e só desaparecerão com o pó da terra que nos há-de tragar.
A capela com a imagem de Nª Senhora de Fátima no seu altar, tal como no tempo da guerra, e a capelinha do Santo Cristo dos Milagres construída pelos devotos Gringos açorianos. Locais, onde os mais devotos se ajoelhavam a pedir por seu intermédio a bênção de Deus para os momentos difíceis que a guerra e agradecer os perigos passados dos quais se livraram com vida.
O Museu foi enriquecido com um novo auditório onde está patente, onde foi instalado o Museu de Cultura e Ambiente onde se pretende espelhar o ecossistema da mata do Cantanhez e as culturas dos diferentes grupos étnicos que habitam a região.
O tempo não tem paciência para esperar e os ponteiros do relógio vão marcando as horas. Tínhamos encontro marcado na tabanca do Xitole para participarmos na festa do casamento da filha do nosso amigo Mamadu Aliu que há três dias atrás atuou de cicerone na visita/peregrinação que o Francisco Silva ali fez em busca do seu passado.
Com pesar para o Domingos Gomes, que bem insistiu para ficarmos mais um pouco e havia muito para ver e refletir, mas não queríamos ficar mal com a família da noiva que tão amavelmente nos tinha convidado.
Ao passar pelo Saltinho, ainda houve tempo para dar um abraço de despedida ao Suleimane e à Dáda sua esposa, que ofertou à Armanda um lindo vestido típico das mulheres fulas. Uma surpresa linda que nos emocionou profundamente.
E lá seguimos para o Xitole.
(Continua)
Nota do editor:
Último poste da série > 13 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11699: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (5): Visitando Cabedu, Cautchinké e Catesse... A alegria com que somos recebidos, a par da tristeza com que vemos a floresta ser destruída no Cantanhez...
Guiné 63/74 - P11744: Parabéns a você (593): António José Pereira da Costa, Cor Art Ref (Guiné, 1968/69 e 1972/74)
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Nota do editor
Último poste da série de 21 de Junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11739: Parabéns a você (592): António Teixeira, ex-Alf Mil da CCAÇ 6 (Guiné, 1971/73)
Nota do editor
Último poste da série de 21 de Junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11739: Parabéns a você (592): António Teixeira, ex-Alf Mil da CCAÇ 6 (Guiné, 1971/73)
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