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quarta-feira, 14 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26800: Historiografia da presença portuguesa em África (481): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1917 e 1918 (35) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Dezembro de 2024:

Queridos amigos,
É o período tormentoso da Primeira Guerra Mundial, tormentoso também na vida política nacional, com forte incidência é na instabilidade de governação da Guiné: Manuel Maria Coelho é governador interino em 1917, em julho toma posse o tenente-coronel Carlos Ivo de Sá Ferreira e cerca de 13 meses depois regressa Josué de Oliveira Duque. O Boletim Oficial regista predominantemente os acontecimentos nacionais, transcreve numerosos regulamentos e portarias. Ainda me ocorreu, sem querer concorrer com o livro de Armando Tavares da Silva citar o que escreve o chefe da delegação de Bolama neste período sobre a vida na Guiné, mas contive-me. Peço ao leitor que leia uma nota do Estado-Maior a pedir às forças militares que procedam com bom-senso e não se esqueçam da sua missão civilizadora. Persistem nos Bijagós, mormente em Canhabaque, atitudes de rebelião, aqui se dá nota também de um ato de submissão, mas a chamada pacificação total só irá acontecer em 1936, é quando se dá como pacificada toda a colónia.

Um abraço do
Mário


A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1917 e 1918 (35)


Mário Beja Santos

Continuamos no período conturbadíssimo da guerra, a economia da Guiné está profundamente abalada, a dança das cadeiras governamentais faz com que haja no princípio de 1917 um governador interno, Manuel Maria Coelho, em julho é nomeado o Tenente-Coronel Carlos Ivo de Sá Ferreira, em Agosto de 1918 regressa Josué de Oliveira Duque. O Boletim Official, como é óbvio, reflete os acontecimentos nacionais e internacionais, vive muito cingido ao expediente burocrático e administrativo, aqui e acolá temos algumas notas do pensamento colonial, fala-se na perceção do risco da pregação islâmica e surge um novo clube, o Clube Fraternidade de Farim.

No Boletim Oficial n.º 46, de 17 de novembro de 1917, o Chefe do Estado-Maior interino, o Major Joaquim Maria da Costa Monteiro expede uma circular para os comandantes de unidades, comandantes militares, comandantes militares de regiões desanexadas, comandantes de postos e comandantes de postos militares administrativos:
“Do domínio público é que a Guiné tendo iniciado uma época de desenvolvimento na paz a que o indígena se subordina, precisa de efetivar todas as manifestações de uma vida produtiva e essencialmente progressiva.

A Guiné nascendo das trevas em que tem vivido, precisa de demonstrar evidência da sua grande riqueza, na seiva que enche às suas veias opulentas e salutares, na pujança que expande dos seus membros musculosos e fortes.
Para isso necessário se torna que o indígena desperte do seu letargo, trazendo-lhe a sua útil colaboração em todos os problemas da vida social; necessário é que nele se incuta a confiança absoluta na justiça dos seus chefes europeus, e necessário ainda é que ele saiba apreciar toda a nossa leal e frança coadjuvação nas aspirações que por direito próprio ou por justificada razão lhe possam surgir. Reprima-se com energia qualquer ato que demonstre o espírito de rebelião ou de intencional criminalidade, mas nunca se pratique a pretexto de qualquer incidente, mais ou menos fútil, a imediata ou premeditada subjugação pelas armas.

A ponderação deve estar sempre como factor principal na solução dos problemas sujeitos à apreciação dos chefes; o bom critério, assisado e franco, deve ser o apanágio do brilho que reveste o prestígio da autoridade; e finalmente bom exemplo dá ao chefe a força da sua dignidade e da sua autoridade. É nesta conformidade que eu, autorizado por Sua Excelência, o Governador, chamo à atenção dos senhores oficiais todos os graduados para a sua missão civilizadora e educadora perante os mesmos indígenas que lhes estão confiados e subordinados.
Nunca este Quartel-General sancionará, e antes tomará as respetivas e inteiras responsabilidades, a manifestações de veleidades com pruridos de força, a que não assistam da imprescindível urgência de uma repressão imediata, em crimes que afectem a dignidade e prestígio da soberania portuguesa pelo respeito pela autoridade constituída.”


No Boletim n.º 47, de 24 de novembro, temos uma circular da Secretaria dos Negócios Indígenas da Guiné, vale a pena transcrevê-la:
“Sua Excelência, o Governador Interino, encarrega-me de chamar a atenção de todas as autoridades administrativas, civis e militares, para os inconvenientes e perigos que representam para a segurança e moral pública a presença, nos territórios que estão sob a sua jurisdição, de quaisquer entidades tituladas xerifes ou marabus, que professam a religião do Islão. Essas personagens, filiadas todas em confrarias muçulmanas, dizendo-se quase sempre descendentes do Profecta, vão de povoação em povoação pregando às populações a observância estrita das cinco grandes obrigações da lei muçulmana, entre elas a guerra santa.

A par destas prédicas, invocando a sua santidade, vão extorquindo aos indígenas tudo quanto podem, intimidando-os e ameaçando-os com a cólera do Madhi, recebendo por esse meio presentes valiosos. Por vezes provocam desacatos, como muito recentemente ocorreu na circunscrição civil de Geba, onde um desses intrujões pretendeu incutir nas povoações onde passava a santidade, dizendo-se portador do Alcorão mas fazendo também transportar consigo, às ocultas, armamento que dele se serviu quando se viu perseguido pelas forças da polícia da Circunscrição Civil de Geba. Actos desta natureza tinham de ser punidos pela força, como efectivamente o foram, até à captura do famigerado Marabu, que internando-se no território francês de onde viera, ali foi expulso pelas respectivas autoridades, e depois de extraditado, deportado para a Província de S. Tomé e Príncipe por dez anos.

Logo que tenham conhecimento de que na área da sua jurisdição se encontrar qualquer xeque, xerife ou marabu, mandá-lo-ão intimar a apresentar-se imediatamente na sede, a fim de ser submetido a um interrogatório sumário. Se se provar que não tem modo de vida regular, enviá-lo-ão ao poder judicial, para que, depois de julgados possam cumprir a pena de trabalhos públicos ou trabalho correcional. Cumprida a pena serão reenviados aos seus países de origem.
Todos os administradores e comandantes militares devem, contudo, ter sempre presente que as medidas indicadas não têm por fim entravar o livre exercício da religião muçulmana mas tão somente proteger os indígenas que seguem esta religião contra os actos de burla e de abuso de confiança dos xerifes e marabus que venham de terras estranhas explorá-los na sua simplicidade.”


No Boletim n.º 48, de 1 de dezembro, noticia-se que foram aprovados os estatutos do Clube de Fraternidade de Farim, o seu fim é de promover a harmonia dos associados, proporcionando-lhes distrações e divertimentos como jogos lícitos, desportivos, leituras, música, soirées, récitas e palestras.

O ano de 1918 é muito parcimonioso, mas ocorre que no Boletim de 2 de fevereiro publica-se um ato de submissão, este ocorrera no dia 23 de janeiro, na residência do Governo da Guiné, estavam presentes os membros do conselho de Governo, oficiais militares, funcionários públicos, todos para assistir ao ato de submissão prestado pelos régulos de In-Orei, de Ancamane, de Ambior, de Menéque, de Béne, de Bani, Combá e de Bani e de Juliana, todos de Canhabaque. “Interrogados por Sua Excelência, o Governador, por intermédio do Alferes de 2.ª Linha, Mamadu Sissé, sobre as causas determinantes da guerra, responderam que vinham pedir perdão ao Governo, por terem feito fogo sob a força que desembarcou em Canhabaque, sem esta lhes ter feito coisa alguma. Que se não tivessem culpa não vinham pedir perdão, estando prontos a entregar todas as armas que possuem, e a pagarem a taxa de guerra, mas pediam ao Governo que lhes desse um prazo para pagarem a mesma taxa, porque agora não têm dinheiro para pagar. Sua Excelência, o Governador, concedeu o prazo de 6 meses para o pagamento da taxa de guerra, declarando mais que podiam ir descansados reconstruir as suas casas e amanharem as suas terras.”

Assassinato de Sidónio Pais
A I República estremece, notícia sobre o golpe que destitui o Presidente da República e dá a presidência a Sidónio Pais
Manuel Maria Coelho, Governador Interino da Guiné, 1917
Bombeiros da Guiné, imagem retirada de Casa Comum/Fundação Mário Soares
Dançarinos Mancanhas, 1910

(Fotos editadas por CV)

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 7 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26776: Historiografia da presença portuguesa em África (480): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1916 e 1917 (34) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26799: Agenda Cultural (883 ): "Livros a Oeste | Festival do Leitor", Lourinhã, 13 a 17 de maio de 2025: a 13ª edição está a decorrer, sob o lema "A História é Uma Encruzilhada"

 



Livros a Oeste 2025 | Festival do Leitor (Vd. programa aqui, na página oficial)

CONVERSAS | PERFORMANCE | MÚSICA | TEATRO DE SOMBRAS E OBJETOS | SESSÕES DE POESIA | OFICINA | FEIRA DO LIVRO | EXPOSIÇÃO




Livros a Oeste | Festival do Leitor está de volta à Lourinhã, com a 13.ª edição agendada entre 13 e 17 de maio, sob um auspício bem adequado aos tempos que vivemos (Texto que já não está disponível hoje, a esta hora, tratava-se de uma "press release" / comunicado de imprensa).


A HISTÓRIA É UMA ENCRUZILHADA


(...) A cada passo tomamos decisões, a cada passo prescindimos de algo, a cada passo assumimos qual será a direção… dos próximos passos. A História, com maiúscula e poderes acrescidos, é uma permanente encruzilhada e cada movimento, à semelhança de um xadrez cósmico, trilha caminho para as suas consequências.

Num tempo de inquestionáveis mudanças, convidámos figuras de diferentes quadrantes e com olhares distintos, para participarem neste encontro multidisciplinar em que, como é ajuizado acautelar, são mais as perguntas que as respostas. A política, a literatura, a historiografia, a tecnologia, a música, a poesia… tantos são os cenários que mudaram, mudam e continuarão a mudar, espelhando o percurso de um país. E do mundo que o rodeia. E a história, a tal em que ficcionamos para termos mão no seu desenlace, também é feita de escolhas e lapsos, urgências e atrasos, realidades e ilusões, certezas e tentativas.

  • «A nossa aposta contínua na divulgação cultural e criação de novos públicos, assenta que nem uma luva num encontro desta natureza, uma oportunidade para juntar projetos e criadores de diferentes áreas, questionando a realidade, divulgando e debatendo, com a preocupação de abranger diferentes tipologias de audiência e registos complementares, que possa chegar a pessoas com diferentes sensibilidades e interesses»; António Alberto Santos; Vereador da Câmara Municipal da Lourinhã com os Pelouros da Educação, Cultura e Cidadania.

  • «Estamos numa época decisiva para definir o que será, não só o período que completa este século, mas as linhas definidoras de uma certa concepção de Humanidade, questionada e desafiada pelas transformações que o próprio ser humano produziu e infligiu em todo o planeta em que vivemos. Criámos problemas que só nós podemos resolver. Porém, cada decisão implica consequências» (João Morales, programador do Livros a Oeste|Festival do Leitor).


A sessão de inauguração é, este ano, conduzida por Maria Caetano Vilalobos, um dos rostos mais recentes do panorama português da palavra dita, da poesia contemporânea, da slam poetry (com diversas presenças já no seu currículo, em eventos, nacionais e internacionais). 

Como habitualmente, será o momento para a divulgação dos vencedores do Concurso de Contos Livros a Oeste (nas suas diversas categorias). E, logo em seguida, visitamos a exposição “São Cravos, Senhor, São Cravos”, do artista Miguel Januário, patente na Galeria Municipal da Lourinhã. 

De referir que a Biblioteca Municipal acolhe ainda a exposição (Re)Constituição, com a exposição de páginas do livro homónimo, obra amplamente premiada, que rasura a Constituição vigente durante a Ditadura (trabalho que ganha maior significado nos 50 anos da data da preparação da 1ª Constituição publicada em Liberdade, o que viria a acontecer em 1976).

As noites têm por destino o auditório do Centro Cultural Dr. Afonso Rodrigues Pereira. 

  • Logo na primeira, terça-feira, dia 13, contamos com PURGA, projeto independente dedicado à poesia, criado em 2019, por NERVE (Tiago Gonçalves). Em cada sessão, além de apresentar textos novos, NERVE convida um ou mais autores para lerem poesia original. Nesta edição, o rapper e poeta português convida José Anjos, anfitrião do projeto Poesia na Bota, conhecido poeta e dinamizador de sessões de poesia. Qualquer membro do público pode participar, sem necessidade de inscrição.

As restantes noites são preenchidas por conversas temáticas, com diferentes convidados:


  • quarta-feira à noite teremos Pedro Prostes da Fonseca, Fernando Alvim e Manuel Frias Martins, sob o título Distância e Proximidade na Era da Internet;
  • quinta-feira o palco será entregue a Clara Pinto Correia Alves (de regresso à edição, ela que conta com quase seis centenas de livros publicados), Afonso Cruz e Filipa Fonseca Silva (ambos também com livros novos), porque A Vida Recomeça Continuamente;
  • exta-feira o serão conta com a presença de Bruno Vieira Amaral (que nos traz o seu novo romance, mas também a biografia de José Cardoso Pires, cujo centenário assinalamos em 2025), Patrícia Portela (com livro novo) e Mário Rufino (autor de um dos romances de estreia mais aclamados doa últimos anos).; o encontro dos três foi batizado como O Passado é Um País Sem Fronteiras;
  • no sábado, a tarde começa com Patrícia Reis e Teresa Carvalho, numa sessão dedicada a duas mulheres recentemente falecidas, senhoras de uma poesia e de uma vida francamente distintivas, Maria Teresa Horta e Adília Lopes  – Conferência Conjugada no Feminino,;
  • depois, a última destas habituais conversas junta Miguel Szymanski (romancista, mas também jornalista e comentador da RTP para assuntos internacionais), Júlio de Almeida (angolano, com um passado ligado ao exército, mas também ao Executivo de Angola, autor de dois romances publicados entre nós, à semelhança de vários outros do seu filho, o bem conhecido Ondjaki), que nos traz as suas memórias, e Luís Reis Torgal, figura de destaque da Academia portuguesa, com um vasto e rico percurso no âmbito da História, do pensamento e do ensino (também desta vez, os convidados viajam com livro novo na bagagem); a conversa, em jeito de balanço final, designa-se Chegados Aqui Para onde Vamos ? 
O festival encerra com Estilhaços, o projeto que junta poesia e música, com a mentoria de Adolfo Luxúria Canibal.

Como habitualmente, criámos uma programação multidisciplinar, assentando em conversas com autores, espetáculos para os mais novos, outros, imersivos com a comunidade, spoken word ou exposições. 

 À semelhança de anos anteriores, haverá ainda uma Oficina para Professores e Educadores, Perguntas Fuerreiras, Diálogos Pacíficos, por Joana Rita Sousa.


Aliás, o público em idade escolar sempre foi uma das principais preocupações na planificação e execução deste encontro anual, com as manhãs de todos os dias úteis do festival - que são quatro - completas e sobejamente preenchidas com sessões destinadas aos diferentes ciclos letivos, nos próprios estabelecimentos de ensino, em salutar colaboração com as professoras bibliotecárias destes espaços.

São diversos os autores e os livros que vão ser apresentados ao público infantojuvenil: 

  • Diário do Sushi, o Gato (Ana Rita Sequeira), 
  • Histórias Hilariantes da História de Portugal (Mafalda Cordeiro), Consultório Furioso (Patrícia Portela) 
  • Eu e as Babes (Ana Luísa Pais). 

Além disso, as escolas receberão ainda as sessões Camilo Castelo Branco  – 200 Anos de Um Escritor Profissional e A Poesia Vai à Escola (com Poeta da Cidade e Josefa de Maltezinho). 

 O público infantil conta ainda com o espetáculo Recomeçar – Teatro de Sombras e Objetos, conjugando o trabalho da companhia Sombronautas, Teatro Inefável e do músico Simão Cardoso. Partindo do livro Recomeçar, de Oliver Jeffers, nasceu um espetáculo, novo em folha, com música e muita luz para guiar num novo começo os alunos do pré-escolar e 1.ºciclo da Lourinhã.

A ligação ao território local continua a ser uma das preocupações no horizonte da organização deste evento, apostando na continuação de iniciativas como;

  •  Os Cantos das Palavras   (na via pública, apelando à participação de quem passa);
  • A Poesia É Que nos Salva  (cultivando a palavra dita em voz alta, de forma informal e em tom de convívio, ao final da noite);
  • ou na integração de um espetáculo concebido pelo Clube Idade+ (sob bem conhecida no nosso festival), intitulado Recomeçar, sublinhando que a participação na vida cultural local não tem, nem poderia ter, quaisquer limites etários. 

Maze (André Neves) realizou uma residência com 16 mulheres seniores do Clube Idade+ da Ribeira de Palheiros, inspirada no livro Recomeçar, de Oliver Jeffers. Com reflexões sobre o passado, presente e futuro, as participantes mergulham na ideia de que há sempre espaço para um novo começo.

As sessões de final de tarde, pelas 18h30, são dedicadas à apresentação de obras recentes, abrangendo diferentes géneros, para leitores distintos. Assim:

  •  na terça-feira teremos a presença de Teolinda Gersão e Manuel Alberto Valente, trazendo consigo, respetivamente, Autobiografia de Martha Freud e Poesia – Substantivo Feminino: 25 Poetas Nascidas Depois do 25 de Abril;
  • o dia seguinte, é a vez de Francisco Mota Saraiva (com Morramos ao Menos no Porto, vencedor da mais recente edição do Prémio José Saramago) e Fernando Pinto do Amaral (com o seu mais recente livro, Contos Suicidas);
  • quinta-feira recebemos Pedro Boucherie Mendes (com o seu livro A Década Prodigiosa – Crescer em Portugal nos Anos 80) e Carlos Ramos, editor sitiado em Peniche, (com a antologia Trago-te Estes Lilases da Noite, constituída por poesia de diferentes proveniências geográficas, cuja tradução é responsável);
  • sexta à tarde, a música e a palavra estarão bem representadas: Amélia Muge traz-nos Um Gato é um Gato, onde a ligação entre o mais famoso felino e um conjunto alargado de escritores ganha evidência, e a dupla Rogério Charraz e José Fialho Gouveia apresenta Anónimos de Abril Vol I, obra que fixa para posteridade a história de alguns bravos que enfrentaram e foram alvo da fúria da ditadura salazarista.

Como habitualmente, toda a duração do festival é acompanhada por uma Feira do Livro, da responsabilidade da Associação Juvenil de Peniche, onde, lado a lado com várias obras de cada um dos convidados, será possível encontrar muitas oportunidades e descobrir livros cujo interesse se pode revelar pelo tema, pelo autor, pelo preço, ou por qualquer outro fator de afinidade. 

Da mesma forma, muitos são os motivos para visitar a Lourinhã, de 13 a 17 de Maio, e desfrutar da programação que preparámos, com afinco, para esta 13ª edição do Livros a Oeste | Festival do Leitor. 


(Revisão / fixação de texto: LG)

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Nota do editor LG:

Último poste da série > 7 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26773: Agenda cultural (882): Convite para a inauguração da exposição "Imaginários da Guiné-Bissau: o Espólio de Álvaro de Barros Geraldo": amanhã, dia 8, das 18h00 às 20h00 no Museu Nacional de História Natural e da Ciência (As curadoras Catarina de Castro Laranjeiro e Inès Vieira Gomes)

Guiné 61/74 - P26798: Recortes de imprensa (145): José Claudino da Silva (ex-1º cabo cond auto, 3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/73, nosso grão tabanqueiro nº 756): "O 25 de Abril deu-me voz, deixei de ter medo" (entrevista recente ao jornal "A Verdade", do Marco de Canaveses)... Um camarada que tem um espólio de c. 1800 cartas e aerogramas, escritos e recebidos, durante a comissão.


Foto: O nosso camarada José Claudino da Silva durante a entrevista.  Jornal "A Verdade" (2025), com a devida vénia...



José Claudino
da Silva.
Arquivo pessoal,
1. Com a devida vénia, ao entrevistado e ao jornal, transcrevemos alguns excertos (só texto, excluindo vídeos e fotos, a não ser a de cima) da entrevista que o nosso camarada José Claudino da Silva, ex-1º cabo cond auto, 3ª C/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) deu ao jornal "A Verdade",  com sede no Marco de Canaveses. 

Disponível no Facebook do Jonal A Verdade,. 25
de Abril de 2025, 21:46
, bem como na página do facebook do nosso camarada, membro da Tabanca Grande com o nº 756. Tem 63 referências no nosso blogue. Natural de Penafiel, trabalhou em Amarante, vive hoje na Lixa, Felgueiras. 





Informação diária on-line da região do Tâmega e Sousa, com cerca de um milhão de visualizações mensais. Cobertura informativa dos municípios das regiões de Douro, Tâmega.


entrevista a José Claudino da Silva


Penafiel, 25 abril 2025, 21:00

Entre junho de 1972 e junho de 1974, José Claudino da Silva escreveu 1108 cartas enquanto cumpria o
serviço militar na Guiné. Recebeu 692. Estão quase todas guardadas, como um diário da vida em tempo de guerra e de mudança.

José Claudino da Silva, hoje com 74 anos, recorda com lucidez e emoção os tempos em que foi mobilizado para a guerra colonial. Aprovado na inspeção militar em 1971, ingressou nas Forças Armadas em janeiro do ano seguinte, começando uma viagem que o levaria da recruta no Porto até Fulacunda, na Guiné, onde esteve até junho de 1974.

Sem medo, mas com um firme sentido de dever, Claudino foi preparado para “defender Portugal e o regime”. Apesar da perda de um amigo próximo na guerra, manteve-se firme na missão:

“Estava preparado, não senti medo, mas estranhei estar rodeado de arame farpado, daí as minhas inquietações, e só depois percebi que não tinha liberdade”, diz. 

Foi como condutor de viaturas que encontrou o papel no terreno, ajudando a resgatar carros presos, em zonas minadas e perigosas.

Mas foi fora do campo de batalha que Claudino encontrou uma forma de resistir ao isolamento: a escrita. Escrevia diariamente, mais do que uma carta por dia, e não apenas para si, mas também para os colegas que não sabiam escrever. 

“Cheguei a escrever cartas de amor para as namoradas deles, copiando o que dizia à minha”, conta com humor.

Ao todo, redigiu 1108 cartas e recebeu 692. Hoje, guarda-as como um tesouro: um retrato íntimo e honesto da vida de um soldado, dos medos silenciosos e da paixão pela palavra. É, para ele, a forma de manter viva a memória de um tempo que moldou uma geração. O 25 de Abril chegou quando Claudino ainda estava na Guiné. Sentiu, de imediato, uma diferença no comportamento dos seus superiores: mais respeito, menos distância. “Foi a primeira vez que senti que algo estava mesmo a mudar".

De regresso a Portugal, mergulhou nas transformações da nova liberdade: frequentou comícios, escreveu para jornais, inclusive em protesto contra o modo como os soldados eram retratados e tratados. Após o regresso da guerra na Guiné, encontrou um país diferente e com mais liberdade. 

“Antes da Revolução escrevi um pequeno texto para o Século Ilustrado, fui censurado pelo meu capitão”, recorda.

“O 25 de Abril deu-me voz. Deixei de ter medo"


“O 25 de Abril deu-me voz. Deixei de ter medo. Passei a escrever sobre tudo e ainda hoje escrevo”, afirma Claudino, que guarda desses tempos não só as cartas, mas também os poemas e textos que continua a produzir, com uma visão crítica sobre o país, sobretudo no que toca à educação e ao futuro da juventude. Em criança lembra como foi colocado na última fila da sala de aula por ser de uma zona pobre, e como, mesmo assim, nunca deixou de querer aprender e escrever.

Com o 25 de Abril, também o contacto com a cultura e a liberdade de expressão se transformaram. “Antes não podia ler Marx. Depois comecei a ir a comícios e a ler tudo o que antes era proibido".

Num testemunho emocionado, Claudino alerta, ainda, para os perigos da regressão social:

 “Temo não por mim, mas pela minha neta. A liberdade de hoje existe, mas não sabemos interpretá-la".

Num paralelo com a infância, refere que Portugal continua a liderar negativamente no número de crianças institucionalizadas, como há 50 anos. “Isso não é liberdade. Há problemas que resistem à revolução".

Esta história é um testemunho vivo de um tempo difícil, mas também de esperança e transformação. As cartas que escreveu, e que hoje guarda, são mais do que palavras, são pedaços de história, de vida e de liberdade.


(Seleção, negritos, revisão e fixação de texto para efeitos de publicação no blogue: LG)

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P26797: Facebook...ando (77): 24º encontro anual da 26ª CCmds (Brá, 1970/72), na Quinta do Paúl, Ortigosa, Leiria ... Homenagem poética à "Geração Afro" (Angelino Santos Silva)


 
1. Com a devida vénia, transcrevemos o texto "Tertúlias de Combatentes: Conversas", publicado no Facebook da Tabanca Grande,
 pelo Angelino Silva, nosso grão-tabanqueiro nº 897, ex-fur mil 'cmd', 26ª CCmds (Brá, 1970/72), poeta e escritor, com vários livros publicados,  natural de Paredes (*)

A propósito do encontro anual da sua companhia, deixa-nos também mais um belo poema seu, a que chamou "Geração Afro", de homenagem a todos os combatentes da guerra colonial. 

Recorde-se que a 26ª CCmds, passou por Bula, Teixeira Pinto e Bissau, em 1970/72, Foi mobilizada pelo CIOE - Lamego, tendo como cmdt o Cap Inf Cmd Alberto Freire de Matos. Embarcou  em 25mar70, chegou a Bissau  em 31mar70 e regressou a  27dez71. O Angelino é até agora o primeiro e único representante da 26ª CCmds na Tabanca Grande.


A Geração Afro, 

por Angelino Silva



No passado sábado, 10 de maio, realizou-se o 24º Encontro Nacional da 26ª Companhia de Comandos, que fez a sua Comissão de Serviço na Província Ultramarina da Guiné-Bissau.

Como vem sendo habitual, o evento realizou-se na Quinta do Paúl, em Leiria.
Os Encontros Anuais, que todos Combatentes vão realizando um pouco por todo o país, ficam-nos gravados na memória. E na pele.

Iniciaram-se quando nós, jovens e generosos cidadãos, depois de uma presença de dois anos em África, regressamos da Guerra Colonial Portuguesa, que no período entre 1961 e 1974/75, teve como palco Angola, Guiné e Moçambique, províncias ultramarinas pertencentes ao grande império colonial português.

Imbuídos do mais genuíno e nobre patriotismo, embarcamos para o Ultramar, tentando prolongar um Império Colonial que levava cinco séculos de existência. Não temos qualquer complexo quanto ao nosso desempenho em África. 50 anos passados, chegamos a uma altura da Vida, que temos menos Tempo para viver. É a Lei do Tempo e da Vida. E, claro, somos cada vez menos nesses Encontros.


Dos mais de 1 milhão de Combatentes que prestámos serviço nas três províncias ultramarinas em guerra, estima-se em 400 mil os ainda sobreviventes, hoje. Amanhã seremos menos. E se em tempos chorámos a morte de alguns camaradas estendidos ao nosso lado, hoje choramos a morte dos que nos deixaram depois do regresso e que as redes sociais nos vão dando conta. É é nestes Encontros que a dor fica mais impregnada na pele. No momento de Homenagem, não conseguimos conter as lágrimas.

E temos consciência, de que dia-a-dia seremos menos. E que os momentos marcantes destes Encontros – outrora, de conversas sobre as nossas vidas em África – são agora de lembrança e homenagem a quem nos vai deixando. 

É muito importante não deixar cair estas reuniões. Mantê-las, deve ser o nosso último Combate e propósito, para dizermos aos 30 governos de “democracia”, que nunca reconheceram o nosso esforço em África, que, se não fossemos nós, eles nunca seriam governantes. Devemos isto aos nossos camaradas que na guerra morreram. E também, aos camaradas que nestes 50 anos já nos deixaram, sem terem visto reconhecido o seu sacrifício em África.

Daqui a uma década seremos pouco mais do que um punhado. Porém, se ainda houver dois camaradas a realizar um Encontro Anual, o nosso esforço ficará registado para memória futura, quanto à raça, a força e generosidade da Geração Afro, que em tempos idos demandou por terras africanas para manter um Império impossível: a História de Portugal dará conta desse Sacrifício.

Abraço a todos Combatentes.
.
Deixo-vos com o poema,

GERAÇÃO AFRO


Já lá fui e voltei, 
já lá fomos e voltámos.
Percorremos o lado negro da vida,
tropeçámos na face má da sorte
e andámos por trilhos e picadas da morte.
Talvez com sorte, digo eu,
muita sorte dizemos nós,
quando em passos cuidados e tremidos
caminhámos sem rumo e sem norte,
lutando para segurar a vida,
matando para sacudir a morte.

Já lá fui e lutei,
já lá fomos e lutámos,
já lá sorrimos e penámos.
E abrimos a caixa de Pandora
e, antes de virmos embora,
enfrentámos medos e emboscadas,
carregámos sonhos e granadas,
corremos perigo e aflição,
bebemos água da bolanha,
comemos colados ao chão,
adormecemos de arma na mão,
socorremos camaradas feridos,
beijámos rostos estendidos,
cerrámos os punhos cantando,
festejámos a vida chorando,
deixámos os sonhos esquecidos,
zangámo-nos com Deus e o Diabo,
apertámos a raiva mordida na mão
e levámos a cabo heróica missão,
deixámos África
e regressámos a casa,
mais leves de coração.

Já lá fui e voltei,
já lá fomos e voltámos
e pouco pedimos em troca,
apenas… respeito e consideração.

Da vida e das mãos se faz uma nação, 
das lágrimas de um povo se faz História,
da Geração Africana se fará Memória.


Angelino dos Santos Silva,
Combatente na Guerra Colonial Portuguesa na Guiné-Bissau,
“Homenagem aos Combatentes da Guerra Colonial" (**)

Fonte: Facebook da Tabanca Grande  > 12 de maio de 2025, 17:28 (ver também o pequeno vídeo de 39 segundos, que acompanha a postagem)

(Revisão / fixação de tecto para efeitos de publicação no nosso blogue: LG)
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Notas do editor:

terça-feira, 13 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26796: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (11): Uma jóia de criança; A Tombó; Abutres e pelicanos e As larvas de asa branca

CCAV 2483 / BCAV 2867 - CAVALEIROS DE NOVA SINTRA
GUINÉ, 1969/70


VIVÊNCIAS EM NOVA SINTRA

POR ANÍBAL JOSÉ DA SILVA


36 - O NOSSO GUIA

O nosso guia chamava-se Bunka Turé. Homem franzino , com muitos anos de guerra e que muito nos ajudou. Vivia dentro do quartel na sua tabanca, na companhia de quatro mulheres e alguns filhos. Esta família e os miúdos Tomás Sanhá e o Hilla, eram a única população civil que tinhamos. O Bunka conhecia como ninguém toda a área da nossa jurisdição. Nós viemos e ele ficou continuando a guerra. Foi um dos muitos que foram fuzilados pelo PAIGC, após a independência.
A família do Bunka Turé
Uma das mulheres e um filho


37 - UMA JÓIA DE CRIANÇA

O Hilla era uma joía de criança. Devia ter doze anos, era bem constituído fisicamente e falava razoavelmente o Português. Ele o Sanhá e o Tomás eram os três jovens que consnosco conviviam, todos eles orfãos da guerra. O Tomás era o rebelde do trio. Por duas vezes tive o paludismo e com as febres altas e fraqueza total, não me permitiam levantar do beliche e nesses três a quatro dias, o Hilla não arredou pé da entrada do meu abrigo, sempre pronto a ir buscar qualquer coisa de que precisava, principalmente água. Corria todos os abrigos e esvasiava os filtros de água que podia e dava-me a beber, ou então pedia ao cozinheiro para ferver um jarro de água. Por vezes apetecia-me algo fresco, dava-lhe dinheiro e ia à cantina comprar água mineral em garrafa da marca “Perrier”, um luxo em tempo de guerra. Quando me separei dele para ir para Bissau e depois para casa, foi como despedir-me de um amigo adulto, com alguma emoção à mistura. Dei-lhe o meu relógio de pulso que usava desde os dez anos de idade e que fora oferta do meu padrinho quando fiz a comunhão solene. Ensinei-o a ler as horas. Espero que tenha passado incólume a mais quase quatro anos de guerra e que tenha constituído família e que à data de hoje se encontre bem.

O Hilla


38 - A TOMBÓ

A Tombó foi a nossa prisioneira em liberdade. Foi capturada no meio do capim, longe do aquartelamento e estaria provavelmente acompanhada por elementos do PAIGC, que se puseram em fuga, face à nossa aproximação. A presença dela foi denunciada pelo choro de uma bébé de poucos meses. Menina muito bonita, negra com feições da raça branca. Era afilhada de todos nós. A mãe andava no quartel sem qualquer vigilância e lavava a roupa de alguns soldados. Nunca tentou fugir. Em termos atuais, digamos que estava em prisão domiciliária.

O Furriel Miranda em amena cavaqueira com a Tombó
A bébé filha da Tombó


39 - ABUTRES E PELICANOS

À falta de carne o caçador António Soares abateu alguns pelicanos, mas poucos. Deram só para os camaradas do seu pelotão. Fizeram um ensopado e convidaram-me para o almoço, em troca das batatas. Mas não gostei, carne a saber a peixe nunca mais. Era expressamente proibido matar abutres, pois era quem fazia a limpeza das lixeiras. Eram o SUMA lá do sítio. Uma vez apanhámos um e à volta do pescoço atamos um cordel que segurava uma lata de coca cola com pedras lá dentro e ao esvoaçar fazia barulho. Dizíamos que era a nossa força aérea privada.


40 - AS LARVAS DE ASA BRANCA

Creio que era assim que se chamavam. Larvas ou moscas tinham asas brancas e compridas. Num único dia do ano, gerava-se um processo de transformação das ditas. Na noite desse dia as larvas entraram na messe de sargentos, atraídas pela luz duma lâmpada fluorescente e cobriram-na totalmente, ficando a sala à media luz. Nessa data encontrava-se entre nós um pelotão da Ccav 2443, em reforço da minha companhia. O furriel era o Oliveira, indivíduo apanhado pela clima. Com a mão direita raspou a lâmpada e apanhou uma quantidade grande de larvas e começou a tirar as assas e a comê-las e dizia, isto com wisky é que é bom. Não sei se apanhou alguma indigestão.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 6 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26770: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (10): Os grandes azares; Insensatez; O ronco; Caso do Furriel Moreira e Chuveiro do abrigo dos Morteiros

Guiné 61/74 - P26795: E as nossas palmas vão para... (26): Os picadores das NT ( milícias e militares, guineenses e metropolitanos)... Temos para com eles uma enorme dívida de gratidão.

 




Foto nº 1A, 1B, 1




Foto 2A, 2. 2B
 

Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá >Novembro de 1970> Picagem da estrada Mansabá - Bafatá  > Fotos do álbum do Padre José Torres Neves, alferes graduado capelão

Fotos (e legendas): © José Torres Neves (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Não chegamos a ter 2 dezenas de referências com o descritor "picadores"...Injustiça nossa. 

Foram figuras da maior importância na guerra da Guiné. Em geral, os africanos, também guias, acumulavam as duas funções. Havia equipas mistas de picadores, como as fotos acima documentam...

O número de picadores era variável, bem como a sua disposição no terreno...

Na picagem de estradas / picadas para deteção de minas A/C, podiam ir duas ou mais  fiadas de picadores, no mínimo seis, no máximo 10 (equivalente a uma secção).  

Os condutores das viaturas estavam instruídas para seguir, milimetricamente, o trilho da viatura da frente... O mais pequeno desvio, à esquerda ou à direita,  podia ser fatal, ao ser accionada uma mina colocada mais à borda da estrada e não detetada...

Raras eram as estradas (sobretudo as não alcatroadas) que pudessem merecer a nossa confiança. Pelo que,  para se fazer mesmo um curto trajeto, era obrigatório fazer a picagem... O que representava um desgaste enorme, fisico e psicológicas, nas NT. E depois, na época das chuvas, o pesadelo era a dobrar...

Por outro lado, o grupo de picadores era o mais exposto em caso de embocada com ou sem mina ou fornilho acionados à distància. Embora o PAIGC estivesse mais interessado em destruir viaturas e respetivas cargas (por exemplo, nas colunas logísticas).

Por todas estas e mais razões, os nossos picadores, anónmimos (deixemos os guias das NT para outra ocasião) merecem as notas palmas... 

Não sabemos quantos mnorreram ou foram gravemente feridos, ao longo da guerra. Fica aqui, a nossa homenbagem a esses homens (mílicias e militares, guineenses e metropolitanos), que salvaram muitas vidas, detetando, à frente das nossas colunas, as traiçoeiras minas e armadilhas, e sobretudo as minas anticarro mas também as antipessoais (nomedamente, nos trilhos no mato, no acesso aos nossos quartéis ou nas proximidades das barracas do PAIGC)...

Temos para com os nossos picadores um enorme dívida de gratidão. Para eles vão hoje as nossas palmas, mesmo que cheguem atrasadas, na maior parte dos casos... Obrigado, Padre Zé Neves Torres, por estas fotos, de homens cuja mão não podiam tremer.

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Nota do editor LG:

(*) Último poste da série : 16 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26050: E as nossas palmas vão para... (25): Jéssica Nascimento, neta do nosso camarada Luís Nascimento, de Viseu, ex-1º cabo op cripto, CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71)...Pela sua pronta e generosa colaboração na cedência de imagens do T/T Niassa

segunda-feira, 12 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26794: Brasões, guiões ou crachás (9): O que nos diz o mural de Mansabá, fotografado pelo alf grad capelão José Torres Neves em novembro de 1970 ?






Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá >Novembro de 1970> Fotos do álbum do Padre José Torres Neves, alferes graduado capelão

Foto (e legenda): © José Torres Neves (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O "mural de Mansabá", fotografado em novembro de 1970 pelo alferes graduado capelão, José Torres Neves, do BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) (*) traz informações precisosas sobre unidades e subunidades que passaram, mesmo que episodicamente,  por aquele aquartelamento. 

Duas das inscrições murais não conseguimos identificar.  Uma delas  está muito sumida: apanha-se o ano (1965/67/68 ?... e sobra um resto do brasão. A outra parece ser paraquedistas, BCP 12... Mas quem eram os "Sabres" ?...Talvez o Carlos Vinhal (ou outro "bom observador") nos possa ajudar (**):

Aqui vão as que têm a identificação legível:

(i) Pel Mort 1085, "Os Tesos" (1966/68):  não tínhamos até agora qualquer referência a esta subnunidade; chegou ao CTIG em 26 de abril de 1966, juntamente com os Pel Mort 1086 e 1087, sendo inicialmenmte colocado em Mansoa;

(ii) Pel Caç Nat 54, "Aguias Negras", 1964/66: estranha é a referência ao ano de 1964; em princípio, formou-se em Bolama, em 1966; tem mais de 6 referências no nosso blogue:

(iii) CCAÇ 1418, "Os Facas" (Bula, Buruntuma e Fá Mandinga, 1965/67): temos 8 referências; sabemos que foi mobilizado pelo RI 1 (Amadora); pertencia ao BCAÇ 1856 (Bissau  e Nova Lamego, 1965/67); foi comandado pelo cap inf António Fernando Pinto de Oliveira.

Síntese operacional: 
  • após o seu desembarque, a CCAÇ 1418 ficou colocada em Bissau durante quinze dias como subunidade de intervenção e reserva do Comando-Chefe;
  • tendo seguido, em 21ago65 para Bula, a fim de realizar uma instrução de adaptação operacional sob a orientação do BCAV 790 [28Abr65-08Fev67; do TCor Cav Henrique Alves Calado], e seguidamente reforçar este Batalhão em acções realizadas nas regiões de Naga, Inquida e Choquemone, entre outras;
  • até 20out65, continuou depois a ser atribuída em reforço de outros batalhões, com vista à realização de diversas acções na região do Jol, em reforço do BCAÇ 1858 [24Ago65-03Mai67; do TCor Inf Manuel Ferreira Nobre Silva], de 05 a 18Nov65. Na região de Gussará-Manhau, em reforço do BART 645, de 16 a 23Dez65;
  • nas regiões de Naga e Biambe, em reforço do BCAV 790, de 2 a 16Jan66 e novamente de 12 a 26Mar66. Na região do Morés, em reforço do BCAÇ 1857 [06Ago65-03Mai67; do TCor Inf José Manuel Ferreira de Lemos], de 13 a 23Fev66, onde tomou parte na «Operação Castor» [em 20Fev66], um golpe-de-mão à base central do Morés bem-sucedido, já que foi capturada elevada quantidade de armamento e outro material;
  • deslocada seguidamente para Buruntuma, assumiu, em 08Mai66, a responsabilidad do respectivo subsector, em substituição da CCav 703, ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão , tendo destacado uma secção para Camajabá e a partir de 21 Set66, um pelotão para a ponte do rio Caiúm;
  • em 03abr67, foi rendida no subsector de Buruntuma pela CCaç 1588 e seguiu para Fá Mandinga, onde substituiu, temporariamente, a CCaç 1589 na função de reserva do Agr 1980;
  • em 09Abr67, seguiu para Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.
(iv) CCAÇ 1421. "Os Caveiras" (Mansoa, Mansabá e Cutia, 1965/67): mobilizado pelo RI 2 (Abrantes), pertencia ao BCAÇ 1857 ( : foi comandado pelo cap inmf Cap Albino Augusto de Castro Carrapatoso: temos mais de 3 dezenas de referências.

(v) BCAÇ 1857 (Bissau, Mansoa e Mansabá, 1965/67); tem cerca de meia centena de referências no nosso blogue.

Como referimos, há duas inscrições por decifrar: alguns militares terão passado por Mansabá e deixado a "assinatura" da sua unidade ou subunidade; com o tempo houve elementos icónicos que se deterioraram. Apelamos aos nossos "arqueólogos" e "decifradorees de enigmas" para nos dar uma ajuda...
  • (?) 67/68/69;
  • "Sabres" | Rec  Dos  (?) Páras | 20/7/66 | Ex M.M. 



Esta última imagem mostra um emblema militar português, datado de 20 de julho de 1966, com um paraquedas, asas e um sabre (ou de um escorpião?), possivelmente relacionado a uma unidade de paraquedistas. A presença do paraquedas e do escorpião (u do sabre ?), juntamente com a menção a "Páras", sugere uma conexão com  o BCP 12 (que atuou no CTIG) ou uma das suas companhias (Elementos sugeridos em parte pela IA).  Ex M.M. podia ser o autor da inscrição mural...
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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P26793: Notas de leitura (1796): "Pára-quedistas em Combate 1961-1975", por Nuno Mira Vaz; Fronteira do Caos Editores, 2019 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Maio de 2024:

Queridos amigos,
Fui encontrar-me com o coronel Nuno Mira Vaz à porta do Colégio Militar, na manhã de 1 de maio de 2024, entreguei-lhe o espólio de um valoroso alferes paraquedista há pouco falecido, que ficará no museu em Tancos, ele ofereceu-me o livro de que é autor, li-o com imensa emoção, dele vos estou a dar conhecimento, insere um vasto reportório sobre a participação dos paraquedistas na Guiné, o autor nunca esquece o blogue e cita amigos nossos como o coronel Moura Calheiros, termina no seu depoimento com a referência à medalha de Cruz de Guerra de 1ª classe conferida ao BCP 12. Escreve o autor na contracapa do seu prestimoso trabalho, um paraninfo a esta tropa de elite: "Têm os seus motivos de orgulho, de que não abdicam: por terem sido os primeiros a voar para os Dembos em 16 de março de 1961; por terem estado entre os últimos a sair de África e de Timor; por não terem deixado nenhum camarada para trás; por terem respeitado nos campos de batalha os que contra eles se bateram; por terem agido guiados pela Honra, pelo Dever e pela Camaradagem."

Um abraço do
Mário


Paraquedistas em combate na Guiné (1)

Mário Beja Santos

A obra intitula-se Pára-quedistas em Combate 1961-1975, por Nuno Mira Vaz, Fronteira do Caos Editores, 2019, abarca o histórico da participação dos paraquedistas nos teatros de Angola, Guiné e Moçambique, e não esquece a extremosa e indispensável intervenção das enfermeiras no decurso da guerra. Houve um grupo de trabalho que desafiou o autor a coligir a obra destinada a guardar a memória desta tropa de elite. O autor mostra que acompanha assiduamente o nosso blogue, dele recolhe um bom punhado de citações, logo a do alferes Vítor Junqueira, dizendo:

 “(…) Os paraquedistas que conheci na Guiné, 121.ª e 122.ª Companhias, eram realmente diferentes entre iguais. Sei que eram duros com o Inimigo, bravos debaixo do fogo, eficientes na ação, por esta ou qualquer outra ordem! Os resultados obtidos, as condecorações justamente atribuídas, atestam-no. Mas aquilo que aos meus olhos nos tornava a melhor tropa de elite, sem desprimor para outros, era a sua humildade, educação, respeito e cortesia para com os camaradas de outras forças (…)”

É uma longa viagem que mete preâmbulo sobre os primórdios da luta de libertação, chegamos a 1971 e temos os Páras em Angola, é um denso inventário de operações, fala-se das operações com salto em paraquedas e é nesse contexto que o autor irá falar da mais emblemática operação aerotransportada, decorreu na Guiné, e tinha a ver com a proteção que se queria dar ao General António Spínola, que se reuniu em 27 de abril de 1972 com o presidente senegalês Senghor, em Cape Skirring, a poucos quilómetros a Norte da fronteira com a Guiné. Montou-se um dispositivo militar capaz de resgatar o Governador e Comandante-Chefe e a sua comitiva, vivos ou mortos.

Tudo teria de ser feito sem o conhecimento das autoridades senegalesas. Houve um envolvimento impressionante: o Grupo Pperacional da Base Aérea 12 com as Esquadras 121 (Fiat), 122 (helicópteros) e 123 (Nord Atlas) e o BCP 12 com duas companhias e meia, num total de cerca de 300 paraquedistas. 

Nenhum dos intervenientes de operação, com exceção dos Comandos da BA 12 e do BCP 12, sabia qual era a missão – esta só seria indicada às forças intervenientes imediatamente antes da sua entrada em ação. Nada aconteceu felizmente. Este esquema preventivo voltou a ser montado em 18 de maio para um novo encontro, mas por haver confiança relativamente à boa-fé dos interlocutores senegaleses, os Nord Atrlas não saíram da placa da BA 12, onde também se manteve, preparado para embarcar se necessário, o pessoal a lançarem paraquedas.

Detalham-se os acontecimentos de Angola, a narrativa culmina com a atribuição da Medalha de Ouro de Valor Militar, com Palma ao Batalhão de Caçadores Paraquedistas n.º 21, em fevereiro de 1973.

Passamos agora à Guiné onde os primeiros militares paraquedistas chegaram em junho de 1963, a sua missão principal consistia na defesa imediata do Aeródromo/Base n.º 2 (futura Base Aérea n.º 12). Era o Pelotão de Paraquedistas n.º 111, que teve o seu batismo de fogo em Agosto. O agravamento da situação exigiu o aumento do efetivo para o escalão Companhia. É referida a operação em que morreu em combate o Capitão Para-quedista Tinoco de Faria, em abril de 1966; enumeram-se as operações ao Cantanhez entre 1967 e 1968, com baixas da guerrilha e material capturado, os resultados mais impressionantes situam-se nestes primeiros meses de 1968.

E o autor dá-nos um quadro de combates sem tréguas à volta da Operação Júpiter, a missão era proceder à reorganização do dispositivo das forças terrestres aquarteladas em Guileje, Gandembel, Mejo e Porto Balana, era uma tentativa de dificultar ao PAIGC a utilização do “corredor de Guileje”, a operação decorreu em quatro períodos. O “corredor de Guileje” era utilizado pela guerrilha duas a três vezes por semana, por aí transitava boa parte dos combatentes e carregadores, transportava-se material de guerra entre a Guiné-Conacri e as bases situadas no interior da Guiné Portuguesa, no regresso transportavam-se géneros alimentícios.

Este trânsito de colunas era precedido por patrulhas com efetivos variáveis entre 20 a 50 homens, eles percorriam os caminhos de acesso ao corredor sinais da presença das forças militares portuguesas – e sempre que eram detetados sinais desta presença, as movimentações da guerrilha conheciam adiamento para o dia seguinte pois o PAIGC sabia que estas emboscadas raramente duravam mais do que 24 horas consecutivas. Sucederam-se as ações de combate, o inimigo dispersava e contra-atacava, as marchas eram extenuantes, os paraquedistas regressavam a Gandembel com os seus feridos e mortos e muito material de guerra capturado, e o autor dá-nos a seguinte citação:

“Formados na parada do quartel, sombras cambaleantes curvadas pela dor e exaustão, escutam o seu comandante que pede voluntários para bater na madrugada próxima toda a zona onde se tinham desenrolado os combates. Aqueles que se sentissem capazes, que dessem um passo em frente.
Perfilando-se orgulhosamente, olhos cintilando nas faces cavadas, cansaço vencido, todos avançam como se fossem um só homem.”


No final do primeiro período da Operação Júpiter, as tropas paraquedistas tinham causado à guerrilha 35 mortos, 1 prisioneiro e um número incontrolado de feridos. E nova observação do autor: 

“O Cantanhez, que durante vários anos tinha encarnado piores receios dos militares portugueses, a região onde mandara, incontestado, Nino Vieira, revelava-se afinal o cenário onde o BCP 12 obtinha os mais estimulantes sucessos operacionais.” 

Mas o inimigo não se deu por vencido, os ataques a Gandembel eram devastadores, danificaram o aquartelamento.

Depois de uma acalmia, a 16 de setembro, o PAIGC volta a bombardear com violência Gandembel e também Guileje. Regista o autor:

“O bombardeamento a este aquartelamento começou pelas 01H00 e só terminou às 05H10 depois de mais de 300 granadas de morteiro e de canhão sem recuo terem explodido no interior do perímetro defensivo ou nas zonas limítrofes. Após um curto período sem fogo, a tensa expetativa dos defensores foi bruscamente quebrada pela tentativa de assalto lançada pelo PAIGC cerca das 05H50. A decidida reação da tropa, porém, forçou os guerrilheiros a retirar, mais uma vez a coberto de granadas de fumo. 

A guerrilha somou novo insucesso, mas provocou extensos danos materiais no aquartelamento. Gandembel, por seu turno, foi atacado pelas 08H30, tendo sito contabilizados cerca de 150 arrebentamentos de granadas de canhão sem recuo e LGF na área do aquartelamento, as nossas tropas ripostaram forçando os guerrilheiros a retirar. Os atos de coragem praticados pelos militares paraquedistas nos duros combates que travaram com os guerrilheiros do PAIGC, defendendo Guileje e Gandembel, mereceram destacadas citações individuais nos relatórios de operações.”

Coronel de Cavalaria Paraquedista Nuno Mira Vaz
Fez uma comissão em Angola, duas comissões na Guiné e uma em Moçambique. Condecorado com a Cruz de Guerra, de 1.ª classe
Testemunho de paraquedista recolhido do jornal Correio da Manhã, não consta o nome, fez comissão na Guiné de 1966 a 1968 no 1.º pelotão da Companhia de Caçadores Paraquedistas 122:

“Faltavam oito dias para regressarmos a Lisboa com a nossa missão cumprida. Entre nós já ninguém pensava na guerra, os dias eram contados a cada instante. Mas o inesperado aconteceu. O nosso Comandante Coronel Sigfredo Ventura da Costa Campos mandou formar a companhia de caçadores paraquedistas 122 e disse o que passo a citar: "Meus senhores, nós vamos embora daqui a oito dias, mas os camaradas que nos veem substitui, vão precisar de um mês para ficarem 100% operacionais. O problema é que os rapazes de Tite estão constantemente a ser atacados. Eu sei onde estão as armas pesadas com que eles os flagelam... Vocês querem ir lá buscá-las?" - E aqueles 120 rapazes responderam em uníssono, "Queremos!".

Fomos de novo cumprir com o nosso dever e trouxemos os canhões sem recuo, os morteiros 82 e armas ligeiras; e para além de algumas baixas infligidas, ainda trouxemos ferido o irmão do chefe do grupo que ali atuava. E assim aliviámos os nossos irmãos, pelo menos por algum tempo. No final fomos condecorados com a medalha de Cruz de guerra de primeira classe coletiva. Mas se me perguntassem se faltou alguma coisa... Bem, diria que faltou alguém com bom senso dizer: Obrigado, Pá! A Pátria está-te agradecida!”


(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 6 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26771: Notas de leitura (1795): "Um preto muito português", da luso-angolana e antiga "rapper" Telma Tvon (Lisboa, Quetzal, 2024)... Parte II (Luís Graça): Uma dedicatória que vale um poema: "Para os meus de sangue e coração. Para os meus de rua e coração"

Guiné 61/74 - P26792: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (11): Três fotos para a história... O pequeno/ grande passo das seis Marias (1º Curso de Enfermeiras Paraquedistas, Tancos, 6 de julho-8 de agosto de 1961)


Foto nº 1 


Foto nº 2


Foto nº 3

Foto (e legenda): © Maria Arminda Santos (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Maria Atminda Santos
 (n. 1937)

1. São três fotos para a História...Foi um grande passo para elas, as primeiras seis enfermeiras paraquedistas portuguesas, aprovadas (num total de 11 selecionadas) no 1º curso, em Tancos , de 6 de julho a 8 de agosto de 1961,
 e um pequeno passo para a  História das mulheres portuguesas do séc. XX  (Vd. poste anterior, P26790) (*).

Fotos e legendas fornecidas pela Maria Arminda Santos, tenente graduada enfermeira paraquedista reformada (deixou a carreira militar antes do 25 de Abril, ainda em 1970; nasceu em 1937, em Póvoa da Galega, Mafra; vive em Setúbal):



Maria Zulmira André Pereira
(1931-2010)

Foto nº 1 > "Zulmira com a Diretora da Escola de Enfermagem  das Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria, Irmã Emaús"
 [A instituição que o Subsecretário de Estado da Aeronáutica, ten-cor Kaulza de Arriaga, escolheu para fazer a seleção das primeiras 11 candidatas ao 1º curso de enfermeiras- paraquedistas; esta foto com a Madre Superiora das Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria foi tirada "antes do primeiro salto"; é uma fotografia soberba,  de antologia: a Irmã Emaús está incutir a coragem à sua "pupila", neste caso a Zulmira, infelizmente já falecida, em 2010].


Foto nº 2 >  "Vê-se que também estou eufórica" [A Arminda parecia-nos ser a segunda, e "a mais contida",  na foto da revista "Ilustração Portuguesa" (*), mas afinal é a terceira, a seguir à Ivone Reis].

Foto nº 3 >  "Enquanto se aguardava pela feitura das fardas, fomos em tipo estágio para a urgência do Hospital de São José e aí com as nossas fardas das respetivas Escolas. Todas iguais menos eu que fui a única da Escola de São Vicente de Paulo, atualmente integrada na Universidade Católica". 
[Se assim é, quanto a nós a Arminda  é a última da ponta direita.].

Não é possível saber a quem atribuir os créditos fotográficos. Podem ser fotos do SDFA - Serviço de Documentação da Força Aérea Portuguesa. Ou da imprensa da época. Pertencem ao álbum da  Maria Arminda, a quem agradecemos a gentileza. Foram reeditadas por nós. (LG)
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Nota do editor LG:


10 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26787: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (10): Quando a "última" foi a "primeira"... A cap enf pqdt Maria de Lurdes Lobão, que fez história: em 16 de março de 1990, foi a primeira mulher a fazer de oficial de dia num estabelecimento militar, a Escola de Serviço de Saúde Militar (ESSM)

29 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26742: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (9): Giselda Pessoa: foi o CTIG (1972/74) que a marcou para o resto da vida

26 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26618: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (8): Grande coragem, sangue frio, inteligência emocional, autocontrolo, empatia, serenidade, a da Rosa Exposto!

13 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26578: Nunca tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (7): Cristina Silva, ten grad enf pqdt, a única das 46 que foi ferida em combate

12 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26575: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (6): Homenagem às enfermeiras paraquedistas em livro recente sobre a "História da Enfermagem em Portugal"... Por sua vez, reproduzimos excerto de um depoimento de Aura Teles sobre a morte da fur grad enfermeira pqdt Maria Celeste Ferreira da Costa (Tarouca, 1945 - Bissalanca, 1973)

15 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26497: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (5): Em Mueda, no planalto dos Macondes, num dos piores cenários da guerra em Moçambique - Parte I (enf pqdt Maria de Lourdes Gomes)

7 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26470: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (4): "Meu amor, se depender de mim não morres aqui"... Palavras que me ficaram para a vida (Carlos Parente, natural de Viana do Castelo, ex-sold at inf, CCAÇ 1787)