quarta-feira, 11 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18836: Blogpoesia (575): "O Meu Jardim", poema de Fernando Tabanez Ribeiro, ex-2.º Tenente da Reserva Naval

Com a devida vénia a Labirinto - Jardins


1. Em mensagem do dia 6 de Maio de 2018, o nosso camarada Fernando Tabanez Ribeiro (ex-2.º Tenente da Reserva Naval, LFGs "Lira" e "Cassiopeia",  CTIG, 1972/73), enviou-nos este seu poema para publicação:
 

O MEU JARDIM 

As flores do meu jardim 
foram plantadas por mim 

Tão belas quanto singelas, 
azuis, vermelhas e amarelas. 

Às vezes, páro e medito: 
– Se acaso a beleza 
que vejo na Natureza, 
é uma certeza 
concreta, material. 
Se não, então 
eu admito 
que afinal, 
é real, 
a feliz Ilusão 
em que acredito. 

Bate o Sol no meu jardim 
que bênção, uma coisa assim! 
Pr´as flores é uma alegria 
a Graça que o Sol envia, 
luz sublime da cor do oiro. 
O pólen que a flor encerra 
colhe-o a abelha, doce e loiro, 
o bom mel da nossa terra.

Em Maio que perfumadas, 
são as ledas madrugadas! 

Concertos de horas sem fim 
alegram o meu jardim. 
Ao canto da cotovia 
a Estrela d´Alva anuncia 
a aurora dum novo dia. 
E logo o rouxinol 
entoa em Clave de Sol 
as mais belas melodias, 
magníficas sinfonias 
de louvor à Primavera. 
Que bom seria, quem me dera! 
− guardar comigo para sempre 
os trechos que tenho na mente. 

Os sons avivam as cores, 
e a magia das flores. 

Bailados de borboletas 
divertem as minhas flores. 
Mesmo as tristes violetas, 
esquecem penas e dores 
e riem com as piruetas 
graciosas das borboletas. 

Belcanto do meu encanto, 
das horas de um dia santo. 
No palco do meu jardim, 
os dias são todos assim. 

Põe-se o Sol. Soam trindades. 
Tão simples. Perenes verdades, 
que guiam o nosso caminho. 
A noite cai de mansinho, 
recolhem as aves ao ninho. 
Paz santa. Dormem enfim, 
as flores do meu jardim. 
As flores do meu jardim, 
casam com o azul do céu, 
quem cuida delas sou eu. 
Por isso me dizem que sim, 
que gostam muito de mim.
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18823: Blogpoesia (574): "Os desafios de viver", "Ao nascer do dia..." e "Um outro piano negro...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P18835: Historiografia da presença portuguesa em África (124): Sobre as fortalezas da Guiné e da África Oriental, pelo Capitão Henrique C. S. Barahona; Typographia do Commércio, 1910 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Fevereiro de 2018:

Queridos amigos,
Obra do acaso, encontrei esta “Carteira de um Africanista”, o que o Sr. Capitão Henrique Barahona diz sobre a fortaleza de Bissau é do maior interesse, resta dizer que em 1910 o Governador Carlos Pereira tomou a decisão histórica de mandar derrubar o muro, não foram afugentados os perigos, mas Bissau começou a crescer. Atenda-se à descrição do interior da fortaleza, ao caráter guerreiro da população em volta de Bissau e ao facto de que existia uma paliçada contígua ao forte de Pidjiquiti, nome por que era conhecido o arruinado forte Nazolini, um poderoso escravocrata e grande comerciante da Guiné.
Para que conste.

Um abraço do
Mário


Sobre as fortalezas da Guiné, pelo Capitão Henrique Barahona, 1910

Beja Santos

Dei com este documento no Arquivo Histórico do BNU, assina Henrique C. S. Barahona, Capitão de Engenharia e antigo Diretor das Obras Públicas do Ultramar. Vale a pena escutá-lo sobre o trabalho que desenvolveu na Guiné:
“No decurso da minha longa permanência em terras de África (1891-1907), onde o destino me chamou a colaborar com homens de valor, como António Ennes, Guilherme Capelo, Teixeira da Silva, Garcia Rosado, Ayres de Ornellas e Freire de Andrade, foram numerosos e diversos os trabalhos por mim dirigidos e fiscalizados na Guiné, em Angola e Moçambique.
Quando em 1891 fui servir na Guiné, encontrei a fortaleza de S. José de Bissau quase completamente arruinada. Durante a minha estada na Guiné (1891-1892) procedi a importantes trabalhos na fortaleza de S. José de Bissau, que restaurei em grande parte, pondo-a em condições de resistir às sortidas do gentil irrequieto que a rodeia.
Desde o período da descoberta da Guiné até fins do séc. XVII pode dizer-se que esta colónia poucos cuidados mereceu aos governantes de Portugal, sob o ponto de vista da sua defesa, já contra as tribos irrequietas que a povoam, já contra os piratas que então infestavam aquelas paragens.
Até 1776, época em que foi construída a fortaleza de Bissau, só rezam as crónicas de dois ou três fortes construídos na Guiné, e que foram: a Casa Forte de Cacheu, construída em 1589 a expensas de Manuel Lopes Cardoso e artilhada à custa do Capitão-Mor António de Barros Bezerra, e os Fortes de Guinala e Biguba, também construídos a expensas de particulares.
Todos estes fortes eram construídos de adobe e pouco duraram.

Foi em 1696 que se criou o presídio de Bissau (subordinado a Cacheu) para o qual seguiu artilharia do reino. A fortaleza de S. José foi construída em 1766 sob a protecção dos fogos de uma esquadra que fundeou no Porto de Bissau e que manteve em respeito os povos aborígenes, sem irrequietos e revoltos. A obra só se concluiu à custa de muitos sacrifícios de fazendas e vidas.
Os operários empregados na construção da fortaleza seguiram do reino, donde também foi a cantaria que em parte ainda hoje ali se vê.

A Fortaleza de S. José de Bissau tem quatro faces abaluartadas, dispostas segundo os lados de um quadrado, como se vê na gravura junta. As muralhas têm doze metros de elevação sobre o fosso que as circunda. Esse fosso tinha a escarpa e a contraescarpa revestida, mas quando ali cheguei achava-se quase entulhado com os escombros da muralha e os revestimentos do fosso tinham desaparecido. Honório Barreto assevera numa memória que escreveu sobre a Guiné que as pedras que guarneciam a contraescarpa e as lajes das plataformas de artilharia foram roubadas para se fazerem algumas casas de particulares.


A Fortaleza tinha alojamentos para o governador, oficialidade, sargentos e para duzentas praças, além da capela, paiol e armazéns. Em cada um dos baluartes, ao centro, havia gigantesco poilão que lhes dava farta sombra.

A povoação de Bissau ficava apertada entre o forte e uma cortina que liga o baluarte da Onça ao Fortim do Pidjiquiti, nome pelo qual em 1891 era conhecido o antigo Forte Nazolini, do qual, aliás, só existia a face que olha para a campanha. Este resto estava em tal estado de ruína que os merlões das canhoneiras eram formados com sacos de terra.
A Fortaleza de S. José de Bissau, quando ali cheguei, também inspirava pouca confiança aos seus defensores. Basta dizer que o parapeito estava quase todo derruído, acima do terrapleno de circulação. Deste modo, os pretos rebeldes podiam alvejar as reduzidas tropas da guarnição que fomos encontrar exaustas por sucessivos alarmes.
A densa vegetação que circundava a praça permitia que o inimigo se pudesse aproximar sem ser visto.

O artilhamento da praça era simplesmente mesquinho, para não dizer outra coisa. Basta citar o facto de termos ido encontrar ali peças de artilharia assestadas no parapeito sobre reparos construídos por grossas lajes postas de cutelo!
Tanto o Fortim do Pidjiquiti como o Forte de S. José foram convenientemente reparados durante o tempo que estive na Guiné e o artilhamento foi muito melhorado o que não obstou a que poucos anos depois já ali se vissem as peças de artilharia amarradas com cordas aos respectivos reparos!
Não pretendo dar uma ideia do carácter belicoso dos povos da Guiné, mas seja-nos lícito, numa revista como esta, chamar a atenção para um facto curioso que se dá com a forma de combate daqueles selvagens.

Todos os oficiais que se defrontam com eles ficam surpresos, vendo-os adoptar uma táctica que muito se assemelha à nossa ordem dispersa.
Poderia supor-se que é imitação do que vêem fazer aos nossos soldados; mas a verdade é bem diferente. Há muitos anos que os povos da Guiné adoptam aquele modo de fazer a guerra. Ainda no nosso exército não se usava a ordem dispersa e já aqueles gentios a empregavam nos seus combates.
Com efeito, na memória do Governador Honório Barreto, publicada em 1843, lê-se o seguinte modo de combater dos povos da Guiné:
‘Quando são atacados retiram-se ao mato e no sítio mais fechado dele se fazem fortes procurando atrair o inimigo para lhe cortar a retaguarda, o que chamam fazer saco, e como são pretos e andam nus, evitam o ser vistos e matam a seu salvo os atacantes. Nunca dão tiro sem ter pontaria certa, e muitas vezes há queima-roupa. Brigam dispersos e nunca se reúnem mais de três ou quatro. O maior troféu para eles é cortar as cabeças dos inimigos e conservar as caveiras como reminiscência gloriosa.’

Guerreiro Balanta

A esta curiosa táctica, que pode chamar-se em ordem dispersa, devem de certos indígenas da Guiné o não terem sido até hoje exterminados pelas numerosas guerras que contra eles temos sustentado. A última guerra de Bissau, em que as nossas forças acamparam durante dois dias no alto da Antim devia ter sido excessivamente mortífera para os Papéis de Bissau se estes atacassem em mangas, como fazem os Vátuas.

Propus em 1891 que a muralha que liga o baluarte da Onça ao Fortim de Pidjiquiti fosse derrubada, permitindo assim a expansão da vila. Antes porém seria preciso reforçar a defesa da povoação com obras avançadas e com uma estrada militar que colocasse Bissau ao abrigo de um golpe de mão do gentio.
Não nos consta que estes trabalhos tenham, sequer, sido iniciados.

Não merecem descrição, nem especial referência nesta revista os trabalhos a que procedi para melhorar a defesa de Cacheu, Buba, Farim e Geba, pois o sistema defensivo destas povoações limita-se apenas a paliçadas.”
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18809: Historiografia da presença portuguesa em África (122): L’affaire Salagna, Guiné, I Guerra Mundial: Primeiro estavam os negócios, depois o patriotismo (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18834: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (56): Entre 1394 e 1974, a História de Portugal deve ser reescrita e ir para o Museu?


Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Cacheu > 3 de Março de 2008 > A estátua de Diogo Gomes, agora "em depósito" na antiga fortaleza portuguesa do Cacheu... Seis séculos de história para um "canto", que nem sequer é museu...

Já vai em mais de cem o número de académicos que são contra a possibilidade de Lisboa vir a ter um "Museu das Descobertas". Numa carta, que o Expresso publica abaixo, historiadores, especializados na história do império português , e cientistas sociais explicam porque é que um museu dedicado à expansão portuguesa nunca deverá ter esta designação. A ideia de criar na capital uma instituição como esta foi defendida no programa eleitoral de Fernando Medina, eleito presidente da câmara de Lisboa. Os signatários da carta consideram o nome "Museu das Descobertas" um erro de perspectiva. A lista de signatários não tem parado de aumentar desde que a carta foi tornada pública,na última quinta-feira. Aos portugueses juntaram-se desde então investigadores vinculados às universidades de Harvard, Yale, e UCLA, nos Estados Unidos, ao Collège de France, Sorbonne, EHESS, Paris e a EPHE, Paris, às principais universidades brasileiras, São Paulo, Universidade de Campinas, Universidade Federal da Baía, Universidade Federal Fluminense, o University College London, UK, ou a Universidad Complutense de Madrid- 
[Expresso, 12 de abril de 2018 >  A controvérsia sobre um Museu que ainda não existe. Descobertas ou Expansão?]


Foto: © António Paulo Bastos (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de António Rosinha

Data: 9 de julho de 2018 às 23:04

Assunto: Entre 1394 e 1974 da História de Portugal deve ser re-escrita e ir para o Museu?

Luís, como está na ordem do dia, e se não for excessivo, aproveita.
Abraço, António,


2. Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (56): Entre 1394 e 1974, a História de Portugal deve ser reescrita e ir para o Museu?


[ António Rosinha, foto acima, à direita, 2007, Pombal, II Encontro Nacional da Tabanca Grande]

(i) beirão, tem mais de 110 referência no nosso blogue;

(ii) é um dos nossos 'mais velhos' e continua ativo, com maior ou menor regularidade, a participar no nosso blogue, como  autor e comentador;

(iii) andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado;

(iv) fez o serviço militar em Angola, sendo fur mil, em 1961/62;

(v) diz que foi 'colon' até 1974 e continua a considerar-se um impenitente 'reacionário' (sic);

(vi) 'retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência';

(vii) o seu patrão, o dono da TECNIL, era o velho africanista Ramiro Sobral;

(viii) é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho'';

(ix) pelo seu bom senso, sabedoria, sensibilidade, perspicácia, cultura e memória africanistas, é merecedor do apreço e elogio de muitos camaradas nossos, é profundamente estimado e respeitado na nossa Tabanca Grande, fazendo gala de ser 'politicamente incorreto' e de 'chamar os bois pelos cornos';

(x) ao Antº Rosinha poderá aplicar-se o provérbio africano, há tempos aqui citado pelo Cherno Baldé, o "menino e moço de Fajonquito": "Aquilo que uma criança consegue ver de longe, empoleirado em cima de um poilão, o velho já o sabia, sentado em baixo da árvore a fumar o seu cachimbo". ]


Mas não no Museu das Descobertas, porque estas só podem ser consideradas até Magalhães com a volta ao mundo, 1521, 127 anos a viajar e a ligar terras e continentes desconhecidas entre si e localizá-los no mapa.

Segundo alguns portugueses, desde o nascimento do Infante Dom Henrique até ao General Spínola, 580 anos, todos os heróis nacionais desse período, com estátuas, bustos ou referências em ruas e praças, deviam ser "recolhidos", senão apagados da história como heróis, porque acham que a história está a ser mal contada.

 E, sendo assim, tal como fizeram os guineenses que levaram as estátuas dos heróis portugueses para a fortaleza de Cacheu, era de sugerir, digo eu, que cá, na ex-Metrópole, se fizesse um Museu na fortaleza de Sagres, onde tudo começou.

Talvez não coubessem todos, desde o próprio  Dom Henrique um sem vergonha, sonhador, mas talvez  a culpa foi da mãe que até era inglesa,  até ao Camões um gabarola, e um Cabral que até se enganou no caminho porque se fiou no GPS que estava desactualizado.

E o Marquês onde o Benfica festeja à volta do leão, que mandou os jesuítas para lá do Atlântico, pregar para outra freguesia, esse ia também para Sagres.

Nem os santos escapavm, até São Francisco Xavier que foi convencer gente que vacas não são sagradas e que toucinho faz uma rica banha, esse também não escapava.

Quem vai para Sagres é tambem o Gama que viciou os europeus na canela e no açafrão e outras drogas.

Mouzinho que embarcou Gungunhana e a família para a Metrópole, e não naufragou, será uma das figuras principais no museu.

Enfim, se misturarmos numa mesma casa desde o Henrique, o navegador, e o Gama e Bartolomeu Dias e Cabral, junto com Salvador Correia de Sá e outros brasileiros mais uns tantos cabo-verdianos e angolanos que  atravessaram o Atlântico com escravos para o Brasil e juntarmos ainda  outros como o próprio Eusébio e todos os Magriços do Estado Novo, que inovaram com futebol luso-tropical na Europa, moda que pegou (França e Inglaterra), então ficamos sem saber como havemos de chamar a esse museu.

Mas Museu das Descobertas é que não pode ser chamado como tal.

 Passámos mais anos a caminho e a viver nos trópicos do que quietinhos no nosso cantinho.

Seriam 580 anos da nossa história que  foram uma mentira, porque  nos primeiros127 anos já estava tudo descoberto, reconhecido e identificado e mapeado, o resto 353 anos,  foi conquista e colonização.

E só teríamos 274 anos em que fomos verdadeiramente Portugueses ou Lusitanos, e não Luso-Tropicais.  

Temos que perder complexos e não somar complexos a mais complexos. Descobertas foi uma coisa, conquistas foi outra. E escravatura foi ainda outra, e todas estas coisas devem ser tratadas no seu devido lugar (museu).

Como os portugueses mais recentes,  africanos, que à maneira americana se dizem afro-descendentes, e não sei se indianos e chineses descendentes também se queixam que os herois portugueses das Descobertas e das conquistas não são os seus heróis, talvez a maioria dos portugueses se interrogue se não será também descendente dos milhares de escravos e escravas e voluntários e voluntárias que se fixaram durante 580 anos neste cantinho de heróis, e aí ficamos na dúvida sem saber o que fazer a tanto herói.

E mais uma coisa, toda a Europa está numa transição tal, que há países europeus a temer que a maioria dos seus cidadãos  venham um dia a ser "afro-descendentes" e aí também os heróis "mudam de figura".

Já há muitos anos os romanos lutaram contra cartagineses que chegavam de elefante, agora lutam contra quem chega de bote.

A história universal pode ter muitas leituras, mas ninguém culpe os navegadores, porque "navegar é preciso".

Um abraço
António Rosinha
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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18559: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (55): 25 de Abril: somos ingratos?

terça-feira, 10 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18833: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXXVII: História e imagens de São Domingos: fotos de 9 a 21



Foto nº 10 > São Domingos > 1969 > Vista da Ilha Maldita



 Foto nº 13 > São Domingos > 3º trimestre de 1968 >  Vista aérea: serração e cais


 Foto nº 14 > São Domingos > 2º semestre de 1968 >  Vista aérea: avenida para o cais


 Foto nº 15 > São Domingos > ´Janeiro de 1969 >  Vista aérea:  pista e quartel



 Foto nº 16 > São Domingos > 1969 >  Vista aérea: parte da povoação



 Foto nº 17 > São Domingos > 1º trimestre de 1969 >  Vista aérea: avenida e rio


 Foto nº 18 > São Domingos > Fevereiro de 1969 >  Vista aérea: quartel, pista e rio


Foto nº 9 > São Domingos > Meados de 1968 > Armazém de géneros



Foto nº 11 > São Domingos > 2º semestre de 1968 > Construção de abrigo


Foto nº 12 > São Domingos > Janeiro de 1969 > Cerimónia com a Mocidade Portuguesa


Foto nº 19 > São Domingos > finais de 1968 ou primncípios de 1969 > Posto administrativo e centro da povoação


 Foto nº 20 > São Domingos > 1969 > Do centro ao rio



 Foto nº 21 > São Domingos > 1969 > Moranças e rua

Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 > 1969 >


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Virgílio Teixeira (*), ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem já perto de 7 dezenas de referências no nosso blogue. (*)


Recorde-se que o Sector O1B – São Domingos, que esteve sob o comando e ordens do BCAÇ 1933, durante o período de 2 de Abril de 68 até 3 Agosto de 69.Era u ma faixa de 120 km por 15 km o que perfazia uma superfície aproximada de 1800 km2, com uma configuração geral quase rectangular, compreendida entre a fronteira Norte com O Senegal, a Sul com o Rio Cacheu, a Oeste com o Oceano Atlântico até Cabo Roxo, e a Leste por uma linha de povoações, designadamente ‘Faranjato-Quissir-Rio Cacheu’ .

O BCAÇ 1933 vem substituir o BCAÇ 1894. (**)


2. Fotos do tema T037 – Imagens de São Domingos – «Forte Álamo da Guiné» (Continuação)

Legendas e numeradas de f9 a f21 (de um total de 59):


F9 – O armazém de géneros alimentícios, em frente à messe de oficiais, que servia de caixa de correio, no estado em que ficou após o rebentamento de uma granada de Morteiro 82 ao fim da tarde do dia anterior. São Domingos,  talvez em meados de 1968.

F10 – Vista da ilha maldita ou ilha dos felupes ou ilha Bolol, com alguns membros da população Felupe nas margens do rio São Domingos, na maré vaza, utilizando as suas canoas construídos com troncos de árvore, escavadas nas entranhas até ficarem navegáveis, foto capturada já no primeiro trimestre. São Domingos,  1969.

F11 – Construção de um abrigo com poço, com duas camadas de troncos de palmeiras, outra camada de bidões vazios de 500 litros, cheios de terra vermelha, casca de ostra e cimento. É um forte abrigo protegendo um edifício militar que não identifico com clareza. O fotógrafo estava lá. Captada nos primeiros tempos que chegamos a esta terra. São Domingos,  1968, 2º semestre. 

F12 – Parte da cerimónia de posse do novo administrador de posto, com elementos da população e os soldados da paz da Mocidade Portuguesa. São Domingos, em Janeiro 69.

F13 – Vista aérea de avião a aterrar, vendo-se em primeiro plano a serração de madeiras, ao fundo da avenida o cais, um pequeno barco de pesca, o rio em maré cheia, e do lado direito das margens do rio, a tal ilha maldita dos Felupes. O resto é paisagem geral do quartel, foto tirada talvez em São Domingos, no 3º trimestre de 1968.

F14 – Outra vista aérea mais alto, vendo-se ainda em primeiro plano uma parte da serração, casas de pedra e telha de alguma população, e ao fundo a mata densa que se desenvolve ao longo do rio e das redondezas da povoação. Foto talvez tirada em São Domingos, 2º semestre de 1968.

F15 – Vista aérea mais alta, vendo-se a pista de 1200 metros, edifícios do aquartelamento, caminho através da pista na direcção da fronteira – 5 km, uma parte do rio mais a montante, uma panorâmica geral da localização da povoação de São Domimngos, em Janeiro de 69.

F16 – Vista aérea do centro de SD, distingue-se o posto do administrador local, a avenida para o cais e rio, edifício do comando em primeiro plano, vários edifícios de casernas, refeitórios, cantinas, do gerador, dos combustíveis, do edifício da Pide, entre outros. Lado esquerdo no topo a nossa pista de 1200 metros, bem visível, mais abaixo uma via de terra batida, que dá acesso às instalações da CART1744, a companhia de intervenção, desde o início da nossa chegada a este sector. São Domingos,  1969.

F17 – Vista aérea virada para o rio, vendo-se a avenida principal com separador, casas, moranças e tabancas da população local. Ao fundo da avenida o cais com 2 barcos pequenos, e sempre o Rio como fonte de inspiração, em São Domingos,  1º trimestre de 1969.

F18 – Vista aérea, com o rio em primeiro plano, depois a povoação, vendo-se do lado esquerdo da avenida as instalações militares e do lado direito as tabancas, moranças e casas da população. Ao alto a pista de São Domingos com 1200 metros, e em transversal um caminho que leva à fronteira com o Senegal, foi ao fundo desse caminho que se deu a emboscada e rebentamento de minas que originaram os ferimentos no Comandante Saraiva, e outros. Na junção do caminho com a pista, uma zona em quadrado, lado esquerdo ao fundo, com 3 a 4 edifícios, era nesse local que se situavam as instalações das Companhias de Intervenção, neste caso do nosso tempo, a CART 1744. São Domingos, fev69.

F19 – Edifício do Posto do Administrador, a bandeira nacional, alguns militares e uma viatura. Porque não se vê quase ninguém, presumo que se trata de fotos que tirava nas horas da sesta, da canícula em que não se podia andar no exterior devido aos extremos de calor e sol. Pode ser datada de São Domingos,  finais de 68 ou inícios de 69. 

F20 – Imagem capturada do Posto Administrativo,  com a haste e a bandeira nacional, virada para a Avenida Principal, e única, com o fundo sempre do rio omnipresente. A data dia e hora igual à foto anterior f19, de lado inverso. SD, 68/69.

F21 – Rua paralela à Avenida e virada para o rio, em terra batida, com casas e palhotas, umas de zinco e outras de colmo de palmeira. Dia e hora igual aos das fotos f19 e f20, pelas mesmas razões de tempo de canícula. SD 68/69.

Guiné 61/74 - P18832: Efemérides (289): Romagem ao Cemitério de Lavra em homenagem aos combatentes da guerra do ultramar das freguesias de Lavra, Perafita e Sta. Cruz do Bispo, Concelho de Matosinhos, caídos em Campanha

Hastear das Bandeiras: Nacional, Liga dos Combatentes, Cidade de Matosinhos e Junta de Freguesia, no edifício do Polo de Lavra.


Realizou-se em Matosinhos, Lavra, no passado dia 30 de Junho, a tradicional romagem anual ao cemitério em homenagem aos combatentes mortos na Guerra do Ultramar, da União de Freguesias.

A cerimónia foi promovida pelo Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, em colaboração com a Junta da União das Freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo – Pólo de Lavra.

Pelas 10h30 iniciou-se a comemoração com a concentração dos participantes em frente ao edifício da Junta, sendo de seguida içada a Bandeira Nacional pelo Presidente da Direção do Núcleo ao mesmo tempo que o Grupo Coral do Núcleo entoava o Hino Nacional e a Guarda de Honra, constituída por um clarim dos Bombeiros de Matosinhos-Leça da Palmeira, pelo Porta Guião do Núcleo e por alguns sócios combatentes, prestava as honras militares à Bandeira Nacional.

Guarda de Honra composta por antigos Combatentes. Ao fundo o Grupo Coral do Núcleo de Matosinhos da LC, que interpretou o Hino Nacional

Procedeu-se à deposição de uma coroa de flores no memorial em frente ao edifício daquela Junta pela Presidente da Junta, Dra. Lurdes Queirós e pelo Presidente da Direção do Núcleo Tenente Coronel Armando Costa.

Posteriormente, os participantes seguiram em romagem ao cemitério local, acompanhando o Porta Guião do Núcleo.

Pelas 10h45, já no cemitério junto ao Panteão onde se encontram os lavrenses que tombaram pela Pátria, realizou-se a cerimónia militar onde o sócio combatente Rodolfo Mesquita começou por fazer a chamada de todos os combatentes mortos na Guerra do Ultramar da União das Freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo, seguindo-se a deposição de uma coroa de flores, no referido Panteão, pela Presidente da Junta e pelo Presidente da Direção do Núcleo.

O Combatente Rodolfo Mesquita evoca o nome dos Combatentes de Lavra, Perafita e Sta. Cruz do Bispo caídos em Campanha

Momento da deposição da Coroa de Flores no Panteão ao Combatentes da guerra do ultramar de Lavra, caídos em Campanha

A cerimónia prosseguiu com os respetivos toques de homenagem aos mortos e, na altura do minuto de silêncio, foi cantado um salmo pelo Grupo Coral do Núcleo e lida a prece do Exército pelo Secretário do Núcleo.

Dando continuidade ao programa traçado, foram proferidas alocuções alusivas ao ato pelo Presidente da Direção do Núcleo e pela Presidente da Junta da União das Freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo.

Alocução do Presidente do Núcleo de Matosinhos da LC, Ten-Cor Armando Costa

Intervenção da Presidente da União de Freguesias de Lavra, Perafita e Sta. Cruz do Bispo, Dra. Lurdes Queirós

Por último, o Grupo Coral do Núcleo cantou o Hino da Liga dos Combatentes. Terminada a cerimónia, e pelas 11H30 na Sede da União de Freguesias, o Grupo Coral do Núcleo fez a sua atuação, perante combatentes, familiares e amigos presentes, e público em geral cantando alguns temas populares.

Actuação do Grupo Coral do Núcleo de Matosinhos da LC no Cemitério de Lavra

A finalizar, foi servido um porto de honra a todos os participantes que, num ambiente de franco convívio e camaradagem, fortaleceram o ideal patriótico e humanista que a Liga dos Combatentes proclama como um dos seus grandes objetivos, aproveitando-se ainda este momento para cimentar a excelente parceria entre as duas instituições.

Foi muito aplaudida a actuação do Grupo Coral do Núcleo, no Salão Nobre do Polo de Lavra, que contagiou os presentes com a sua interpretação de algumas canções populares portuguesas.

Vista parcial do Salão Nobre

Porto de Honra
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Texto e fotos: Núcleo de Matosinhos da LC
Fixação do texto, edição e legendagem das fotos: Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18824: Efemérides (288): Homenagem aos Combatentes do Ultramar do Concelho de Viana do Castelo, levado a efeito no passado dia 30 de Junho de 2018, em Barroselas (Sousa de Castro)

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18831: (In)citações (121): SOS, Língua Portuguesa: a propósito do editorial do "Novo Jornal", semanário luandense, de 6 do corrente: "Quando a língua se torna uma questão de Estado" (São e Paulo Salgado, ex-cooperantes)


Cabeçalho do semanário luandense Novo Jornal, 6 de julho de 2018, com a devida vénia...



1. Mensagem de ontem, da Conceição e Paulo Cordeiro Salgado, nossos grã-tabanqueiros, com uma larga experiência de cooperação na Guiné-Bissau e em Angola, em particular na área da gestão e da formação em saúde.

O Paulo, além de gestor e consultor em gestão de saúde, foi alf mil op esp da CAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72), e tem 85 referências no nosso blogue.   A São é economista. Ambos são transmontanos de Torre de Moncorvo, e vivem em Vila Nova de Gaia.

Assunto - SOS, Língua Portuguesa

Caros Editores,
Camaradas,

Em anexo, um outro contributo sobre o assunto epigrafado. Decerto que é uma matéria interessante que deve interessar-nos enquanto cidadãos.

Um abraço dos tabanqueiros.
Maria da Conceição Salgado e Paulo Salgado



2. (In)citações > SOS – Língua Portuguesa

Ainda a propósito deste tema que tem sido abordado ultimamente (*), deixamos um outro contributo.

Do Novo Jornal – de Angola, sua edição de 6 de Julho, respigamos um parágrafo do Editorial, que preconiza a defesa, hoje, repetimos hoje, da difusão da língua portuguesa, porque é a língua oficial:

«Se é preciso que venham professores de fora do país para que aprendamos a falar a nossa língua oficial, que venham. Mas chega de sermos obrigados a ouvir disparates aos mais variados níveis.»

Vem esta transcrição a propósito do que defendíamos no nosso contributo passado sobre SOS – Língua Portuguesa, e que os editores postaram no nosso blogue. Reiteramos o que então dizíamos: é urgente, imperioso e eticamente responsabilizante ajudar a criar estruturas duradouras e consistentes de ensino da língua nos PALOP.

Além do mais, enfatizamos, é um compromisso histórico, mesmo que alguns não acreditem no processo histórico. Não como metodologia colonizante, mas como riqueza solidária que urge recriar de forma definitiva.

Já o pensador seareiro Augusto Casimiro escrevia em 1958 na obra Angola e o Futuro (Alguns Problemas Fundamentais) que o ensino do português era essencial para o conhecimento universal; mas, reparai bem, caros leitores, acrescentava, de resto com outros pensadores, que «o desenvolvimento de um povo se sustenta, prima facie, nas línguas nativas africanas, doces e maleáveis e que os seus princípios gramaticais assentam numa base sistemática e filosófica».

Afirmava o ilustre seareiro que as línguas maternas (nativas) devem ser mantidas porque são o veículo do bem senso natural para alimentar a clareza do pensamento. E acrescentava, embora com contraditores por essa altura, e decerto também agora os haverá), no final da década de cinquenta do século passado (já os ventos de autodeterminação e de independência sopravam fortes), que a educação colectiva deveria ser feita por meio da língua nativa (higiene, saúde, agricultura…), mas que a língua portuguesa deveria preencher progressivamente todos os níveis de ensino.

E é interessante notar que o editorial atrás referido menciona que alguns altos dirigentes de Angola que não haviam feito estudos, se compenetraram da aprendizagem em disciplinas diversas. Transcrevemos:

«…pelo menos dois dirigentes do então Bureau Político do MPLA que, em razão das inúmeras responsabilidades que foram tendo no processo da luta de libertação, não foram bafejados pela sorte de ir estudar para os países que apoiavam então os movimentos de libertação. No entanto, esses logo se apressaram a procurar professores que já viviam em Luanda, gente intelectual e bem preparada, com quem tiveram durante dois ou três anos aulas de Português, de História e até de Filosofia. Acabavam o seu trabalho e, em casa, tinham ao longo de toda a semana um horário estabelecido para explicações de três matérias que consideravam essenciais». [Vd. o editorial completo mais a baixo]

No mínimo, um notável sentido de responsabilidade.

Ora, foi isso que Amílcar Cabral procurou fazer: o ensino do português aos meninos e meninas que estavam no mato em zonas libertadas, ou em território da Guiné-Conakri, mas falando-se o crioulo na transmissão das mensagens entre os protagonistas da luta contra o domínio colonial – afinal a língua congregadora.

Não estaria Cabral a favorecer o bilinguismo? Não será a prática de duas línguas uma melhor aproximação entre duas culturas? Eis duas questões com que encerramos este contributo. Não temos respostas acabadas, temos dúvidas, sobretudo as que resultam da persistência de um niilismo – que alguns conservam – que não tem em conta o valor humano e social de duas línguas e respectivas culturas que não podem ignorar-se. A História não se pode destruir nem se pode vilipendiar e os povos seguem o seu percurso.

Maria da Conceição Salgado

Paulo Salgado

8.7. 2018

PS - Reproduz-se, com a devida vénia, o supracitado editorial do Novo Jornal:




Excertos do Editorial do Novo Jornal, 6 de julho de 2018, com a devida vénia...  
[Os sublinhados são da responsabilidade dos editores do blogue]
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Nota do editor;

Último poste da série > 6 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18817: (In)citações (120): SOS, Língua Portuguesa: a situação na Guiné-Bissau e em Angola (São e Paulo Salgado, ex-cooperantes)

Guiné 61/74 - P18830: Convívios (867): 38º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, dia 19 de julho, 5ª feira, no sítio do costume, Restaurante "Caravela de Ouro", Algés, Oeiras... Inscrições até às 24h00 do dia 16, 2ª feira (Manuel Resende / Jorge Rosales)

Manuel Resende
1. Mensagem do Manuel Resende, com data de 6 do corrente, em seu nome e em nome do régulo Jorge Rosales:

Amigos e camaradas, verifico que muitos membros do nosso grupo não vêem ou não querem ir ao Facebook, por isso publico por e-mail a mensagem já enviada pela nossa página. 

Não levem a mal a repetição pois vou enviar a todos, mas assim sei que recebem o convite. Abraço e inscrevam-se.

Manuel Resende
Jorge Rosales



A MAGNÍFICA TABANCA DA LINHA - 38º CONVÍVIO


Vai realizar-se no próximo dia 19 de Julho, quinta-feira, com início às 12 horas, mais um convívio da Magnífica Tabanca da Linha, no Restaurante "Caravela de Ouro" em Algés. Esperamos que mais uma vez seja do vosso agrado.

O Almoço será servido às 13 horas

+ + + E M E N T A + + +

APERITIVOS

Bolinhos de bacalhau - Croquetes de vitela - Rissóis de camarão - Tapas de queijo e presunto. Martini tinto e branco - Porto seco - Moscatel.

SOPAS

Creme de legumes - Creme de marisco

PRATO DE CARNE

Nacos à Minhota
(com esparregado, batata assada e salada)

SOBREMESA
Salada de fruta ou Pudim

CAFÉ

BEBIDAS
Vinho branco e tinto (Ladeiras de Santa Comba-vinho da casa)
Águas - Sumos - Cerveja

PREÇO POR PESSOA - - - - - 20.00€
(Crianças dos 5 aos 10 anos pagam metade)

Morada: Alameda Hermano Patrone, 1495 Algés (Jardim de Algés, junto à marginal)

Inscrições até às 24 horas do dia 16, 2ª feira,  para: (tel ou e-mail)

Jorge Rosales  > 914 421 882 |  jorge.v.rosales@gmail.com

Manuel Resende >  919 458 210 |  manuel.resende8@gmail.com

ou dizendo "vou" ao convite no nosso grupo no Facebook.

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Guiné 61/74 - P18829: Notas de leitura (1082): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (8) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Outubro de 2016:

Queridos amigos,
O padre Henrique Pinto Rema descreve o período turbulento que acompanhou a independência da Guiné-Bissau, a fúria nacionalizadora levou à degradação das instituições missionárias e ao desperdício desses missionários ativos na ação educativa e sanitária.
Segue-se um relato pormenorizado do reerguer destas atividades, relato que finda com a descrição do trabalho das missões até 1981.
A história destes franciscanos que aqui chegaram em 1955 já veio contada aqui no blogue, em recensão de outra obra. Fica a confirmação de que o trabalho de Pinto Rema continua a ser inultrapassável e bem merecia continuidade até ao nosso tempo.

Um abraço do
Mário


História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema (8)

Beja Santos

Estamos chegados à investigação quanto ao trabalho das missões católicas na República da Guiné-Bissau, derradeiro capítulo do indispensável livro “História das Missões Católicas na Guiné”, por Henrique Pinto Rema, Editorial Franciscana, 1982. O autor recorda como sempre foi limitado o domínio português na Guiné e recorda a existência de feitorias comerciais sempre transformadas em fortalezas, praças ou presídios. O território ocupado na chamada Senegâmbia foi reduzidíssimo. O capitão de Marinha Ernesto J. D. C. e Vasconcelos em As Colónias Portuguesas, Lisboa, 1903, refere a superfície da Guiné em 11.384 quilómetros quadrados. Lopes de Lima avaliava em 1844 a superfície da Guiné em 16 a 18 milhas quadradas e a sua população em 2500 livres ou libertos (incluindo a tropa) e 2000 escravos. Em 1891, o Capitão Viriato Zeferino Passalagua, Secretário-Geral interino, ao entregar o governo da Guiné a Luís Augusto de Vasconcelos e Sá, disse em discurso público:  
“Tem esta colónia seis pontos definitivamente ocupados: a ilha de Bolama, as praças de Bissau, Cacheu e Buba e os presídios de Farim e Geba. A área da província da Guiné é grande; porém, a esfera de acção do nosso domínio e especialmente da nossa autoridade é limitada aos pontos por nós ocupados, que, na nossa área são quase nada em relação à da província”.

Pinto Rema refere os primórdios do nacionalismo, o aparecimento do MING e depois o PAIGC, realça as greves de 6/7/8 de Março de 1956, em que houve agressão dos marítimos e estivadores à força policial, a polícia prendeu cinco cabecilhas grevistas e levou-os para a esquadra. O Governador Melo e Alvim veio pessoalmente à esquadra libertar os cinco presos. Os polícias sentiram-se vexados. Seguiram-se dois dias de greve e protesto. Serão os mesmos grevistas que em Março de 1956 irão desencadear novo protesto em 3 de Agosto de 1959. Pinto Rema descreve o chamado massacre do Pidjiquiti detalhando que os insubordinados dispõem de remos, barras de ferro, pedras e arpões. No primeiro recontro, os dois chefes da polícia serão selvaticamente agredidos, depois de terem disparado para o ar. Na continuação das tensões, a polícia perdeu o autodomínio e começou a atirar a matar. Havia 13 a 15 mortos espalhados no cais do Pidjiquiti mais os cadáveres de marítimos e estivadores arrastados pelas águas do Geba, estes dados foram fornecidos ao autor pelo guarda Francisco Valoura, mais tarde funcionário colonial. Acendera-se o rastilho para futuras contestações. Segue-se o ataque a S. Domingos em 21 de Julho de 1961 e depois as destruições em Suzana e Varela.

Finda a descrição sobre a luta armada, chegamos ao 26 de Abril em Bissau. A 1 de Maio de 1974 chega à Prefeitura Apostólica da Guiné um extenso telegrama onde se diz em dado momento: “A Santa Sé acompanha atentamente o evoluir da situação para ponderar quais as novas indicações que possam eventualmente vir a ser dadas para a vida da Igreja nesse território". O diretor do trissemanário A Voz da Guiné, padre Cruz Amaral, foi substituído por um militar marxista e no jornal os portugueses começaram a ser postos em cheque. Inicia-se a debandada. O êxodo atingiu proporções tais que no dia da declaração da independência por Portugal, 10 de Setembro de 1974, havia em toda a Guiné menos de 100 civis brancos. As Irmãs Franciscanas Hospitaleiras que trabalhavam no Hospital Central de Bissau foram forçadas a abandonar o seu mister acusadas essencialmente pelas suas exigências com o pessoal menor, foram acusadas de prepotência por quererem correção, presença nos serviço e trabalho. Em finais de Setembro, o padre Lino Bicari, filiado no PAIGC e com credências de Luís Cabral, expõe aos missionários a linha do PAIGC em matéria de religião e ensino. A liberdade religiosa seria salvaguardada mas as escolas passariam a ser património nacional, a escola passaria a ser absolutamente laica. Progressivamente, a vida das missões entrou num descalabro e subiram de tom as acusações anónimas. O Prefeito Apostólico é prevenido por um missionário de Catió que seria expulso por ter colaborado com a PIDE/DGS. Monsenhor Amândio Neto entende não dever estar presente na hora da transmissão de poderes, então prevista para o dia 12 de Setembro, marcou passagem de avião para 9. O Núncio Apostólico escreveu-lhe: “Esta é a hora menos oportuna para Vossa Reverência se ausentar”. Os missionários vivem solidários com o Prefeito Apostólico e este em 10 de Setembro envia um telegrama ao presidente Luís Cabral saudando no momento histórico, saudação que abraçava todo o pessoal missionário e o povo cristão, augurando futuro glorioso, pacífico e progressivo para a República da Guiné-Bissau.

Após o golpe de Estado de 14 de Novembro, Nino Vieira deu sinais claros que pretendia que as Missões Católicas estendessem a sua ação educativa nas escolas e levassem a sua ação sanitárias aos hospitais.

A nova diocese de Bissau é criada em Março de 1977 pela Bula Rerum Catholicaram. O autor é minucioso a descrever a dinâmica apostólica na diocese de Bissau, o novo bispo sai prontamente em visita às missões. Pinto Rema descreve o trabalho do Movimento de Grupos de Jovens, do Centro Artístico Juvenil e Seminário de Bissau e faz um relato minucioso do diálogo ecuménico travado com protestantes e muçulmanos.

No termo do seu trabalho, Pinto Rema analisa as missões atuantes em 1981. Depois de 960 páginas despede-se assim: “As últimas centenas de páginas foram escritas por quem viveu de muito perto os acontecimentos que relata mas só minimamente interferiu neles. Pôde, assim, ser o mais possível imparcial. Abriu um leque bastante vasto de perspectivas para a visão de conjunto surgir mais nítida. Teme, porém, que tenha escondido a floresta para mostrar a árvore. Eu ficaria muito satisfeito se este meu trabalho despertasse a curiosidade de verdadeiros historiadores para uma pesquisa do fenómeno religioso na actual República da Guiné-Bissau, a partir do ponto de vista católico”.
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Nota do editor:

Postes anteriores de:

21 de maio de 2018 Guiné 61/74 - P18659: Notas de leitura (1068): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (1) (Mário Beja Santos)

28 de maio de 2018 Guiné 61/74 - P18688: Notas de leitura (1070): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (2) (Mário Beja Santos)

4 de junho de 2018 Guiné 61/74 - P18707: Notas de leitura (1072): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (3) (Mário Beja Santos)

11 de junho de 2018 Guiné 61/74 - P18733: Notas de leitura (1074): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (4) (Mário Beja Santos)

18 de junho de 2018 Guiné 61/74 - P18752: Notas de leitura (1076): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (5) (Mário Beja Santos)
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25 de junho de 2018 Guiné 61/74 - P18776: Notas de leitura (1078): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (6) (Mário Beja Santos)
e
2 de julho de 2018 Guiné 61/74 - P18800: Notas de leitura (1080): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (7) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 6 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18816: Notas de leitura (1081): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (42) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18828: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulos 61 e 62: "tenho muito amor para te dar e não é um sacana dum capitão que o vai impedir"


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Cerimónia do içar a Bandeira Nacional.

Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da pré-publicação do próximo livro (na versão manuscrita, "Em Nome da Pátria") do nosso camarada José Claudino Silva [foto atual à esquerda] (*):

(i) nasceu em Penafiel, em 1950, "de pai incógnito" (como se dizia na época e infelizmente se continua a dizer, nos dias de hoje), tendo sido criado pela avó materna;

(ii) trabalhou e viveu em Amarante, residindo hoje na Lixa, Felgueiras, onde é vizinho do nosso grã-tabanqueiro, o padre Mário da Lixa, ex-capelão em Mansoa (1967/68), com quem, de resto, tem colaborado em iniciativas culturais, no Barracão da Cultura;

(iii) tem orgulho na sua profissão: bate-chapas, agora reformado; completou o 12.º ano de escolaridade; foi um "homem que se fez a si próprio", sendo já autor de dois livros, publicados (um de poesia e outro de ficção);


(iv) tem página no Facebook; é avô e está a animar o projeto "Bosque dos Avós", na Serra do Marão, em Amarante;

(ix) é membro n.º 756 da nossa Tabanca Grande.

2. Sinopse dos postes anteriores:

(i) foi à inspeção em 27 de junho de 1970, e começou a fazer a recruta, no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1 [Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas], no Porto, junto ao palácio de Cristal;

(ii) escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, da dos percursos de "turismo sexual"... da Via Norte à Rua Escura;

(iii) passou pelo Regimento de Cavalaria 6, depois da recruta; promovido a 1.º cabo condutor autorrodas, será colocado em Penafiel, e daqui é mobilizado para a Guiné, fazendo parte da 3.ª CART / BART 6250 (Fulacunda, 1972/74);

(iv) chegada à Bissalanca, em 26/6/1972, a bordo de um Boeing dos TAM - Transportes Aéreos Militares; faz a IAO no quartel do Cumeré;

(v) no dia 2 de julho de 1972, domingo, tem licença para ir visitar Bissau, e fica lá mais uns tempos para um tirar um curso de especialista em Berliet;

(vi) um mês depois, parte para Bolama onde se junta aos seus camaradas companhia; partida em duas LDM para Fulacunda; são "praxados" pelos 'velhinhos' (ou vê-cê-cês), os 'Capicuas", da CART 2772;

(vii) faz a primeira coluna auto até à foz do Rio Fulacunda, onde de 15 em 15 dias a companhia era abastecida por LDM ou LDP; escreve e lê as cartas e os aerogramas de muitos dos seus camaradas analfabetos;

(viii) é "promovido" pelo 1.º sargento a cabo dos reabastecimentos, o que lhe dá alguns pequenos privilégio como o de aprender a datilografar... e a "ter jipe";

(ix) a 'herança' dos 'velhinhos' da CART 2772, "Os Capicuas", que deixam Fulacunda; o Dino partilha um quarto de 3 x 2 m, com mais 3 camaradas, "Os Mórmones de Fulacunda";

(x) Dino, o "cabo de reabastecimentos", o "dono da loja", tem que aprender a lidar com as "diferenças de estatuto", resultantes da hierarquia militar: todos eram clientes da "loja", e todos eram iguais, mas uns mais iguais do que outros, por causa das "divisas"... e dos "galões"...

(xi) faz contas à vida e ao "patacão", de modo a poder casar-se logo que passe à peluda; e ao fim de três meses, está a escrever 30/40 cartas e aerograma as por mês; inicialmente eram 80/100; e descobre o sentido (e a importância) da camaradagem em tempo de guerra.

(xii) como "responsável" pelo reabastecimento não quer que falte a cerveja ao pessoal: em outubro de 1972, o consumo (quinzenal) era já de 6 mil garrafas; ouve dizer, pela primeira vez, na rádio clandestina, que éramos todos colonialistas e que o governo português era fascista; sente-se chocado;

(xiii) fica revoltado por o seu camarada responsável pela cantina, e como ele 1.º cabo condutor auto, ter apanhado 10 dias de detenção por uma questão de "lana caprina": é o primeiro castigo no mato...; por outro lado, apanha o paludismo, perde 7 quilos, tem 41 graus de febre, conhece a solidariedade dos camaradas e está grato à competência e desvelo do pessoal de saúde da companhia.

(xiv) em 8/11/1972 festejava-se o Ramadão em Fulacunda e no resto do mundo muçulmano; entretanto, a companhia apanha a primeira arma ao IN, uma PPSH, a famosa "costureirinha" (, o seu matraquear fazia lembrar uma máquina de costura);

(xv) começa a colaborar no jornal da unidade, os "Serrotes" (dirigido pelo alf mil Jorge Pinto, nosso grã-tabanqueiro), e é incentivado a prosseguir os seus estudos; surgem as primeiras dúvidas sobre o amor da sua Mely [Maria Amélia], com quem faz, no entanto, as pazes antes do Natal; confidencia-nos, através das cartas à Mely as pequenas besteiras que ele e os seus amigos (como o Zé Leal de Vila das Aves) vão fazendo;

(xvi) chega ao fim o ano de 1972; mas antes disso houve a festa do Natal (vd. cap.º 34.º, já publicado noutro poste); como responsável pelos reabastecimentos, a sua preocupação é ter bebidas frescas, em quantidade, para a malta que regressa do mato, mas o "patacão", ontem como hoje, era sempre pouco;

(xvii) dá a notícia à namorada da morte de Amílcar Cabral (que foi em 20 de janeiro de 1973 na Guiné-Conacri e não no Senegal); passa a haver cinema em Fulacunda: manda uma encomenda postal de 6,5 kg à namorada;

(xviii) em 24 de fevereiro de 1973, dois dias antes do Festival da Canção da RTP, a companhia faz uma operação de 16 horas, capturando três homens e duas Kalashnikov, na tabanca de Farnan.

(xix) é-lhe diagnosticada uma úlcera no estômago que, só muito mais tarde, será devidamente tratada; e escreve sobre a população local, tendo dificuldade em distinguir os balantas dos biafadas;
(xx) em 20/3/1973, escreve à namorada sobre o Fanado feminino, mas mistura este ritual de passagem com a religião muçulmana, o que é incorreto; de resto, a festa do fanado era um mistério, para a grande maioria dos "tugas" e na época as autoridades portuguesas não se metiam neste domínio da esfera privada; só hoje a Mutilação Genital Feminina passou a a ser uma "prática cultural" criminalizada.

(xxi) depois das primeiras aeronaves abatidas pelos Strela, o autor começa a constatar que as avionetas com o correio começam a ser mais espaçadas;

(xxii) o primeiro ferido em combate, um furriel que levou um tiro nas costas, e que foi helievacuado, em 13 de abril de 1973, o que prova que a nossa aviação continuou a voar depois de 25 de março de 1973, em que foi abatido o primeiro Fiat G-91 por um Strela;

(xxiii) vai haver uma estrada alcatroada de Fulacunda a Gampará; e Fulacunda passa a ter artilharia (obus 14); e o autor faz 23 anos em 19 de maio de 1973; a 21, sai para Bissau, para ir de férias à Metrópole; um grupo de 10 camaradas alugam uma avioneta, civil, que fica por um conto e oitocentos escudos [equivalente hoje a 375,20 €];

(xxiv) considerações sobre o clima, as chuvas; em 19/5/1973, faz 23 anos... e vem de férias à Metrópole, com regresso marcado para o início de julho de 1973: regista com agrado o facto de o pai, biológico, ter trazido a sua tia e a sua avó ao aeroporto de Pedras Rubras para se despedirem dele;

(xxv) vê, pela primeira vez. enfermeiras, brancas, paraquedistas; apercebe-se igualmente guerra psicológica; queixa-se de a namorada não receber o correio; mada um texto para o jornal "O Século" que decide fazer circular pelo quartel e onde apela a uma maior união do pessoal da companhia, com críticas implícitas ao capitão Serrote por quem não morre de amores: na sequência disso, sente-se "perseguido" pelo seu comandante...


3. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 71 e 62

[O autor faz questão de não corrigir os excertos que transcreve, das cartas e aerogramas que começou a escrever na tropa e depois no CTIG à sua futura esposa. E muito menos fazer autocensura 'a posterior', de acordo com o 'politicamente correto'... Esses excertos vêm a negrito. O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Pátria", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, quem o criou. ]


61º Capítulo > A DISCIPLINA EM TEMPO DE GUERRA


Se em mais de dois meses pouco divulguei, pois não tenho dados para tal e só de memória não quero escrever com o receio de errar, já no dia 31 de Outubro quase podia copiar integralmente um aerograma.

“Desejo informar-te da maneira como actualmente estamos a ser dirigidos. Já te tinha dito que o meu capitão era um homem horrível de aturar mas agora atingiu o cúmulo no que diz respeito à disciplina. Admito que não podemos andar à balda, mas depois que divulguei a merda do texto que mandei para o jornal, estamos fodidos, se a culpa é minha, quando os meus colegas souberam, vão cair-me em cima. Repara!

Somos obrigados a andar mais bem uniformizados do que se estivéssemos aí na Metrópole. Proibiu-nos de andar de calções e eles são do próprio exército, portanto fazem parte do equipamento. O cabelo tem de estar curtinho como na recruta e temos de fazer a barba todos os dias. Os sapatos ou botas tem de estar devidamente engraxados e como aqui só há caminhos de terra torna-se difícil. Passamos a ter formatura diária debaixo dum sol horrível e até passou a fazer revista às camas e às nossas coisas privadas. Nota que nem em Bissau são tão severos quanto mais aqui no mato cercados de arame farpado onde nunca vem ninguém.

Conclusão: dão-nos uma fome horrível, pois deixamos de receber abastecimentos como recebíamos, e querem que andemos todos muito bonitinhos.

Não devia mas quero frisar e digo isto, para como em muitas outras coisas mais tarde recordar, que o capitão que é detestado praticamente por todos, ordenou que a partir de agora que a formação também tem de participar nas operações de combate.

Como já te disse as operações são sempre bastante perigosas e agora, cozinheiros, mecânicos, condutores, e todos os especialistas passam a integrar os pelotões de combate. Acho que só vamos três ou quatro de cada vez.


Afirmou na parada durante a formatura que se alguém recusa-se lhe dava um tiro.

Abro aqui um parêntesis para, mais uma vez, informar os meus leitores que cedo me apercebi que, eventualmente, teria cometido um erro, divulgando o artigo do jornal. Precisamente numa reunião em que eu, como cabo condutor, lhe solicitava que assinasse o requerimento para mudar a minha carta de condução, de militar para civil, um direito que as forças armadas facultavam a todos os condutores, ele não só não o recusou, como me informou que eu iria participar na próxima operação de combate. Fiquei certo de que o caldo estava entornado.

Este tipo na verdade merecia que alguém lhe aquecesse o pelo, mas o que nós queremos é ir embora e já que o suportamos quase há dezassete meses também suportamos o resto do tempo.
Andamos aqui oprimidos por causa dele mas pode ser que a mão divina o castigue pela maneira como nos trata, podes crer que se os “turras” nos atacassem e ele lerpa-se seria um dia de festa para os Serrotes de Fulacunda.

Eu sei que não te devia dizer isto e lamento fazê-lo mas quero que fique escrito na tua correspondência se ela chegar até ti e neste aerograma envio-te algo sobre um indivíduo que fez da nossa comissão já por si dolorosa, uma comissão infernal. O capitão Serrote.

Desculpa os incómodos que te dou, vou tentar no futuro não ser tão dramático, tenho muito amor para te dar e não é um sacana dum capitão que o vai impedir.

Um beijo com a esperança que o futuro seja radioso para nós”.

Este aerograma de onde extraio o que acabo de dizer chegou normalmente.

No dia seguinte, era dia de São Martinho e eu, sendo natural de Penafiel e até porque era domingo, escrevi uma carta a falar do vinho novo e das castanhas assadas que as minhas tias e a minha avó normalmente vendiam na feira. Falei também que era a favor das reivindicações feministas. Também digo nessa carta que 90% das mulheres portuguesas eram quase escravas dos maridos.

Não o devia ter dito à minha namorada. Não percebeu a ideia e ainda hoje uma parte significativa da população portuguesa se mantém sem o perceber. Ou se é 8 ou 80. Ou subjugas ou és subjugado e não me venham cá com as merdas da igualdade de direitos. Ou manda ele ou manda ela. Muito raramente um casal avança lado a lado. Um ou outro vai na frente.


62º Capítulo > A OPERAÇAO E OS PÁSSAROS


Em caso de combate, teria de me deslocar para o abrigo dos “Lagartos” onde pertencia a uma equipa de Dilagramas. Não sabia dispará-los. A minha função era transportá-los e fornecê-los ao especialista nessa arma. Era uma G3, cujo carregador tinha balas de salva, (pelo menos foi isso que mencionei no dia em que fiz a tal operação que descrevi como um passeio pelo mato).

Não escrevi o que a seguir vou dizer, mas é das poucas coisas em que a minha memória de certeza absoluta não me trai: Junto à saída da porta de armas, o senhor capitão Serrote disse-me estas palavras que jamais esquecerei:
–  O nosso cabo teve azar. Logo na primeira vez vai para um lugar dos mais perigosos que existem aqui à volta.

Também sei qual foi a minha resposta:
– Não sou mais que os meus camaradas, meu capitão.

“Vou contar-te um passeio que dei hoje pelo mato. Pela primeira vez saí do quartel no sentido contrário ao do rio. Fui com muitos colegas meus e como eles iam para longe saímos daqui era meia-noite. Inicialmente foi chato, porque estava tão escuro, mas tão escuro que para não nos perdermos tínhamos de ir agarrados uns aos outros. Eu ia mais ou menos no meio da coluna e andávamos muito devagar porque iam batedores à frente a abrir caminho por entre a floresta. Não sei quantos km andamos mas quando paramos estava a amanhecer e era muito linda a paisagem. Pude ver de perto uma bolanha que iríamos atravessar. O capim não estava muito alto dava-me um pouco acima da cintura e ao contrário do que eu pensava não tinha agua. Para a atravessarmos tínhamos de ir a uma distância considerável uns dos outros. Quando estávamos sensivelmente a meio vi um enorme bando de pássaros que quase tapavam o sol foi uma imagem maravilhosa mas que me podia ser fatal. Enquanto olhava para os pássaros os meus colegas desapareceram. De repente vejo uma mão entre o capim a mandar-me deitar ao chão. Os meus colegas da dianteira tinham avistado dois inimigos na orla da bolanha e eu como um autêntico nabo a olhar para os pássaros mesmo na linha de tiro.

Olha querida estou aqui no quartel são e salvo e não quero falar mais nisto. Amanhã se me apetecer conto-te o resto”.



Não tenho mais nenhuma referência a esta operação em que fiquei a olhar para a paisagem e, embora me recorde de muitos detalhes, prefiro não os recordar. Aproveito somente para agradecer ao soldado que me avisou para me baixar e a um outro que repartiu comigo a sua água quando a minha acabou. Confesso que não me lembro quais foram.

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