Guiné > Bissau > Fortaleza da Amura > 1908 > Expedição enviada pela metrópole em 1908 . Foto do Arquivo Histórico Militar, Lisboa. Fonte: Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira (ed. lit.), Nova História Militar de Portugal, Vol. 3. Lisboa, Círculo de Leitores, 2004, p. 266
(Foto editada e reproduzida por L.G. , com a devida vénia... Digam lá se não parecem mesmo uns soldadinhos de chumbo, estes camaradas que combateram forte e feio no Oio, em 1908; estive em 7 de Março de 2008 na fortaleza da Amura, em Bissau, e juro ter reconhecido o fabuloso poilão que aparece aqui na foto de 1908...).
Da cronologia constante da obra acima citada (e cuja leitura se recomenda), retira-se a seguinte informação:
17 de Junho de 1913: "A campanha do Oio termina vitoriosa com a implantação de um posto militar em Mansabá e a captura de elevado número de armas!" (p.450)...
Em relação ao ano de 1908, pode ler-se, p. 490:
(i) "O capitão José Carlos Botelho Moniz parte de Cacheu contra os felupes de Varela que se negavam a pagar impostos, atacando e destruindo a povoação, quebrando o mito de os Brancos não entrarem em território felupe e desarmando os de Jufunco e Egim (10 a 16 de Março)";
(ii) "O governador Oliveira Muzanty, obtendo reforços da Metrópole, organiza a maior expedição efectuada na Guiné até 1963. vencendo a resistância biafada emcabeçada por Unfali Soncó em Cuor e Ganturé e restabelece as comunicações entre Bissau e Bafatá (5 a 24 de Abril)";
(iii) "A expedição enviada à Guiné no tempo do governo Muzanty regressa à metrópole (15 de Maio)".
Sobre o Arquivo Histórico Militar convirá dizer que é o fiel depositário do principal património documental do Exército, incluindo valiosos fundos e colecções, relativos às campanhas militares em Portugal, na Europa e nos territórios coloniais e ultramarinos, em especial dos séculos XVIII a XX. Para mais informações consultar Actividades/Serviço de Atendimento Público e também o Guia de Fundos. Horários: Seg a Sex: 10h30-18h (requisições até às 16h30h). Endereço: Largo dos Caminhos de Ferro, 2, 1100-105 Lisboa / Telefone: 218 842 563 / Fax: 218 842 514 / E-Mail: ahm@mail.exercito.pt. / Acessos: Autocarros: 9, 12, 28, 35, 39, 46, 90, 104, 107, 203, 206, 210. Metro: Santa Apolónia. (LG)

Lisboa > Câmara dos Deputados > Intervenção do deputado António Silva Gouveia, representante da Guiné > Sessão de 19 de Junho de 1913 (Com a devida vénia...
Fonte: Direcção de Serviços de Documentação e Informação da Assembleia da República, a quem, na qualidade de ex-combatentes na Guiné, estamos reconhecidos pelo trabalho de digitalização efectuado e pela sua divulgação na Net).

Nota de CC
Nesta sua nova intervenção, também curta e directa como é timbre de um “prático”, como por vezes se autodefinia, o deputado Silva Gouveia trata de três assuntos. As dúvidas, que convosco partilho, dirigem-se sobretudo ao caso dos “grumetes”.
Os grumetes eram nativos mais ou menos cristianizados, de diversificadas origens étnicas. Como tinham familiares nas povoações, eram óptimos intermediários no comércio de Bissau e Bolama, além de servirem nas diversas tarefas ligadas ao comércio e à navegação. Viviam em Bissau, fora das muralhas, e em Bolama, misturados com a população local. Variavam de alianças conforme os interesses em jogo[1].
Em 1892, nas negociações para pôr termo a sangrentos combates entre as tropas fiéis a Portugal e os papéis auxiliados pelos grumetes, estes reconheceram‑se súbditos de Portugal, devendo obediência aos administradores. A partir daí, os grumetes foram chamados a participar em campanhas de ocupação efectiva do território.
É possível que aquela “última guerra” de que falava o deputado se referisse aos combates contra os papéis para a conquista da ilha de Bissau. De facto, nessa campanha de 1908-1909, os grumetes afirmaram-se aliados dos portugueses, sendo pois natural que daí tivesse resultado a destruição, pelos papéis, das suas casas.
Compreende-se, assim, a posição do deputado relativamente aos grumetes: no fundo, além de serem essenciais à boa marcha dos negócios, demonstravam também fidelidade aos portugueses, partilhando com as nossas tropas as agruras e os dramas de campanhas bem violentas contra diversos régulos e suas tropas. Como homem de negócios, era natural que pretendesse a poupança nos gastos públicos, sobretudo os respeitantes à Guiné. Daí, talvez, o seu pedido para que não fossem enviadas tropas da metrópole, como tinha acontecido em 1908, com o desembarque de uma força metropolitana de cerca de três centenas e meia de oficiais e praças que se manteve na Guiné dois meses.
Só que… afinal nem António Silva Gouveia conseguiu antecipar o comportamento futuro dos grumetes, que tanto louvara. Em 1915, aliados aos papéis, os grumetes atacaram tropas portuguesas, comandadas por Teixeira Pinto. Com a vitória dos portugueses, dava-se por finda a “pacificação” da Guiné[2].
[1] Veja-se Wilson Trajano Filho, “O trabalho da Crioulização: as práticas de nomeação na Guiné colonial”, consultável em www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/etn/v12n1/v12n1a06.pdf
[2] As informações relativas às campanhas militares na Guiné nesses anos foram retiradas de: Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira (dir.), Nova História Militar de Portugal, III vol., Lisboa, Círculo de Leitores, 2004, pp. 264-270.
[Continua]
[ Revisão / fixação de texto / título / edição de imagens: L.G.]
__________
Nota de L.G.:
Último poste da série > 10 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7109: Historiografia da presença portuguesa África (38): António Silva Gouveia, fundador da Casa Gouveia, republicano, representante da colónia na Câmara dos Deputados, na 1ª legislatura (1911-1915) (Parte II) (Carlos Cordeiro)
Ainda sobre a figura dos grumetes, acima referida :
"Os grumetes eram africanos que, vivendo nas povoações luso-africanas e adoptando com grande liberdade os hábitos cristãos e os modos lusitanizados de ser, operavam como remadores, construtores e pilotos de barcos, carregadores e auxiliares no comércio.
"Como categoria sociológica, eles desempenhavam um papel chave no frágil compromisso em que a sociedade crioula se fundava, sendo os intermediários que faziam a delicada mediação nos relacionamentos entre a minoria de comerciantes europeus e luso-africanos e os régulos das sociedades tradicionais africanas que produziam bens para exportação". (Wilson Trajano Filho, da Universidade de Brasília, in Outros Rumores de Identidade na Guiné-Bissau)".
2 comentários:
Carlos Cordeiro
E assim lentamente, sem perturbar qualquer jerusalém em lamentações ou heróicos feitos, lá vamos (cantando e rindo)ficando a saber da História desta ditosa Pátria...a sua colonização e todos os eteceteras.
Temos, agora é melhor ter cuidado,o conhecimento fundamentado, comparado e, por outro lado poderemos ter o conhecimento do fado. O fado do Zé Povinho, do colono ao combatente, do iletrado, ao doutor exilado ou, porque não do combatente tramado, esforçado, aviltado ou concordante...haviam...
Fiquemos felizes por tanto termos e assim aprendermos.
Não é brincadeira. Não. É, isso sim, a força enorme que este blogue está a ter. A sua abrangência e certamente o muito que aí virá. Assim muitos o queiram. Certamente que sim.
Ah, um obrigado e espero pela continuação.
Abraço forte do Torcato
A longividade ! E que longividade ! O poilao (Polon) que serve de fundo/cenario a algumas das fotos deste post...fotos essas por sinal datadas de 1908...sera a mesma robusta arvore que ainda hoje, de ramos longos e multiformes qual tencaculos de
um polvo gigante,espraia,sob o Mausoleu Amilcar e Cabral e dos herois nacionais, no forte da Amura...uma aprazivel e fresca sombra !
Da minha ultima visita ao local
ainda retenho a imponencia de uma arvore similar "prostrada" sobre o mausoleu...
Um poilao com pelo menos um seculo de contemplacao da historia ?
Mantenhas
Nelson Herbert
Washington DC,USA
Enviar um comentário