Guiné-Bissau > Bissau > Fortaleza da Amura > 100 anos separam estas duas fotos, 1908-2008... O poilão até podia ser o mesmo, mas seguramente não é. A foto mais antiga, proveniente do Arquivo Histórico Militar, é de 1908 (*). A foto mais recente foi tirada em 7 de Março de 2008, junto ao mausoléu Amílcar Cabral, aquando da minha visita a Bissau, no âmbito do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de Março de 2008). O poilão da foto de hoje poderia estar "mais enterrado": de facto, a base da árvore, em 1908, parece ser maior, e o tronco mais largo... De qualquer modo, há ainda bastantes poilões seculares na Amura, seguramente contemporâneos das "campanhas de pacificação" da Guiné e do capitão Teixeira Pinto (1913-1915)... Este foi apenas o único que fotografei e que me inspirou um poema (*)... E a propósito, dizem que o maior poilão é de Maqué, no Oio, e o mais tristemente famoso o de Brá, em Bissau...(LG).
Foto (de cima): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados
1. Comentário do nosso amigo Nelson Herbert, ao poste P7125 (**)
A longevidade ! E que longevidade ! O poilão (polon) que serve de fundo/cenário a algumas das fotos deste post... fotos essas por sinal datadas de 1908... Será a mesma robusta árvore que ainda hoje, de ramos longos e multiformes qual tentáculos de um polvo gigante, se espraia, sob o Mausoléu Amilcar Cabral e dos heróis nacionais, no forte da Amura...uma aprazível e fresca sombra !
Da minha última visita ao local ainda retenho a imponência de uma árvore similar "prostrada" sobre o mausoléu...
Um poilão com pelo menos um século de contemplação da história ?
Mantenhas
Nelson Herbert
Washington DC,USA (***)
________________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 25 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3669: Blogpoesia (27): A velha Amura dos tugas (Luís Graça)
(...)
A velha Amura dos tugas
agora cercada de guinéus
por todos os lados.
Ilha de areias movediças
num mar de belugas,
foi rampa de lançamento de lançados.
Dizem que aqui nasceu Bissau.
De linhas tortas,
as ruas direitas da capital.
Saúdo os ilhéus,
figuras de museu de cera,
de faces mortiças:
à frente, o capitão-diabo,
o bigode farfalhudo,
espadeirando a torto e a eito,
de peito feito
ao fogo do canhangulo.
Mais os seus soldadinhos de chumbo,
que eram uma ternura:
em linha,
em formatura,
nas suas fardas multicolores,
coloniais,
do tempo dos Cabrais.
Davam vivas à Pátria
e à Rainha.
Aqui como em toda a parte,
onde o Império tinha engenho e arte.
Ah! A velha Amura,
inútil baluarte,
com os seus canhões
de bronze,
incandescente...
Casamata,
prisão,
dormitório,
agora panteão,
nacional,
coberto de poilões.
Eram onze
os soldadinhos,
como no jogo de matraquilhos.
E combatentes da liberdade da Pátria,
contei-os pelos dedos da mão.
Que fazes aqui, Amílcar,
que já te mataram, Cabral ?
E de que traições podias falar,
se fosses vivo,
tu, Osvaldo ? E tu, Vieira ?
E quanto a ti, Titina,
que incendiavas paixões
pelo Oio ?
Que fazes também aqui,
jazida entre os poilões,
debruados de branco,
da triste Amura ?
Cuidado, Silá,
que os tugas montaram-te a cilada
na cambança do Rio Farim.
Vejo mais à frente o Domingos,
O valente Ramos,
herói de banda desenhada,
que irá morrer de morte matada
em Madina do Boé.
E tu, Rui Demba Djassi,
de quem eu não sei nada,
a não ser que morreste em 1964,
depois do mítico Congreso de Cassacá ?
Sei ainda que tens nome de rua,
suja e esburacada,
na capital da tua terra...
E o camponês balanta,
Pansau Na Isna,
herói do Como,
guerrilheiro-cowboy,
enfrentando as naves loucas dos tugas
com a sua Kalash de contrafacção ?
Na Amura fez-se história,
diz-me o guia.
Ou a história dos vencedores
que contam a história
de como venceram
os vencidos.
Luís Graça
Bissau, 7 de Março de 2008 (...)
(**) Vd. poste de 14 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7125: Historiografia da presença portuguesa (38): António Silva Gouveia, fundador da Casa Gouveia, republicano, representante da colónia na Câmara dos Deputados, na 1ª legislatura (1911-1915) (Parte IV) (Carlos Cordeiro)
(**) Último poste da série (Ex)citações > 14 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7126: (Ex)citações (99): Sensatez e rigor no Nosso Blogue (Carlos Cordeiro)
Da minha última visita ao local ainda retenho a imponência de uma árvore similar "prostrada" sobre o mausoléu...
Um poilão com pelo menos um século de contemplação da história ?
Mantenhas
Nelson Herbert
Washington DC,USA (***)
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Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 25 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3669: Blogpoesia (27): A velha Amura dos tugas (Luís Graça)
(...)
A velha Amura dos tugas
agora cercada de guinéus
por todos os lados.
Ilha de areias movediças
num mar de belugas,
foi rampa de lançamento de lançados.
Dizem que aqui nasceu Bissau.
De linhas tortas,
as ruas direitas da capital.
Saúdo os ilhéus,
figuras de museu de cera,
de faces mortiças:
à frente, o capitão-diabo,
o bigode farfalhudo,
espadeirando a torto e a eito,
de peito feito
ao fogo do canhangulo.
Mais os seus soldadinhos de chumbo,
que eram uma ternura:
em linha,
em formatura,
nas suas fardas multicolores,
coloniais,
do tempo dos Cabrais.
Davam vivas à Pátria
e à Rainha.
Aqui como em toda a parte,
onde o Império tinha engenho e arte.
Ah! A velha Amura,
inútil baluarte,
com os seus canhões
de bronze,
incandescente...
Casamata,
prisão,
dormitório,
agora panteão,
nacional,
coberto de poilões.
Eram onze
os soldadinhos,
como no jogo de matraquilhos.
E combatentes da liberdade da Pátria,
contei-os pelos dedos da mão.
Que fazes aqui, Amílcar,
que já te mataram, Cabral ?
E de que traições podias falar,
se fosses vivo,
tu, Osvaldo ? E tu, Vieira ?
E quanto a ti, Titina,
que incendiavas paixões
pelo Oio ?
Que fazes também aqui,
jazida entre os poilões,
debruados de branco,
da triste Amura ?
Cuidado, Silá,
que os tugas montaram-te a cilada
na cambança do Rio Farim.
Vejo mais à frente o Domingos,
O valente Ramos,
herói de banda desenhada,
que irá morrer de morte matada
em Madina do Boé.
E tu, Rui Demba Djassi,
de quem eu não sei nada,
a não ser que morreste em 1964,
depois do mítico Congreso de Cassacá ?
Sei ainda que tens nome de rua,
suja e esburacada,
na capital da tua terra...
E o camponês balanta,
Pansau Na Isna,
herói do Como,
guerrilheiro-cowboy,
enfrentando as naves loucas dos tugas
com a sua Kalash de contrafacção ?
Na Amura fez-se história,
diz-me o guia.
Ou a história dos vencedores
que contam a história
de como venceram
os vencidos.
Luís Graça
Bissau, 7 de Março de 2008 (...)
(**) Vd. poste de 14 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7125: Historiografia da presença portuguesa (38): António Silva Gouveia, fundador da Casa Gouveia, republicano, representante da colónia na Câmara dos Deputados, na 1ª legislatura (1911-1915) (Parte IV) (Carlos Cordeiro)
3 comentários:
Caro Nelson,
Na legenda da foto lê-se o seguinte: "O poilão, ainda existente no final dos anos 50, situava-se defronte da residência do chefe do Estado-Maior da Guiné, no tempo em que o autor [General Manuel Themudo Barata] exerceu tais funções".
Um abraço,
Carlos Cordeiro
Portanto, não pode ser o mesmo poilão... Aliás, topa-se pelas dimensões...
Este, o de 2008, está nas imediações do monumento aos Combatentes da Liberdade da Pátria... Fica à direita, se não me engano, das antigas instalações do Governador Geral ou sede do Com-Chefe (para quem está de frente ao edifício)... Foi lá que, em 27 de Abril de 1974, foi preso o Gen Bettencourt Rodrigues, como me foi explicado por um dos meus guias de circunstância, o Cor Carlos Matos Gomes...
Infelizmente não andei à procura dos poilões, de máquina em riste... Tirei outras fotos a outros motivos... O que foi pena: a Amura não está aberta aos turistas... Abriram as portas excepcionalmente nesse dia, 7 de Março de 2008, para os "tugas" irem visitar o mausoléu do Amílcar Cabral e seus companheiros...
Nao tendo sido militar, fui entretanto entre 78/80 atleta (basquetbolista)da equipa principal das FARP (as Forcas Armadas Guineenses)e da seleccao nacional da Guine Bissau. Por conseguinte com acesso franqueado a forteleza da Amura mais concretamente ao polivalente desportivo daquela guarnicao militar...para os treinos diarios... Na altura um privilegio !
Do tudo e mais alguma coisa retido dessas visitas routineiras, tenho presente o numero de "Polons" distribuidos pelos varios perimetros do Forte d"Amura
Alias... da Bolola (outrora um cais fluvial),onde se nao me falha a memoria existia igualmente um exemplar da tal frondosa arvore,a Amura e a "Bissau Bedjo" por toda essa area...quantos "Poiloes" terao sido ceifados, cedendo espaco a urbanizacao ?
Ha quem diga que toda essa aerea era uma especie de santuario de tais imponentes e "sagradas" arvores...por sinal a preferida dos Irans e dos "Djambakoss"...
Ja bem sugeria alguem ha bem poucos dias neste blogue: uma viagem pela Guine d"outrora...de um outro seculo!
O desafio fica assim lancado ao blogue...a de criacao de uma especie de link/rubrica..com fotos de referencia historica,da Guine !
Mantenhas
Nelson Herbert
USA
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