segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7111: Memórias dos Lugares: II Parte - CART 730/BART 733. Bolama e um pouco de história. (João Parreira, 1964/66)


1. O nosso Camarada João Parreira, ex-Fur Mil Op Esp / RANGER / COMANDO da CART 730 / BART 733 e do Grupo “Fantasmas”, Bissourã e Brá, 1964/66, enviou-nos uma mensagem, solicitando-nos a divulgação da notícia da próxima festa do BART 733:
Camaradas e Amigos,

Junto envio a segunda parte da história da CArt 730, referente ao período de cerca de um mês em que a Companhia esteve aquartelada em Bolama.

Dado não ter havido muita actividade militar fora do aquartelamento intercalei alguns dados que julgo serem interessantes.
Original - II Parte - CArt 730 - BArt 733 (Bolama e um pouco de história)



O ARQUIPÉLAGO BIJAGÓS

Da minha parte pouco há a relatar sobre a actividade militar da CArt 730 na Ilha de Bolama pelo que, para complementar, envio alguns dados que julgo sejam de algum interesse para os nossos camaradas Tertulianos, e não só.
Estes dados foram recentemente compilados, sendo alguns deles extraídos de várias fontes, bem assim como algumas fotos de camaradas, aqui usadas com a devida vénia, apenas por se inserirem na descrição dos edifícios.



É constituído por um grupo de 88 pequenas ilhas e ilhéus na costa de Bissau, muitas delas desabitadas. O Rio Geba, o maior da Guiné, desagua no Oceano Atlântico por um largo estuário junto de Bissau,  tendo o Arquipélago dos Bijagós frente à sua foz.

A sudoeste da Ilha de Bolama fica situada a Ilha da Galinhas, para onde eram levados prisioneiros feitos ao do PAIGC. Bolama é a mais perto do continente, e é onde estava localizado o CIM (Centro de Instrução Militar).


Bubaque, tem imensos palmeirais e bosques e a magnífica Praia Bruce.
Outras ilhas: Caravela, Formosa, Maio, Ponta, Roxa, Orango (a mais afastada do continente) etc.

ILHA DE BOLAMA

Em 1964 tinha como Administrador Jorge de Carvalho, e Mártires Lopes era o director do Centro de Informação e Turismo (!!!) da Guiné.
Vista aérea da cidade de Bolama
Cais de Bolama

A Companhia de Artilharia 730, da qual eu fazia parte, sob o comando do Capitão de Artilharia Amaro Rodrigues Garcia,  esteve aquartelada no CIM (Centro de Intrução Militar) em Bolama, de 15 de Outubro a 11 de Novembro de 1964.
O quartel do CIM  era comandado pelo Capitão Câmara Tavares.

Vista aérea do Centro de Instrução Militar

Durante a nossa curta estadia os Oficiais do Agrupamento deram auxilio e prestaram conselhos e manifestaram a sua experiente orientação e até cederam material para a Companhia poder ter eficiente preparação.

Foi assim nesta Ilha que tivemos um terreno mais propício para nos podermos preparar para os combates que se avizinhavam. Desde os locais com alguma densidade, um pouco semelhantes à parte Continental, até ao verdadeiro tarrafo na passagem da Ilha de Bolama para a Ilha das Cobras, conhecemos e experimentámos as dificuldades na progressão e manobra, num terreno totalmente distinto do metropolitano.
Esta preparação tinha ainda a grande facilidade de poder culminar todos os exercícios com fogos reais, numa carreira de tiro improvisada e dificiente, é certo, mas que satisfazia a finalidade a atingir.


Com camaradas no campo de futebol

O campo de futebol ficava no recinto do quartel, pelo que organizávamos muitos jogos que nos mantinham ocupados e davam boa disposição.
Era intenção da Companhia proporcionar-nos restabelecimento rápido de algum cansaço que surgisse, com a visita a uma praia (Ofir) que,  segundo o Comandante,  nos auxiliava na preparação para o combate.
Na realidade apenas nos deram autorização para nos deslocarmos uma única vez a Ofir para “irmos conhecer” a praia. Dado o pouco tempo que nos foi determinado, e por ninguém estar cansado,  julgo eu, ninguém foi preparado para ir tomar banho, nem sequer deu para passear pela praia, ficando-se apenas com a vista.

Praia de Ofir


Visita praia de Ofir: Furs. Parreira; Cruz; Passos; Tavares; Vira; Almeida; Venda; uma criança local, Bragança e Alcides. Em cima: condutor, Fur. Caldas; ? ; Fur. Prates e 3 camaradas

O pouco tempo de permanência não nos permitiu que se verificassem grandes resultados na acção psicológica junto das populações, mas pode-se dizer que os naturais sentiram a saída de uma das primeiras Companhias junto deles, que os apoiou e ao mesmo tempo lhes garantia a segurança numa altura em que o IN que se encontrava tão próximo lhes podia atraiçoar as intenções de paz.

Bolama, “capital” do Arquipélago dos Bijagós,  é composta por vários edifícios de 1º andar, brancos, compridos com longos varandins, com um imenso jardim ao centro e comércio estendendo-se por toda a área.

A igreja situava-se nas traseiras do quartel , ao lado da residência do administrador. Nas proximidades da igreja ficava a escola primária. Havia ainda o liceu,  só para raparigas, onde estudavam as futuras professoras.
Os locais mais frequentados pelos militares, onde se tomava café e bebia cerveja,  ficavam junto ao cais e eram o restaurante do Zeca Azevedo e o bar do Ti Augusto, este devido às duas sobrinhas bonitas e simpáticas que com ele trabalhavam.
A ilha tem vegetação tropical, palmares, imbondeiros seculares, extensos matagais de tarrafo (arbustos duros e baixos). Existem muitos pássaros, cobras venenosas (muitas cospem o veneno para os olhos das vítimas) e um lagarto enorme com cerca de 2 metros a que dão o nome de linguana.

O Administrador de Bolama era o guineense Jorge Garcia de Carvalho que estudou no Liceu Sá de Miranda,  em Braga.

Palácio de Bolama (sede da antiga Câmara Municipal)

Tinha um Hospital, onde um dos médicos era o Dr. Apresentação Fernandes, natural de Goa. Existia também o Parque Infantil do Jardim Teixeira Pinto, o Jardim Honório Barreto, com a Piscina Municipal ao lado.



Neste dia de Outubro o periquito foi visitar uma morança, e pelo sim pelo não de arma na mão


Arredores de Bolama

Monumento a Ulisses Grant (antigo Presidente dos EUA)
(O Monumento foi erigido em 1955 no espaço fronteiro aos Paços do Concelho de Bolama, é da autoria do escultor Manuel Pereira da Silva, natural do lugar das Portelas, Vila Nova de Gaia).
Nos primeiros três séculos após o descobrimento, a ilha de Bolama não suscitou a fixação dos portugueses que se limitaram à extracção de madeiras. Só em 1753 o capitão-mor Francisco Roque Sotto Maior assentou na ilha de Bolama um padrão com as armas de Portugal.

A questão de Bolama
O capitão da marinha inglesa Philip Beaver, seduzido pela descrição de Bolama, constitui uma sociedade para estabelecer em África uma colónia de gente livre “(...) como meio de civilizar os negros (...)” (1); para atingir o seu objectivo desembarcou 275 colonos britânicos em Bolama, no ano de 1792, vindo a abandoná-la dezasseis meses mais tarde.
Posteriormente, a Inglaterra, prevendo a incapacidade de Portugal dominar o território (apesar de saber que o Régulo de Serra Leoa lha tinha dado em 1753), não hesitou em tomar posse da Ilha, tanto em 1814 como em 1827.
É neste contexto que, em 1827, Sir Neil Campbell, Governador das possessões inglesas na África Ocidental, impõe aos régulos de Bolola e Guinala dois tratados para a cedência: um de Guinala e outro da ilha de Bolama e respectivas ilhas adjacentes.
A Inglaterra surge assim com pretensões à posse de Bolama, fundamentadas em acordos e aquisições feitas por Beaver (1792).
O 1º Tenente Francisco Muacho, Governador de Bissau em 1828, conhecedor das intenções inglesas, conseguiu negociar com os reis de Canhabaque e com os Beafadas, a cessão da Ilha à Coroa de Portugal e no ano seguinte, o Coronel de milícias Joaquim de Matos obtinha, por sua vez, do régulo dos Bijagós a cedência da ilha das Galinhas.
No ano de 1835, com a criação do cargo de Governador Geral, com todos os poderes civis e militares, a Guiné passou a constituir um distrito destacado da Província de Cabo Verde.
Em 5 de Novembro de 1836, o Governador da Província, Coronel Joaquim Marinho, num relatório, referia igualmente as intenções dos países vizinhos, face ao território:
“Na Guiné nem a nossa bandeira nem as nossas fortalezas eram respeitadas pelos estrangeiros (...), a ocupação de Casamansa, de Bissau e de Bolama eram sonho dourado dos nossos ambiciosos vizinhos (...) a permanência constante de vazos de guerra ingleses (e franceses) na Guiné, espreitando o momento próprio para dar o assalto (...) onde era efectiva já a nossa ocupação, demonstra a evidência que estes dois países França e Inglaterra estavam combinados a repartirem entre si aquele rico torrão”.
Várias foram as tentativas estrangeiras, nomeadamente britânicas, de intervir a cada passo na Guiné, fazendo, entre 1838 a 1869, larga ostentação de poderio naval nas respectivas águas.
De todas essas tentativas consideramos que as mais graves ocorreram em 1859 e em 1861, quando o Governador da Serra Leoa mandou arvorar a sua bandeira em Bolama e quando os Ingleses consideraram a Ilha parte integrante da colónia de Serra Leoa, respectivamente.
Portugal reagiu, apresentando uma proposta para que a Inglaterra desistisse das suas pretensões ou, então, poder-se-ia recorrer a arbitra
gem. A Inglaterra, como já se tinha estabelecido na Ilha, não só recusou a proposta, como ainda, desencadeou violentas pressões e ataques armados à colónia do Rio Grande.
Como resposta, o Governo de Cabo Verde decidiu libertar do domínio inglês a ilha de Bolama; fê-lo pela força e sem esperar ordens do Governo Central.
Razão para a existência do monumento em Bolama:
Perante este acontecimento, a Inglaterra não protestou e resolveu aceitar a proposta anterior, tendo sido designado para árbitro o Presidente dos Estados Unidos da América, Ulisses Grant, que, no dia 21 de Abril de 1870, proferiu a Sentença, atribuindo a Portugal plena razão, tendo por fundamento a descoberta da Ilha e do “(...) território fronteiriço na terra firme (...) por um navegador português em 1446 (...)”, pela ocupação de “(...) toda a costa na terra firme defronte da Ilha (...)” (3) e pela da própria Ilha.
As intenções inglesas não se reduziam a Bolama. Sá da Bandeira, no seu livro “O tráfico da escravatura e o Bill de Palmerston”, escreve que Lord Palmerston recebera um relatório, em 1836, onde era apresentada uma proposta útil para reduzir o tráfico da escravatura e promover o comércio britânico, baseada na ocupação imediata das colónias portuguesas ao norte do Equador, entre as quais Bissau e Cacheu.
A França, por seu lado, celebrou com a Inglaterra, em 1845, uma Convenção para assegurar a completa supressão do tráfico da escravatura, na qual se previa a fiscalização das águas das costas orientais e ocidentais da África, desde Cabo Verde até 16 graus e 30 minutos de latitude meridional, tendo o Governo Português aceite a referida Convenção, a coberto da qual era inegável a ocupação pela força de toda a Guiné, sem que Portugal tivesse direito a reclamar.
Com a sentença arbitral, referente à ilha de Bolama, a “(...) fronteira sudoeste estava, pois, demarcada; as restantes acabaram por ser delimitadas com a França (...)”.
A 18 de Março de 1879, o território é proclamado “Província da Guiné”, passando a sua administração a ser independente de Cabo Verde, e sendo a capital da nova Província estabelecida em Bolama. (Fonte:. Francisco Proença de Garcia).
A povoação de Bissau foi elevada a vila em 1859 e a cidade em 1914, passando, em 9 de Dezembro de 1941, Bissau a ser a capital da Guiné Portuguesa. Esta mudança de capitais tornou-se necessária devido,  entre outras dificuldades,  à falta de água potável em Bolama.

Edifício utilizado na altura em que Bolama era a capital


Estátua Honório Pereira Barreto
(É de destacar nesta época a figura do Guineense Honório Pereira Barreto, provedor do Cacheu em 1834, o qual teve uma acção notável à frente do governo da Guiné)

Os três furriéis lisboetas da Companhia
Expressões artísticas
Os Bijagós dançam dois motivos que lhes são peculiares: A dança do “Vaca Bruto” e do “Peixe Verga” sinónimo de tubarão. As classes de idades que intervinham na dança era “cabaró” e “canhocame”.

Vaca Bruto é a Máscara mais divulgada. Muito frequente nas festividades, representa uma cabeça de boi. É talhada em madeira, com chifres autênticos, olhos de fundos de garrafa. Há máscaras que representam ainda tubarões, porcos, hipopótamos e outros animais.

Peixe Verga – A dança do tubarão-martelo
Cabaro são os jovens dos 18-27. Período de liberdade, festas, danças e conquistas amorosas. Algum trabalho regular (limpar os caminhos da aldeia e participar em todos os trabalhos que exigem boa condição física e capacidades), apoio às actividades agrícolas e à produção do óleo de palma.

Canhocám são os adolescentes dos 12-17. Participação nas actividades produtivas. Subir às palmeiras, artesanato e iniciação às regras sociais (segredos das plantas).
Guarda da aldeia.
As espécies utilizadas para alimentação e muito apreciadas são as gazelas e os gansos do mato.


Armado de máquina fotográfica numa rua de Bolama

Convívio entre homens “grandes”

Hotel


Com duas africanas seus bébés e camaradas
História da Imprensa da Guiné:

A Imprensa Nacional da Guiné,  a mais importante da Província,  tinha uma escola de artes gráficas onde trabalhava há 34 anos o linotipista Macedo.

O primeiro jornal da Província, propriedade de Francisco Veiga, que acumulava o cargo de editor e redactor principal, tinha o título Pró Guiné , orgão do partido republicano português, era impresso e composto na Imprensa Nacional de Bolama, mas com redacção e administração em Bissau. A publicação não ultrapassou a dezena de números.

No ano de 1930,  Manuel Pereira Manso montou uma tipografia em Bissau, e assim apareceu um novo jornal, Comércio da Guiné,  tendo como director, redactor e administrador, o Engº. Júlio Carlos de Faria e Lapa, Honório Sampaio e Artur Nunes Tiago, respectivamente.
O seu último número, o 20 do jornal, ocorreu em 18 de Abril de 1931, coincidindo com o movimento insurreccional, no qual o corpo director tomara parte activa.
Entretanto havia publicações efémeras, como o número único 15 de Agosto,  da Missão Católica de Bolama,  dirigido pelo Cónego Miranda de Magalhães e datado de 1932.

Nesse mesmo ano a polícia de Bolama editava o número único 5 de Outubro,  com o noticiário das cerimónias realizadas naquela data.

Em 1938 o Sport Lisboa e Bolama publicava outro número único que para lá do noticiário desportivo inseria um artigo do Padre A. J. Dias com uma resenha histórica da Ilha.

Noutro número único está Guiné Agrária,  publicado quando o Governador Viegas foi agraciado com a Legião de Honra.

Até que em 17 de Dezembro de 1947, tendo como director o Padre Afonso Simões, surgiu o Arauto,  tendo como divisa Dilatando a fé e o império.
Neste ano de 1964 a tiragem andava à volta de dois mil exemplares. Era dirigido pelo franciscano José Maria da Cruz, auxiliado por outros padres franciscanos.
Tinha um noticiário actualizado que a Onda Curta da Emissora Nacional enviava para o Ultramar

Foram extintos, o Boletim Cultural que era publicado irregularmente, bem como os Ecos da Guiné, a Voz Académica e o Bolamense.
Assim, O Arauto era o único jornal diário que então se publicava  na Guiné.

Além do O Arauto neste ano de 1964, existia o jornal dos alunos da Escola Industrial e Comercial de Bissau, Terra Ardente , o Sempre em Frente (do exército) e o Mantanhas do BCaç 507, sediado em Bula, do Ten Cor Hélio Felgas.
Em 3 de Novembro de 1964, foi executada a primeira missão na Ilha de Bolama, já que chegara ao Comando do Agrupamento 17 a notícia de que foram ouvidos tiros suspeitos no campo de aviação de Lala, situado a 6,7 kms da cidade.

Saiu de imediato o 3º. Grupo de Combate que se encontrava de piquete, e em “batida em linha” ao local não reconheceu a presença de qualquer elemento IN, mas sim de caçadores da população.

Tendo chegado a Bolama tive contacto pela primeira vez com algumas notas e moedas que circulavam na Guiné: Notas de 50$00; 100$00; 500$00 e 1.000$00; Moedas de 5, 10, 20, e 50 centavos, 1$00, 2$50, 5$00, 10$00 e 20$00.

O 1º. Sgto. Maurício Clemente pagou-me 2.490$00 (de D. Port.?) e 800$00 (Econ.?) não me tendo explicado a que se devia, penso eu, daí o motivo das minhas dúvidas...



Curiosidades postais:
1) A primeira emissão, conhecida por "Guiné Grande" designação que se deve à sobrecarga Guiné em letras grandes aplicada nos selos de Cabo Verde , foi segundo John Marsden, comerciante e filatelista britânico, que viveu na Guiné pelo menos desde 1881 até 1885,  emitida no dia 1 de Abril de 1881; nos arquivos da Casa da Moeda de Lisboa, consta que uma primeira remessa com selos de 25, 50 e 100 Réis, e já sobrecarregados, fora enviada para a Guiné em 6 de Outubro de 1879. Estes selos chegaram à Guiné em fins de Novembro desse ano 1879.
O Sr. Pedro Inácio Gouveiã declarou que fora ele quem,  por meados de 1882, tendo faltado em Bolama selos de várias taxas dos de sobrecarga GUINÉ em grandes caracteres, mandara sobrecarregar com a mesma palavra, em caracteres mais pequenos, na imprensa do Governo da Província alguns selos de Cabo Verde que existiam em cofre, ainda do tempo em que a Guiné não era província autónoma".
Estamos assim perante a 24 emissão de selos da Guiné, os chamados "Guiné Pequena".
Nesse ano e com data de 2 de Maio de 1885 publica no Boletim Oficial uma notícia de despedida, anunciando a sua partida para Lisboa. É também a partir de meados de 1885, que se conhecem as famosas cartas com os Guiné Pequenas, dirigidos a Marsden, em Lisboa.
Da terceira emissão da Guiné (com as novas cores), sabemos que os primeiros selos foram enviados para Bolama no dia 18 de Agosto de 1885, sendo a remessa constituída pelas taxas de 10, 25 e 50 réis, as restantes taxas tendo sido posteriormente remetidas.

2) Nos anos de 1908 e 1909 na Estação Postal de Bissau havia falta de inteiros postais (selo impresso sobre uma banda de papel, um sobrescrito ou bilhete postal) o que causava grande transtorno aos habitantes, pois que na falta deles e principalmente os de 10 reis destinados ao serviço interno, não lhes deixava outra alternativa senão enviar uma carta cujo porte era de 25 reis, por muito pequena que fosse a mensagem a enviar.
Tal situação era extremamente lesiva aos interesses da população, mas muito lucrativa à estação postal de Bissau que assim aumentava as suas receitas.
Os custos inerentes ao transporte e distribuição de um inteiro postal eram os mesmos que os de uma carta, porém em vez de arrecadarem como receita 10 reis dos inteiros postais acabavam por arrecadar 25 reis equivalentes ao porte da carta.
Havia portanto uma mais-valis de 15 reis, o que na época era significativo.
Cansado desta situação o cidadão António Neves de Castro Júnior, farmaceutico, resolveu criar os seus inteiros postais particulares.
Não havendo papel cartolina, recorre a papel almaço e corta uma pequena folha de 14 x 9 cms e faz desse pedaço de papel um presumível inteiro postal.
Na frente afixou um selo de 10 reis da emissão de D. Carlos I no canto superior esquerdo, ao centro a legenda manuscrita “Bilhete Postal” assim como o endereço do destinatário Carlos Costa Carvalho, farmacêutico em Bolama.

Na frente do pseudo-inteiro postal aparece uma alimária (asno) com uma insignificante e envergonhada genitália exposta, apelidada pelo funcionalismo como “Appendice Immoral”.

Texto do postal : 

"Como sabes há tempos illustrei um postal da collecção deste que vae juncto, com uma lua cheia, para o Campos e aqui não aceitaram porque podia offender alguém! O que tive que a mandar dentro da tua carta. Vae agora este (ou por outra não sei se irá porque talvez o correio o achem offensivo também) para começares a tua colecção e para os teus amigos saberem em que estado está a repartição dos correios; ora como não estou para gastar 25 rs e não quero ser explorado, pois há já 2 anos quando aqui estive, não havia postaes, eis o motivo porque me sirvo d`este bocado de papel.
"Para outro postal te explicarei as misérias que n´este correio há e que eu tenho notado.
"Peço-te que me mandes na volta da canhoeira o condensador, encomenda do enfermeiro. E do Campos o preço das ampolas".
Este inteiro foi presente ao balcão da estação postal de Bissau que a aceitou, não tendo o funcionário de serviço feito qualquer reparo, obliterando-o com a marca de dia da estação (Estação Postal/Bissau/-3SET09.
No entanto o chefe da estação postal de Bissau não se conforma e remete-o por ofício, que a seguir se transcreve, à Repartição Superior dos Correios para apreciação.
Estação Postal de Bissau – Nº. 153 – Série 1909
Urgentissimo, Bissau 3 de Setembro de 1909.
À Repartição Superior dos Correios da Guiné em Bolama.
Da estação postal de Bissau Julgando o signatário melindroso o presente bilhete-postal para os empregados do quadro a que pertence visto que os correios não têm culpa de não possuirem bilhetes, porque este serviço pertence à Repartição de Fazenda, deixa ao alto critério de S.Exa. o Director a apreciação do referido bilhete. O Chefe (ass) Alfredo Nunes de Carvalho.

Em resposta a 10Set1909, a Repartição Superior dos Correios em Bolama não se pronuncia sobre a validade ou não do bilhete-postal, mas convida a estação a requisitar os inteiros postais de que carecia, uma vez que existiam aos milhares no cofre central (aut. Elder Manuel Pinto Correia).

A história postal das nossas ex-Províncias está recheada de muitos casos semelhantes, com contornos pitorescos e hilariantes.
Documentos históricos sobre Bolama


A colecção de livros sobre Bolama dos Arquivos Históricos Nacionais da Guiné-Bissau consiste em cerca de 80 mil; estes documentos foram primeiro registados em fins de 1980.
Inicialmente foram arquivados em 279 caixas. Os documentos que se encontravam em salas abandonadas e degradadas foram transferidos da Câmara de Bolama, pelo seu Director e o respectivo pessoal, para os Arquivos de Bissau em 1988. Antes dessa data, o arquivista ou historiador Guineense provàvelmente nunca mexeu no material.
Inclui todos os documentos da administração pública que foram encontrada em Bolama em 1988. Cobre o período de Bolama, como capital (1879 a 1941), sendo alguns documentos relativos a 1870, e outras secções continuam até 1960.
Esta colecção foi duramente afectada pela guerra de 1998/99. O primeiro registo foi completado em 1990 e foi publicado como Catálogo Sumário.
Uma renovação física dos Arquivos Históricos Nacionais no INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa) teve lugar em 2007 e 2008.

Só agora, uma década depois da guerra é que foram providenciadas condições de tratamento e armanezamento dos documentos.
Das originais 279 caixas apenas foram encontradas 85 intactas depois do conflito militar,que podiam ser reconstituídas. As restantes encontram-se misturadas, particularmente os documentos não tratados referentes às autoridades alfandegárias de Bolama.
Cerca de 10% podem-se perder. Aproximadamente 50% da colecção está em condições aceitáveis. Estes documentos estão legíveis e depois de algumas medidas de preparação,podem ser digitalizados sem problemas. Outros 25% da colecção podem ser abertos mas têm bolor.
A salvação desta parte só será possível com um intervenção rápida e subsequente digitalização. Cerca de 15% está em muito más condições.
Só depois de mais análises sobre este projecto e depois de um relatório detalhado se poderá concluir do estado de conservação e valor histórico. Não se pode tocar noutros 10% da colecção pois o papel está a desfazer-se.
Em Janeiro de 2009 foram feitas mais pesquisas em Bolama e foram encontrados mais documentos do período colonial da Ilha, mas encontram-se seriamente vulneráveis à deterioração.
Outros documentos relevantes do Tribunal de Bolama estão arquivados nos imensos e desorganizados arquivos do Ministério da Justiça em Bissau, também em condições alarmantes, devido aos arquivos estarem no sotão do velho Palácio da Justiça com o telhado em péssimas condições.
A colecção de Bolama é de alto valor histórico. Reflete a troca fundamental do regime colonial português da administração “externa” (dirigida das Ilhas de Cabo Verde) a presença política e significativa de Portugal e a penetração económica da Guiné continental.
Nesta fase prometedora da investigação histórica podem ser identificados cinco fases:
1) Laços de comércio externo e relações económicas, vinculados a Portugal; documentos do porto de Bolama, um dos dois mais importantes portos antes de 1941; e autoridades alfandegárias;
2) Documentos relacionados com a campanha de pacificação; os Guineenses continentais foram conquistados em 1915; enquanto os da Ilha dos Bijagós continuaram a resistir até 1936;
3) Estatuto dos “indígenas” e o desenvolvimento das leis racistas, documentos da Administração Pública de Bolama;
4) Organização da administração Portuguesa; funções internas e relações entre o centro de Bolama e os postos da Guiné continental;
5) Personalidades dominantes Luso-Africanas no cruzamento da história pessoal e nacional.
Para tratamento e armazenamento seguro, os documentos da Ilha de Bolama e do Ministério da Justiça serão transportados para os Arquivos Históricos Nacionais do INEP.
O edifício dos Arquivos foram renovados em 2007-2008 e oferecem agora um melhoramento notável com facilidades de armazenamento, bem como com funcionários treinados em examinar cuidadosamente os materiais arquivados.
O Arquivo e o pessoal suplementar serão treinados ainda mais nas técnicas de digitilização e nos aspectos básicos das análises históricas necessário para melhor compreensão dos documentos da colecção de Bolama.
Depois da reorganização e análises preliminares da colecção completa de Bolama no que respeita ao estado de conservação e ao valor histórico será desenvolvido no futuro um maior projecto de investigação.

(continua)

Um abraço de amizade para todos,
João Parreira
Fur Mil Op Esp / RANGER / COMANDO da CART 730 / BART 733



______________

Notas de JP:
History of Bolama, the first capital of Portuguese Guinea (1879-1941), as reflected in the Guinean National Historical Archives.  Dra. Birgit Embaló, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa 2009 award – pilot project - £9,900 for 6 months 

Período de 11 a 23 Nov64 – A CArt 730 ocupou o “Bivaque” de BIRONQUE

 
_________

Nota de MR:

7 comentários:

Torcato Mendonca disse...

Gostei meu caro camarada João Parreira.
É para continuar.Espero eu.
O 1º M.Clemente já faleceu. Se fosse vivo teria talvez 75? Não sei.
Estas Memórias são,quanto a mim, marcos importantes de nossa passagem, com Povo, pelo continente africano.

Sou Português e também GOSTO!

Um abraço do Torcato

Anónimo disse...

Amigo João,

bom trabalho, qundo é que nos encontramos?

Escreve mais pois tu sabes muito sobre aquela terra.

Um abraço, to comprimento da estrada Barbacena/Vila Fernando.

Mário Fitas

manuel sousa-(ex.fur.mil) disse...

Bom dia camaradas:
- Sou o ex, fur.mil. MSousa da 1ªCART/Bart/6520, e cheguei a Bolama no dia 2 de Abril de 74, integrando uma comissão para recepção das instalações para acomodar o Batalhão, que durante esse mês fez o IAO. Nessa fase fiz de inimigo para treino militar das 3 companhias. Em Bolama festejamos de forma calorosa (inesquecível) a revolução de 25 de Abril, com 1 episódio altamente vivido e estará presente na memória de todos nós. É bom ver imagens que nos são familiares, e nos fazem reviver épocas já distantes, e que sentimos a necessidade de transmitir aos familiares e amigos . 1 abraço a todos que se revejam nesta mensagem, até breve.

Nené Montenegro disse...

Gostei muito da historia da minha terra ilha dos Bijagos. o Senhor conhece muito bem a nossa gente. Eu de Bubaque.
Meus cumprimentos

jpscandeias disse...

Falta a referência a ilha da Cobras onde estava um destacamento do CIM, um pelotão comandado por um furriel. A esta ilha chegávamos ou saíamos de unimog na maré vazia. Fui lá algumas vezes em 73/74 estava lá o furriel Janeiro. Foi nesta ilha que ocorreu um trágico acidente entre o nosso exército e a marinha provocando uma baixa mortal na marinha. Em 73 ou 74 a sessão, que era comandada pelo furriel António Tanganhal, ao fazer a picada à pista acionou com o “burrinho do mato” uma mina anti-pessoal que felizmente não provocou feridos graves, mas obrigou o pessoal a vir a pé até ao quartel. Apesar de já passarem quase 4 horas do horário previsto não foi ordenada nenhuma operação de busca. O comandante do CIM era o coronel Emiliano que todos os sábados, antes do almoço, fazia a visita a rigor às instalações, entre as personagens de que se fazia acompanhar destacavam-se o Borbinha Pires (furriel) e o 2º Carola.
João silva ex-furriel at. inf. Ccav 3404, Ccaç 12 e CIM

Anónimo disse...

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Unknown disse...

Ola Joao,
obrigado pela esta linda historia.
Permita-me colocar uma pergunta sobre "O Administrador de Bolama era o guineense Jorge Garcia de Carvalho que estudou no Liceu Sá de Miranda, em Braga. "
pode ser que se trata de Joaquim Garcia de Carvalho nao de Jorge???

Cumprimentos desde Alemanha,

Aquilis Garcia De Carvalho