Camaradas,
Vivemos uma fase das nossas vidas onde a palavra gratidão é, amiúde, pronunciada. E diga-se, em abono da verdade, que o seu simbolismo reflete uma insuperável crença, tendo em conta o momento difícil que todo o mundo atravessa. A pandemia, covid-19, trouxe-nos inevitáveis preocupações.
A humanidade é agora confronta com um inimigo invisível e cujo território se espalha por todo o globo terrestre. Este inimigo é traiçoeiro, não conhece pátrias e nem tão-pouco as cores dos seus cidadãos. Aqui não há ricos nem pobres. Todos são vulneráveis ao traiçoeiro vírus.
Reflito, conscientemente, sobre a enorme vontade de todos os profissionais de saúde que, num subtil gesto humano em salvar vidas, se expõem ao perigo, mas jamais recusando advertir a população quanto à gravidade que a pandemia lançou para populações que são agora o espelho de um medo que cavalgou deliberadamente fronteiras.
Trago à estampa, para os meus camaradas ponderarem, um texto sobre a gratidão em tempos se guerra, mas contra um inimigo com rosto, onde certamente sentimos o quanto fora importante essa aproximação com uma população civil que vivia “encaixada” entre as partes no conflito.
O texto integra o meu livro “ Um Ranger na Guerra Colonial Guiné-Bissau 1973/74 Memórias de Gabu”.
Os conflitos e a dedicação do povo
Gratidão
Olhares distantes das mulheres grandes
Há histórias hilariantes de vida onde a encruzilhada da guerrilha se cruzou com a nobreza exótica de gentes que compartilhavam sentimentos comuns. A gratidão do povo guineense, no dar e receber, era enorme. O confronto no terreno, sendo real, não eliminava de todo um contacto permanente com uma população civil que se desfazia no ato “de bem servir” a tropa tuga.
Não vou, por razões realmente díspares, debruçar-me sobre acontecimentos reais da chamada guerrilha no terreno a qual, na minha modesta opinião, estava, aparentemente, condenada ao fracasso. Negociar? Talvez! Restava saber quando e como o processo poderia eventualmente evoluir.
A Guiné apresentava, no seu todo, um cenário deveras perspicaz tendo em conta a sua curta dimensão territorial e a forma como o PAIGC controlava os buracos no espaço. As emboscadas, ou os ataques aos quartéis, teriam pressupostamente um maior ronco se os guerrilheiros fossem possuidores de conhecimentos mais profícuos sobre a sua minuciosidade em usar as armas, ou na conceção mais exata em preparar uma guerrilha que, para nós, se apresentava transversalmente desigual.
O PAIGC contava com a ajuda de guerrilheiros cubanos que comandavam alguns dos estratos operacionais. Comentava-se, à época, que a sua operacionalidade se assumia deveras importante nos confrontos. Tinham largos anos de experiência na guerrilha, comentava-se no interior dos arames que delimitavam os aquartelamentos no mato.
O IN abastecia-se com armamento russo, sendo disso exemplo as kalachinikovs, normalmente utilizadas nos confrontos diretos, a que se associavam armas de calibre superior. Ainda assim, as nossas tropas debitavam capacidades quando deparadas com o conflito. Foram heróis!
Esta minha análise, embora sintética, enquadrou-se em absoluto quando pela primeira vez me deparei com a fragilidade, penso eu, do IN. Estávamos no mês de novembro de 1973. Na transparência de um dia levado ao êxtase, tinha completado 23 risonhas primaveras, sendo que da metrópole tinham chegado queijos de ovelha e enchidos alentejanos, comestíveis enviados carinhosamente pela minha saudosa mãe, sendo que o “material”, embora escasso, foi de pronto devorado pelos meus companheiros de lides, lembro-me que pelo meio da festança e das muitas cervejas emborcadas, chegou, inesperadamente, uma mensagem que nos deixou algo desalentados.
Cerca das quatro horas da tarde, e sem que nada o fizesse prever, fui chamado ao capitão Ramalhete, o militar graduado que controlava o gabinete de operações, que me colocou a par das novidades acabadinhas de chegar: “temos conhecimento de um grupo IN perto da tabanca (não me lembro do seu nome), sendo urgente a nossa intervenção. Prepare o grupo de imediato e siga para o terreno”. E assim foi.
A estrada ligava Nova Lamego a Piche. Uma hora depois estávamos em contacto com a realidade da guerrilha. Em pé, e de peito aberto, o Jau (guia), já conhecedor do perigo que a situação impunha, aconselhava a deitar-me uma vez que o risco ganhava uma maior grandeza.
Vincando a minha condição de ranger, tentei apaziguar as hostes porque a reação do IN, à primeira vista, parecia-me algo dispersa. A sua cadência de tiro um pouco anárquica e os sons da sua algazarra confusa. O certo é que o tiroteio serenou e a malta, antes de anoitecer, retirou sem prejuízos de maior monta.
No dia seguinte, em reconhecimento ao local, constatou-se que se tratou de um grupo, quiçá em instrução, que deixou antever inexperiência, permitindo que o pessoal no terreno não tivesse sofrido sequelas físicas, nem tão-pouco baixas para engrossar o rol de jovens infelizes tombados em combate.
Lembro a maneira como o meu camarada ranger Rui Fernandes Álvares, furriel miliciano, e do meu curso em Lamego, ironizou a situação quando chegado ao quartel e comentou o diabólico contacto: “vi um turra a fugir, apenas com uma perna, de arma na mão e a dar tiros em todas as direções. Fugia que nem uma lebre”.
Depois, embevecia-se a fazer o filme ao pormenor e a malta ria que se desunhava. O Rui era um rapaz de bom trato, com um coração enorme e oriundo do concelho de Boticas. As suas telas cinéfilas, entretanto, desenhadas, eram divinais. O seu nome jamais me fugiu da memória. A sua inclinação para criar um bom ambiente era brilhante. Um moço porreiro. Brincava com as fatalidades da guerra.
O Rui, tal como a maioria da rapaziada que pisava o palco da guerrilha, não meditava, creio, a preceito com os buracos impensáveis que a guerra impingia ao infeliz soldado chamado “carne para canhão”, propunha-se, isso sim, a disfarçar os confusos e agrestes contornos que o conflito colocava no terreno.
Éramos jovens. Não temíamos as adversidades que o rosto da mata adensada e das estreitas picadas impunham. E tantas foram as ocasiões em que a despreocupação em cima do Unimog, já caquético, nos conduzia a uma pura brincadeira não temendo o momento seguinte.
Recordo uma tarde a caminho de Piche a viatura que seguia atrás embater na traseira daquela que rolava à sua frente e a malta a atirar-se para o chão embrenhado entre as granadas da bazuca, do morteiro 60 e das G3 que transportávamos nas mãos. Um arrepio entrou-me no corpo dado que os arranhões provocados nas minhas pernas e braços deixaram marcas. Um “acidente” que, felizmente, não causou vítimas a bordo. Tudo correu bem. Mas… ficou o aviso.
Colocando de parte as ações da guerrilha, e as vitimizações que ela provocou, vou referir uma alegação que sempre considerei nobre: A GRATIDÃO! Não me recordo que em tempo algum tivesse sentido a nefasta opinião que a população guineense se mostrasse desordeira sempre que solicitada a um eventual pedido para uma pontual colaboração e humildemente reconhecia que a nossa tropa era um meio intervencionista para a sua própria sobrevivência.
Dar e receber apresentava-se como uma reciprocidade maioritariamente perfeita. Reconheço que a sua posição no meio territorial não se apresentava nada fácil. Lidar com duas frentes da guerrilha, manifestava uma assimetria desigual. De um lado os guerrilheiros do PAIGC, homens eventualmente conhecidos na tabanca, filhos da terra, familiares, e com quem amiúde trocavam opiniões, assumindo-se estes como os verdadeiros mestres para libertarem o território dos ditos invasores brancos; do outro, a tropa “tuga” que lutava para defender pressupostos direitos alheios, desconhecendo por completo as razões pelas quais expunha o seu corpo à bala. Uma situação dúbia que determinava a neutralidade de uma população carenciada e sobretudo sofrida.
Neste contexto, ter-me-ei apercebido da verdadeira ação do povo. Lidar com as duas faces da moeda não era fácil. Um dia tivemos conhecimento que numa tabanca situada na zona de Gabu o PAIGC se havia ali instalado. A aproximação à tabanca careceu de cuidados redobrados. Mesmo assim lá chegámos sem problemas que afligissem o grupo. A nossa ação foi pronta.
As informações recolhidas no local foram, a princípio, escassas. O chefe de tabanca dizia desconhecer a existência de guerrilheiros inimigos naquele local e era convictamente apoiado por quase toda a população. Só que pelo meio da conversa alguém se descuidou. O Jau, perito nestas andanças e sempre atento, apercebeu-se e toca a pôr o homem que bufou a confessar.
Ficámos a saber que um grupo de guerrilheiros pernoitou na noite anterior na tabanca, mataram uma vaca, comeram e beberam, fizeram uma festa e ao romper da aurora partiram para um novo rumo.
Esta conceção, tida como perfeitamente atendível, sublinha o reconhecimento de um povo em guerra que brigava, apenas, pela sua sobrevivência. Aliás, a forma como toda a população se entregava a uma missão plenamente percetível, deixava antever que o seu sentimento puro de dar e receber não suspendia os começos que a guerrilha, desde o seu início, lhe propusera.
Numa viagem memorial aos idos da década de 1970, recordo os tempos passados na Guiné em que recebi e dei momentos de enorme gratidão. Um abraço sentido para o povo da Guiné!
Um abraço, camaradas,
José Saúde
Fur Mil OpEsp/RANGER da CCS do BART 6523
Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
20
DE FEVEREIRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P21924:
(Ex)citações (382): O 1º Cabo RD "Estraga a Tábua" que eu conheci em
1962, no então BC 10, mais tarde, RI 19, Chaves (E. Esteves Oliveira)
9 comentários:
Zé, foi pena não teres registado o nome da Tabanca... Era população fula ? A vaca abatida fazia parte do "imposto revolucionário" cobrado...No meu sector, L1, em 1969/71, a duplicidade era sobretudo das populações balantas que tinham parentes no mato (Nhabijões, por exemplo)... Em relação aos fulas,o PAIGC usava aqui o terror... Ab, Luís
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(...) Lidar com as duas faces da moeda não era fácil. Um dia tivemos conhecimento que numa tabanca situada na zona de Gabu o PAIGC se havia ali instalado. A aproximação à tabanca careceu de cuidados redobrados. Mesmo assim lá chegámos sem problemas que afligissem o grupo. A nossa ação foi pronta.
As informações recolhidas no local foram, a princípio, escassas. O chefe de tabanca dizia desconhecer a existência de guerrilheiros inimigos naquele local e era convictamente apoiado por quase toda a população. Só que pelo meio da conversa alguém se descuidou. O Jau, perito nestas andanças e sempre atento, apercebeu-se e toca a pôr o homem que bufou a confessar.
Ficámos a saber que um grupo de guerrilheiros pernoitou na noite anterior na tabanca, mataram uma vaca, comeram e beberam, fizeram uma festa e ao romper da aurora partiram para um novo rumo. (...)
Caros amigos,
Esta é a segunda vez que se publica estas mesmas afirmaçoes do amigo José Saude em como um grupo de guerrilheiros teria pernoitado numa aldeia no trajecto NLamego-Piche, mas sem indicar o nome desta Tabanca. Acho que nunca a podera indicar porque nao existe.
Numa guerra tudo pode acontecer, mas seria melhor se o José Saude fosse mais concreto, indicando o nome desta localidade para assim podermos aferir da possibilidade de ter acontecido como ele diz. Sera que nessa altura existia uma Tabanca habitada entre NLamego e Piche e que nao tivesse um destacamento de tropas ou milicias?
Todavia, nao me canso de dizer que, a comunidade fula na sua generalidade, seguindo as orientaçoes dos seus chefes tradicionais (Régulos) dentro de uma estratégia de defesa do que se pensava serem territorios legitimos por direito e conquista, tinham optado pela aliança com Portugal e todos os régulos, assim como seus irmaos e primos adultos eram oficiais (Alferes?) de segunda linha e chefes de Pelotoes de milicias de modo que eram, de facto, a primeira, a verdadeira e a mais temida autoridade das populaçoes nas zonas por eles regidos no Chao fula. Desta feita, na minha opiniao, era de todo improvavel acontecer o cenario descrito neste Poste.
A realidade da guerra no Sul do pais era uma coisa e no Leste/Nordeste era outra, nao devemos confundir e baralhar as pessoas sobre o assunto. A comprovar o que acabo de dizer ninguém ignora as represalias que cairam sobre este grupo populacional em geral e sobre os chefes tradicionais em particular e que ainda hoje tem suas repercussoes sobre os direitos civicos e politicos desta comunidade a nivel do pais, constantemente questionados e postos em causa em virtude da sua aliança historica com Portugal e seu posicionamento vis-a-vis da luta da "libertaçao" do PAIGC.
Cordialmente,
Cherno Baldé
PS: A narrativa ainda tras um elemento curioso e diz assim:
(...) comeram e beberam, fizeram uma festa e ao romper da aurora partiram para um novo rumo.
Teriam bebido agua, nesse caso, ou seriam bebidas alcoolicas? E numa aldeia de muçulmanos que nao somente estao vedados de beber, mas nem sequer sabem extrair o vinho de palma? Uma historia bem curiosa.
Cherno AB
Zé Saúde, responde lá às dúvidas pertinentes do Cherno Baldé. Não conheci a região de Gabu, não posso meter a colher na discussão. Só falo do que vi e vivi... Mantenhas. LG
PS - Continuo a defender o meu ponto de vista de que esta guerra foi também uma guerra civil... e interétnica. O Amílcar Cabral arrogou-se, abusivamente, o direito de falar em nome de "todos os guineenses"...
Ora viva Zé Saúde, saúde e da boa é que todos precisamos.
Mais um belo texto, belo e inédito na acção contra a guerrilha.
No meu tempo, ah! no meu tempo...afinal três anos antes, ninguém saía de Nova Lamego para num instantinho ir em defesa duma tabanca atacada pelo IN, mesmo com os soldados fulas da nossa CART.11 conhecedores de toda aquela região, até por não haver, nesse tempo, tabancas isoladas para socorrer. Provavelmente seriam meia dúzia de moranças de Nova Lamego, um pouco afastadas, que os nabos do PAIGC vinham fazer visitas, batucadas e comezainas, e queriam lá saber se fossem apanhados à mão. Que grandes totós, calhando até foram beber umas cervejolas no Centro e comprar uns roncos na Casa Caeiro. Ou já estavam por tudo ou na certeza da vitória final.
Ah! a cerca de 10 km ficava Dare, a única tabanca na estrada a meio caminho entre Nova Lamego-Piche defendida pela NT com artilharia.
Abraço e cuidado, parece que o bicho tá ficando lento e não desanda do Alentejo.
Valdemar Queiroz
Amigo Cherno Baldé!
Confesso que não me ocorreu o nome da tabanca, tal como agora, por isso não o vou inventar. A invenção é algo que jamais existiu neste corpinho que já leva 70 anos de vivência terrestre. Aliás, aquela tabanca que dizes não existir é uma pura ficção tua, não minha, porque ela existia e lá vivia uma comunidade de fulas. Recordo, e muito bem, aquela dia em que abordámos o local e do diálogo travado com a população e tudo o que conseguimos saber.
Sei, e tenho a certeza, que o relato é fidedigno e tudo se passou de acordo com o que escrevi. Tenho, felizmente, o dádiva da escrita e logo o condão do saber expor acontecimentos vividos. Não sou um leigo. Uma escrita que se pauta pela fidelidade e, aliás, foram muitas as narrativas escritas por mim para os leitores de grandes órgãos de comunicação social nacional/internacional ao longo de vários anos como jornalista devidamente credenciado. Ponto final!
Caro Cherno Baldé, na zona de Gabu, aquela onde cumpri a minha missão militar e conheci, a grande parte das tabancas isoladas no mato não usufruíram da possibilidade de possuírem uma força de milícias. Éramos nós, as nossas tropas, que por lá passávamos, possivelmente tal como as forças militares do IN.
Reconheço que és um estudioso, e muito bom, sobre as origens das tuas gentes. Sigo, normalmente, os teus estudos sobre uma Guiné por onde também passei tal como os muitos milhares de jovens camaradas que por aquele recanto de África cumpriram a sua missão militar. A forma correta como abordas os temas é-me divinal. Aliás, constata-se que és um privilegiado na cultura guineense.
Mas, enquanto tu és guineense, eu fui apenas um mero combatente que por lá passei. Resta-me agradecer a tua opinião, mas recusando, e sempre, a tua eventual convicção da não existência de uma tabanca onde eu, tal como o grupo que me acompanhou, lá estivemos de corpo e alma. Digo-te mais: comigo tenho um mapa militar da Guiné (desses tempos) que nos envia para o pormenor de todo o país, onde se observam as regiões, as cidades, as vilas, as tabancas, os rios, as estradas, etc, etc, etc.
Fica bem e um forte abraço,
Zé Saúde
Caro Zé Saúde
Com um mapa desse tempo podes verificar que de Nova Lamego-Piche (30 km) e seguindo para Buruntuma o seguinte:
A meio caminho até Piche aparece Dara com população e NT e do lado direito da estrada até ao rio Corubal apenas existem as tabancas Madina Mandinga, Canjadude e Cabuca com população e aquartelamento da NT.
De Piche até Buruntuma só vamos encontrar a NT na Ponte Caium. Do lado direito até ao rio Corubal e em seguida até à fronteira não existem tabancas isoladas.
Por isso a tabanca que fazes referência só pode ser no lado esquerdo da estrada e provavelmente no interior do terreno num triangulo formado com as estradas N. Lamego-Piche-Canquelifá e para uma hora de caminho seria perto caminhando a pé, mas uma hora de unimog seria para os lados a seguir a Piche. Tabancas isoladas próximo de Nova Lamego só poderiam ser em terrenos no lado esquerdo da estrada, mas nesse caso os totós do PAIGC seriam facilmente apanhados na festança pela NT de NLamego, Piche, Canquelifá ou Pirada, como no caso referido foram. Que grandes nabos de surdos e nem sequer montaram vigilantes.
Um pormenor que me está a faltar: vocês saíram a nível de Pelotão (G.C.) ou a nível de Secção?
Agora, neste ano de 2021 e passados mais de 50 anos o que nos havia de lembrar. Calhando, consequências do confinamento.
Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz
Caro amigo José Saude,
Obrigado pela consideraçao e estima que, de resto, é reciproco. Eu nao fui militar e desde cedo deixei bem claro quem eu era na altura ou seja um simples "Rafeiro" de quartel. Mas, depois e com o tempo fui acompanhando, aprendendo e tentando perceber factos e acontecimentos de que ouvia falar, mas nao tinha idade e experiencia de vida para compreender na totalidade. Todavia, a minha maior fonte de informaçao e de conhecimento é este Blogue da TG.
Como deves saber o grupo etnolinguistico Fula, na Guiné-Bissau é sempre apresentado como a comunidade de colaboracionistas que se aliou ao IN e lutou contra a independencia e contra os seus proprios irmaos guineenses, facto que é dificil compreender se a analise é feita de forma selectiva e baseada so no periodo que durou a guerra (1963-1974), sem ter em devida conta o periodo anterior a colonizaçao e seu corrolario de guerras e conquistas na regiao em questao antes da criaçao artificial dos paises e territorios que resultaram da Conferencia de Berlim (1884/5) e das guerras de conquista ou pacificaçao que se seguiram nos séculos XIX/XX.
Por isso, fica-nos dificil ouvir, da parte de quem era nosso aliado, afirmaçoes as vezes levianas e gratuitas, em como os fulas jogavam com um pau de dois bicos, sem que sejam apresentados elementos factuais, comprovantes, isso nao podemos aceitar. Se os nossos avos e pais foram "colaboradores" em defesa dos seus interesses de comunidade, que assim seja, mas que sejam colaboradores e duplamente "traidores" isso nao podemos aceitar, porque também temos honra e dignidade a defender, em nosso nome e em nome dos que nos antecederam.
Como bem disse o Valdemar, no trajecto entre NLamego e Piche, a menos de 10 Km, na altura, so existia a localidade de Dara que, no entanto, nao so era a sede do regulado de Mana, mas também tinha um pelotao de milicias que controlava a zona.
Com todo o respeito e nao querendo alimentar nenhuma polémica a volta do assunto, reitero o que disse no comentario anterior que considero importante descortinar: A realidade da guerra colonial nao era a mesma no Norte (Oio/Morés), no Sul (Cubucaré-Cubisseco-Quitafine) e no Leste/Nordeste.
Desejos de boa continuaçao da Pascoa para os Tertulianos da TG,
Cherno Baldé
PS: Também importa saber quais as medidas que foram tomadas a nivel do Comando de NLamego na sequencia desta descoberta de colaboraçao com o IN. Logicamente que depois da operaçao, devem ter feito um relatorio sobre a acçao desencadeada e seus resultados. Ou nao era assim que as coisas funcionavam?
Cherno AB
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