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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26180: Notas de leitura (1746): "A pesca à baleia na ilha de Santa Maria e Açores", do nosso camarada e amigo Arsénio Puim: "rendido e comovido" (Luís Graça) - Parte I

 


Capa do mais recente livro do nosso camarada Arsénio Chaves Puim, "A Pesca â Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores" (Ponta Delgada: Letras Lavadas Edições, 2024, il., 160 pp., preço de capa: c. 18 euros)

Dedicatória ao nosso editor Luís Graça e esposa Maria Alice Carneiro: 

"Ao meu querido grande amigo Luís Graça e sua esposa, com muita estima e consideração e os melhores votos. Vila Franca do Campo, 27 de outubro 2024. Arsénio Chaves Puim".


Sinopse > A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores


«Com o livro '
A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria', o investigador / escritor Arsénio Puim vem tirar a sua ilha do obscurantismo nesta saga, dando-lhe (também) a relevância merecida, assim como dar precioso contributo para a história mais alargada e profunda da Baleação nos Açores, agora mais enriquecida com a presente obra.

"O livro 'A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria', para além de compulsar o enquadramento histórico da saga, nesta ilha, desde a influência à implantação local; a destrinça das duas épocas da baleação ocorridas; registos de vivências bem-sucedidas ou fatídicas e o relevante impacto socio-económico da atividade, incorpora também um importante 'Glossário Baleeiro', de base fortemente oral e com formas aportuguesadas de empréstimos do Inglês (influência americana)".


José de Andrade Melo (autor do prefácio, op cit, 
pp. 17-20).

Sobre o autor: Arsénio Chaves Puim

(i) Nasceu em 1936 na ilha de Santa Maria, no lugar da Calheta,, freguesia de Santo Espírito, onde se situa o porto baleeiro do Castelo;

(ii) Fez os estudos primários na sua freguesia natal e completou, no Seminário de Angra do Heroísmo, o Curso de Teologia, tendo exercido o ministério sacerdotal até 1976;

(ii) No mesmo ano, concluiu o curso de enfermagem na Escola Superior de Enfermagem de Ponta Delgada e exerceu esta profissão até 1995;

(iv) Em Santa Maria, foi também professor de Português e História no Externato, exerceu os cargos de Vereador e Presidente da Câmara Municipal de Vila do Porto, e foi co-fundador do Museu Etnográfico de Santa Maria e do jornal “O Baluarte de Santa Maria”, do qual foi o primeiro diretor;

(v) Vive desde 1982 em Vila Franca do Campo, onde desenvolveu uma ampla participação cívica, designadamente como membro de diversos órgãos autárquicos, Mesário da Santa Casa e, ainda, como redactor principal do jornal “A Crença”;

(vi) Arsénio Puim publicou, desde 2001, quatro livros no domínio da história e etnografia açorianas, particularmente da ilha de Santa Maria;

(vii) Em 2009, foi agraciado com a Medalha de Cidadão Honorário e de Mérito Municipal, atribuída pela Câmara Municipal de Vila Franca do Campo.

Fonte: Letras Lavadas Ediçóes, Ponta Delgada

... (vii) "last but not the least", foi nosso camarada no TO da Guiné, como alf mil graduado capelão, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72); é membro da nossa Tabanca Grande, autor da série "Memórias de um alferes capelão"; tem 76 referências no nosso blogue.

1. Quando um autor escreve isto:

(...) "Nasci, criei-me e vivi num meio baleeiro. Assisti às arriadas e às varadas dos botes, vi muitas baleias e o seu processamemnto, quer de cardume quer bules (...) grados (um deles tinha o excecional comprimento de 21,80 metros), comi pão frito no azeite a ferver dos caldeiros, fui alumiado, em criança, pela luz do óleo de baleia, convivi dia a dia com baleeiros e aprendi a linguagem e cultura baleeiras desde os primeiros anos de vida" (...)

... Um leitor como eu fica logo rendido (e comovido), lendo o resto do livro de um fôlego (160 pp., ilustradas com 29 figuras, 6 mapas e 6 quadros, incluindo mais de 60 referências bibliográficas, 180 notas de rodapé, e mais de 4 dezenas de termos do "glossário baleeiro açoriano".

De repente, descobres que estamos a falar de um experiência humana do passado, única, irrepetível, fortemenete ligada à identidade e à sobrevivência de um punhado de homens e suas famílias, numa ilha (e num arquipélago) perdida no Atlàntico.... 

Felizmente que hoje já não se caçam cachalotes e outras espécies de baleias em águas territoriais portuguesas,  mas tu não podes ficar indiferente à saga baleeira nem à gesta dos nossos pescadores do bacalhau, e dos demais homens ( e mulheres) do mar. De resto, tens uma costela de toda essa brava gente que de há séculos afronta mas respeita o mar e todos os seres que nele habitam.

Arsénio, não é apenas por cortesia e por camaradagem que estou a fazer esta e outras notas de leitura do teu livro.  Obrigados, eu e a Alice,  pelo teu livro com dedicatória. Foi uma bela prenda de Natal. Vamos falando.

(Continua)

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Guiné 61/74 - P26179: O Nosso Blogue como fonte de informação e conhecimento (107): alguém conheceu Álvaro de Barros Geraldo, o fotógrafo oficial do gen Spínola, no período da guerra colonial, na Guiné-Bissau ?(Catarina Laranjeiro, investigadora no Instituto de História Contemporânea da NOVA/FCSH)



Gen Spínola, governador e comandante-chefe no CTIG, s/d. Foto editada e reproduzida com a devida vénia do livro de Luís Nuno Rodrigues,. "Spínola: Biografia" (Lisboa, A Esfera dos Livras, 2010, 748 pp.). Pertence ao Arquivo António Spínola, desconhece-s o autor. Poderá ter sido o fotógrafo oficial do general, no TO da Guiné,  Álvaro de Barros Geraldo ?


1. Através do Formulário de Contacto do Blogger (e depois por mail), chegou-nos o seguinte pedido:

Data - Quarta, 20/11/2024, 12:48


Boa Tarde a todos,

Espero que se encontrem bem.

O meu nome é Catarina Laranjeiro e sou investigadora no Instituto de História Contemporânea da NOVA/FCSH.

Estou juntamente com uma colega, a Inês Vieira Gomes (em cc neste email), a realizar uma investigação sobre a obra do fotógrafo Álvaro de Barros Geraldo, que foi o fotógrafo oficial do General Spínola na Guiné-Bissau, no período da Guerra Colonial.

Alguem se lembra deste fotografo na Guiné? Tem alguma pista sobre a família de Álvaro de Barros Geraldo?

Um abraço
Catarina
Cumprimentos,
Catarina de Castro Laranjeiro | claranjeiro@fcsh.unl.pt

2. Comentário do editor LG:

Catarina: Como sempre, procuramos que o nosso blogue seja também útil à comunidade académica.  Sobre o seu pedido, que agradeço,  vamos torná-lo público. É possível que, em cinco anos de presença do gen Spínola no TO da Guiné, como governador e comandante-chefe, haja alguém de nós que tenha conhecido esse fotógrafo (em Bissau, não no mato),

Eu desconhecia completamente o seu nome e a sua função. O próprio biógrafo de Spínola (Luís Nuno Rodrigues,. "Spínola: Biografia", Lisboa, A Esfera dos Livroas, 2010, 748 pp.), não faz qualquer referência a esse fotógrafo. E as fotos que publica, infelizmente poucas,  sobre o general na Guiné, são citadas como pertencentes ao "Arquivo António Spínola".

O Geraldo seria militar ? Talvez um "fotocine"... Ou seria um "civil" ?...Sei que o seu arquivo está em depósito na Torre do Tombo, doado em 1974.  Pode ser, entretanto, que algum dos nossos leitores tenha mais alguma pista. Boa saúde, bom trabalho.

PS - A Catarina Laranjeiro, investigadora e realizadora de cinema, tem  7 referèncias no nosso blogue.

Guiné 61/74 - P26178: Humor de caserna (82): "Anestesiado... com uísque" (António Reis, ex-1º cabo aux enf, HM 241, Bissau, 1966/68)


António Reis

António Reis, ex-1º cabo aux enf, HM 241, Bissau, 1966/68; natural de Avintes, V. N. Gaia, é membro da nossa Tabanca Grande, nº 882; é autor de dois livros de memórias da Guiné; tem página no Facebook.


1. Gosto de ler ou reler histórias dos nossos camaradas que pertenceram aos serviços de saúde miilitar, dos médicos aos enfermeiros, sem esquecer as nossas enfermeiras paraquedistas, as únicas mulheres que foram, em boa verdade, nossas camaradas de armas.

Mas esta "cena" que selecionei (*),  passa-se no HM 241, o hospital militar de Bissau,  onde o nosso já conhecido António Reis fez a sua comissão de serviço e conheceu a guerra, ou melhor, as vítimas da guerra. 



Vem contada, de maneira singela e despretensiosa (mas com a sua habitual pontinha de bom humor e empatia, ingredientes afinal fundamentais para quem cuida dos outros e salva vidas, seja na guerra ou na paz), no seu livrinho de memórias do HM 241, "A minha jornada em África".  Coim a devida vénia... e apreço.



Humor de caserna (82) > Anestesiado com... uísque 

por António Reis


Não ter cão e caçar com gato era o que acontecia em situações adversas. As dificuldades eram muitas das vezes tremendas.

Um dia, chegou um, como normalmente, de helicóptero. Aparentemente os ferimentos não eram graves, mas o nosso homem vinha num estado que os ferimentos não justificavam: não dava acordo de si.

Era uma moço ainda com a cor da metrópole, devia pertencer a alguma companhia ainda recém-chegada, de "periquitos" (como lhe chamávamos). Daqueles a quem o sr. Amíklcar Cabral gostava logo de lhes fazer o batismo de fogo, pois companhias havia que ainda não tinham oito dias de Guiné e já tinham baixas, feridos e mortos.

Foi então que se reparou num papelucho que vinha por baixo dos pés, e onde lia: "Anestesiado com uísque"...

Era assim; quem náo tinha cão, caça com gato.

Fonte: António Reis, "Quem não tinha cão caçava com gato". In: A minha jornada de África, 1ª ed., s/l, Palavras e Rimas, Lda, 2015, pág. 71

(Revisão/ fixação de texto, título: LG)

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 12 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26143: Humor de caserna (81): "Há ouro em Bafatá ?!"... A imaginação febril dos serôdios "garimpeiros" coloniais... (Excerto do "Diário Popular", de 20 de outubro de 1951, suplemento especial dedicado às províncias ultramarinas que, em revisão constitucional, tinham acabado de deixar de ser colónias)

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26177: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (3)

Foto 19 > Olossato > Abril de 1970 > João Moreira 
Foto 20 > Olossato > Abril de 1970 > João Moreira. Ao fundo uma caserna dos soldados. Olossato
Foto 21 > Olossato > Abril de 1970 > João Moreira
Foto 22 > Olossato > Abril de 1970 > João Moreira
Foto 23 > Olossato > Abril de 1970 > João Moreira
Foto 24 > Olossato > Abril de 1970 > João Moreira. A motorizada era de alguém da companhia que fomos render. Serviu para a fotografia, para mandar para a família.
Foto 25 > Olossato > Abril de 1970 > João Moreira
Foto 26 > Olossato > Abril de 1970 > Desfile dos alunos da escola!!!

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 14 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26155: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (2)

Guiné 61/74 - P26176: Por onde andam os nossos fotógrafos? (28): Virgílio Teixeira (ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte I: Beldades felupes de São Domingos

 







Guiné > Região do Cacheu > S. Domingos > c. 1968/69 > Beldades felupes. Além da beleza física destas jovens ("bajudas"), atente-se também nos seus penteados e adornos.

Fotos (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Depois de um interregno de 3 anos e tal, motivado sobretudo por razões de saúde, temos de volta, felizmente para ele e para os seus amigos e camaradas do blogue, o nosso grão-tabanqueiro Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)... 

Economista e gestor, reformado, é natural do Porto, vive em Vila do Conde, e tem já cerca de 180 referências no nosso blogue.

É autor da série "Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69)", de que já publicámos 74 postes, desde 17/12/2017 até 27/1/2021. O que é uma marca notável.

Ele tem um álbum de cerca de 5 mil fotografias da Guiné (!), da época de 1967/69, que antes da pandemia estava a organizar por datas, locais e áreas temáticas, devidamente numeradas, contextualizadas e legendadas. Além de outras, de épocas posteriores (quando voltou à Guiné-Bissau em viagens de negócios).  Estava também a finalizar um livro de memórias desse tempo.

Vamos fazer uma antologia das suas fotos, já publicadas no blogue (tarefa difícil, trata-se de escolher algumas dezenas em muitas centenas), e começamos pelo "chão felupe", para "provar ao Patrício Ribeiro", "homem grande de Varela"  (e também aos nossos leitores que nunca lá puseram  os pés...), que no tempo do nosso fotógrafo (1968/69) não havia só vacas, hipopótamos e pescadores de arco e flecha...

Obrigado, Virgílio.

Nota do fotógrafo:

 "Estas fotos foram captadas por mim, com autorização delas [as bajudas,], depois ofereci uma cópia a cada uma, quando vieram reveladas. Era assim que eu mantinha um bom relacionamento com estas jovens, e com quem convivia no dia a dia. Com estas apenas pretendo mostrar os vários tipo  de mulher guineense, sem qualquer outro propósito." (**)

Comentário do editor LG:

Espero que, um dia, o Virgílio Teixeira possa juntar todo esse valioso espólio fotográfico (expurgado eventualmente das fotos mais pessoais e de valor sentimental para a família) e doá-lo ao Arquivo Histórico-Militar. É uma sugestão que fazemos a ele, e a todos os camaradas que no CTIG fizeram também o papel de fotocines, documentando aquela guerra e aquela terra... Mas, por enquanto, ainda vamos tendo o nosso blogue para partilharmos, uns com os outros, as nossas memórias e afetos. 

(Seleção e edição das fotos: LG)



Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > c. set/out 1967 > Tabuleta com as indicações das distâncias em quilóetros, para Sul, Norte e Leste, localizada numa das saídas-entradas de Nova Lamego. Bafatá para sudoeste a mais longa, com 53 kms, e temos de juntar mais cerca de 60 dali até ao porto fluvial e depósito da Intendência em Bambadinca

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P26175: Para bom observador, meia palavra basta (6): O fortim de Cabedu

 


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Península de Cubucaré, Cantanhez > Cabedu >  Restos (arqueológicos...) do antigo destacamento de Cabedu... O fortim.... 

Por aqui passaram, em 1963/56, os valorosos e esforçados militares portugueses da CCAÇ 555, comandados pelo cap inf António Ritto  (de seu nome completo, António José Brites Leitão Rito) e de que fazia parte o fur mil at inf Norberto Gomes da Costa, hoje mestre em história,  e membro da nossa Tabanca Grande.  (Vd. livro "Missão na Guiné, Cabedu, 1963-1965”, por António José Ritto e Norberto Gomes da Costa, com a colaboração de José Colaço. Linda-a-Vela, DG Edições, 2018) (*)

A CCAÇ 555, em 28dez63assumiu a responsabilidade do subsector de Cabedu, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 356 e depois do BCaç 619; d20 a 22set64, tomou parte na Op Tornado, a região do Cantanhez. Em 25set65, foi rendida pela CCaç 1427, por troca, recolhendo por escalões, até 11out65, a Bissau.

Foto (e legenda): © José Teixeira  (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e lehendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Tombali > Cabedu > CCAÇ 1427 (1965/67) > c. 1966 > Foto do álbum do Tony Grilo, (Canadá): artilheiro, apontador de obus 8,8 (Bissau, Cabedu, Cacine, Cameconde,1966/68)-

A CCAÇ 1426, de 25set65 a 11out65, rendeu por troca, a CCaç 555, assumindo então a
responsabilidade do subsector de Cabedú, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 619 e depois do BCaç 1858, tendo tomado parte em diversas operações realizadas naquela área. Em 31mar67, foi rendida no subsector de Cabedú pela CArt 1614 e
recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.
 
Foto (e legenda): © Tony Grilo (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e lehendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 

 Guiné > Região de Tombali > Cabedu > CCAÇ 1427 (1965/67) > Vista aérea do aquartelamento e pista de aviação. Foto do ãlbum do Manuel José Janes,  "O Violas", membro da Tabanca Grande.

Em substituição da CCaç 1427, foi deslocada para Cabedú, em 30mar67, a CART 1614, assumindo a responsabilidade do respectivo subsector, e ficando integrada no dispositivo e manobra do BArt 1913. Em 6jan68, foi substituída, transitoriamente, pela CArt 1689 até à chegada  da CCaç 1788.

Fotos (e legendas): © Manuel José Janes / Jorge Araújo (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Guiné > Região de Tombali > Cabedu > CCAÇ 1427 (1965/67) > c. 1966 >  Vista aérea do aquartelameento e parte da pista que atravessava a tabanca ao meio.


A CArt 2476 / BART 2865  seguiu em 16fev69 para Catió a fim de render a CCaç 1788, assumindo, em 17fev69, a responsabilidade do respectivo subsector, com dois pelotões no destacamento de Cabedu e, cumulativamente, a função de subunidade de intervenção e reserva do sector, ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão.
Em 6dez70, foi rendida no subsector de Catió pela CCaç 2792.

Esta útima assumiu, nessa data,  a responsabilidade do subsector de Catió, com dois pelotões no destacamento de Cabedú, ficando integrada no dispositivo e manobra do BArt 2865 e depois do BCaç 2930, tendo sofrido várias flagelações aos aquartelamentos e executado patrulhamentos, emboscadas e contactos com as populações. Em 21go72, foi rendida no subsector de Catió pela CArt 6251/72, tendo-se deslocado por fracções, em 13ago72 e 23ago72, para Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.
 
Fotos (e legendas): © Manuel José Janes / Jorge Araújo (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 


1. Não se sabe ao certo quando e por quem foi construído o fortim de Cabedu...Talvez pela a primeira companhia de quadrícula, a CCAÇ 555. Ou das seguintes:  CCAÇ 1427, CART 1614, CCAÇ 1788, CCAÇ 2792...

Temos que reler as memórias de Cabedu, do Norberto Gomes Costa. O Orlando Pinela,  que esteve lá, na CART 1614 (1966/68), não se lembra do fortim... Nem dos três espaldões dos obuses...

Será que a construção do fortim é data posterior a estas  primeiras três companhias ?

Mas o fortim ainda lá está ou estava, em 2008, quando o Zé Teixeira o fotografou, por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje, em março desse ano. Foi expressamente a Cabedu, mais o nosso saudoso Pepito (e outros camaradas como o Zé Carioca), para inaugurar o fontenário (**).

Em 1971, quando o cap art, cmdt da CCAÇ 2696 (Gadamael, 1970/72), Morais da Silva, sobrevoou de avioneta Cabedu, a caminho de Catió, o fortim já lá estava, como o atesta a foto aérea que ele tirou, mas sem até hoje ter a certeza que estava a fotografar Cabedu (destacamento da CCAÇ 2792, com sede em Catió, cujo comandante, seu camarada,  ele ia visitar) (***)... 

Estava  já o fortim ou não estava, caro leitor, tu que és bom observador (****) ?!





Guiné > Região de Tombali > Península de Cubucaré > Cabedu > 1971 > Vista aérea da povoação, pista de aviação e destacamento das NT em finais do ano de 1971 >  O fortim vem assinalado a amarelo.

Foto: © Morais da Silva (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P26174: Elementos para a História dos Pel Art - Parte III: o 5º Pel Art (10,5 cm), representado pelo grão-tabanqueiro, ex-1º cabo art Fernando Macedo (Cabedu, 1971/72)



Foto nº 1


Foto nº 2



Foto nº 3


Foto nº 4


Guiné > Região de Tombali > Cabedu > CCAÇ 2972 e 5º Pel Art > c. 1971/72 > O 1º cabo art Fernando Macedo.


Fotos (e legenda): © Fernando Macedo (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. O Fernando Macedo é membro da nossa Tabanca Grande desde 4 de março de 2013 (*). Tem página no Facebook. Esteve em Cabedu (1971/72), no 5º Pel Art (10,5 cm), comandado pelo alf mil Nolasco, macaense. 

Diz com pena: "Apenas estas minhas fotos  [da Guiné] chegaram aos tempos de hoje!"

Esperemos que mais artilheiros do CTIG nos passam ajudar a documentar e a completar a história da artilharia de campanha no CTIG (**).

Em 1971/72, o 5º Pel Art (10,5 cm) estava em Cabedu, mas em 1 de julho de 1973 mudou para Jemberém.

Sabemos que de outubro de 1969 até junho de 1970 quem esteve a comandar,  em Cabedú, o 5.º Pel Art / BAC 1 foi o nosso grão-tabanqueiro Carlos Marques de Oliveira (curiosamemnte, um alf mil armas pesadas inf),  data em que regressou  a Catió para comandar o 7.º Pel Art, cujo comandante falecera em combate. (***). Falaremos dele, do Carlos Marques de Oliveira, e do seu 7º Pel Art,  em próximo poste.*

Sobre o 5º Pel Art termos 8 referências no nosso blogue. Segundo a "ordem de batalha", de 1/7/71 e 1/7/1972, o 5º Pel Art estava em Cabedú; em 1/7/73 passa para Jemberém onde se manteve até ao fim da guerra ()ordem de batalha de 10/4/1974).


2. Excerto do poste da apresentação à Tabanca Grande (*)

(...) Faz tempo que acompanho este blog assim como outros, onde cheguei a lançar pedido no sentido de encontrar camaradas do 5º pelotão de Artilharia que esteve em Cabedu entre 1971/1972, sem sucesso.

Sou Fernando Macedo, ex-1º Cabo Apontador de Artilharia Pesada (10,5), natural de Bonfim, Porto, nascido a 26 de Janeiro de 1949.

Embarquei para a Guiné em Abril, a bordo do T/T Angra do Heroísmo atracando a 1 Junho de 1971.

Nove dias depois, periquito, tive meu batismo, nem queria acreditar, Bissau era atacada pela primeira vez assim como várias localidades próximas da capital. Tinha-me encontrado com um primo, Policia Militar no território há já longos meses, num café na baixa de Bissau,

Bom, foi um desatino completo com o pessoal a recolher aos quartéis. Apanhei boleia para a minha Unidade, GA7. Era na verdade uma grande agitação, ao fim de não sei quanto tempo, que me pareceram horas, de formaturas e espera, seguiram várias colunas militares com vários destinos e eu fui parar a Nhacra, regressando a Bissau no dia seguinte, 10 Junho.

Duas semanas depois segui de batelão para Cabedu, onde estava sediada parte da CCAÇ 2792. O destacamento era Comandado pelo Alferes Paiva.

Fui em rendição individual substituir um camarada que estava a acabar a comissão, a bateria de obuses era comandada pelo Alferes Nolasco, natural de Macau, excelente homem.

Poucos meses depois sofri perfuração do tímpano do ouvido esquerdo, agravado com uma infeção na sequência das detonações, tendo dez meses depois de ter regressado a casa sido submetido a uma operação no hospital de São João, no Porto, em Dezembro de 1972. Resultado final, surdez completa do ouvido esquerdo. (...)


 (Selecão, revisão, fixação de texto, edição de fotos: LG)
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Notas dos editores:

(`*) Vd. poste de 4 de Março de 2013 > Guiné 63/74 - P11192: Tabanca Grande (388): Fernando Macedo, ex-1.º Cabo Apontador de Artilharia Pesada do 5.º Pel Art (Cabedu, 1971/72)

(**) Último poste da série > 20 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26169: Elementos para a História dos Pel Art - Parte II: a artilharia de campanha estava bem representada no CTIG, com 34 Pel Art, e 47% das do total (=283) das bocas de fogo

(***) Vd. poste de 27 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20181: Tabanca Grande (485): Carlos Marques de Oliveira, ex-alf mil arm pes inf, cmdt Pel Mort 2115 e, depois, do 5º Pel Art e do 7º Pel Art (Catió e Cabedu, 1969/71): senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 796

Guiné 61/74 - P26173: Nos 500 anos do nascimento do nosso poeta maior, Luís de Camões (c. 1524 - c.1579/1580) - Parte I: "Soube moldar o génio de todo um povo nessa língua portuguesa que, como escreveu Engels, é como as ondas do mar sobre flores e prados " (António Graça de Abreu. In "Diário Secreto de Pequim",. inédito, 12 de setembro de 1980)(



Camões (c. 1524 - c.1579/80)  e Engels (1820-1894)



António Graça de Abreu,
Pequim, 1980
António Graça de Abreu

(i) viveu na China, em Pequim e em Xangai, entre 1977 e 1983; 

(ii) foi professor de Português em Pequim (Beijing) e tradutor nas Edições de Pequim em Línguas Estrangeiras; 

(iii) na altura, ainda era, segundo julgamos saber, simpatisante ou militante do Partido Comunista de Portugal (marxista-leninista), o PC de P (m-l), fação Vilar (Eduíno Gomes), alegadamente o único (dos portugueses) reconhecido pela República Popular da China;

 (iv) ex-alf mil, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74);

 (v) membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com mais de três centenas e meia de  referências;

(vi) compulsivo viajante, tem "morança" em Cascais; 

(vii) é um cidadão do mundo, poeta, tradutor, reputado sinólog, escritor, autor de mais de 2 dezenas de títulos publicados;

 (viii) nasceu no Porto em 1947; 

(ix) é casado com a médica chinesa Hai Yuan, natural de Xangai, e tem dois filhos dessa união, João e Pedro.
 

1. Mensagem do Antonio Graça de Abreu:

Data: 1 de novembro de 2024 01:05
 
Assunto: Camões, Engels e a China n
o meu 'Diário Secreto de Pequim0, inédito, escrito há 44 anos atrás.


Pequim, 12 de Setembro de 1980

No número deste Setembro de 1980, a revista China em Construção, edição em português, a propaganda, a divulgação oficial de tudo o que é China comunista, elaborada aqui nas Edições de Pequim em Línguas Estrangeiras (onde, com a Adélia Goulart, trabalho há mais de um ano), saiu um extenso texto meu. 

Antes da publicação, o que escrevi e que passo agora integralmente a transcrever, foi traduzido para chinês e levado à consideração, ou chamemos-lhe assim, foi à censura dos nossos poderosos chefes chineses. Não me cortaram uma só palavra, não limparam uma vírgula, passou tudo pelo entendimento do pente de quem manda. Aí vai o meu texto:


4º  Centenário de Luís de Camões comemorado na China

Nos últimos dias de Junho passado, tive a honra de participar numa pequena reunião e convívio luso-chinês realizado na Faculdade de Línguas Estrangeiras de Pequim que teve como motivo a comemoração do 4º Centenário da morte do maior poeta português, Luís de Camões (1524-1580).

Foi um encontro muito simples, mas cujo significado e importância merecem destaque no contexo das relações culturais entre Portugal e a China. Quatro alunos dos cursos de Língua e Cultura Portuguesas da Faculdade de Línguas Estrangeiras de Pequim disseram um soneto e uma redondilha de Camões, Alma minha gentil que te partiste e Descalça vai para a fonte, em português e numa bonita tradução para chinês.

Vieram a esta Faculdade, o embaixador de Portugal na China, Dr. António Ressano Garcia, o conselheiro da Embaixada, Dr. João de Deus Ramos, a profª Conceição Afonso, eu próprio, o vice-director da Faculdade e decano dos cursos de Estudos Ibero-Americanos, prof. Liu Zhengquan e, fundamental, as quase quatro dezenas de chineses que na capital da China estudam a língua portuguesa.

 Sob a égide de Camões, as pessoas encontraram-se, conversaram, deram conteúdo a uma das mais bonitas palavras da língua chinesa, youyi 友 谊,que significa “amizade”.

O Embaixador de Portugal na China referiu a satisfação que sentia, por, a propósito de Luís de Camões, se poder encontrar com tantos jovens chineses que estudam português e que, no futuro, desempenharão um papel importante nas relações não só entre Portugal e a China, mas entre a China e o vasto mundo da língua portuguesa.

Que interesse poderá ter hoje recordar, na República Popular da China, o grande poeta português quando este país se procura projectar no futuro através das “quatro modernizações”?

Os maiores poetas -  na China um Qu Yuan, um Li Bai, um Du Fu, em Portugal um Camões ou um Fernando Pessoa -, os nossos maiores poetas não morrem, são passado, presente e futuro e continuam, século após século, a ser a voz de todo um povo.

Entender Camões é, quatrocentos anos depois da sua morte, conhecermo-nos melhor, como cidadãos à deriva, ou de pés bem assentes na terra, no embate, no extravagante diluir pelo mundo. Vamos ver porquê.

Luís de Camões, fidalgo pobre, valdevinos, desregrado e brigão, apanhado pela engrenagem complexa da sociedade do seu tempo, participou activamente, até à exaustão, na grande aventura dos Descobrimentos Portugueses. Antes de quaisquer outros povos, os homens do Douro e do Tejo chegariam por mar, às costas de África, América, Índia e também China.

Aqui em Pequim encontrei alguns amigos que eram de opinião que Camões teria sido um precursor do colonialismo português. É verdade que durante o longo governo dos reaccionários Salazar e Caetano, derrubado em 1974, o poeta foi transformado numa espécie de arauto do expansionismo português. 

De facto, em Os Lusíadas, o grande poema épico da nossa língua, Camões cantou o ilustre peito lusitano e os que entre gente remota edificaram "Novo Reino que tanto sublimaram.”

 Mas Camões também reconhece, nas últimas estrofes dos mesmos Lusíadas, que o Portugal que cantava estava metido “no gosto da cobiça e da rudeza / duma austera, apagada e vil tristeza". 

Camões, profundamente humano, nunca rejeitou, antes assumiu plenamente, a contradição das palavras e da vida.

Camões é o português de corpo inteiro, aventureiro, apaixonado e triste, cavaleiro andante errando pelas mais estranhas paragens do mundo, contraditório, lapidarmente humano. É o poeta que traduz, em versos maravilha, o que de bom e de mau se conjugam no génio português. 

Homem do Renascimento, Camões buscou uma sociedade mais justa. Um campeão dos humildes, “um socialista antes do tempo”, como lhe chamou, talvez com um certo exagero, o camonista brasileiro Afrânio Peixoto. Teve perfeito conhecimento dos males do mundo, porque os viveu, estudou e sofreu e diz:

Não me falta na vida honesto estudo
Com longa experiência misturado…


Como afirmou o prof. Rodrigues Lapa, “Camões inseriu corajosamente em Os Lusíadas alguns versos que nos asseguram uma posição político-social de cidadão vigilante”:

Vejamos no canto VII de Os Lusíadas:

Também não cuideis que cante
Quem, com hábito honesto e grave, veio,
Por contentar o Rei no ofício novo
A despir e roubar o próprio povo!
Nem quem acha que é justo e que é direito
Guardar-se a lei do rei, severamente,
E não acha que é justo e bom respeito
Que se pague o suor da servil gente.


Camões, um colonialista? 

Se participou na grande expansão portuguesa pelo mundo, que de resto abriu caminhos ao desenvolvimento da Humanidade, isso deveu-se à dinâmica do período histórico em que viveu. Se é verdade que os Portugueses oprimiram outros povos na sequência dos Descobrimentos, Camões assumiu uma atitude crítica e não foi um elemento passivo capaz de assistir, impávido e sereno, às muitas injustiças cometidas. Se tal não tivesse acontecido, o poeta não teria morrido pobre e miserável, vivendo, praticamente, nos últimos anos da sua atribulada existência, de esmolas, de caridade, de amigos.

Como homem do Renascimento, Camões foi o poeta de um mundo novo e diferente, mais amplo, mais vasto, que então começava e se abria a todos os homens.

Na sua obra lírica, foi também o grande poeta do Amor, e da negação do Amor. Ninguém como ele, na língua portuguesa, cantou o Amor, a complexidade de quem ama e é amado, as desilusões, o sofrimento, as “memórias da alegria”, essa pura paixão tão portuguesa de amar e não amar.

O jovem Friedrich Engels, companheiro de Marx, numa carta escrita a 30 de Abril de 1839 ao seu amigo Wilhelm Graeber, diz que está a estudar a língua portuguesa que “é como ondas do mar sobre flores e prados” e depois confessa-lhe que, de manhã cedo, gosta de “se sentar num jardim com o o sol batendo-lhe nas costas lendo Os Lusíadas.” 

O que levaria Engels a gostar de Camões e de Os Lusíadas?

Um historiador português deste século, Jaime Cortesão, dá uma das muitas respostas possíveis:

“O português de Camões foi moldadado pelas águas e pelos ventos, foi enriquecido pelas verdades de outras gentes e alumiado pelas estrelas de todos os céus. É o português-tritão que se misturou a todas as ondas e ao amargo sargaço dos oceanos; é o português suave que se diria respirar como as velas, ao sopro perene dos alisados; é o português amoroso que lançou os fundamentos do Império no sangue de outras raças; é o português para quem o perigo é o sal da vida e todos os homens são camaradas; e a Pátria, na própria frase do poeta, é toda a Terra.”[1]

Em Pequim, Junho de 1980, quatrocentos anos depois da morte de Luís de Camões, portugueses e chineses recordaram o grande poeta que soube moldar o génio de todo um povo nessa língua portuguesa que, como escreveu Engels, “é como as ondas do mar sobre flores e prados.”

António Graça de Abreu
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[1] Jaime Cortesão, História dos Descobrimentos Portugueses, III vol., Lisboa, Círculo de Leitores, 1979, pag. 219.

(Revisão / fixação de texto: LG / Não atualizámos a ortografia, do textro, que é de 1980)

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26172: Historiografia da presença portuguesa em África (453): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, continuamos na companhia de Damasceno Isaac da Costa, 1886 (11) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Setembro de 2024:

Queridos amigos,
Vale a pena insistir, não há ao nível da novel Província da Guiné nenhum outro documento que se equipara ao trabalho do médico Damasceno Isaac da Costa, o título é Relatório do Serviço da Delegação da Junta de Saúde da Vila de Bissau, referente a 1884, é um registo detalhado sobre história, geografia, inevitavelmente o estado sanitário, comércio, usos e costumes; é impressionante o conjunto de observações que teceu sobre o presídio de Geba e agora está a passar a pente fino Bissau, é um médico de saúde pública com um certo olhar de antropólogo, etnólogo e etnógrafo, diz verdades com punhos. Um outro aspeto curioso é a publicação deste farto documento aos pingos, vem de uma série de Boletins Oficiais entre abril e novembro, e aqui envereda por 1885. Nos reservados da Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa, creio que por legado de um filho, consta o documento que se estende de 1885 a 1888, vou agora revê-lo, pode ser que seja repetitivo, não encorajo as repetições fastidiosas. Seja como for, creio que especialistas como Philip Havik têm nestes relatórios do Dr. isaac da Costa fertilizante para muita investigação.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, continuamos na companhia de Damasceno Isaac da Costa, 1886 (11)

Mário Beja Santos

Espero um dia vir a perceber como é que este Boletim Official da Província da Guiné Portuguesa, em pleno ano de 1886 não faça eco dos grandes acontecimentos que ocorreram por esta data, a começar pela Convenção Luso-Francesa e a perda do Casamansa, que foi motivo de grande agravo na Guiné, como está plenamente documentado. É o relatório do médico, Damasceno Issac Costa, que ganha realce, apresenta-se como um documento do serviço da delegação da Junta de Saúde da vila de Bissau, excede em toda a linha, como temos visto, falámos anteriormente de que o facultativo se espraiara na história, documentou em profundidade a vida do presídio de Geba, fala dos usos e costumes, do que comem os guineenses, as cerimónias do casamento, até do batismo, é por vezes moralista dizendo que os gentios consentem que os seus filhos sejam batizados sem que eles mesmos o sejam. E tece considerações como se fosse antropólogo e mesmo etnólogo:
“Os gentios, mesmo os que possuem alguma luz de razão para descortinar a verdadeira religião da falsa, condenaram o sacramento do matrimónio, e dizem que todos que este contraem ficam irremediavelmente sujeitos à infidelidade da consorte. A origem deste proceder semisselvagem reside noutro princípio: a tendência para o mal é fácil, a sua vereda obtém-se facilmente e para ela se caminha com a rapidez dos ventos: o contrário acontece com a virtude, que além de difícil, é espinhosa.
Os povos de Bissau e Geba, como os de toda a Guiné, amam a primeira dessas veredas: amarram o pano (casam-se) com uma bajuda (donzela) depois de adquirir um certo número de bens, com grandes dispêndios e pompas, e quando a fortuna lhes sorri risonha, eis que novamente procuram outra bajuda para se casar, e assim vão procedendo, enquanto os seus haveres se forem multiplicando, acontecendo muitas vezes ter um único indivíduo 7, 8 ou 9 mulheres. Os gentios da Guiné, conquanto selvagens, são suscetíveis de se converterem ao cristianismo e de receber educação, pois que possuem em subido grau orgulho de se transformarem em brancos, isto é, de se civilizarem. É, pois, baseado neste último princípio, que os gentios travam relações de amizade com os habitantes da praça a quem chamam de seus camaradas que lhes confiam a educação dos seus filhos; não tarde, porém, que o elemento civilizador penetre nestes homens de amanhã, que com anuência dos seus próprios pais se submetem espontaneamente à regeneração pelas águas do batismo; porém, os pais ainda crentes no feiticismo, recusam-se a receber este último sacramento.”


Isaac da Costa muda agora de agulha para falar da população da ilha de Bissau e dos seus usos e costumes. População composta por europeus, mestiços e indígenas. Brancos têm pouca permanência, mas são a fiel expressão da ação perniciosa do elemento palustre; o europeu não se aclima na Guiné em geral, o presídio de Farim é o mais insalubre de todos os postos pertencentes à província.

“Os mestiços possuem temperamento misto, chegam a viver com 60 e 70 anos de idade e ainda gozando de perfeita saúde. Os indígenas, incluindo os Grumetes, possuem em geral um temperamento linfático e uma constituição fraca. O excesso de bebidas alcoólicas, o uso de carne e peixe corruptos e leite azedo, e a insolação, são fatores que dão origem a variadas entidades mórbidas. As crianças até à idade de 2 anos morrem mais de metade e as que saírem incólumes da mortífera luta que travam os elementos que as cercam, contraem lesões viscerais importantes, dando origem a doenças graves e incuráveis.”

O tema religioso persegue o médico, fala de várias catequizações, estima que a religião seja a base fundamental da educação e civilização destes povos, apela a uma escolha correta de missionários que pela sua abnegação, e com os olhos no céu não queiram ver coisas terrenas senão as dores que hão de consolar, as feridas que hão de curar e as trevas em que hão de espargir a doce luz da sua palavra cristã. E volta a centrar-se no tema dos usos e costumes:
“Em geral, os Papéis são indolentes e cobardes, podendo dizer-se deles o que disse um dos nossos estadistas: fazem tudo quanto se lhes sofre, e sofrem tudo quanto se lhes faz. Os Papéis que vivem em Bissau dividem-se em dez tribos e povoam dez distritos. Destas dez tribos, quase todos os dias apresentam-se na praça com as suas produções que lhes fornece a sua limitada agricultura e indústria, as de Antula, Antim, Bandim e Biombo. O régulo é muito exigente em pedidos que faz aos seus amigos cristãos, aos quais chama seus camaradas e que adquire quando estes vão visitar os seus territórios. A sua residência é sempre isolada e cercada unicamente das casas das suas mulheres que são obrigadas a trabalhar incessantemente para sustentar os vícios do rei, sem outra recompensa ou glória que a de serem chamadas mulheres do rei. Em ocasiões festivas, os régulos apresentam-se uns de calça e casaca vermelhas e chapéu e trazem na mão um bastão encimado por um espelho, e outros envoltos em conchas pintadas. O régulo de Bandim goza de mais foros e prerrogativas que os dos outros distritos, pertencendo-lhe por direito presidir à cerimónia que precede a coroação dos outros régulos. Os ministros e os balobeiros imitam os régulos no seu vestuário em ocasiões festivas. Os homens entregam-se ao trabalho insano a fim de, por meio deste, obter um certo número de vacas. Adquirida esta riqueza, tratam de amarrar o pano (casar-se).”
Isaac da Costa descreve minuciosamente não só as cerimónias do casamento, como o dote e a circuncisão, e muda de tema: a higiene pública.

“A vila de Bissau está cercada de pântanos: a Oeste está situada uma vasta extensão de terreno sujeito ao fluxo e refluxo do mar, terreno que recebendo ao mesmo tempo a água doce proveniente das chuvas e nascentes, convertem-se em um pântano bastante extenso.
A Sul, a vila é limitada pela praia que na baixa-mar descobre-se numa grande extensão e deixa exalar um cheiro infecto promovido pela decomposição e putrefação do limo, plantas, animais, lixo e várias imundícies intimamente misturadas com a lama de si corrupta. O povo que circunda a fortaleza e que vem à povoação e aos pardieiros dispersos pela povoação, recebe durante o ano imundícies de toda a espécie.”

Tudo se conjuga para provocar as variadas moléstias que manifestam na vila.
E diz mais este médico:
“Os tripulantes dos navios de longo curso demandam o porto de Bissau, é raro que durante a sua permanência de 15 a 20 dias fiquem incólumes de perniciosa influencia das emanações do porto, pois apesar de cheios de vida e rubor nas faces, apresentam-se profundamente anémicos, sendo preciso quase sempre baixarem ao hospital. É o que repetidas vezes tenho observado desde 1879.”

Refere com detalhe a higiene das fábricas, o estado dos depósitos de substâncias alteráveis, o funcionamento do mercado, o matadouro, o estado das habitações, as cubatas dos Grumetes que vivem fora das muralhas, a alimentação, a limpeza das ruas e mesmo dos cemitérios. Refere-se assim ao cemitério municipal:
“Acha-se em deplorável estado, aquele lugar onde repousam as venerandas cinzas dos nossos semelhantes, está cheio de pedras e ervas maninhas; o seu solo em vez de plano é desigual, as sepulturas não se distinguem do resto do terreno, à exceção de oito, que tem a aparência daquelas, por se acharem cobertas irregularmente com alguma porção de terra; elas não possuem cruzes ou marcos funerários que marquem a época do enterramento, circunstância esta gravíssima, sobretudo quando se trata de proceder às exumações. Atrás do cemitério, junto à povoação dos Grumetes, existe uma pequena extensão de terreno como se nota um grande número de sepulturas, das quais doze são recentes, sendo naquele lugar, segundo me consta particularmente, inumados os cadáveres de indivíduos falecidas extramuros. O cemitério e a vasta campada que o circunda, representam, pois, um outro foco de insalubridade.”
E dá sugestões para que se adotem urgentemente medidas para contrariarem esta calamidade.

Inabalável da sua luta pela saúde pública deixa escrito num relatório que escreveu à câmara municipal e à administração do concelho, indicando as fontes, prédios e lugares públicos que deviam ser limpos e murados; “permaneceram, porém, mudas estas duas estações, tomando sobre si a responsabilidade moral das vítimas a quem a insalubridade deu margem.” E aproveita para citar os dispositivos legais conferidos à câmara, desde o tempo em que a Guiné era administrada por Cabo Verde, uma lista de proibições e as respetivas penalizações. “Tudo a bem no papel, em execução nada.”

E a seguir o seu relatório dirige-se para os hospitais e para o serviço médico-militar.
Ponte-cais de Bissau, construída pelo governador Carlos Pereira na década de 1910
A Baía de Bolama nos tempos da tentativa de ocupação britânica, segunda metade do século XIX
Trecho do rio Geba, imagem ainda do século XIX

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 13 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26150: Historiografia da presença portuguesa em África (452): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, continuamos na companhia de Damasceno Isaac da Costa, 1886 (10) (Mário Beja Santos)