quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9523: Memória dos lugares (177): Aldeia Formosa e os camaradas que nunca mais vi (Álvaro Vasconcelos)

Vista aérea de Aldeia Formosa


1. Mensagem do nosso camarada Álvaro Vasconcelos*, 1.º Cabo Transmissões do STM, Aldeia Formosa e Bissau, 1970/72, com data de 20 de Fevereiro de 2012:

Boa noite camarigo Carlos Vinhal
É com muito gosto que dirijo esta mensagem.

Obrigado pela publicação do texto que remeti quando do aniversário do Luís Graça. Alongo as alusões a ele remetidas, como reconhecimento do trabalho que se propaga no Blogue, por graça de Deus e por providencial iniciativa de todos vós, editores (desde há seis anos, se não mais) das estórias duma juventude sofredora - nascida numa era de pós-guerra, vivendo um tormento de mais de 14 anos de luta intensamente retrógrada, e castradora, do mais elementar período da vida de quem é jovem - nos anos em que se sonha(va) com a constituição de família autónoma dos progenitores, e nos obrigaram a viver afastados do mundo.
Desgraçadamente hoje os jovens sofrem outro tormento: o desemprego!... Por isso, ajudemo-nos uns e outros!...

Anexo as fotografias que presumo servirão para "retocar" (ou complementar) o post.

Aproveito para dar alguns pormenores que não indiquei:

Eu fui 1.º Cabo Radiotelegrafista, 08025769;
Presentemente sou aposentado - trabalhei no ramo segurador até aos 58 anos.
Após a aposentação mudei-me para o interior e resido em Baião.
Como casei em Matosinhos, onde residi e nasceram os filhos, frequentemente passo alguns dias de cada mês em Leça da Palmeira, onde posso desfrutar do mar e do movimento das embarcações no Porto de Leixões. Enfim: é a PAIXÃO pelo "Horizonte" e pelo "Mar" desta região tão marcante na minha vida.

A primeira, foi conseguida à porta do Posto de Transmissões do aquartelamento: Lembro o Agostinho Barbosa (de pé à esquerda); o Furriel CMDT do Posto; o Tony: em baixo, o Costa e eu.

Na seguinte, aparecem, da esquerda para a direita; o Agostinho, o Fonseca (condutor do Pel Fox) e o Tony.

A outra, nos "matraquilhos", jogava o Carlos Alberto (em primeiro plano), também com o resto do pessoal da guarnição do Posto de Transmissões.

Esta malta não mais se encontrou.

Tenho mais umas quantas fotografias. Vou tentar remetê-las em outras mensagens, oportunamente.

Por agora, um abraço reconhecido.
Muita saúde, para ti e para a família.
Bem hajas!
Álvaro Vasconcelos
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 2 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9434: Tabanca Grande (320): Álvaro Simões Madureira Vasconcelos, Transmissões STM (Aldeia Formosa e Bissau, 1970/72)

Vd. último poste da série de 19 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9505: Memória dos lugares (176): Buruntuma, lá no "cu de Judas"...

Guiné 63/74 - P9522: Memória dos lugares (177): Um topónimo com uma grafia (Tabassi) e uma fonia (Tabassai) (José Manuel Matos Dinis)

Localização de Tabassi na Carta de Pirada


1. Esclarecimento do nosso querido amigo e camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), sobre uma dúvida nossa (do Cherno Baldé e dos editores) a respeito do topónimo Tabassi (ou Tabassai) - uma tabanca que fica(va) a sudoeste de Bajocunda, na estrada Pirada-Bajocunda  (*)

Meus Caros Luís e Cherno,


A verdade é que se trata de uma mesma aldeia, situada a meio caminho da estrada que liga Pirada a Bajocunda. Verbalmente sempre ouvi designá-la pela fonia Tabassai, mas nas cartas geográficas normalmente consta Tabassi. A pronúncia Tabassai era usual entre os naturais, e generalizadamente utilizada. Nos meus escritos uso-a indistintamente. (**)

Um abraço para dividirem.
JD

2. Comentário do editor:

E se for erro (tipográfico) da carta ? É possível... O José Manuel Dinis usa Tabassi ou Tabassai. Dois camaradas nossos, e escritores, Manuel Barão da Cunha (em Tempo Africano) e Armor Pires Mota (em Estranha Noiva de Guerra),  que conheceram a região, usam o topónimo Tabassai, de acordo com notas bibliográficas de Beja Santos:


Vd. poste P6847

(.,..) Depois emergimos em Tabassai, na região de Pirada, estamos ainda em 1970. Tabassai fica sensivelmente a meia distância entre Pirada e Bajocunda, pertence ao regulado da Pachana. Voltando atrás, em 1965, é provável que Barão da Cunha rememore acontecimentos que viveu, descreve usos e costumes, temos novos reencontros, há mesmo uma ida ao Morés, temos de novo os comportamentos de heróis anónimos na permanente elegia de Barão da Cunha (...).

Vd. poste P6727

(...) A paixão entre Mariama e Elias desperta. Passa-se pela região de Lala Samba, os jagudis voltam a atacar o finado, arrancam-lhe os olhos, metade de uma orelha, o nariz. Aos tombos, chegam a Cumbijã Sare, lavam o que resta do Perdiz. A trama ganha novos contornos com a chegada de dois guerrilheiros, depois chegam à tabanca de Sambuiá onde um velho, de nome Mamadú Keta, antigo alferes de segunda linha, irá oferecer um cachimbo ao Bravo Elias. Ali se falará do futebolista Eusébio e numa xícara da Vista Alegre. Depois de terem ladeado Tabassai, dá-se o reencontro com a tropa. Mas a via-sacra ainda não terminou, aliás nunca se saberá qual o seu ponto culminante. Segue-se um ataque a Mansabá, uma descrição como nunca encontrei na literatura da guerra colonial: o vigor da encenação, os sons, as imagens de sofrimento, as águas-fortes das correrias e dos rodopios. No durante o ataque os dois jovens guerrilheiros do Morés matam Mariama. O apocalipse prossegue, Bravo Elias consegue olhar com os olhos enxutos todo este mundo devastado em que até o pássaro John pia assustado, era um fio de voz que doía. E assim termina este romance incomparável: “Então, resolvi erguer-me de onde estava, aéreo e pardacento, e, cambaleando muito, fui à procura de John por cima de um mundo de destroços”. (...)

Eis o texto de apresentação, à Tabanca Grande, do próprio José Matos Dinis, enviado por mail de 21/8/2008:

(...) Caro Luís Graça e amigos:

Chamo-me José Dinis, integrei a CCaç 2679 no CTIG, durante os anos de 1970/71, como Fur Mil,companhia que, inicialmente, desempenhou funções de intervenção no Sector Leste, baseada em Piche, onde estava o BART 2857, tendo passado ao regime de quadrícula em Bajocunda, em Agosto/70, substituindo a CART 2438, sendo dependente do COT 1.

Integrei o 2ª. pelotão, que comandei durante cerca de 18 meses, após atransferência compulsiva do meu grande amigo, o Alf Mil Eduardo Guerra. O grupo ficou conhecido por Foxtrot, e ganhou nomeada pela sua grande disponibilidade, entrega e arrojo. Ao nível da companhia, regista o maior número de louvores e o menor número de 'porradas'.

Em Piche fui dinamizador da estação de rádio ali criada, embora com a antena horizontal próxima do telhado de zinco para 'abafar' as emissões,  em virtude da falta de autorização para o efeito. Em Bajocunda criei a jornal Jagudi, que expandia textos de diversos camaradas, bem como, por vezes, transcrevia artigos de orgãos da comunicação social. O jagudi ganhou alguma notoriedade porque era lido pelo João Paulo Dinis no Pifas.

A Zona de Acção do Sector L4 - Piche -, onde fizemos intervenção, apresenta uma superfície plana de cerca de dois mil quilómetros quadrados, com a altitude média de sessenta metros, e uma cobertura vegetal dispersa, por vezes de savana, adensando-se nas proximidades dos rios.Tinha como limites a fronteira com o Senegal, entre os marcos 50 e 58, a norte, o R Corubal, até à Confluência do R Seli, o R Beli, até à confluência  com o R Juba, o R Juba, o R Camidina, o R Cambajã, Cambajã (excl.), Canjamo (excl.),Sinchã Bebe (excl.),o R Délebel, o R Bidigr,o R Nhangurem, o R Chimanar, o R Rapael, o Nácia, o Bial, o R Corri, o R Nungajá, e o marco 63, regiões fronteiras à Guiné-Conakri.

A Zona de Acção de Bajocunda apresenta características idênticas às do Sector L4  e estendia-se de Tabassi a Copã. Nestas regiões não havia instalações IN,  quer de carácter permanente, como provisório. A actividade do IN consubstanciou-se em acções contra a população (para roubar e intimidar), à implantação de engenhos explosivos em estradas e outras vias de acesso a povoações e a flagelações contra aquartelamentos das NT e aldeias em autodefesa. A única emboscada concretizada não vitimizou o pessoal da companhia.

A densidade populacional era elevada, tendo em conta a fertilidade do terreno e o clima relativamente favorável a fixação. Havia representantes de diversas raças: Fulas, em maioria absoluta, Futa-Fulas, Fulas-Forros, Fulas-Pretos, Mandingas, Panjandincas e Bambarancas.

O Fula não aceita outra relegião para além do islamismo. Também era notória a sua preferência pela língua árabe, mesmo deturpada. O português, como língua falada, não era da sua preferência. Os fulas, ardentes propagandistas do islão, propagavam a escolaridade em árabe. A população manifestava-se algo colaborante, mas assumia uma posição neutra em relação ao IN, de maneira a, agradando a uns, não desagradar aos outros.

A nossa missão era a de garantir a segurança nas regiões, através de patrulhamentos de prevenção às infiltrações do IN, assegurar a liberdade de movimentos nos itinerários, montagem de emboscadas, diurnas e noturnas, em supostos lugares de passagem ou penetração do IN, apoios e contactos com as populações, relativamente a acções de indole psicológica ou sanitária.

A actividade do IN surpreendeu-me por alguma passividade e, para isso, tenho a minha interpretação; Em 1969, após o nosso abandono da região do Boé, e como estruturação do IN para o objectivo da independência, alguns dos seus quadros terão rumado aos países que lhes davam formação, pelo que essa mobilização - que não posso garantir, mas parece ter acontecido - reflectiu-se na abrandamento da guerra, que se acentuou a partir dos finais de 1972.

Para esta caracterização apoiei-me na história da companhia. Afinal, uma boa parte das companhias dispersas pelo território do CTIG tiveram funções semelhantes, mas nomeá-las tem a intenção de recordar ou reportar algumas das tarefas do quotidiano, alguma caracterização antropológica, alguma sensibilidade sobre o relacionamento das partes envolvidas. Lanço o repto a outros mais capazes, de divulgarem os conhecimentos que tenham relativamente a estas matérias, com o óbvio fim de ajudar à melhor compreensão de factores endógenos, que influenciaram on desenrolar dos acontecimentos.

Pronto, fiz a minha apresentação, e peço que me considerem como membro da Tabanca Grande. Quero despedir-me com um abraço aos amigos.

Cascais, 2008.08.21
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 14 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9353: História da CCAÇ 2679 (46): SEXA COMCHEFE visitou Tabassi (José Manuel Matos Dinis) 

Guiné 63/74 - P9521: Nós da memória (Torcato Mendonça) (11): Vida nas Tabancas - Culturas - Fotos falantes IV





1. Texto e Fotos Falantes (IV Série) do nosso camarada Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69) para integrar os seus "Nós da memória".





NÓS DA MEMÓRIA - 11
(…desatemos, aos poucos, alguns…)

7 – VIDA NAS TABANCAS

- Culturas

Antes uma foto de uma bajuda especial. Uma amizade especial.

Aquelas terras de cultivo eram férteis.
Não era fácil cultivá-las nalguns locais. Estava sempre presente o medo de um ataque do IN, das suas minas, raptos e violações.

Era falso, o respeito deles pelas populações que não estavam subjugadas ao seu poder. Musa Iéro, próximo de Candamã, foi disso exemplo e, sem população armada – excepto um Milícia da Moricanhe em visita à sua família – foi a Tabanca praticamente arrasada. Muitos feridos, alguns mortos, muitos em fuga. O Milícia foi cortado ao meio com uma granada de RPG e as poucas roupas levadas, em profanação de cadáver.

Eu estava lá, melhor eu cheguei lá poucas horas depois.

Não atacaram uma Tabanca com doentes com lepra. Foram evacuados, tempo depois para Bafatá, creio eu.

Vejam as fotos. São de locais de paz.

Vida nas tabancas > Bajuda

Vida nas tabancas > Bajuda e o banho

Vida nas tabancas > Trabalho na bolanha

Vida nas tabancas > Paraísos

Texto e fotos ©: Torcato Mendonça (Fotos Falantes IV) 2012. Direitos reservados
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9509: Nós da memória (Torcato Mendonça) (10): Vida nas Tabancas - Famílias - Fotos falantes IV

Guiné 63/74 - P9520: Facebook...ando (16): Em busca de camaradas da minha companhia, CCAÇ 3544/BCAÇ 3883, "OS Roncos de Buruntuma", Buruntuma, mar 72 / jan 74 (Francisco Alves, Torres Vedras)


1.  Mensagem do nosso leitor (e camarada) Francisco Alves (a quem convidamos, desde já,  para integrar a nossa Tabanca Grande):

De: caldas [a.caldas@net2000.ch]
Data: 25 de Janeiro de 2012 17:04
Assunto: Contatar ex-camaradas


Francisco Alves,  do Batalhão [de Caçadores] 3883, Companhia [de Caçadores] 3544, "Os Roncos de Buruntuma", natural de Torres Vedras, deseja entrar em contato com camaradas da sua companhia. N° telef: 261 331 509.

Francisco tem um filme da sua passagem pela Guiné, no Facebook (Ponte do Rol TV,  guerra colonial ).  Desde já obrigado pelo vosso blog.



Descrição da página: " Ponte do Rol é a aldeia mais bonita do Mundo.  Ponte do Rol é uma aldeia muito bonita, fica situada no distrito de Lisboa, a 5 km de Torres Vedras, a 10 km de Santa Cruz. É banhada pelo sol todo o santo dia, tem cerca de 2100 filhos. Nossa Senhora da Conceição é sua madrinha. Nosso Senhor Jesus seu padrinho".


Não nos foi possível localizar o supracitado vídeo. É possível que já não esteja disponível nesta página do Facebook. Recorde-se o historial deste batalhão e das suas companhias:


(i) O BCAÇ 3883 foi mobilizado pelo RI 2, tendo partido para a Guiné, de avião, em Março de 1972 (o comando e a CCS em 19/3/1972; a CCAÇ 3544, a 20; a CCAÇ 3545, a 22; e a CCAÇ 3546 a 23);


(ii) A CSS ficou sediada em Piche;


(iii) O comandante era o Ten Cor Inf Manuel António Dantas;


(iv) O comandante da CCAÇ 3546 (Piche, Cambor, Ponte Caium e Camajabá) era o Cap QEO José Carlos Duarte Ferreira;


(v) As outras companhias do BCAÇ 3883 eram a CCAÇ 3544 (Buruntuma e Piche; teve dois comandantes: Cap Mil Inf Luís Manuel Teixeira Neves de Carvalho; Cap Mil Inf José Carlos Guerra Nunes) e a CCAÇ 3545 (Canquelifá e Piche; comandante, Cap Mil Inf Fernando Peixinho de Cristo);


(vi) O batalhão regressou a casa, de avião, em Junho de 1974.


A CCAÇ 3544 - "Os Roncos de Buruntuma" - foi rendida pela 2ª C/BCAV 8323/73:


(i) A 2ª C/BCav 8323/73 seguiu em 15Nov73 para Piche, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCaç 3463, tendo assumido a responsabilidade do respetivo subsetor de Piche em 25Nov73, ficando na dependência do BCaç 3883;


(ii) Em 24Jan74, mantendo-se no Setor L4, assumiu a responsabilidade do subsector de Buruntuma, por troca com a CCaç 3544, onde se manteve até à sua evacuação em 05Jul74, deslocando-se para Piche.
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Nota do editor:
Último poste da série > 15 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9355: Facebook... ando (15): Um "regalo" para a Maria Ivone Reis, que anteontem fez anos (Hugo Moura Ferreira)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9519: O Nosso Livro de Visitas (127): Carlos Alberto Morais dos Santos, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAV 1749 (Mansabá, 1967/69)

1. Mensagem do nosso camarada e leitor Carlos Alberto Morais dos Santos, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAV 1749, Mansabá, 1967/69, com data de 17 de Fevereiro de 2012:

Chamo-me Carlos Alberto Morais dos Santos, fiz parte da Companhia de Cavalaria 1749 como Mecânico Auto e estava em Mansabá aquando do ataque na quinta-feira Santa de 1969, que o SR descreve no seu blogue, e que eu costumo ler, recordando tempos passados. Mas uma situação me intriga. O SR apenas faz referencia à sua Companhia e ao Batalhão 2851 então comandado pelo Tenente Coronel César da Luz Mendes, e não fala da actuação da Companhia de Cavalaria 1749, que também sofreu um morto e vários feridos. Porquê? Será por esquecimento? Gostaria de saber.

Carlos Alberto Morais dos Santos


2. Deduzido que o nosso camarada se referia ao Poste 3146* do nosso tertuliano Raul Albino (ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, , Mansabá e Olossato, 1968/70), foi a este pedido o devido esclarecimento.

Recebemos do Raul esta mensagem que foi reencaminhada ao Carlos Santos:

Em relação à observação do nosso ex-combatente Carlos Santos, da CCav 1749, ele tem toda a razão, eu não me refiro à sua Companhia. A razão é muito simples. Se qualquer pessoa ler bem esse post, eu tinha chegado a Mansabá dois dias atrás, vindo de Có acompanhado por mais um grupo de combate, que tinham ficado em Có para reforçar e acompanhar a passagem de testemunho para a Companhia que nos substituiu enquanto a CCaç 2402 (a dois grupos de combate) ia reforçar o contingente de Mansabá.

Eu relato claramente a minha frustração durante esse ataque, por não conhecer o aquartelamento nem o seu plano de defesa e muito menos a composição desse destacamento, ou seja desconhecia a existência da CCav 1749 ou outra qualquer Unidade lá destacada. Conhecia a minha Companhia e o meu Batalhão, como ele muito bem refere. Mais ainda, foi nessa altura que tive o primeiro contacto com o resto do Batalhão, porque tínhamos iniciado a comissão em Có como Companhia independente, reportada ao comando de Bula.

No livro da História do Batalhão, vi que está lá reportado toda a operação a um nível global, com a intervenção de todas as Unidades que responderam a esse ataque inimigo, incluindo as referências às baixas nossas e deles. Como eu só relatei aquilo que vi e que se passou comigo, não era a pessoa mais habilitada para descrever o que se passou com as outras Unidades. Isso é o que essas Unidades terão de fazer para enriquecer a história desse ataque violento, de preferência contado na primeira pessoa. Eu procurei que nos relatos que fiz sobre a CCaç 2402, já compilados em livro, que todos os participantes dessem a sua perspectiva sobre um mesmo acontecimento (ataque, emboscada, etc.), como se se tratasse de um filme com varias câmaras a captar. Nem sempre consegui a participação de vários intervenientes, possivelmente por insegurança quanto à qualidade dos seus textos. Já viram o que seria, por exemplo, a descrição desse ataque a Mansabá, visto de vários ângulos? Dava um filme...

Espero ter esclarecido o nosso bloguista Carlos Santos e sugiro que ele conte aquilo que viu e assistiu na sua campanha na Guiné. Para ele um abraço de amizade, na esperança de nos virmos a encontrar no próximo convívio do blogue.

Um bem haja,
Raul Albino


Novembro de 1971 > Testemunho da passagem da CCAV 1749 por Mansabá.
Foto de Carlos Vinhal


3. Esta foi a reacção do nosso camarada Carlos Santos:

Boa tarde
Pois meu amigo fico muito grato pela sua resposta, e compreendo perfeitamente a razão por que não faz referência à minha Companhia. Para começar a nossa conversa informo-o de que não sou homem de estudos, tenho apenas o nono ano e como tal o meu português é limitado, mas ao contrário da competência escolar, sou grande em experiência de situações vividas. Eu era à data desse ataque apenas 1.º Cabo Mecânico Auto, profissão que desenvolvi por toda a minha vida até à presente data.


Nesse dia estava de Mecânico de Dia ao Batalhão e como tal saí de Mansabá de madrugada a caminho de Bissau acompanhando a coluna. No regresso a Mansabá como saberá parávamos em Mansoa, terra onde também estive nove meses, e aí fomos informados pelo SR Comandante do Agrupamento de que o inimigo tinha sido visto em dois sítios, portanto para irmos com muita atenção porque embora não tivéssemos duas emboscadas, uma íamos ter de certeza.

Eu conduzia nessa tarde um carro civil sem a respectiva autorização, coisas da idade e o dono desse carro, que tinha um estabelecimento em Mansabá, o Sr Amadeu Pereira que tinha a cabeça a prémio ficou em Bissau possivelmente já informado do que iria acontecer e pediu-me para eu levar o carro e entregá-lo à Dona Benvinda, sra. cabo-verdiana que com ele vivia. Comecei então a ter algum receio visto que o carro civil era conhecido, mas chegamos a Mansabá sem que alguém nos perturbasse.

Pelas 11h15 ouviram-se os primeiros rebentamentos que só terminaram à meia-noite e que provocaram tudo quanto o sr descreve e muito mais. Morreu nesse ataque um soldado condutor da CCS do BCAÇ 2851 que tinha saído do hospital nessa tarde, morreu um apontador de morteiro e morreu o soldado José Maria Madeira Lorem da Companhia de Cavaria 1749 à qual eu pertencia, para além de vários civis, incluindo crianças queimadas e os que morreram posteriormente.

Tenho o histórico da minha Companhia e vou procurar mais informação sobre este ataque e vou enviar-lha, assim como as minhas fotos que pede.

Quanto a possível encontro de ex-militares estarei sempre à disposição para recordar, o que apesar de tudo ainda recordo com alguma saudade.

Saudações amigas
Carlos Alberto Soares dos Santos

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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 24 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3146: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (12): Ataque a Mansabá

Em 3 de Abril de 1969, um grupo inimigo estimado em cerca de 100 elementos, atacaram Mansabá de diversas direcções com Canhão sem recuo, Morteiro 82, Lança Granadas Foguete, Metralhadoras Pesadas, Metralhadoras Ligeiras e outras armas automáticas.

O ataque começou cerca das 23,15 horas e durou 45 minutos. As nossas tropas (ao nível do Batalhão) sofreram 1 morto, 10 feridos graves e 23 feridos ligeiros. Segundo o relatório da nossa Companhia, pertencer-nos-ia 3 feridos graves evacuados para o Hospital Militar 241, tendo posteriormente um dos feridos sido evacuado definitivamente para o HMP de Lisboa, além de 16 feridos ligeiros. A população sofreu 7 mortos, 12 feridos graves e 19 feridos ligeiros.[...]


Foto 1 > Mansabá > Alguns dos feridos esperando evacuação para Bissau

Foto © Raul Albino (2008). Direitos reservados.


Vd. último poste da série de 2 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9431: O Nosso Livro de Visitas 126): Fernando Paiva, Pel Caç Nat 57, Mansoa e Bindoro, abril de 1967/abril de 1969

Guiné 63/74 - P9518: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (2): Frutuoso João Ferreira, natural da Lourinhã, 1º cabo at cav, 3ª C/BCAV 8323/73 (Pirada, nov73/ago74)

1. Faltam-nos, no nosso blogue, depoimentos dos "últimos guerreiros do império". Por uma razão ou outra (pudor, medo de censura social, falta de tempo, de disponibilidade,  de motivação, etc.), muitos dos  nossos camaradas que chegaram à Guiné nos  último meses que antecederam o fim da guerra e o regresso a casa, ainda não passaram para o papel ou para o ecrã do computador as suas memórias desse tempo, e os sentimentos contraditórios que muitos terão experimentado aquando da retração do nosso dispositivo militar e do "regresso definitivo das naus"...

Percorrendo a Net fui encontrar o depoimento de uma camara da minha terra, que esteve no TO da Guiné durante um ano (Set 73/Set 74) e que pertenceu ao BCAV 8323/73. Esse depoimento está publicado no sítio do Jornal das Caldas (edição em linha) (Jornal regionalista,  tem como diretor Jaime Costa e chefe de redação Francisco Gomes). Tem também uma página no Facebook

Por se revelar de grande interesse para os nossos camaradas que estiveram no leste da Guiné, no final da guerra (*), tomamos a liberdadade de reproduzir aqui, com a devida vénia, um excerto extenso do artigo. Os nossos parabéns ao autor do artigo e ao seu jornal. Um Alfa Bravo para o nosso camarada Frutuoso (e, no meu caso, conterrâneo). (LG)



Memórias da Guerra na Guiné > Frutuoso Ferreira > Jornal das Caldas, 28 de Janeiro de 2009 

Frutuoso João Ferreira foi 1º cabo atirador do Batalhão de Cavalaria 8323, na Guiné, em 1973/74.  Nasceu em Abelheira, Lourinhã, há 56 anos. Antes de cumprir serviço militar foi pedreiro da construção civil. Depois, quando regressou da Guiné à sua terra natal, continuou nessa profissão por mais quatro anos. Em 1978 tornou-se guarda-fiscal. Desde 2005 que está em situação de reserva da Brigada Fiscal da GNR. (...)


Assentou praça em Elvas, no Batalhão de Caçadores 8, em 14 de Maio de 1973, e foi tirar a especialidade em Estremoz, no Regimento de Cavalaria 3. Tinha 20 anos. 

“Quem vivia nos meios rurais, como era o meu caso, de política pouco ou nada conhecia, mas como qualquer bom português que se prezasse, o ânimo que tínhamos era que estávamos a servir a Pátria”, relata.

No dia 22 de Setembro de 1973 embarcou no Niassa (...). Ia o [BCAV]  8323 e mais dois outros batalhões e uma companhia. Levaram uma semana a chegar à Guiné. Alcançaram Bissau e entraram em lanchas [, LDG,] que os transportaram até à ilha de Bolama, onde estiveram um mês a tirar o IAO  (...)

O batalhão adoptou o nome “Os cavaleiros do Gabú” (Gabú era a região onde esteve). O comandante do Batalhão era o [tenente] coronel Jorge Mathias, da Ericeira.

 “Eu estava no 4º pelotão da 3ª companhia, comandada pelo capitão Ernesto Brito, de Lisboa. O alferes Alípio Cunha, de Vila Nova de Famalicão, comandava o meu pelotão e havia três furriéis – o Sousa, o Simão e o Esteves. Os outros comandantes de pelotão eram os alferes Manuel Gonçalves, Rodrigo Coelho e António Pereira, respetivamente do Fundão, Pinhel e Amarante”, descreve.

O comandante da [CCS] era o tenente Francisco Costa, de Coimbra. O capitão Ângelo Cruz, da Amadora, chefiava a 1ª Companhia, enquanto que o capitão Aníbal Tapadinhas, de Lisboa, comandava a 2ª. Integrava ainda o Batalhão a [CCAÇ 11], que tinha à frente o capitão Nuno Sousa, de Lisboa.

“Quando acabou a formação, regressámos no dia 31 de Outubro a Bissau e deslocámo-nos para Pirada, uma pequena povoação que ficava a poucos metros da fronteira do Senegal, onde o inimigo – os guerrilheiros do PAIGC – tinha algumas das suas bases”, indica.

Em Pirada estava a CCS e a 3ª companhia:

 “A nossa missão era proteger  [a sede do batalhão,] e as populações locais – os brancos que lá havia era só um casal de comerciantes e a filha – e patrulhar constantemente aquela zona para que o inimigo não tivesse nenhuma progressão no terreno. Havia um campo de minas e todos os dias íamos lá para ver se tinha acontecido alguma coisa. O certo é que os guerrilheiros do PAIGC nunca foram ao pé do arame farpado para nos atacarem”, lembra. “Mas desde a fronteira eles disparavam mísseis [ foguetões 122 mm] e nós respondíamos com os velhos obuses 14, que tinham menos alcance”, sublinha.

“A 1ª companhia foi para Paunca e a 2ª para Bajocunda e nós tínhamos de ir abastecê-las. Foi numa dessas alturas que passei o primeiro susto e momento aflitivo. Quando íamos para Bajocunda, a 13 de Dezembro [de 1973], foram detetadas várias minas anticarro. Toda a gente se protegeu, ficando só o sapador da CCS – o soldado Fernando Almeida – que as levantou. Repetiu a operação quatro vezes, só que a seguinte foi-lhe fatal”, narra.

“Gritava ele para o alferes Alípio Cunha, dizendo-lhe, satisfeito, que ao levantar a quinta mina já tinha dinheiro para ir à metrópole de férias (a passagem de avião custava cerca de quatro mil escudos – 20 euros) – os sapadores recebiam do Estado mil escudos (cinco euros) por cada mina anticarro que levantassem – mas a mina estava armadilhada com outra antipessoal e rebentou”, prossegue.

“O corpo ficou todo desfeito aos bocados, espalhados pelo mato. Um pé foi cair à minha frente. Juntou-se o que se pôde e ficámos muito impressionados e desmoralizados. Não estávamos assim há tanto tempo na Guiné e já havia uma baixa. A partir daí sentimos que estávamos na guerra a sério”, comenta Frutuoso Ferreira.



No dia 18 de Dezembro houve um ataque inimigo a Amedalai e a 7 de Janeiro [de 1974]  houve em Bajocunda uma emboscada com armas ligeiras a uma coluna que ia abastecer um pelotão que estava em Copá. Morreram dois soldados – Sebastião Dias e José Correia, da 2ª Companhia, que ficaram em cima das duas Berliet destruídas. O pelotão a que pertencia foi escalado para ir lá buscar os corpos e tentar trazer o que restava das viaturas, operação difícil mas conseguida.

Durante o mês de Fevereiro registaram-se várias investidas em Copá e Bajocunda. A 1ª companhia também sofreu ataques e morreram o 1º cabo António Ribeiro e os soldados Rui Patrício, Silvano Alves e José Oliveira.

“Passados uns dias fomos fazer protecção a Sissaucunda, povoação a quinze quilómetros de distância de Pirada, com meia dúzia de palhotas. Cada pelotão permanecia naquele fim do mundo durante um mês. A nossa alimentação era ao almoço arroz com marmelada e ao jantar esparguete com atum. No dia seguinte era quase a mesma e só variava com arroz com salsicha”, conta.

O PAIGC quis juntar-se à "festa” e no dia 13 de Abril [de 1974]  brindou-os com um ataque de mísseis lançados desde o Senegal. O destino era Pirada

“Vi os mísseis passarem por cima de Sissaucunda e começámos todos a correr para as valas escavadas no chão para nos protegermos. Sentia os mísseis a ‘assobiarem’ por cima de nós e poucos segundos depois a caírem em Pirada. O objectivo deles era atingir o quartel, mas caíram na povoação e mataram muitos civis”, descreve.

No dia 25 de Abril o PAIGC voltou a atacar Pirada e mataram civis africanos, mas “da nossa parte não houve feridos nem baixas”. 

A partir de 25 de Abril de 1974, em virtude das modificações políticas ocorridas em Portugal, “não tivemos mais problemas na Guiné, porque iniciaram-se os contactos e conversações com os chefes da zona, entre as nossas tropas, o PAIGC e a população. Ainda bem que assim foi, porque a guerra estava tão acesa naquele setor, que se tem continuado mais tempo não sei se estaria cá para contar a história”.

“A primeira vez que encontrámos o inimigo já como amigo, na fronteira do Senegal, houve um sentimento estranho. Mas baixaram as armas e começámos a trocar tabaco e bonés”, conta. E adianta: “Passámos o resto do tempo a recolher material bélico e na companhia do PAIGC a fazer propaganda política”.

A 21 de Agosto procedeu-se à entrega de Paunca ao PAIGC. No dia seguinte foi a vez de Bajocunda e a 25 de Agosto seguiu-se Pirada, com a recolha da CCS e da 3ª Companhia a Bissau.

Ainda prestou serviço no quartel-general em Bissau a guardar o palácio do brigadeiro Carlos Fabião, comandante-chefe das Forças Armadas na Guiné. No dia 4 de Setembro, na parada do BCP 12, em Bissalanca, cerca de 500 homens do [BCAV]  8323 uniram-se em formatura geral, “sentindo cada homem palpitar dentro do seu peito a dignidade do soldado português, que enfrentou os perigos de uma guerra dura”, manifesta Frutuoso Ferreira, que regressou a Portugal no dia 12 de Setembro de 1974.

Francisco Gomes (texto)
Texto e foto: Jornal das Caldas
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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9512: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (1): O caso de Buruntuma e o ultimatum de Bobo Keita, comandante do PAIGC

Guiné 63/74 – P9517: Convívios (397): Comemoração do Dia do Combatente de Gondomar, dia 3 de Março de 2012 (Carlos Silva)

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Silva (ex-Fur Mil Inf CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71), com data de 19 de Fevereiro de 2012:

Meus caros amigos Vinhal ou Magalhães
Agradeço-vos que publiquem no blogue o cartaz relativo às comemorações do Dia do Combatente em Gondomar a celebrar no próximo dia 3 de Março
Apelo a todos os ex-combatentes, familiares e amigos que compareçam nesse dia em Gondomar

Com um abraço amigo
Carlos Silva


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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 – P9495: Convívios (317): 3º Encontro de várias gerações de Lanceiros Polícia Militar/Polícia do Exército (Nuno Esteves)

Guiné 63/74 - P9516: In Memoriam (111): Joaquim Fernando Ferreira Martins, ex-Fur Mil Inf.ª de Armas Pesadas que cumpriu a sua comissão de serviço no CTI da Guiné entre 1961 e 1963

1. Mensagem conjunta do nosso camarada Álvaro Vasconcelos* (Transmissões do STM, Aldeia Formosa e Bissau, 1970/72) e do seu sobrinho Hugo Martins, com data de 19 de Fevereiro de 2012:

Boa tarde Carlos Vinhal:
Hoje venho cumprimentar o Camarigo e informar que tendo sido admitido como Tertuliano 539 - Álvaro Vasconcelos, informei que preciso de ajuda para navegar na internet.
Tenho fotos para enviar para o blogue da minha passagem por Aldeia Formosa e Bissau, brevemente as enviarei.

Estou na casa de um familiar (sobrinho Hugo), que quer "tertuliar" a passagem do pai (já falecido) por terras da "nossa" Guiné, de seu nome Joaquim Fernando Ferreira Martins, nascido a 7-12-1939.
Por favor, Carlos, aprecia o texto e as fotos que ele vai fazer chegar-te através deste email.

No caso de interessar aos nossos tertulianos procede de forma a dar satisfação ao pretendido. Trata-se de um jovem que quer saber o mais possível sobre a prestação do pai na Guiné. O pai do Hugo cumpriu serviço militar antes do eclodir do conflito com o PAIGC, pelo que será interessante o seu registo.

Álvaro Vasconcelos

Segue em anexo o documento que elaborei com base na caderneta militar do meu pai, em conjunto com algumas fotografias.

Aguardo a sua apreciação.
Os melhores cumprimentos
Hugo Martins



IN MEMORIAM

Joaquim Fernando Ferreira Martins, nascido a 7 de Dezembro de 1939, filho de Joaquim Ferreira Martins e Rosa Ferreira dos Santos

Alistado em 4 de Julho de 1959, incorporado a 4 de Junho de 1960, como recrutado. Ficou disponível a 13 de Maio de 1963.

Antes da incorporação possuía o 3º ano do Curso de Formação de Técnicos de Tecelagem (5º grupo) na Escola Infante D. Henrique.

Como habilitações profissionais militares, conclui o Curso de Sargentos Milicianos no ano de 1961.

Foi 1º Cabo Miliciano a 29 de Janeiro de 1961, e posteriormente Furriel Miliciano a 1 de Março de 1962.

Durante o tempo de serviço, foi colocado nas seguintes unidades: EPI com o nº de ordem 391 a 4 de Junho de 1960, RI 8 com o nº 742 a 29 de Janeiro de 1961 e finalmente na unidade RI 15 com o nº 77/C a 27 de Abril de 1961.

Em 1960 foi presente para a frequência do 1º ciclo do Curso de Sargentos Milicianos, em 4 de Junho.
Ficou apto para a frequência do 2º ciclo do Curso de Sargentos Milicianos em 31 de Julho, desde quando entrou de licença registada.
Presente para a frequência do 2º ciclo do Curso de Sargentos Milicianos em 28 de Agosto do mesmo ano.
Em 1961 terminou com a classificação de 12,41 valores o 2º ciclo do Curso de Sargentos Milicianos de Infantaria na especialidade de Armas Pesadas, em 28 de Janeiro, no Centro de Instrução que frequentou em Tavira. Foi promovido a 1º cabo miliciano em 29 do mesmo mês por ter concluído com aproveitamento o 2º ciclo do Curso de Sargentos milicianos.

Foi nomeado para servir no ultramar nos termos da alínea c) do art. 3º do Dec-Lei 42937 de 22 de Abril de 1960.
Embarcou em Lisboa em 27 de Abril e desembarcou no porto de Bissau em 3 de Maio.
Em 1963 foi averbado numa E.R por equivalência a seis meses de treino operacional no CTI da Guiné.
Embarcou no porto de Bissau de regresso à metrópole, em 9 de Abril. Tendo posteriormente desembarcado em Lisboa no dia 19 de Abril.

Esteve na Guiné entre o dia 3 de Maio de 1961 e o dia 8 de Abril de 1963.





2. Comentário de CV:

Aqui fica esta homenagem ao nosso camarada Joaquim Martins que seu filho Hugo lhe quis prestar através do nosso Blogue.

Se algum camarada daquele tempo nos ler, por favor dê sinal e contacte o nosso amigo Hugo.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 2 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9434: Tabanca Grande (320): Álvaro Simões Madureira Vasconcelos, Transmissões STM (Aldeia Formosa e Bissau, 1970/72)

Vd. último poste da série de 21 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9514: In Memoriam (110): Faleceu o Major de Artilharia António José de Mello Machado, 2º CMDT do BART 2865 - Catió, Cufar e Bedanda -, FEV1969 a DEZ1970 (António Brandão)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9515: Fotos à procura de... uma legenda (18): A ecomesa de snooker... em África!


Foto: "Criatividade africana"... Autor desconhecido



1.  A foto veio pelo correio do Mário Beja Santos, e circula pela Net. Veio apenas com esta legenda: "Criatividade africana"... Não sei se a legenda é um elogio à capacidade extraordinária dos mais pobres dos africanos (a começar pelas crianças) de lidar com as situações mais adversas (da guerra civil à extrema pobreza das megacidades do continente negro), ou se é um olhar cínico, etnocêntrico e superior de gente que nunca saberá pôr-se na pele do outro...


Não resisti à tentação de a "postar" aqui no nosso blogue, em  terça feira gorda de carnaval... Não sei o que mais admirar, se a reinvenção da mesa de snooker - ou melhor, da ecomesa -, se a concentração (e o gozo) dos jovens jogadores... A foto podia ter sido tirada algures, na Guiné-Bissau... Para o caso não interessa...  Faz-me também recordar os nossos "jogos de infância" e a extraordinária capacidade inventiva da minha geração, que nasceu pobre, no tempo do candeeiro a petróleo: no pátio da escola, de terra batida, ou no adro da igreja com calçada à portuguesa, nas vilas e aldeias da Estremadura, jogávamos o "hóquei em patins" com "sticks" de pau de tarmagueira e... seixos redondos recolhidos na praia!... E construíamos rádios de galena para ouvir os relatos emocionantes do Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins, torcendo pela equipa das quinas!


Recuso-me a fazer comentários moralistas ou miserabilistas do género Vejam, os pobres dos africanos, felizes com tão pouco!...  


Parabéns ao autor,  desconhecido, da foto ... Merece uma boa legenda, para o que fica aqui o desafio aos nossos leitores!....
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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9500: Fotos à procura de uma legenda (17): Bambadinca ("a cova do lagarto"), abril de 1972, ao tempo do BART 3873 (1971/74)

Guiné 63/74 - P9514: In Memoriam (110): Faleceu o Major de Artilharia António José de Mello Machado, 2º CMDT do BART 2865 - Catió, Cufar e Bedanda -, FEV1969 a DEZ1970 (António Brandão)


1. O nosso Amigo e leitor António Brandão, ex-Alf Mil OpEsp da CCAÇ 2336 (Angola 1968/70) reenviou-nos uma mensagem com 6 fotografias, que lhe foi envidada por um primo seu, dando-nos conta do falecimento do Sr. Major de Artilharia António José de Mello Machado, que foi 2º Comandante do BART 2865. 

Caro Magalhães Ribeiro:

Reencaminho-te este e-mail de um primo meu, também ele, ex-Alf Mil em Angola, no BART 3881, 1972/74.

Possivelmente, tal como o Duarte diz, "tocará" alguns de vós ex-combatentes da Guiné.


Publica se entenderem.

Um abraço,
Brandão 


Faleceu o Sr. Major de Artilharia António José de Mello Machado, que foi 2º Comandante do BART 2865



“Biba,

Soube ontem, segunda-feira, com atraso, do falecimento do cmdt do meu batalhão (1972/73); hoje é rezada missa do 7º dia na igreja da Assunção, em Cascais.

Não sou destas coisas de orações, mas conto por lá passar para ver se, depois destes anos todos a viúva ainda me conhece; boa senhora, mas um pouco debilitada desde os idos de 70, por força do que hoje se chamaria uma depressão persistente e que, em boa parte, deu cabo da psique do falecido, que, mesmo assim, nunca deixou de ser  o oficial digno e de invulgar elegância no trato com todos.

Ocorre-me que podes divulgar o óbito pelo pessoal da tabanca grande, já que ele passou nos três teatros de operações, de seu nome: António José de Mello Machado. 

Pelas minhas contas terá estado na Guiné por volta de 1968/70 [, vd. referência ao BART 2865, no nosso blogue: esteve na Região de Tombali - Catió. Cufar e Bedanda - entre fevereiro de 1969 e dezembro de 1970]; antes esteve em Moçambique (comandava a RMM o  general Carrasco).

Na passagem pela  Guiné, pelos meus registos, esteve no comando das guarnições de Catió, Cufar, Bedanda, Cabedés, Cacine, Cameconde, Gadamael, Guilege e Ganturé.

O orgulho do homem foi uma operação, em que ele e meia dúzia de operacionais se deslocaram e emboscaram na ilha de Como (pese embora o facto de não ter apanhado o que queria); o Spínola veio a tomar conhecimento, louvou e proibiu repetições da aventura.

Junto 6 fotos que tirei de um livro dele: na última, como se refere, está com o George que embora não pareça era um implacável comandante catanguês

abr
dna"  







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Nota de M.R.: 

Em nome do Luís Graça e demais Camaradas desta tertúlia bloguista endereçamos à família enlutada do Sr. Major de Artilharia António José de Mello Machado os nossos mais sentidos pêsames, em mais este negro momento da “família“ do BART 2865 e de todos os Camaradas que cumpriram as suas comissões militares na Guiné.

Vd. último poste desta série em: 

 9 DE FEVEREIRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P9463: In Memoriam (109): Daniel Matos (1950-2011), ex-Fur Mil, CCAÇ 3518 (Gadamael, 1971/74): Agradecimentos da família aos camaradas da Guiné (Joana Matos)


Guiné 63/74 - P9513: FAP (66): Buruntuma: lá no cu de Judas... o famoso ataque de 13 horas (em 27/2/1970), as represálias aéreas de Spínola (27 /11/1971 ) e a caça aos MIG imaginários (1973) (António Martins Matos / Luis Borrega / José Manuel M. Dinis)

1. Comentário, ao poste P9505,  de António Martins Matos, ex-ten pilav (Bissalanca, 1972/74), hoje ten gen na reserva:

Buruntuma era mesmo no cu de judas.


Tinha igualmente aquele estigma, (semelhante a Guidage e Pirada) demasiado próximo da fronteira com o país vizinho, podia ser utilizada como tiro ao alvo do PAIGC sem que pudéssemos ripostar, já que o Spínola não autorizava missões da FAP no estrangeiro.

Os aviadores aterravam na direcção da fronteira e descolavam na direcção oposta (qualquer que fosse o vento ou as condições meteo).

Andei várias vezes por ali à procura de Migs imaginários, nunca os vi!!!

Um dia deixaram-nos ir partir umas bilhas lá para Koundara, quando aterrámos em Bissau já estávamos a dever combustível ao G-91.

2. Comentário de Luís Borrega (ex-Fur Mil Cav e MA da CCAV 2749/BCAV 2922, Piche, 1970/72):

Caro António Matos:

Quando foste a Buruntuma bombardear Koundara [, capital da região da região Boké, a sudeste], não seria Kandica  [, frente a Buruntuma, no nordeste] ?


O  Gen Spínola estava lá em Buruntuma. A CCav 2747 tinha tido um valente ataque IN na noite de 25/11/71. Dia 27 ,Spínola vai de DO a Buruntuma. Manda formar a guarnição, a milícia e a População.  Nesse momento chegam seis Fiat G-91, rasam Buruntuma e Kandica, ali as antiaéreas começaram a disparar mas calaram-se logo. A seguir ouviram-se enormes rebentamentos em Sofá, a base do PAIGC. Nova passagem, largaram o resto das bombas e retiraram-se para Bissau.
Spínola mostrou o seu carisma de chefe. Falou às Populações locais:
-Viram o que aconteceu ? Agora vão dizer aos do lado de lá, que se tornam a fazer outro ataque com morteiros, mando o dobro dos aviões e o dobro das bombas !
Com esta atitude moralizou extraordináriamente os militares da CCav 2747 e Milícias...

Mantenhas, Luís Borrega.


3. Comentário de José Manuel Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), ao mesmo poste P9505:
Da mesma história da unidade consta que o IN sofreu 8 mortos militares, incluindo o tenente comandante, e o chefe da alfândega.

Foi a primeira acção em que participou a minha companhia, atravé do 1ºpelotão e do Fur mil Azevedo de armas pesadas.JD
É verdade,  o sentimento de Spínola em relação àquela fronteira. Não sei desde quando, mas o general teria mandado informar que,  se Buruntuma fosse atacada, as NT ripostariam sobre Kandika. Em 27fev70, após um ataque àquele aquartelamento em 24fev70 (é o que consta da História da Unidade, embora me pareça que decorreu mais tempo), que provocou 28 mortos civis, depois de vários transportes de material (obuses, canhões e morteiros, bem como munições, guarnições, e outra tropa de segurança), as NT retaliaram durante cerca de duas horas. O IN respondeu durante 13 horas. As famosas 13 horas de Buruntuma. As NT sofreram 1 morto e 5 feridos.
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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8111: FAP (65): Falando do nosso destacamento em Nova Lamego (Gil Moutinho)

[ Palmas !!!, há mais de 1400 postes - 10 meses... - que não se publicava um poste na série FAP... Ou os editores andam a ver navios, ou os nossos pilaves não descolam... Viva o Carnaval da Tabanca Grande!] 

Guiné 63/74 - P9512: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (1): O caso de Buruntuma e o ultimatum de Bobo Keita, comandante do PAIGC


p. 222




p. 223


p. 224

 p. 225




p. 226

Reprodução de excertos do livro de Norberto Tavares de Carvalho, De campo a campo: conversas com o comandante Bobo Keita. Edição de autor, 2011, pp.  222-226. Sublinhados, a vermelho, de L.G.



Capa do livro de Norberto Tavares de Carvalho, De campo a campo: conversas com o comandante Bobo Keita. Edição de autor, Porto, 2011, 303 pp. (Impresso na Uniarte Gráfica, SA; depósito legal nº 332552/11). Posfácio de António Marques Lopes.


1. Os acontecimentos acima referidos por Bobo Keita (ou Queta) passam-se com as NT estacionadas em Buruntuma (sector de Pirada), mas também na Ponte Caium (que dependia do batalhão de Piche). Os interlocutores portugueses aqui referidos deveriam ser o capitão de Buruntuma e o tenente-coronel que comandava o batalhão sediado em  Piche (já que o destacamento de Caium dependia de Piche).

Em 25 de Abril de 1974, havia o batalhão,  com comando e sede em Pirada, era o BCAV 8323/73: mobilizado pelo RC 3, partiu de Lisboa em 22/9/1973 e regressou a 10/9/1973. Comandante: ten cor  cav Jorge Edurado Rodrigues y Tenório Correia Matias.

Deste batalhão faziam parte:  

- a 1ª C/BCAV 8323/73, que guarnecia Bajocunda (Comandantes: Cap Cav Ângelo César Pires Moreira da Cruz; Cap MIl Cav Fernando Júlio Campos Loureiro);

- a 2ª  C/BCAV 8323/73, que esteve em Piche, depois Buruntuma e de por fim de novo em Piche. depois da retirada de Buruntuma, em 5 de juolho (Comandantes: Cap Mil Cav Aníbal António Dias Tapadinhas; Alf Mil Cav António Jorge Ramos Andrade);

- e ainda 3ª C/BCAV 8323/73, que esteve (sempre) em Pirada (Comandante: Cap Mil Cav Ernesto Jorge Sanches Martins de Brito).

O batalhão que estava em Piche, em julho de 1974, era o BCAÇ 4610/73, que foi render o BCAÇ 3883 (Piche, 1972/74).  Mobilizado pelo RI 16, partiu para o TO da Guiné em 11/4/1974 e regressou a 14/10/1974. Esteve em Bissau, Piche, Bula e Bissau. Comandantes: ten cor inf Paulo Eurico de Lacerda e Oliveira Martins; ten cor inf César Emílio Braga de Andrade e Sousa.  

Terá sido um destes dois oficiais superiores que terá proferido ameaças ao Carlos Fabião (último Governador da Guiné, de 7 de maio a 15 de outubro de 1974, com-chefe do CTIG, além de representante da Junta de Salvação Nacional na Guiné), a acreditar no depoimento do Bobo Keita. 

 

O BCAÇ 4610/73 era constituído por 3 companhias:

- 1ª C/BCAÇ 410/73: esteve em Camajabá, Piche, Bissau, Nhamate e Bissau. Comandante: Cap Mil Inf Manuel Cunha Pereira Machado;

- 2ª C/BCAÇ 410/73: esteve em Camajabá, Piche, Bissau, Tite e Bissau. Comandante: Cap Mil Inf José Emídio Barreiros Canova;

- 3ª C/BCAÇ 410/73: esteve em Piche, Bula e Bissau. Comandante: Cap Mil Inf Marcos António Blanch Machado.

Buruntuma foi a primeira guarnição da zona leste a ser desocupada pelas NT e ocupada de imediato pelo PAIGC, por  uma força comandanda pelo Bobo Keita, em 5 de julho de 1974. Camajabá e Canquelifá foram desocupadas a seguir, a 6 e a 7 de julho, respetivamente. 

As restantes guarnições do leste só foram desativadas em Agosto e Setembro, respeitando os planos de retração do nosso dispositivo militar (aprovado pela 3ª Rep/QG/CCFAG) :  

Madina Mandinga (20 de agosto), 
Paunca (21), 
Bajocunda (22), 
Pirada (25), 
Piche (25), 
Saltinho (27), 
Cancolim (1 de setembro), 
Contuboel (2), 
Fajonquito (2), 
Nova Lamego (4), 
Galomaro (5) 
e Bafatá (7).

Também faziam parte da "zona leste", tal como o Saltinho, Galomaro e Cancolim, mas aparecem na "zona sul" (, no relatório da 2ª rep, certamente por lapso, ) as seguintes guarnições: Mansambo (2 setembro), Bambadinca e Xime (9 de setembro).

Os fatos acima relatados pelo Bobo Keita são confirmados pelo relatório da 2ª rep. O ultimatum de Bobo Keita às NT em Buruntuma é vista uma clara violação ao acordo de cavalheiros estabelecido pelas NT e o PAIGC no que respeito à retirada, planeada, ordenada e concertada (a nível local), dos nossos aquartelamentos e destacamentos. Alega-se que Bobo keita estaria "mal esclarecido" sobre esse acordo e os seus trâmites. Por outro lado, as instalações das NT eram particularmente apetecidas pelos combatentes do PAIGC, na zona leste, mais árida, com menos vegetação do que no sul, e em plena época das chuvas. No relatório da 2ª rep, diz-se explicitamente que o comportamento indisciplinado dos homens de Bobo Keita se devia também, em parte, ao facto de serem "periquitos", de serem novos na região e na guerrilha, viverem em condições precárias e estar-se na época das chuvas.

Por outro lado, o capitão de Buruntuma deveria ser Cap Mil Cav Aníbal António Dias Tapadinhas (que, por curiosidade,  foi camarada do nosso camarigo A. Marques Lopes, no 2° Pelotão da 3.ª Companhia do Curso de Oficiais Milicianos do 1.º turno/janeiro de 1966, na EPI, Mafra).

 



Reprodução de um excerto das pp. 52/53 do Relatório da 2ª Rep / CCFAG: de 1jan73: relativo ao período de 1jan73 a 15out74 (*)


Confirma-se que a força do PAIGC que cercou Buruntuma era comandada Bobo Queta (ou Keita), sendo Eduardo Pinto muito provavelmente o comissário político. Nas entrevistas nunca é referido, por Bobo Keita, o nome de Eduardo Pinto. No supracitado relatório, avança-se com a tese da existência de 2 linhas dentro do PAIGC, no que diz respeito ao processo de transferência de soberania: (i) uma mais dura, que se manifestou no leste (com as pressões sobre Buruntuma, Canquelifá, Dunane, Camajabá, mas também Madina Mandinga, Dara, Pirada, Bajocunda, além das barragens de controlo das nossas colunas militares) e que foi protagonizada por Bobo Keita; e (ii) uma linha mais conciliatória e sensata, que terá sido seguida no sul.

Apesar de "todo o processo de retração do dispositivo e desocupação dos aquartelamentos das NT" ter sido "fértil em diferendos com os grupos das FARP ocupantes" (veja-se o caso de Buruntuma),   foi sempre possível evitar incidentes de maior, recorrendo-se ao diálogo em vez da confrontação direta. Em suma, imperou o bom senso e fez-se valer a capacidade de negociação e comunicação das duas partes.

Bobo Keita acabou por ser 'desautorizado'  por Aristides Pereira e por 'Nino' Vieira, que reprensentavam o poder político a que se deviam subordinar os operacionais do PAIGC. (Vd. a pp. 197/198, do livro do Norberto Tavares de Carvalho,  as apreciações críticas que o Keita faz sobre os defeitos de caráter do 'Nino'). 

Recorde-se, por outro lado,  que Bobo Keita é um dos três comandantes que integram a delegação do PAIGC na primeira ronda de negociações de paz em Londres (de 25 a 31 de Maio) e depois em Argel (13-14 de junho): ele representava a Frente Leste, os outros comandantes eram o Lúcio Soares (Norte) e o Umaru Jaló (Sul). O chefe da delegação era o Pedro Pires. Entretanto, a 8 de setembro Bobo Keita é o primeiro a entrar em Bissau com os seus homens (não sabemos quantos), vindos do leste. Aqui, e até à partida do último governador português do território, em 13 de outubro, a relação do Bobo com as NT parece ter sido correta e até cordial. 



Reprodução de um excerto da pág. 51 do relatório da 2ª rep (*)

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de

15 de fevereiro de 2012 >
Guiné 63/74 - P9486: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte VIII): pp. 37/46