terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9515: Fotos à procura de... uma legenda (18): A ecomesa de snooker... em África!


Foto: "Criatividade africana"... Autor desconhecido



1.  A foto veio pelo correio do Mário Beja Santos, e circula pela Net. Veio apenas com esta legenda: "Criatividade africana"... Não sei se a legenda é um elogio à capacidade extraordinária dos mais pobres dos africanos (a começar pelas crianças) de lidar com as situações mais adversas (da guerra civil à extrema pobreza das megacidades do continente negro), ou se é um olhar cínico, etnocêntrico e superior de gente que nunca saberá pôr-se na pele do outro...


Não resisti à tentação de a "postar" aqui no nosso blogue, em  terça feira gorda de carnaval... Não sei o que mais admirar, se a reinvenção da mesa de snooker - ou melhor, da ecomesa -, se a concentração (e o gozo) dos jovens jogadores... A foto podia ter sido tirada algures, na Guiné-Bissau... Para o caso não interessa...  Faz-me também recordar os nossos "jogos de infância" e a extraordinária capacidade inventiva da minha geração, que nasceu pobre, no tempo do candeeiro a petróleo: no pátio da escola, de terra batida, ou no adro da igreja com calçada à portuguesa, nas vilas e aldeias da Estremadura, jogávamos o "hóquei em patins" com "sticks" de pau de tarmagueira e... seixos redondos recolhidos na praia!... E construíamos rádios de galena para ouvir os relatos emocionantes do Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins, torcendo pela equipa das quinas!


Recuso-me a fazer comentários moralistas ou miserabilistas do género Vejam, os pobres dos africanos, felizes com tão pouco!...  


Parabéns ao autor,  desconhecido, da foto ... Merece uma boa legenda, para o que fica aqui o desafio aos nossos leitores!....
______________


Nota do editor:

Último poste da série > 17 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9500: Fotos à procura de uma legenda (17): Bambadinca ("a cova do lagarto"), abril de 1972, ao tempo do BART 3873 (1971/74)

16 comentários:

Luís Graça disse...

(...) Havia a bola, o hóquei em patins,
O Campeonato Mundial de Montreux,
E pouco mais.
Ouvia-se o relato do hóquei,
Debaixo dos lençóis,
Numa galena inventada pelo Zé Pestana
Que há-de emigrar para o Canadá,
E registar patentes das suas engenhocas!

Jogava-se à bola
Em Portugal
Quando nós éramos pequeninos.
Na era dos cinco violinos.
Jogávamos à bola
Os de xanatas ou botas
Contra os de pé descalço
No largo do coreto
Depois da missa matinal
E do peixe salgado com batatas.
Que era a comida dos pobres
No Inverno da minha aldeia.
Os da aldeia de baixo contra os de cima.
Os da Lourinhã contra os Casal Novo
E da Pedreira,
E que eram muito mais matulões do que eu.
Os da Terra contra os da Lua.
Os Travassos contra os Jesus Correia.

Jogava-se hóquei
Com um pedra esquinada
E de pau de tramagueira
E botas de couro cardadas
No largo do coreto da minha aldeia.
E a senhora professora Dona Helena
Que te punha a vigiar e a punir
A turma dos insurrectos,
Essa chusma de insectos,
De repetentes, de analfabetos,
De quem a Nação nunca viria a ter orgulho.

(...)

In: Luís Graça > Blopoesia > Novembro 27, 2005 > Blogantologia(s) II - (17): Com Brueghel, domingo à tarde


http://blogueforanadaevaodois.blogspot.com/2005/11/blogantologias-ii-17-com-brueghel.html

Hélder Valério disse...

Caros amigos

Esta foto, de facto, mostra bem a criatividade que se tem que ter quando as coisas 'não aparecem feitas'. O Luís relembra no seu poema como essa mesma criatividade era o timbre da nossa geração, com os carrinhos de rolamentos a descer pelas calçadas inclinadas das nossas povoações, com os jogos de hóquei em patins sem patins, as lutas de espada a cavalo, com estes a serem paus de vassoura, etc..

Aqui, nesta foto, esse mesmo improviso está patente e, convenhamos, até nem está nada mau.

Uma legenda possível pode ser: "oxalá que não chova" pois quando isso acontecer a mesa 'dissolve-se'.

Abraço
Hélder S.

Luís Graça disse...

Meu caro Hélder, seguramente que é uma versão de mesa de snooker para a época seca... Tens olho clínico... LG

Anónimo disse...

Os fantásticos olhares poético-lusitanos,e outros detalhes pragmáticos também possíveis. Junto à casa, ao fundo da foto,estão dois sacos brancos marcados USA.Por certo mais um dos generosos e absolutamente necessários auxílios alimentares.Dentro destas influências culturais, tão bem representadas no tão típico snooker,poder-se-is perguntar:Onde está o Bar? Mas, para se não cair nestes cinismos (fáceis e baratos!) provocados pelo vento norte,e voltarmos à nossa Lusitânia...não haverá nem bar,nem os seus típicos frequentadores. Tudo mais não é que o feliz recreio de uma escola com responsáveis aculturados.A assim ser,a legenda procurada... "Mente sã em corpo são", eivada de "nostalgias várias" das nossas juventudes não ficará mal de todo. Espero que os editores não levem a mal estas diferentes consideracöes por parte de um leitor que,para mais,também tem um fraco pela poesia,na vida,e da vida. Será este talvez ,o mundo fantástico que as fotos desconhecidas sempre nos abrem. Um abraço.

Luís Graça disse...

Me caro lusolapão:

Ampliando a imagem, reconhece-se facilmente num dos sacos encostados à parede da morança ao fundo o acrónimo USA, de United States of America, o nosso grande irmão.

Em meados dos anos 50, quando andava na escola primária, também beneficiei da generosidade do povo americano, e em especial da Caritas (ONG católica)... O leitinho e o pãozinho com queijo que comíamos, na escolinha do Conde Ferreira, tinha a marca USA...

Os laticínios eram um luxo na província, até aos anos 60, nas vilas e aldeias da nossa querida terra... A Caritas também nos mandava roupinhas da marca USA...

É bom não esquecer que a nossa geração, os baby-boomers do pós-guerra, nasceram numa época em que a taxa de mortalidade infantil era de 120 (morriam 120 crianças em 1000, até aos cinco anos!)...

Sou do etmpo em que passeava com o Bruegel domingo á tarde...

(...) [Um dia] levei o Brueghel comigo.
Creio que o perdi para sempre
Quando me senti estrangeiro como o Camus,
Na minha própria terra.
Enterrei-o definitivamente
Nas bolanhas da Guiné,
Entre os mais pobres dos pobres,
Os meus camponeses fulas pretos da Guiné. [..]

Antº Rosinha disse...

Mas os meninos e jovens das nossas enormes aldeias sem luz eléctrica e sem fardas da MP, eram menos previlegiados que os das pequenas cidades portuguesas.

Era nas cidades que moravam aqueles que vestiram aquela belíssima farda e aquelas botas de fazer inveja.

Claro que os da cidade que não "chegavam" a ter botas devia ser duro para eles.

Porque nas enormes aldeias era porreiro que era tudo igual.

Os piões era melhores os daqueles que tivessem mais habilidade de entre os 20 garotos da rua.

Enquanto se rasgavam as calças para subir o muro para roubar as uvas do vizinho, os meninos da MP já treinavam triplo salto em colchões de espuma.

Enquanto os da MP já tinham vela no tejo, e faziam esgrima como o Errol Flin, nas aldeias era o varapau´, e água só ao domingo.

Penso que os nossos comandantes da guerra todos vestiram aquela farda desde pequeninos.

Todosm menos os "da brigada do reumático" porque ainda não havia a MP, no tempo deles.

Penso que o primeiro capitão que me comandou na guerra em 1961, e me disse que estava ali, por causa dos brancos que estavamos em Angola, é que ele estava ali de camuflado.

Dizia "que nós tinhamos tratado mal os pretos".

Vendo bem, tanto investimento do Estado Novo na preparação daquelas pessoas e manadá-las logo para áfrica e a defender as costas de uns matarroanos lá de traz das fragas!

Lembro-me de alguns militares revolucionários dizerem que só não eram mais revolucionários por causa da ~mãe ser muito católica porque o pai já era muito republicano.

E a revolta deles já vinha do tempo da Mocidade Portuguesa.

Olha se fosse do tempo de ser pastor!

Luís Graça disse...

O provinciano lisboeta (mais do que lisboeta provinciano) Aberto Caeiro (1889-1915) também achava que o rio da sua aldeia só podia ser, afinal, mais belo (porque mais livre) que o Tejo...


O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia,
O Tejo tem grande navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

Recorde-se que...

o Alberto Caeiro nasceu em Lisboa, em 1889, e morreu jovem, em 1915, tendo contudo vivido quase toda a sua vida no campo, com uma tia-avó idosa, porque tinha ficado órfão de pais cedo. Era louro, de olhos azuis.

Como habilitações literárias, apenas tinha a instrução primária (muito mais do que a grande maioria dos portugueses do seu tempo). Não se lhe conhecioa profissão, além de "guardador de rebanhos" (leia-se: pensamentos).

Coitado, mal conheceu a mocidade, quanto mais a Mocidade Portuguesa!... Nem o seu amigo Fernando Pessoa chegou a conhecer nenhum Lusito (dos 7 aos 10 anos),
Infante (dos 10 aos 14 anos),
Vanguardista (dos 14 aos 17 anos) ou Cadete da MP (dos 17 aos 25 anos)...

O que teria escrito o Alberto Caeiro, se tivesse 20 anos em 1960 e sido mobilizado,como tu, Rosinha, para "Angola, rapidamente e em força" ?

Talvez tivesse recitado, no desfile na marginal de Luanda, o seu célebre poema:

"Patriota? Não: só português.
Nasci português como nasci louro e de olhos azuis.
Se nasci para falar, tenho que falar-me"...

Anónimo disse...

A genealidade destes putos africanos -vê-se disto por todo o continente- lembra os 'nossos' que brinacvam com espantosas réplicas em miniatura de Unimog e de DO27, feitos com arames e caixas de pomada para as botasm e guiados cá de cima dos seus sete ou oito anos, com volante e alavanca de mudanças e tudo.

Os brinquedos industriais, não simulando nem simbolizando a realidade almejada, não educam e distorcem-na, interrompendo a cadeia da aprendizagem e massificando sem profundidade. Têm muitas cores onde o representado por vezes se apresenta cinzento e nem lúdicos são, apenas alienantes.

SNogueira

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
manuelmaia disse...

CARO LUÍS,

A MESA DE SNOOKER...


AO VER ESTA FOTOGRAFIA QUE,EM BOA HORA, POSTASTE, LEMBREI-ME DE UMA COISA SIMILAR QUE JUNTAMENTE COM UNS PRIMOS FAZÍAMOS NA NOSSA RUA (EM TERRA BATIDA...)
HAVIA O MURO DA CASA DE UM DELES QUE SERVIA DE TABELA.
FIZEMOS UM BURACO EM CADA EXTREMO E COLOCAMOS UNS CARRINHOS QUE EM TEMPOS LEVARAM LINHAS ANTES DE ACABAREM, E CRAVÁ-MO-LOS NA TERRA NAS POSIÇÕES IGUAIS ÀS QUE VÍAMOS OS "CHAPÉUS" DO BILHAR CHAMADO RUSSO,EXISTENTE NO CAFÉ DA ALDEIA...
FAZÍAMOS CAMPEONATOS, NO TEMPO DO COMEÇO DAS LARANJAS, COM ESTAS (AINDA VERDES) A SERVIREM DE BOLAS
DE TÃO REDONDINHAS QUE ERAM...
QUEM NÃO TEM CÃO, CAÇA COM GATO,SEMPRE ASSIM FOI, E O ESTÍMULO À CRIATIVIDADE ERA FOMENTADA PELA COMUNICAÇÃO SOCIAL,COMO REFERES...

RECORDO TAMBÉM OS CAMPEONATOS DE HÓQUEI COM TROÇO DE COUVE GALEGA A SERVIR DE STICK...
QUANDO A COISA CORRIA PARA TORTO,PASSAVA-SE DO HOQUEI À TROÇADA MUNIDOS DOS DITOS STICKS...
QUANDO SE VIAM COWBOYADAS NA TELEVISÃO OU FILMES DE ESPADACHIM E PIRATARIA DO ERROL FLINN, ERA A ÉPOCA DO ARCO FEITO DE RAMO DE SOBREIRO(MAIS FLEXÍVEL) E DA SETA DE VARA DE GUARDA CHUVA...
ABRAÇO
manuelmaia

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Boa tarde amigo que massa cara!! eu conheço a autora
da foto!! irado!!