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Amigão,
Aí vai estória, acompanhada de um Grande Abraço extensivo ao Vinhal e ao Briote.
Jorge Cabral
2. Estórias cabralianas (40)
Explicação de L.G.:
Mais uma estória cabraliana... ou história, para os purista da língua. Uma questão que, de resto, está em aberto, no blogue; mas, que me perdoe o Norberto Gomes da Costa, eu não vou alterar o título da série, só por não ser linguisticamente correcto. O nosso camarada não suporta o vocábulo estória. Um dia destes vamos falar sobre isso. Tenho uma opinião diferente da dele... De qualquer modo, deixem-me dizer que as histórias do Jorge Cabral só podem ser... estórias, tal como as estórias do Luandino Vieira ou do Mia Couto, dois grandes escritores lusófonos que renovaram a nossa língua comum e a literatura em português. É bom que os portugueses se habituem à ideia de que não são donos da língua portuguesa...
Voltando ao Cabral: ele está, aliás, em dívida comigo e com o resto do pessoal da Tabanca Grande e demais visitantes do nosso blogue. Prometeu-nos escrever 50 estórias. É assim que vem no contrato. E um contrato, num país de juristas, tem muita força... O Jorge Cabral é jurista, não ia agora aceitar que eu fosse rasurar o documento e substituir o vocábulo. Estórias cabralianas já pagam direitos de autor e só podem do Jorge Cabral. Esta é o nº 40. Faltam 10 para ele pagar o resto da dívida e a gente um dia publicar-lhe o livro... Proponho que o lançamento do futuro livro seja no Maxime.
After-War, Cabral Empreendedor Putófilo
por Jorge Cabral
Claro que lembro do Tosco! (**). Havia pretas, mulatas e até uma chinesa. Todas, mais os copos, trataram-me da saúde. Entrava sempre a coxear, por via dos descontos… Mas o meu preferido era o Bolero, onde jantava no primeiro andar, antes do Tango em baixo, tocado a rigor por uma orquestra de cegos. Ainda lá fui após o 25 de Abril. A mesma orquestra, as mesmas putas, mas a música mudara – Todos em coro cantávamos a Internacional.
Foi porém no "Sempre em Festa” – Ritz Club (***) – onde além do mais, cortava o cabelo e fazia a barba, que estabeleci contacto comercial, com um simpático casal de artistas octogenários. Eles actuavam lá, vestidos de noivos, num número brejeiro, ao qual aliás ninguém ligava…
Convidei-os a investir num negócio que afiançava altamente lucrativo… Uma Embaixada de putas à Guiné e até, se tudo corresse bem, a construção de uma Tabanca – Bordel.
Acharam a ideia excelente, e eu comecei o recrutamento. Já tinha onze inscrições… quando resolvi pedir ajuda ao Barbosa Henriques (****). Era preciso sensibilizar o Exército e a própria Pide, para este importante esforço de guerra. Ao invés de me ajudar, o Capitão, pregou-me uma valente descompostura:
- Mas o Cabral está maluco? Agora quer ser chulo?
Muito triste, desisti. A minha carreira de empresário acabou antes de começar.
Anos mais tarde, propus ao Conselho Científico da Escola onde leccionava, a implementação de uma Cadeira nova – Putologia.
Recusaram.
Porra, tenho sido mesmo um gajo incompreendido!...
Jorge Cabral
________
Notas de L.G.:
(*) Vd. último poste da série > 25 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3237: Estórias cabralianas (39): O Marido das Senhoras (Jorge Cabral)
(**) Vd. poste de 30 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3380: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (10): Quando a guerra era com os copos... ou o elogio do Tosco, em Lisboa (Jorge Félix)
(***) Vd. poste de 5 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3025: Os nossos regressos (7): Perdido, com um sentimento de orfandade, pelos Ritz Club, Fontória, Maxime, Nina... (Jorge Cabral)
19 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1536: Morreu (1)... Barbosa Henriques, o ex-instrutor da 1ª Companhia de Comandos Africanos (Luís Graça / Jorge Cabral)
19 de Março de 2007> Guiné 63/74 - P1611: Evocando Barbosa Henriques em Guileje (Armindo Batata) bem como nos comandos e na PSP (Mário Relvas)
3 comentários:
Só falta a referência ao Princípe Negro, ali ao elevador da Glória..E o Bolero tinha um caldinho que ajudava a compor o "estado das coisas"..Bons tempos.
Felicito-o pela escrita, é excelente.
Saudações atlânticas
João Coelho
O camarada João Coelho relembra o caldinho do bolero:e o bitóque?
A minha equipe de Moscavide era normal após o encerramento dos cafés por volta da meia noite apanhávamos um táxi que tinha que ser um Mercedes novo,(um cara larga não)e íamos papar um bitóque ao bolero,o seguinte não é preciso comentar.
Um alfa bravo.
Colaço
Eu cá sou nortenho e lá pelo Porto pontuava a Rosete, mais tarde eternizada pelos Taxi.
Não era cabaret, nem deu direito à cadeira de putologia mas que deu imensos mestrados e até doutoramentos, lá isso deu !
Também não servia caldo verde mas chegava-se a beber um branco gelado enquanto se esperava que as damas se compusessem ...
Por 100 escudos ( 0,50 € !!) e um toque especial de campainha, aparecia a madrinha que nos acompanhava ao aposento disponível para aguardarmos a nossa vez.
Não raro era a espera ser feita na cozinha ou na sala de jantar ornamentada com pequenos naperons em cima da televisão, do rádio, da mesa, etc.
Depois havia a passagem dos modelos e a escolha da felizarda que se recolhia à assoalhada disponível com a juventude sedenta ...
O retemperar das forças seguia-se no Transmontano, aos Poveiros, onde nos banqueteávamos com umas tripinhas à moda do Porto ...
Era dura, a vida ...
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