terça-feira, 25 de junho de 2019

Guiné 61/74 - P19919: Historiografia da presença portuguesa em África (164): O reino de Fuladu, de Alfa Moló Baldé a Mussá Moló, da bacia do rio Gâmbia ao rio Corubal (1867 - 1936) (Cherno Baldé)


Mussá Moló (1845-1931), ao centro, sentado; de pé, à sua direita, Dembá Dançá, e à sua esquerda Maransará, cabo de guerra deste último (in: Francis Bisset Archer, The Gambia Colony and Protectorate: An Official Handbook, London,  St. Bride's Press, 1906, 364 pp., il.) (*)

Cortesia de Armando Tavares da Silva / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)


1. Mensagem de Cherno Baldé [, Bissau, nosso colaborador permanente, nascido c. 1960, faz anos a 20 de junho,l tem cerca de 190 referêmcias no nosso blogue]: 

Data - Quinta-feira, 20/6/2019, 17h32 

Assunto - O reino de Fuladu, de Alfa Moló Baldé a Mussá Moló, da bacia do rio Gâmbia ao rio Corubal (1867 - 1936) (Notas de leitura) 

Caros amigos Luis Graça e Carlos Vinhal, 

Venho pela presente agradecer a todos pela atenção e carinho de sempre e,  juntamente, envio um texto sobre o tardio e efémero reino de Fuladu (reino dos fulas em mandinga) que surgiu nos escombros do antigo reino mandinga de Kaabu ou Gaabu [, Gabu,] entre as bacias dos rios Gâmbia e Corubal. 

Aproveito, igualmente, agradecer o interessante trecho histórico sobre a deslocação do destemido ten Marques Geraldes até a Indornal, capital do reino de Fuladu e suas consequências (*). Da minha parte estão autorizados a publicar no Blogue, caso tenha interesse que o justifique, em atenção ao nosso ilustre historiador português, Armando Tavares da Silva. 

De Bissau, com saudações fraternais, Cherno Baldé. 


2. O REINO DE FULADU DE ALFA MOLÓ BALDÉ A MUSSÁ MOLÓ,  DA BACIA DO RIO GÂMBIA AO RIO CORUBAL (1867 - 1936) (Notas de leitura) 

por Cherno Baldé

Alfa Moló nasceu no início do séc. XIX na aldeia de Sulabali, região de Firdu (situado entre as duas margens dos rios Gâmbia e Casamansa). O seu avô paterno, Fali Culibali, de origem Bâmbara (Mali), tinha sido comprado por uma família nobre de Fulas pastores,  de apelido «Baldé». 

Mais tarde, entre Malal Culibali,  um dos filhos de Fali Culibali,  e Gueladio Baldé, seu senhor, ambos caçadores, desenvolve-se uma amizade e sobretudo uma cumplicidade que vai permitir a fusão das duas famílias com a adopção pelo seu filho, Moló Egué (futuro Alfa Moló), do apelido dos seus senhores e mestres, eliminando, desta forma, os traços da sua origem servil. 

« Entre o Malal Culibali e Gueladjo Baldé, todos eles grandes caçadores, detentores da mística do ofício, existiam fortes laços de 'badinn’ya' (#),  espécie de pacto de irmandade, de entreajuda e de lealdade,  unindo os membros duma mesma familia mas de linhagens e castas sociais diferentes »,  diz-nos o historiador e especialista da história de Fuladu, o Senegalês Mouhamadou Moustafa Sow (3), Professor de História no Liceu Regional de Kolda, Senegal, apoiando-se nas crónicas e memórias por ele recolhidas na região do antigo Firdu (Gloria Alex) (2). 

Segundo os cronistas, Moló Egué Baldé, com idade de 15 anos, vai a Timbo (Futa-Djalon), para aprender (memorizar) o Alcorão e os rudimentos da religião, convertendo-se ao islamismo. No seu regresso, obtém a permissão de casar com Cumba Udé, filha de Gueladjo Baldé, e futura mãe de Mussá Moló. Entre os Fulacundas de Firdu, Moló Egué e Samba Egué (filho de Gueladjo Baldé) encabeçam a rebelião contra os mandingas pagãos de Gabu, a partir da floresta de Ndorna (Indornal,  na versão portuguesa), onde construiram um fortim (Tata, em mandinga), uma espécie de praça forte, a que, de forma provocatória, designam em mandinga « Mban Ulém – Eu recuso absolutamente…». 

Com a generalização da guerra, enviam um mensageiro ao chefe da Província (Diwal) de Labé, Alfa Ibrahima, a fim de pedir ajuda na sua luta contra os mandingas pagãos de Gabu (Gloria Alex). De 1840 à 1850, intensificam-se em todo o espaço do reino, guerras internas de resistência contra o domínio dos reis mandingas de Gabu. Na sequência, o Alto e o Médio Casamansa transformaram-se em lugares de combates violentos. 

Convertidos ao islamismo, os grupos fulas de Fuladu procuram aliar-se aos Almames de Timbo (Futa-Djalon) para combater os mandingas de Gabu. E, por sua vez, os mandingas islamizados de Gâmbia e do Baixo Casamansa aproveitam-se para se revoltar contra os seus irmãos pagãos de Gabu. Assim, das margens do rio Gâmbia e da Casamança até ao país Gaabunké na Guiné-Portuguesa, os últimos e derradeiros clãs Soninques do império, caiem sob os assaltos dos Fulacundas (Fuladu) e dos Futa-Fulas (Futa-Djalon) assim como dos Marabus mandingas, formando uma verdadeira Confederação de forças muçulmanas. 

Em meados de 1850, os reinos pagãos mandingas (Soninquês) do Médio Casamansa acabam de desaparecer, corridos pelos muçulmanos e os chefes pagãos foram substituídos por Marabus, animados pelo desejo da guerra santa contra os não muçulmanos. Bercolon ou Berecolon (Sankolla), praça forte Soninquê de Birassu (Braço,  na versão portuguesa), é assaltado e destruido em 1852. 

A partir de 1854, a França entra em cena na região e inicia o processo de colonização em direcção ao interior do Sudão Ocidental com o Faidherbe – Capitão e Governador do Senegal (1854/1864). Em 1867, os Confederados muçulmanos, liderados por Alfa Ibrahima de Labé, conseguem tomar Cansala, capital do império mandinga, onde morre Djanké Waly, o último Mansa de Gabu. 

Na iminência da sua derrota, Djanké Waly manda incendiar o paiol de pólvora e acontece o morticínio conhecido em mandinga por «Turuban », ou seja,  o fim da sementeira (dos mandingas de Gabu). Em 1873, a guerra termina com a derrota dos mandingas pagãos de Gabu. Alfa Moló e seus companheiros assinam o tratado de paz com o chefe mandinga, Fodé Madja. 

Entretanto, no campo dos fulacundas há um forte desentendimento sobre quem deve tomar as rédeas do poder no novo reino de Fuladu. Por um lado posiciona-se Moló Egué e grande parte dos seus seguidores saídos das fileiras dos « Jiaábhé » Fulas-Pretos e, por outro, o Samba Egué, da linhagem Fula-Forro,  que pretende ser o detentor da nobreza e logo da condição natural e necessária para chefiar o novo reino que acaba de nascer. 

A batalha entre as duas partes desentendidas terá lugar na localidade de Boguel e termina com a morte de Samba Egué e a ascenção fulgurante de Moló Egué, o filho do antigo cativo (Malal Culibali) que, doravante, assume a liderança do que poderia ser uma dupla revolução ou uma dupla rebelião no reino de Fuladu : a rebelião contra o domínio dos mandingas pagãos de Gabu e também a rebelião contra os seus antigos senhores, da linhagem Fula-Forro. 

Dali para a frente as coisas nunca serão como dantes em Fuladu, e esta nova situação política vai alterar o cenário das relações económicas e sociais até aí estabelecidas no seio das duas categorias de Fulacundas, convivendo no mesmo espaço territorial e que, mais tarde, serão reforçadas pela decisão dos europeus de acabar com todas as relações de servidão entre os seus sujeitos. Mas, a morte de Samba Egué (filho de Gueladjo Baldé) e a consagração de Moló Egué (filho de Maalal Culibali), visto na óptica dos cronistas da epopeia de Fuladugu (terra dos fulas , em mandinga), configura uma violação do pacto entre as duas linhagens da família « Baldé », com origens diferentes mas consagradas pelo ritual de irmandade e de lealdade «badinn’ya». 

Alfa Moló divide o seu reino em cinco Províncias, entregues aos seus homens de confiança: 

(i) os territórios de Monting (Bankuton) e Madina Pakane foram entregues a Maudê Baldé;
(ii) a Provincia de Manda Serakholé – Daba Baldé e os seus descendentes actuais vivem em Bantantoh Thierno (situado a Oeste de Kerewane);
(iii)  Sintcha Suruel – Alanso Cumbirry, seus descendentes actuais formam a familia de Moulaye Baldé (Bâba Moulaye) em Velingará;
(iv) Kandiaye (koukane) – Faran Djabu;
(v) Kaone – Coly Embaló, seus descendentes vivem em Pathiana, actual regiao de Gabu (N’gaide Abdarahmane). 

A partir de 1882, com Mussá Moló (1845-1931), as relações com o Futa-Djalon deterioram-se e a hostilidade é permanente, facto que será bem aproveitado pelos Franceses, presentes na sua colónia do Senegal, onde actua o Governador Faidherbe, decidido a ampliar e pacificar a colónia francesa do Senegal. 

Mussá Moló, para fazer face à ameaça dos Almames de Futa-Djalon que, de facto, o consideram como seu vassalo, vai aproximar-se dos Franceses com os quais vai assinar, em 1883 (3 de Novembro), um tratado de amizade e de protecção (N’gaide Abdarahmane). Com esse acordo, Mussá Moló pensa poder proteger-se contra as pretensões expansionistas de Futa-Djalon e ao mesmo tempo, poder conservar e ampliar o reino legado pelo seu pai. A França, por seu lado, está satisfeita, pois com o acordo vai poder construir o caminho de ferro há muito projectado do Este a Oeste, eliminar todas as contestações da parte da Grã-Bretanha e Portugal sobre aqueles territórios do Alto Casamansa e abrir assim o caminho de acesso ao Futa-Djalon, o seu próximo alvo, já à partir de Noroeste (N’gaide Abdarahmane). 

Alpha Yaya, que sucede ao seu pai (Alfa Ibrahima), vai protestar junto do Governador do Senegal e da Guiné-Francesa contra o que eles consideram de secessão do seu vassalo de Fuladu, mas os Franceses fazem orelhas moucas e preparam-se para atacar o Futa-Djalon com a ajuda de Mussá Moló.

Em 1894 (Abril), Mussá Moló parte em campanha e, com o apoio dos Franceses, derrota o rei de Pakisse, vassalo de Alpha Yaya, mas estes não perdem tempo e apertam o cerco, propondo ao Mussá Moló a assinatura de um novo tratado (1896), entre outros pontos, o pagamento de impostos (metade dos impostos de Fuladu deviam ser entregues a França) e a construção de um posto militar em Hamdalaye, capital do reino de Fuladu, situado entre a bacia do rio Gâmbia e o rio Casamansa. 

Mussá Moló que se aproximara dos Franceses para se libertar da dependência de Labé (Futa-Djalon), e extender o seu território, escolheria assim a melhor forma de perder a sua independência, pois os Franceses encontraram nele o meio para assegurar as suas ambições coloniais naquela zona de Africa (N’gaide Abdarahmane). Em 1903, Mussá Moló, sentindo o peso insuportável de tutela da França, foge para a Gâmbia, junto dos Ingleses, pensando encontrar um tutor que fosse menos exigente. Antes de partir, mandou queimar todas as aldeias a volta da sua capital e foi acompanhado por uma multidão de seguidores. 

Os Ingleses receberam-no muito apreensivos e foi autorizado a ficar sob custódia inglesa, com a condição de mandar embora a sua gente. Decididamente, Mussá Moló tardou muito a compreeender que o tempo dos monarcas africanos tinha chegado ao fim. Morreu em Kesserkunda, sua última residência, em 1931, com 85 anos. Como tinha acontecido com o seu pai, Mussá não será sepultado na sua terra natal e muito menos no território que tinham conquistado e, em partes opostas, o pai, Alfa Moló, enterrado na fronteira Sul, em Dandum (território da Guiné-Portuguesa) e o Mussá na fronteira Norte (território da Gâmbia) deixando o reino de Fuladu dividido em pequenos regulados independentes. 

Tendo durado apenas pouco mais de meio século (69 anos), o reino de Fuladu será um reino efémero (1867-1936). Aconteceu assim, dizem os cronistas, devido a violação de uma das partes (Alfa Moló), ao pacto de sangue, «Badinn’ya»,  celebrado entre Maalal Culibali (o servo) e Gueladjo Baldé (o senhor), aos quais unia uma verdadeira irmandade de sangue, para lá das condições e ditames sociais da época em que viviam.

Com a partida de Mussá Moló para a Gâmbia, a guerra e as razias que a acompanhavam tinham, finalmente, acabado no território de Fuladu e os chefes das províncias (Regulados), que muito o temiam pela sua crueldade e violência, acabaram por se sentir livres de celebrar alianças com os representantes locais das potências coloniais (França e Portugal), os novos senhores da situação que, com a Convenção Luso-francesa de 1886, tinham acabado de traçar as fronteiras que iriam separar os territorios das suas colónias. 
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Notas do autor:

# «Badinn’ya»:  termo mandinga que designa uma relação de irmandade outra que não consanguínia. As famílias e/ou pessoas ligadas por estas relações deviam considerar-se como irmãos de facto, com todas as obrigações e deveres de solidaredade e entreajuda a isso inerentes, e que nenhuma das partes podia violar sob pena de sofrer o castigo dos Irãs onde este ritual era celebrado. 

Referências bibliográficas : 

1. Ngaidé Abdarahmane : Le royaume Peul du Fuladu, de 1867 a 1936: L’Esclave, le Colon et le Marabout, 1997/98, Thèse de doctorat de troisième cycle en histoire, UCAD (Université Cheik Anta Diop, Faculté des Lettres et Science Humaines, Dakar, Sénégal. 

2. Gloria Lex : Le Dialecte Peul du Fouladou (Casamance, Sénégal): Thèse de doctorat en Linguistique et Phonétique. 

3. Mouhamadou Moustafa Sow, Professeur d’histoire, Lycée Régional de Kolda, Sénégal.

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(**) Último poste da série > 21 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19906: Historiografia da presença portuguesa em África (162): Ainda a viagem, ao Indornal (na atual Gâmbia), em março de 1883, do alferes Francisco António Marques Geraldes, cmdt do presídio de Geba, para ir resgatar duas mulheres cristãs, raptadas em São Belchior (Cherno Baldé / Armando Tavares da Silva / Mário Beja Santos)

15 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Cherno, é sempre um bico de obra escrever corretamente, em português, nomes próprios (como Mussá Moló) ou topónimos africanos (Casamansa)...

Eu aqui tendo a seguir os bons conselhos dos especialistas da língua, neste caso do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa... Por exemplo, sobre a grafia Casamança / Casamansa, eis a sua opinião:

(...) "José Pedro Machado, no Dicionário Onomástico-Etimológico da Língua Portuguesa, regista Casamansa como designação de um rio que serve de fronteira entre o Senegal e a Guiné-Bissau (África Ocidental). Além disso, é o nome da zona senegalesa actualmente dividida nas regiões de Ziguinchor e Kolda, compreendidas entre o sul da Gâmbia e o referido rio.

"O Vocabulário da Língua Portuguesa de Rebelo Gonçalves também inclui a forma Casamansa. E mais recentemente, o Dicionário Temático da Lusofonia (direcção e coordenação de Fernando Cristóvão, Lisboa, Texto Editores, 2005) dedica um artigo a Casamansa, grafando este nome com s na última sílaba. A forma “Casamança” não é, portanto, correcta, devendo ter surgido por influência do francês “Casamance”.

"Carlos Rocha 24 mar. 2006"

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Fonte: https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/o-topoonimo-casamansa-senegal/17341

Tabanca Grande Luís Graça disse...

régulo | s. m.


ré·gu·lo
(latim regulus, -i, rei jovem, rei de um pequeno estado)
substantivo masculino
1. Pequeno ou jovem rei. = REIZETE

2. Rei de um pequeno estado.

3. Chefe ou rei de um pequeno território considerado bárbaro ou semibárbaro.

4. Chefe ou líder que tem muito poder numa região pequena.

5. [Astronomia] Estrela da constelação do Leão.

6. [Antigo] [Química] Parte que se considerava mais pura, mais fixa e mais pesada de um metal ou mineral.


"régulo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/r%C3%A9gulo [consultado em 25-06-2019].

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Cherno:

Obrigado pelas tuas preciosas notas de leitura. Confesso que preciso de saber mais sobre a história dos teus antepassados e, em geral, do(s) povo(s) guineense(s)... Mas é um terreno armadilhado. Como eram povos sem escrita, foram em geral os europeus a escrever sobre os seus "usos e costumes" ou as suas andanças no espaço e no tempo...

Há alguns vocabulos e expressões que me causam algum desconforto, embora tenham entrado no nosso léxico do dia a dia... São manifestamente racistas, alguns, que eram utilizados no meu tempo, e são resquícios das sociedades escravocráticas: "trabalhar é bom para o preto", "trabalhar que nem um negro", "Quem poupa seu mouro poupa seu ouro"... Outros são mais subtis, menos óbvios, mas não deixam de ser pejorativos: "ovelha negra da família", "mercado negro", "preto ou pretinho da Guiné", por exemplo... Ou "fula-preto" 'versus' "fula-forro"...

De quem será a autoria da expressão "fula-preto" ? Da etnografia colonial ?

A(s) nossa(s) língua(s) é(são) cruel (cruéis)...Basta dar uma vista de olhos aos provérbiods "populares", eivados de sexismo, machismo, misoginia, racismo... Sobre a mulher, por exemplo, há inúmeros provérbios, todos eles reveladores de uma mentalidade predadora e doentia, alimentada pelo mito judaico-cristão do pecado original, e que vê nela um ser desprezível mas diabólico:

"Da cintura para baixo não há mulher feia";
"De má mulher te guarda e da boa não fies nada";
"Debaixo da manta tanto faz a preta como a branca";
"Frade e mulher - duas garras do diabo";

Mas fiquemos, por agora, nos "fulas-pretos"... Quem chama "fula-preto" a quem ? E porquê "preto" ?

... Comentas, se quiseres e puderes... Mantenhas. Luís

Cherno Balde disse...

Caro amigo Luis,

Antes de falar sobre a estrutura social dos fulas, permitam-me corrigir um lapso no texto relativamente a data provável do nascimento de Mussa Molo (1845) e não 1945.

Quanto a categoria social (Fula-Preto), desconheço o autor, provavelmente Português, desta expressão que passou a designar uma categoria social dentro do grupo etno-linguistico da população dos Fulacundas (Fulas de Gabu) que habitavam no espaço do antigo império Mandinga, dentro do qual se integraram sem nunca deixarem de praticar a sua actividade economica fundamental de criação de gado e pastorícia ao mesmo tempo que, por força das circunstâncias, se interpenetravam entre si, social e culturalmente, tecendo fortes laços de complementaridade, de interdependencia e de mestiçagem.

Durante muitos seculos (e desde meados do sec.XIII), no espaço do Kaabunké, os fulas e outros povos sob dominio mandinga, trabalhavam, na agricultura e criação de animais, e as elites mandingas dominantes, seus clãs e suas numerosas linhagens de guerreiros, reinavam e viviam a custa de razias e do comercio, inclusive o comercio de escravos.

Para a realização destes trabalhos, sobretudo nos trabalhos agricolas para os quais os fulas não somente não tinham tempo suficiente, mas também não gostavam de fazer, era preciso arranjar mão de obra que se dedicasse exclusivamente a estes trabalhos menos nobres, do seu ponto de vista. E a solução era comprar "cativos" de diferentes origens tribais nas mãos dos mandingas que, desenraizados, educados e aculturados no meio fula, integravam as familias dos seus donos, formando uma categoria a parte ou a classe dos servos ou cativos.

Foram as pessoas oriundas dessa categoria de servos, trabalhadores essencialmente agricolas e doutras castas sociais tais como os Ferreiros, Tecelaos, artesãos de diferentes oficios é que receberam, durante a época colonial, a designação de Fulas-Pretos, para não ficarem com o nome altamente ultrajante de Cativos/Servos, isto é "Jiaabhé" na lingua dos fulas.

Claro que hoje este conceito está politica e socialmente morto
e enterrado, mesmo se subsistem alguns resquicios comportamentais e tentativas de segregação acompanhado de lutas e resistências subtis com base nesses conceitos que foram banidos juntamente com o dominio mandinga durante a guerra de libertação encabeçado por Moló Eguê, que mais tarde adquiriu o titulo de Alfa a semelhança das autoridades teocráticas do vizinho estado Futa-Fula que os inspirou e amparou.

Eu também não gosto da expressão, mas tratando-se de uma herança conceptual já não há nada a fazer a não ser contextualizar sempre que se usar a expressão para melhor cpmpreender as suas origens sociais.

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé


Tabanca Grande Luís Graça disse...

CHerno, fui-me deitar com esta história dos "fulas-pretos" na cabeça... Resultado: acabo de me levantar, com insónias, e fui continuar a minha pesquisa... Peguei no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (Lisboa, 2003), no Tomo IV FRE-MER, e lá estão grafados os vocábulos "fula-forro" e "fula-preto" (p. 1815)...

Fula-preto: o termo é recente, proveniente da etnografia da Guiné-Bissau... Significado: "fula da Guiné-Bissau cujo TOM DE PELE é mais carregado que a dos chamados fulas-forros"

Fula-forro: "fula da Guiné-Bissau cujo TOM DE PELE é menos carregado do que os chamados fulas-pretos"...

"Tom de pele" em maiúsculas é da minha responsabilidade... Em meu entender, é um definição menos feliz, e até com conotação racista, ao sobrevalorizar uma caraterística fenotítica, o "tom de pele", para distinguir dois "grupos" dentro do povo fula da Guiné-Bissau...

A explicação do Cherno Baldé é muito mais satisfatória, para mim, que dou muito importância às questões sociolinguísticas... Obrigado, CHerno, isto merece um poste!

PS - O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, que eu gosto de consultar em linha ("on line") não grafa estes dois vocábulos... Mas há expressões que merecem a nossa atenção, e que têm eventualmente uma origem racista... O vocábulio, segundo o Houaiss, já vem de 1713, e tem uma origem etimológica controversa, temdo base no crioulo...

fula-fula | s. f.

fu·la·-fu·la
substantivo feminino
1. Confusão.


à fula-fula
• Muito à pressa, atabalhoadamente


"fula-fula", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/fula-fula [consultado em 26-06-2019].

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A língua protuguesa é... traiçoeira, quando eu digo "estou fulo", quer dizer o quê ?... Cá está, outro vocábulo com "conotação racista"... Já existe desde 1552 no nosso léxico... LG
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fulo | adj. | s. m.

fu·lo
adjectivo
1. Diz-se de mulato cuja cor da pele tende para o amarelado.

2. [Figurado] Que muda de cor devido a excitação ou sensação violenta.

3. [Informal] Furioso, zangado, irado.

4. Diz-se da cor oposta à favorita (no bóston).

substantivo masculino
5. [Ornitologia] Pássaro sindáctilo da África Oriental.


"fulo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/fulo [consultado em 26-06-2019].

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Outro termo infeliz, grafado na língua portuguesa: mulato, do espanhol "mulato" (1525)... [Segundo o Houaiss, 'macho jovem', por comparação da geração híbrida do mulato com a do mulo, macho (1042)...]

Não o podemos (nem devemos) banir do dicionário, mas podemos evitá-lo na língua do dia a dia... LG
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mulato | adj. s. m.

mu·la·to
(espanhol mulato)

adjectivo e substantivo masculino
1. Que ou quem nasceu de mãe branca e pai negro ou de pai branco e mãe negra.

2. [Por extensão] O que tem cor escura ou acastanhada. = MORENO, TRIGUEIRO


"mulato", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/mulato [consultado em 26-06-2019].utro
mu·la·to
(espanhol mulato)
adjectivo e substantivo masculino
1. Que ou quem nasceu de mãe branca e pai negro ou de pai branco e mãe negra.

2. [Por extensão] O que tem cor escura ou acastanhada. = MORENO, TRIGUEIRO


"mulato", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/mulato [consultado em 26-06-2019].

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Aproveito as insónias para saber o que quer dizer o vocábulo "preto"... LG
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preto | adj. | adj. s. m. | s. m.

pre·to |ê|
adjectivo
1. Da cor do ébano. = NEGRO

2. [Brasil, Informal] Perigoso; arriscado.

adjectivo e substantivo masculino
3. Diz-se de ou indivíduo de pele muito escura. = NEGRO

substantivo masculino
4. A cor negra.Ver imagem

5. [Física] Ausência de todas as cores (por oposição a branco que é a reunião de todas).

6. Indumentária dessa cor (ex.: foi à ópera de preto).


pôr o preto no branco
• Lavrar documento por escrito; escrever ou assinar qualquer documento.


"preto", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/preto [consultado em 26-06-2019].

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Aqui fica, com a devia vénia ao Houaiss e ao Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, a origem etimológoca da palavra "preto":


(...) A palavra preto é «derivado regressivo de apretar, tanto como f[orma] antiga de perto, como no sentido de "negro", associado à idéia de "denso, espesso" < lat. *prett- por pressus "apertado, imprensado; perseguido de perto; oculto, invisível; sombrio, obscuro"».

[Fonte: Dicionário Eletrônico Houaiss]

Carlos Marinheiro 25 set. 2008

Fonte: https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/a-etimologia-da-palavra-preto/24515

Tabanca Grande Luís Graça disse...

E acabamos por agora com a distinção entre "racismo" e "xenofobia"... Tomo a liberdade de, novamente, citar o precioso Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, portal que eu muito acarinho, desde praticamente a sua fundação, em 1997... (Iniciativa do jornalista José Mário Costa – que, após o falecimento do seu outro fundador, João Carreira Bom, garantiu a sua continuação: o José Mário Costa é pessoa que eu muito estimo: nascido em Angola, é jornalista, e tem sido um verdadeiro Dom Quixote na defesa e promoção da Língua Portuguesa, idioma oficial de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste)... LG
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(...) O racismo é a doutrina que defende que há etnias superiores a outras; é também o preconceito que leva a ver como inferiores os indivíduos de etnia diferente.

A xenofobia é, etimologicamente, «a aversão aos estrangeiros», do grego 'xénos', «estrangeiro», e 'phóbos', «temor» (cf. Dicionário Houaiss). Ser xenófobo teria aparentemente uma dimensão mais emocional, mas na prática acaba por se confundir com racista, dado que ambos os termos têm em comum a ideia de «preconceito». Esta é claramente oposta à de «razão» ou «racionalidade», até pela sua própria etimologia: trata-se de um conteúdo mental que ainda não chegou à elaboração de um «conceito». A formação de preconceito é disso ilustrativa: trata-se de um derivado, formado por pré- e conceito, ou seja, interpretável como «anterior ao conceito» ou anterior a todo o exame crítico que conduz ao verdadeiro conceito.

Apesar de tudo isto, parece-me que o sentido de xenófobo é um pouco mais suave que o de racista. É que a xenofobia liga-se ao medo (a 'phobia' do étimo grego) do contacto com o exterior, o que, por sua vez, evoca o provincianismo; em contrapartida, o racismo relaciona-se com o desejo de esmagamento do outro, isto é, do indivíduo ou da comunidade de outra etnia. (...)

Carlos Rocha 2 mai. 2006

https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/racismo-vs-xenofobia/17638

Tabanca Grande Luís Graça disse...

As vossas colheradas são bem vindas... Afinal, somos todos falantes da língua portuguesa e membros de um blogue que, de acordo com a sua orientação editorial, não pode (nem deve) pactuar com o racismo e outros ismos...

Temos fama de ser um povo "aberto", acolhedor, tolerante, que lida mais ou menos bem com o "outro" que é diferente, em termos culturais... Temos que não embandeirar em arco: há manifestações de racismo em Portugal, há atitudes e comportamentos racistas, aqui como noutras partes...Todos os povos tendem a ser racistas, ao serem "etnocêntricos"... E a língua de cada um de nós acabo por ser um "repositório vivo" das vicissitudes da nossa vida coletiva: séculos de esclavagismo e de inquisição deixaram "marcas"... Por exemplo, o "negro" continua a ter uma forte carga de negatividade: "diabo negro". "mercado negro", "magia negra", "ovelha negra", "lista negra", "alma negra"... São apenas algns exemplos de expressões racistas que usamos sem pensar na sua origem... Porque é que dizemos "a coisa está presta" em vez de "a coisa está branca" ? Isto, sem falar de vocábulos que são mesmo agressivos para com os indivíduos, africanos ou de ascendência africana, com fenótipo não indo-europeu: por exemplo, "pretalhada"...







Anónimo disse...

Caro amigo Cherno Baldé,
Gostei muito de ler o seu texto sobre “O Reino de Fuladu, de Alfa Molo Balde a Mussa Molo”, que agradeço, onde relata a génese do Reino de Alfá Moló e sua extinção nos anos 30 do século XX, pouco depois da morte de Mussá Moló, matéria que desconhecia. Este texto ajuda ainda a compreender todas as movimentações, deste e dos seus homens, que tanto perturbaram e preocuparam a administração portuguesa até cerca de 1903, ano em que, como relata, se retirou para a Gâmbia.
Gostava de referir que, além dos tratados de 1880 com Alfa Moló, de 1882 com seu irmão Dembel, também outro tratado foi assinado pelos portugueses com Iáiá (Yaya) em Dezembro de 1886.
As confrontações entre Mussá Moló e Alfa Iáiá também se encontram referidas no meu livro: por exemplo, em Agosto de 1894, registou-se um encontro entre forças de Mussá com o auxílio de um destacamento regular francês e forças do régulo Mamedi-Paté-Coiada, chefe dos fula-forros, e os futa-fulas de Iáiá. Depois de terem tomado 3 tabancas, as forças de Mussá foram obrigadas a retirar com bastantes perdas, em que se incluíam elementos francêses. Este encontro é posterior ao que refere como tendo acontecido em Abril de 1894. E no final desse ano de 1884 nova confrontação tem lugar: a gente de Pachisse (Pakisse) ataca Pachana, na região de Katacunda, região sujeita a Mussá Moló, em retaliação ao ataque que sofrera reaizado pelas forças de Coiada, também acompanhados por elementos francêses.
Uma questão final - Alfá Moló deve ter morrido em 1880. Por que razão vem a ser sepultado em Dandum (creio que a actual Dando), no território da Guiné-Portuguesa, muito longe do Indornal, e não aqui, onde vivia? E o local da sua sepultura está de algum modo assinalado?
Abraço amigo
Armando

Cherno Baldé disse...

Caro amigo Armando da Silva,

Segundo opiniao de pesquisadores, a data de morte de Alfa Molo é incerta, mas tera acontecido entre 1880 e 1881. A tradicao oral diz que a sua sepultura é bem conhecida e identificada, nunca la estive para verificar.

Porqué Dandum???...Uma excelente pergunta vinda do faro de um Historiador que questiona a verdade. A localidade de Dandum, que na lingua fula significa "Fim do mundo", esta intimamente ligada a genese da luta dos fulas contra o dominio mandinga e o aparecimento do reino de Fuladugu com o Alfa Molo e o seu senhor, Samba Egué, a sua testa. Como é sabido, ao longo da historia da humanidade, a historia e a vida dos grandes homens sempre aparece envolto em extensas nuvens de mitos e legendas para explicar porque é que foi assim e nao doutra forma, porque é que tinha sido este/a (homem/familia) e nao o/a outro/a.

De acordo com a tradiçao oral de Fuladu (fulacundas), foi neste local que o futuro Alfa Molo se despediu do Profeta/Peregrino El-Hadjj Omar Taal (Toucoulor do Futa-Toro, Norte do Senegal) que, de passagem por Fuladu (meados de 1844/45), teria encorajado e predicto a vitoria dos fulas sobre os mandingas que dominavam a regiao ha mais de 5 séculos.

Quando o Alfa Molo resolveu despedir-se e regressar ao Indornal, o homem sabio disse-lhe que aquele local (Dandum) seria o limite sul do seu futuro reino, mas para isso teriam que ganhar coragem e enfrentar os destemidos guerreiros Soninques de Gabu (ver o texto sobre o conto de Canhamina onde ja descrevi parte desta historia época de Fuladu). Foram estas e outras historias épicas do reino de Fuladu que embalaram a nossa infancia de antes e decurso da Guerra colonial dos anos 60/70.

Proximamente, vou tentar preparar um texto sobre o mito tradicional a volta da figura de Molo Egué Baldé (alias Alfa Molo) e da familia do seu senhor e protector Samba Egué Baldé e seus companheiros que, por força do destino e no meio de clivagens sociais entre escravos e/ou senhores, Fula-forros e/ou Fula-pretos, conseguiram organizar uma rebeliao que acabaria por os libertar de uma dupla dominaçao politica, social e cultural e libertar tambem os seus senhores Fulas-Forros de uma secular dominaçao mandinga.

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé



Cherno Baldé disse...

PS:

Pessoalmente penso que Dandum servia de local de refugio ao Alfa Molo ja completamente desiludido e desgastado pelo poder que tinha conquistado pelas armas e das intrigas e traiçoes que resultavam do seu exercicio no meio de profundas clivagens sociais e de permanentes guerras provocadas por contestatarios e/ou pretendentes ao poder.

Para aceder ao lugar de lider incontestado da rebeliao dos fulas, fora obrigado a afastar do seu caminho o Fula-forro Samba Egué Baldé, aquele que tinha sido o seu mestre e mentor tendo-o educado como a um filho. Tinha nascido na condiçao de homem livre de pai Cativo e de mae fula-forro, pelo que socialmente estava numa posiçao ambigua de uma dupla pertença entre dois grupos de uma mesma sociedade ou etnia com interesses antagonicos.

Para fazer a Guerra precisava de homens corajosos e disponiveis que so podia encontrar nos Fulas-pretos e ex-cativos, mas por outro lado precisava do apoio dos Fula-forros que detinham o prestigio social e a riqueza material necessaria, sobretudo gado, para garantir a parte nao menos importante da logistica da Guerra.

Juntar estas duas componentes sociais nao parecia tarefa facil de empreender, mas ele conseguiu realizar esta proeza a custa de muitos sacrificios e a custa da sua vida pessoal e familiar, pelo que Dandum era um local ideal para o seu refugio, longe dos problemas da familia em Guerra e do reino em ebuliçao. Mas, isto sou eu a pensar, partindo de leituras feitas e de historias contadas.

Cherno Baldé

Anónimo disse...

Caro amigo Cherno Baldé,
Muito obrigado por mais um interessante texto – e curiosa história!
O tratado de Alfá Moló com as autoridades portuguesas é de 21 de Dezembro de 1880, portanto mesmo no fim desse ano. O tratado com seu irmão Dembel, que se apresentou em Geba declarando que seu irmão Moló havia falecido e que também ele desejava assinar com o governo português um tratado de amizade é de 30 de Julho de 1882. Foi entre estas duas datas que Alfá Moló faleceu, e eu diria que possivelmente em finais de 1881 ou primeiros meses de 1882. E como Dandum fica muito perto de Geba, não seria mesmo a seguir a Moló ser sepultado, que Dembel se apresenta em Geba?
Pode o Cherno dizer-nos alguma coisa sobre as dificuldades que os fulas-pretos tiveram em submeter o Oio, habitado pelos mandingas soninqueses – o que nunca terão conseguido – e que levaram à ideia de que este era “invencível”, com eventuais repercussões no conflito travado anos 60-70 do século passado?
Abraço amigo,
Armando Tavares da Silva