Data - terça, 31/08/2021, 20:14
Assunto -Textos da entrevista de Elena Lentza sobre Timor-Leste
Lusa / Timor, Agosto 30, 2021
O Aniversário do Referendum em Timor Leste (30 de Agosto de 1999) deu azo a que a Lusa fizesse estes dois trabalhos. Permito-me salientar os meus comentários e apreensão que manifestei sobre o futuro da lingua portuguesa em Timor Leste. Aqui os envio para vosso conhecimento e consideração , se for o caso.
João
From: Eduardo Lobão <elobao@lusa.pt>
Subject: Textos da entrevista de Elena Lentza sobre Timor-Leste
Date: August 29, 2021 at 2:11:01 PM EDT
Meu Caro João:
From: Eduardo Lobão <elobao@lusa.pt>
Subject: Textos da entrevista de Elena Lentza sobre Timor-Leste
Date: August 29, 2021 at 2:11:01 PM EDT
Meu Caro João:
Neste email envio-lhe cópia dos textos da entrevista que a Elena lhe fez e que saíram hoje na Lusa. Os vídeo da conversa pode descarregar através do link que lhe enviei por WeTransfer.
Forte abraço para si para a Vilma.
Eduardo Lobão
29/08/2021 09:54
ENTREVISTA: Menos união entre Timor e Portugal preocupa defensor da autodeterminação timorense nos EUA
Serviços áudio e vídeo disponíveis em www.lusa.pt
Elena Lentza, da agência Lusa
Nova Iorque, 29 ago 2021 (Lusa) – A reduzida união entre Timor-Leste e Portugal, vinte e dois anos depois da independência completa de Timor-Leste, que teve muito apoio da comunidade portuguesa nos Estados Unidos da América, preocupa João Crisóstomo, um dos defensores da causa.
Atualmente, os pilares da independência timorense, que foram a Igreja Católica e a língua portuguesa, estão a perder força, considerou, em entrevista à agência Lusa em Nova Iorque, João Crisóstomo, líder do Movimento Luso-Americano para a Autodeterminação de Timor-Leste (LAMETA, na sigla em inglês).
“Estes dois pilares, estas duas colunas, da independência de Timor-Leste estão a fracassar. E tenho muito receio pelo futuro de Timor-Leste”, disse João Crisóstomo à Lusa, receoso que dentro de 30 a 50 anos possa haver um “plebiscito que vai acabar com a língua portuguesa”.
A igreja era o “refúgio” para milhares de timorenses, acrescentou João Crisóstomo, mas o idioma, em especial, significa que “não há mais essa coesão, não há mais nada a agarrar o povo timorense a Portugal”.
“Com a Austrália de um lado e a Indonésia do outro”, em Timor-Leste, “atualmente dão muito pouca importância à língua portuguesa”, considerou o cofundador da construção da Escola São Francisco de Assis “Paz e Bem” nas montanhas de Liquiçá, em Timor-Leste.
Autor do livro LAMETA sobre as comunidades luso-americanas e colecionador de todas as memórias relacionadas, organizadas em pastas e dossiês, João Crisóstomo disse à Lusa que a comunidade portuguesa nos Estados Unidos da América era vibrante nas manifestações de apoio e na ajuda transmitida ao povo timorense alguns anos antes do referendo de 30 de agosto de 1999, que resultou na opção da autodeterminação relativamente à Indonésia.
O apoio da comunidade portuguesa radicada nos Estados Unidos passou por manifestações em frente à Organização das Nações Unidas (ONU), cartas ao Presidente norte-americano Bill Clinton, muito lóbi e envio de contentores com ajuda.
No início da narrativa, o impulsor do movimento começou por reconhecer o desconhecimento face à situação de Timor-Leste em 1996: a primeira vez que foi abordado por um colega com quem tinha trabalhado noutras causas, João Crisóstomo recusou firmemente ligar-se ao problema.
“A primeira coisa que eu disse foi não, porque não queria estar a envolver-me em lutas civis. Lamentava que Portugal tivesse deixado Angola, Moçambique e tudo mais no estado em que deixou e não me queria envolver nisso”, explicou o ativista.
Foi contrariado pelo colega, que disse que o caso de Timor-Leste não era nenhuma guerra civil, mas uma invasão de um país estrangeiro, a Indonésia, a um antigo território português, uma ocupação que veio a durar mais de 20 anos.
E assim, uma causa que parecia fácil e direta ao início revelou-se mais complicada do que João Crisóstomo esperava: “era simples, mas difícil”, disse à agência Lusa em Nova Iorque.
“Verifiquei que Timor-Leste era um caso esquecido, ignorado. Ninguém queria saber”, lamentou o ativista que relatou muitos obstáculos para que os políticos, diplomatas e comunidade internacional realmente prestassem atenção à situação e tomassem ações significativas contra a ocupação pela Indonésia.
João Crisóstomo estava convencido que “a solução para Timor-Leste vai ter de ser feita através das Nações Unidas e através de um referendo”, o único caminho para uma “independência completa”.
“Isto foi em fevereiro de 1996. Eu comecei imediatamente a martelar” para defender a solução, relatou à Lusa.
O antigo mordomo de Jacqueline Kennedy Onassis começou a convidar as comunidades portuguesas a manifestar pela autodeterminação de Timor-Leste em frente às Nações Unidas. “E as pessoas vinham, ao princípio eram poucos, depois começavam a ser mais”, até chegarem a ser centenas de portugueses nas avenidas de Nova Iorque.
Para o líder do movimento, as manifestações “eram uma maneira de sensibilizar os americanos, sem os antagonizar”, sem desordem ou barulho ensurdecedor, mas com educação sobre o drama de Timor-Leste.
João Crisóstomo também sabia que o apoio político dos Estados Unidos à causa seria imprescindível e foi por isso que decidiu enviar uma carta com um abaixo-assinado de 1.267 pessoas ao Presidente Bill Clinton.
“O que é que eu fiz? Eu contactei tudo que era clube português, todas as escolas portuguesas dos Estados Unidos”, disse o ativista, com o intuito de apresentar o problema de Timor-Leste e juntar assinaturas para fazer chegar ao Presidente norte-americano.
Depois de um mal-entendido, em que a Casa Branca respondeu sobre Tibete sem mencionar Timor-Leste, João Crisóstomo finalmente recebeu uma carta do próprio Bill Clinton, assinada a 21 de janeiro de 1997.
No documento, o Presidente norte-americano reconhecia a sua preocupação sobre o “assunto crítico” da “violação de direitos humanos em Timor-Leste” e dizia que os EUA iriam continuar “a pressionar a Indonésia para mostrar maior respeito pelas liberdades básicas”, sublinhando “objetivos importantes de segurança na região”.
Em conclusão, Bill Clinton escreveu: “aprecio ouvir a sua visão e a da LAMETA. Espero que partilhe a minha carta com aqueles que assinaram a petição”.
O esforço da comunidade portuguesa para chegar ao referendo em Timor-Leste durou vários anos, garantiu João Crisóstomo, convencido de que a pressão feita nos Estados Unidos pela comunidade portuguesa teve influência no despertar da comunidade internacional e para a tomada de ações.
“A verdade é que quando ninguém acreditava ou ninguém queria [um referendo], foi para isso que nós, nas comunidades portuguesas, batalhámos sempre”, sublinhou o responsável.
Logo depois da Consulta Popular, em 30 agosto de 1999, a comunidade luso-americana também se decidiu a enviar ajuda material para Timor-Leste, começando com um contentor “completamente cheio”, segundo as palavras de João Crisóstomo, de mantimentos alimentares, roupas e outros materiais desde Newark, com ajuda das associações ou clubes culturais e recreativos portugueses.
“Nós andámos de porta em porta, íamos a toda a gente. E a verdade é que, a pouco e pouco, enchemos o contentor. Depois desse, foi o segundo, foi o terceiro e foi o quarto. Foram quatro contentores que saíram daqui dos Estados Unidos enviados para Timor-Leste”, afirmou.
Foram também vários jantares de angariação de fundos para Timor-Leste e nas contas finais, as comunidades portuguesas dos EUA mandaram mais de 200 mil dólares de ajuda, que ficaram na responsabilidade do Comissário Nacional para o Apoio à Transição em Timor-Leste, padre Vítor Melícias, que distribuía os fundos de acordo com as necessidades.
João Crisóstomo não escondeu a surpresa negativa e o lamento por as comunidades portuguesas “terem sido esquecidas” nas primeiras celebrações da independência de Timor-Leste.
Ainda que tudo o que foi feito não era com a pretensão de ganhar fama ou qualquer reconhecimento, “foi de lamentar que se tivessem esquecido das comunidades portuguesas”, acrescentou João Crisóstomo.
A comunidade luso-americana formava um bastião para a defesa da independência de Timor-Leste na viragem do século.
Num encontro com o antigo primeiro-ministro timorense Rui Maria Araújo, João Crisóstomo ficou convencido de transformar o seu dossiê pessoal com memórias das atividades de defesa da autodeterminação de Timor-Leste num livro sobre o movimento LAMETA.
O livro, com o subtítulo “O desconhecido contributo das comunidades luso-americanas para a Independência de Timor-Leste” foi impresso em 600 cópias, distribuídas pelas pessoas que fizeram parte do processo, nos Estados Unidos, em Timor-Leste, Portugal, mas não foi posto à venda, com a convicção do autor de que não se devia fazer dinheiro pelas causas que defendeu.
A antiga colónia portuguesa de Timor-Leste, que obteve independência em 28 de novembro de 1975, foi invadida pela Indonésia a 07 de dezembro do mesmo ano e declarada, no ano seguinte, uma província da Indonésia.
O período de luta pela autodeterminação foi marcado pela violência. Em 30 de agosto de 1999, com ajuda e patrocínio da Organização das Nações Unidas, realizou-se o referendo de independência de Timor, com as opções de o território ter uma maior autonomia e ficar no estado unitário da Indonésia, ou de separar Timor da Indonésia.
A independência de Timor-Leste obteve a maioria absoluta no referendo, com quase 344,5 mil votantes ou cerca de 80% dos votos.
EYL // EL
Lusa/Fim
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O aniversário do Referendum
29/08/2021 09:51
ENTREVISTA: Timor-Leste viveu muitos anos sem apoio internacional até à independência – ativista nos EUA
EYL // EL
Lusa/Fim
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O aniversário do Referendum
29/08/2021 09:51
ENTREVISTA: Timor-Leste viveu muitos anos sem apoio internacional até à independência – ativista nos EUA
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Elena Lentza, da agência Lusa
Nova Iorque, 29 ago 2021 (Lusa) – Timor-Leste teve de passar por muitos anos de inércia política internacional e pessimismo até à independência, considerou, em entrevista à agência Lusa, um dos maiores defensores da causa nos Estados Unidos, o português João Crisóstomo.
Elena Lentza, da agência Lusa
Nova Iorque, 29 ago 2021 (Lusa) – Timor-Leste teve de passar por muitos anos de inércia política internacional e pessimismo até à independência, considerou, em entrevista à agência Lusa, um dos maiores defensores da causa nos Estados Unidos, o português João Crisóstomo.
Com uma visão retrospetiva, o fundador do Movimento Luso-Americano para a Autodeterminação de Timor-Leste (LAMETA, na sigla em inglês) sublinhou que o povo timorense teve de ultrapassar muitos pessimistas em vários estratos - social, político, diplomático, - para se poder afirmar como Estado soberano em resultado do referendo sobre a autodeterminação em 30 de agosto de 1999.
“O que é que move o mundo? É o dinheiro” - era assim quando a Indonésia estava a ocupar Timor-Leste e continua assim ainda hoje, disse João Crisóstomo, defensor da autodeterminação, que durante anos expôs a proposta de um referendo a presidentes e representantes de vários países, membros da comunidade luso-americana, jornalistas, e teve contacto privilegiado com combatentes pela liberdade.
A Organização das Nações Unidas (ONU), tal como os Estados Unidos da América, não se pronunciava oficialmente contra a Indonésia, que tinha poder económico, numerosas relações comerciais de volume significativo e grande influência para a região.
“Não havia motivos” para os EUA, cujo apoio político seria imprescindível para qualquer mudança à escala mundial, se juntarem a Portugal na defesa da independência de Timor-Leste e ir contra a Indonésia, vincou João Crisóstomo, em entrevista à agência Lusa, em Nova Iorque.
“Não só isso, mas os Estados Unidos precisavam muito da Indonésia naquela altura, era ainda no tempo da Guerra Fria” – um tempo em que o mundo estava dividido entre o Bloco de Leste, antiga União Soviética e o Ocidente, liderado pela América.
Os norte-americanos “precisavam daquele estreito em frente a Timor-Leste, por onde passavam os submarinos atómicos dos Estados Unidos e eram eles que forneciam militarmente a Indonésia. Era importante vender armas (…), tinham negócios em petróleo e não queriam perder nada disso”, analisou o português que emigrou para os EUA e foi mordomo de Jacqueline Kennedy Onassis na segunda metade da década de 1970.
Em Portugal ou até no Vaticano, as pessoas influentes contactadas por João Crisóstomo diziam que a situação era “muito difícil” e “muito delicada”, o que não o desencorajou. Do Vaticano, João Crisóstomo tentou haver-se do mesmo apoio que recebeu para a salvação das gravuras pré-históricas de Foz Côa, em Portugal, do agora cardeal Renato Martino, na altura arcebispo e observador permanente da Santa Sé na ONU.
“Quando fui falar com ele [Renato Martino] sobre Timor-Leste, ele disse-me: ‘João Crisóstomo, o caso de Foz Côa era um assunto cultural e admiro (…) que conseguimos salvar as gravuras (…), agora o caso de Timor é um assunto político”, recordou.
Ainda assim, na mesma conversa, João Crisóstomo conseguiu convencer o arcebispo de que a invasão indonésia era contra todas as leis, recebeu a bênção para continuar nas suas investidas e obteve ainda a promessa do católico para defender Timor-Leste e dar a sua opinião quando o assunto fosse discutido.
“Eu sei que por trás das cortinas, nas Nações Unidas, ele fez muito por Timor-Leste”, afirmou João Crisóstomo, sorridente e satisfeito. Na celebração da independência, o arcebispo Renato Martino foi nomeado para representar o Papa e celebrar a primeira missa em Timor.
João Crisóstomo tentou também chamar a atenção da ‘media’ internacional, nomeadamente do influente jornal The New York Times, com entrega de documentos a um editor. O português também não se intimidou a falar diretamente com responsáveis de governos de vários países, seja nos Estados Unidos, Portugal ou África do Sul.
Em tentativa de falar com o Presidente da África do Sul, Nelson Mandela, o fundador da organização LAMETA mandou cartas e fez imensos telefonemas. “A esperança não era muita, mas eu sou teimoso”, contou João Crisóstomo à Lusa.
Ao fim de muitos telefonemas seguidos e de muita insistência, a operadora lá pôs alguém ao telefone: “De repente, era o ministro do Interior da África do Sul”, Mangosuthu Buthelezi, exclamou João Crisóstomo. “Queria saber o que é que se passava”, recordou.
Vários documentos foram enviados por Crisóstomo a Buthelezi, que o ministro sul-africano se comprometeu a encaminhar ao Presidente Mandela. Semanas depois, João Crisóstomo recebeu um recado do ministro sul-africano, também por telefone, que a opinião de Nelson Mandela era que o referendo não era a melhor maneira de prosseguir, mas era um assunto “muito querido” para o chefe de Estado.~
“Passado duas semanas, vem nas notícias que o Presidente Mandela manda o ministro dos Negócios Estrangeiros da África do Sul à Indonésia visitar o Xanana Gusmão [preso político, um dos maiores ativistas pela independência de Timor e posteriormente, primeiro Presidente eleito de Timor-Leste] na prisão e uma carta pessoal para o Presidente Suharto” da Indonésia.
Reconhecendo que não era o único a insistir que Nelson Mandela se pronunciasse, até porque o Governo português estava em contacto permanente com a África do Sul, João Crisóstomo teve a impressão de ter feito alguma diferença.
“Não sei se a minha carta ajudou ou não, mas pelo menos deve-o ter lembrado do interesse que tinha por Timor-Leste”, concluiu João Crisóstomo, que liderou o apoio prestado pela comunidade portuguesa nos Estados Unidos à causa de Timor-Leste.
A antiga colónia portuguesa de Timor-Leste, que obteve independência de Portugal em 28 de novembro de 1975, foi invadida pela Indonésia a 07 de dezembro do mesmo ano e declarada, no ano seguinte, como 27.ª província da Indonésia.~
O período de luta pela autodeterminação foi marcado pela violência.Em 30 de agosto de 1999, com ajuda e patrocínio da Organização das Nações Unidas, realizou-se o referendo para a autodeterminação, com as opções de Timor ter uma maior autonomia e ficar no estado unitário da Indonésia, ou de rejeitar o estatuto especial e se separar da Indonésia.
A independência de Timor-Leste obteve a maioria absoluta no referendo, com 344,5 mil votantes ou cerca de 80% dos votos e foi concretizada em 20 de maio de 2002.
EYL // EL
Lusa/Fim
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Eduardo Lobão
Editor Internacional – Int’l Affairs Desk Editor
Lusa - Agência de Notícias de Portugal - Portugal News Agency
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Nota do editor:
Último poste da série > 10 de agosto de 2021 Guiné 61/74 - P22447: Efemérides (351): Ainda e sempre o naufrágio no rio Geba, em 10/8/1972, em que perdemos três camaradas (Jorge Araújo, ex-Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494 / BART 3873, Xime e Mansambo, 1972/1974; agora em férias prolongadas nas "Arábias")
11 comentários:
João, os portugueses e os timorenses que lutaram pela independência de Timor Leste estão-te gratos pelo que, na América e no Mundo, fizeste por esta causa, à frente noemadamente do célebre LAMETA, o movimento dos magníficos 12 mordomos portugueses de Nova Iorque... Porque a memória dos homens é fraca, é muita oportuna esta tua entrevista à agência LUSA.
Oxalá o teu aviso não fique em saco roto. Quem te conhece e acompanhou a causa de Timor Leste, sabe que tu podes falar "de cátedra" sobre este assunto... Oxalá Timor Leste não siga o triste exemplo de Macau...
Um alfabravo, Luís Graça.
João Crisóstomo
Faço minhas as palavras de Luís Graça, acrescentando haver poucos portugueses, lamentavelmente, que conhecem a tua extraordinária obra.
Pese embora, a partir de 2002, o tétum e o português, as línguas oficiais de Timor, sejam agora muito mais faladas pela população, fico com muitas dúvidas que o tétum não substitua totalmente o português futuramente, e nem sequer tenha sobrado o crioulo de Bidau quase extinto.
O crioulo de Bidau, nas redondezas de Dili, praticamente extinto, é uma réstia da língua portuguesa: 'vôsse bai na ôndi? Eu bai na riba' já não se ouve!
Abraço e boa saúde
Valdemar Queiroz
Como eu gosto de dizer, o João Crisóstomo é um verdadeiro diplomata que não pertence aos quadros do pessoal diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Será que há lá anti-corpos por isso, u seja, pelos marginais-secantes da diplomacia que puxam pelo nome de Portugal na diáspora ?
O facto de João Crisóstomo ter um ligeiro passado ultramarino é que o teria alertado para se dedicar à trabalheira pró-Timor, em que se meteu
Isto penso eu. Seria?
Houve algumas pessoas que avançaram além do que lhe seria pedido, no caso de Timor, e que ficaram bem notáveis com o papel que desempenharam e que muito teria ajudado à independência de Timor.
Lembramo-nos de Ramalho Eanes no Lusitânea, e de Ana Gomes como diplomata.
João Crisóstomo, quem de nós, aqui, ouviu ou viu na televisão ou jornais naquele tempo?
Mas a propósito do "quase" fim de Timor, do fim de Macau e do fim de Goa, cada um pode ter direito à sua própria ideia, tal como para alguns acharem que nunca lá devíamos ter posto os pés.
O Velho do Restelo seria um deles, se é que não estou a interpretar mal o Camões.
O fim de Goa, Timor e Macau não foi nem mais nem menos do que seria Angola e Moçambique, se em 1961/74 durante 13 anos, não tem havido uma teimosia a que se chamava Guerra do Ultramar.
Ninguém tinha o mais pequeno respeito por Portugal e suas colónias, nem as Nações Unidas queriam saber-
Então os dois donos do mundo e da Guerra Fria, Kennedy e Krutchev pisavam tudo o que mexia.
Desde a independência do vizinho de Angola, o ex-Congo Belga, que vi os malefícios da ONU em África.
E em Timor vimos o papel da ONU, que nem era dúbio, era ao lado da Indonésia, fazia de contas que nem conhecia tal nome: Timor.
Claro que hoje à palopes que não têm orgulho em ser tal coisa.
E só o são por teimosia de alguém.
Esse alguém estamos interditos de pronunciar tal nome.
Julgo que as razões que levaram João Crisóstomo a meter-se com corpo e alma em causas que entendeu 'tem que ser' nada tem a ver no caso de Timor com o ligeiro passado ultramarino. Por esse prisma também teria sido arqueólogo, na defesa das gravuras do Coa, e judeu, na defesa do reconhecimento da obra de Aristides Sousa Mendes.
O João Crisóstomo tomou e continua tomar a peito estas acções por ser um homem extraordinário, bem formado, amigo de toda a gente e empreendedor de nobres causas.
O nosso camarada da guerra na Guiné é filho com mais oito irmãs duma família muito religiosa católica. Ele foi seminarista, três irmãs freiras e três tios padres. É precisamente deste "passado", julgo eu, que lhe vem o 'tem que ser' de ter tomado a peito as acções que tomou, talvez o ter estado na guerra da Guiné tivesse ajudado nalguma coisa.
Valdemar Queiroz
Olá Camaradas
As coisas são como são e os povos vivem o seu dia-a-dia, sem se preocuparem com sentimentalismos que, no caso de Timor são absolutamente insuperáveis. O império "português do oriente" - Índia, Macau e Timor - foi uma espécie de marcas deixadas pelas moscas. E se duvidam pensem só na quantidade de portugueses que seria necessário para uma efectiva das ilhas de Sonda, Célebes, Molucas e até das Filipinas. Claro que os portugueses chegaram ao Japão e China, mas sempre na condição de visitantes e, às vezes na tentativa de conversão religiosa... Para uma análise clara e que demonstra a impossibilidade de os portugueses se manterem naquelas paragens partamos do início do Séc. XX. O que seria a Índia Portuguesa? e Macau? Para não falar de Timor meia-ilha por "vicissitudes" da História. Será que havia força suficiente para que subjugar aqueles povos? Ou seria a vida diária uma espécie de saprofitismo em que os portugueses não dominavam nada, mas sobreviviam num associativismo com a população local.
Sendo assim, o português desaparecerá da "India Portuguesa" (que foi conquistada) como se tem visto e de Macau nem se fala. Um dia destes o Leal Senado não passará de um casino muito pitoresco e a Gruta de Camões ficará enquadrada num pagode muito visitado. Em relação a Timor optou-se por adoptar uma língua pouco fala, pretendendo-se marcar a diferença aos povos próximos. Lembro, mais uma vez, que, para as eleições presidenciais do Cmdt Matan Ruak, os out-doors estavam escritos em tétum que é a língua que correntemente se fala. Dentro de pouco tempo restarão umas palavras soltas de português e se o tétum se mantiver como língua da meia-ilha já não será nada mau...
Um Ab.
António J. P: Costa
E verdade que a causa de Timor sensibilizou e mobilizou milhares e milhares de portugueses... Aqui e na diáspora. LG
O portal oficial do Governo de Timor Leste vem em 4 línguas: tetum,português e inglês.
http://timor-leste.gov.tl/
Veja-se aqui a constituição em tetum:
http://www.mj.gov.tl/jornal/public/docs/ConstituicaoRDTL_tetum.pdf
Veja-se este excerto sobre o tétum, na Wikipedia... (Confesso a minha ignorância,não sabia nada sobre o tétum, que é um língua crioulo...)
https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_t%C3%A9tum
(...) O tétum (em tétum: tetun), também chamado de teto, é a língua nacional e co-oficial de Timor-Leste. É uma língua austronésia — como a maioria das línguas autóctones da ilha — com muitas palavras derivadas do português e do malaio.
O primeiro tétum, o tétum-térique (em tétum: Tetun-Terik), já se havia estabelecido como língua franca antes da chegada dos portugueses, aparentemente em consequência da conquista da parte oriental da ilha pelo império dos Belos e da necessidade de um instrumento de comunicação comum para as trocas comerciais.
Com a chegada dos portugueses à ilha, o tétum apodera-se de vocábulos portugueses e malaios e integra-os no seu léxico, tornando-se uma língua crioula e simplificada — nasce o tétum-praça (em tétum: Tetun-Prasa).
Muito embora em finais do século XIX, os jesuítas de Soibada tenham já traduzido para tétum parte da Bíblia e, em 1913, o governador da colónia tenha tentado introduzir o tétum no sistema educativo timorense, é apenas em 1981 que a Igreja adota esta língua na liturgia.
Se bem que o português fosse a língua oficial do então Timor Português, o tétum-praça serviu como língua franca, derivando grande parte do seu vocabulário do português. Quando a Indonésia invadiu e ocupou Timor-Leste em 1975, declarando-o a vigésima sétima Província da República, o uso do português foi proibido.
Mas a Igreja Católica, em vez de adotar a língua indonésia (bahasa, como às vezes erradamente é chamada, é uma palavra indonésia que significa língua) como língua litúrgica, adotou o tétum, tornando-o num pilar da identidade cultural e nacional.
Atualmente, o tétum é a língua com maior expressão em Timor-Leste. Apesar de o tétum-praça possuir variações regionais e sociais, hoje o seu uso é alargado porque é compreendido por quase toda a população timorense. É este tétum-praça que foi adotado como "língua oficial" com a designação de Tétum Oficial. (...)
Quanto à língua portuguesa se manter por aquelas bandas, sabemos como a língua vai mudando ao longo dos anos, mesmo no país natal, o mais natural é de aqui a cem anos sobrar umas palavras do nosso português, o mais não seja mal pronunciadas e mal escritas do original.
Por cá já não se usa ou escreve 'vossa mercê' ou 'vossemecê' foi sendo substituído por vossa excelência e por o senhor e já pouca gente diz uma 'chusma deles' substituindo por uma porrada deles e por o nosso conhecido manga deles.
Mas, em Timor, por influência da Indonésia até 2002, falava-se e escrevia-se em indonésio, e em indonésio ainda persistem muitas palavras de origem portuguesa, que foram evoluindo das deixadas pelos navegadores/comerciantes portugueses antes da chegada dos holandeses no início do séc. XVII.
Exemplos de palavras em indonésio ou javanês:
trigo = terigu boneca = boneka
manteiga = mentiga escola = sekolah
garfo = garpu bandeira = bandera
mesa = meja igreja = gereja
Valdemar Queiroz
p.s. Há uma fotografia tirada na Indonésia de um rapaz com uma camisola do F.C.Porto mas o emblema é do S.L.Benfica. Lá, como cá em tempos, uma camisola vermelha dá muitos problemas.
Olá Camaradas
Do que atrás fica escrito especialmente pelo Luís às 23h35 do dia 3, podemos concluir que a língua de Timor Leste é o tétum. O português está perdido como língua, mesmo que tenha sido declarado língua oficial, talvez para marcar a diferença das dos outros povos próximos. Nas outras "cagadelas de mosca" que constituíram o "Império Português do Oriente" o português nem sequer é uma lembrança. E assim continuará a ser. É pura vaidade querermos obrigar aqueles povos a falar português.
O mesmo já está a suceder na Guiné onde o crioulo é a língua que se fala e o português a língua que se "arranha" quando aparece alguém que o fale.
Aceitemos as coisas como são e deixemo-nos de tretas!
Bom Fds para todos
António J. P. Costa
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