sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22506: Efemérides (352): 22 anos depois do referendum sobre a autodeterminação, o ativista João Crisóstomo, líder do LAMETA, mostra-se apreensivo sobre o futuro da língua portuguesa em Timor Leste, em entrevista dada em Nova Iorque à Agência Lusa

1. Mensagem de João Crisóstomo, membro da nossa Tabanca Grande, com 160 referências no blogue, a viver em Queens, Nova Iorque, ativista social,  régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, ex-alf mil inf, CCAÇ CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67):

Data - terça, 31/08/2021, 20:14

Assunto -Textos da entrevista de Elena Lentza sobre Timor-Leste



Lusa / Timor, Agosto 30, 2021

O Aniversário do Referendum em Timor Leste (30 de Agosto de 1999) deu azo a que a Lusa fizesse estes dois trabalhos. Permito-me salientar os meus comentários e apreensão que manifestei sobre o futuro da lingua portuguesa em Timor Leste. Aqui os envio para vosso conhecimento e consideração , se for o caso.

João

From: Eduardo Lobão <elobao@lusa.pt>
Subject: Textos da entrevista de Elena Lentza sobre Timor-Leste
Date: August 29, 2021 at 2:11:01 PM EDT

 Meu Caro João:

Neste email envio-lhe cópia dos textos da entrevista que a Elena lhe fez e que saíram hoje na Lusa. Os vídeo da conversa pode descarregar através do link que lhe enviei por WeTransfer.
Forte abraço para si para a Vilma.
Eduardo Lobão



29/08/2021 09:54

ENTREVISTA: Menos união entre Timor e Portugal preocupa defensor da autodeterminação timorense nos EUA


Serviços áudio e vídeo disponíveis em www.lusa.pt 

Elena Lentza, da agência Lusa

Nova Iorque, 29 ago 2021 (Lusa) – A reduzida união entre Timor-Leste e Portugal, vinte e dois anos depois da independência completa de Timor-Leste, que teve muito apoio da comunidade portuguesa nos Estados Unidos da América, preocupa João Crisóstomo, um dos defensores da causa.

Atualmente, os pilares da independência timorense, que foram a Igreja Católica e a língua portuguesa, estão a perder força, considerou, em entrevista à agência Lusa em Nova Iorque, João Crisóstomo, líder do Movimento Luso-Americano para a Autodeterminação de Timor-Leste (LAMETA, na sigla em inglês).

“Estes dois pilares, estas duas colunas, da independência de Timor-Leste estão a fracassar. E tenho muito receio pelo futuro de Timor-Leste”, disse João Crisóstomo à Lusa, receoso que dentro de 30 a 50 anos possa haver um “plebiscito que vai acabar com a língua portuguesa”.

A igreja era o “refúgio” para milhares de timorenses, acrescentou João Crisóstomo, mas o idioma, em especial, significa que “não há mais essa coesão, não há mais nada a agarrar o povo timorense a Portugal”.

“Com a Austrália de um lado e a Indonésia do outro”, em Timor-Leste, “atualmente dão muito pouca importância à língua portuguesa”, considerou o cofundador da construção da Escola São Francisco de Assis “Paz e Bem” nas montanhas de Liquiçá, em Timor-Leste.

Autor do livro LAMETA sobre as comunidades luso-americanas e colecionador de todas as memórias relacionadas, organizadas em pastas e dossiês, João Crisóstomo disse à Lusa que a comunidade portuguesa nos Estados Unidos da América era vibrante nas manifestações de apoio e na ajuda transmitida ao povo timorense alguns anos antes do referendo de 30 de agosto de 1999, que resultou na opção da autodeterminação relativamente à Indonésia.

O apoio da comunidade portuguesa radicada nos Estados Unidos passou por manifestações em frente à Organização das Nações Unidas (ONU), cartas ao Presidente norte-americano Bill Clinton, muito lóbi e envio de contentores com ajuda.

No início da narrativa, o impulsor do movimento começou por reconhecer o desconhecimento face à situação de Timor-Leste em 1996: a primeira vez que foi abordado por um colega com quem tinha trabalhado noutras causas, João Crisóstomo recusou firmemente ligar-se ao problema.

“A primeira coisa que eu disse foi não, porque não queria estar a envolver-me em lutas civis. Lamentava que Portugal tivesse deixado Angola, Moçambique e tudo mais no estado em que deixou e não me queria envolver nisso”, explicou o ativista.

Foi contrariado pelo colega, que disse que o caso de Timor-Leste não era nenhuma guerra civil, mas uma invasão de um país estrangeiro, a Indonésia, a um antigo território português, uma ocupação que veio a durar mais de 20 anos.

E assim, uma causa que parecia fácil e direta ao início revelou-se mais complicada do que João Crisóstomo esperava: “era simples, mas difícil”, disse à agência Lusa em Nova Iorque.

“Verifiquei que Timor-Leste era um caso esquecido, ignorado. Ninguém queria saber”, lamentou o ativista que relatou muitos obstáculos para que os políticos, diplomatas e comunidade internacional realmente prestassem atenção à situação e tomassem ações significativas contra a ocupação pela Indonésia.

João Crisóstomo estava convencido que “a solução para Timor-Leste vai ter de ser feita através das Nações Unidas e através de um referendo”, o único caminho para uma “independência completa”.
“Isto foi em fevereiro de 1996. Eu comecei imediatamente a martelar” para defender a solução, relatou à Lusa.

O antigo mordomo de Jacqueline Kennedy Onassis começou a convidar as comunidades portuguesas a manifestar pela autodeterminação de Timor-Leste em frente às Nações Unidas. “E as pessoas vinham, ao princípio eram poucos, depois começavam a ser mais”, até chegarem a ser centenas de portugueses nas avenidas de Nova Iorque.

Para o líder do movimento, as manifestações “eram uma maneira de sensibilizar os americanos, sem os antagonizar”, sem desordem ou barulho ensurdecedor, mas com educação sobre o drama de Timor-Leste.

João Crisóstomo também sabia que o apoio político dos Estados Unidos à causa seria imprescindível e foi por isso que decidiu enviar uma carta com um abaixo-assinado de 1.267 pessoas ao Presidente Bill Clinton.

“O que é que eu fiz? Eu contactei tudo que era clube português, todas as escolas portuguesas dos Estados Unidos”, disse o ativista, com o intuito de apresentar o problema de Timor-Leste e juntar assinaturas para fazer chegar ao Presidente norte-americano.

Depois de um mal-entendido, em que a Casa Branca respondeu sobre Tibete sem mencionar Timor-Leste, João Crisóstomo finalmente recebeu uma carta do próprio Bill Clinton, assinada a 21 de janeiro de 1997.

No documento, o Presidente norte-americano reconhecia a sua preocupação sobre o “assunto crítico” da “violação de direitos humanos em Timor-Leste” e dizia que os EUA iriam continuar “a pressionar a Indonésia para mostrar maior respeito pelas liberdades básicas”, sublinhando “objetivos importantes de segurança na região”.

Em conclusão, Bill Clinton escreveu: “aprecio ouvir a sua visão e a da LAMETA. Espero que partilhe a minha carta com aqueles que assinaram a petição”.

O esforço da comunidade portuguesa para chegar ao referendo em Timor-Leste durou vários anos, garantiu João Crisóstomo, convencido de que a pressão feita nos Estados Unidos pela comunidade portuguesa teve influência no despertar da comunidade internacional e para a tomada de ações.

“A verdade é que quando ninguém acreditava ou ninguém queria [um referendo], foi para isso que nós, nas comunidades portuguesas, batalhámos sempre”, sublinhou o responsável.

Logo depois da Consulta Popular, em 30 agosto de 1999, a comunidade luso-americana também se decidiu a enviar ajuda material para Timor-Leste, começando com um contentor “completamente cheio”, segundo as palavras de João Crisóstomo, de mantimentos alimentares, roupas e outros materiais desde Newark, com ajuda das associações ou clubes culturais e recreativos portugueses.

“Nós andámos de porta em porta, íamos a toda a gente. E a verdade é que, a pouco e pouco, enchemos o contentor. Depois desse, foi o segundo, foi o terceiro e foi o quarto. Foram quatro contentores que saíram daqui dos Estados Unidos enviados para Timor-Leste”, afirmou.

Foram também vários jantares de angariação de fundos para Timor-Leste e nas contas finais, as comunidades portuguesas dos EUA mandaram mais de 200 mil dólares de ajuda, que ficaram na responsabilidade do Comissário Nacional para o Apoio à Transição em Timor-Leste, padre Vítor Melícias, que distribuía os fundos de acordo com as necessidades.

João Crisóstomo não escondeu a surpresa negativa e o lamento por as comunidades portuguesas “terem sido esquecidas” nas primeiras celebrações da independência de Timor-Leste.

Ainda que tudo o que foi feito não era com a pretensão de ganhar fama ou qualquer reconhecimento, “foi de lamentar que se tivessem esquecido das comunidades portuguesas”, acrescentou João Crisóstomo.

A comunidade luso-americana formava um bastião para a defesa da independência de Timor-Leste na viragem do século.

Num encontro com o antigo primeiro-ministro timorense Rui Maria Araújo, João Crisóstomo ficou convencido de transformar o seu dossiê pessoal com memórias das atividades de defesa da autodeterminação de Timor-Leste num livro sobre o movimento LAMETA.

O livro, com o subtítulo “O desconhecido contributo das comunidades luso-americanas para a Independência de Timor-Leste” foi impresso em 600 cópias, distribuídas pelas pessoas que fizeram parte do processo, nos Estados Unidos, em Timor-Leste, Portugal, mas não foi posto à venda, com a convicção do autor de que não se devia fazer dinheiro pelas causas que defendeu.

A antiga colónia portuguesa de Timor-Leste, que obteve independência em 28 de novembro de 1975, foi invadida pela Indonésia a 07 de dezembro do mesmo ano e declarada, no ano seguinte, uma província da Indonésia.

O período de luta pela autodeterminação foi marcado pela violência. Em 30 de agosto de 1999, com ajuda e patrocínio da Organização das Nações Unidas, realizou-se o referendo de independência de Timor, com as opções de o território ter uma maior autonomia e ficar no estado unitário da Indonésia, ou de separar Timor da Indonésia.

A independência de Timor-Leste obteve a maioria absoluta no referendo, com quase 344,5 mil votantes ou cerca de 80% dos votos.

EYL // EL
Lusa/Fim
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O aniversário do Referendum
29/08/2021 09:51

ENTREVISTA: Timor-Leste viveu muitos anos sem apoio internacional até à independência – ativista nos EUA


 Serviços áudio e vídeo disponíveis em www.lusa.pt 

Elena Lentza, da agência Lusa

Nova Iorque, 29 ago 2021 (Lusa) – Timor-Leste teve de passar por muitos anos de inércia política internacional e pessimismo até à independência, considerou, em entrevista à agência Lusa, um dos maiores defensores da causa nos Estados Unidos, o português João Crisóstomo.

Com uma visão retrospetiva, o fundador do Movimento Luso-Americano para a Autodeterminação de Timor-Leste (LAMETA, na sigla em inglês) sublinhou que o povo timorense teve de ultrapassar muitos pessimistas em vários estratos - social, político, diplomático, - para se poder afirmar como Estado soberano em resultado do referendo sobre a autodeterminação em 30 de agosto de 1999.

“O que é que move o mundo? É o dinheiro” - era assim quando a Indonésia estava a ocupar Timor-Leste e continua assim ainda hoje, disse João Crisóstomo, defensor da autodeterminação, que durante anos expôs a proposta de um referendo a presidentes e representantes de vários países, membros da comunidade luso-americana, jornalistas, e teve contacto privilegiado com combatentes pela liberdade.

A Organização das Nações Unidas (ONU), tal como os Estados Unidos da América, não se pronunciava oficialmente contra a Indonésia, que tinha poder económico, numerosas relações comerciais de volume significativo e grande influência para a região.

“Não havia motivos” para os EUA, cujo apoio político seria imprescindível para qualquer mudança à escala mundial, se juntarem a Portugal na defesa da independência de Timor-Leste e ir contra a Indonésia, vincou João Crisóstomo, em entrevista à agência Lusa, em Nova Iorque.

“Não só isso, mas os Estados Unidos precisavam muito da Indonésia naquela altura, era ainda no tempo da Guerra Fria” – um tempo em que o mundo estava dividido entre o Bloco de Leste, antiga União Soviética e o Ocidente, liderado pela América.

Os norte-americanos “precisavam daquele estreito em frente a Timor-Leste, por onde passavam os submarinos atómicos dos Estados Unidos e eram eles que forneciam militarmente a Indonésia. Era importante vender armas (…), tinham negócios em petróleo e não queriam perder nada disso”, analisou o português que emigrou para os EUA e foi mordomo de Jacqueline Kennedy Onassis na segunda metade da década de 1970.

Em Portugal ou até no Vaticano, as pessoas influentes contactadas por João Crisóstomo diziam que a situação era “muito difícil” e “muito delicada”, o que não o desencorajou. Do Vaticano, João Crisóstomo tentou haver-se do mesmo apoio que recebeu para a salvação das gravuras pré-históricas de Foz Côa, em Portugal, do agora cardeal Renato Martino, na altura arcebispo e observador permanente da Santa Sé na ONU.

“Quando fui falar com ele [Renato Martino] sobre Timor-Leste, ele disse-me: ‘João Crisóstomo, o caso de Foz Côa era um assunto cultural e admiro (…) que conseguimos salvar as gravuras (…), agora o caso de Timor é um assunto político”, recordou.

Ainda assim, na mesma conversa, João Crisóstomo conseguiu convencer o arcebispo de que a invasão indonésia era contra todas as leis, recebeu a bênção para continuar nas suas investidas e obteve ainda a promessa do católico para defender Timor-Leste e dar a sua opinião quando o assunto fosse discutido.

“Eu sei que por trás das cortinas, nas Nações Unidas, ele fez muito por Timor-Leste”, afirmou João Crisóstomo, sorridente e satisfeito. Na celebração da independência, o arcebispo Renato Martino foi nomeado para representar o Papa e celebrar a primeira missa em Timor.

João Crisóstomo tentou também chamar a atenção da ‘media’ internacional, nomeadamente do influente jornal The New York Times, com entrega de documentos a um editor. O português também não se intimidou a falar diretamente com responsáveis de governos de vários países, seja nos Estados Unidos, Portugal ou África do Sul.

Em tentativa de falar com o Presidente da África do Sul, Nelson Mandela, o fundador da organização LAMETA mandou cartas e fez imensos telefonemas. “A esperança não era muita, mas eu sou teimoso”, contou João Crisóstomo à Lusa.

Ao fim de muitos telefonemas seguidos e de muita insistência, a operadora lá pôs alguém ao telefone: “De repente, era o ministro do Interior da África do Sul”, Mangosuthu Buthelezi, exclamou João Crisóstomo. “Queria saber o que é que se passava”, recordou.

Vários documentos foram enviados por Crisóstomo a Buthelezi, que o ministro sul-africano se comprometeu a encaminhar ao Presidente Mandela. Semanas depois, João Crisóstomo recebeu um recado do ministro sul-africano, também por telefone, que a opinião de Nelson Mandela era que o referendo não era a melhor maneira de prosseguir, mas era um assunto “muito querido” para o chefe de Estado.~

“Passado duas semanas, vem nas notícias que o Presidente Mandela manda o ministro dos Negócios Estrangeiros da África do Sul à Indonésia visitar o Xanana Gusmão [preso político, um dos maiores ativistas pela independência de Timor e posteriormente, primeiro Presidente eleito de Timor-Leste] na prisão e uma carta pessoal para o Presidente Suharto” da Indonésia.

Reconhecendo que não era o único a insistir que Nelson Mandela se pronunciasse, até porque o Governo português estava em contacto permanente com a África do Sul, João Crisóstomo teve a impressão de ter feito alguma diferença.

“Não sei se a minha carta ajudou ou não, mas pelo menos deve-o ter lembrado do interesse que tinha por Timor-Leste”, concluiu João Crisóstomo, que liderou o apoio prestado pela comunidade portuguesa nos Estados Unidos à causa de Timor-Leste.

A antiga colónia portuguesa de Timor-Leste, que obteve independência de Portugal em 28 de novembro de 1975, foi invadida pela Indonésia a 07 de dezembro do mesmo ano e declarada, no ano seguinte, como 27.ª província da Indonésia.~

O período de luta pela autodeterminação foi marcado pela violência.Em 30 de agosto de 1999, com ajuda e patrocínio da Organização das Nações Unidas, realizou-se o referendo para a autodeterminação, com as opções de Timor ter uma maior autonomia e ficar no estado unitário da Indonésia, ou de rejeitar o estatuto especial e se separar da Indonésia.

A independência de Timor-Leste obteve a maioria absoluta no referendo, com 344,5 mil votantes ou cerca de 80% dos votos e foi concretizada em 20 de maio de 2002.

EYL // EL
Lusa/Fim

 

Eduardo Lobão
Editor Internacional – Int’l Affairs Desk Editor
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Nota do editor:

11 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

João, os portugueses e os timorenses que lutaram pela independência de Timor Leste estão-te gratos pelo que, na América e no Mundo, fizeste por esta causa, à frente noemadamente do célebre LAMETA, o movimento dos magníficos 12 mordomos portugueses de Nova Iorque... Porque a memória dos homens é fraca, é muita oportuna esta tua entrevista à agência LUSA.

Oxalá o teu aviso não fique em saco roto. Quem te conhece e acompanhou a causa de Timor Leste, sabe que tu podes falar "de cátedra" sobre este assunto... Oxalá Timor Leste não siga o triste exemplo de Macau...

Um alfabravo, Luís Graça.

Valdemar Silva disse...

João Crisóstomo
Faço minhas as palavras de Luís Graça, acrescentando haver poucos portugueses, lamentavelmente, que conhecem a tua extraordinária obra.

Pese embora, a partir de 2002, o tétum e o português, as línguas oficiais de Timor, sejam agora muito mais faladas pela população, fico com muitas dúvidas que o tétum não substitua totalmente o português futuramente, e nem sequer tenha sobrado o crioulo de Bidau quase extinto.
O crioulo de Bidau, nas redondezas de Dili, praticamente extinto, é uma réstia da língua portuguesa: 'vôsse bai na ôndi? Eu bai na riba' já não se ouve!

Abraço e boa saúde
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Como eu gosto de dizer, o João Crisóstomo é um verdadeiro diplomata que não pertence aos quadros do pessoal diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Será que há lá anti-corpos por isso, u seja, pelos marginais-secantes da diplomacia que puxam pelo nome de Portugal na diáspora ?

Antº Rosinha disse...

O facto de João Crisóstomo ter um ligeiro passado ultramarino é que o teria alertado para se dedicar à trabalheira pró-Timor, em que se meteu

Isto penso eu. Seria?

Houve algumas pessoas que avançaram além do que lhe seria pedido, no caso de Timor, e que ficaram bem notáveis com o papel que desempenharam e que muito teria ajudado à independência de Timor.

Lembramo-nos de Ramalho Eanes no Lusitânea, e de Ana Gomes como diplomata.

João Crisóstomo, quem de nós, aqui, ouviu ou viu na televisão ou jornais naquele tempo?

Mas a propósito do "quase" fim de Timor, do fim de Macau e do fim de Goa, cada um pode ter direito à sua própria ideia, tal como para alguns acharem que nunca lá devíamos ter posto os pés.

O Velho do Restelo seria um deles, se é que não estou a interpretar mal o Camões.

O fim de Goa, Timor e Macau não foi nem mais nem menos do que seria Angola e Moçambique, se em 1961/74 durante 13 anos, não tem havido uma teimosia a que se chamava Guerra do Ultramar.

Ninguém tinha o mais pequeno respeito por Portugal e suas colónias, nem as Nações Unidas queriam saber-

Então os dois donos do mundo e da Guerra Fria, Kennedy e Krutchev pisavam tudo o que mexia.

Desde a independência do vizinho de Angola, o ex-Congo Belga, que vi os malefícios da ONU em África.

E em Timor vimos o papel da ONU, que nem era dúbio, era ao lado da Indonésia, fazia de contas que nem conhecia tal nome: Timor.

Claro que hoje à palopes que não têm orgulho em ser tal coisa.

E só o são por teimosia de alguém.

Esse alguém estamos interditos de pronunciar tal nome.

Valdemar Silva disse...

Julgo que as razões que levaram João Crisóstomo a meter-se com corpo e alma em causas que entendeu 'tem que ser' nada tem a ver no caso de Timor com o ligeiro passado ultramarino. Por esse prisma também teria sido arqueólogo, na defesa das gravuras do Coa, e judeu, na defesa do reconhecimento da obra de Aristides Sousa Mendes.
O João Crisóstomo tomou e continua tomar a peito estas acções por ser um homem extraordinário, bem formado, amigo de toda a gente e empreendedor de nobres causas.
O nosso camarada da guerra na Guiné é filho com mais oito irmãs duma família muito religiosa católica. Ele foi seminarista, três irmãs freiras e três tios padres. É precisamente deste "passado", julgo eu, que lhe vem o 'tem que ser' de ter tomado a peito as acções que tomou, talvez o ter estado na guerra da Guiné tivesse ajudado nalguma coisa.

Valdemar Queiroz

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

As coisas são como são e os povos vivem o seu dia-a-dia, sem se preocuparem com sentimentalismos que, no caso de Timor são absolutamente insuperáveis. O império "português do oriente" - Índia, Macau e Timor - foi uma espécie de marcas deixadas pelas moscas. E se duvidam pensem só na quantidade de portugueses que seria necessário para uma efectiva das ilhas de Sonda, Célebes, Molucas e até das Filipinas. Claro que os portugueses chegaram ao Japão e China, mas sempre na condição de visitantes e, às vezes na tentativa de conversão religiosa... Para uma análise clara e que demonstra a impossibilidade de os portugueses se manterem naquelas paragens partamos do início do Séc. XX. O que seria a Índia Portuguesa? e Macau? Para não falar de Timor meia-ilha por "vicissitudes" da História. Será que havia força suficiente para que subjugar aqueles povos? Ou seria a vida diária uma espécie de saprofitismo em que os portugueses não dominavam nada, mas sobreviviam num associativismo com a população local.
Sendo assim, o português desaparecerá da "India Portuguesa" (que foi conquistada) como se tem visto e de Macau nem se fala. Um dia destes o Leal Senado não passará de um casino muito pitoresco e a Gruta de Camões ficará enquadrada num pagode muito visitado. Em relação a Timor optou-se por adoptar uma língua pouco fala, pretendendo-se marcar a diferença aos povos próximos. Lembro, mais uma vez, que, para as eleições presidenciais do Cmdt Matan Ruak, os out-doors estavam escritos em tétum que é a língua que correntemente se fala. Dentro de pouco tempo restarão umas palavras soltas de português e se o tétum se mantiver como língua da meia-ilha já não será nada mau...

Um Ab.
António J. P: Costa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

E verdade que a causa de Timor sensibilizou e mobilizou milhares e milhares de portugueses... Aqui e na diáspora. LG

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O portal oficial do Governo de Timor Leste vem em 4 línguas: tetum,português e inglês.

http://timor-leste.gov.tl/

Veja-se aqui a constituição em tetum:

http://www.mj.gov.tl/jornal/public/docs/ConstituicaoRDTL_tetum.pdf

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Veja-se este excerto sobre o tétum, na Wikipedia... (Confesso a minha ignorância,não sabia nada sobre o tétum, que é um língua crioulo...)

https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_t%C3%A9tum


(...) O tétum (em tétum: tetun), também chamado de teto, é a língua nacional e co-oficial de Timor-Leste. É uma língua austronésia — como a maioria das línguas autóctones da ilha — com muitas palavras derivadas do português e do malaio.

O primeiro tétum, o tétum-térique (em tétum: Tetun-Terik), já se havia estabelecido como língua franca antes da chegada dos portugueses, aparentemente em consequência da conquista da parte oriental da ilha pelo império dos Belos e da necessidade de um instrumento de comunicação comum para as trocas comerciais.

Com a chegada dos portugueses à ilha, o tétum apodera-se de vocábulos portugueses e malaios e integra-os no seu léxico, tornando-se uma língua crioula e simplificada — nasce o tétum-praça (em tétum: Tetun-Prasa).

Muito embora em finais do século XIX, os jesuítas de Soibada tenham já traduzido para tétum parte da Bíblia e, em 1913, o governador da colónia tenha tentado introduzir o tétum no sistema educativo timorense, é apenas em 1981 que a Igreja adota esta língua na liturgia.

Se bem que o português fosse a língua oficial do então Timor Português, o tétum-praça serviu como língua franca, derivando grande parte do seu vocabulário do português. Quando a Indonésia invadiu e ocupou Timor-Leste em 1975, declarando-o a vigésima sétima Província da República, o uso do português foi proibido.

Mas a Igreja Católica, em vez de adotar a língua indonésia (bahasa, como às vezes erradamente é chamada, é uma palavra indonésia que significa língua) como língua litúrgica, adotou o tétum, tornando-o num pilar da identidade cultural e nacional.

Atualmente, o tétum é a língua com maior expressão em Timor-Leste. Apesar de o tétum-praça possuir variações regionais e sociais, hoje o seu uso é alargado porque é compreendido por quase toda a população timorense. É este tétum-praça que foi adotado como "língua oficial" com a designação de Tétum Oficial. (...)

Valdemar Silva disse...

Quanto à língua portuguesa se manter por aquelas bandas, sabemos como a língua vai mudando ao longo dos anos, mesmo no país natal, o mais natural é de aqui a cem anos sobrar umas palavras do nosso português, o mais não seja mal pronunciadas e mal escritas do original.
Por cá já não se usa ou escreve 'vossa mercê' ou 'vossemecê' foi sendo substituído por vossa excelência e por o senhor e já pouca gente diz uma 'chusma deles' substituindo por uma porrada deles e por o nosso conhecido manga deles.
Mas, em Timor, por influência da Indonésia até 2002, falava-se e escrevia-se em indonésio, e em indonésio ainda persistem muitas palavras de origem portuguesa, que foram evoluindo das deixadas pelos navegadores/comerciantes portugueses antes da chegada dos holandeses no início do séc. XVII.
Exemplos de palavras em indonésio ou javanês:
trigo = terigu boneca = boneka
manteiga = mentiga escola = sekolah
garfo = garpu bandeira = bandera
mesa = meja igreja = gereja

Valdemar Queiroz

p.s. Há uma fotografia tirada na Indonésia de um rapaz com uma camisola do F.C.Porto mas o emblema é do S.L.Benfica. Lá, como cá em tempos, uma camisola vermelha dá muitos problemas.

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas
Do que atrás fica escrito especialmente pelo Luís às 23h35 do dia 3, podemos concluir que a língua de Timor Leste é o tétum. O português está perdido como língua, mesmo que tenha sido declarado língua oficial, talvez para marcar a diferença das dos outros povos próximos. Nas outras "cagadelas de mosca" que constituíram o "Império Português do Oriente" o português nem sequer é uma lembrança. E assim continuará a ser. É pura vaidade querermos obrigar aqueles povos a falar português.
O mesmo já está a suceder na Guiné onde o crioulo é a língua que se fala e o português a língua que se "arranha" quando aparece alguém que o fale.
Aceitemos as coisas como são e deixemo-nos de tretas!

Bom Fds para todos
António J. P. Costa