segunda-feira, 13 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23347: (In)citações (209): As virtudes do Ensino em tempos remotos (Hélder Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF)

Em mensagem do dia 11 de Junho de 2022, o nosso camarada Hélder Valério de Sousa, ex-Fur Mil de TRMS TSF (Piche e Bissau, 1970/72), vem falar-nos das condicionantes impostas pelo sistema nos nossos tempos de jovens estudantes que determinavam o nosso futuro como militares e até depois como civis:


AS VIRTUDES DO ENSINO EM TEMPOS REMOTOS

Há sempre uma necessidade reclamada por amigos para que se possa contribuir com textos tendo em vista alimentar as suas publicações.
Nem sempre ocorre inspiração para recorrer à memória a fim de materializar recordações. Desta vez, depois de algum vazio mental, lembrei-me, já nem sei porquê, de um episódio, melhor dizendo, de uma sequência de episódios, que originaram situações que potenciaram consequências.
E por isso atrevo-me a pedir que depois de lerem, se lerem, me ajudem com as vossas opiniões, sobre que lições se podem tirar (se é que se podem tirar algumas) do conjunto das situações.

1. - Vamos aos factos

Depois de ter feito o Curso de Montador-Electricista (era assim que se designava) na Escola Industrial e Comercial de Vila Franca de Xira, terminado em 1964, fui para Lisboa, cidade grande, fazer as chamadas Secções Preparatórias para o possível ingresso no Instituto Industrial. Essa fase intermédia ocorreu na Escola Industrial Machado de Castro, nos anos letivos de 1964/65 e 1965/66. Os exames de admissão decorreram com aproveitamento e deste modo entrei no Instituto Industrial de Lisboa para o Curso de Eletrotecnia e Máquinas em Outubro de 1966.

2. – Enquadramento social

Dois pequenos apontamentos para ajudar a complementar as situações e a focalizar as “cenas” na época.

Um desses apontamentos é para lembrar que o Ensino estava elitizado. Havia a via liceal e a via do chamado “ensino técnico”. Aos “liceais” estava aberta a via para a Universidade, nas suas várias vertentes, com os seus “cursos superiores”, enquanto que para os do “ensino técnico” era privilegiada a “via profissional”, ou seja, a entrada no mercado de trabalho para exercer uma profissão ou então, através dos “Institutos”, para almejar alcançar uma situação que seria sempre reconhecida como “cursos médios”.

Ao nível do ensino da engenharia isso traduzia-se a que as duas vertentes, a “universitária” e a “média” se materializavam no Instituto Superior Técnico (e Faculdades de Engenharia) e nos Institutos Industriais, sendo que essa separação elitizada projetava-se na Instituição Militar com os primeiros a integrar os Cursos de Oficiais Milicianos (o COM) e os outros os Cursos de Sargentos Milicianos (o CSM).

Outro pequeno apontamento é que pelos anos acima indicados, talvez ainda se lembrem, pois já são anos “do século passado”, havia um esforço de guerra governamental em terras africanas para defender da cobiça internacional aquelas terras e aquelas gentes que nos tinham sido legadas pelas gestas dos descobrimentos e que os nossos “antanhos” tinham desbravado e defendido para nós, “numa mão a Cruz, noutra a Espada”.

Para esse esforço foram mobilizados milhares de jovens. Aos que na época eram estudantes, era facultada a possibilidade de adiamento da incorporação nas Forças Armadas através de pedidos nesse sentido, com base no desenvolvimento dos estudos.

Aos jovens que frequentavam o Instituto Industrial, que para lá chegarem tinham tido, para além da 4.ª Classe de escolaridade, 5 anos de Ensino Técnico e depois 2 anos das Secções Preparatórias, num total de 7 anos, mas que não tinham “equivalência funcional” aos 7 anos do Ensino Liceal, era também concedida a possibilidade de “pedido de adiamento” mas, para tal, o “aproveitamento escolar” deveria ser irrepreensível. 

 Havia umas quantas “cadeiras” que davam precedência a outras do ano seguinte e cuja falta implicava não se poder avançar e, consequentemente, ao nível do “aproveitamento” era considerado insuficiente para o fim pretendido.

3. - Continuando então com os factos

Este jovem que vos escreve, que até então tinha sido um aluno de razoável mérito, “distraiu-se” um pouco no meio da “cidade grande” e das suas solicitações, embora diariamente fizesse as viagens de comboio entre a casa familiar e a Escola. 

Como resultado disso, as notas da maior parte das disciplinas da 1.ª Frequência desse ano letivo de 1966/67 foram o que se pode chamar “um desastre”. Após isso, e reganhando vontade, atirou-se a tentar recuperar o possível e aconselhado por um Professor de uma das cadeiras fulcrais, a Física, deixou-a “cair” para ter possibilidade e capacidade para outras. Assim fiz.

Não passei de ano na totalidade, pois algumas cadeiras ficaram para trás, mas como ainda não tinha chegado a idade da incorporação militar não houve consequências imediatas. Entrei então no meu segundo ano de presença no Instituto, ano letivo de 1967/68, embora a frequentar novamente cadeiras do 1.º ano e, salvo erro, apenas duas já do 2.º ano, as que não necessitavam de precedência e tinha tido aproveitamento.

Esse ano correu bem.

4. – A situação “estranha”

No ano seguinte, ano letivo de 1968/69, em que já tinha ido “às sortes” em Agosto e aprovado para todo o serviço), as coisas “complicaram-se” a partir de um acontecimento insólito. A cadeira de Matemática II tinha um professor na “teórica”, de nome “Vítor qualquer coisa”, mas por lá conhecido na gíria por “papá”,  já que tínhamos a “mamã”, esposa dele, a dar a “prática”. Diga-se então, em abono da verdade, que funcionava assim como uma “disciplina familiar”…

A “mamã” era uma pessoa de baixa estatura que contrastava fortemente com a altura física do “papá”, o que por vezes era motivo de piadinhas, mas o mais agravante era o facto de a senhora dar aulas a crianças do preparatório e algumas vezes não se dava conta de estar a leccionar no Instituto a “pessoas crescidas” e com recorrência, para chamar a atenção a qualquer coisa, recorria à expressão “então, meninos, tomem lá atenção a isto”, coisa que criava animosidades.

Num dia de prova prática, ocorrida num dos pavilhões onde se davam aulas por falta de instalações apropriadas (um espaço retangular com o quadro ao fundo, a secretária da docente também, carteiras distribuídas em filas e porta de entrada num canto oposto ao quadro), a “mamã” começa a escrever no quadro o enunciado da prova, obviamente estando de costas para os alunos.

Acontece que aí na terceira ou quarta questão, enquanto a escrevia, a porta do fundo foi aberta e um aluno mais velho começou a dar em voz alta a solução para uma daquelas questões. Claro que houve algum “bruá” com o insólito da situação e eu também, entre outros, voltei a cabeça para trás para ver quem e donde vinha o “atrevimento”. Nesse instante a “mamã” também se virou e disse
- Arrume os seus papéis e saia!.

Com o pressentimento que aquilo podia ser para mim,  perguntei ao colega que estava ao lado, que me disse que lhe parecia que sim. Olhei para a “mamã” que nesse momento estava com a cabeça voltada para baixo e continuei a procurar responder às questões. Voltei a ouvir:
- Já lhe disse, arrume os papéis e saia!.

Incomodado com a injustiça e com o “sangue na guelra” dos 19/20 anos, levantei-me e interpelei pouco amistosamente:
- Isso é comigo?
- Sim, sim, saia!
- Mas, professora, eu não fiz nada, não era eu que falava, além disso já tenho estas questões resolvidas, porque é que tenho que sair?
- Porque eu mando!

Revoltado com a situação, levantei-me e incorretamente (do ponto de vista “civilizacional”) cheguei perto da “mamã” e, literalmente, atirei, à bruta, com o papel onde estavam algumas respostas resolvidas, para cima da secretária e saí. 

É preciso que se diga, também em prol da verdade, que 4 ou 5 dos colegas presentes falaram em meu abono e fizeram também menção de abandonar a sala, mas consegui demovê-los a tal.

5. – Consequências “quase” imediatas

Um pouco mais tarde, aquando da colocação das pautas com as classificações, verifiquei que no que me dizia respeito estava lá um provocador “8”, escrito por cima de número rasurado que, notava-se bem por o verniz corretor nem sequer disfarçar bem, que tinha dois dígitos. 

Estava ainda a tentar perceber/digerir o que se passava e as consequências do mesmo, quando vindo do corredor da secretaria aparece o “papá”. Na minha santa ingenuidade pergunto-lhe se não teria havido algum engano pois estava convicto de que no exame final ter tido um desempenho que esperava ser da ordem dos 14 ou 15 e afinal estava na pauta um 8.

Com a maior desfaçatez perguntou sibilinamente
- Qual é o seu número? - ao que eu disse:
- 8606. -  ele replicou (mostrando assim conhecer bem a “estória”):
- Ah, isso, é para ver se ganhas juízo para o ano!

Com esta situação, não foi possível mostrar que o aproveitamento era bom e como consequência fui chamado a incorporar o Exército, a meio de Julho de 1969 na EPC (Escola Prática de Cavalaria), em Santarém, para o 1.º Ciclo do CSM.

6. - Considerações

É aqui que peço o vosso auxílio para tentar extrair conclusões deste emaranhado de acontecimentos e seus enquadramentos.

Valorizar o sistema de Ensino então vigente? O seu elitismo? A sua forma de aplicar pedagogia?

Por outro lado, é bem verdade que, por via dos acontecimentos, tive a oportunidade de contactar e conhecer tantas pessoas com as quais agora desenvolvo relações de amizade e respeito.

Então qual deverá ser o sentimento que devo privilegiar nestas recordações?

Hélder Sousa
Fur. Mil. Transmissões TSF

____________

Nota do editor

Último poste da série de 30 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23312: (In)citações (208): Uma tarde maravilhosa, na cidadela de Cascais, vendo com pessoas amigas a exposição "Portugal e Luxembugo: países de esperança em tempos difíceis" e recordando o nosso Aristides Sousa Mendes (João Crisóstomo, Nova Iorque)

19 comentários:

José Botelho Colaço disse...

E ainda bem que a "mamã" não participou de ti como aluno subversivo, tiveste muita sorte em não seres considerado subversivo, senão "ái-ái".

Anónimo disse...

O ensino era assim mesmo. Felizmente, hoje , feito um caminho, já se removeram algumas das suas anciloses. Excludente e classista ou elitista. Hoje, liberto de alguns desses males, não é ainda o ensino de Séc.XXI que vemos só em meia dúzia de instituições de Portugal replicando o que se vem fazendo na Finlândia e noutros países avançados. Ainda se usa o célebre Quadro de Honra, ou seja o quadro dos alunos honrados, menosprezam-se valores cívicos, nem sempre se respeita a multiculturalidade e a palavra respeito pela diferença é poucas vezes pronunciada. É mesmo este o maior problema ainda, que se resume á palavra respeito.
Sobre a escola antiga ela era bem pior, sobretudo porque não era para todos. Havia apenas um liceu por cada capital de distrito, e isso era logo um obstáculo intransponível para quem morasse longe e não fosse filho de gente com algumas posses. para alguns o seminário era a alternativa mais à mão. A condição económica e social, o tempo e o local em que nascemos são muitas vezes os principais escultores das nossas vidas. Até as regalias que agora decorrem do nosso Cartão de Combatente variam em função do local em que nascemos, visto que só têm transportes de graça, no comboio, nos autocarros ou no metro aqueles que vivem nas grandes árias metropolitanas de Lisboa ou Porto, os outros que andem a pé. É a vida ! Como dizia o outro.
Um grande abraço grande amigo e camarada Valério.

Carvalho de Mampatá

Valdemar Silva disse...

Hélder, o meu caso foi parecido, mas nada tive com "mamãs".
Como já disse várias vezes, comecei a trabalhar aos 12 anos como Paquete de escritório.
A partir dos 14 anos matriculei-me no Curso Comercial noturno, só permitido com essa idade e a quem trabalhasse de dia.
Conclui o Curso com 20 anos e, também, entrei na Secção Preparatória para seguir para o Instituto Comercial.
Também pedi adiamento do ingresso na tropa, por isso entrei com 22 anos no CSM (Santarém) em Julho/1967.
Aqueles dois anos, com o adiamento e já com uma "posição" na empresa, foram utilizados com pouca dedicação aos estudos, como tinha tido até ali.
E tanta coisa para ver, tantos telhados para passear e com o trabalhinho garantido foram dois anos, mais umas passagens em "treinos", no "curso de cidadão lisboeta e arredores".
Depois tivemos a guerra na Guiné e agora aqui estamos, com mais de 75 anos de idade, com estas (In)citações* para não nos perdermos no tempo.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

*(In)citações, não quer dizer inimigo das citações.

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Naquele tempo e nos diferentes graus de ensino - primário, secundário e universitário, até - o aluno era "conhecido" do professor, o que tinha vantagens (que também tinha) e inconvenientes. Os professores do tempo, em vez de se remeterem à actividade lectiva e transmissora de conhecimentos excediam muitas vezes,vá saber-se porquê, a sua tarefa primordial. Por outro lado as "turmas" (o regime de classe era comum) eram pequenas o que levava a um certo provincianismo do ensino.
Hoje, as coisas mudaram, mas não para melhor e os resultados aí estão para o comprovar. Há uma grande impessoalidade do ensino que poderia ser boa se o professor se limitasse a avaliar com rigor e quem "tivesse unhas tocava guitarra". Infelizmente a pobreza dos conhecimentos transmitidos está à vista e a displicência com que os professores "transmitem" os conhecimentos é uma realidade.
Por mim, entendo que transferir para a "escola" tarefas e preocupações que ela não consegue nem tem de cumprir não é correcto.

Um Ab.
António J. P. Costa

Anónimo disse...

Meu caro, colega, camarada e amigo Hélder
É comum dizer-se que o ensino é um dos mais importantes elevadores sociais, só que hoje como ontem (mais ontem) os elevadores dos liceus (simplificando: ensino para os filhos dos ricos) funcionavam a gasolina aditivada, enquanto os elevadores do ensino técnico (simplificando: ensino para os filhos dos pobres), funcionava a petróleo.
7 anos de ensino nos liceus – Grau académico: 7.º ano
7 anos no ensino técnico – Grau académico: 5.º ano
Um abraço
Joaquim Costa

Carlos Vinhal disse...

Não vou falar muito do meu umbigo, apenas refiro que, como quase tudo na minha vida, por acaso fui estudar, pois a coisa começou mal no seio familiar, de vistas curtas e carteira minguada, e o por acaso foi-se estendendo ao longo dos anos que andei a estudar para estudante, parafraseando um meu antigo Mestre de Oficinas. O ambiente nas escolas nos anos 60 eram do tipo far-west em que ou a gente alinhava ou era vítima do que agora tanto se fala, o bulingue.
O 1.º ano da formação começou para aí com 25 ou 30 alunos e acabou com uma turma de 10.
Por falar em professores pouco simpáticos, tivemos uma professora, engenheira electrotécnica, a quem, ao longo dos anos em que nos deu aulas, nunca vimos um sorriso.
Não é por nada mas ela ao longo do curso deu-nos estas disciplinas: electricidade, tecnologia eléctrica, orçamentos e contas de obras, desenho de máquinas, desenho esquemático e laboratórios de electricidade. Imaginem quando esta senhora tomava algum aluno de ponta? Estava feito. E aconteceu.
Lembro-me de no último ano termos à sexta-feira 8 horas de aulas, de manhã 4 horas de oficinas de electricidade e de tarde, com a tal engenheira, 2 horas de desenho esquemático e duas horas de laboratórios.
Quanto à qualidade do ensino, e do desinteresse dos professores, era uma desgraça. Lembro-me das fichas de desenho de máquinas, espanholas, que nos punham à frente para transpormos para o papel de desenho, sem nos explicarem o que aquilo queria dizer. Alçados? O que era isso? No desenho esquemático ainda era pior porque ali estava muito da teoria que se aprendia, mas mal ensinado, pior ainda quando passávamos do multifilar para o unifilar, ou vice-versa. Esta senhora tinha o desplante de no fim das aulas perguntar se alguém tinha alguma dúvida a apresentar. Normalmente ninguém punha perguntas. Dizia ela então que se via mesmo que ninguém tinha percebido patavina do que ela tinha dito... debitado, digo eu.
Tinha sorte quem, como eu, encontrava uma boa empresa para o estágio profissional. Os melhores classificados eram convidados a ficar, como eu, por acaso, e a alguns até lhes era dada a possibilidade de um futuro melhorado, como a mim, por acaso.
A escola, aquela escola, não me deixou saudades, marcou-me negativamente, e a falta de apoio da família foi um insentivo para que, acabado aquele calvário, ingressasse no mercado de trabalho.
Consegui os mínimos "obrigatórios", ir para o CSM.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

João Fernandes disse...

AS VIRTUDES DO ENSINO EM TEMPOS REMOTOS
Os ricos e os pobres
A minha experiência como achega para entendimento do contesto:
Nasci em 1938 numa família de classe media. Meu pai funcionário público CML e minha mãe doméstica (trabalhava em casa).
Vivíamos num Bairro Social (Bº. da Encarnação)
Fiz o Liceu até ao 2º ano no Liceu Camões e depois no Licel Gil Vicente até ao 5º. ano. Como chumbei 2 anos (as farras eram muitas). Terminei o geral dos Liceus 5º ano, com 18 anos. Ambicionando ser senhor das minha vida, comecei a trabalhar na CML como escriturário, porém e cumulativamente continuei a estudar à noite e fiz o 7º. ano e a admissão á Faculdade I.S.C.E.F. Fui pedindo adiamentos para cumprir o serviço militar.
Entrtanto casei-me (sempre fui muito apressado). Assentei praça em Mafra (Escola Prática de Infantaria) em Agosto de 1962, tinha já 24 anos casado e com uma filha. Fiz o COM, após o que fui colocado no Quartel da Amadora (Infantaria 1). Só no final de 1963 é que fui mobilizado para a Guiné 1964/1966. Regressado, fui Controlador de Tráfego Aéreo na Torre do Aeroporto de Lisboa. Em 1970 concorri a um curso da TAP para piloto de Linha Aérea realizado na Flórida EUA, onde estive ano e meio. O resto da minha vida profissional foi na TAP, primeiro como Co-piloto e no final como Comandante. Não tendo nascido num berço dourado, perto do fim de vida, sinto-me realizado, mas trabalhei muito para isso.

Anónimo disse...





Meu caro camarada e Hélder Sousa e camaradas citadinos que me antecederam , nos comentários. Tendes as vossas razões, eu tenho a minha , que é diferente
Proveniente do meio rural , recordo que nos anos sessenta, muitos lavradores, chegados à meia-idade, com a instrução mínima, a quarta classe, começaram a pensar que os filhos poderiam ter uma vida mais limpa e menos difícil se fossem estudar. Por experiência eles sabem que o trabalho no campo é duro, dá pouco rendimento, cada vez tende a dar menos, já que de pais para filhos a terra se vai repartindo e fica cada vez mais reduzida de gerações para gerações. Os Liceus , Escolas Comerciais e Industriais e Colégios ficam longe das aldeias pelo que , aconselhados por padres da terra, que procuram vocações ou querem ajudar somente, mandam-nos para os seminários, onde as mensalidades são económicas, e irão viver num regime duro militar e monástico. Habituados à liberdade da vida do campo poucos aguentam por muito tempo aquela vida de clausura, mais do que dois ou três anos. Eu estive lá um ano, aos três meses quis sair e não me deixaram. Os que iam saindo, como eu, os meus irmãos também. obrigavam os pais a uma difícil ginástica financeira por que os estudos, a alimentação e alojamento, nas cidades ou vilas, longe de casa, passavam a ter custos acrescentados.
Sem terem aspirações , à partida de ser doutores, entre o ensino liceal e o das escolas industriais e comerciais, os filhos dos lavradores por influência dos pais ou por escolha própria optavam pelo ensino liceal. por vários motivos:
- Esse ensino podia-lhe dar acesso a cursos superiores se houvesse inteligência e os pais tivessem meios para tal
- No caso de fazerem somente alguns anos poderiam ir trabalhar para uma repartição pública ou para um banco.
- Nós, os filhos dos camponeses, substimávamos o ensino das Escolas industriais e comerciais, porque , vivendo longe das cidades, onde havia os meios comerciais e industriais, não fazíamos bem ideia que tipo de ensino seria. Nas nossas aldeias além do trabalho da lavoura, havia o trabalho dos artistas e artesões, carpinteiros de casas, de carros de vacas , de marcenaria fina, os serradores, os albardeiros, os ferreiros, os sapateiros , os alfaiates e outros, o trabalho deles rendia pouco mais do que os dos trabalhadores do campo. Ainda me recordo que oa família Jingueira, os principais construtores de carros de bois ter ido toda para o Brasil, no início dos anos sessenta .
- Os filhos dos lavradores tinham aprendido bastante sobre trabalhos agrícolas, eles em casas dos pais, em fins de semana ou férias, os pais (homens) tinham um poder quase absoluto sobre eles, que os condicionava e não lhes dava autonomia, para tomar decisões próprias . Isso iria refletir-se na sua adaptação à vida citadina e na dificuldade em conciliar o trabalho do escritório ou da oficina com uma melhor formação escolar.
Meus caros amigos e camaradas citadinos, vós que tivestes todos começos de vida difíceis, para os do campo, que tiveram possibilidades de estudar, a vida também foi muito difícil. Hoje estão quase todos na cidade porque a vida no campo tornou-se impossível. Há quem diga que por culpa dos nossos políticos de Lisboa e doutras grandes cidades do Litoral .
Grande abraço.
Francisco Baptista

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Toda a gente reconhece que havia professores excecionais no ensino liceal, e alguns foram notáveis pedagogos e escritores e cidadãos exemplares... Mas de quantos professores nos lembramos nós ao longo da vida, nos vários níveis de ensino ? Daqueles que nos marcaram "para sempre", para a vida...

Às vezes é mais fácil falar pela negativa, lembrando-nos dos maus exemplos (docentes e discentes)...

Também não segui a vida "normal": na minha terra só havia, desde 1953, um colégio privado... E depois o liceu só o havia nas capitais de distrito (Leiria, Lisboa)... O ensino médio (industrial e comercial, que só havia nalgumas cidades e vilas) foi importante para a nossa geração, e formou excelentes profissionais...

Mas temos de reconhecer que nascemos num país e numa época em que o ensino era não apenas elitista como classista, reproduzindo as desigualdades sociais... (e mais baseado no processo de "acumulação de conhecimentos" e na menorização das "sebentas" do que na pedagogia ativa, no aprender a aprender, na preparação para a autonomia, a livre escolha, o espírito crítico, a cidadania, etc.).

Hoje temos uma grave crise nas "vocações docentes": o professor deixou de ser uma função socialmente prestigiante e dignificada e as escolas (incluindo as do ensino superior, público e privado) tornaram-se "fábricas de diplomas"... Este é o lado preverso da "democratização do ensino" que começou a ser ensaiada no final do marcelismo...

A equidade (a igualdade de oportunidades) veio tarde, e a mobilidade social baseada no mérito ainda está longe de ser uma realidade na(s) nossa(s) democracia(s)...

Os filhos dos ricos (em Portugal, no Brasil, em Angola, mas também em Espanha, e por aí fora) podem ter acesso às melhores escolas, no estrangeiro, que custam no mínimo 100 mil euros por aluno e por ano (propinas, estadia, etc.). Não tenhamos ilusões: isto não se muda facilmente por decreto, o dinheiro continuará a ter muita força...

Mas temos de reconhecer que a nossa geração fez muito por si, e fomos mais longe do que os nossos pais...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Hélder, fico contente por a tua "provocação" ter já suscitado os anteriores 9 comentários... E eu a pensar, injustamente, que a malta não ia "pegar" o teu touro pelos cornos...

A realidade é que este blogue já está velhote, e já tem reflexos mais lentos: recordo-me que começou a funcionar, em 2004, tinha eu já os meus 57 anos feitos e estava livre da "escravatura" do doutoramento (bolas, já não se faz o doutoramento com meio século em cima do corpinho e quase três anos de tropa e guerra..., mas a verdade é que a minha carreira académica "atípica" começou, muito tarde, já com 38 aninhos, depois de me licenciar aos 33; hoje faz-se os graus do processo de Bolanha, bacharelato/licenciatura (I ciclo), mestrado (II ciclo) e doutoramento (III ciclo) antes dos 30, para depois de se ficar, anos e anos, a ganhar como "bolseiro de pós-doutoramento" menos de mil euros)...

O país deu um enorme salto no número de doutorados por 100 mil habitantes: era de 0,7 por 100 mil em 1970; passou a ser de 28,7 por 100 mil em 2015...

Valdemar Silva disse...

País do caraças
Em 1970 22,4% dos homens e 34,6% das mulheres eram analfabetas, mas 6.372.222 49,87% dos habitantes com 14 ou + anos não tinham o ensino primário.
Pois, a escolha era esturrar dinheiro na guerra das colónias ou gastar dinheiro na instrução da população.

No meu comentário faltou a questão do ensino para ricos e pobres.
Quando se coloca esta questão, há duas observações que aparecem sempre: eu não era rico e consegui chegar a ... ou os meus pais esforçaram-se para eu não ser analfabeto como eles.
Esta era uma situação concreta, mas mais concreta era fazer a 4ª. classe e ir trabalhar para ajudar a família, que era a generalidade do país ou, até, nem sequer ir à escola, que escola era para os ricos.

Sobre o elitismo também havia a vaidade da treta, como aquela do filho da Sra. Maria ser colega de carteira do filho da D. Maria, mas o filho da Sra. Maria andava na escola e o filho da D. Maria andava no liceu.

Quanto ao haver "mamãs" professoras, imaginem uma jovem professora a dar a aula das 22 às 22,50 a uns "meninos" que lhe respondiam 'trabalhos pra casa? isso digo eu aos meus filhos'
e que até dizia para o Lérias 'vamos lá acordar, que já acabou a aula'.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Venho só recordar que o tema era: "As virtudes do Ensino em tempos remotos". As experiências pessoais são interessantíssimas, mas estão para além do tema.
Há nos comentários uma referência à atrição durante "os cursos". No Liceu de Passos Manuel no primeiro dia de aulas do 1.º ano éramos apenas 44, chegámos ao fim do ano 28 e, desses reprovaram 12. Destes chegaram 7.º ano sem chumbar nunca (alguns ficaram para trás, mas recuperaram) o estonteante número de seis!
Estes resultados, hoje davam direito a despedimento, com justa causa dos professores...
Muita malta, tal como hoje, "distraía-se" um bocado e depois...
Naquele tempo não havia facilitanços (questões "sociais", familiares, "inclusão", respeito pelas minorias...) era tudo à bruta e os professores eram frequentemente maus, do ponto de vista pedagógico.
Digamos que o ensino era ferozmente selectivo (brutal muitas vezes), mas e isso incontestável, aprendia-se e sabia-se. Hoje...

Um Ab.
António J. P. Costa

João Fernandes disse...

Olá,
Que estranho… Eu entrei para o Liceu Camões em 1948 havia 7 turmas no 1ºano, cada uma com cerca de 30 alunos???


Nosso Rei D. Carlos com João Franco em 1907, no local onde haveria de ser construído o Liceu Passos Manuel.

Inaugurado em Janeiro de 1911

Abraço

António J. P. Costa disse...

Olá Camarada

O meu 1.º ano, em 1957 (9 anos depois) tinha 6 turmas no 1.º ano que andavam na banda dos 40.
Depois dava-lhes o vento e só havia 4, no 2.º Ano, 5, no 3.º (com os que vinham do particular) 3 no 4.º Ano (era a ventania) e duas no 5.º ano. Depois perdia-se o controlo com a opção letras ou ciências (a alínea f) era a "vala comum dos cursos de ciências)...
O "Passos" era o centro escolar 27 da bufa. Daí que se gritasse: "27, 27, 27 com o Passos ninguém se mete!
Ganda Pinta, meu!

Um Ab.
António J. P. Costa

Hélder Valério disse...

Meus bons amigos

Muito sinceramente, e apesar de ter apelado a que me pudessem ajudar na interpretação dos factos e consequências, não esperava tantas colaborações.
Então, até por isso mesmo, é meu dever, não só agradecer a atenção, como corresponder às vossas intervenções.

Caro Colaço, não sei, não posso saber, se a "mamã" fez isso que sugeres mas não era ela a entidade mais indicada. De qualquer modo, por à data da incorporação pertencer à direção da Associação de Estudantes, a "prestimosa" classificou-me de "suspeito", conforme informação/aviso de amigo colocado na Repartição de Sargentos e Praças, em vésperas da minha mobilização.

Caro Carvalho, quanto às tuas observações são pertinentes e avisadas. Já passou muito tempo desde o "nosso tempo", desde a época do que relatei, muita coisa mudou, algumas para melhor, mas não nos devemos nunca, em termos de apreciação e de valoração das coisas, de que, como escreves, "a condição económica e social, o tempo e o local em que nascemos" (e eu acrescento "e o local em que vivemos"), e isso continua a ser válido para os tempos de hoje, também como concluis, dando como exemplo as vivências nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e o resto do País.

Caro Valdemar, claro que os "nossos casos" (os nossos propriamente ditos, mas também os de muitos outros) foram parecidos. Situações com pontos de contacto semelhantes, originam casos semelhantes. Adiamentos concedidos, adiamentos recusados, cumprimento da "comissão militar de serviço por imposição", regresso (os que regressaram...) às atividades interrompidas, escolares, profissionais, novos "estados sociais" com outras responsabilidades.

Caro António J.P.Costa, o que é indicado, sobre o professor "conhecer" o aluno e hoje em dia ser algo "impessoal", tem razão de ser, mas lá teremos que relativizar pois em tempos anteriores a frequência escolar era bem menor e os professores de então podiam "dar-se ao luxo" de conhecer todos e cada um dos seus alunos, principalmente aqueles que davam corpo ao "saber ler, escrever e contar". Quanto ao facto de hoje por hoje haver uma pobreza de conhecimentos transmitidos é realmente confrangedor. Há mais informação mas menos capacidade de "digerir", de interpretar essa informação.

Caro Joaquim Costa, o que indicas é um dos aspetos que esperava que tivessem "apanhado". O ensino era elitista, classicista, estratificador da sociedade. Na prática, tanto influenciava a sociedade como era agente dela mesmo.

Caro Vinhal, felizmente que te aconteceram todos esses "por acaso". Na verdade, cada um de nós terá a sua própria história e no final do teu comentário referes que "a escola, aquela escola, não me deixou saudades, marcou-me negativamente". Por esse lado não me posso queixar muito. O meu Professor da Escola Primária, o Professor Afonso, severo à moda dos anos 50, conseguiu manter um turma inteira (quase...) até à 4ª classe e para a esmagadora maioria dos alunos foi sempre referência. Na Escola Técnica foram vários os Professores que marcaram favoravelmente, entre os quais o caboverdeano Francelino Gomes, autor de livro escolar de matemática, que bons horizontes abriu. No IIL, para além de "gente menor" também houve um ou outro que deixou marca.

Hélder Sousa

... continua....

Hélder Valério disse...

.... continuando...

Caro João Sacôto, não era minha intenção provocar o confronto entre "ricos e pobres" mas sim lembrar que o Ensino não era "universal", era objeto de condicionamento de oportunidades. Por um conjunto de circunstâncias, que aqui não vem ao caso, conheci relativamente bem o Bairro da Encarnação que considero bem concebido, não só para a época com ainda hoje pode servir de modelo. Não posso de modo nenhum (nem quero, nem seria objetivo) fazer qualquer reparo à tua evolução de vida. Foi a que conseguiste e, acredito, com muito trabalho. Mas considero que as oportunidades não foram possíveis para todos.

Caro Francisco, o que escreveste considero mais um "fresco" sobre "a vida do Portugal das aldeias do interior", coisa a que já nos habituaste e que sai sempre bem. Não desminto (não posso, não devo, nem quero, aliás não o poderia fazer) pois tratam-se de realidades indesmentíveis. Mas, já não posso concordar com teres "puxado" a coisa para uma espécie de oposição entre "rurais e citadinos". Não me parece que seja útil nem que acabe por ser "A VERDADE", será realmente "uma verdade", mas não absoluta. Deves ter em atenção que o país não é, não foi, e certamente nunca será, igual e, por isso haverá sempre diferenças entre locais e seus conjuntos. Repara, é verdade que descrevi uma situação passada em Lisboa ("citadina", portanto) mas não nasci lá. E, independentemente donde nasci e cresci, aquele facto ocorreu lá e teve as consequências que teve e era isso (associado ao elitismo) que mais gostava de perceber qual o entendimento. Olha, também nasci num meio rural, diferente do teu, é certo, mas também por lá havia gente que cuidava de cabras e ovelhas, que trabalhava na construção civil, que praticavam alguns ofícios. Mesmo até a ida para o Seminário não era muito diferente: o meu pai, por exemplo, também esteve dois anos no Seminário de Santarém antes de se confirmar "não ter vocação". Mas é costume dizer-se que "o Homem é ele mesmo e as suas circunstâncias" e as minhas circunstâncias não foram só a aldeia ribatejana de nascimento, foi, principalmente, uma vila, Vila Franca de Xira, onde pude beneficiar das suas "Universidades"... culturais, sociais, desportivas, associativas, políticas, etc. E as "circunstâncias" fizeram com que estivesse inserido numa área geográfica onde, a par com a cintura industrial do Porto, da zona do Barreiro e da cintura industrial de Lisboa, se desenvolvia a indústria pesada e com a chegada a esses unidades industriais de proletários, de pessoas que só tinha a sua "força de trabalho", distintos daqueles que, de algum modo, ainda mantinham vínculos ao meio rural, ainda tinham um pedacito de terra onde tiravam sustento próprio. Quando essa indústria começou a necessitar de mão-de-obra mais especializada foi criada em Vila Franca a Escola Industrial e Comercial, destinada a "produzir" essa mão-de-obra e tal Escola recebia alunos de locais tão diversos como desde Sacavém até Azambuja, ao logo do caminho de ferro, mas também de Arruda dos Vinhos, Alenquer e até do outro lado do Tejo, Porto Alto, Samora Correia, etc. Aprecio a parte final do teu comentário onde escreves que "Meus caros amigos e camaradas citadinos, vós que tivestes todos começos de vida difíceis, para os do campo, que tiveram possibilidades de estudar, a vida também foi muito difícil. Hoje estão quase todos na cidade porque a vida no campo tornou-se impossível. Há quem diga que por culpa dos nossos políticos de Lisboa e doutras grandes cidades do Litoral", pois assim será mas acredito mais que sejam os "ares do poder" que modificam as pessoas que qualquer cabala do eixo Lisboa-Cascais. Lembro-me muitas vezes do personagem do livro "A Queda de um Anjo" de Camilo Castelo Branco e da sua transformação. Mudou, alterou os seus azimutes morais, mas a sua origem não era lisboeta, citadina.

... vai continuar...

Hélder Valério disse...

... continuando...

Caro Luís Graça, dois pequenos apontamentos (não que não sejam merecidos mais, mas isto já vai longo e, em termos de colocação no "feed" de artigos já está "lá para trás).
Um deles é para constatar que as experiências de vida de cada um de nós tem muitos pontos de contacto, pese embora as distintas circunstâncias. A tua experiência nos tempos mais recentes no campo do Ensino permitem-te ter uma melhor visão das perspetivas mas dizes muito acertadamente que "não tenhamos ilusões: isto não muda facilmente por decreto, o dinheiro continuará a ter muita força". Eu acrescentaria: decisivamente!
O outro apontamento é para confirmar que também eu fiquei surpreendido com a quantidade e qualidade de comentários.

Caro Valdemar, de novo para te responder, dizendo que essa questão da contradição dos gastos com a guerra e a falta (ou não aplicação) de verbas para outros aspetos sociais, como por exemplo o ensino e a saúde, é importante mas não era minha intenção abordar o tema e, claro que as questões "pedagógicas" do ensino que ilustras, não me parece que tenham melhorado...

Caro António J.P. Costa, de novo para dizer que é verdade que o tema seria "As virtudes do Ensino em tempos remotos" e que o pessoal, na generalidade, referiu "de passagem" centrando-se mais nos seus casos pessoais, nas sua próprias experiências. Não faz mal, por aí também se podem extrair algumas conclusões.
Quanto à comparação entre o ensino de antes e o de hoje, bem , acho que se tem de usar o plural, "comparações" em vez de "comparação". Porque serão vários os aspetos a considerar. Ensina-se mais? Ensina-se melhor? Aprende-se mais? Aprende-se melhor? É mais seletivo? É mais permissivo? É mais "facilitador"? Acho que há mais "informação" mas menos capacidade de "digestão" dessa dose informativa.

Hélder Sousa



António J. P. Costa disse...

Ao Camarada Helder Valério agradeço as "bocas" me mandou.
Fez uma análise completa - homem a homem - das bocas que cada um mandou e procurou distinguir as experiências pessoais das linhas gerais de funcionamento do ensino do nosso tempo.
Cada caso é um caso e nem sempre a "pureza da vida rural" poderá ser aceite e defendida. No fundo, os progenitores e mestres locais também sabiam que havia outras "opções" para além do "bom corpo que o rapazinho deitou para ser pastor". É claro que é nas cinturas industriais é que começam a surgir recursos...
Além disso, nos meios pequenos era frequente que os "os professores/as" fossem jeitosos/as que agrupavam várias áreas de ensino com poucas qualificações para tal. O compadrio também tinha algo a dizer... enfim, este era o país provinciano que tínhamos e que alguns ainda hoje defendem com grande empenhamento. A nostalgia é uma coisa "tramada"...

Um Ab.
António J. P. Costa

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Esquecemo-nos de verificar qual a nossa cota parte nas "insuficiências" do ensino.
Vi dois colegas do 1.º ano perderem o ano "por faltas" à Bufa, actividade obrigatória para o 1.º e 2.º anos do liceu e onde não se aprendia mais do que marchar, mas também assisti a colegas que andavam demasiado "às gatas" e tinham uma certa dificuldade em gerir as 24 horas do dia (fora a noite). Se é certo que o ensino tinha "limitações" não estamos totalmente isentos de culpas...

Um Ab.
António J. P. Costa