Pesquisar neste blogue

sábado, 5 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P26987: Os 50 anos da independência de Cabo Verde (8): Luís de Sttau Monteiro (1926-1993), enviado especial do "Diário de Lisboa", à cerimónia da independência em 5 de julho de 1975: "Daqui a três horas, sou estrangeiro"



As duas bandeiras de Cabo Verde: a das ilusões da "unidade" com a Guiné-Bissau (1975-1992) e a atual (desde 1992)...  A mudança de bandeiras não foi consensual...

O último dia duma colónia

por Luís de Sttau Monteiro 

(1926-1993) 










Fonte: Diário de Lisboa, sábado, 5 de julho de 1975, ano 56,. nº 18807, pág, 10 (Inserido no caderno especial "Cabo Verde Ano Um" (com a colaboração de uma equipa de luxo: Fernando Assis Pacheco, Alexandre Oliveira, Eugénio Alves, Luís Stau Monteiro e José A. Salvador). 

Fonte: (1975), "Diário de Lisboa", nº 18807, Ano 55, Sábado, 5 de Julho de 1975, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_4405 (2025-7-5)

Instituição: Fundação Mário Soares e Maria Barroso | Pasta: 06823.173.27275 | Título: Diário de Lisboa | Número: 18807 | Ano: 55 | Data: Sábado, 5 de Julho de 1975 | Directores: Director: António Ruella Ramos; Director Adjunto: José Cardoso Pires | Observações: Inclui supl. "Cabo Verde ano um". | Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos | Tipo Documental: Imprensa (com a devida vénia...)

(Seleção de excertos, e fixação do texto: LG)



Luís de Sttau Monteiro
(1926-1993)

1. O jornal "Diário de Lisboa" tinha então como diretor o A. Ruella Ramos e diretor-adjunto o escritor José Cardoso Pires. O Sttau Monteiro foi a Cabo Verde, como "enviado especial",  fazer a cobertura noticiosa da independência do país. 

Filho do embaixador em Londres, Armindo Monteiro, anglófilo e rival de  Salazar que o demitiu em 1943 (tinha sido ministro das colónias e dos negócios estrangeiros na fase inicial do Estado Novo),  Sttau Monteiro foi dos espíritos mais livres do Portugal dessa época. E um dos nossos grandes dramaturgos  do séc. XX, além de  "cronista social" ("As redações  
da  Guidinha", publicadas no "Diário de Lisboa",  nos anos de 1969 e 1970, e entretanto reunidas em livro, em 2003,  já depois da morte do autor, são um monumento, uma delícia, uma referência obrigatória para se compreender melhor o país onde nascemos.)

A crónica que escreveu, há 60 anos, para o jornal, "O último dia de uma colónia", é uma pequena obra-prima de bonomia, bom humor, empatia e ironia, onde não há a mínima concessão ao populismo revolucionários da época. Eis alguns nacos de prosa:
  • "(...) Sinto-me comovido porque isto de assistir ao parto de um país,  é uma epxeriência nova para mim"
  • " (...) Cor ? Que é isso ?"
  • "Há dois bêbados agora, na esplanada, o da água do mar, e um que canta o hino nacional!"
  • "(...) os cabo-verdianos descobriram Portugal"
  • "O que nós, portugueses, poderíamos ter feito nesta terra, por esta gente!"
  • "O que vale é que fazemos parte da festa"
  • "São três da tarde e a cachupa ainda me anda às voltas no estòmago"
  • "Daqui a três horas, sou estrangeiro. Mas... alguma vez serei estrangeiro nesta terra ?".
___________________

Nota do editor:

Último poste da série > 5 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26985: Os 50 anos da independência de Cabo Verde (7): reportagem do 5 de julho de 1975 - III (e última) Parte (Carlos Filipe Gonçalves)

6 comentários:

Thiago Santos de Moraes disse...

Embora bem escrita, discordo da crônica, pois a independência de Cabo Verde não fazia e não faz o menor sentido; só ocorreu pela instrumentalização do delírio nacionalista do século passado pelo comunas e pela falta de vergonha na cara dos abrileiros. O que o governo devia ter feito era reconhecer os erros do passado (falta de ajuda nos períodos de fome, por exemplo), investir e garantir a autonomia política. Infelizmente as ideologias envenenaram a possibilidade de diálogo.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Tiago, obrigado pelo comentário. Somos um blogue aberto... Mas deixe-me fazer a seguinte observação: o seu perfil não está disponível no Blogger. Está no seu direito de não partilhar publicamente o seu perfil. Mas pode ao menos dizer-nos onde vive: Cabo Verde ? Brasil ?...Portugal ?

Por outro lado, de acordo com as regras editoriais, usa uma linguagem que está no limite do insulto, embora não personalizado...Podemos todos discordar uns dos outros, sem usar os palavrões da chicana política... Somos um blogue de antigos combatentes, que também fazem parte da História... mas não somos historiadores...De qualquer modo, fica aqui registada a sua opinião sobre a independência de Cabo Verde, há 50 anos atrás, altura em que você provavelmente ainda não era vivo a avaliar pela sua foto de perfil.

Anónimo disse...

Pronto mais um que queria a juventude portuguesa na guerra, se calhar nunca lá pôs os pés, pois de certeza que não tinha esta opinião. Mas a vida continua, e se calhar quando o chegano chegar ao poder, ele ,os filhos ou os netos , vão embarcar no cais de Lisboa, para libertar Cabo verde dos comunas, que o seu Deus os guarde!!!
Abílio Duarte - C,Art.2479/C.Art.11- Guiné 69/70.

Thiago Santos de Moraes disse...

Sim, já estive lá, e isso reforçou ainda mais minha opinião de que a tal independência não fazia o menor sentido; hoje, infelizmente, já é fato consumado.

Thiago Santos de Moraes disse...

Também sou português, vivo no Brasil, estive em Cabo Verde. Fatos históricos só podem ser avaliados com a distância e discordo completamente de que meu comentário está no "limite do insulto", mas se vocês possuem uma sensibilidade tão delicada, prefiro me abster de nova participação aqui.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Tiago, como português da diáspora estás aqui bem entre nós, cotas, antigo combatentes que demos o nosso melhor a fazer a guerra e a paz.

... O poder político de então é que não soube ou não quis encontrar uma solução política, negociada, para uma guerra que, não estando perdida, nunca poderia ter um desfecho militar. 800 mil militares foram mobilizados entre 1961 e 1974 ( sendo um terço do recrutamento local), dos quais morreram mais de 10, 4 mil...

Seguramente tens o mesmo amor que eu por Cabo Verde e o povo cabo-verdiano.

Em 1975 tinha amigos "de um lado e do outro"... Nunca lhes chamei nomes feios nem impus a minha opiniões a sobre o melhor para Cabo Verde.

No blogue temos as nossas regras, é só isso. Estamos apresentados. Boa saúde, bom trabalho. Luís Graça.