1. Mensagem do nosso camarada Rui Silva (ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67), com data de 25 de Junho de 2012:
Caros Luís Graça e Vinhal, sem esquecer o meu grande amigo M. Ribeiro:
Recebam as maiores felicitações e mais uma folha “arrancada” das minhas memórias.
Rui Silva
Como sempre as minhas primeiras palavras são de saudação para todos os camaradas ex-Combatentes da Guiné, mais ainda para aqueles que de algum modo ainda sofrem de sequelas daquela maldita guerra.
Do meu livro de memórias “Páginas Negras com Salpicos cor-de-rosa”
A SERRAÇÃO DE JOBOIÁ – A destruição de um mito
16 de Dezembro de 1965
Julgo que toda a Companhia ou Grupo militar operacional, tinha, em menor ou maior grau, o seu “calcanhar de Aquiles” na guerra, isto é, algo que a estigmatizou em dado momento, através de um grande revés ou infelicidade, (refiro-me principalmente de mortos em combate ou de fortemente estropiados) na estrada, no mato, no aquartelamento, ali ou acolá, e que a marcou. A 816 não era exceção. Passar depois por esse mesmo sítio havia sempre um nervoso miudinho na malta.
A 643 dos Águias Negras (grande Companhia operacional) em Bissorã e a 566 (não menos grande Companhia) no Olossato, para falar das Companhias com que tivemos o privilégio de atuar, muitas vezes em conjunto, pareciam também ter o seu.
A 643 falava muito na “carreira de tiro”, um percurso em balcada com uma centena de metros, na estrada de Bissorã para Olossato antes de Maqué e do grande poilão.
A 566, no dizer de alguns dos seus operacionais, preferia uma operação a Morés do que entrar na estrada (então interdita) que ligava Olossato a Farim.
No entanto, não esqueço aquele Cabo da 566 que de Dryse na mão, em cima do capot do motor de uma GMC, a peito descoberto, ajudou a resolver uma grande e violenta emboscada feita a toda a Companhia 816, naquela estrada, que entretanto tinha pedido ajuda no Olossato, pois as munições estavam a acabar à coluna da 816 no célebre e traumatizante dia 1 de Agosto de 1965. Começamos aos tiros de manhã cedo e até ao princípio da noite e já depois de os dois T6 nos deixarem, por razões óbvias (obscuridade e já falta de bombas), de operar.
A serração de que falo ficava a poucos quilómetros de Olossato na estrada para Farim (e K3) mais propriamente em Joboiá, metida um pouco dentro no mato e do lado esquerdo.
Era um dos santuários do inimigo ali no Oio. A 566 tivera ali um revés que os marcou.
Até que um dia chegou a ordem de alinharmos para destruirmos a famigerada Serração de Joboiá, a célebre serração, ou melhor, o que restava do que outrora foi uma serração e isto não passava apenas das paredes ao alto (o que bastava para o IN se emboscar e era tido como um ponto de encontro) e dos caibros da armação que outrora sustentava o telhado. A serração de Joboiá distava do Olossato cerca de 4 a 5 quilómetros na estrada para Farim. Ficava isolada e longe de qualquer meio povoado. Olossato era o mais próximo, porventura. A “casa-de-mato” de Cansambo não muito longe dali também.
Chamo-lhe de célebre pois muito cedo começamos a ouvir falar dela. Logo que se falava de Olossato falava-se fatalmente da serração e de uma maneira temível e então esta tinha as suas histórias de guerra para contar. Ao que se sabia, os terroristas aproveitavam-se das suas ruínas, ou melhor das paredes, para fazerem emboscadas, assim bem abrigados e num ponto bem estratégico. Ali, naquele sítio, uma emboscada era uma constante sempre que a tropa passasse na estrada de Farim, estrada que distava da serração aí a uns 40 metros.
Lembro que esta estrada no meu tempo era dada como interdita a colunas auto.
O acesso a Farim era feito pela estrada que vinha de Mansabá até ao K3 onde entroncava com a estrada Olossato-Farim e, principalmente, pela via fluvial, através do Cacheu.
Assim, sempre que passávamos ao lado da serração havia o receio de eles estarem por ali.
Então o Capitão resolveu acabar com aquilo, o que, e no dizer dele, era mais um mito que outra coisa, o que nós concordamos.
O dispositivo para tal operação foi, prévia e obviamente, muito bem concebido pelo Cap. Riquito.
A foto na Serração (houve tempo para uma foto de circunstância): Pessoal da 816 que colaborou na destruição da serração de Joboiá – Veem-se em pé: o Alferes Costa (com a G3 à caçador), Furriéis Rui (eu com a mão no cinto) e Coelho; Flores, Alferes Esteves (de capacete) e o “Pelé”; e em baixo o Clarimundo simulando carregar o morteiro e o “Chaves” com a sua “bazooka” a “fazer foto” da estrada Farim-Olossato. Do lado direito pode-se ver ainda parte da estrutura da serração.
Cerca das 3 horas da madrugada sai então do aquartelamento o 1.º Grupo de combate comandado pelo Alferes Costa, na ausência do Alferes Barros o titular daquele Grupo. A missão deste Grupo é fazer um reconhecimento e instalar-se em redor da serração, em dispositivo de segurança, de forma que, já pelo alvorecer, a chegada do meu Grupo de combate àquele sítio e mais tarde o grupo das viaturas seja feito a coberto de qualquer surpresa, pois, uma vez já ali instalado o 1.º Grupo, não seríamos surpreendidos pelo inimigo, que podia muito bem já estar ali acoitado. Portanto, quer dizer, o 1.º Grupo assegurava a não presença inimiga ali na altura que nós chegássemos pela alvorada, e mantinha a segurança ao 3.º GC (o meu Grupo) que com o material adequado procedia à completa destruição do que ainda então restava da antiga serração. Mas, logo no começo da operação, traçou o destino, ia haver contacto com o inimigo. Assisti ao partir do 1.º Grupo de Combate, que, silenciosa e cuidadosamente, saiu em fila indiana, e como já se disse, à volta da 3 da madrugada, rumo ao objetivo. Primeiro eles iam por a estrada até à ponte do rio Olossato - o costume - que ficava a cerca de um quilómetro do Quartel, e, ultrapassada a ponte, meter-se-iam então pelo mato, para melhor segurança na progressão e evitarem serem detetados.
Quando os últimos homens da coluna estavam a sair do aquartelamento contornando o cavalo-de-frisa na saída para a estrada para Farim, e como já era um pouco tarde e eu tinha que me levantar cedo, fui-me deitar. Quando me aprestava para adormecer, e já todos nós deitados, eis que ecoa um metralhar contínuo e forte que mais forte parecia no silêncio da noite. Uma rajada breve. Parecia fogo de uma metralhadora pesada. “É nosso?” “É deles?” - interrogamo-nos, surpresos. Era eles com certeza; naquela altura já tínhamos o ouvido bem sintonizado para o tipo de estampido e a sua cor. Era ali perto, pelo nítido ouvir da metralhadora e a julgar por só terem passados breves minutos após a saída do Grupo. Como que impelidos pela mesma mola logo saltamos da cama e procuramos saber o que se passava. Tinha sido ali pertinho, precisamente logo ao sair da ponte e à entrada para o mato. “Foram eles, e parece que há feridos” - alguém disse apavoradamente. Estranhamos como aconteceu já ali perto e para mais saídos de surpresa (?) como era habitual. Logo o Capitão e dois soldados armados se introduziram num ”jeep” e para lá se deslocaram ao saber-se pelo rádio do local exato e de que haviam feridos. Pouco tempo depois regressa o “Jeep” rumo à Enfermaria e então constatou-se ter sido o Andrade atingido com um tiro numa coxa. O preto Seidi tinha levado também um tiro que lhe esfacelou um dedo dum pé. Os feridos, claro, ficaram no quartel, mas o Grupo continuou para o objetivo: Garantir a segurança em redor da serração, para o outro Grupo, que iria chegar pelo alvorecer, para proceder ao seu desmantelamento.
Viemos a saber que os tiros de metralhadora e ao que parecia ser pesada, tinham sido feitos por presumíveis sentinelas que o inimigo tinha ali instalado em permanente vigilância à tropa do Olossato. Porém, estes sentinelas, com certeza que só à noite ali estavam, pois era também sempre de noite que nós saíamos para operações de “Golpes-de-mão” e não só. As sentinelas descarregaram então o que puderam e logo fugiram através do emaranhado do mato e a coberto da escuridão. Acontecia muitas vezes isto: sentinela detetado, despejar a arma e fugir. O alarido dos tiros avisava o seu grupo e podia ainda sobrar alguma coisa. Não seriam mais que dois, como alguém bem perto da cena calculou. Do pelotão nem chegou a haver reação. Apanhados de surpresa, em plena escuridão da noite e praticamente à porta de casa, limitaram-se a deitarem-se para o chão e como ficaram aos magotes, ninguém respondeu ao fogo inimigo até com o receio de se ferirem uns aos outros. A coisa foi também muito rápida pois eles fizeram a rajada e debandaram logo. “Só se via a chama à boca da metralhadora” - alguém acrescentou depois. “Eles estavam atrás de uma árvore muito grossa” - alguém ajuntou também.
Como se nada tivesse acontecido, ou por outra, como o que aconteceu não era de modo a abortar a operação, esta prosseguiu como se impunha.
Pelo alvorecer já estava o meu Grupo a caminho da serração e de encontro ao 1.º Grupo. Uma vez ali chegados, logo se começou a trabalhar na destruição do esqueleto daquilo que outrora fora uma serração. Começou-se pela remoção dos caibros que sustinham o telhado que provavelmente teria existido, e depois, à picareta, as paredes também foram postas abaixo. Com o barulho das moto-serras, o bater das tábuas ao caírem, e outros inevitáveis barulhos, receávamos pela chegada do inimigo a qualquer momento, embora o dispositivo de segurança entretanto montado pelo 1.º Grupo desse tranquilidade aos que trabalhavam. Assim, havia um grupo empenhado na completa destruição da serração e outro metido no mato formando um anel em volta daquela e a olhar pela segurança do primeiro. Entretanto alguém aproveitou para bater um instantâneo para a posteridade, cuja foto se pode ver atrás. É isso (!), havia sempre quem andasse de máquina fotográfica no seio da guerra; quem não se lembra do saudoso camaradão do Sarrico?
Foram também chegando as viaturas e respetivas guarnições. As viaturas serviriam assim ao transporte da grande quantidade de tábuas resultante da destruição da serração.
As tábuas grandes e espessas fariam bastante jeito em diversas construções no quartel.
As viaturas ficaram na estrada, portanto a cerca de 40 metros da serração, distância esta já referenciada atrás. A serração que ficava do lado esquerdo da estrada de quem ia para o K3 e mais à frente Farim, estava bem metida no mato e apenas havia um carreiro a ligar a dita serração à estrada, o que não permitia o acesso às viaturas. O transporte das tábuas e caibros para as viaturas foi assim muito moroso, pois para além de serem muitas, eram pesadas também.
Houve depois também um vai-e-vem de viaturas para o quartel, até que tudo que tivesse préstimo fosse transportado. Depois, a Companhia, naquela altura já praticamente toda, rumou de regresso ao aquartelamento, metade apeada e outra metade aproveitando as viaturas. Tempos andados teríamos então uma surpresa, ou talvez não… o inimigo! Como tempo para isso não lhes faltou. Montaram uma emboscada a meio caminho Serração-Olossato.
Emboscada forte mas a que a 816 respondeu com a maior determinação.
Na altura a Companhia já denotava muita maturidade e muito calo e então a reação foi espontânea e em potência. O inimigo pôs-se em debandada e o regresso continuou sem mais problemas.
Interrogamo-nos só, como ali tinham passado tantas vezes viaturas isoladas, algumas só o condutor e com um ou outro atirador, aquando do vai-e-vem do transporte da madeira para o quartel, e eles não terem atuado. Imaginamos então que, inclusivamente, eles até com um simples tronco de árvore atravessado na estrada apanhavam à unha o condutor e o seu eventual acompanhante e depois também destruírem a viatura. Mas, ou não acreditavam em tamanha descontração, ou preferiram esperar pelo grosso da coluna, ou seja pelos 2 Grupos de combate, agora já reforçados e assim teriam “caça grossa”. Os condutores que por ali tinham passado um pouco antes até tremiam quando se lembravam do tal.
Mas, isso é o que poderia ter acontecido, mas que de facto não aconteceu. Assim era a filosofia do “segue em frente e não olhes para trás” que melhor se coadunava com quem convivia com a guerra. A Companhia regressou ao Olossato e o mito da Serração deixou de existir, pois esta foi completamente arrasada, e quando por lá passávamos depois, já ninguém se lembrava da Serração, que afinal deu muito que contar sobretudo aos homens da 566.
Houve momentos de satisfação por mais um obstáculo desimpedido: E o mito da serração de Joboiá foi destruído,… de todo.
Segue o extrato do relatório da operação em questão:
"Estrela": local aproximado da Serração (4 a 5Km do Olossato, na estrada para Farim, passando pelo K3)
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 11 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 – P9887: Páginas Negras com Salpicos Cor-de-Rosa (Rui Silva) (18): O primeiro "ataque" a Bissorã
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
domingo, 1 de julho de 2012
Guiné 63/74 - P10099: Blogpoesia (191): De Lisboa a Luanda, ou o puro azul do desejo (Luís Graça)
De Lisboa a Luanda: o puro azul do desejo
Estavam lindos os jacarandás
quando deixei Lisboa
e o Tejo,
ao fundo.
Eram o puro azul do desejo,
o azul mais inebriante do mundo.
Para trás,
ficava o sulco de uma canoa
e o cheiro a alfazema de Alfama.
No teu quarto, de hotel barato,
Estavam lindos os jacarandás
quando deixei Lisboa
e o Tejo,
ao fundo.
Eram o puro azul do desejo,
o azul mais inebriante do mundo.
Para trás,
ficava o sulco de uma canoa
e o cheiro a alfazema de Alfama.
No teu quarto, de hotel barato,
o sofá-cama desfeito
era um certo jeito de dizer adeus.
Um jeito tão português,
tão nosso,
o nosso fado,
era um certo jeito de dizer adeus.
Um jeito tão português,
tão nosso,
o nosso fado,
dirás.
Não posso falar da saudade
de quem fica,
nem devo dizer do desejo de quem parte,
que o amor, na cidade,
é ciência e é arte.
Subo aos céus,
em avião a jacto
que corta o planeta
em duas metades laranja
ao pôr do sol.
Nem sei se é amor,
de jure e de facto,
ou apenas sorte
o arco-iris da tua paleta
com que pinto Lisboa de jacarandás.
Mas que pode a imaginação do poeta,
quando o coração, mais forte,
pensa que manda ?
Eram os teus lábios
que em vão eu procurava
nas folhas das acácias vermelhas
com que imaginava,
coberta,
a ilha de Luanda…
Luís Graça
Junho de 2012: Portugal, Lisboa, Parque Eduardo VII:
Angola, Luanda, Ilha de Luanda, Clínica da Sagrada Esperança.
________________
Não posso falar da saudade
de quem fica,
nem devo dizer do desejo de quem parte,
que o amor, na cidade,
é ciência e é arte.
Subo aos céus,
em avião a jacto
que corta o planeta
em duas metades laranja
ao pôr do sol.
Nem sei se é amor,
de jure e de facto,
ou apenas sorte
o arco-iris da tua paleta
com que pinto Lisboa de jacarandás.
Mas que pode a imaginação do poeta,
quando o coração, mais forte,
pensa que manda ?
Eram os teus lábios
que em vão eu procurava
nas folhas das acácias vermelhas
com que imaginava,
coberta,
a ilha de Luanda…
Luís Graça
Junho de 2012: Portugal, Lisboa, Parque Eduardo VII:
Angola, Luanda, Ilha de Luanda, Clínica da Sagrada Esperança.
________________
Nota do editor:
Último poste da série > 14 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10032: Blogpoesia (190): O tempo que nos foi roubado (Juvenal Amado)
Guiné 63/74 - P10098: Blogues da nossa blogosfera (51): "Uma boa e rápida recuperação Meu Coronel", in Swedish Lapland to Key West (José Belo)
1. Mensagem do nosso camarada José Belo com data de hoje:
Caríssimo.
A http://swedishlaplandtokeywest.blogspot.com/ acaba de publicar um poste dedicado ao nosso Amigo "recuperante", Miguel Pessoa.
Um pouco de humor inocente ajuda sempre os... pacientes.
Um grande abraço,
José Belo
2. Assim, não resistimos à tentação de reproduzir, com a devida vénia, este humorístico poste publicado no Blogue Swedish Lapland to Key West dedicado ao nosso sinistrado Coronel Pilav Miguel Pessoa que, num voo rasante, danificou um braço.
Não deixem de visitar a página que é bem bonita.
O nosso Amigo (Jaktpilot-Överste M.P.) confortavelmente deitado, obrigando uma Camarada Militar, muito especial, a aguentar o peso do seu displicente banho de sol, enquanto fotografado para "Revistas de Sociedade". (Felizmente que, naqueles tempos *tão felizes*, o peso seria outro!)
É também claro na foto que, ao contrário dos "palmípedes" de outros Ramos, não bebia água da bolhanha, mas sim garrafas de champagne!... E isto por "dá cá aquela palha"... como um inofensivo foguete de romaria Balanta chamado Strella!...
É para evitar cenas destas que a Svenska Flygvapnet (Forca Aérea Sueca) se passeia nos seus JAS-39/Gripen procurando convencer a rapaziada Balanta a não usar novo foguetório nos festejos do regresso do NOSSO ÖVERSTE.
3. Notícias de Miguel Pessoa
Por CV
Aproveito para dizer que falei "telemovelmente" na passada sexta-feira com o Miguel Pessoa que me disse estar bem, dentro dos condicionalismos impostos, e que provavelmente terá alta na próxima segunda-feira.
Desejamos-lhe um bom regresso a casa e uma total recuperação.
Carlos Vinhal
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 9 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10090: Blogues da nossa blogosfera (50): A página do camarada Carlos Silva, "Guerra na Guiné 63/74" está de novo operacional
Caríssimo.
A http://swedishlaplandtokeywest.blogspot.com/ acaba de publicar um poste dedicado ao nosso Amigo "recuperante", Miguel Pessoa.
Um pouco de humor inocente ajuda sempre os... pacientes.
Um grande abraço,
José Belo
2. Assim, não resistimos à tentação de reproduzir, com a devida vénia, este humorístico poste publicado no Blogue Swedish Lapland to Key West dedicado ao nosso sinistrado Coronel Pilav Miguel Pessoa que, num voo rasante, danificou um braço.
Não deixem de visitar a página que é bem bonita.
Uma boa e rápida recuperação Meu Coronel!
O nosso Amigo (Jaktpilot-Överste M.P.) confortavelmente deitado, obrigando uma Camarada Militar, muito especial, a aguentar o peso do seu displicente banho de sol, enquanto fotografado para "Revistas de Sociedade". (Felizmente que, naqueles tempos *tão felizes*, o peso seria outro!)
É também claro na foto que, ao contrário dos "palmípedes" de outros Ramos, não bebia água da bolhanha, mas sim garrafas de champagne!... E isto por "dá cá aquela palha"... como um inofensivo foguete de romaria Balanta chamado Strella!...
É para evitar cenas destas que a Svenska Flygvapnet (Forca Aérea Sueca) se passeia nos seus JAS-39/Gripen procurando convencer a rapaziada Balanta a não usar novo foguetório nos festejos do regresso do NOSSO ÖVERSTE.
3. Notícias de Miguel Pessoa
Por CV
Aproveito para dizer que falei "telemovelmente" na passada sexta-feira com o Miguel Pessoa que me disse estar bem, dentro dos condicionalismos impostos, e que provavelmente terá alta na próxima segunda-feira.
Desejamos-lhe um bom regresso a casa e uma total recuperação.
Carlos Vinhal
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 9 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10090: Blogues da nossa blogosfera (50): A página do camarada Carlos Silva, "Guerra na Guiné 63/74" está de novo operacional
Guiné 63/74 - P10097: Notas de leitura (375): Prefácio de † Joaquim Evónio de Vasconvelos ao livro de Manuel Bernardo "Marcello e Spínola: a ruptura: as Forças Armadas e a Imprensa na queda do Estado Novo (1973-74)" (Lisboa, 1ª ed,, 1994)
"Marcello e Spínola: A ruptura", de Manuel A. Bernardo, 1ª ed., Lisboa, Editora Margem, 1994, 456 pp. Prefácio de † Joaquim Evónio de Vasconcelos, ex-cap Inf da CCAÇ 727 (1964/66) e da CCAÇ 2316 (1968/69).
Reproduzido, com a devida vénia, da página pessoal do Joaquim Evónio (1938-2012), Varanda das Estrelícias:
O desconhecimento do passado, recente ou remoto, nunca será bom conselheiro para quem pretenda compreender o presente e trilhar com segurança os caminhos do futuro.
Este livro, ao desvendar alguns eventos que ainda se podem considerar próximos no tempo, vem proporcionar elementos de informação significativos para a compreensão da conjuntura em que vivemos.
Só o contributo de muitas histórias, todavia, permitirá a explicação da verdadeira História, caracterizadora do espaço-tempo em apreciação, identificadora daquilo que é estável e permanente e não apenas passageiro ou efémero.
Do autor, Manuel Bernardo, poderá dizer-se que nunca conviveu directamente com o poder, embora tivesse estado bem posicionado para lhe avaliar as forças e as fraquezas.
Sempre Maquiavel e nunca Príncipe, quase vítima da voragem totalitária em 1974 e 75, desempenhou corajosamente a missão que se atribuiu de esclarecer a comunidade a que sente pertencer e assim publicou, em 1977, Os "Comandos" no Eixo da Revolução - Crise permanente do PREC.
O facto de estar em consciência seguro da sua verdade não impediria que se visse confrontado, entre outros dissabores, com uma acção no Tribunal e um processo disciplinar do foro militar.
A partir de fins de 1974 quando, atrabiliariamente mas sem sucesso, o quiseram estigmatizar, nunca mais descansou e, fazendo apelo ao seu dever para com todos nós, desencadeou uma notória acção pedagógica, veiculada por diversos periódicos e baseada na essência permanente e profunda das coisas, sublinhando com destemor as contradições emergentes de interesses marginais.
Campeão da perseverança, no desenvolvimento dum trabalho profícuo e rigoroso decidiu frequentar na Universidade Católica Portuguesa o Curso de Ciências da Informação, no âmbito do qual, como dissertação final, acaba de presentear-nos com esta lúcida peça informativa a que chamou "Marcello e Spínola: a Ruptura - As Forças Armadas e a Imprensa na queda do Estado Novo (1973-74)".
Para isso elegeu o período de dezasseis meses que antecedeu a queda do anterior regime perante o Golpe de Estado de 25 de Abril de 1974.
Embora se acredite que a História é linear e não cíclica, difícil é, todavia, resistir à tentação de estabelecer uma analogia entre o referido período e o que actualmente vivemos.
De acordo com a vox populi, o clientelismo e o nepotismo encontram-se agora tão instalados entre nós como estariam no fim do regime marcelista, configurando um modelo a que poderá aplicar-se, sem grande margem de erro, o epíteto de ditadura administrativa. A grande diferença reside, obviamente, na natureza democrática do regime de hoje e, por inerência, na liberdade de expressão, fomentadora e propiciadora de correntes de opinião.
E este livro pode ser considerado um autêntico elogio da liberdade de expressão.
Manuel Bernardo é dotado duma honestidade intelectual bem patente nesta obra. Por isso não se espere encontrar nem especulação nem apressados juízos de valor.
Temos perante nós o resultado duma pesquisa elaborada por um bom profissional, um repositório de factos a todos os títulos interessante.
A notícia é em si mesma um facto e tende a ser cada vez mais importante que o próprio facto que lhe esteve na origem.
O autor fez reflectir no seu trabalho os enquadramentos então vigentes, tanto a nível nacional como internacional.
Colocou em evidência os silêncios do poder e abordou a patologia da comunicação como autêntica doença de que padecia então o tecido social.
Para os que viveram aquela época (1973-74) trata-se duma saudável recordação, hoje mais esclarecida pelos acontecimentos posteriores; para os mais novos, o testemunho da importância da comunicação, que ora não lhes está vedada, como elemento fundamental para o posicionamento perante os factos e para o fortalecimento da capacidade de opção.
Múltiplas referências são feitas neste livro ao Ultramar, tema de fundo de muitos analistas, e às diversas formas de o conservar ou alienar.
Os militares sabiam, desde 1961, que a Guerra do Ultramar não se ganhava pela força das armas, mas também não ignoravam que se poderia perder de armas na mão.
Por outro lado, por mais que tenha sido conveniente, de modo diferencial conforme o sector considerado, que existia apenas uma guerra, facilita bastante a compreensão não escamotear que havia duas: uma subversiva e outra revolucionária.
E se uma fazia apelo ao romantismo da liberdade por via da libertação, encontrando ecos de legitimidade no espírito dos combatentes que se lhe contrapunham, a outra não passava duma componente da estratégia global e totalitária de luta entre os grandes blocos, sendo ainda de referir que um deles, inibido por tácticas de aparente defesa de valores, vai precisamente permitir a vitória do seu adversário e, por consequência, a destruição irreversível dos próprios valores a que dizia prestar homenagem.
A nível nacional, no campo da oposição, verificava-se uma diferença fundamental entre a plataforma da Ala Liberal, que pugnava pelo estabelecimento das liberdades democráticas como condição prévia para a resolução de todos os problemas do País, incluindo os ultramarinos, e a que viria a ser consagrada no III Congresso da Oposição Democrática, em 1973, em que a primeira prioridade era o fim da guerra, seguida da luta contra o capital monopolista e da conquista das liberdades democráticas.
Que modelo de democracia poderia emergir de uma e de outra era fácil de prever, especialmente à luz do conturbado advento das "independências" africanas.
Voltando às soluções que então se perfilavam, no período de 1973-74 que é objecto deste trabalho, sublinhe-se apenas que não é possível negociar sem dispor de graus de liberdade como sustentáculo da capacidade negocial.
Ao precipitarem-se os acontecimentos, acelerados pela má fé de uns e consentidos pela ingenuidade de outros, não só se inviabilizou a negociação como se criaram situações que ainda hoje perduram e têm, na base, o facto inegável de que foi traída a confiança dos povos ultramarinos que confiaram em nós.
Ao servir-nos factos até agora inéditos ou ao apresentar-nos um pacote informativo bem delineado, Manuel Bernardo vem contribuir para a compreensão de fenómenos até hoje inexplicáveis, ou mal explicados.
Este livro evidencia de forma clara e categórica a importância das ideias e da sua circulação na sociedade, designadamente numa altura em que as pessoas mais carentes delas se encontravam.
O autor perseguiu a verdade com denodo e sem obediências, sistematizou os resultados da sua pesquisa e disso nos dá conta.
Vamos ler.
Lisboa, 12 de Abril de 1994
Joaquim Evónio de Vasconcelos
Este livro, ao desvendar alguns eventos que ainda se podem considerar próximos no tempo, vem proporcionar elementos de informação significativos para a compreensão da conjuntura em que vivemos.
Só o contributo de muitas histórias, todavia, permitirá a explicação da verdadeira História, caracterizadora do espaço-tempo em apreciação, identificadora daquilo que é estável e permanente e não apenas passageiro ou efémero.
Do autor, Manuel Bernardo, poderá dizer-se que nunca conviveu directamente com o poder, embora tivesse estado bem posicionado para lhe avaliar as forças e as fraquezas.
Sempre Maquiavel e nunca Príncipe, quase vítima da voragem totalitária em 1974 e 75, desempenhou corajosamente a missão que se atribuiu de esclarecer a comunidade a que sente pertencer e assim publicou, em 1977, Os "Comandos" no Eixo da Revolução - Crise permanente do PREC.
O facto de estar em consciência seguro da sua verdade não impediria que se visse confrontado, entre outros dissabores, com uma acção no Tribunal e um processo disciplinar do foro militar.
A partir de fins de 1974 quando, atrabiliariamente mas sem sucesso, o quiseram estigmatizar, nunca mais descansou e, fazendo apelo ao seu dever para com todos nós, desencadeou uma notória acção pedagógica, veiculada por diversos periódicos e baseada na essência permanente e profunda das coisas, sublinhando com destemor as contradições emergentes de interesses marginais.
Campeão da perseverança, no desenvolvimento dum trabalho profícuo e rigoroso decidiu frequentar na Universidade Católica Portuguesa o Curso de Ciências da Informação, no âmbito do qual, como dissertação final, acaba de presentear-nos com esta lúcida peça informativa a que chamou "Marcello e Spínola: a Ruptura - As Forças Armadas e a Imprensa na queda do Estado Novo (1973-74)".
Para isso elegeu o período de dezasseis meses que antecedeu a queda do anterior regime perante o Golpe de Estado de 25 de Abril de 1974.
Embora se acredite que a História é linear e não cíclica, difícil é, todavia, resistir à tentação de estabelecer uma analogia entre o referido período e o que actualmente vivemos.
De acordo com a vox populi, o clientelismo e o nepotismo encontram-se agora tão instalados entre nós como estariam no fim do regime marcelista, configurando um modelo a que poderá aplicar-se, sem grande margem de erro, o epíteto de ditadura administrativa. A grande diferença reside, obviamente, na natureza democrática do regime de hoje e, por inerência, na liberdade de expressão, fomentadora e propiciadora de correntes de opinião.
E este livro pode ser considerado um autêntico elogio da liberdade de expressão.
Manuel Bernardo é dotado duma honestidade intelectual bem patente nesta obra. Por isso não se espere encontrar nem especulação nem apressados juízos de valor.
Temos perante nós o resultado duma pesquisa elaborada por um bom profissional, um repositório de factos a todos os títulos interessante.
A notícia é em si mesma um facto e tende a ser cada vez mais importante que o próprio facto que lhe esteve na origem.
O autor fez reflectir no seu trabalho os enquadramentos então vigentes, tanto a nível nacional como internacional.
Colocou em evidência os silêncios do poder e abordou a patologia da comunicação como autêntica doença de que padecia então o tecido social.
Para os que viveram aquela época (1973-74) trata-se duma saudável recordação, hoje mais esclarecida pelos acontecimentos posteriores; para os mais novos, o testemunho da importância da comunicação, que ora não lhes está vedada, como elemento fundamental para o posicionamento perante os factos e para o fortalecimento da capacidade de opção.
Múltiplas referências são feitas neste livro ao Ultramar, tema de fundo de muitos analistas, e às diversas formas de o conservar ou alienar.
Os militares sabiam, desde 1961, que a Guerra do Ultramar não se ganhava pela força das armas, mas também não ignoravam que se poderia perder de armas na mão.
Por outro lado, por mais que tenha sido conveniente, de modo diferencial conforme o sector considerado, que existia apenas uma guerra, facilita bastante a compreensão não escamotear que havia duas: uma subversiva e outra revolucionária.
E se uma fazia apelo ao romantismo da liberdade por via da libertação, encontrando ecos de legitimidade no espírito dos combatentes que se lhe contrapunham, a outra não passava duma componente da estratégia global e totalitária de luta entre os grandes blocos, sendo ainda de referir que um deles, inibido por tácticas de aparente defesa de valores, vai precisamente permitir a vitória do seu adversário e, por consequência, a destruição irreversível dos próprios valores a que dizia prestar homenagem.
A nível nacional, no campo da oposição, verificava-se uma diferença fundamental entre a plataforma da Ala Liberal, que pugnava pelo estabelecimento das liberdades democráticas como condição prévia para a resolução de todos os problemas do País, incluindo os ultramarinos, e a que viria a ser consagrada no III Congresso da Oposição Democrática, em 1973, em que a primeira prioridade era o fim da guerra, seguida da luta contra o capital monopolista e da conquista das liberdades democráticas.
Que modelo de democracia poderia emergir de uma e de outra era fácil de prever, especialmente à luz do conturbado advento das "independências" africanas.
Voltando às soluções que então se perfilavam, no período de 1973-74 que é objecto deste trabalho, sublinhe-se apenas que não é possível negociar sem dispor de graus de liberdade como sustentáculo da capacidade negocial.
Ao precipitarem-se os acontecimentos, acelerados pela má fé de uns e consentidos pela ingenuidade de outros, não só se inviabilizou a negociação como se criaram situações que ainda hoje perduram e têm, na base, o facto inegável de que foi traída a confiança dos povos ultramarinos que confiaram em nós.
Ao servir-nos factos até agora inéditos ou ao apresentar-nos um pacote informativo bem delineado, Manuel Bernardo vem contribuir para a compreensão de fenómenos até hoje inexplicáveis, ou mal explicados.
Este livro evidencia de forma clara e categórica a importância das ideias e da sua circulação na sociedade, designadamente numa altura em que as pessoas mais carentes delas se encontravam.
O autor perseguiu a verdade com denodo e sem obediências, sistematizou os resultados da sua pesquisa e disso nos dá conta.
Vamos ler.
Lisboa, 12 de Abril de 1994
Joaquim Evónio de Vasconcelos
__________________
Nota do editor:
Último poste da série > 29 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10088: Notas de leitura (374): Obra Escolhidas de Amílcar Cabral (2) (Mário Beja Santos)
Nota do editor:
Último poste da série > 29 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10088: Notas de leitura (374): Obra Escolhidas de Amílcar Cabral (2) (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P10096: Parabéns a você (444): Silvério Lobo, ex-Soldado Mec Auto da CCS/BCAÇ 3852 (Guiné, 1971/73)
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 30 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10091: Parabéns a você (440): Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72 (Guiné, 1972/74)
sábado, 30 de junho de 2012
Guiné 63/74 - P10095: Os nossos seres, saberes e lazeres (46): Não trocaria por nada aquele tempo de comissão na Guiné (António Melo)
1. Mensagem do nosso camarada António Melo, ex-1.º Cabo Rec Inf, BCAÇ 2930, Catió e QG, Bissau, (1972/74), com data de 24 de Junho de 2012:
Caro amigo Carlos Vinhal
Um abraço
Aqui estou de novo para responder ao email em que me perguntas por onde ando, e na verdade nem eu sei bem onde vivo pois há muitos anos, mais propriamente desde 1980, que tenho a minha residência em Espanha.
Com a crise que Espanha está a atravessar e pela dificuldade em arranjar trabalho, em 2009 resolvi vir para França porque me faltavam cinco anos para me reformar. Assim posso reformar-me com a pensão completa.
Por isso mesmo, agora e até meados de 2015, estou a viver nos Alpes franceses, mais propriamente em Chambery, mas logo que me reforme vou regressar a Espanha, Badajoz, onde tenho a minha casa.
[...]
Se entretanto a vida me permitir tentarei ir a algum dos convívios que o blogue organiza, porque tenho muita vontade de estar com pessoas que como eu sabem o que foram para nós aqueles anos de juventude, de incerteza, de angústia, de sofrimento e de camaradagem. Contudo, passados todos estes anos e depois de ter visto o que vi e passado o que passei, não trocaria por nada aquele tempo de comissão na Guiné, porque posso dizer que foram enriquecedores para a minha vida.
Conhecer novas gentes, novas culturas, novos mundos, novas formas de viver, melhores ou piores, não está em causa, para mim foi uma mais valia; conhecer o diferente e hoje saber dar valor àquilo que tenho, por muito pouco que seja, e que para aquela gente seria o paraíso terrestre, embora eu ainda me lamente, mas enfim deixemos isso para outro momento.
Quanto ao que me perguntas, se depois do arranjo que tens que dar aos meus textos eles traduzem o que eu quero expressar, digo-te que fielmente transmites aquilo que eu quero dizer, sem mudar uma virgula.
Obrigado pelo teu tempo e paciência.
De momento ficarei por aqui e prometo para a próxima uma dessas historias, não tão agradáveis como o que já escrevi até agora, passadas em Catió mas que graças à sorte que sempre me acompanhou tiveram sempre um final feliz, e por isso posso contá-las.
Para todos os que integram o blogue um abraço forte e para ti especialmente
António Melo
2. Nota de CV:
Esta mensagem do nosso camarada António Melo é resposta a uma que lhe enviei perguntando se estava emigrado, e onde em caso afirmativo. Deduzi que o nosso camarada estaria na diáspora pelo seu português sem acentos, teclado não adaptado à língua portuguesa, e pelo modo como se expressa, onde se adivinha a influência do castelhano. A minha curiosidade mais se acentuou porque o seu endereço está no Hotmail.fr, logo em França.
Pelo exposto, estamos perante um camarada que como muitos da nossa geração se aventuraram por esse mundo fora, no caso do António Melo, praticamente porta-com-porta com Portugal. Curioso o seu percurso em Espanha e recurso a França onde está a completar o tempo necessário para ter direito a uma pensão de reforma completa, que desejamos seja compensatória após tantos anos de labuta.
Curioso o facto de apesar de ter a sua residência permanente paredes-meias com o nosso rectângulo, Badajoz, por lá preferir ficar, ao que se supõe, até ao fim dos seus dias.
Caro António, dar-nos-ias uma alegria muito grande se um dia conseguisses comparecer num dos nossos convívios anuais. Quem sabe, um dia o farás a partir de Badajoz.
Conta com a nossa disponibilidade para, como fazemos com outros camaradas, acentuar o teus textos e dar um jeito ao teu castelhano.
Desejamos que até 2015 tudo te corra pelo melhor e completes o tempo que te falta para teres direito ao merecido descanso.
Recebe um grande abraço em nome da tertúlia.
Carlos Vinhal
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 6 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 – P9711: Tabanca Grande (328): António Augusto Vieira de Melo, ex-1.º Cabo Rec Inf do BCAÇ 2930, Catió e Quartel General, Bissau (1972/74)
Vd. último poste da série de 15 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10037: Os nossos seres, saberes e lazeres (45): Para breve o lançamento do livro "Palavras de um defunto... antes de o ser", por Mário Tito (Mário Serra de Oliveira)
Caro amigo Carlos Vinhal
Um abraço
Aqui estou de novo para responder ao email em que me perguntas por onde ando, e na verdade nem eu sei bem onde vivo pois há muitos anos, mais propriamente desde 1980, que tenho a minha residência em Espanha.
Com a crise que Espanha está a atravessar e pela dificuldade em arranjar trabalho, em 2009 resolvi vir para França porque me faltavam cinco anos para me reformar. Assim posso reformar-me com a pensão completa.
Por isso mesmo, agora e até meados de 2015, estou a viver nos Alpes franceses, mais propriamente em Chambery, mas logo que me reforme vou regressar a Espanha, Badajoz, onde tenho a minha casa.
[...]
Se entretanto a vida me permitir tentarei ir a algum dos convívios que o blogue organiza, porque tenho muita vontade de estar com pessoas que como eu sabem o que foram para nós aqueles anos de juventude, de incerteza, de angústia, de sofrimento e de camaradagem. Contudo, passados todos estes anos e depois de ter visto o que vi e passado o que passei, não trocaria por nada aquele tempo de comissão na Guiné, porque posso dizer que foram enriquecedores para a minha vida.
Conhecer novas gentes, novas culturas, novos mundos, novas formas de viver, melhores ou piores, não está em causa, para mim foi uma mais valia; conhecer o diferente e hoje saber dar valor àquilo que tenho, por muito pouco que seja, e que para aquela gente seria o paraíso terrestre, embora eu ainda me lamente, mas enfim deixemos isso para outro momento.
Quanto ao que me perguntas, se depois do arranjo que tens que dar aos meus textos eles traduzem o que eu quero expressar, digo-te que fielmente transmites aquilo que eu quero dizer, sem mudar uma virgula.
Obrigado pelo teu tempo e paciência.
De momento ficarei por aqui e prometo para a próxima uma dessas historias, não tão agradáveis como o que já escrevi até agora, passadas em Catió mas que graças à sorte que sempre me acompanhou tiveram sempre um final feliz, e por isso posso contá-las.
Para todos os que integram o blogue um abraço forte e para ti especialmente
António Melo
2. Nota de CV:
Esta mensagem do nosso camarada António Melo é resposta a uma que lhe enviei perguntando se estava emigrado, e onde em caso afirmativo. Deduzi que o nosso camarada estaria na diáspora pelo seu português sem acentos, teclado não adaptado à língua portuguesa, e pelo modo como se expressa, onde se adivinha a influência do castelhano. A minha curiosidade mais se acentuou porque o seu endereço está no Hotmail.fr, logo em França.
Pelo exposto, estamos perante um camarada que como muitos da nossa geração se aventuraram por esse mundo fora, no caso do António Melo, praticamente porta-com-porta com Portugal. Curioso o seu percurso em Espanha e recurso a França onde está a completar o tempo necessário para ter direito a uma pensão de reforma completa, que desejamos seja compensatória após tantos anos de labuta.
Curioso o facto de apesar de ter a sua residência permanente paredes-meias com o nosso rectângulo, Badajoz, por lá preferir ficar, ao que se supõe, até ao fim dos seus dias.
Caro António, dar-nos-ias uma alegria muito grande se um dia conseguisses comparecer num dos nossos convívios anuais. Quem sabe, um dia o farás a partir de Badajoz.
Conta com a nossa disponibilidade para, como fazemos com outros camaradas, acentuar o teus textos e dar um jeito ao teu castelhano.
Desejamos que até 2015 tudo te corra pelo melhor e completes o tempo que te falta para teres direito ao merecido descanso.
Recebe um grande abraço em nome da tertúlia.
Carlos Vinhal
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 6 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 – P9711: Tabanca Grande (328): António Augusto Vieira de Melo, ex-1.º Cabo Rec Inf do BCAÇ 2930, Catió e Quartel General, Bissau (1972/74)
Vd. último poste da série de 15 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10037: Os nossos seres, saberes e lazeres (45): Para breve o lançamento do livro "Palavras de um defunto... antes de o ser", por Mário Tito (Mário Serra de Oliveira)
Guiné 63/74 - P10094: A minha CCAÇ 12 (25): Setembro de 1970: Levando 50 toneladas de arroz às populações da área do Xitole/Saltinho, e aguardando o macaréu no Rio Xaianga (Luís Graça)
Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > O Fur Mil Op Esp, do Pel Rec Inf, CCS/BART 2917, no espaldão do Mort 81... Nessa época, Bambadinca não tinha artilharia (só no Xime).
Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Pessoal do Pel Rec Inf (?), CCS/BART 2917, algures a atravessar uma bolanha (ou uma lala).
Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > O Fur Mil Op Esp, do Pel Rec Inf, CCS/BART 2917, de costas, algures, numa coluna logística (?).
Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Uma tabanca fula, algures no setor, não identificada, mas presumivelmente do regulado de Badora.
Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Estrada Bambadinca -Mansambo - Xitole - Saltinho (?)
Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Máquinas da TECNIL na abertura da estrada Bambadinca- Xime.
Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Máquina da TECNIL abrindo clareiras na mata...
Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Abertura da estrada Bambadinca- Xime, nas imediações de Bambadinca (ou, melhor, do reordenamento de Bambadincazinha)
Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > O Rio Geba ou Xaianga...
Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Uma das raras fotos do fenómeno do macaréu, no delta do Rio Geba...
Imagens de diapositivos digitalizados. Álbum do Benjamim Durães, ex-fur mil op es, Pel Rec Info, CCS / BART 2917 (1970/72). Edição e legendagem: L.G.
Fotos: © Benjamim Durães (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
A. Continuação da série A Minha CCAÇ 12 (*), por Luís Graça [, foto acima, Bambadinca, 1970]
...
Fonte: Excertos de CCAÇ 12: história da unidade. Bambadinca, 1971,
mimeog., pp. 39-40
Sobre este mês (em que a CCAÇ 2590/CCAÇ 12 perfazia 16 meses de comissão), pode ainda ler-se o seguinte na história do BART 2917 (p. 62, do ficheiro da autoria do Benjamim Durães, num total de 182 pp., em formato pdf):
03.SETEMBRO.70:
Um grupo IN estimado em cerca de 50 elementos abriu fogo; pelas 08H15, de Mort 82, LGFog e armas automáticas, contra o aquartelamento do Xime durante cerca de 15 minutos.
As NT sofreram um ferido muito ligeiro. Houve um outro ferido ligeiro na população.
09.SETEMBRO.70:
Um Grupo de Combate da CART 2716 [, Xitole], que fazia a segurança a uma coluna de reabastecimento vinda de Bambadinca, detectou e levantou uma mina anti-pessoal reforçada com 7 kg de trotil, entre a Ponte do Rio Jagarajá e a Ponte do Rio Pulon em [XIME 7B1-63].
14.SETEMBRO.70:
Efetuou-se o 2º reabastecimento de arroz para as populações da área do Xitole – Saltinho, sem qualquer incidente.
15.SETEMBRO.70:
Um Grupo de Combate da CART 2714 [, Mansambo], quando se deslocava afim de fazer a segurança a uma coluna vinda de Bambadinca (3º reabastecimento de arroz num total de 50 toneladas), seria emboscado por um grupo IN, simultaneamente ao acionamento de uma mina A/P reforçada na Estrada entre Mansambo e Ponte do Rio Timinco em [XIME 8B2-74], escassos minutos antes da coluna Bambadinca – Xitole passar. O accionamento da mina causou a morte a um picador (Mussa Baldé) e feriu gravemente outro.
___________
Mortos do Ultramara > TO da Guiné > 15 de setembro de 1970
Apelido Nome Posto Ramo Teatro de operações Data Motivo
BALDÉ MUSSÁ BALDÉ Sold Exército Guiné 15/09/1970 Combate
Apelido Nome Posto Ramo Teatro de operações Data Motivo
Fonte: Liga dos Combatentes > Mortos no Ultramar
___________
Um Gr Comb da CCAÇ 12 que seguia na testa da coluna procedeu depois ao reconhecimento da área, tendo detectado 30 abrigos individuais e a posição dum Mort 82, a 1 Km de estrada.
18.SETEMBRO.70:
Grupo IN de efectivo não estimado abriu fogo, pelas 16H30, de Mort 82, LGFog e armas automáticas sobre o aquartelamento do Xime sem consequência para as NT e população.
Um grupo IN estimado em cerca de 10 elementos abriu fogo da PONTA VARELA, de PM, LROCK e MORT 82 sobre os barcos Badora e Manuel Barbosa, de [XIME 3D4-52], tendo causado um morto (mulher) e 2 feridos muito ligeiros, todos da população.
21.SETEMBRO.70:
Quando uma Secção do Grupo de Combate destacado no Enxalé [, CART 2715,] se dirigia de Porto Velho para o aquartelamento, pelas 19H00, e a cerca de 50 metros deste, a viatura avariou-se tendo então o pessoal que nela seguia começado a empurrá-la nos poucos metros que faltavam, acionando então uma mina conjugada com uma emboscada da qual as NT tiveram 3 feridos graves e a perda de diverso material.
Simultaneamente um outro grupo IN com 200 homens vindos da base de Madina, começou a flagelar o aquartelamento com Mort 82, LGFog e armas automáticas sem consequências para as NT, que reagindo com Mort 81 e artilharia do Xime [, CART 2715 + 20º PEL ART / GAC 7, 10,5 cm, ] puseram o IN em fuga com vários mortos e feridos confirmados pelos numerosos rastos de sangue, ligaduras, algodão e frascos de soro vazios abandonados.
Notícias posteriores de diversas origens admitiam ter morrido nessa acção o Comissário Político António do grupo de André e pertencente ao acampamento Ide Sará.
24.SETEMBRO.70
Grupo IN de efetivo não estimado abriu fogo de Can s/r, Mort 82, LGF e armas automáticas sobre o aquartelamento do Xime. A flagelação inimiga não causou quaisquer espécies de danos, nem materiais pessoais.
29.SETEMBRO.70
Inicia-se a Acção Gruta com 2 Grupos de Combate da CCAÇ 12 que consiste de uma patrulha de reconhecimento entre Finete e São Belchior. Foram reconhecidos entre Saliquinhé e São Belchior vestígios deixados pelo IN após a última ação contra as NT aquarteladas em Enxalé.
___________
Nota do editor:
Último poste da série > 21 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9930: A minha CCAÇ 12 (24): Agosto de 1970: em socorro da tabanca em autodefesa de Amedalai, terra do nosso hoje grã-tabanqueiro J. C. Suleimane Baldé (Luís Graça)
Marcadores:
Bambadinca,
BART 2917,
Benjamim Durães,
CART 2714,
CART 2715,
CART 2716,
CCAÇ 12,
Enxalé,
Luís Graça,
macaréu,
Madina/Belel,
Mansambo,
Ponta Varela,
Rio Geba,
sintex,
Xime,
Xitole
Guiné 63/74 - P10093: In Memoriam (120): Cor inf ref e escritor Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos (Funchal, 1938 - Lisboa, 2012), comandante das CCAÇ 727 (1964/66) e CCAÇ 2316 (1968/69) (António Costa / Carlos Vinhal)
1. O nosso camarada António José Pereira da Costa mandou-nos, ontem, a seguinte necrológica:
Recebi, através da Ordem Nacional dos Escritores, do Brasil, a notícia que passo a resumir:
Faleceu, em 23 Junho de 2012, em Lisboa, o coronel de Infantaria reformado Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos [, imagem à esquerda, por cortesia da página Joaquim Evónio].
Comandou a CCaç 727 (Canquelifá) (Out 64 / Ago 66) e, em 1968, quando comandava a CCaç 2316, foi gravemente ferido em combate na área de Mejo/Guileje.
Militar, ginasta e desportista, após o seu ferimento, dedicou-se à poesia, à escrita.
Nascido em 1938, no Funchal, era director do núcleo da Ordem Nacional de Escritores, em Portugal, desenvolvendo um trabalho muito meritório na recolha de obras de poetas, artistas e escritores locais.
Grande cultor da língua, profundo conhecedor do nosso vernáculo, era um exigente revisor de provas de poesia e literatura em geral. Um verdadeiro intelectual e um talentos diseur de poesia.
Creio que poderá ter interesse a notícia para o pessoal das duas CCaç que comandou.
Um Abraço do
António J. P. Costa
Página pessoal do escritor e nosso camarada Joaquim Evónio (1938-2012), Varandas das Estrelícias.
2. O nosso co-editor Carlos Vinhal fez um resumo do seu CV como escritor:
Nasceu no Funchal, Madeira, Portugal, 1938.
Obras mais recentes: publicou "Sombra em Clave de Sol" (contos) (Universitária Ed. Lisboa, 1999, esgostado) e "Esboços Pessoanos" (poemas sobre desenhos de José Jorge Soares) (Ceres Editora, Lda., Ponte de Lima, 1994).
Foi membro da Associação Portuguesa de Escritores (APE), da Associação Portuguesa de Poetas (APP), do Instituto Açoriano de Cultura (IAC), da União Lusófona das Letras e das Artes (ULLA) e eera sócio honorário da Ordem Nacional dos Escritores do Brasil (ONE). Comendador da Ordem Heráldica da Paz Universal. Agraciado pelo Parlamento para a Segurança e Paz Mundial com a Medalha de Ouro d' O Pacificador da ONU Sérgio Vieira de Melo.
Geriu, desde Fevereiro de 2004, a página pessoal na Net Varanda das Estrelícias - Uma Ponte sobre os Oceanos, onde promoveu a difusão da língua e cultura lusófonas, recebendo colaboração de diversos artistas, poetas e escritores.
Notas sobre:
(i) CCaç 727 (1964/66): Foi mobiliza pelo RI 16. Partiu para o TO da Guiné em 6/10/1964e regressou em 7/8/66. Passou por Bissau, Nova Lamego. Canquelifá, Piche (. Só teve um comandante, o Cap Inf Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos
(ii) CCaç 2316 / BCAÇ 2835 (Bissau, Nova Lamego, 1968/69). Unidade de mobilização: RI 15. Partida: 17/1/68. Regresso: 4/12/69. Localização: Bissau, Bula, Mejo, Guileje, Gadamael, Bissau.
Teve vários comandantes: cap inf Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos; cap Inf António Jacques Favre Castelo Branco Ferreira: cap art Octávio Manuel Barbosa Henriques; cap cav José Maria Félix de Morais.
_____________
Nota do editor:
Último poste da série > 15 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10035: In memoriam (119): 11 militares (10 da CCAÇ 16 e 1 da 3ª C/BCAÇ 4615) e um número indeterminado de civis, mortos na emboscada de 22/4/1974, na estrada Bachile-Cacheu (José Joaquim Rodrigues / Bernardino Parreira)
Marcadores:
António J. Pereira da Costa,
BCAÇ 2835,
Carlos Vinhal,
CCAÇ 2316,
CCAÇ 727,
Guileje,
In Memoriam,
Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos (cap inf),
Mejo
Guiné 63/74 - P10092: No passado dia 28 de Maio os Estados Unidos comemoraram o Memorial Day, honrando assim os seus heróis
1. Embora um pouco desfasado no tempo, por sugestão da nossa amiga tertuliana Filomena Sampaio, deixamos aqui, para ler com calma no fim de semana, este artigo de autoria do jornalista Eurico Mendes.
Memorial Day
Esta segunda-feira, 28 de maio, os EUA comemoraram o Memorial Day (Dia da Memória), honrando os seus militares mortos na guerra. Assinalado a primeira vez em 1860 com o nome de Decoration Day e honrando os soldados da União mortos na Guerra Civil, o Memorial Day é dedicado hoje aos mortos de todas as guerras e feriado nacional desde 1971, numa espécie do Dia dos Fiéis Defuntos em Portugal, que pouco se preocupa com os seus veteranos vivos, quanto mais mortos e não tem nenhum feriado semelhante.
Da Guerra da Independência à atual Guerra do Afeganistão, muitos portugueses ou seus descendentes pegaram em armas pelos EUA e alguns figuram na lista dos 1.529.230 mortos que os EUA sofreram até hoje na guerra. Na Murtosa, distrito de Aveiro, estão por exemplo sepultados três filhos da terra mortos em guerras dos EUA: Manuel Evaristo, II Guerra Mundial; Manuel Branco, Guerra da Coreia e Jack Rebelo, Vietname.
Logo na primeira guerra, a Guerra da Independência também conhecida como Revolução Americana (1775-1783), morreram portugueses.
Da tripulação do primeiro navio da Continental Navy precursora da US Navy, o Bonhome Richard que o rei Louis XIV de França ofereceu aos nacionalistas, faziam parte 28 portugueses recrutados por John Paul Jones no porto francês de L’Orient e onze morreram no histórico combate com o navio inglês Serapis. A história guarda também o nome de Joseph Diaz (José Dias), baleeiro que se fixou em 1770 na localidade de Tisbury, ilha de Martha’s Vineyard, vindo provavelmente dos Açores. Casou em 1780 com uma rapariga da terra e aderiu à causa revolucionária. Capturado pelos ingleses em 1780, foi mandado para Inglaterra, mas foi libertado e regressou à ilha em dezembro desse ano; voltou a cair prisioneiro em 1781 e desta vez morreu a bordo do navio inglês Jersey. Uma das primeiras baixas da Guerra da Independência foi Francis Salvador ou Francisco Salvador, nascido em 1747 em Londres, numa rica família judaica portuguesa oriunda de Tomar e que escapara à Inquisição fugindo para a Holanda e depois para Inglaterra.
O bisavô de Francisco, José Salvador, foi diretor da Companhia das Indias e adquiriu por duas mil libras 405 km2 de terras na Carolina do Sul, que o bisneto veio ocupar em 1773. A mulher de Francis, Sarah Salvador era também uma das herdeiras dos 810 km2 de terras da família Mendes da Costa. O jovem luso-descendente foi eleito deputado pelo distrito 96 ao Congresso Provincial (independentista) e morreu em 31 de julho de 1776 em combate com os índios Cherokees, que os ingleses tinham armado para fazerem frente aos colonos.
Salvador cavalgou a Carolina do Sul a alertar os colonos dos ataques dos índios e ficaria por isso conhecido como o Paul Revere do sul. Em Charleston foi descerrada há anos uma placa a lembrar que Francis Salvador foi o primeiro judeu a exercer um cargo político no território que viria a tornar-se os EUA e o primeiro luso-descendente, acrescente-se.
Na Guerra Civil (1861-1865), quando 11 estados do sul tentaram separar-se dos Estados Unidos da América e formar a sua própria união com o nome de Estados Confederados da América e cujo ministro da Defesa, Judah Benjamin, descendia de portugueses. Ao tempo, viviam nos EUA mais de 4.000 portugueses e um número maior de descendentes e muitos combateram dos dois lados.
A União sofreu 140.414 mortes e os Confederados 72.524 e alguns foram portugueses. Nesse tempo viviam na Louisiana algumas centenas de açorianos contratados para trabalhar nas plantações de açúcar e muitos combateram pelos Confederados. Em New York e do lado da União, seguindo o exemplo dos irlandeses, que formaram a Brigada Irlandesa, dos polacos com a Legião Polaca e dos italianos com a Legião Garibaldi, espanhóis e portugueses formaram a companhia Caçadores Espanhóis.
A Medalha de Honra do Congresso, o maior reconhecimento que um militar pode receber por feitos em combate, foi atribuída a um luso-descendente combatente da Guerra Civil, o cabo Joseph H. de Castro, do 19º Regimento de Massachusetts e natural de Boston, onde viviam ao tempo 500 portugueses. Distinguiu-se na batalha de Gettysburg, Pensilvânia, a 3 de julho de 1863. O soldado Frances Silva, nascido a 8 de Maio de 1876 em Hayward, CA, é outro luso-descendente Medalha de Honra. Era tripulante do USS Newark e teve comportamento heróico entre 28 de junho e 18 de agosto de 1900, durante a célebre Revolução Boxer, em Pequim.
Na I Guerra Mundial (1914-1918), perderam a vida 20.000 americanos e a primeira morte foi o luso-americano Walter Goulart, de New Bedford, onde existe um pequeno monumento em sua memória.
Na II Guerra Mundial (1939-1946), que provocou a morte de 292.000 americanos, perderam a vida dezenas de luso-americanos, um dos quais Charles Braga, a 7 de Dezembro de 1941, no ataque japonês a Pearl Harbor. Foi o primeiro residente de Fall River morto na guerra e dá hoje o nome à Ponte Braga sobre o rio Taunton.
Dois luso-descendentes mereceram a Medalha de Honra durante a II Guerra Mundial: o soldado Harold Gonsalves, da Califórnia, morto em combate a 15 de abril de 1945, em Okinawa e o paraquedista George Peters, de Cranston, Rhode Island.
Caso curioso o do sargento Harry B. Queen, de Onset, MA, cuja mãe, Mae Ávila, era filha de imigrantes açorianos. A 25 de janeiro de 1944, um bombardeiro B-24 pilotado por Queen desapareceu quando voava da China para a Índia e os oito tripulantes foram considerados desaparecidos em combate. Contudo, em 2007, decorridos 63 anos, os destroços do avião e os restos mortais dos tripulantes foram encontrados.
Na Guerra da Coreia (1953-1957), morreram 50.000 americanos, um dos quais o sargento Leroy A. Mendonça, natural de Honolulu e de ascendência portuguesa e filipina. Morreu a 4 de julho de 1951. Ficou a proteger a retirada de um pelotão e, até chegar a sua hora, abateu 37 inimigos.
Na Guerra do Vietname (ou Guerra Americana, segundo os vietnamitas), morreram mais de 58.000 americanos e só de Massachusetts e Rhode Island há 53 nomes portugueses no Vietnam Veterans Memorial existente em Washington. Um é o soldado Ralph Ellis Dias, nascido em 1950, em Shelocta, PA e detentor da Medalha de Honra do Congresso e várias Purple Heart. Alistou-se nos Marines em 1967, seguiu para o Vietname em 1969 e morreu em combate a 12 de novembro desse ano, na província de Quang Nam.
Nas modernas guerrras dos EUA no Médio Oriente tivemos a Operation Freedom 2001, com uma baixa portuguesa, Miguel Rosa; e Operation Freedom 2003, com quatro: Arlindo Almeida, David Botelho, Andrew Cunha e Diane N. Lopes. Os EUA estão presentemente empenhados em conflitos no Iraque (onde sofreram 4.474 mortes) e no Afeganistão (2.853 mortes). No Afeganistão morreram os seguintes luso-descendentes: Christopher Luis Mendonça, Jorge Oliveira, Carlos A. Aparício, Rafael P. Arruda, Anthony J. Rosa, Ethan Gonçalo, Francisco Jackson, Joaquim Vaz Rebelo, Scott Andrews, Robert Barrett e Chad Gonsalves. No Iraque, morreram Michael Arruda, Michael Andrade, Joseph M. Câmara, Charles Caldwell, Peter Gerald Enos, Todd Nunes, Brian Oliveira, Scott C. Rose, Humberto Timóteo e David Marques Vicente.
O cabo marine David Marques Vicente, 25 anos, integrava o 2º Batalhão da 1º Divisão de Marines. Foi morto em 2003 e está sepultado em Methuen, MA, onde nasceu e residem os pais, naturais de Lisboa. Dias antes do funeral, um familiar do malogrado jovem deslocou-se a New Bedford e pediu ao então cônsul de Portugal, Fernando Teles Fazendeiro, uma bandeira portuguesa para Vicente a levar no caixão. Embora tenha dado a vida pelos EUA, David Vicente levou a bandeira portuguesa no caixão.
Com a devida vénia ao jornalista Eurico Mendes do jornal de língua portuguesa dos Estados Unidos Portuguese Times
Memorial Day
Esta segunda-feira, 28 de maio, os EUA comemoraram o Memorial Day (Dia da Memória), honrando os seus militares mortos na guerra. Assinalado a primeira vez em 1860 com o nome de Decoration Day e honrando os soldados da União mortos na Guerra Civil, o Memorial Day é dedicado hoje aos mortos de todas as guerras e feriado nacional desde 1971, numa espécie do Dia dos Fiéis Defuntos em Portugal, que pouco se preocupa com os seus veteranos vivos, quanto mais mortos e não tem nenhum feriado semelhante.
Da Guerra da Independência à atual Guerra do Afeganistão, muitos portugueses ou seus descendentes pegaram em armas pelos EUA e alguns figuram na lista dos 1.529.230 mortos que os EUA sofreram até hoje na guerra. Na Murtosa, distrito de Aveiro, estão por exemplo sepultados três filhos da terra mortos em guerras dos EUA: Manuel Evaristo, II Guerra Mundial; Manuel Branco, Guerra da Coreia e Jack Rebelo, Vietname.
Logo na primeira guerra, a Guerra da Independência também conhecida como Revolução Americana (1775-1783), morreram portugueses.
Da tripulação do primeiro navio da Continental Navy precursora da US Navy, o Bonhome Richard que o rei Louis XIV de França ofereceu aos nacionalistas, faziam parte 28 portugueses recrutados por John Paul Jones no porto francês de L’Orient e onze morreram no histórico combate com o navio inglês Serapis. A história guarda também o nome de Joseph Diaz (José Dias), baleeiro que se fixou em 1770 na localidade de Tisbury, ilha de Martha’s Vineyard, vindo provavelmente dos Açores. Casou em 1780 com uma rapariga da terra e aderiu à causa revolucionária. Capturado pelos ingleses em 1780, foi mandado para Inglaterra, mas foi libertado e regressou à ilha em dezembro desse ano; voltou a cair prisioneiro em 1781 e desta vez morreu a bordo do navio inglês Jersey. Uma das primeiras baixas da Guerra da Independência foi Francis Salvador ou Francisco Salvador, nascido em 1747 em Londres, numa rica família judaica portuguesa oriunda de Tomar e que escapara à Inquisição fugindo para a Holanda e depois para Inglaterra.
O bisavô de Francisco, José Salvador, foi diretor da Companhia das Indias e adquiriu por duas mil libras 405 km2 de terras na Carolina do Sul, que o bisneto veio ocupar em 1773. A mulher de Francis, Sarah Salvador era também uma das herdeiras dos 810 km2 de terras da família Mendes da Costa. O jovem luso-descendente foi eleito deputado pelo distrito 96 ao Congresso Provincial (independentista) e morreu em 31 de julho de 1776 em combate com os índios Cherokees, que os ingleses tinham armado para fazerem frente aos colonos.
Salvador cavalgou a Carolina do Sul a alertar os colonos dos ataques dos índios e ficaria por isso conhecido como o Paul Revere do sul. Em Charleston foi descerrada há anos uma placa a lembrar que Francis Salvador foi o primeiro judeu a exercer um cargo político no território que viria a tornar-se os EUA e o primeiro luso-descendente, acrescente-se.
Na Guerra Civil (1861-1865), quando 11 estados do sul tentaram separar-se dos Estados Unidos da América e formar a sua própria união com o nome de Estados Confederados da América e cujo ministro da Defesa, Judah Benjamin, descendia de portugueses. Ao tempo, viviam nos EUA mais de 4.000 portugueses e um número maior de descendentes e muitos combateram dos dois lados.
A União sofreu 140.414 mortes e os Confederados 72.524 e alguns foram portugueses. Nesse tempo viviam na Louisiana algumas centenas de açorianos contratados para trabalhar nas plantações de açúcar e muitos combateram pelos Confederados. Em New York e do lado da União, seguindo o exemplo dos irlandeses, que formaram a Brigada Irlandesa, dos polacos com a Legião Polaca e dos italianos com a Legião Garibaldi, espanhóis e portugueses formaram a companhia Caçadores Espanhóis.
A Medalha de Honra do Congresso, o maior reconhecimento que um militar pode receber por feitos em combate, foi atribuída a um luso-descendente combatente da Guerra Civil, o cabo Joseph H. de Castro, do 19º Regimento de Massachusetts e natural de Boston, onde viviam ao tempo 500 portugueses. Distinguiu-se na batalha de Gettysburg, Pensilvânia, a 3 de julho de 1863. O soldado Frances Silva, nascido a 8 de Maio de 1876 em Hayward, CA, é outro luso-descendente Medalha de Honra. Era tripulante do USS Newark e teve comportamento heróico entre 28 de junho e 18 de agosto de 1900, durante a célebre Revolução Boxer, em Pequim.
Na I Guerra Mundial (1914-1918), perderam a vida 20.000 americanos e a primeira morte foi o luso-americano Walter Goulart, de New Bedford, onde existe um pequeno monumento em sua memória.
Na II Guerra Mundial (1939-1946), que provocou a morte de 292.000 americanos, perderam a vida dezenas de luso-americanos, um dos quais Charles Braga, a 7 de Dezembro de 1941, no ataque japonês a Pearl Harbor. Foi o primeiro residente de Fall River morto na guerra e dá hoje o nome à Ponte Braga sobre o rio Taunton.
Dois luso-descendentes mereceram a Medalha de Honra durante a II Guerra Mundial: o soldado Harold Gonsalves, da Califórnia, morto em combate a 15 de abril de 1945, em Okinawa e o paraquedista George Peters, de Cranston, Rhode Island.
Caso curioso o do sargento Harry B. Queen, de Onset, MA, cuja mãe, Mae Ávila, era filha de imigrantes açorianos. A 25 de janeiro de 1944, um bombardeiro B-24 pilotado por Queen desapareceu quando voava da China para a Índia e os oito tripulantes foram considerados desaparecidos em combate. Contudo, em 2007, decorridos 63 anos, os destroços do avião e os restos mortais dos tripulantes foram encontrados.
Na Guerra da Coreia (1953-1957), morreram 50.000 americanos, um dos quais o sargento Leroy A. Mendonça, natural de Honolulu e de ascendência portuguesa e filipina. Morreu a 4 de julho de 1951. Ficou a proteger a retirada de um pelotão e, até chegar a sua hora, abateu 37 inimigos.
Na Guerra do Vietname (ou Guerra Americana, segundo os vietnamitas), morreram mais de 58.000 americanos e só de Massachusetts e Rhode Island há 53 nomes portugueses no Vietnam Veterans Memorial existente em Washington. Um é o soldado Ralph Ellis Dias, nascido em 1950, em Shelocta, PA e detentor da Medalha de Honra do Congresso e várias Purple Heart. Alistou-se nos Marines em 1967, seguiu para o Vietname em 1969 e morreu em combate a 12 de novembro desse ano, na província de Quang Nam.
Nas modernas guerrras dos EUA no Médio Oriente tivemos a Operation Freedom 2001, com uma baixa portuguesa, Miguel Rosa; e Operation Freedom 2003, com quatro: Arlindo Almeida, David Botelho, Andrew Cunha e Diane N. Lopes. Os EUA estão presentemente empenhados em conflitos no Iraque (onde sofreram 4.474 mortes) e no Afeganistão (2.853 mortes). No Afeganistão morreram os seguintes luso-descendentes: Christopher Luis Mendonça, Jorge Oliveira, Carlos A. Aparício, Rafael P. Arruda, Anthony J. Rosa, Ethan Gonçalo, Francisco Jackson, Joaquim Vaz Rebelo, Scott Andrews, Robert Barrett e Chad Gonsalves. No Iraque, morreram Michael Arruda, Michael Andrade, Joseph M. Câmara, Charles Caldwell, Peter Gerald Enos, Todd Nunes, Brian Oliveira, Scott C. Rose, Humberto Timóteo e David Marques Vicente.
O cabo marine David Marques Vicente, 25 anos, integrava o 2º Batalhão da 1º Divisão de Marines. Foi morto em 2003 e está sepultado em Methuen, MA, onde nasceu e residem os pais, naturais de Lisboa. Dias antes do funeral, um familiar do malogrado jovem deslocou-se a New Bedford e pediu ao então cônsul de Portugal, Fernando Teles Fazendeiro, uma bandeira portuguesa para Vicente a levar no caixão. Embora tenha dado a vida pelos EUA, David Vicente levou a bandeira portuguesa no caixão.
Com a devida vénia ao jornalista Eurico Mendes do jornal de língua portuguesa dos Estados Unidos Portuguese Times
Guiné 63/74 - P10091: Parabéns a você (443): Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72 (Guiné, 1972/74)
Para aceder aos postes e belos poemas em sextilhas do nosso camarada Manuel Maia, clicar aqui
____________Nota de CV:
Vd. último poste da série de 29 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10086: Parabéns a você (439): José Firmino, ex-Soldado da CCAÇ 2585/BCAÇ 2884 (Guiné, 1969/71) e Santos Oliveira, ex-Fur Mil do Pel Mort 912 (Guiné, 1964/66)
sexta-feira, 29 de junho de 2012
Guiné 63/74 - P10090: Blogues da nossa blogosfera (50): A página do camarada Carlos Silva, "Guerra na Guiné 63/74" está de novo operacional
Depois de ultrapassados os problemas técnicos que davam como perigoso o sítio do nosso camarada Carlos Silva, o mesmo pode desde já ser acedido sem receio de contaminar os respectivos equipamentos informáticos.
Podem entrar em www.carlosilva-guine.com e sem medo navegar na extensa informação ali alojada. É que para além da História do BCAÇ 2879 (Farim, 1969/1971) encontrarão textos e fotos referentes a outras Unidades e localidades do TO da Guiné.
Ao Carlos Silva desejamos as maiores felicidades e que nunca mais passe por uma situação semelhante porque causa sempre alguma descredibilidade e receio a quem quer aceder.
Aqui fica a nossa colaboração e solidariedade bloguista.
Pelo Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
Carlos Vinhal
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 1 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9470: Blogues da nossa blogosfera (49): CCAÇ 4641 (Mansoa e Ilondé, 1973/74)
Guiné 63/74 - P10089: Patronos e Padroeiros (José Martins) (30): Brigada de Intervenção - Infante D. Pedro, 1.º Duque de Coimbra
1. Em mensagem do dia 24 de Junho de 2012, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), enviou-nos mais um trabalho para a série Patronos e Padroeiros.
Patronos e Padroeiros XXX
Patrono da Brigada de Intervenção
Infante D. Pedro, 1.º Duque de Coimbra
O Painel dos Cavaleiros, no políptico de S. Vicente, que se pensa representar os quatro filhos mais novos de D. João I. D. Pedro, com o cinto da Jarreteira cruzado no peito (à direita da foto).
© Foto Wikipédia, com a devida vénia.
Infante D. Pedro
Filho de D. João I e de D. Filipa de Lencastre, nasceu em 1392, sendo o quarto de nove filhos, dos quais apenas seis chegaram à idade adulta, ficando na história como “Ínclita Geração”. Recebeu esmerada educação, tendo em conta que na altura, os nobres eram pouco mais que analfabetos, se não o fossem na maior parte.
O Infante D. Pedro, assim como os irmãos Duarte e Henrique, acompanharam o pai e rei, na expedição e conquista de Ceuta, tendo a praça moura sido tomada no dia 22 de Agosto de 1415. No dia seguinte, e após a sagração da Mesquita à Fé Católica, foram armados cavaleiros os três príncipes e, outorgado os títulos de duque, sendo D. Pedro o 1.º Duque de Coimbra e D. Henrique o 1.º Duque de Viseu.
Devido às muitas viagens que fez ao estrangeiro, também ficou conhecido como o Príncipe das Sete Partidas, tendo recebido, por vontade do imperador Segismundo da Hungria, o feudo de Treviso, assim como o integrou na “Ordem do Dragão” conhecida pela sigla D.E.S.I.R. (Draconis Equitas Societas Imperatur et Regis). Foi investido, também como cavaleiro, por Henrique IV de Inglaterra, seu tio, na Ordem da Jarreteira.
Em 1429 casa com D. Isabel de Aragão, condessa de Urgel, de cujo casamento nasceram seis filhos.
Quando D. Duarte morre, em 9 de Setembro de 1438, o príncipe D. Afonso, seu filho e herdeiro da coroa, ainda é menor, tendo deixado a indicação de que a regência seria exercida por D. Leonor, Infanta de Aragão e rainha-mãe. Tal decisão não obteve consenso, pelo que, de imediato, os seus opositores se manifestaram por serem de opinião que qualquer um dos tios, irmãos do falecido D. Duarte, seriam mais capazes.
Foram convocadas Cortes, que se iniciaram em 20 de Dezembro de 1439, que veio a declarar o Infante D. Pedro “Regedor e Defensor do Reino” assim como tutor e curador do futuro rei.
A decisão é bem aceite pela burguesia e pelos mercadores, mas contestada pela aristocracia, encabeçada pelo conde de Barcelos, meio-irmão de D. Pedro que, insinuando-se junto do futuro rei, com o beneplácito da rainha viúva, conseguindo que o jovem o considerasse o seu tio preferido.
O Infante D. Pedro, indiferente a estas intrigas, dedica-se aos negócios do reino tornando o país mais próspero, dando importância aos assuntos do mar, concedendo subsídios, para fomentar o estudo e exploração do oceano. Numa atitude conciliatória, D. Pedro constitui o ducado de Bragança, tornando seu meio-irmão D. Afonso, o seu primeiro Duque.
A 9 de Junho de 1448, ao atingir a maioridade, D. Pedro entrega a governação ao seu sobrinho D. Afonso V. É nesta altura que se nota a influência que D. Afonso, 1.º Duque de Bragança tem sobre o rei. Em 15 de Setembro, o rei anula todos os éditos do antigo regente D. Pedro, que se retira para Coimbra.
No ano seguinte, 1449, o Infante D. Pedro, duque de Coimbra, é declarado rebelde pelo rei, com base em factos que se viriam a provar serem falsos.
A instabilidade instalada no reino, dá origem a uma guerra civil entre os dois partidos. D. Pedro resolve avançar sobre Lisboa, tendo parte do seu exército deixado Coimbra em 5 de Maio de 1449, vindo a reforçar as suas forças nas imediações da actual vila da Batalha, chegando à Castanheira em 17, acampando junto ao ribeiro de Alfarrobeira, em Vialonga, a 18 desse mês. Sabedor de que o povo de Lisboa não estava a seu favor, resolve não continuar a marcha sobre Lisboa.
Entretanto, D. Afonso, no dia 16, parte de Santarém para travar o avanço das forças do seu tio e ex-regente. O recontro entre os dois exércitos dá-se em Vialonga no dia 20 de Maio de 1449, no que ficou conhecido como a Batalha de Alfarrobeira. É nesta batalha que D. Pedro encontra a morte em combate, mas, a hipótese de ter sido assassinado nunca foi descartada.
Pelo que fez pelo país, Luís Vaz de Camões refere-se a D. Pedro na estrofe XXXVII do canto VIII dos Lusíadas:
"Olha cá dois infantes, Pedro e Henrique,
Progénie generosa de Joane:
Aquele faz que fama ilustre fique
Dele em Germânia, com que a morte engane;
Este, que ela nos mares o publique
Por seu descobridor, e desengane
De Ceita a Maura túmida vaidade,
Primeiro entrando as portas da cidade.”
donde foi retirada a Divisa da Brigada de Intervenção, de cuja unidade o Infante D. Pedro é o Patrono.
Brigada de Intervenção
Criada pelo Decreto-Lei n.º 61/2006 de 21 de Março, no âmbito da organização prevista na Lei Orgânica do Exército, sendo uma unidade da Força Operacional Permanente do Exército Português.
Na génese desta unidade está a Brigada de Forças Especiais, tendo o Comando e Estado Maior sediado no Forte do Bom Sucesso, em Lisboa, e transformada em Brigada Ligeira em 1 de Junho de 1992, sendo transferida para o Forte do Alto do Duque em 1 de Setembro de 1992 até 1 de Julho de 1993, data em que foi transferida para Coimbra, para as actuais instalações, onde esteve o Convento das Eremitas de Santo Agostinho de Sant’Ana e, mais recentemente, o Quartel General da Região Militar Centro.
Desde 1998, com a denominação de Brigada Ligeira de Intervenção e, mais tarde, como Brigada de Intervenção, aprontou militares para diversas Missões de Paz em diversos países em que Portugal participou.
Herdeira da história e tradições das suas antecessoras, por despacho do Presidente da Republica de 3 de Junho de 2005, o seu Estandarte Nacional ostenta a Medalha de Serviço distintos, Grau Ouro.
Tem como Divisa “Que fama ilustre fique” e o Infante D. Pedro, como Patrono.
José Marcelino Martins
24 de Junho de 2012
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 27 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10082: Patronos e Padroeiros (José Martins) (29): D. Fernando de Portugal - O Infante Santo
Guiné 63/74 - P10088: Notas de leitura (374): Obra Escolhidas de Amílcar Cabral (2) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 15 de Maio de 2012:
Queridos amigos,
Se dúvidas houvesse quanto ao talento transbordante de Amílcar Cabral como ativista, diplomata e estratega, bastava ler estes dois volumes selecionados por um amigo muito querido e outro grande ideólogo, o angolano Mário Pinto Andrade.
Temos aqui uma seleção das principais peças em alocuções, mensagens, palavras de ordem, relatórios, memorandos, discursos, curtas peças de circunstância.
Todos estes textos têm em comum a luminosidade, a coerência, a acessibilidade da comunicação. À distância de décadas mostram, se também necessário fosse, a dimensão do estadista revolucionário.
Neste momento só está à venda a antologia preparada por António Duarte Silva.
Um abraço do
Mário
Obras escolhidas de Amílcar Cabral (2)
Beja Santos
O segundo e último volume das obras escolhidas de Amílcar Cabral segundo a organização do seu amigo Mário Pinto de Andrade (Seara Nova, 1977), estrutura-se em cinco áreas temáticas: a mobilização política, escritos assinados muitas vezes com o nome de Abel Djassi e difundidos sob a forma de folhetos, entre 1960 e 1963; relatórios de síntese, contendo por vezes elementos secretos, dirigidos quer a instâncias do PAIGC quer a instâncias da OUA – Organização da Unidade Africana; palavras de ordem, apanhados de reflexões em torno da teoria e prática do conhecimento da guerrilha, que conheceram a publicação em Novembro de 1965; orientações de política internacional em diversas assembleias; reflexões sobre o Estado da Guiné-Bissau, em que sobressai, de forma insistente, a designação de um território nacional cujos centros urbanos teriam ocupantes estrangeiros, e em que o PAIGC se perfila como Partido – Estado. O conjunto destes documentos dá conta do talento polifacetado do líder do PAIGC: mensagens cortantes, económicas, comunicação acessível, imbuída de confiança e plena convicção. É um estilo poderoso no panfleto, no documento, no relatório, na intervenção enquanto conferencista. Como, abreviadamente, se passa em revista.
No memorando datado de 1 de Dezembro de 1960 e dirigido ao governo português, Cabral procura tirar partido do apoio internacional então disponível, criando mesmo uma ampliação genérica: “No campo internacional, temos hoje o apoio incondicional da esmagadora maioria dos povos do mundo e podemos contar com a ajuda eficaz de várias países amigos, no quadro dos princípios enunciados em Bandung, nas Conferências dos Povos Africanos e nas Conferências de Solidariedade dos povos Afro-Asiáticos. Na ONU, a resolução tomada pelo conselho de tutela em 12 de Novembro, pôs um ponto final na falsa argumentação que os legados portugueses souberam sustentar durante alguns anos em torno da natureza jurídica dos territórios ocupados por Portugal e acerca das obrigações do governo português para com os povos desses territórios. O próprio governo espanhol teve de quebrar a sua já tradicional solidariedade para com o governo português, e este encontra-se hoje totalmente isolado, pois não tem, nas votações da ONU, senão um parceiro indesejável – o mais racista e mais colonialista de todos os governos (África do Sul)”.
Passando para os relatórios referentes à ação armada, merece logo destaque o relatório referente ao Congresso de Cassacá e a subsequente apresentação de resultados no plano político e administrativo e no plano militar. Anuncia, no plano militar: “Reorganização da luta armada, nomeadamente pela restruturação e a redistribuição das forças armadas e pela criação de comandos inter-regionais e de um órgão central de direção da luta armada (o Conselho de Guerra); - criação das Forças Armados Revolucionárias do Povo (FARP) englobando a guerrilha, as milícias e o exército popular; - extensão e multiplicação das frentes de luta que atingiram todas as regiões ainda não libertadas, transformando profundamente a fisionomia da guerra (o inimigo tem a partir de agora que se bater em todo o país); - intensificação e aumento de frequência dos nossos ataques contra os quartéis portugueses; formação de quadros militares especiais (armas pesadas, armas antiaéreas, etc.), e quadros destinados à luta armada nas ilhas de Cabo Verde); - vitórias importantes levadas a efeito pelos nossos combatentes, nomeadamente na região do Gabu, Boé, Canchungo, São Domingos e regiões contíguas, ao longo da fronteira Norte; - consolidação das nossas posições nas regiões libertadas, reforçada pela obtenção de meios mais eficazes de defesa”.
Recorde-se que estes princípios angulares foram estritamente cumpridos e anunciam o primado do poder político sobre o militar que só se irá inverter depois do golpe de 14 de Novembro de 1980. Cabral era provido de uma capacidade jornalística incontestável, era um bom panfletário e manejava perfeitamente a toada revolucionária, usando expressões como “Estamos a viver um período decisivo para libertação do nosso povo do jugo colonial português” ou “Fazendo face com coragem aos aviões portugueses e votando à derrota todas as tentativas das tropas coloniais visando recuperar o território nacional libertado, o nosso povo e os nossos combatentes infligiram ao inimigo as baixas mais pesadas sofridas até ao presente no nosso país” (isto escrito em Maio de 1968). Escrevia freneticamente relatórios para diferentes destinatários. Durante anos a fio redigiu jornais escritos num português de primeira água. As suas mensagens de Ano Novo eram documentos enquadradores, referiam resultados e apontavam metas, o mesmo se podendo dizer das mensagens que dirigia para o interior do PAIGC em datas-chave. As mensagens de 19 de Setembro de 1972 e de Ano Novo de 1973 são dois documentos de leitura obrigatória: fica-se a saber como se preparava a independência e como se previam as ações militares durante 1973.
O mesmo se dirá das palavras de ordem, documentos sucintos sempre com consignas: esperar o melhor, mas preparar-se para o pior; conhecer bem as nossas forças e as forças do inimigo; reforçar a segurança e a disciplina em todos os sectores de luta; destruir a economia do inimigo e construir a nossa própria economia. Na mensagem “Melhorar os nossos conhecimentos e defender a nossa saúde” refere a criação de escolas e a formação política dos professores, alerta para a mania de querer deixar o país para ir estudar com a ambição cega de ser doutor, lembra que os responsáveis do partido devem dar o exemplo dedicando-se seriamente ao estudo, não descurando os aconselhamentos práticos na assistência sanitária, revelando um conhecimento perfeito da realidade e dos meios disponíveis.
Quanto às relações internacionais, Mário Pinto Andrade selecionou um conjunto de textos que vão desde o início dos anos 60 quanto à participação das organizações nacionalistas das colónias portuguesas em eventos internacionais até às intervenções que Cabral proferiu na ONU, caso do importante texto que redigiu em Outubro de 1972. É preciso ler todos estes textos de Cabral para se perceber que foi ele quem pôs de pé o partido, quem o mobilizou, lhe ofereceu o verbo da motivação, são documentos que revelam, do princípio ao fim, o ideólogo, o lutador unitário, o organizador, o estratega, o diplomata e o revolucionário no quanto este termo inclui o agitador, o equilibrador de fações ou grupos, o criador de factos políticos efetivamente inovadores, suscetíveis de surpreender os camaradas e os adversários, e Mário Pinto de Andrade foi muito feliz nesta seleção de peças, Cabral escreveu de forma transbordante, é preciso lê-lo para se perceber o gigantismo do político.
____________
Nota de CV:
Vd. últimos postes da série de:
26 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10076: Notas de leitura (373): Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (Fernando Gouveia / René Pélissier)
e
25 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10070: Notas de leitura (372): Obra Escolhidas de Amílcar Cabral (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Se dúvidas houvesse quanto ao talento transbordante de Amílcar Cabral como ativista, diplomata e estratega, bastava ler estes dois volumes selecionados por um amigo muito querido e outro grande ideólogo, o angolano Mário Pinto Andrade.
Temos aqui uma seleção das principais peças em alocuções, mensagens, palavras de ordem, relatórios, memorandos, discursos, curtas peças de circunstância.
Todos estes textos têm em comum a luminosidade, a coerência, a acessibilidade da comunicação. À distância de décadas mostram, se também necessário fosse, a dimensão do estadista revolucionário.
Neste momento só está à venda a antologia preparada por António Duarte Silva.
Um abraço do
Mário
Obras escolhidas de Amílcar Cabral (2)
Beja Santos
O segundo e último volume das obras escolhidas de Amílcar Cabral segundo a organização do seu amigo Mário Pinto de Andrade (Seara Nova, 1977), estrutura-se em cinco áreas temáticas: a mobilização política, escritos assinados muitas vezes com o nome de Abel Djassi e difundidos sob a forma de folhetos, entre 1960 e 1963; relatórios de síntese, contendo por vezes elementos secretos, dirigidos quer a instâncias do PAIGC quer a instâncias da OUA – Organização da Unidade Africana; palavras de ordem, apanhados de reflexões em torno da teoria e prática do conhecimento da guerrilha, que conheceram a publicação em Novembro de 1965; orientações de política internacional em diversas assembleias; reflexões sobre o Estado da Guiné-Bissau, em que sobressai, de forma insistente, a designação de um território nacional cujos centros urbanos teriam ocupantes estrangeiros, e em que o PAIGC se perfila como Partido – Estado. O conjunto destes documentos dá conta do talento polifacetado do líder do PAIGC: mensagens cortantes, económicas, comunicação acessível, imbuída de confiança e plena convicção. É um estilo poderoso no panfleto, no documento, no relatório, na intervenção enquanto conferencista. Como, abreviadamente, se passa em revista.
No memorando datado de 1 de Dezembro de 1960 e dirigido ao governo português, Cabral procura tirar partido do apoio internacional então disponível, criando mesmo uma ampliação genérica: “No campo internacional, temos hoje o apoio incondicional da esmagadora maioria dos povos do mundo e podemos contar com a ajuda eficaz de várias países amigos, no quadro dos princípios enunciados em Bandung, nas Conferências dos Povos Africanos e nas Conferências de Solidariedade dos povos Afro-Asiáticos. Na ONU, a resolução tomada pelo conselho de tutela em 12 de Novembro, pôs um ponto final na falsa argumentação que os legados portugueses souberam sustentar durante alguns anos em torno da natureza jurídica dos territórios ocupados por Portugal e acerca das obrigações do governo português para com os povos desses territórios. O próprio governo espanhol teve de quebrar a sua já tradicional solidariedade para com o governo português, e este encontra-se hoje totalmente isolado, pois não tem, nas votações da ONU, senão um parceiro indesejável – o mais racista e mais colonialista de todos os governos (África do Sul)”.
Passando para os relatórios referentes à ação armada, merece logo destaque o relatório referente ao Congresso de Cassacá e a subsequente apresentação de resultados no plano político e administrativo e no plano militar. Anuncia, no plano militar: “Reorganização da luta armada, nomeadamente pela restruturação e a redistribuição das forças armadas e pela criação de comandos inter-regionais e de um órgão central de direção da luta armada (o Conselho de Guerra); - criação das Forças Armados Revolucionárias do Povo (FARP) englobando a guerrilha, as milícias e o exército popular; - extensão e multiplicação das frentes de luta que atingiram todas as regiões ainda não libertadas, transformando profundamente a fisionomia da guerra (o inimigo tem a partir de agora que se bater em todo o país); - intensificação e aumento de frequência dos nossos ataques contra os quartéis portugueses; formação de quadros militares especiais (armas pesadas, armas antiaéreas, etc.), e quadros destinados à luta armada nas ilhas de Cabo Verde); - vitórias importantes levadas a efeito pelos nossos combatentes, nomeadamente na região do Gabu, Boé, Canchungo, São Domingos e regiões contíguas, ao longo da fronteira Norte; - consolidação das nossas posições nas regiões libertadas, reforçada pela obtenção de meios mais eficazes de defesa”.
Recorde-se que estes princípios angulares foram estritamente cumpridos e anunciam o primado do poder político sobre o militar que só se irá inverter depois do golpe de 14 de Novembro de 1980. Cabral era provido de uma capacidade jornalística incontestável, era um bom panfletário e manejava perfeitamente a toada revolucionária, usando expressões como “Estamos a viver um período decisivo para libertação do nosso povo do jugo colonial português” ou “Fazendo face com coragem aos aviões portugueses e votando à derrota todas as tentativas das tropas coloniais visando recuperar o território nacional libertado, o nosso povo e os nossos combatentes infligiram ao inimigo as baixas mais pesadas sofridas até ao presente no nosso país” (isto escrito em Maio de 1968). Escrevia freneticamente relatórios para diferentes destinatários. Durante anos a fio redigiu jornais escritos num português de primeira água. As suas mensagens de Ano Novo eram documentos enquadradores, referiam resultados e apontavam metas, o mesmo se podendo dizer das mensagens que dirigia para o interior do PAIGC em datas-chave. As mensagens de 19 de Setembro de 1972 e de Ano Novo de 1973 são dois documentos de leitura obrigatória: fica-se a saber como se preparava a independência e como se previam as ações militares durante 1973.
O mesmo se dirá das palavras de ordem, documentos sucintos sempre com consignas: esperar o melhor, mas preparar-se para o pior; conhecer bem as nossas forças e as forças do inimigo; reforçar a segurança e a disciplina em todos os sectores de luta; destruir a economia do inimigo e construir a nossa própria economia. Na mensagem “Melhorar os nossos conhecimentos e defender a nossa saúde” refere a criação de escolas e a formação política dos professores, alerta para a mania de querer deixar o país para ir estudar com a ambição cega de ser doutor, lembra que os responsáveis do partido devem dar o exemplo dedicando-se seriamente ao estudo, não descurando os aconselhamentos práticos na assistência sanitária, revelando um conhecimento perfeito da realidade e dos meios disponíveis.
Quanto às relações internacionais, Mário Pinto Andrade selecionou um conjunto de textos que vão desde o início dos anos 60 quanto à participação das organizações nacionalistas das colónias portuguesas em eventos internacionais até às intervenções que Cabral proferiu na ONU, caso do importante texto que redigiu em Outubro de 1972. É preciso ler todos estes textos de Cabral para se perceber que foi ele quem pôs de pé o partido, quem o mobilizou, lhe ofereceu o verbo da motivação, são documentos que revelam, do princípio ao fim, o ideólogo, o lutador unitário, o organizador, o estratega, o diplomata e o revolucionário no quanto este termo inclui o agitador, o equilibrador de fações ou grupos, o criador de factos políticos efetivamente inovadores, suscetíveis de surpreender os camaradas e os adversários, e Mário Pinto de Andrade foi muito feliz nesta seleção de peças, Cabral escreveu de forma transbordante, é preciso lê-lo para se perceber o gigantismo do político.
____________
Nota de CV:
Vd. últimos postes da série de:
26 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10076: Notas de leitura (373): Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (Fernando Gouveia / René Pélissier)
e
25 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10070: Notas de leitura (372): Obra Escolhidas de Amílcar Cabral (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P10087: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (23): Esse tal de linguajar de Luanda, só foi possível ouvi-lo em 2012 na Ilha de Luanda, porque em 1961 não se deu ouvidos às catanas de Holden Roberto (UPA)
1. Comentário, de 26 do corrente, de António Rosinha [, ex-fur mil, em Angola, 1961; topógrafo da Tecnil na Guiné-Bissau, depois da independência, ] ao poste P10074:
Conheci angolanos, caboverdeanos, guineenses, com peneiras, que usavam com mais propriedade o idioma do que nós, os colon, desde o Minho ao Algarve e Ilhas.(*)
Conheci angolanos, caboverdeanos, guineenses, com peneiras, que usavam com mais propriedade o idioma do que nós, os colon, desde o Minho ao Algarve e Ilhas.(*)
E o escritor angolano que mais tentou acrioular o idioma foi um branco, português, do interior de Portugal, que foi em criança para Luanda e foi criado e estudou com jovens dos muceques (arredores) de Luanda.
Esse escritor foi Luandino Vieira com o livro Luuanda, com dois U, o tal que ganhou um prémio que a PIDE não gostou, e mandou-o para o Tarrafal. (**)
Eu, pessoalmente, tenho imenso orgulho de ouvir o Português falado, no Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte, em Bissau ou em Luanda.
Penso que pouca gente se pronuncia tão abertamente como eu contra os processos de Luandino Vieira e Agostinho Neto, do MPLA, e de Amílcar Cabral, do PAIGC, e todos os que iniciaram aquela guerra contra nós, os tugas, colonialistas e imperialistas.
Mas não tenho dúvidas que esses portugueses representavam o tal lusotropicalismo de que às vezes se fala, e eram uns lusófilos [e lusófanos] extraordinários.
E da maneira como digo aos quatro ventos, sem complexos, que estiveram errados em iniciar aquela guerra, só porque os ventos da história mandavam, tambem digo sem complexos que têm todo o direito de usar o idioma luso, e adaptá-lo a eles, como fizeram os brasileiros.
Pena que esteja em grande riscos de desaparecer o nosso português em certas paragens.
Cumprimentos.
Post Scriptum:
Luís Graça, e António Costa, esse tal de linguajar de Luanda, só foi possível ouvi-lo em 2012 na Ilha de Luanda, porque em 1961 não se deu ouvidos às catanas de Holden Roberto (UPA).
Nem chegávamos a saber quem era Amílcar Cabral.
Gostei de ouvir portugês em Guaratinguetá!
_______________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 15 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9904: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (22): Havia mais "PALOP" (entendimentos) antes das independências
Nem chegávamos a saber quem era Amílcar Cabral.
Gostei de ouvir portugês em Guaratinguetá!
_______________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 15 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9904: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (22): Havia mais "PALOP" (entendimentos) antes das independências
Sítio Lusofonia, "uma plataforma de apoio ao estudo da lusofonia no mundo"... Além de verbetes sobre diversos autores e literaturas africanos lusófonas, também apresenta um valiosos glossário africano, de A a Z, com vocábulos lusófonos, de diversas origens: (A) Angola, (C) Cabo Verde, (G) Guiné-Bissau, (M) Moçambique, (S) São Tomé e Príncipe, (Ge) Geral. Há termos comuns: por exemplo, Balaio (cesto), Bué, Cipaio, Maca, Mais Velho, (M)bunda (nádega), Muxima (coração), etc. de origem angolana, mas que se usam também na Guiné-Bissau e/ou em Portugal. Outros são de origem geral: Bazar (fugir), piripiri, Puto (Portugal), Xingar (chatear)...
(**) Excerto de Vida e Obra de Luandino Vieira:
(...) José Vieira Mateus da Graça, conhecido por Luandino Vieira, nasceu a 4 de Maio de 1935, em Vila Nova de Ourém, tendo ido viver para Angola aos três anos com os pais.
Cidadão angolano pela sua participação no movimento de libertação nacional, escolheu o nome de Luandino como homenagem a Luanda e contribuiu para o nascimento das República Popular de Angola. Fez os estudos primários e secundários em Luanda, tornando-se depois gerente comercial para garantir o seu sustento.
Acusado de ligações políticas com o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) foi preso em 1959 pela PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado), no âmbito do que ficou conhecido como "processo dos 50".
Em 1961 voltou a ser preso pela PIDE, tendo sido condenado a 14 anos de prisão e a medidas de segurança. Em 1964 foi transferido para o campo de concentração do Tarrafal (Cabo Verde), onde passou oito anos, tendo sido libertado em 1972, em regime de residência vigiada, passando a viver em Lisboa.
Entre outros prémios literários, Luandino Vieira venceu o Grande Prémio de Novelística da Sociedade Portuguesa de Escritores (1965), o Prémio Sociedade Cultural de Angola (1961), o da Casa do Império dos Estudantes - Lisboa (1963) e o da Associação de Naturais de Angola (1963).
A partir de 1972, e já a residir em Lisboa, Luandino Vieira iniciou a publicação da sua obra, na grande maioria escrita nas prisões por onde passou.
Regressou a Luanda em 1975, onde exerceu cargos directivos no MPLA e foi presidente da Radiotelevisão Popular de Angola. Membro fundador da União dos Escritores Angolanos - cuja condição sempre reivindicou, apesar de ter nascido em Portugal - exerceu funções de secretário-geral deste organismo desde a sua fundação a 10 de Dezembro de 1975 até 1992. (...)
Entretanto, foi-lhe atribuído em 2006 o Prémio Camões, o maior galardão literário para a língua portuguesa, que recusou "por motivos íntimos e pessoais", segundo o que alegou num comunicado de imprensa. Sabe-se por entrevistas dadas sobretudo ao Jornal de Letras Artes & Ideias que não aceitou o prémio por se considerar um escritor morto e que como tal o Prémio deveria ser entregue a alguém que continuasse a produzir. Tal facto veio-se alterar, pois O livros dos rios é um novo romance de Luandino Vieira (o primeiro de uma trilogia intitulada De rios velhos e guerrilheiros) editado pela Editorial Caminho em Novembro de 2006. (...).
Guiné 63/74 - P10086: Parabéns a você (442): José Firmino, ex-Soldado da CCAÇ 2585/BCAÇ 2884 (Guiné, 1969/71) e Santos Oliveira, ex-Fur Mil do Pel Mort 912 (Guiné, 1964/66)
Para aceder aos postes dos nossos camaradas José Firmino e Santos Oliveira, clicar nos respectivos nomes
____________Nota de CV:
Vd. último poste da série de 27 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10078: Parabéns a você (438): Vítor Caseiro, ex- Fur Mil da CCAÇ 4641/72 (Guiné, 1973/74)
quinta-feira, 28 de junho de 2012
Guiné 63/74 - P10085. Agenda cultural (208): Lançamento do livro PIASHEB, edição dos Médicos do Mundo, na FNAC Colombo, Lisboa, 6ª feira, dia 29 de junho, às 19h (Sousa de Castro)
Capa do livro PIASHEB, fotografia de Alexandre Costa e Fabrice Demoulin, edição da Associação Médicos do Mundo (2012).
1. Notícia que nos chega, hoje, por intermédio do nosso camarada Sousa de Castro, o nosso grã-tabanqueiro nº 2:
Assunto: Médicos do Mundo na Guiné Bissau - Lançamento do livro PIASHEB, na FNAC Colombo, Lisboa, dia 29 de junho de 2012, 6ª feira, 19 h
A Associação Médicos do Mundo(MdM) tem a honra de convidar todos os seus amigos para o evento de lançamento do livro PIASHEB, um projecto que teve início em 2007 na Guiné Bissau. O Projecto PIASHEB [Projecto Integrado de Água, Saneamento e Higiene nas Escolas de Biombo], tem como objectivo promover uma intervenção integrada de água, saneamento e higiene nas escolas da região do Biombo – Guiné Bissau, beneficiando indirectamente cerca de 91.000 pessoas e directamente a comunidade educativa de 14 escolas públicas (cerca de 39.000 pessoas).
O lançamento do livro PIASHEB terá lugar dia 29 de Junho, entre as 19h e as 20h30 na FNAC do COLOMBO em Lisboa.
Este livro reúne as imagens, testemunhos e o balanço da intervenção desta Associação, ao longo de cinco anos, naquele país. Os Médicos do Mundo contaram com o precioso espólio fotográfico dos voluntários Alexandre Costa e Fabrice Demoulin.
Mais informações sobre o evento, disponíveis na página da associação Médicos do Mundo.
____________
Nota do editor:
Último poste da série 27 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10079: Agenda Cultural (207): Apresentação do livro "Em Bicos de Pés e de Olhos em Bico - Vivências e Convivências entre Chineses e Portugueses", dia 29 de Junho, pelas 18 horas no Museu do Oriente
Subscrever:
Mensagens (Atom)