segunda-feira, 7 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12942: História da CCAÇ 2679 (67): Requerimento, talvez inédito (José Manuel Matos Dinis)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 3 de Abril de 2014:

Olá Carlos!
Muito obrigado pela publicação de um bilhetinho entre o maioral de Bajocunda, e este amanuense que às vezes dá trabalho.
Refere o texto publicado que "iam-se gramando, até que deixaram de gramar-se".
De permeio ainda decorreram uns mezitos, que na África quente e escaldante, às vezes por nossa culpa, pareciam anos.
Por causa daquela frase pensei antecipar a estória da circunstância em que "deixaram de gramar-se".
Aqui vai ela, e espero que a pressa não tenha omitido algum facto relevante.

Um grande abraço, extensivo ao tabancal
JD


HISTÓRIA DA CCAÇ 2679

67 - REQUERIMENTO, TALVEZ INÉDITO

Tinha passado a noite na mata em emboscada noturna, depois de um dia de patrulha de combate, no âmbito das acções operacionais que a Companhia levava a cabo para controle militar da região.
Na ocasião, para além dos quatro pelotões operacionais, alguns já com défice acentuado de pessoal, havia ainda em rotina, adstritos à Companhia, um ou dois pelotões de Pirada, e o Pel Caç Nat 65, mas a área era extensa, e havia duas aldeias onde pernoitava um pelotão para cada uma delas, Amedalai, e reforço em Tabassai.
Em Bajocunda ficavam dois ou três pelotões operacionais durante a noite, enquanto dois estavam em permanência no destacamento de Copá, e na aldeia de Tabassai.

Com muita frequência, um pelotão passava a noite em emboscada. A aldeia de Amedalai, apesar de ter sido atacada uma vez, era a sede do regulado, pelo que teria ligações mais acentuadas com a população, e ao PAIGC não interessaria implicar demasiado com a tradição politico-juridica da influência do régulo.
Também lá estava em permanência um pelotão de milícias, que dava um ar de estreita relação com a autoridade portuguesa, participava em escassas acções, ora da exclusiva competência, ora em companhia de pelotões do exército.

Tudo isto decorria durante um período de relativa paz, e o PAIGC limitava-se a colocar uma ou outra mina nos itinerários, e a flagelar duas ou três vezes por mês os aquartelamentos. Faltava cerca de quatro meses para terminarmos a comissão.
Naquele dia, depois do almoço, o capitão chamou-me para dar indicação de que teria que sair ao entardecer para montar uma emboscada. Ora, era costume, que depois de uma acção como tivera na véspera, o pelotão ficaria de folga, muito menos se pensava em passar duas noites consecutivas no mato, e a comer ração. Protestei com estes e outros argumentos, mas ele afirmava outras razões, que me pareceram de total incompetência para comandar a tropa, e não saía dali; eu é que teria que sair, face às circunstâncias por ele aduzidas.

Não havia meio, os meus sucessivos argumentos não alteravam nada a decisão do comandante Trapinhos. Muito relutantemente fui informar a malta para estar preparada, e tive que arguir com alguma fantasia para evitar acirrar os ânimos.

As noites de mato, com o céu aberto mostravam a maravilha de míríades de pontos luminosos, e a malta entretinha-se a assinalar diferenças entre estrelas cadentes, pirilampos e "very-lights".
Naquela noite eu, pelo contrário, estava inquieto com a teimosia do capitão, que de algum tempo àquela data, insistia em embirrações comigo, que provocavam alguma perturbação à vida e normal desempenho do pelotão. Por vezes o pessoal queixava-se, e aventava, que era por não ter um oficial a comandar, que o Trapinhos andava a abusar e seria necessário tomar uma posição colectiva.

A tudo eu conseguia argumentar, que aqui ou ali poderíamos ser prejudicados, mas que não nos lembrávamos das acções dos outros para cotejo, e que não haveria nenhuma acção colectiva sem que eu autorizasse, na medida em que isso poderia constituir quebra da minha autoridade. O pessoal aderiu sempre aos meus argumentos, e tinha a convicção do meu bom desempenho na defesa do interesse colectivo. 

Durante a noite desassossegada, congeminei inúmeras possibilidades para responder em forma à tontearia do capitão. Ponderei no que podia reflectir-se contra mim, numa espécie de "deve" e "haver", cuja contabilidade era, no meu entender, favorável ao que eu estava a pensar adoptar.
Pensei muito no pelotão, nas amizades ali alicerçadas, nas vantagens que pudessem resultar para o pessoal, portanto, não seria desleal da minha parte. Seria uma decisão íntima. E ganhei confiança.

Quando entrei em Bajocunda fui tomar o pequeno-almoço. Comportei-me como se nada me afectasse, e não referi nada sobre as minhas preocupações. Se calhar, alguma brincadeira ainda me favoreceu a executar descontraidamente a decisão tomada. Depois dirigi-me à secretaria, pedi uma daquelas folhas de papel azul, que algumas vezes decidiam judiciosamente sobre nós, e redigi um requerimento a SExa. o Comandante-Chefe. Nele, depois de me identificar, resumia a matéria a um curto parágrafo: o pedido de transferência de Companhia por incompatibilidade com o comando.
Entreguei-o logo. Continuei a não referir o que fizera, e a levar a vida tão normal quanto era costume.

Talvez no dia seguinte, cruzei-me com o Trapinhos, sem testemunhas, que insinuou haver de ler o meu diário. Respondi-lhe com ironia, que se tinha amor à vida, devia fazê-lo, com certeza. Ele fez uma risada esperta, e acrescentou algo assim: sabe, parece que vai ser transferido para os Comandos Africanos.
Não me impressionei, e respondi com desfaçatez: antes com pretos decentes, que com alguns brancos ordinários.
E a coisa ficou por ali, mas bem mais definida do que antes, pensei eu. Não voltaria a ser voluntário para resolver problemas do capitão, e ele ficou incomodado, talvez molestado.

 Provavelmente ao terceiro dia, estava a fazer "O Jagudi" na secretaria, entrou um "foxtrot" a convidar-me para o acompanhar.
Quando transpus a porta fiquei surpreendido. Sobre o "submarino" (um paiol com formato de submarino construído junto do edifício do comando e secretaria) alinhava o pelotão, e com o pessoal bem ataviado para o que era costume. Um dos cabos dirigiu-me a palavra, que o pessoal estava incomodado com o que soubera, e queriam ouvir de mim, se sim, ou não, ia sair da Companhia.
Referi que não sabia ainda, e expliquei a minha diligência e os termos, que eram a incompatibilidade com o comando. Expliquei que esta frase tinha a ver com as dificuldades que sentia no relacionamento com o comando, mas que aguardava ser inquirido, ou instruções para consumar a transferência.
Pedi serenidade, e para não anteciparmos um qualquer resultado. Então o cabo que usava da palavra, referiu sobre a compreensão do meu argumento, mas colocou a questão do pessoal, em termos sentimentais e operacionais, pois ao longo dos meses tínhamos cimentado uma forte amizade (que ainda hoje prossegue com aqueles de quem tenho contacto), que depositavam em mim grande confiança, e que, se a transferência se consumasse, provavelmente ficariam sujeitos ao comando de um "piriquito", e o ambiente poderia desmoronar-se.
Voltei a referir que não tinha ainda qualquer informação a prestar sobre o requerimento, e reafirmei todo o gosto e sentido de camaradagem que tinha estabelecido com o grupo durante os meses da comissão, e que já faltava pouco para o termo da nossa obrigação na Guiné, pelo que dificilmente adviriam alterações importantes à vida do pelotão, e eu estava certo de que preservar o espírito "foxtrot" seria o mais importante para saber resistir a qualquer dificuldade.

Não houve despedidas, obviamente, mas todos estávamos sensibilizados. Pensei neste acontecimento durante algum tempo, nas dificuldades e demonstrações de solidariedade por que tínhamos passado, e senti um grande orgulho pela coesão que o grupo sempre manifestara. De alguma maneira, e eles expressaram isso mesmo, iriam sentir-se abandonados, o que não correspondia à verdade, mas era-me difícil de explicar melhor a minha posição.

Tomei então nova decisão.
Dirigi-me ao capitão e referi que não retirava o requerimento e estava apto para qualquer consequência, mas dava-lhe o arbítrio de fazer com ele o que entendesse. Nem reagiu, que me lembre. Por mais nada ter a dizer, nem ele, saí.
Compreendi que lhe tinha dado uma prenda, mas também fiquei com o pressentimento de que não arriscaria voltar a usar o pelotão como uma muleta salvadora, nem recorreria a excessos e litigâncias como era costume.

No final da comissão não perguntei pelo requerimento, pelo que não sei se o destino terá sido a "cesta secção", sem ter saído de Bajocunda.
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Nota do editor

Último poste da série de 31 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12660: História da CCAÇ 2679 (66): "O Jagudi", o jornal de Bajocunda (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P12941: Notas de leitura (579): "A Literatura na Guiné-Bissau", de Aldónio Gomes e Fernanda Cavaca (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Outubro de 2013:

Queridos amigos,
Houve por bem, ao tempo das comemorações dos Descobrimentos Portugueses (íamos a caminho da Expo 98), do Ministério da Educação se ter afoitado a um levantamento da literatura da Guiné-Bissau, uma síntese de grande honestidade, um ensaio que assegura uma visão global nos termos literários que vingaram desde a era dos Descobrimentos à atualidade.
Trata-se de um ensaio muito útil que bem merecia ser atualizado à luz dos conhecimentos atuais, entre 1997 e hoje pode dizer-se que se clarificou a literatura luso-guineense e que aquilo a que os autores chamam “a literatura dos combatentes” no contexto da literatura colonial ganhou autonomia e como tal deve ser apreciada e estudada.

Um abraço do
Mário


A Literatura na Guiné-Bissau: Os olhares de Aldónio Gomes e Fernanda Cavacas

Beja Santos

No âmbito do Grupo de Trabalho do Ministério de Educação para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, foi dado à estampa, em 1997, “A Literatura na Guiné-Bissau”, da autoria de Aldónio Gomes e Fernanda Cavacas. Esforço coroado de sucesso, os autores abalançaram-se num esforço de enquadramento da literatura da Guiné independente, nunca perdendo a bússola de que houve um saber colonial e uma expressão acabada do mesmo, chamando a atenção para as complexidades do nascimento de uma literatura escrita num contexto muito próprio de África onde a oratura é a expressão natural da comunicação de agentes.

É uma obra de caráter expositivo e antológico, uma escrita viva, ágil, tocando os pontos principais, como se passa a enumerar.

Primeiro, o nascimento difícil da literatura escrita: uma Guiné que deixou a dependência administrativa de Cabo-Verde nos anos 70 dos século XIX, Bolama passou a ter tipografia em 1879; a administração portuguesa só avançou para o interior da Guiné no fim do primeiro quartel do século XX, a despeito de confrontos e lutas que se prolongaram até à década de trinta do século XX; a despeito de todos estes condicionalismos houve literatura colonial mas não houve literatura escrita em língua portuguesa verdadeiramente de origem local.

Segundo, a oratura é a expressão de uma sociedade não alfabetizada, a literatura oral espalha a convivência e o fascínio da palavra dita, reforça o gregarismo da vida comunitária, na tabanca. Como escrevem os autores: “Conta-se e canta-se, ouve-se, comenta-se vibra-se ou adormece-se. É-se alternamente ouvinte e narrador e toda a gente tem assegurado a sua participação”. É uma literatura tão vibrante que investigadores do século XIX como Marcelino Marques de Barros ou Manuel Belchior, já no século XX, se deliciaram a coligir narrativas históricas e épicas, contos e lendas, provérbios e advinhas que dão conta da riqueza cultural do mosaico étnico guineense. Povos como o Mandinga fazem acompanhar esta literatura oral da música, os djidius eram trovadores errantes, possuidores do dom da palavra, bons manipuladores do código poético e bons músicos (corá, nhanhero, viola de três cordas…). Os autores indicam um conjunto de obras de grande importância sobre as manifestações de oratura do século XIX e lembram outros autores do século XX como Viriato Augusto Tadeu, João Eleutério Conduto, Alexandre Barbosa, Maria Cecília de Castro para além do já citado Manuel Belchior.

Terceiro, não se pode esquecer a literatura do encontro de saberes, as crónicas, as descrições geográficas, os documentos políticos como o indispensável “Memória sobre o estado atual da Senegâmbia Portuguesa”, de Honório Pereira Barreto, para além de um conjunto de obras de pendor etnográfico e divulgador, aqui tiveram um papel importante administradores coloniais e investigadores, como Rogado Quintino, António Carreira, Teixeira da Mota e Artur Augusto Silva, entre muitos outros. Com a independência, emergiram estudos de diferentes proveniências, como os trabalhos dos guineenses Carlos Lopes e Carlos Cardoso, a História da Guiné de René Pélissier, O Crioulo na Guiné-Bissau, de Benjamim Pinto Bull, e O Colonialismo Português em África: A Tradição de Resistência na Guiné-Bissau, de Peter Karibe Mendy. Isto são referências meteóricas aos muitos títulos entretanto surgidos, há que pensar na revista Soronda e também na Tcholona, Revista de Letras, Artes e Cultura, nas edições do INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa.

Quarto, a literatura colonial guineense, como Leopoldo Amado tão bem estudou, foi uma realidade inquestionável, nela tiveram protagonismo maior ou menor Fernanda de Castro, Fausto Duarte, João Augusto Silva, entre outros. Os autores incluíram aqui a literatura dos combatentes, uma visão que me parece descabida, é um setor autónomo da literatura colonial, esta exprimiu uma realidade que não é consentânea com a dos combatentes, estes centraram-se na vivência da guerra e no conhecimento do Outro em termos tais que não é possível incluir qualquer destas manifestações literárias como experiência colonial.

Quinto, e depois veio a literatura do saber nacional onde pontifica a dimensão poética, hoje bem identificada, e onde se enfileiram nomes como o de Vasco Cabral, Pascoal d’Artagnan, Tony Tcheka, Agnelo Regalla, Hélder Proença, Manuel da Costa, Odete Semedo e Félix Sigá. Mas para além da poética há a prosa onde Abdulai Silá é porventura o nome mais saliente.

Segue-se uma antologia mínima que inclui provérbios, adivinhas, canções, histórias e contos tradicionais, cronistas dos descobrimentos, figuras de destaque da literatura colonial guineense, escritores combatentes como Armor Pires Mota e Barão da Cunha e muitos, muitos poetas e prosadores como Domingas Samy e Abdulai Silá.

Enfim, um pequeno ensaio muito bem-sucedido pela amplitude da informação, uma visão global de quanto em termos literários, ou com alguma vivência estética, se foi produzindo, através dos tempos, na Guiné, não se acantonando nem à poesia nem à ficção, espraiando-se pelo antropológico e pelo etnográfico e até pelo documento político. Um livro que merecia ser atualizado, reformulado e até aumentado, dado o crescimento que nos deve envaidecer a todos da investigação e também graças a essa nova realidade que é a literatura luso-guineense.
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Nota do editor

Último poste da série de 4 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P12932: Notas de leitura (578): "Viagem à África Ocidental", por Vasco Callixto (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P12940: Parabéns a você (715): António Rocha e Costa, ex-Alf Mil Op Especiais da CCAV 2539 (Guiné, 1969/71); Fernando Manuel Belo, ex-Soldado Condutor Auto do BCAV 8323 (Guiné, 1973/74) e Mário de Azevedo, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 6 (Guiné, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 6 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P12938: Parabéns a você (714): Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Operações Especiais, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Guiné, 1971/73)

domingo, 6 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12939: Consultório Militar do José Martins (1): Portalegre e as suas Unidades Militares - BCAÇ 1

1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 25 de Março de 2014, dando seguimento a uma sugestão do nosso Editor Luís Graça.

Caríssimos
Aqui vai a "resposta ao desafio" do Luís.
Não é exactamente o que ele pediu, mas "mais vale algo que nada".
Abraço
José Martins


PORTALEGRE E AS SUAS UNIDADES MILITARES - BCAÇ 1

Guiné 63/74 - P12938: Parabéns a você (714): Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Operações Especiais, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Guiné, 1971/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 4 de Abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12930: Parabéns a você (713): Agostinho Gaspar, ex-1.º Cabo Mecânico Auto do BCAÇ 4612/72 (Guiné, 1972/74); António Dias, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2406 (Guiné, 1968/70); Hernâni Acácio Figueiredo, ex-Alf Mil TRMS do BCAÇ 2851 (Guiné, 1968/70) e José Eduardo Oliveira, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCAÇ 675 (Guiné, 1964/66)

sábado, 5 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12937: Brochura, "Deveres Militares", SPEME, 2ª ed, 1969 (Fernando Hipólito): Parte VI: Deveres do Cabo de Dia à Companhia - ("Consciente de que entre os soldados se verificava ainda a existência de um grande número de elementos com iliteracia e baixa escolaridade, o Exército, entre 1961 e 1974, utilizou o humor dos cartunistas, de forma pedagógica, para alertar e instruir sobre questões de segurança e sobrevivência ou sobre a regulamentação da disciplina militar.")

1. Continuação da publicação dos Deveres Militares, edição  SPEME de 1969, em banda desenhada com muito humor à mistura, enviado ao nosso Blogue pelo camarada Fernando Hipólito, ex-Fur Mil da CCAÇ 2544, Angola, 1969/71.









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Nota do editor

Último poste da série de 30 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12915: Brochura, "Deveres Militares", SPEME, 2ª ed, 1969 (Fernando Hipólito): Parte V: Plantão à caserna e faxinas regimentais... ("Consciente de que entre os soldados se verificava ainda a existência de um grande número de elementos com iliteracia e baixa escolaridade, o Exército, entre 1961 e 1974, utilizou o humor dos cartunistas, de forma pedagógica, para alertar e instruir sobre questões de segurança e sobrevivência ou sobre a regulamentação da disciplina militar.")

Guiné 63/74 - P12936: Bom ou mau tempo na bolanha (51): Batuque no aquartelamento (Tony Borié)

Quinquagésimo primeiro episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




Guerra, guerra e guerra, lá vamos outra vez parar ao interior da Guiné!

Vamos abrir aquele miserável diário, que não é diário nenhum, é mais um amontoado de folhas, vejam lá que até lá estão uns pedacinhos de ferro, dentro de um plástico, que deviam ser aqueles plásticos que vinham a embrulhar uma qualquer escova dos dentes, que possivelmente o Cifra apanhou em algum lugar, pois hoje não se lembra se alguma vez usou uma escova dos dentes, durante a sua permanência lá naquele conflito. O Cifra nunca foi educado para usar esse objecto, e creio mesmo que lhe devia de fazer alguma confusão, e até talvez “cócegas” na boca ao esfregar com a referida escova e, o álcool roubado ao “Pastilhas”, lavava tudo até os órgãos interiores do corpo, como por exemplo o fígado.

Continuando, dentro desse plástico, também lá vem um papelinho dizendo que são estilhaços de granada. Aqui já começa a ser “doença”... guardar isto para quê? Bem, esse resumo será para outra conversa, hoje vamos abrir umas tantas páginas e concentrar-nos no costume, que é quase tudo aquilo que os seus companheiros do pelotão de morteiros e não só, lhe relatavam, depois do seu regresso das patrulhas e operações no “mato”. O mais detalhado nos pormenores era o Trinta e Seis, pois tinha fama de “não fala mentira”, era responsável demais para a sua idade, e às vezes o Cifra ficava embaraçado, pois não sabia se estava a falar para um companheiro, ou para um irmão mais velho, ou mesmo para um pai. Relatava ao Cifra as emboscadas, as aflições, os momentos de pânico, com alguns pormenores, que faziam o Cifra às vezes ficar com lágrimas nos olhos, mas vamos avançar, o diário, diz assim:
No dia 26 de Outubro, que devia de ser de 1964 - Pela manhã, houve uma festa de despedida no aquartelamento de duas Companhias que estavam estacionadas na zona operacional do Oio, e actuavam sobre ordens do Comando do Agrupamento a que o Cifra pertencia, estando parte dos militares dessas Companhias estacionadas no aquartelamento de Mansoa. Pararam as obras no aquartelamento, houve rancho melhorado, cada um teve direito, em vez de um, a dois ou três púcaros, (que também serviam o café pela manhã, e que se tiravam da bacia de alumínio, que estava no meio da mesa, cheia de vinho, que afinal era a mesma bacia, que às vezes servia o arroz com peixe da bolanha), de vinho, houve “batuque”,  fizeram-se discursos, houve sorrisos e algumas lágrimas, seguindo as referidas Companhias em veículos militares para o cais de embarque, na capital da província.

À noite, por volta das 23,30 horas, desenrolou-se um forte ataque ao aquartelamento, que principiou com três ou quatro tiros isolados, seguidos de rajadas de metralhadora. Começaram a cair sobre o aquartelamento granadas de morteiro, ainda não havia abrigos com eficiência, ainda estavam a começar a construir-se, gerando-se algum pânico. Ficaram feridos cinco militares, uma granada caiu, talvez a vinte metros do Cifra, que estava metido no “abrigo do Olossato”, que era como o Cifra e alguns, camaradas lhe chamavam por ser parecido com os que foram construídos no Olossato, que fora construído na parte sul do aquartelamento, junto do dormitório e com mais segurança. Nesse momento o Cifra estava tolhido de medo, mas com o rosto de fora, viu o clarão da explosão e andou com a cara vermelha e queimada, os olhos também vermelhos, a ver e a ouvir com dificuldade durante algum tempo.

Os militares saíram a bater a zona, por sorte não foram para a estrada que seguia para Mansabá, pois ao outro dia vieram avisar o aquartelamento de que estava um fornilho montado com oito quilos de explosivos na referida estrada, tendo vindo um grupo de militares especiais da capital da província para o desmantelar. Houve depois informações, que alguns dos africanos, que andaram no “batuque”, pela manhã, eram guerrilheiros disfarçados, e sabiam que os militares não tinham muita segurança, pois estavam desfalcados da presença de parte dos militares que estavam estacionados em Mansoa, pertencentes às duas Companhias que regressaram à capital da província.

As explosões das granadas destruíram parte das obras.
Quando o Pastilhas, que era o Cabo Enfermeiro, colocava uma pomada branca na cara inflamada do Cifra, em atitude de brincadeira, dizia-lhe:
- Anda, vai para a Tabanca, com esta pintura pareces um Balanta, numa cerimónia de “Choro”!

O Cifra vai fechar o diário, já chega de guerra.

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Nota do editor

Último poste da série de 29 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12912: Bom ou mau tempo na bolanha (50): Para onde se vá, existe um português (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P12935: Convívios (578): Almoço de confraternização do pessoal da CCAV 2748 (Canquelifá, 1970/72), dia 31 de Maio de 2014 em Almeirim (Francisco Palma)

1. Conforme solicitação do nosso camarada Francisco Palma (ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCAV 2748 / BCAV 2922, Canquelifá, 1970/72), damos conhecimento do próximo Almoço de Convívio do pessoal da sua Unidade.


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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P12926: Convívios (577): Encontro comemorativo do 47.º aniversário do regresso da CCAÇ 816, a realizar no próximo dia 10 de Maio de 2014 nas Caldas das Taipas (Rui Silva)

Guiné 63/74 - P12934: Notícias do nosso editor Luís Graça (Carlos Vinhal)



1. Como a maioria da tertúlia deve saber, o nosso editor Luís Graça foi internado na passada terça-feira para na quarta lhe ser implantada uma prótese numa das ancas.

Até ontem tive notícias dele através da esposa, Alice Carneiro, mas ao fim da tarde telefonei-lhe, estava bem disposto, já fora da cama, e disse-me que no início da semana, talvez terça-feira, tenha alta.

Mesmo ali a sua preocupação com o Blogue é constante, tendo durante a tarde atendendo o telemóvel para atender solicitações. 

Claro que não se esqueceu de mandar, através de mim, um abraço para a tertúlia.

Vamos dando notícias.

Carlos Vinhal

Guiné 63/74 - P12933: Em busca de... (239): Alfredo Custódio António, ex-Condutor Auto da CCAÇ 2660/BCAÇ 2905 (Teixeira Pinto, 1970/71) procura o seu camarada e amigo Silva de Lisboa


1. Mensagem de um nosso camarada da diáspora, que se chama Alfredo António, ex-Condutor Auto da CCAÇ 2660/BCAÇ 2905 que esteve no Sector 05 de Teixeira Pinto nos anos de 1970 a 1971.

Boa tarde Luís
O meu nome é Alfredo Custódio António e fiz parte da Companhia de Caçadores 2660 do Batalhão de Caçadores 2905 onde era Condutor Auto. Estive em Teixeira Pinto e terminei a comissão em 1971.

Vivo no Canadá há 42 anos, numa vila que se chama Laval, próximo de Montreal

Eu queria encontrar um colega meu que estava na Secretaria em Teixeira Pinto, que se chamava Silva e era de Lisboa.
Agradecia muito se me pudesse ajudar.

Visitei o Blogue da Tabanca Grande e fiquei muito contente com tudo o que encontrei. Muito obrigado pelo vosso trabalho.

Sem mais, muito obrigado
Alfredo António
1820 Louis Belanger
Laval Qc H7W 5K6
Canada


2. Comentário do editor:

Caro camarada Alfredo António, muito obrigado pelo teu contacto.
Vamos publicar o teu pedido para encontrar o teu camarada Silva que, embora não refiras, poderá ter sido Cabo Escriturário da CCS ou da tua CCAÇ 2660.
Era mais fácil chamar a atenção se tivesses mandado a tua foto de então e até do teu camarada.

Quanto às palavras que diriges ao nosso Blogue, muito obrigado.

Os nossos votos de que te sintas realizado nesse grande país que escolheste para viver praticamente desde que regressaste da Guiné.

Recebe um abraço da tertúlia com os votos de muitas felicidades.
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 22 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12758: Em busca de... (238): Gostaria de encontrar camaradas da CART 527 (Teixeira Pinto, Cacheu, Pelundo e Jolmete, 1963/63) (António Medina)

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12932: Notas de leitura (578): "Viagem à África Ocidental", por Vasco Callixto (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Outubro de 2013:

Queridos amigos,
O publicista, escritor e jornalista Vasco Callixto é um caso singular nas letras portuguesas, infatigável nos temas do turismo, desporto automóvel e história da aviação. Viajou por tudo quanto é mundo, tem uma bibliografia impressionante.
Em 1990, com múltiplos apoios, lançou-se numa viagem que abarcou a Guiné-Bissau, o Senegal e a Gâmbia. Encontrou potencialidades extraordinárias para o turismo, viu edifícios que já não existem, entristeceu-se com o descaminho dado ao património histórico luso-guineense. Regressou convicto que a Guiné iria conhecer um surto na procura turística, veio deslumbrado.
Aqui fica o seu registo.

Um abraço do
Mário


Viagem à Guiné de Vasco Callixto, em 1990

Beja Santos

Publicista com largas dezenas de obras publicadas, escritor de turismo, investigador nas áreas do automobilismo e da história da aviação, Vasco Callixto (1925) tem uma impressionante colaboração na imprensa desde a década de 40. É um viajante insaciável, não há continente ou recanto da terra que ele não procure. Tem um modo muito seu de organizar as suas expedições e a publicação dos seus textos. Por exemplo, de Setembro a Dezembro de 1990, publicou em vários jornais a sua "Viagem à África Ocidental" (concretamente à Guiné-Bissau, Senegal e Gâmbia). Procura apoios de toda a índole, é encarado como o embaixador do turismo e não esconde o prazer pelas edições de autor. Vamos ver o que ele viu e comentou nesta viagem à Guiné-Bissau em 1990, de que resultou o livro editado em 1991. O único senão ao longo da viagem da Guiné foi o troar dos canhões que ele bem ouviu em Cacheu, tratava-se de um momento de elevada tensão nas relações entre a Guiné-Bissau e o Senegal, incidente que custou 20 vidas, felizmente que tudo acabou rapidamente em bem, tratava-se de contenda fronteiriça, sabe-se lá se de movimentação impune de guerrilheiros do Casamansa no Norte da Guiné-Bissau.

Chega a Bissau no final de Abril de 1990, o seu carro de estimação, um Opel Kadett modelo Califórnia já fora despachado por barco num porta-contentores. Explica a história da Air Bissau e da Transinsular, a empresa que facilitou o transporte do Opoel Kadett. Faz uma breve apresentação da Guiné-Bissau, a seguir entra no Hotel 24 de Setembro, ao tempo dispunha de 14 quartos singles, 65 quartos twins e 24 suites, para além de salão-restaurante, grill-jardim, bar americano e uma sala de congressos e banquetes. Referencia os preços de tudo, fica-se com a convicção de que o livro também funciona como um guia para o potencial turista. Sente encanto por Bissau, vai a pé do hotel pela Estrada de Santa Luzia e Avenida Pansau Na Isna, há por ali várias embaixadas, chega à antiga Praça do Império e desce a Avenida Amílcar Cabral, anota os edifícios de todo o estilo, chama a atenção para a Pensão Central ou Pensão da D. Berta, “que continua a fornecer refeições bem à antiga portuguesa, composta por sopa, dois pratos, pão e fruta pela módica quantia de 390 escudos. E a sala está sempre cheia”. Estupefacto vai vendo que as estátuas foram apeadas, os pedestais não. Não entende porque é que não se pode visitar a Fortaleza da Amura. Ao tempo ainda existia o Grande Hotel e um pouco mais abaixo o Centro de Medicina Tropical, inaugurado em 1989 e brutalmente danificado no conflito político-militar 1998-1999. Apreciou o cemitério, com campas bem cuidadas, não houve por ali vandalização, guardam-se as placas e as memórias do passado. Impressionou-se com as instalações do “Pão de Açucar” e visitou o mercado de Bissau, anotou a atividade “bancária” ali desenvolvida com os cambistas a trabalhar com máquinas de calcular.

Bijagós ainda hoje é uma grande consigna que recorda o turismo, era uma visita inescapável a Vasco Callixto. Ficou surpreendido com Bubaque e a sua espetacular beleza, uma joia longe da civilização. Em todas as etapas desta viagem, em minucioso: “O Hotel Bijagós, na ilha de Bubaque, de que é proprietário o argelino Azzi Abdelaziz, está situado num palmeiral, frente ao mar, com o restaurante debruçado sobre a falésia”. Descreve toda a unidade hoteleira e não esquece a referência ao centro de pesca desportiva, ali bem perto. E na manhã seguinte parte para Bolama, novo resumo sobre a história da infausta cidade, agora reduzida a sombras, foi ponto de escala dos Clippers da Pan America, em Bolama aterraram os primeiros aviões portugueses que voaram para terras de África, entre outras páginas de glória. Passeia-se pelas ruínas, é impressionante o grau de destruição, interessa-se pelos monumentos que estão de pé, nomeadamente aquele que Mussolini ofereceu à cidade para perpetuar a morte de aviadores e tripulantes de dois aviões italianos que ali se acidentaram.

De Bolama foram até Farim, passam por Mansoa e Mansabá. Deixam uma nota histórica sobre Farim, com surpresa encontro ali um padrão evocativo das viagens henriquinas. E escreve: “Neste padrão de Farim faltam algarismos de duas datas e uma palavra. Mas toda a ornamentação superior, incluindo o escudo português, estava intacta. Os que pensaram as novas gerações que este monumento significa?” Regresso a Bissau, segue-se a viagem à Gâmbia e ao Senegal, saem por S. Domingos.

Voltam a entrar na Guiné pela região do Gabu, não encontram onde comer nem dormir. Indigna-se com a estátua caída por terra do antigo governador Oliveira Muzanty, um oficial português que conduziu algumas guerras de pacificação e que contribuiu para delimitar fronteiras. Também não havia onde comer e dormir em Bafatá, um padre italiano lá desenrascou uma sala de catequese, ali dormiram em placas de espuma. Em Bafatá teve uma agradável surpresa, encontrou gente da Amadora, terra natal e residência de Vasco Callixto. E partiram para o Cacheu, de Bafatá foram até Bambadinca, daqui a Mansoa, depois Bissorã, pelo caminho visitaram Bula. Nova explicação histórica, desta feita sobre Cacheu, seguem-se referências aos equipamentos turísticos. É aqui que começa a troar a artilharia, havia contenda fronteiriça, Nino Vieira voou para Paris e pediu a intervenção do presidente Mitterrand, foi bem-sucedido. Impressionou-se com as estátuas escaqueiradas dentro da fortaleza, Nuno Tristão, Diogo Gomes, Honório Pereira Barreto e Teixeira Pinto aos pedaços. E comenta: “É preciso dar um destino condigno a estas estátuas. Se o presidente Nino Vieira declarou que iriam ser colocadas de onde foram retiradas, assim se deverá fazer quanto antes, pois a História não pode apagar-se. Em último caso, deverão ficar naquela Fortaleza, mas recuperadas e colocadas com dignidade”.

Considera Cacheu uma cidade de beleza admirável, um filão para o turismo. Regresso a Bissau, chegou a hora de preparar o reembarque do Opel Kadett. No Centro Cultural Português prefere uma conferência sobre “As primeiras viagens aéreas entre Portugal e a Guiné”. A primeira viagem aérea Portugal-Guiné realizou-se em 1925 no avião Santa Filomena. A segunda viagem constitui a 1.ª Travessia Aérea Noturna do Atlântico Sul, em 1927, quando o hidroavião Argos, com o major Sarmento de Beires, o capitão Jorge de Castilho e o alferes Manuel Gouveia, efetuou a ligação Bubaque-Brasil. E mencionou outras viagens com destino a Angola e Moçambique e o denominado “Cruzeiro Aéreo às Colónias”, a viagem que encerrou o ciclo das grandes viagens aéreas da época do pioneirismo aéreo português.

No Hotel 24 de Setembro encontrou-se com o Eng.º Macário Correia, secretário de Estado do Ambiente (simples curiosidade, ia negociar a participação da Guiné na Cimeira da Terra e assinou um protocolo que me custou quatro meses passados na Guiné, em 1991, de saudosa e triste memória). E assim acabou a viagem à África Ocidental de Vasco Callixto.
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Nota do editor

Último poste da série de 31 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12917: Notas de leitura (577): "Eleições em tempo de cólera", por Onofre Santos (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P12931: Os nossos seres, saberes e lazeres (69): Provérbios em crioulo (Enviado pelo Major OpEsp/RANGER - na situação de reforma -, Humberto Bordalo)

1. Camaradas, enviaram-me um e-mail com mais de 2 centenas de provérbios redigidos em linguagem crioula, de que desconheço a autoria, mas que, pelo seu grande interesse didáctico  principalmente para aqueles que vão esquecendo o muito ou pouco que aprenderam daquele popular e usual dialecto da Guiné, aqui publico na íntegra tal como os recebi, com os devidos agradecimentos e vénia ao seu anónimo autor.
LISTA DE PROVÉRBIOS EM CRIOULO
NOTA: As seguintes letras têm valor especial: N = "ng" do inglês (como em "song"); c = "ch" em inglês (church); j = também como em inglês (judge); ñ = como no português "nh" ou "ñ" em espanhol; s = "s" mesmo (saco), nunca como [z] de "casa".
(1) Abo i rasa goiaba: bu ka ten kabaku (=você é como a goiaba, não tem cavaco)
(2) Abo i rasa polon: si bu na kai, bu ka ta kai abo son (=você é como o poilão: se cair não cai sozinho)
(3) (i) Abo k' ten caga, bu ka ta sinti si ceru; (ii) Nunka algin ka ta fala kuma si caga na fedi (=você que tem ferida não sente o seu cheiro)
(4) Ami i lubu k' kema kosta (=eu sou a hiena que tem as costas queimadas)
(5) Ami i rasa papaia: N ka ta durmi na bariga di algin (=eu sou como o mamão: não fico parado na barriga de ninguém)
(6) Anduriña kuma i na pupu riba di kabesa di ñor deus, i ba kai riba di si kabesa (=a andorinha disse que caga na cabeça do senhor deus, mas caiu sobre sua própria cabeça)
(7) Baga baga i ka ten tarsadu, ma i ta korta paja (= o cupim não tem terçado, mas corta capim)
(8) (i) Baga baga ka ta kata iagu, ma i ta masa lama; (ii) Baga baga i ka ta kata iagu ma i ta masa lama (= o cupim não busca água, mas amassa o barro)
(9) Bagic ta masi ku si fortuda (= o hibisco cresce com sua sorte)
10) (i) Baka ki ka ten rabu, Deus ta banal; (ii) Baka ku ka ten rabu Deus ku ta banal (= à vaca que não tem rabo, abana-a Deus)
(11) (i) Baka misti korda, i ka tenel, kabra tenel, tok i na rasta; (ii) Kabra ten korda tok i na rastal; baka mistil, ma i ka ta oja; (iii) kabra tene korda i ta rastal, baka misti i ka ta oca (= a vaca quer corda mas não a tem; a cabra a tem mas a arrasta)
(12) (i) Bakia baka di kunankoi; (ii) Bakia baka di kunankoi: sin liti, sin nata; (iii) Bakia baka di kunankoi sin litti nin nata (= a boeira patoreia a vaca mas não aproveita nem o leite nem a nata)
(13) (i) Bardadi i suma malgeta: i ta iardi; (ii) Bardadi i malgos, ma i sertu (= a verdade é como a malaguete: ela arde)
(14) Bariga i ka ta kosadu ku laska di kana (= não se coça a barriga com lascas de cana)
(15) Bariga ka fila ku arus, ki-fadi miju (= barriga que não se dá bem com arroz, muito menos se dará bem com milho)
(16) Bariga pode debu o debu ma bu ka ta toma faka bu rumpil (= por pior que a barriga esteja, você não a corta com a faca)
(17) Bentana fiu na bida teña (= a carpa é feia mas vira tainha)
(18) (i) Bentana mora ku lagartu, si falau kuma lagartu ka ten uju, fia; (ii) Si bentana falau kuma lagartu fura uju, fia, pa bia elis ku ta kume lama juntu (= a carpa mora com o crocodilo: se ela lhe disser que ele não tem olho, acredite)
(19) (i) Bianda di kaleron ka ten dunu; (ii) Bianda, ora ki kusidu, i ka ten dunu (= comida na panela não tem dono)
(20) Bianda sabi ka ta tarda na kabas (= comida saborosa não demora muito na panela)
(21) Bias bu ta sibi dia di bai, ma bu ka ta sibi dia di riba (em viagem, só se sabe o dia de ir, mas não o de voltar)
(22) Bibidur di lagua ka ta dibi fabur (quem bebe água na lagoa não deve favor a ninguém)
(23) Bibus na cora, ki-fadi mortus (se os vivos choram, que dizer dos mortos)
(24) (i) Boka ficadu ka ta ientra moska; (ii) Na boka ficadu i ka ta ientra moska (= em boca fechada não entram moscas)
(25) Bolta di mundu i rabu di punba (=as voltas que o mundo dá são como as asas da pomba)
(26) Bon sapatu pe jingidu (= sapato bom em pé tordo)
(27) (i) Bu ka sibi si bu mama di bunda i gros, son ora k'i tene mandita; (ii) Bu ka ta sibi si bu mama di bunda gros, son ora ki tene mandita (= você não sabe se sua bunda é grande, a não ser quando ela tem furúnculo)
(28) Bu kunbidadu sala, bu ientra kuartu (= você é convidado para sala, você entra no quarto)
(29) Bu na duguña fundu, bu ka punta bentu (= você debulha muito sem perguntar ao vento)

(30) Bu na kuji manpatas, bu ka na jubi riba (= você apanha está colhendo mampatás sem olhar para cima)
(31) Bu na toka bu na baja (= você toca, você dança)
(32) Bunitasku di iagu salgadu i bunitu, ma i kansadu bibi (= a beleza da água salgada é grande, mas ela é desagradável para beber)
(33) Bu osa nomi suma lubu (= você desafia a sorte como a hiena)
(34) (i) Bu purba liti, bu pidi baka; (ii) Garandis kuma bu purba liti, bu pidi baka (= você provou o leite, você pediu a vaca)
(35) Burguñu i ma morti (=a vergonha é pior do que a morte)
(36) Buru tudu karga ki karga si ka sutadu i ka ta janti (= o burro, com pouca ou muita carga, se não é açoitado não anda)
(37) (i) Bu sai na pilon, bu kai na balai; (ii) I sai na pilon, i kai na balen (= você saiu do pilão, caiu no balaio)
(38) Bu sinta riba di baga-baga, bu na rui con (= você está sentado sobre a termiteira, e fala mal do chão)
(39) Bu ten kujer, bu na kume ku mon (= você tem colher, mas come com a mão)
(40) (i) Cuba cobi i oca kamiñu lalu; (ii) Cuba tarda, oca kamiñu lalu; (iii) Cuba tarda oca kamiñu latu (= a chova cai quando a estrada está molhada)
(41) (i) Cuba di Kabu Berdi, son di un banda; (ii) Anta, es cuba di Kabu Verdi? (= chuva de Cabo Verde, só em um lugar)
(42) Deus fala: pui mon, N judau (= Deus disse: faça sua marte que eu lhe ajudo)
(43) Deus ka ta sinta na rabada di ningin (= Deus não senta no traseiro de ninguém)
(44) Deus sibi ke k' manda iagu di mar salga (= Deus sabe porque a água do mar é salgada)
(45) Di li pa pó sinti, kabaku prumedu ku ta sinti (= para o tronco sentir, primeiro a casca tem que sentir)
(46) Dinti mora ku lingu, ma i ta daju i murdil (= os dentes moram com a língua, mas às vezes eles a mordem)
(47) (i) Dinti, tudu branku ki branku, i ka ta sai sangi; (ii) Garandis kuma dinti ka ten sangi (= os dentes, por mais brancos que sejam, não sangram)
(48) (i) Dun di boka i ka ta pirdi si kamiñu; (ii) Dun di boka ta tene pe; (iii) Dun di boka ka ta pirdi ku kamiñu (= quem tem boca não se perde no caminho)
(49) (i) Dun di boka mas di ke dun di fraskera; (ii) Dun du boka, mas dun du fraskera (= quem tem boca vale mais do que quem tem a carteira)
(50) Dun di kujer na kume ku mon (= tem colher, come com a mão)
(51) Dun di un uju ka ta brinka ku reia (quem tem olho não brinca com areia)
(52) (i) Dun du caga ka ta sinti fedos di si pe; (ii) Dun di mal ka ta obi si mal (= quem tem chulé não sente o cheiro do próprio pé)
(53) Dus galu ka ta kanta na un kapuera (= dois galos não cantam no mesmo terreiro)
(54) E fila suma gatu ku kacur (= eles se dão como gato e cachorro)
(55) (i) Faka di atorna ka ta moku, i ta moladu; (ii) Faka di atorna nunka i ka ta moku; (ii) Faka di atorna ka ta moku (= a faca da vingança não está sem corte, está afiada)
(56) (i) Fala di magru ka ta ciga na tabanka; (ii) Palabra di magru ka ta obidu na kau di fola baka; (iii) Kunbersa di magru ka ta obidu na kau di f ola baka (= palavra de magro não é ouvida no lugar de esfolar vaca)
(57) Falta di mame, bu ta mama dona (= na falta de mãe, mama-se na avó)
(58) Febri medi katar (= a febre tem medo do catarro)
(59) (i) Fiansa ta kebra kujer di prata; (ii) Fiansa ta kebra kujer di po (= confiança excessiva pode quebrar colher de prata)
(60) Fiju di gatu ta raña (= filho de gato arranha)
(61) Fiju di sinsibi ka ta maradu di kampaiña (= filho de se-eu-soubesse não traz amarrada em si a campainha)
(62) (i) Fiju ta padidu tras di si pape, ma i ka tras di si mame; (ii) Fiju ka ta padidu tra di si mame (= filho pode nascer longe do pai, mas não longe da mãe)
(63) Filanta ma panga uju (= combinar antes vale mais que que um piscar de olho)
(64) Firminga ka ta janti, ma i ta ciga (= a formiga não toma a dianteira, mas ela chega)
(65) Forsa di pis, iagu (= A força do peixe é a água)
(66) (i) Fulanu ten boka di sanbasuga: i ta murdi, i ta supra; (ii) Fulanu i tene boka di sanbasuga, i ta murdi i ta supra; (iii) Sanbasuga i ten dus boka, ma i ka ta murdi si kabesa
(= ele tem boca de sangu-suga: ele morde, ele sopra)
(67) Galiña garbatadur ta fas di kontra ku os di si mame o di si dona (= galinha esgaravatadora pode encontrar osso de sua mãe ou de sua avó)
(68) (i) Galiña kargadu ka sibi si kamiñu i lunju; (ii) Galiña ka konse si kamiñu lonji; (iii) Galiña pindradu ka ta sibi si kamiñu lunju (= galinha carregada não sabe se o caminho é longo)
(69) Galiña ta guarda si frangas bas di si asa, ma kil ku sta fora mañote ta rabatal (= a galinha proteje seus pintinhos debaixo das asas; aquele que escapa o milhafre o arrebata)
(70) (i) Garafa ka ta juntu na jugu di pedra; (ii) Garafa ka ta ientra na jugu di pedra; (iii) Garafa ka dibi di miti na jugu di pedra; (iv) Kin k' miti garafa na jugu di pedra, si ka kebra ki ba buska; (v) Ku mati garafa na jugu di pedra, si ka kebra ki misti? (= garrafa não se mete em jogo de pedras)
(71) (i) Garandi i polon, ma mancadu ta durbal; (ii) Polon podi grandi-o-grandi, ma macadu podi durbal; (iii) Po, tudu garandi ki garandi, mancadu ta durbal (= o poilão é grande, mas o machado o derruba)
(72) Garandi i puti di mesiñu (= o ancião é um pote de remédios)
(73) (i) Garandi ki jungutu, ta ma oja lunju di ke mininu ki sikidu; (ii) Beju ki jokoni ta ma uja lonji di ke mininu ki sikidu (= um ancião acocorado vê mais longe do que um menino em pé)
(74) Garandi ku firma ka pasa mandadu; (ii) Garandi en pe ka pasa mandadu (= ancião em pé pode ser incomodado)
(75) Garandis fala kuma: joia ku bu kuji na kau di baju, na kau di baju ki ta bin pirdi; (ii) Garandis fala kuma joia ku bu kuji na kau di baju, na kau di baju ki na bin pirdi (= os anciãos dizem que o que se ganha na festa, na festa se perde)
(76) (i) Garandis fala kuma manganas si ka hululidu i ka ta padi; (ii) Manganas si bu ka uli-ulil, i ka ta padi; (iii) Manganasa, si bu ka uli-ulil bunda i ka ta padi; (iv) Garandis fala kuma manganasa si ka ululidu i ka ta padi (= o manganás, se não chamuscado, não dá frutos)
(77) (i) Garandis fala kuma sen mantanpadas i ka sabi tama, ma i sabi konta; (ii) Sen mantanpada i ka sabi tama, ma i sabi konta (= os anciãos dizem que cem chibatadas não são agradáveis de tomar, mas de contar)
(78) (i) Garandis kuma kasa linpu ka ta somuna; (ii) Kasa linpu ka ta somna (= os anciãos dizem que em casa vazia não há barulho)
(79) (i) Garandis kuma kanua sin remu ka ta kanba mar; (ii) Kanua sin remu ka ta kamba mar (= os anciãos dizem que canoa sem remo não atravessa o mar)
(80) Gatu fartu ka ta montia (= gato farto não caça)
(81) (i) I ka ten sabi ku ka ta kaba; (ii) Puti di mel, i na sabi o sabi, mas i ta ten dia ki ta kaba (= não existe nada agradável que não acabe)
(82) I sabi moska, ki-fadi bagera (= isso agrada a mosca, que dizer da abelha)
(83) I sancu di dus matu (= é macaco de dois matos)
(84) Jisilin ka ta kema ku beja dus bias (= o gergelim não queima com vela duas vezes)

(85) (i) Jugude ka bai fanadu, ma i kunsi uju; (ii) Jugude ka bai fanadu, ma i kunsi uju
(= o abutre não foi à circuncisão, mas consegue ver as coisas)
(86) Jungutudu ka ta pui na ragas (= o acocorado não carrega nada no colo)
(87) Justu di bai cur, ka ciga karga don (= só ir ao velório não implica em chorar)
(88) (i) Kabra nunka i ka ta misa dianti di lubu; (ii) Kabra ka ta misa dianti di lubu (a cabra nunca mija perto da hiena)
(89) Kabra rispitadu pa bia di si barba (= o cabrito é respeitado por causa de sua barba)
(90) (i) Kabra tene barba, ma baka ki si garandi; (ii) Kabra tene barba, ma baka ki si pape
(= o cabrito tem barba, mas a vaca é sua anciã)
(91) (i) Kacur di mangu kuma pa kada kin sibi di si kabesa; (ii) Kacur di mangu konta kuma kada kin sibi di si kabesa (= o mangusto diz que cada um sabe de si)
(92) (i) Kacur endadur os o pankada; (ii) Kacur iandadur, os o pankada (= cachorro vadio encontra osso ou pauladas)
(93) Kacur ka ta tene kacur (= cachorro não tem cachorro)
(94) (i) Kacur, tudu brabu ki brabu, nunka i ka murdi si dunu ku ta dal di kume; (ii) Kacur, tudu brabu ki brabu, nunka i ka murdi si dunu (= o cachorro, por mais feroz que seja nunca morde quem lhe dá comida)
(95) Kal dia ku galiña di matu pistadu po di dismanca kabelu (= quando é que se emprestou o pau de arrumar o cabelo à pintada)
(96) Kal dia ku galiña di matu sinta na kapuera (= quando é que a pintada ficou no mato)
(97) (i) Kal dia ku lubu Ntergadu fumer; (ii) Jintis kuma kal dia ku lubu Ntergadu fumer (= quando é que se entregou o fumeiro à hiena)
(98) (i) Kal dia ku paja juntadu ku fugu si ka kema ki misti; (ii) Kal dia du paja i juntadu ku fugu si i ka kema ki misti (= quando é que se junta palha com fogo que não seja para queimar)
(99) (i) Kal dia ku sancu fala jugude manteña si ka pa rispitu di kacur; (ii) Kal dia ku sancu fala Sakala manteña si i ka na disgustu di kacur (= quando é que o macaco cumprimenta o abutre a não ser no velório do cachorro)
(100) (i) Kama ku bu ka dita nel, bu ka sibi si ten dabi; (ii) Dun du kama ki konse si dabi
(= você não pode saber que a cama em que não deitou tem percevejos)
(101) Kamalion kuma janti i ka nada, ciga ki tudu (= o camaleão diz que andar depressa não importa, o importante é chegar)
(102) (i) Kana seku i ka ta dobradu; (ii) kana seku ka ta dobra (= cana seca não se dobra)
(103) Karna di buru ta kumedu na tenpu di coba, di fugalgu na tenpu di seku (= carne de burro se come na estação, a de animal nobre na seca)
(104) Karu beju lestu dana (= carro velho estraga depressa)
(105) Kasa beju ka ta falta barata (em casa velha não faltam baratas)
(106) Kasamentu ta kaba, ma kuñadadia ka ta kaba (o casamento pode acabar, mas os laços familiares não)
(107) Kaska fison ka ta kontra ku uña kunpridu (= descascar feijão não combina com unhas grandes)
(108) Kau k'i kosau bu ta kosal; ma kau k'i ka kosau, ka bu kosal, pa bia, si bu kosal, i ta fola (= coce onde há coceira, onde não há coceira não coce, do contrário esfola)
(109) Ken ki basau iagu, son bu ferga kurpu pa i linpu (= se o puserem na água, você tem que esfregar o corpo para que fique limpo)
(110) Ken ki ka ta coranta si fiju, amaña si fiju ta corantal (= quem não faz seu filho chorar, fa-lo-á chorar seu filho)
(111) Ken ki ma bu leña, ta ma bu sinsa (= quem é mais lenha do que você é também mais cinza)
(112) Kil ku urdumuñu tisi na bu mon, bentu ku na bin lebal (= o que a tempestade lhe trouxe o vento levará)
(113) (i) Kin ku mata, i ta kabanta fola; (ii) Si bu misti forel, para balei (= quem mata, deve esfolar)
(114) (i) Kin ku misti forel, i ta para balen; (ii) Kin ku misti forel, ta para balei (= quem quer farelo apresente o balaio)
(115) (i) Kin ku misti pis, i ta ba moja rabada na iagu; (ii) Si bu misti pis, bu ten ku moja rabada (= quem quer peixe tem que molhar o traseiro na água)
(116) (i) Kin ku ta durmi ka ta paña pis; (ii) Kin ku ta durmi i ka ta paña pis (= quem dorme não apanha peixe)
(117) (i) Kin ku ta labra kifri, el prumeru ku ta fidi; (ii) Kin ku ta labra kifri, el prumeru ku ta fidi (= quem lavra o chifre é o primeiro a se ferir)
(118) Kin ku ten kabelu na pe, i ka ta kanba fugu (= quem tem pelo nas pernas não deve atravessar o fogo)
(119) Kobra kuma riba tras ka ta kebra kosta (= a cobra diz que dobrar-se para trás não quebra as costas)
(120) Kombe kuma i medi iagu salgadu ma la ki ta mora nel (= o combé diz que tem medo de água salgada, mas é nela que mora)
(121) (i) Kon kuma lebsimenti na rosta ki sta; (ii) Kon kuma lepsimentu i na uju; (iii) Kon kuma lebsimentu na uju ki sta nel (= o macaco-cão diz que a ofensa está no rosto)
(122) Konsiju di beja i misiñu (= conselho de anciã é remédio)
(123) Korda ta kansa kabra, ma i ka ta matal (= a corda cansa a cabra, mas não a mata)
(124) (i) Kunpra saniñu na koba; (ii) N ka ta kunpra saniñu na koba (= comprar saninho na toca)
(125) (i) Kuri ku kosa juju ka ta ndianta; (ii) Kuri ku kosa juju ka ta fila; (iii) Kore ku konsa juju, ka pode njenta (= correr e coçar o joelho não é possível)
(126) Kusa ki mankañ kuda, tarda ki lingron sibil (= o que faz o mancanha conhece-o há muito o lingueirão)
(127) Lagartisa ta bibi ku galiña (= a lagartixa bebe água da galinha)
(128) Lagartu ka ta sinadu murguja (= não se ensina o crocodilo a mergulhar)
(129) (i) Lanca fundiadu ka ta gaña freti; (ii) Lanca fundiadu ka ta gaña freti (= barco fundeado não ganha frete)
(130) (i) Lifanti ka pirgisa ku si dinti; (ii) Lifanti ka ta prgisa ku si dinti (= o elefante não se cansa com seu dente)
(131) Lifanti ka ta sinti si tuada (= o elefante não sente o próprio barulho)
(132) (i) Lifanti ki nguli kuku, i pa bia i fiansa na si bunda; (ii) Lifanti ki nguli kuku, i fiensa na si kadera; (iii) Si bu oja lifanti na Nguli kuku di sibi, bu ta sibi kuma i fiansa na si trasera
(= o elefante engole coco porque confia em seu cu)
(133) Lifanti si na jubi tapada, te i ka entra, i pa bia i ka tene parenti dentru (= se o elefante vê uma cerca e não entra é porque não tem ninguém seu lá dentro)
(134) Lobu ki kema kosta, di sol ki sebedu (= a hiena que tem as costas queimada, é dela que se fala)
(135) Lubu kuma i ka son kusa sabi ki ta incisi bariga (= a hiena diz que não é só o que é saboroso que enche a barriga)
(136) Lubu kuma si sol mansi di repenti, i ka el son ku ta burguñu (= a hiena diz que se amanhecer de repente não é só ele que passará vergonha)
(137) Lubu nin ki bu negal, ka bu dal paja di bobra (= não dê folha de abóbora à hiena mesmo que não gostes dela)
(138) Lutu di mar ka ciga kuspi mon (= luta no mar não exige cuspir na mão)
(139) (i) Mandadu ta frianta pe, ma i ka ta frianta korson; (ii) Mandadu i ta frianta pe, ma i ka ta frianta korson (= mandar alguém dá descanso ao pé mas não ao coração)
(140) (i) Manpatas kru ta kai, kusidu ta kai; (ii) Manpatas ta kai kusidu, kai kru (= o fruto do mampatás cai tanto maduro quanto verde)
(141) Mentros ka ta sinti fedos di si boka (= o mentiroso não sente o mau cheiro da própria boca)
(142) (i) Mesiñu ki bu ka ta pui na bu caga, ka bu pul na caga di bu kunpañeru; (ii) Mesiñu ku bu sibi kuma bu ka na pul na bu caga ka bu pul na caga di utru (= curativo que você não põe em sua ferida, não o ponha na ferida do outro)
(143) (i) Mininu koredor, lebal na kabu di reia; (ii) Mininu kuridur lebal na ka u di reia (iii) Mininu si falau i ma bu kuri, lebal na kau di reia (= se o menino corre muito, é só levá-lo a terreno arenoso)
(144) Mursegu kuma i na misa Deus, riba di si kabesa k' si urina ta kai (= o morcego mija para cima, a urina cai em sua cabeça)
(145) Na no kombersa, ka bu pui boka, pui oreja (= em nossa conversa, não ponha a boca mas o ouvido)
(146) N dadu N da, N ka ta kria kacur (= se dou o que ganhei, não crio cachorro)
(147) Noba ka ta pidi pasaju (= novidades não pedem licença)
(148) Ñambi iasadu, i ka sabi sibi si ta kusidu (= nunca se sabe se o inhame assado está bem cozido)
(149) Ñulidura di pis ka ta tuji barku pasa (= o olhar de esguelha do peixe não impede que o barco passe)
(150) Onsa, tudu brabu ki brabu, i ka ta sibi pe di kabasera (= Por mais brava que seja a onça, não sobeno imbondeiro)
(151) Paja di kasa, tudu kunpridu ki kunpridu, i ka ta ciga di asna pa bas (= a palha do teto, por mais comprida que seja, não ultrapassa a asna)
(152) Palabra di tras, i uanjan di kosta (= palavras ditas na ausência de alguém ferem)
(153) Panela na fala kaleron: ka bu tisnan (a panela diz à caldeira: não me chamusque)
(154) Panga bariga ka ta kontra ku bunda largu (= caganeira nunca dá em quem tem cu grande)
(155) Papagaiu ta kume miju, pirikitu ta paga fama (= papagaio come milho, periquito leva a fama)
(156) Pati ku pati ka ta kria kacur (= dar e dar de novo não cria cachorro)
(157) Pekador pode kunpridu o kunpridu ma garafa mas iel (= por maior que o homem seja, a garrafa é sempre maior)
(158) Pekadur dalgadu i ta dana moransa (= alguém de maus costumes estraga toda a comunidade)
(159) Pinton cupti galiña, galiña ka paña raiba, pinton k' paña raiba (= o pintinho bica a galinha, que não se zanga; quem se zanga é ele)
(160) Piskadur k' torkia si kanua pa kabalu, i sibi ke k' manda (o pescador que troca a canoa por cavalo sabe porquê)
(161) (i) Po pudi tarda o tarda na iagu, i ka ta bida lagartu; (ii) Po, tudu tarda ki tarda na iagu, i ka ta bida lagartu (= por mais que fique na água, o pau não vira crocodilo)
(162) (i) Praga di buru ka ta subi na seu(ii) Praga di buru ka ta ciga na seu (= praga de burro não sobe ao céu)
(163) Puru ka ta kume si ramasa (= o nobre não come o que vomita)
(164) Puti furadu ka ta enci iagu (= pote furado não se enche de água)
(165) (i) Rabu di sancu i kunpridu, ma si bu rikitil i ta sinti dur; (ii) Rabu di sancu i kunpridu, ma si bu na rikitil i ta sinti (= o rabo do macaco é comprido, mas se você o beliscar ele sentirá)
(166) Ratu si ka fila ku si kunpeñeru, i ka ta cama gatu pa raparti elis (= se o rato não se entende com os companheiros, não chama o gato para intermediar)
(167) Ris di lokokon ta nobela ton (= a raiz do lokokon se enrola sobre si mesma)
(168) Riu ka ta inci mar, mar ku ta inci riu (= não é o rio que enche o mar, é o mar que enche o rio)
(169) Sabi di ordija kamiñu di fonti (= o caminho da fonte tem cheiro de rodilha)
(170) Saku linpu ka ta firma (= saco vazio não fica em pé)
(171) Sancu beju, gelgelidora ka ta manda i kuspi manpatas ki ieki (= o macaco velho, o coceguento não manda cuspir no mampatás que enche a boca)
(172) (i) Sancu ka ta fala kuma si fiju fiu; (ii) Tudu fiu ki fiu, nunka bu ka ta fala kuma bu fiju fiu; (iii) Tudu fiu ku bu fiu, bu ka ta fala kuma bu fiju fiu (= o macaco nunca diz que seu filho é feio)
(173) (i) Sancu ka ta jukta i fika si rabu; (ii) Sancu ka ta jukuta pa i fika si rabu (= o macaco não pula sem levar o rabo consigo)
(174) (i) Sancu kunsi po ki ta fural uju; (ii) Kon kuma i ka kunsi po ku ta matal, ma i kunsi kil ku ta fural uju (= o macaco conhece o pau que lhe furou o olho)
(175) Sancu nega papia pa ka paga dasa (= o macaco não fala para não pagar imposto)
(176) Saniñu dana lugar di mankara, ma i ka ta sinti kansera i regua (= o esquilo estragou a plantação de amendoim, mas teve o trabalho de regá-lo)
(177) Sapatu beju ka ta perta si dunu (= sapato velho não aperta o dono)
(178) Seta ka ta de kabesa (= aceitar não dói a cabeça)
(179) (i) Si bu banbu na kosta di lifanti, bu ka ta masa paja; (ii) Kin ku banbu na kosta di lifanti, i ka ta rosa urbaju; (iii) I bambu na kosta di lifanti (= quem anda nas costas do elefante não roça o orvalho)
(180) Si bu da tapada, ka bu suta kau ku bu bati pitu nel (= se você tropeçar, não bata o peito onde tropeçou)
(181) Si bu misti kanblec, bu na kebra kabas (= se você quer cacos, quebre a cabaça)
(182) (i) Si bu misti konta, bu ten ku misti liña; (ii) Bu misti konta, bu ten k' misti liña; (iii) Si bu misti konta bu ten ku misti liña, pa bia, si ka el, di bó i ta dana (= se você quer a conta tem que aceitar a linha)
(183) Si bu misti kume fruta, bu ten ku regua (=se você quer comer fruta, precisa regar [a planta])
(184) Si bu misti obi morna, suta fiju di kantadera (= se você quer ouvir morna, açoite o filho da cantadeira)
(185) Si bu misti obi pasada di bajudesa di bu mame, suta fiju di dona kasa (= se você quiser saber histórias do passado de sua mãe, bata no filho da dona da casa)
(186) Si bu na kuji manpatas, bu ta jubi riba prumedu, pa ka utru bin kai na bu kabesa (= se você colhe mampatás, olhe para cima primeiro a fim de não cair sobre sua cabeça)
(187) (i) Si bu oja dukut muri, dakat ku matal; (ii) Si bu oja kusa muri, sibi kusa ku matal (= se alguém morreu, alguém o matou)
(188) Si bu oja kabesa pirdi, punta bariga (= se a cabeça dói, pergunte à barriga)
(189) Si bu oja karna na pinga, sibi kuma i gurdu (= se você perceber que a caren respinga, saiba que é gorda)
(190) Si bu oja lebri brinka ku lubu, sibi kuma onsa sta pertu (= se você vê a lebre brincar com a hiena, saiba que a onça está por perto)
(191) Si bu oja sancu ba fonti, sibi kuma i ka leba kalma (= se você vir o macaco indo à fonte, saiba que não leva cabaça)
(192) (i) Si bu pidi galiña di matu siti, i ta falau pa bu jubi na si kabesa, si tene kabelu, i pa bia i tene siti; (ii) Galiña di matu kuma: ora ku bu na pidil siti, bu ta jubi prumedu na si metadi di kabesa; (iii) Galiña di matu kuma, antu di bu pidil siti, bu ta jobe nda si si kabisa moju; (iii) Galiña di matu kuma, ora ku bu na pidil siti, bu ta jubi prumedu na si metadi di kabesa (= se você pedir óleo de palma à galinha, ela diz para você olhar para a cabeça dela: se tiver penas é porque tem óleo)
(193) Si bu sibi kuma bu ka ten bon porta, ka bu Nguli kuku di tanbakunba (= se você sabe que não tem saída larga, não engula coco de tambacumba)
(194) Si bu sibi kuma bu tene karanga, ka bu bai na metadi di jinti (= se você sabe que tem piolho, não se misture com as pessoas)
(195) (i) Sigridu di boka nunka i ka ta kanba dinti; (ii) Sigridu di boka ka ta kanba dinti (= segredo de boca não deve ultrapassar os dentes)
(196) Sila ku Prera, dus kurpu nun korson (= Sila e Pereira, dois corpos em coração)
(197) Sintidu di minjer kurtu suma ponta di si mama (= a inteligência da mulher é curta como a ponta de seu seio)
(198) Siti riba con di bijago (= o óleo de palma volta à terra dos bijagós)
(199) Sonbra di pe di kuku, i ka ta taja si fiju (= a sombra do coqueiro não proteje seus filhos)
(200) (i) Sonbra di sibi ka ta sonbria bas del, son la fora; (ii) Sonbra di sibi ka ta sonbra bas del, son la fora (= a sombra do cibe não sombreia seu pé, mas fora dele)
(201) (i) Sorti na pe ki sta; (ii) Sorti di pekador sta na si sola di pe (= a sorte está no pé)
(202) (i) Sufridor ki ta padi fudalgu; (ii) Sufridur ta padi fidalgu (= o sofrimento nos faz nobres)
(203) Sukundi sukundi ka ta para na kamiñu (= o esconde-esconde não pára no caminho)
(204) Susa boka te bu ka kume siti (= sujar a boca com óleo de palma sem comê-lo)
(205) (i) Tapada ta tuji baka kume fison; (ii) Tapadu altu ta tuji baka kumi fison (= a cerca impede a vaca de comer o feijão)
(206) Tartaruga kuma kil ki na bin, sinta bu pera (= a tartaruga diz: sente-se e espere o que virá)
(207) (i) Tartaruga misti baja, ma rabada ka ten; (ii) Teteriga meste baja mas i ka tene rabada; (iii) Tataruga kuma i misti baja, ma i ka ten rabada (= a tartaruga quer dançar, mas não tem ancas)
(208) Tataruga kuma si pe i kurtu ma i ta lebal tudu kau ki misti (= a tartaruga diz que suas pernas são pequenas mas a levam onde ela quer)
(209) Teteriga tene kaska, ma e sabe kabu k' e ta morde Nutru (= as tartarugas têm casco, mas sabem onde morder umas às outras)
(210) (i) Tudu beju ku algin beju i ka ta mati bajudesa di si mame; (ii) Tudu beju ku [bu] beju, bu ka ta mati bajudesa di bu mame (= por mais velho que alguém seja, não alcança a juventude de sua mãe)
(211) Tudu jiru ku bu jiru bu ka ta pila iagu (= por mais esperto que você seja, não pode pilar a água)
(212) Tudu koitadi ku N koitadi nunka N ka ba parau pratu (= por mais pobre que eu seja, nunca lhe estendi o prato)
(213) Tudu riku ku bu riku bu ka pudi kunpu kasa di feru (= por mais rico que você seja, não pode construir uma casa de ferro)
(214) Uju di sancu dalgadu, ma ningen ka ta pui la dedu (= o olho do macaco é pequeno, mas ninguém põe o dedo nele)
(215) Uju ka ta kume, ma i kunsi kusa sabi (= o olho não come, mas sabe o que é saboroso)
(216) Uju sta burmeju, ma i ka ta kema lala (= o olho está vermelho, mas não queima a relva)
(217) (i) Un dedu un dedu i ta kaba puti di mel; (ii) Un dedu un dedu ta kaba puti di mel (= de dedada em dedada acaba o pote de mel)
(218) Un son mon ka ta toka palmu (= uma mão sozinha não bate palmas)
(Autor desconhecido)

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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

2 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P12923: Os nossos seres, saberes e lazeres (68): O panelo de barro preto (Manuel Luís R. Sousa)