Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > O Fur Mil José Manuel Lopes. Neste poema, evoca dois dos alferes milicianos da companhia que desertaram, um durante a IAO, e o outro na altura em que veio de férias à Metrópole.
Foto e poema: © José Manuel (2008). Direitos reservados (1).
Poema do dia, sem título, enviado em 11 de Abril:
Ninguém deve ser julgado
por aquilo em que acredita
pelo que gosta de fazer
pelo que ama
ou por aquilo que teima em ser
ninguém deve ser condenado
por dizer não à guerra
e partir
sem um sorriso
ou um adeus
em jeito de despedida
num silêncio obrigado
por vezes a vida é ingrata
até um dia Trindade
até um dia Fragata (*).
Mampatá 1972
josema
_________
(*) Nota de JML, de 22 de Abril:
Raramente falo nos dois alferes que disseram não à guerra. Respeito a sua decisão, até porque eram pessoas que me pareciam integras e conscientes do que fizeram.
O Trindade comandante do 4º Grupo de Combate, muito discretamente, quando do treino operacional na formação da Companhia em Gaia, se notava que não estava de acordo com a Guerra Colonial. Era de uma formação política fora do comum naquele tempo e nas entrelinhas via-se que a sua opinião era diferente duma maioria que via o País do Minho a Timor, tal como eu, mas que com o tempo e o contacto com a outra face da verdade comecei a compreender e a ver o outro lado.
Quanto ao Fragata, comandante do 2º Grupo, ao qual eu estive ligado, era um homem de paz, a guerra para ele não fazia sentido e sofria para dentro em cada dia, hora e minuto que passava, ainda em 1972 veio de férias e não voltou. Sei que foi difícil a sua decisão, tão dura que ainda hoje suponho que ninguém da Companhia o viu mais. E como eu gostava de o abraçar e dizer que aceito a sua decisão sem nenhuma reserva.
Todos têm o direito a dizer não, quando determinados factos se chocam com a sua maneira de ser.
Um abraço
jose manuel
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Nota de L.G.:
(1) Vd. último poste de -feira, 24 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2794: Poemário do José Manuel (10): Ao Albuquerque, morto numa mina antipessoal em Abril de 1973
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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