quinta-feira, 26 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8328: Tabanca Grande (288): José Manuel Carvalho, Fur Mil Trms da CCS/BCAÇ 4612/74 (Cumeré, Mansoa e Brá, 1974)


1. É com grande satisfação pessoal e alegria redobrada, que hoje apresento à tertúlia bloguista mais um elemento do meu batalhão, ainda por cima da minha Companhia, o Camarada José Manuel Carvalho, que foi Fur Mil Trms da CCS do BCAÇ 4612/74, Cumeré, Mansoa e Brá, 1974.

Caros Camaradas e Amigos,

Quero com a presente associar-me ao Blogue dos membros da Tabanca Grande e, para o efeito, envio os elementos possíveis de momento.

Integrei, com o posto de Fur Mil Trms, a CCS do BCaç 4612/74 que foi, como já foi referido em anteriores postes do blogue, o último batalhão que partiu para a Guiné e também o último que de lá saiu, em 15 de Outubro de 1974. Passei pelos aquartelamentos no Cumeré, Mansoa e Brá

Atendendo ao tempo de permanência no território da Guiné, não tenho muito a relatar, contudo não quero deixar de anotar algumas recordações daquele tempo, que ficaram e nunca esqueci. Posteriormente, se me for permitido, enviarei algumas “notas” sobre os acontecimentos vividos no Trem Auto em 16 de Março de 1974, no BCaç 5 em 25 de Abril e nas outras Unidades em Lisboa onde estive colocado.

Sobre o tempo passado na Guiné relembro a chegada ao aeroporto com a elevada humidade sentida na atmosfera aquando da saida do avião da TAM, a consequente partida para o Cumeré onde tive a minha primeira grande batalha e que se arrastou por quase todo o tempo em que estive no CTIG: “A luta contra os mosquitos.”

Passados alguns dias fomos deslocados para Mansoa onde tivemos uns tempos em sobreposição com a unidade que fomos render, a CCS do BCaç. 4612/72. Relembro a recepção dada pelos “velhinhos” na nossa chegada ai quartel com uma chuva de “pius-pius” e muitos outros “mimos” dedicados aos “periquitos”.

Aqui não quero deixar de evocar o triste acontecimento, que a todos muito marcou, ocorrido junto à arrecadação de material de guerra quando os elementos da 3ª CCAÇ do 4612/72, após cerca de 2 anos de comissão, procediam à entrega definitiva do armamento a seu cargo. Um disparo inopinado de uma G3 originou 2 feridos com muita gravidade que foram, de imediato, evacuados para Bissau. Vim a saber mais tarde que, infelizmente, o soldado Oldegário Libório não sobreviveu ao acidente tendo falecido no HMP, em Lisboa, a 18OUT74.

A minha actividade em Mansoa, além de uns petiscos e jogos de cartas, ficou-se pelo proceder à destruição total (queima) de toda a documentação existente no Centro de Cripto, trabalho “árduo” executado em colaboração com o 1º Cabo Albino Marques Serrano, para quem mando um forte abraço e peço aqui que me contacte logo que puder.

Após a desactivação e entrega do aquartelamento em 09SET74 (acontecimento muito bem relatado e documentado com fotos nos postes do Eduardo Magalhães Ribeiro), fomos para o Batalhão de Engenharia, em Brá, onde se reintegraram as outras duas Companhias do Batalhão, entretanto vindas de outros pontos do território. Aqui tivemos por missão assegurar a segurança e protecção das instalações da área do sub-comando de Brá, então constituído, i. e., Batalhão de Engenharia e Depósito de Material.

Neste quartel tivemos alguma dificuldade em conter vários elementos da população local que, de uma forma por vezes hostil, se concentravam e manifestavam junto à porta de armas da Unidade, protestando contra o súbito culminar dos apoios que eram o seu sustento de vida e de que estavam completamente dependentes (económica, alimentação, trabalho, etc.) resultantes da actividade militar, desenvolvida entre 1963 e 1974.

Também nós, os militares do batalhão, estivemos quase sempre circunscritos às instalações do quartel, porque à nossa volta a independência era já uma realidade.

Ressalvo algumas deslocações em grupos para idas ao cinema nas instalações da BA 12 - Bissalanca e a Bissau, embora aqui já pouco ou nada houvesse que fazer tendo em conta que o comércio e os estabelecimentos de restauração, aos poucos, tinham vindo a deixar de funcionar, tornando assim a vivência e actividade na capital praticamente diminuta.

Neste período, em Brá, tive oportunidade de colaborar numas sessões “de relembrar conhecimentos” ministradas a alguns elementos do batalhão, cuja formação escolar não tinha permitido concluir a 4ª classe e que nelas se inscreveram.

Ocupámos, assim, algum do nosso tempo e creio que foi uma experiência muito gratificante para todos. Faço notar que o aquartelamento do Batalhão de Engenharia era “cinco estrelas”, com um bom campo de jogos, cozinha com excelentes instalações, equipamentos e todo o espaço envolvente muito cuidado.

O regresso a Portugal foi efectuado no Navio Uíge com chegada a Lisboa em 20 de Outubro.

Fur Mil periquitos no Cumeré (acabadinhos de chegar). Eu estou em 1º plano, em baixo
Nas imediações do CIM, Cumeré, em exploração do perímetro envolvente

Psico em Mansoa. O Fur Mil João Faria (de camuflado) e eu

Idem foto anterior. Ao centro também um Fur Mil de quem não já não lembro o nome (as minhas desculpas)
Graduados de Trms da CCS: Fur Mil João Faria (à esquerda), Alf Mil Florêncio e eu

1º contacto pessoal de militares da CCS com 3 elementos do PAIGC
___________
 
Notas de M.R.:

Amigo e Camarada Carvalho em nome do Luís Graça e demais Camaradas desta Tabanca Grande, como é habitual sempre que mais um Homem da Guiné se junta a nós, nesta Unidade cibernética, apresento-te os nossos melhores cumprimentos Amigos e votos de boas vindas à nossa tertúlia.

Também aproveito a oportunidade para desejar que nos contes, daquilo que te lembrares, mais alguns passagens sobre o modo pacífico, expedito e eficaz como foi retirado o dispositivo de tropas que se encontrava estacionado naquele território, os contactos com o PAIGC e da transição de poderes.

Creio que, então, se demonstrou bem ao mundo a capacidade portuguesa de organização e planeamento de recursos humanos e materiais para, que, em cerca de 6 meses, se evacuassem para a metrópole, uns 27 mil militares, viaturas e diversos equipamentos.
Vd. último poste desta série em:

24 de Maio de 2011 >
Guiné 63/74 - P8317: Tabanca Grande (287): Carlos Alberto Duarte Prata, Coronel Reformado, ex-Capitão, CMDT das CCAÇ 4544/73 (Cafal Balanta) e CCAÇ 13 (Bissorã), 1973/74

2 comentários:

Hélder Valério disse...

Caro camarigo José Carvalho

Mais um homem do 'fim da guerra' que se apresenta para partilhar o nosso convívio.
E ainda para mais, de Trms., que é, como se sabe, uma 'família' com características particulares e bem representada entre nós.

Pois então, que entre, se instale, e comece a recordar...

Abraço
Hélder S.

Luis Faria disse...

Jose Manuel

Ora então,bem aparecido por estas bandas de convivio e troca de recordações.

Deverá ter sido um tanto complexo encarar uma mobilização ,digamos extemporânea. Aguardo que no-lo transmitas

Abraço
Luis Faria