1. Mensagem de Manuel Joaquim, ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67, com data de 23 de Maio de 2011:
Caros editores, queridos camaradas:
Em Leiria há um jardim onde está implantado um grupo escultórico chamado SPM, penso, tendo como referência básica o aerograma.
Sobre este assunto envio um texto que não sei se merecerá um Poste na nossa Tabanca Grande.
Percebo pouco destas coisas, nem sei se a imagem do aerograma vai legível. Se acharem que se "aproveita" algo...
Fica ao vosso critério.
Um abraço
Manuel Joaquim
Caros camarigos:
No âmbito da comemoração dos 50 anos do meu curso do Magistério Primário, fui presenteado pela Junta de Freguesia de Leiria com algumas lembranças sobre esta cidade. Entre elas dou com um “volante” em forma de aerograma. E muito surpreendido fiquei quando reparo no seu conteúdo que, nem de propósito, fala sobre a mulher e o seu papel no contexto da guerra colonial, assunto que tem ultimamente vindo à baila aqui no blogue. Publicita a existência de um conjunto escultórico no Jardim de Santo Agostinho, em Leiria, instalado «com o objectivo de homenagear o papel da mulher no contexto da guerra».
Não visitei o local mas brevemente lá irei. Deve ser caso único, uma homenagem escultórica baseada no “nosso” famoso aerograma: «O percurso sugerido pelo conjunto escultórico é finalizado por uma peça, também de aço inox que se constitui como um duplo do meio de comunicação tão recorrente neste contexto – o aerograma», diz o “volante”.
E diz mais o seguinte (um português um pouco confuso, no mínimo):
«Esse elemento metálico de grandes dimensões, constituiu durante os tempos de guerra, um dos elos primordiais de ligação entre o soldado, cujo o quotidiano acontecia em paragens distantes e as suas raízes, base de sustentação emocional que de longe lhe serviam de referencial e garante de coordenadas de vida. A peça, ... ..., materializa uma espécie de padrão dos inúmeros e diversos registos escritos que desempenharam o importante papel de garante da continuidade de uma existência comum, constituindo um veículo das notícias da terra, de cá e de lá, o “nós por cá tudo bem”.»
Segue o texto completo (espero que se consiga lê-lo):
Uff!!! Nem sei se percebi bem o que li. Sinto cá uma vontade de alterar (emendar) este texto! Detesto este linguajar a armar ao “intelectual”, isto tudo para vir dizer que o aerograma foi um excelente meio de ligação entre o soldado e o mundo distante da sua terra natal .
O aerograma foi para muitos um veículo fundamental de comunicação. Para mim, a maior parte das vezes, foi secundário. Usava-o mais quando, por preguiça, cansaço ou algum momento mais depressivo, me fugia a vontade de escrever. Assim, facilmente preenchia o espaço do “bate-estradas” e lá apaziguava a consciência que me acusava de mau comportamento por não corresponder ao desejo de quem esperava notícias minhas. Normalmente usava a clássica carta, com três a quatro fls. escritas.
Aqui vai o texto de um aerograma dirigido à minha esposa (então namorada). Lendo-o, hoje, até o acho interessante mas não eram estes 20 a 30 segundos de leitura que ela esperava. Compreende-se.
Bissorã, 12 jun 66
Por cá tudo bem. Gastando as horas vou pensando no dia em que te poderei abraçar, meu amor.
Que profundo será aquele “Livra!”
Que maravilhoso será o espatifar do pesadelo!
Vai-me acompanhando, sim? Vais, tenho a certeza. Assim será mais fácil, mais entusiasmante o estoiro deste invólucro que nos amarfanha!
Estou contigo. Hoje. Beijo-te.
Estarei contigo. Amanhã. Sempre. Ter-te-ei.
Galhardamente, seremos nós!
A tua entrega. Retribuo.
Sou teu.
Manel
____________
Nota de CV:
(*) Vd. último poste de 20 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8305: Parabéns a você (262): José Manuel (...), ou Adilan, o meu menino da Guiné, fez 50 anos em Janeiro deste ano (Manuel Joaquim)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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1 comentário:
Leiria tem um acervo monumental e monumental, passe a expressão.
Em breve irei "visitar esse monumento à mulher", que creio que é o mesmo que muito maltratado foi, há pouco tempo.
Já contei muitos monumentos e já escrevi sobre eles.
Pena que nem todas as terras tenham esses marcos de história.
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