Guiné > Zona Leste > Pirada > 1965 > "O meu grande Amigo Gramunha Marques", nas palavras do António Pinto... Poucos dias antes de morrer, em Madina do Boé, heroicamente, em grande sofrimento... "Janeiro de 1965. Em primeiro plano, o Alf Mil Martinho Gramunha Marques, eu [António Figueiredo Pinto, Alf Mil, BCAÇ 506, Nova Lamego, Beli, Madina do Boé, 1963/65] e o Sarg Piedade. Foto tirada em Pirada" (AP)...
Segundo pesquisas feitas pelo nosso camarada José Martins, o Martinho Gramunha Marques, Alferes Miliciano Comando, natural de Cabeço de Vide / Fronteira, inumado no cemitério de Cabeço de Vide, tombou em Madina do Boé em 30 de Janeiro de 1965 (É também essa data que consta na lista dos mortos do ultramar, da Liga dos Combatentes). Pertencia à 3ª Companhia de Caçadores Indígenas.
Foto: © António Pinto (2007). Todos os direitos reservados.
1. Pode ler-se no blogue Quem Vai à Guerra, o seguinte, como "sinopse" do filme de Marta Pessoa, a estrear no cinema comercial a 16 de Junho, em Lisboa, Porto e Aveiro:
"Passados 50 anos desde o seu início, a guerra é, ainda hoje, um assunto delicado e hermético, apoiado por um discurso exclusivamente masculino, como se a guerra só aos ex-combatentes pertencesse e só a eles afectasse.
"QUEM VAI À GUERRA é um filme de guerra de uma geração, contado por quem ficou à espera, por quem quis voluntariamente ir ao lado e por quem foi socorrer os soldados às frentes de batalha. Um discurso feminino sobre a guerra".
2. A pretexto ou a propósito deste filme do papel (invisível) das mulheres na guerra colonial (***), fomos recuperar a mensagem, de Junho de 2007, enviada por Adelaide Gramunha Marques, nome de solteira, irmã do nosso camarada Martinho Gramunha Marques, morto em combate (*)... Este é mais um testemunho pungente, de mais uma mulher que só 42 anos soube, através do nosso blogue, das circunstâncias em que morreu, exangue, o seu irmão (**):
[...] Luís Graça
Estou a escrever-lhe porque através de um dos meus sobrinhos veio parar-me às mãos um blogue que fala da Guiné, daqueles que por força do destino ou da cegueira de um homem, se viram envolvidos em lutas que não provocaram e cujo desfecho final nem sempre foi o mais agradável.
Deixe que me apresente primeiro: o meu nome é Maria Adelaide Gramunha Marques Sales Crestejo, irmã do falecido Martinho Gramunha Marques.
Quero que saiba que a minha primeira reacção quando vi o blogue, foi de expectativa pois fiquei entusiasmada com a ideia de que aqui podia finalmente encontrar alguém, que durante aquele período de tempo em que ele esteve na Guiné, conviveu com ele, quem sabe assistiu aos seus últimos momentos, o confortou, lhe deu apoio enfim, não o deixou morrer sozinho.
Quando vi a mensagem do [...] António Pinto e vi o nome do meu irmão ali escrito com todas as letras (**), nem parei para pensar e foi então que um murro me atingiu em cheio o estômago, a cabeça começou a girar e as lágrimas não paravam de brotar dos meus olhos.
Ali à minha frente estava aquilo que durante anos e anos eu tentei saber e nunca tive ninguém que mo dissesse. Como foi a morte do Martinho Gramunha Marques ? O meu coração pedia a Deus que tivesse sido rápido, que ele não tenha sofrido.
Agora sei que isso não foi assim. Agora que já passaram 2 dias desde que tive conhecimento da vossa existência, e tendo lido com mais calma alguns dos comentários e narrativas, acho que foi bom, esta revelação aproximou-me mais dele.
Há no entanto tanta coisa que eu gostaria de saber, por essa razão lhe escrevo este email, pois gostaria se isso fosse possível, entrar em contacto directo com o [...] António Pinto, seja através de telefone ou email.
(...) Luís Graça, não quero terminar este email sem antes mandar para si e para todos os que de uma maneira ou doutra tornaram este cantinho uma realidade, um BEM HAJAM e as maiores felicidades.
Adelaide Gramunha Marques
[ Revisão / fixação de texto / cor a bold: L.G.] (***)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 20 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1862: 42 anos depois, com emoção e revolta, sei das circunstâncias horríveis em que morreu o meu irmão... (Adelaide Gramunha Marques)
[ Revisão / fixação de texto / cor a bold: L.G.] (***)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 20 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1862: 42 anos depois, com emoção e revolta, sei das circunstâncias horríveis em que morreu o meu irmão... (Adelaide Gramunha Marques)
(**) Vd. poste 17 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1437: Estórias de Madina do Boé (António Pinto) (1): a morte horrível do Gramunha Marques e o ataque a Beli em que fui
(***) Último poste da série > 24 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8315: As mulheres que, afinal, foram à guerra (9): Maria Arminda Santos, a decana das enfermeiras pára-quedistas, participante do filme Quem Vai à Guerra (a estrear no cinema comercial, a 16 de Junho, em Lisboa, Porto e Aveiro)
2 comentários:
Zé Martins:
O nosso camarada Martinho tem nome de rua em Castelo de Vide, concelho de Fronteira, distrito de Portalegre... Tenho dúvidas sobre a data em que morreu (30/1/65 ou 28/5/65, como já escrito por ti)... Outra coisa: Ele era "comando" ou "operações especiais" ?
Nunca mais tive notícias nem da irmã (que consta da lista de nomes da nossa Tabanca Grande) nem do sobrinho...
Um abraço. Luis
Pesso desculpa caro amigo Luís o Martinho era natural de Cabeço de Vide e não Castelo de Vide e efectivamente tem uma rua com o seu nome que é a rua mais comprida da vila.
Um abraço
João Espada
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