sábado, 28 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8345: Efemérides (69): 28 de Maio de 1969: o ataque de 40 minutos a Bambadinca (Carlos Marques Santos / Beja Santos / Luís Graça)




Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCS do BCAÇ 2852 (1968/70) > O Alf Mil de Transmissões, Fernando Calado, de braço ao peito, junto à parede, crivada de estilhaços de granada de  morteiro, das instalações do comando, messe e dormitórios de oficiais e sargentos, na sequência do ataque de 28 de Maio de 1969. Esta era a parte exterior dos quartos dos oficiais, mais exposta, uma vez que o ataque partiu do lado da pista de aviação. 

O Fernando traz o braço ao peito, não por se ter ferido no ataque mas sim por o ter partido antes, num desafio de... futebol. Infelizmente não temos mais fotos dos efeitos (de resto, pouco visíveis) deste ataque.

Foto: © Fernando Calado (2007). Todos os direitos reservados.





1.  Foi há 42 anos, a 28 de Maio de 1969: pouco mais de dois meses depois da grande Op Lança Afiada, que varreu toda margem direita do Rio Corubal, desde a foz até ao Xitole, o PAIGC atacou em força Bambadinca... 

Fomos recuperar algumas versões já publicadas no blogue, na esperança de ainda aparecer alguém que tenha testemunhado os acontecimentos - alguém da CSS/BCAÇ 2852 ou das sunubnidades adidas (Pel Caç Nat 63, Pel Mort 2106, Pel AM Daimler 2046 - que possa, com mais propriedade e autoridade, dizer o que se passou nessa noite... Falta-nos a versão (escrita) dos nossos camaradas que estavam lá nessa noite... Ao longo destes últimos anos tenho "ouvido" versões pontuais... (LG)




(i) O ataque a Bambadinca...visto de Mansambo

por Carlos Marques Santos (ex-Fur Mil, CART 2339, Fá e Mansambo, 1968/69) (*)


Dia 28 de Maio de 1969 ... Por volta das 00.30h ouvimos rebentamentos para os lados da Moricanhe. Mansambo ficava a sul de Bambadinca.

Afinal era Bambadinca. Era a primeira vez que tal sucedia. As minhas notas dizem que a 29 de Maio de 1969 fui informado às 5.30h que o meu Pelotão, o 3º da CART 2339, iria reforçar a sede de Batalhão por 15 dias.

Reforçar a sede do Batalhão? Coisa grossa, pensámos. Seguimos e aí tomámos conhecimento da destruição parcial do pontão do Rio Udunduma, afluente do Geba, na estrada Xime-Bambadinca.

Chegados à sede de Batalhão, iniciámos às 16h, com o Pel Caç Nat 63, a ocupação do pontão para sua defesa e de Bambadinca. No dia 30, fomos rendidos por 2 pelotões. Dia 31, pelas 14.00h fomos novamente para a ponte.

Dia 2 de Junho de 1969, pelas 20.30h, rebentamentos. Era Amedalai. 15 minutos depois Demba Taco e imediatamente Moricanhe. Dia 4 Moricanhe era evacuada para reforço de Amedalai. Dia 11, Mansambo era atacada e logo depois o Xime.

Regressámos a Mansambo.

A [, CCAÇ 2590,] futura CCAÇ 12 passou aqui nestes dias conturbados para iniciar a sua comissão [, em Contuboel]. [Mais concretamente, na manhã de 2 de Junho].




(ii) Três linhas telegráficas na história do BCAÇ 2852
por Luís Graça (**)




(...) Deixem-me só lembrar que, dois meses depois desta operação [, Lança Afiada,], o PAIGC retribuiu a visita das NT e apareceu às portas de Bambadinca em força: mais de 100 homens, três canhões sem recuo, montes de LGFoguetes, morteiros... 

Esse ataque ficou célebre: os camaradas de Bambadinca, segundo algumas versões que ouvi na altura, da "velhice",  e dados que confirmei mais tarde, teriam sido apanhados com as calças na mão, far-se-iam quartos de sentinela sem armas, não havia valas suficientes, houve indisciplina de fogo, etc.... Claro que no dia seguinte o Caco Baldé , alcunha por que era conhecido o Gen Spínola, deu porrada de bota a baixo, na hierarquia do comando do batalhão, do tenente-coronel (*Pimentel Bastos, o célebre Pimbas) até ao capitão da CCS (...).

A sorte da malta de Bambadinca (Comando e CCS/BCAÇ 2852, Pel Caç Nat 63, Pel Mort 2106 e Pel AM Daimler 2106, sem esquecer os civis...) terá sido, diz-se ainda hoje,  os canhões s/r, postados ao fundo da posta,  terem-se enterrado no solo e a canhoada cair na bolanha... Quando nós, periquitos da CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12), lá passámos, menos de uma semana depois, a 2 de Junho, a  vindos de Bissau e do Xime a caminho da nossa estância de férias (Contuboel, um mês e meio de paraíso... seguido depois de 18 meses de inferno...quando fomos justamente colocados... em Bambadinca), alguns dos nossos camaradas da CCS do BCAÇ 2852 ainda falavam com emoção deste ataque:
- Podíamos ter morrido todos - dizia-me o 1º cabo cripto Agnelo Ferreira, da minha terra, Lourinhã (...)

Na história do BCAÇ 2852, o ataque (ou melhor, "flagelação") a Bambadinca é dado em três linhas, em estilo telegráfico: "Em 28 [de Maio de 1969], às 00H25, um Gr In de mais de 100 elementos flagelou com 3 Can s/r, Mort 82, LGF, ML, MP e PM, durante cerca de 40 minutos, o aquartelamento de Bambadinca, causando 2 feridos ligeiros. " (...).



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) e CCAÇ 12 (1969/71> Uma jogatana de futebol, no campo de futebol do quartel, que ficava dentro do arame farpado... Ao fundo, as instalações de comando e, a seguir ao planalto de Bambadinca, a grande bolanha... A foto é tirada, do lado da pista, da direcção de onde terá partido o ataque de 28 de Maio de 1969, mal passava da meia noite.

 Foto: © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados.



(iii) Finete está a arder?

por Beja Santos (ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) (***)

 

(...) Em socorro de Finete...

Era precisamente meia noite e vinte e cinco [ de 28 de Maio de 1969] quando começámos a ouvir roncos em catadupa dos obuses, uma sinfonia de armas pesadas, rockets e morteiros, a terra tremia bem perto de nós, o negrume da noite deu lugar a riscos desses pequenos cometas que são as balas tracejantes a esvoaçar no éter. Ainda a limpar-me , subo ao abrigo onde Ussumane Baldé assiste deslumbrado ao foguetório e sinto o coração contricto quando lhe pergunto:
- Ussumane, é Finete que está a ser atacada? - A resposta é me dada pelo seu olhar súplice:
- Ah, meu alfero, eles vão partir Finete todinha!.

Os minutos passam e não vejo chegar resposta do fogo de Finete.
- Que é que leva aqueles gajos a demorarem tanto tempo a reagir? - A multidão cresce na parada, não há militar e civil que não esteja esgazeado a ver este ataque assustador, quer pelo porte, quer pela falta de reacção.

De vez em quando há fogachos em direcção contrária, mas quem domina nesta cantilena de morte são as armas pesadas e os sons que conheçemos ao armamento do PAIGC. O meu olhar mareja-se de lágrimas incontidas, de tudo me recrimino por não ter pensado que o PAIGC ia rapidamente embalar uma resposta à nossa aparição em Sinchã Corubal. O fogo atroador prossegue, todos lastimam a destruição de uma Finete e há quem já vaticine que está reduzida a escombros.

Pela última vez, no alto daquele abrigo que abre para Sansão e que numa grande angular permite ver tudo o que é floresta de 14 quilómetrs até Finete, vejo e olho e começo a sentir no ar a nuvem espessa de um fogo que devasta quem vive para aqueles lados do Geba. É então que grito que vou partir com os voluntários que se oferecerem , em auxílio de Finete. Para quem falou de prudência à hora do almoço, é exactamente o oposto o que se está a viver no frenesim na parada de Missirá: O Setúbal já faz roncar o Unimog 404 para onde vão saltar cerca de 20 voluntários armados até aos dentes.

No meio daquele desatino, ainda consigo seleccionar dois bazuqueiros, três apontadores de dilagrama e levo o morteiro 60. Sento-me ao lado do Setúbal e determino:
- Daqui até à entrada de Canturé podes ir a 100 à hora. Depois páras, iremos todos a pé os últimos 4 quilómetros.

A corrida desenfreada é digna de um filme: aos tombos dentro da caixa do Unimog, os meus soldados examinam as cartucheiras, as cavilhas das granadas, a posição em riste das metralhadoras; gritamos como num manicómio acerca de cuidados que sabemos que não iremos cumprir, zelos impossíveis de respeitar, apelo à serenidade que ninguém controla. E minutos depois, muitos minutos depois, o Unimog pára arfante onde começa a longa recta de Canturé, muito antes da curva que se orienta para Gambaná e daqui para Mato de Cão.

O Setúbal vai sozinho na viatura e de faróis apagados. Graças a uma nesga de lua, dez homens de cada lado flanqueiam a picada.O ar está empestado pela pólvora. Caminhamos à espera do pior. A prudência vai aparecer a dois quilómetros de Finete, onde o mato é denso e os poilões escondem o luar. De tanto gritar durante a viagem, como se estivéssemos a incutir coragem uns aos outros, damos agora com o silêncio sepulcral que nos envolve. Que raio de Finete é esta que não tem cubatas a arder, nem se ouvem tiros isolados, nem gritos dos agonizantes?

Com alívio, em marcha lenta, passamos os pontos onde era possível o inimigo estar emboscado. E do alto do alcantilado, que é essa inclinação abrupta que descemos e subimos para chegar ou partir de Finete, assobia-se aos sentinelas que respondem com entusiasmo. Aguarda-nos um quadro surreal: somos recebidos com entusiasmo, abraços, tudo quanto é sinal de boas vindas. Vejo Bacari Soncó avançar em passo lesto e abraçar-me. É a medo e com a voz embargada que lhe pergunto:
-Irmão, temos muitos mortos? - Um olhar coruscante precede o atónito da resposta:
- Mortos, mortos de quê?. Mortos só se for em Bambadinca, ali é que há manga de canseira!- Atónito estou eu:
-Bambadinca, então foi Bambadinca que foi atacada?

Os pormenores do ataque a Bambadinca, em carta enviada à Cristina

E o Unimog marcha aos tropeções pela bolanha de Finete. Quando chegamos à margem do Geba, o canoeiro Mufali vem buscar-nos. O rio está na vazante, entramos na canoa com lama até à cintura. Na outra margem aguarda-nos o Machado e as suas Daimlers. Enquanto subimos a rampa para o quartel, dá-me os pormenores do ataque.

Em aerograma à Cristina, no rescaldo da manhã seguinte:

Os rebeldes vieram pela pista de aviação e cemitério, atacaram o quartel frente à porta de armas, perto da tabanca fula, onde o Almeida (Pel Caç Nat 63) tem a sua tropa, as morteiradas caíram perto da central eléctrica, residência de oficiais e sargentos. Todos, que nunca tinham sonhado em tal arrojo, encheram-se de pânico, e vieram para a parada onde desataram a fazer fogo desnorteado, e só não houve feridos e mortos por milagre.

O Capitão Neves foi para o morteiro enquanto a tropa do Almeida repelia os rebeldes que avançavam para a residência dos oficiais. Depois retiraram e entretanto o pesado morteiro de Bambadinca começou a reagir. Há muitos quartos esburacados e tectos desfeitos. Só há um ferido ligeiro: o apontador de morteiro do Almeida que ficara em Finete enquanto eu estava numa emboscada, ainda ontem. Esta é a resposta à grande operação do Corubal, de há dois meses atrás. Este o ajuste de contas....


A recordação mais impressiva dessa madrugada era a mulher do Tenente Pinheiro à porta do abrigo, enquanto as crianças dormitavam lá dentro. Ao amanhecer, verificámos a extensão dos danos, mas o meu lugar já não era ali. Ainda aproveitei para fazer compras de víveres, trazer algumas camas e fardamento. (...)



(iv) A verdade e a honra: Pimentel Bastos, um oficial português

por Luís Graça (****)


(...) O Beja Santos que,  como sabem,  veio a correr, como mais 20 voluntários, de Missirá em socorro de Finete (que ele julgava que estava a ser atacada) e que, chegado aí, descobriu que o ataque era a Bambadinca, e que foi o primeiro a chegar à sede do batalhão, nessa noite de 28 de Maio de 1969 (vd. post de 1 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1012: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (3): Eu e o BCAÇ 2852, uma amizade inquebrantável ), vem em defesa da honra do seu comandante e seu amigo (um homem culto e sensível), garantindo-me, sob palavra de honra, que o Pimbas não estava em Bambadinca, mas sim em Bissau, de férias ou talvez em serviço, tanto faz… Logo nunca poderia ter sido ele o protagonista da humilhante cena no corredor, nas instalações dos oficiais, com o 2º comandante, de pistola em punho, a gritar: - Ó Pimbas, não tenhas medo!...

Aproveitou, o Beja Santos, no telefonema que me fez, na manhã do dia 2 de Agosto [de 2006], antes de ir de férias, também para me corrigir o seguinte ponto: o major que tinha a mania de andar com pistolas Walther em punho, à cowboy, era o de operações, o Viriato (Viriato Amílcar Pires da Silva), e não o 2º comandante, major Bispo (Manuel Domingues Duarte Bispo)…

(...) Compulsando a história do BCAÇ 2852, constato o seguinte, relativamente à actividade das NT no mês de Maio de 1969:

(i) dia 1, o Cmdt (Pimentel Bastos) deslocou-se ao local da Op Cabeça Rapada III;
(ii) a 8 acompanha o major de operações em visita ao Xitole e à Ponte dos Fulas;
(iii) a 12, os dois estão em Fá;
(iv) a 14, o Cmdt acompanha o Cmdt do Agr 2957 (coronel Hélio Felgas) em visita a Mansambo, Ponte dos Fulas, Xitole, Saltinho, Quirafo, Dulombi e Galomaro;
(v) a 24, o Cmdt deslocou-se ao Agr 2957 (com sede em Bafatá);
(vi) a 25 o Cmdt Militar e o Cmdt Agr 2957 visitam Bambadinca;
(vii) a 28, o Cmdt do Agr 2957, visita Bambadinca (depois do ataque, obviamente)…

Com esta actividade toda, não me parece razoável que o Pimental Bastos estivesse de férias, embora provavelmente já as merecesse: O BCAÇ 2825 partiu no Uíge, a 24 de Julho de 1968, e na estação seca de 1968/69 teve uma intensa actividade operacional, incluindo a Op Lança Afiada, a qual, segundo o Beja Santos, marca o princípio da desgraça do nosso tenente-coronel…


(...) Como é timbre da nossa tertúlia e e de acordo com o nosso código de ética, temos o direito à verdade, devemos sempre prezar a verdade dos factos… Temos também que prezar a honra dos nossos camaradas e até daqueles que mandaram em nós (umas vezes bem, outras vezes mal, não vamos agora discutir isso)… E sobretudo temos a obrigação de respeitar a memória dos nossos mortos – de todos os nossos mortos - que, esses, já não podem infelizmente defender-se nem apresentar a sua versão dos acontecimentos… (...) (*****)
_________________


(*****) Último poste desta série > 28 de Maio de 2011 >Guiné 63/74 – P8343: Efemérides (47): Conferência “Presença Portuguesa em África” pelo TCor José Brandão Ferreira, em Lisboa, 9 de Junho de 2011

39 comentários:

regina disse...

Camaradas:

Já aqui no blogue contei a história da minha passagem por Bambadinca, quinze dias depois do primeiro ataque e véspera do segundo. Segundo ataque que, na opinião de alguns, não passou de um falso ataque provocado pelos defensores ainda apavorados pelo primeiro. Quando lá dormi, obrigaram-me a ir para um abrigo até à uma da manhã. Ordens do Pimbas. Lembro-me de o Almeida me ter mostrado os dois ou três locais onde umas morteiradas provocaram estragos. Também me disse que encontraram no perímetro do aquartelamento cerca de uma centena de empenagens de granadas das diversas armas IN.

Muito mais havia a dizer mas…
Um abraço a todos.
Fernando Gouveia

Fernando Gouveia disse...

O comentário anterior não tem nada a ver com a Regina, minha mulher. Partidas da informática.

Fernando Gouveia

antónio graça de abreu disse...

Isto é uma maravilha!...

Primeiro, temos um alferes de braço ao peito, diante de uma parede esburacada por estilhaços de um ataque ao aquartelamento.
Afinal o homem caiu, foi acidente a
jogar futebol, nada teve a ver com a guerra. Mas as imagens estão lá e enganam qualquer lorpa ou inteligente ou tanso historiador, daqueles que acreditam que fomos derrotados na Guiné pela superioridade bélica do PAIGC.


Segundo, há tempos que não me ria com as aventuras militares do Tigre de Missirá, o nosso Mário Beja Santos. Neste caso a descrição da ida a Finete, entre lágrimas, com Finete destruída, acompanhado por vinte gloriosos voluntários, para salvar os últimos pobres de Finete.
Chegados a Finete, pergunta Mário Beja Santos ao milícia Soncó:

"Irmão, temos muitos mortos? Um olhar coruscante precede o atónito da resposta:
Mortos, mortos de quê? Mortos só se for em Bambadinca, ali é que há manga de canseira."

O excelente Raul Solnado, na história da sua ida à guerra, não diria melhor.

Um abraço,

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Meu caro Fernando:

Para um "pira" acabado de desembarcar numa LDG no Xime, e que faz o percurso Xime-Bambadinca, em coluna auto, com forte protecção, e debaixo de grande tensão, na manhã de 2 de Junho de 1969, a imagem do amontoado de invólucros (e empenagens) de granadas de morteiro e canhão s/r é das coisas que ficam logo na retina...

Fiz/fizemos o mesmo "percurso turístico" que tu, ao passar e parar em Babambadinca, a caminho do centro militar de Contuboel (por exemplo, visita aos quartos atingidos por morteiradas)... Felizmente que, embora tendo bom armamento (e até sofisticado), os artilheiros do PAIGC eram em geral mauzinhos, por falta de formação técnica...

O ataque a Bambadinca teve sobretudo impacto político e psicológico... É de destacar a "ousadia" do PAIGC... E a data escolhida (28 de Maio) também não terá sido arbitrária...

Um abraço do Luis Graça

PS - Interessava-me saber qual foi a "leitura" e a "reacção" do teu então comandante, o Cor Hélio Felgas (Agrupamento nº 2957, Bafatá)...

Anónimo disse...

Para além de se assinalar mais uma efeméride na "petite histoire" da guerra, é uma boa altura para se perguntar aos nossos camaradas da CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) e subunidadades adidas o seguinte:
- O ten cor Pimentel Bastos estava ou não estava nessa noite em Bambadinca ?
- Quantas senhoras (e crianças) de militares viviam no perímetro militar de Bambadinca ?

Abraços. Luís Graça

Anónimo disse...

Que a defesa militar de Bambadinca foi descurada, não temos dúvidas... Estava-se sob o efeito psicológico, positivo, da Op Lança Afiada... Ninguém acreditava que alguma vez Bambadinca pudesse ser atacada... Em Maio de 1969, Bambadinca tinha apenas os seguintes efectivos:

(i) Comando e CCS do BCAÇ 2852

(ii) Pel AM Daimler 2046

(iii) Pel Mort 2106 (-)

(iv) Pel Caç Nat 63


Casa arrombada, trancas à portas... Daí o desgraçado do Carlos Marques Santos ter saído de Mansambo para ir "montar a tenda" na ponte (semidestruída) do Rio Udunduma... Daí as emboscadas (todos os dias) em Bambadincazinho (na célebre Missão do Sono), a abertura de valas à pressa...São factos a lembrar.

Luís Graça

alma disse...

Doze dias após o ataque cheguei eu.

Calculem o ambiente..com os coman-

dantes à espera das porradas.Sempre

estive convencido que o IN anteci-

pou a acção, porque já sabia da

minha vinda...Abraço. J.Cabral

alma disse...

Creio ter sido o meu Pelotão a render o Carlos M.Santos,na Ponte do Rio Udunduma..Excelente local para o início da comissão..Abraço.

Jorge Cabral

Anónimo disse...

É por estas e outras que eu deixei de vir ao blogue, por causa das elites que por aqui há, então o Graça Abreu faz troça deste texto e aqui ninguém diz nada, ele brinca com os Camaradas e fica tudo calado, não se pode tocar no Senhor, quando eu dizia algo discordante aqui del rei toda a gente me queria comer e agora nada dizem. até outro dia.

Amilcar Ventura

Torcato Mendonca disse...

A minha dificuldade, temporária espero, em ler e escrever agravou-se.
Tento. Assim:
O C.M. Santos sintetiza bem o que se passou com o 3º Grupo da 2339. Soubemos, ainda durante o ataque ou logo a seguir onde era e admiramo-nos (Ver Transmissões e Cripto).
Era natural o Paigc retaliar. Fizera connosco já. Em 2 de Abril com uma emboscada e mina comandada; em 15 de Maio caí numa emboscada deles com o meu grupo. A 28 foi o ataque a Bambadinca, inesperado para muitos que não ligavam ás informações e não “sabiam” o que se passava nos Nabijões. Já escrevi sobre isso tudo.
O ataque deve ser contado por quem lá estava. Nem tudo e é compreensível. Havia um responsável pela defesa, havia a cadeia de comando…e havia a Administração Colonial…Estavam lá Senhoras e pelo menos os filhos do Tem. Pinheiro.
Antes do ataque, como não havia portas em Mansambo ou nas Tabancas, batia uma e nós saltávamos…saída.e sorriam. Depois do ataque começou a dar-se o inverso e ainda hoje sorrio.
A 2339 com o seu Capitão partiu com dois Grupos, na madrugada de 29/Maio para Bambadinca. Um Grupo ficou lá e o outro regressou ao fim do dia, se bem me lembro (era o meu) para, passados dias ir para as Tabancas. Tenho um escrito, falta teclar e não convém agora por razões óbvias, sobre a Vida do meu Grupo em dois messes…
O Ventura parece ter alguma razão. Se me é permitido digo a ele para não se meter nesta “guerra” de diários, afins e eteceteras.
Sou obrigado a parar.
Passem bem Ab ps O Taco Calado se estava lá pode deixar de estar Calado...era de TRMS...se estivesses fardado oa falta do cinto dava "porrada".

Hélder Valério disse...

Caros camarigos

Penso que trazer aqui esta efeméride é uma forma de unir à volta de um local, Bambadinca, um conjunto de emoções e recordações que são caras a todo um conjunto de camaradas que, por um motivo ou por outro, tiveram algum relacionamento com esse local e, em particular, com o acontecimento em si. E, por extensão, dar a conhecer aos outros o acontecimento e a sua envolvência.

Para além do mais acho até que a questão tem o seu quê de pedagógica na medida em que é uma 'prova provada' de como o facilitismo e até mesmo alguma arrogância relacionada com o desprezo que alguns teriam (terão) pelo inimigo, pode conduzir a situações perigosas e algumas com desfecho menos bom, lembro-me, por exemplo, da emboscada à coluna de Teixeira Pinto em final de Outubro ou início de Novembro de 72.

Deste modo, sobre este ou outros acontecimentos semelhantes e marcantes, não só se presta homenagem aos participantes como também se pode aproveitar para extrair as ilacções que forem possíveis.

Quanto a comentários jocosos ou que procurem aproveitar a situação para 'outras extrapolações' quase que apetece dizer "e bumba! ... a dar com a farinha!" mas pronto, siga o vira!

Abraço
Hélder S.

alma disse...

Podem retirar o meu comentário

"jocoso". Sobre o que se passou,

oiçam quem lá estava.O Calado e o

Augusto até costumam comparecer

nos nossos Encontros..

Abraço.

Jorge Cabral

Joaquim Mexia Alves disse...

Meus caros camarigos

De tudo isto, retiro uma imagem: como teria sido interessante, (sem haver quaisquer vitimas nem danos obviamente), tal acontecer no tempo do meu Batalhão em Bambadinca, quando a messe de oficiais parecia mais um hotel de férias em África do que um comando de um qualquer Batalhão em "ordem de guerra".

Um abraço camarigo para todos

Uma nota:

Caro António Graça de Abreu

O teu comentário não faz jus ao homem que és, e eu conheço.

E é pena que assim seja.

Um abraço camarigo para ti

Joaquim Mexia Alves disse...

Meu Caro Jorge Cabral

Não vejo porquê retirar o teu comentário?

Teve graça e não ofendeu ninguém!

Curiosamente olho para baixo e vejo que a palavra que devo escrever para colocar este meu comentário é, calcula, calculem:
"digno"

Grande abraço

alma disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Torcato Mendonca disse...

Descansei o olho, já nem sei se direito ou esquerdo e, antes de sair zás...oh meu caro Jorge mas que aconteceu? Essa agora...um fulano não pode dizer o que disseste?

Por favor não brinquem comigo. Contigo jamais até porque és a Alma que por cá anda. Eu procuro a minha.

meu caro Amigo o meu abraço fraterno e gostava bastante de te abraçar dia 4 de Junho. Faço os possíveis e por isso páro já

Ab T, para ti e para todos

Fernando Gouveia disse...

Camaradas:

O primeiro ataque a Bambadinca pareceu-me obvio, bem como aos comandos de Bissau e Bafatá. Com o abandono de Madina do Boé e o fracasso da operação “Lança Afiada era de esperar isso. Foi por essas e por outras que fui parar a Madina Xaquili quinze dias depois do primeiro ataque.

Quanto a esse ataque parece que não há grandes dúvidas. Pessoalmente gostaria muito era de ver discutir o segundo, (na noite seguinte à que lá dormi a caminho de Madina Xaquili) pois há quem diga que não chegou a haver inimigo!!!

Um abraço a todos.
Fernando Gouveia

Luís Graça disse...

Diz o nosso camarigo António Graça de Abreu, : "Isto é uma maravilha! Primeiro, temos um alferes de braço ao peito, diante de uma parede esburacada por estilhaços de um ataque ao aquartelamento. Afinal o homem caiu, foi acidente a jogar futebol, nada teve a ver com a guerra. Mas as imagens estão lá e enganam qualquer lorpa ou inteligente ou tanso historiador, daqueles que acreditam que fomos derrotados na Guiné pela superioridade bélica do PAIGC" (...).
Como editor responsável por este poste, devo fazer um esclarecimento. António: Para evitar qualquer interpretação errónea, eu acrescentei à legenda: " Infelizmente não temos mais fotos dos efeitos (de resto, pouco visíveis) deste ataque". (...)
Como sabes, já aqui publicámos centenas de fotos de Bambadinca... Mas por muito rico e diversificado que seja o nosso arquivo fotográfico (graças à generosidade de muitos camaradas), não temos fotos para "cobrir" todas as situações... Esta foto (a do Fernando Calado) foi utilizada, pela 2ª vez, para "tapar um buraco"... Nem de longe nem de perto, quis "manipular" a informação, embora nenhum editor, autor ou comentador deste blogue esteja felizmente acima de qualquer crítica... Embora não podendo ser juiz em causa própria, tenho que protestar a minha boa fé e a minha honestidade intelectual: não há nada, na minha legenda, que autorize a tua insinuação, até porque para mim todos os leitores são pessoas inteligentes... Com um abraço camarigo. Luis


PS - Claro que não levo a mal a ironia do teu comentário...

Luís Graça disse...

Joaquim:

NO tempo em que estive em Bambadinca (finais de Julho de 1969 / princípios de Março de 1971), não vou dizer que aquilo era uma "estância de férias"... Para mim, e para todos os meus camaradas da CCAÇ 12, não foi, bem pelo contrário...

Mas sempre que lá dormi (ou as noites em que lá dormi), dormi bem, sem o "pesadelo" de ter saltar da cama para correr para a vala mais próxima, a 100 metros...

Na verdade, sabia que tinha "as costas quentes": tínhamos "anjos da guarda" a 500 metros na Missão do Sono (um 1 grupo de combate, à noite, em geral da CCAÇ 12 ou de algum Pel Caç Nat como o do Beja Santos, o 52, quando ele deixou Missirá em meados de Outubro de 1969); ou na Ponte do Rio Udunduma, a escassos quilómetros(também da CCAÇ 12, ouda companhia do Xime, ou de algum Pel Caç Nat); e outro ainda mais perto (e mas mais tarde, já no tempo do BART 2917), no reordenamento de Nhabijões (básicos, é verdade, mas sempre eram 30 G3)... Fora os nossos soldados (100) africanos, fulas, inimigos fidalgais do PAIGC, que viviam, dispersos, nas duas tabancas de Bambadinca, fora do "perímetrop militar"...

Em suma, havia 150 a 180 homens, fora do quartel, que tanto protegiam as costas dos oficiais superiores (todas as noites) como as minhas (sempre que eu lá dormia)...

Felizmente que o PAIGC, no tempo em que lá estive em Bambadinca, teve o bom senso de nunca mais repetir a "gracinha" do 28 de Maio de 1969 (quando eu estava a chegar a Bissau, a bordo do Niassa)...

A guerra é um paciente mas implacável jogo de xadrez... Nunca fui um bom jogador de xadrez: faltam-me essas duas qualidades, ser paciente e implacável... Prefiro por o Alfa Bravo ao Cheque-Mate... Luís

Luís Graça disse...

Fernando:

Já ouvi várias versões sobre o 2º ataque a Bambadinca, que terá ocorrido a 14 de Junho, às 3h05 da manhã, segundo a história do BCAÇ 2852: (...) "um grupo não estimado flagelou o aquartelamento de Bambadina, das direcções Oeste, Noroeste e Sudoeate, utilizando Mort 82, LGF e armas automáticas, durante 10 minutos, sem consequências"...

Eu não estava lá (estava no então paraíso de Contuboel a dar instrução de especialidade aos nossos recrutas africanos, futuros militares da CCAÇ 12)... Em caso algum duvidarei dos meus camaradas da CCS/BCAÇ 2852 e subunidades adidas que me garantem que houve um ataque (ou flagelação) e que foram a correr meter-se no abrigo...

Quem era o Almeida a que te referes ?

Anónimo disse...

Sempre que leio estas "estórias" fico com inveja...oh bambadinqueiros..foram todos uma cambada de sortudos..nós os gadamaelistas era assim..."embrulhar"..corrida para os abrigos ou espaldões de obus e morteiros... comer "vianda"..jogar poker de dados...beber old parr ou gin com água da bolanha...dormir nos intervalos...sair para o mato..."embrulhar"...... idem..isto para os graduados,porque para os soldados ainda era pior.
Eu já sabia que tinha sido assim,só estou a confirmar.
Não me lembro de ter passado um único momento agradável.
Não nos podiamos dar ao luxo de facilitar.
um alfa bravo para todos os sortudos
o invejoso

C.Martins (ex-artilheiro em gadamael)

antonio graça de abreu disse...

Prometo neste blogue não falar mais do Mário Beja Santos. Este é o meu último comentário sobre o autor do Diário da Guiné, o outro autor.
Quem anda à chuva, molha-se. É inevitável. O Mário molha-se, eu também.
Depois da sanha, da senha, da contra-senha, eu vou mais pela sombra.
E tenho coisas bem mais bonitas com que me ocupar.
E tenho defeitos.
Peço desculpa pública ao Mário Beja Santos por o ter eventualmente magoado e ter sido injusto em algumas ocasiões.
Não volto a referir-me ao MBS.

Abraço,

António Graça de Abreu

Joaquim Mexia Alves disse...

Luís

Não me fiz entender e a culpa é minha.

Quando referia:
«quando a messe de oficiais parecia mais um hotel de férias em África do que um comando de um qualquer Batalhão em "ordem de guerra".»

Não me queria referir a nenhuma situação militar de mais ou menos guerra, que para mim todos os que estiveram na Guiné estiveram em guerra, uns mais do que outros é certo, mas todos em guerra.

Referia-me ao facto de ter havido uma altura na messe de oficiais de Bambadinca, em que parecia que lá viviam tantas mulheres como oficiais!!

Era a isso que me referia, e não a nenhuns outros "considerandos".

Mas a culpa foi minha que não me expliquei.



Um abraço

Fernando Gouveia disse...

Luis Graça:

Trata-se do Alf. Chico Almeida, tranmontano como eu, comandante do pelotão de africanos nº 63 (salvo erro).

Ainda sobre o 2º ataque, nunca ouviste dizer que o tiroteio começou quando um sentitela viu ou ouviu um elefante junto à vedação de arame farpado?

Um abraço.
Fernando Gouveia

alma disse...

Luís.

O Almeida foi o meu antecessor no

comando do Pel 63.Naquele tempo os

Alferes e Furriéis dos Pel.Nativos

faziam só um ano de mato,depois

marchavam para Bissau ou Bolama.

Eu porém recusei Bolama e preferi

Missirá..E fiz muito bem..Abraço

Jorge Cabral

Hugo disse...

Faz tempo que me remeto ao silêncio, embora todos os dias e por mais que uma vez "folheie" o nosso blogue. Reparo que é preciso muito cuidado para deixar algo escrito porque as apreciações chovem, o que é salutar,e portanto todo o cuidado é pouco com o que se digita.
Hoje fiquei banzado com o relato do ataque a Bambadinca, localidade que eu, na minha ingenuidade dos vinte anitos, pensava não existir na Guiné que frequentei entre Agosto de 68 e Março de 70.(Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e São Domingos), só para avivar a memória.
Que me perdoem os homens e mulheres que fizeram a guerra em Bambadinca, mas podiam ficar-se pelas belas desrições que fazem das Messes,das Familias presentes, da vida social e do que mais constituia o seu dia a dia e lembrarem-se de vez em quando das centenas de ataques junto ao arame farpado em Gandembel,dos mortos e feridos que lá tivemos, e eramos cerca de 500 homens enterrados nos bunkers, à espera que a noite corresse bem e não nos entrassem no arame farpado.
Bolas...não me venham dizer que todas as "estadias" na Guiné eram iguais.Isso é fazer esquecer Madina do Boé, Guileje, Gadamael Guidage e outros tantos buracos onde os nosso militares faziam das tripas coração para sobreviver.
Não me sobra engenho e arte para descrever o que eram essas flagelações, mas custa-me ver que o blogue está a ficar demasiado cor de rosa.
As porradas que vou levar dos camaradas que habitualmente escrevem no blogue, serão encaradas com simpatia porque muito poucos escolheram as suas estâncias de férias.
Quando em Set 1970 fui viver e trabalhar para Angola, no Ambriz primeiro e em Camabatela por ultimo,aí sim, vi com os meus olhos o que era uma guerra convencional e de ar condicionado, com mortos e feridos em acidentes de viação e chá das cinco em casa dos gerentes coloniais das fazendas, que ainda os havia....Mas isso são outros trezentos que,por exemplo o camarada Rosinha bem conhece...
Agora a minha Guiné...poupem-me,sem ofensa para nimguem.
Um abraço
Hugo Guerra

Luís Graça disse...

Hugo, C. Martins e demais camaradas que fizeram a guerra no "corredor da morte" :

Antes de mais a minha homenagem a todos os combatentes que conheceram a guerra pura e dura do sul...

Mas, ao que eu saiba, nuncam apareceram "elefantes" junto ao arame farpado de Gadamael, de Guileje, de Gandembel, de Balana, e por aí fora... Podiam muito bem aparecer já que estes aquartelamentos estavam no "corredor transfronteiriço" para os elefantes que, com a guerra, desapareceram e agora estão a de novo voltar, dizem-me (o Pepito e a malta AD), muito lentamente, graças ao trabalho feito no Cantanhez com as populações das duas Guinés...e com a criação do Parque Nacional do Cantanhez...

Em contrapartida, havia gente em Bambadinca que via "elefantes" junto ao arame farpado... A diferença está aqui... Uns e outros merecerem o mesmo respeito e nalguns casos compaixão...

Foi, de resto, o nosso amigo e camarada Fernando Gouveia quem me veio lembrar essa história, algo parecida com a do leão de Rio Maior ou da loba da Lourinhã (minha terra):

"Ainda sobre o 2º ataque [, a Bambadinca, a 14 de Junho de 1969,], nunca ouviste dizer que o tiroteio começou quando um sentitela viu ou ouviu um elefante junto à vedação de arame farpado?"...

Essa anedota circulava no leste no meu tempo (em Contuboel, em Bafatá...) mas eu não quero magoar os meus amigos da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)... Básicos, inaptos, mentecaptos, psicóticos, loucos, apanhados, cacimbados, xico-espertos... havia-os por todos os lados...

Hugo, não podes esquecer que uns quilómetros a norte ou a oeste de Bambadinca, já não havia elefantes e a guerra era tão a sério como no "corredor de Guileje"... Por exemplo, a Poindon/Ponta do Inglês é seguramente um dos sítios mais trágicos da Guiné do nosso tempo...Foi um autêntico matadouro, ao longo dos anos... A minha CCAÇ 12 (1969/74) tem marcas indeléveis de sítios como esse...

Hugo Guerra e C. Martins, valentes guerreiros do sul, é bom que não deixem o blogue ficar "cor de rosa"...

Anónimo disse...

Ó camarada Hugo Guerra!

Que coragem!
Ando, desde 6ª.F. à noite, a matutar sobre comento...não momento.
E, agora, fazendo novo acesso a este post sobre o ataque a Bambadinca (primeiro lugar onde arrimámos, para ficar em Fá uns meses), vejo que alguém veio dizer aquilo que eu andava a matutar: digo/não digo... embora de forma mais comedida.
É que o que eu queria, afinal, dizer era da trabalheira que dariamos aos editores se escrevessemos sobre as vicissitudes dos vários ataques diários (nocturnos e diurnos) que sofriamos em Gandembel e Ponte Balana.(Pelo menos durante o quase mês e meio que durou a operação BOLA DE FOGO).
E o que teriam que contar os de Guileje, Gadamael, Guidage, etc..
Preocupação era quando estavam um dia sem atacar (-O QUE É QUE OS GAJOS ESTARÃO A PENSAR FAZER?).

Desculpem qualquer coisinha...
Alberto Branquinho

Anónimo disse...

Camarigos
Eu até sei porque fui destacado para Gadamael(motivos políticos)cujo o crime foi pertencer à pró-associação de estudantes da F.M.L.
Não,não era do pcp,se bem que os pides pensavam que sim, e por isso batante porrada levei em caxias,para além da tortura do sono.Solto, malhei com os costados na tropa,mobilizado para o ctig,passei dois dias em Bissau, e aí vou eu de batelão até cacine e de sintex até gadamael.Aí chegado deparo com um ambiente surrealista,15 minutos depois de desembarcar,parti o "bico" com "elas" a cairem junto ao arame farpado em frente aos obuses...a mata a arder... e eu em cima da roda do obus a armar aos "cucos" para demonstrar que "os" tinha no sítio...só que estava borrado de medo.Fiquei logo "apanhado do clima".
Camarigos, quando digo que muitos foram uns sortudos, estou a falar a sério, assim como quando digo que tenho inveja.
Quero realçar que não me considero nenhum herói,apenas fui objecto das circuntâncias.
Era contra a guerra,e tinha bastante consciência política...mas jamais pensei em desertar ou ser refractário...que é uma contradição..é verdade..mas o que é que querem..gosto muito de ser "tuga"..porra... estou a ficar emocionado.
Acho que já disse demais, para quem quer ficar no semi-anonimato, e tem idade para ter juízo.
Um alfa bravo para os sortudos, e principalmente para os menos...

C. Martins

Anónimo disse...

PS
Os elefantes que se viam junto ao arame farpado em gadamael eram quase sempre muitos, só que não tinham tromba ,nem grandes orelhas,nem andavam em quatro patas,mas tinham "kalashes" e rpgs...mas que eram elefantes e outras coisas que a vossa imaginação quiser..eram

C.Martins

Joaquim Mexia Alves disse...

Meus caros camarigos

Perante alguns comentários aqui colocados, resta-me pedir desculpa por me ter "armado" em combatente.

É que não estive em Guidage, Guileje, Gadamael, e outros sítios e como tal não tenho direito a contar as minhas "férias" na Guiné.

Não sou um combatente, sou um sortudo!!!

Ainda gostaria de saber quem foi que meteu uma cunha para eu ter tanta sorte em ter ido para a Guiné, para os sítios tão agradáveis em que passei dois anos da minha vida?

Pior do que eu, ou seja, ainda menos combatente, só o cozinheiro que nunca saiu para o mato!

Mato? Qual mato?

Aquilo era um jardim onde se saltava à corda e brincava à cabra cega!

Remeto-me à minha insignificância, e peço desculpa por ter estado na Guiné.

Um abraço para todos, com um sorriso, porque o humor ajuda a sentirmo-nos bem.

alma disse...

Faço minhas as Palavras do Joaquim

Mexia Alves! Visita assídua de

Bambadinca, confesso que nunca

me cruzei com nenhum elefante..

Claro, que só uma cunha valente,

me permitiu ir em rendição indivi-

dual, para um Pelotão Nativo,gozar

as delícias de Missirá..

Abraço.

Jorge Cabral

Carlos Vinhal disse...

E eu? Também tive umas férias inesquecíveis na RTO.
Não me refiro à Região de Turismo do Oeste, não, estou a referir-me à Região de Turismo do Oio, com Estações Termais concorrentes com a de Monte Real, a saber: Mansoa, Bissorã, Olossato e Mansabá. Havia também possibilidade de férias low cost nuns destacamentos periféricos, perdão, estâncias periféricas, assim tipo Cutia.
Os tratamentos eram à base de lama e água da bolanha, uma espécie de talassoterapia, mas mais sofisticada.

Hugo disse...

Camarigos Joaquim e Cabral
Tambem eu fui em rendição individual para um Pel Nativos e compreendo bem a vossa reação.Afinal eram esses Pelotões os mais atirados às feras...
Mas tambem recordo que no Ana Mafalda que me levou para a Guiné ia um Alferes de Administração Militar que se destinava a Bissau e já levava na bagagem a sua raquete de ténis.
Sempre fomos amigos mas isso não me impede de dizer que ele não foi para guerra nenhuma; limitou-se e, já foi muito, a cumprir o serviço militar em Bissau. Ainda bem para ele e tantos outros mas não cosigo admitir que ambos estivemos na guerra da Guiné.
Quanto aos elefantes,por incrivel que possa parecer, eu não conhecia a anedota.
Só sabia trautear o Hino de Gandembel.
Cheguei a estar mobilizado para um Com. de Agrupamento em Timor ,desfeito 15 dias antes de começar a forma-se no RALIS e lá fui em rendição individual.Bamburrios....
Hugo Guerra

Anónimo disse...

Já agora que aqui vim novamente, queria acrescentar, no arame farpado de Copá o que se via eram carros de combate e não ALIFANTES, o engraçado é que falam Guileje, Gadamael,Guidaje, Ponte Balanta,Madina de Boé. etc..etc.., Não percebo quando se fala em porrada na Guiné não vejo ninguém falar em Copá, enfim...

Amilcar Ventura

Anónimo disse...

Meus Senhores

Pensei que estavamos a falar SÓ de ataques a aquartelamento(s) e não da "guerra fora de portas"... para onde foi extrapolado o cotejo.

É que quanto a "guerra fora de portas" há, logo, um factor importante, que é o de muitos (a maior parte das unidades) terem permanecido todo o tempo no mesmo quartel ou na mesma (reduzida) zona e outros terem andado durante dois anos com a "trouxa" às costas, como unidades de intervenção, como "mulheres-a-dias" a fazer limpezas em casa alheia, por quase dois terços da Guiné. Transportados em colunas-auto e variadas vezes em LD, contando, neste caso, uma emboscada.

Com este comentário dou por terminada a minha intervenção.

Abraços a todos
Alberto Branquinho

Luis Faria disse...

Caros Amigos

Não quero ser intrometido e antes informar que não levei umas raquetes e sim uma viola,o que bastantes vezes me levou a incorporar bandas sinfónicas em toque ao desafio, por norma ao ar livre,em estancias de veraneio de belas e diversas paisagens,chuvesse ou fizesse sol!
Essa viola ficou por lá,ofertada.

Um abraço e boa disposição
Luis Faria

Anónimo disse...

Pronto
está o "caldo entornado"
peço desculpa a todos que se sentiram ofendidos ao chamar-lhes "sortudos"
Não foi minha intenção menosprezar e muito menos ofender quem quer que seja...
Não penso nem nunca pensei que fui melhor que os outros...só porque estive num sítio onde a guerra foi mais intensa...
Cada um sabe de si.A minha forma de estar na vida, não é propriamente vangloriar-me do que fiz,nomeadamente na guerra.
Todos fomos combatentes, mas não se pode escamotear a verdade...havia no TO da Guiné,zonas mais "quentes" do que outras.. é ou não é verdade?
Eu só falo de Gadamael, porque foi o único sítio onde estive,posteriormente também estive em Bissau já na fase de retracção das N.T. quando já não havia guerra, onde a bem da verdade, passei os únicos tempos na "descontração".
Penso que uma das finalidades do blog, é cada um relatar aquilo que passou.
Finalmente, dirijo-me especificamente ao Camarada Mexia Alves, como vou ao encontro da Tabanca Grande, terei muito gosto em conhece-lo pessoalmente, e cara a cara esclarecer todas as dúvidas que tiver sobre mim.
Ainda quero dizer a todos os camarigos, que aquilo que nos une,(ex-combatentes na guiné)é bem mais forte,independentemente das opiniões de cada um.
Por favor levem isto na "desportiva".. eu pelo menos levo.
Um alfa bravo

C.Martins

Joaquim Mexia Alves disse...

Meu caro C. Martins

Não tenho nenhumas dúvidas em relação a ti!

Limitei-me a exercer o meu "direito de resposta".

É que às vezes sabes, estes comentários fazem lembrar as conversas nas salas de espera dos consultórios: Normalmente são conversas a ver quem é que tem mais doenças e achaques!

Claro que houve locais na Guiné que tiveram guerra mais intensa, mas isso não significa que os outros não tenham sofrido duramente também.

Aliás, conheço combatentes que não tendo estado em "grandes guerras" ficaram mais afectados que outros que estiveram.

Cada um tem as suas sensibilidades e maneira diferente de as viver.

Eu, por mim, fiz sempre questão de não distinguir quem lá esteve, não deixando de reconhecer obviamente as situações mais dificeis que alguns passaram.

A camarigagem, (como gosto de dizer), que nos une é bem mais importante que tudo o resto, e é isso que importa.

Um grande abraço e até Sábado em Monte Real