quinta-feira, 26 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8331: O Alenquer retoma o contacto (6): Velhas recordações (Armando Fonseca)

1. Mensagem de Armando Fonseca* (ex-Soldado Condutor do Pel Rec Fox 42, Guileje e Aldeia Formosa, 1962/64), com data de 25 de Maio de 2011:

Caros amigos da Tabanca Grande
Cá estou de novo com um grande abraço para todos os camarigos e em especial para os editores destes magníficos trabalhos que decerto lhes ocupa muito do seu tempo, que poderia ser utilizado em outras digressões mas, como diz o velho ditado, quem corre de gosto não cansa.


O Alenquer retoma o contacto (6)

Velhas recordações

Li ontem mesmo os depoimentos da senhora enfermeira Arminda Santos**, e isso trouxe-me à ideia velhas recordações. Como disse anteriormente, muito do tempo que passei na Guiné foi a fazer segurança ao aeroporto de Bissalanca e lembro-me perfeitamente da chegada dos DOs e dos helicópteros com feridos vindos do interior, mas o que mais me chamou a atenção foram duas descrições que ainda hoje relembro com emoção.

Quando o F86 se despenhou no fundo da pista, eu estava lá. Toda a assistência se deslocou de imediato para o local, bombeiros e corpo médico, não esquecendo os curiosos, e, quando todo o mundo procurava o piloto dentro do avião que já se encontrava em chamas, apareceu ele, que tinha saltado momentos antes do embate, a sair de dentro de um monte de terra mexida que provinha das obras de ampliação da pista. Esta ampliação permitiria receber aviões comerciais a jacto, que antes das mesmas não dispunham de espaço de manobra. Então, todo empoeirado e um pouco combalido, foi socorrido pela equipa de saúde enquanto os bombeiros acorriam ao incêndio a fim de evitar uma possível explosão.

Também quando os dois T6, um dos quais pilotado pelo sargento Lobato***, se despenharam e em que o outro piloto, um Alferes recém-chegado, foi encontrado junto dos destroços do avião, não havendo mais notícias do sargento Lobato. Eu vivi de perto esse episódio, até me lembro de o seu pai se ter deslocado à Guiné para tentar ir ao Senegal para ver se tinha noticias de seu filho. Entretanto o tempo passou, a esposa apareceu vestida de escuro e para nós, que assistíamos de fora, convencionou-se que ele estaria morto.

Qual não foi o meu espanto quando anos mais tarde vejo na televisão a chegada do sargento Lobato a Portugal, agora graduado em tenente, o que me causou algum conforto por saber que afinal ele não tinha morrido.

Caro camarigo Vinhal e outros, se acharem que este meu depoimento tem algum interesse em ser publicado muito bem, caso contrário ignorem-no.

Despeço-mo com mais um grande abraço para toda a tabanca.
Armando Fonseca (O Alenquer)
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 15 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8109: O Alenquer retoma o contacto (5): O ataque de 23 de Março de 1964 a Sangonhá (Armando Fonseca)

(**) Vd. poste de 23 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8314: Tabanca Grande (286): Maria Arminda Lopes Pereira dos Santos, ex-Ten Grad Enf.ª Pára-quedista, 1961-1970

(***) Vd. postes de:

26 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3244: Bibliografia de uma guerra (32): Liberdade ou Evasão, de António Lobato (Carlos Vinhal)
e
7 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6945: Notas de leitura (145): Liberdade ou Evasão, de António Lobato (Mário Beja Santos)

1 comentário:

Hélder Valério disse...

Caro camarigo Armando Fonseca

É como dizes. Algumas coisas ficaram guardadas no fundo das memórias e às vezes é necessário que se faça algum 'clic' para elas voltarem a aflorar.

Abraço
Hélder S.