quarta-feira, 22 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25549: O segredo de... (43): Jaime Silva, ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72): na guerrra não valia tudo...



Angola > Leste > O alf mil paraquedista Jaime Silva, do BCP 21 (1970/72), em 1970,  a norte do Rio Cassai.


 Angola >  Norte - Montes Mil e Vinte > 26 de junho de 1970 > Heli SA-330 Puma na  recuperação do 3º Pel da 1ª CCP /BCP 21 (1970/72)... Nesta operação morreu um soldado do meu pelotão, 
o soldado Ramos, no dia 25 de junho de 1970, nos Montes 1020. 


Angola > BCP 21 (1970/72) > Leste > Chiume > Dezembro de 1971 > No Leste de Angola, Chiume (Cú de Judas), heli AL III  no apoio ao 3º pelotão,  1ª CCP /  BCP 21.

Fotos (e legendas) © Jaime Bonifácio Marques da Silva (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Jaime Silva (ou, de seu nome completo, Jaime Bonifácio Marques da Silva) tem cerca  de 8 dezenas de referências no nosso blogue. No passado dia 7 aceitou participar numa conversa sobre a sua  experiência como antigo combatente (*).  O evento realizou-se no ISCSP - Instituto de Ciências Sociais e Políticas, e teve a presença (inicial) do reitor da Universidade de Lisboa. 

Contrariamente aos restantes convidados (Luís Graça, Hélder Sousa e Marta Martins Silva, jornaalista), o Jaime Silva fez questão de ler uma comunicação previamente escrita.  Mandou-nos agora esse texto, fazendo questão de o partilhar com a Tabanca Grande, a que ele pertence desde 31 de janeiro de 2014 (**). 

Acrescente-se o seguinte à laia de nota biográfica: foi alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72), tem uma cruz de guerra por feitos em combate, viveu em Angola até 1974, é professor de educção física reformado, foi autarca em Fafe, em dois mandatos, nos aos 90.  com o pelouro de desporto e cultura, vive atualmente na Lourinhã, donde é natural. 



O segredo de ... (43):  Jaime Silva, ex-alf mil pqdt, BCPC 21 (Angola, 1970/72): na guerra não valia tudo (***)


ISCSP/ULisboa,  7 maio 2014


1. Começo por agradecer, à prof associada Sónia Frias, do ISCP/UL, o honroso convite para estar presente neste evento, que é também comemorativo dos 50 anos do 25 de Abril.

E quero, em especial, sublinhar e saudar o facto de a a guerra colonial ser finalmente, discutido na academia e ser tema associado e visível nos festejos do 25 de abril.

2. Introdução

Ao longo da minha vida, por inúmeras vezes, fui convidado para dar testemunho sobre a minha participação e vivência na guerra colonial. No entanto, é a primeira vez, com este objetivo, que me dirijo a uma comunidade académica e, por esse motivo, decidi escrever um texto com o objetivo de enquadrar o meu percurso de vida - a minha circunstância, até chegar às portas da guerra em Angola, onde, durante dois anos e meio, comandei, como alferes miliciano, um pelotão de soldados e sargentos, integrado nas tropas paraquedistas e sempre no “gastalho”. 

O texto tem um caracter autobiográfico em que relato alguns dos momentos mais marcantes que vivi na guerra.

3. A minha circunstância:

- Este ano de 2024 Portugal comemora os 50 anos da Revolução de 25 de Abril de 1974 e o final da guerra colonial que rebentou há 63 anos no Norte de Angola, a 16 de março 1961.

o Jornal Público, na edição de 28 de abril, editou um artigo da jornalista Teresa de Sousa, que destaca a intervenção do deputado do Livre, Rui Tavares, na Assembleia da República em dia 25 de abril.

“Rui Tavares recordou-nos a todos de uma forma pessoal e simples o que era o Portugal bafiento, repressivo, mesquinho, paupérrimo da ditadura.

(…) A pobreza era descarada e generalizada. O obscurantismo
era imposto pela censura e pela ideologia. A violência escondida. A liberdade individual era nula. O medo era a arma mais poderosa.”


- Voltando à minha circunstância, eu nasci em 1946 e cresci neste Portugal de “pobreza descarada e generalizada” , numa aldeia de trabalhadores rurais, pertencente ao concelho do Lourinhã.

Nesse tempo, uma grande percentagem das crianças não terminavam a 4.ª classe (vindo, os rapazes, a concluí-la, mais tarde, na tropa) e, muito menos, prosseguiam os estudos

- Calhou-me, na minha sorte, ter uma catequista, esposa do agrário para quem o meu pai trabalhava de sol a sol,  que, depois de me apresentar ao pároco da freguesia, convenceu os meus pais a deixarem-me ir para o seminário. Foi nos finais da década de 50.

Tinha doze anos quando transpus o portão de acesso a uma “casa” desconhecida. Nos primeiros tempos senti-me completamente fechado, desenraizado e perdido, ambiente bem retratado por Vergílio Ferreira na obra "Manhã Submersa" e, depois, no filme de Laura António.

4. A entrada no serviço militar

Em 1968, decidi sair do seminário e, quando em junho daquele ano, com 22 anos, transponho a porta de saída, só tinha uma certeza (ainda não era senhor de decidir sobre o rumo a dar à minha vida):  tinha de cumprir o serviço militar obrigatório, imediatamente.

Por via da formação do seminário acedo a frequentar o COM – Curso de Oficiais Milicianos.

Logo em setembro (de 1968)  recebo a convocatória para me apresentar em Santarém, para a inspeção militar, cujo resultado foi ficar “Apurado para todo o serviço militar” e com guia de marcha para me apresentar no quartel em Mafra, na EPI (Escola Prática de Infantaria), para frequentar o 1.º Ciclo do COM.

Entretanto, no final de outubro de 1968 sou desafiado, por um amigo, para desertar para França, "a salto". Como era preciso pagar 10 contos ao “passador” (ceca de 3800 euros, a preços de hoje) e,  como eu não os tinha, fiquei entregue à minha sorte! Ir para a guerra.

5. Selecionado para os comandos,  decido pelos Paraquedistas.

 Gorada a hipótese de desertar, a 8 de janeiro de 1969 dou entrada na EPI, onde completo o 1.º Ciclo – a recruta e, depois, o 2.º Ciclo – na especialidade de atirador de infantaria.

Em junho de 1969, termino o 2.º ciclo do COM e, antes de recebermos a guia de marcha para nos apresentarmos nas novas unidades militares, fui selecionado, com mais de uma dezena de cadetes, para me apresentar no Centro de Instrução de Comandos, em Lamego, tropa que se supunha ser só constituída para voluntários.

Fiquei siderado! Nunca me tinha oferecido para nada na tropa, nem tentado destacar-me, em coisa nenhuma durante a instrução.

No final, o grupo selecionado junta-se e há um que toma a palavra para nos desafiar:

–  Nós já não conseguimos escapar à mobilização para a guerra, por isso, é melhor oferecermo-nos para os Paraquedistas.

 E enumerou, a favor da opção – Paraquedistas  – um conjunto de fatores muito mais favoráveis em relação à nossa ida para os comandos em Lamego. 

Além do ordenado e outros fatores, o principal argumento foi: como os paraquedistas pertenciam à Força Aérea, isso permitia que tivessemos sempre o apoio imediato dos Helicópteros no transporte para as operações no mato e melhor apoio nos momentos nos dos combates mais duros e nas
evacuações dos feridos e mortos. 

E, no final, remata. 

 Além disso, ainda, vamos ter o prazer de saltar da porta de um avião em andamento, o que será fantástico”!.. 

Vim a verificar, mais tarde, que ele tinha razão.

E foi, para não ir para os comandos, que em julho de 1969, um grupo de cinco cadetes, vindos da EPI, deram entrada no RCP – Regimento de Caçadores Paraquedistas, em Tancos, para iniciarem, durante seis meses, um novo ciclo de instrução militar, sempre com um único objetivo: treinar para a guerra... “Instrução dura, combate fácil” – era o lema!

Terminado este ciclo de especialidade, fomos todos mobilizados para a guerra e no dia 8 de fevereiro de 1970 embarcámos para Angola, para o BCP 21 (Batalhão de Caçadores Paraquedistas),  os três primeiros alferes milicianos.

A partir dessa data e até 30 de julho de 1972 estive sempre no “gastalho” - em guerra comigo, contra o inimigo e nunca mais a esqueci. 

Foi uma experiência brutal, atroz e, em parte,  irresolúvel, para quem regia a sua vida por princípios humanistas e cristãos: apontar para matar, para eu próprio e os meus camaradas que comandava não morrêssemos, foi uma experiência brutal e marcou-me vivamente.

Por isso, nunca esqueci:

(i) Eu não esqueci..., a 29 de maio de 1970, o meu batismo de fogo.

Foi na primeira operação de combate em que tive a responsabilidade de comandar o meu pelotão. No decorrer da operação vi o cabo Onofre correr na direção de um guerrilheiro armado e capturá-lo à mão. Este indicou-nos um trilho que nos levou ao local onde, mais tarde, encontrámos diverso material de guerra, material médico e escolar e outras provisões. Mas antes, ao aproximarmo-nos do objetivo, somos travados e atacados com um forte poder de fogo de metralhadoras, armas ligeiras e morteiro 60.

Um mundo surreal!

(ii) Eu não esqueci...  o primeiro estropiado do meu Pelotão, o  soldado Santos, que pisou uma mina antipessoal, minutos depois dos helicópteros nos terem lançado no alto de um morro na zona de Santa Eulália. 

Foi uma visão aterradora dos efeitos da guerra. Foi a primeira vez que vi a perna de um homem esfacelada.

A perna tinha desaparecido abaixo do joelho, o enfermeiro injetou-o com morfina, um camarada levou-o às costas morro acima e, eu, enquanto contactava o helicóptero, via rádio, para o evacuar, olhava, incrédulo, para o que restava da tíbia e do perónio, cujo sangue jorrava e deixava um rasto vermelho no capim verde. 

Vinte minutos depois, empurramos o Santos para dentro do Héli e, lembro-me, de lhe gritar: 

 Aguenta, já te safaste! 

O Santos continuava a gritar: 

 Ai! Minha mãe que eu vou morrer! 

O Santos safou-se.

Nesse momento, lembrei-me do meu camarada Peralta que nos motivou a vir para os paraquedistas. Estava bem informado e tinha razão.

A mesma sorte não teve o meu primo Arsénio, soldado pertencente a uma companhia do exército,  que, na mesma zona, pisou, também, uma mina. Eram cerca das dez horas da manhã quando se deu o acidente e só, as quatro da tarde, teve o helicóptero para o evacuar para o hospital, onde veio a morrer!

(iii) Eu não esqueci... o único morto do meu pelotão,  o soldado Ramos, no dia 25 de junho de 1970, nos Montes 1020. 

O meu grupo foi transportados num helicóptero SA 330 e, simultaneamente, com a nossa aproximação ao objetivo, dois aviões de combate - T6 da FA (Força Aérea), lançavam quatro bombas de napalm sobre a base guerrilheira. 

De seguida, saltámos do helicóptero e corremos para a base guerrilheira, onde fomos recebidos com um grande tiroteio e, pouco depois, o Ramos apanha com um tiro certeiro nas carótidas que lhe ceifou a vida.

(iv) Eu não esqueci.... os dois feridos do pelotão: o 2.º sargento Galvão, a 10 de agosto 1970 na região da serra Vamba;  e o soldado Lamas,  a 6 de novembro de 1970, na região do rio Cassai, no Leste.

(v) Eu não esqueci... o cabo Lourenço, do 4.º Pelotão e meu amigo.

Morreu em combate na última operação e já com a sua comissão de serviço no final.

(vi)  Eu não esqueci...
a operação em que decidi não atacar. Na guerra não vale tudo.

Lembro-me, bem, dessa operação no Leste, a norte do rio Cassai.

Progredimos durante dois dias e, na madrugada do segundo, descobrimos um trilho. Enquanto estava a avaliar a situação, vejo um grande grupo de mulheres e crianças que vinham do rio com as cabaças cheias de água à cabeça, filhos às costas, dirigindo-se na direção do seu acampamento.

O soldado que estava na minha frente dispara uma rajada, sem consequências. Mando parar o fogo. As mulheres atiram os utensílios ao chão, agarram nos filhos espavoridas de medo, correm na direção da base e gritam numa grande algazarra para alertar os guerrilheiros: "tropa, tropa!"...

Os guerrilheiros disparam algumas rajadas, mas como entre nós e os guerrilheiros estavam as mulheres e crianças, decidi não assaltara base, evitando uma mortandade evidente que ocorreria se ordenasse o ataque.

De seguida, montei uma emboscada no local que, pelas características do terreno e pela minha experiência, previa que seria o ponto de fuga dos guerrilheiros. Passados pouco tempo, vejo vir, na nossa direção, um guerrilheiro armado que protegia um grupo com cerca de dez crianças que, em fila, fugiam do local.

Pelas crianças, dei ordens para ninguém abrir fogo e deixar o grupo prosseguir em paz.

(vii) Eu não esqueci...
a última estadia no Leste com a minha companhia, decorria o mês de abril de 1972, quando o meu pelotão foi destacado para assaltar uma base do MPLA. 

A PIDE entregou- nos um guia, pertencente aos Flexas, que se entregou às nossas tropas denunciando o local onde, antes, com os seus camaradas, tinha combatido contra a tropa portuguesa. Levou-nos direitinho à base dos ex-camaradas e, do combate, resultou a morte de cinco guerrilheiros e mais alguns feridos e a captura de várias armas.

(viii) E eu não esqueci, ainda.... no mês de abril, os breves momentos em que assisto ao interrogatório de um guerrilheiro capturado por um agente da PIDE/DGS. 

Foi em Léua, no Leste de Angola. A meio da tarde aterraram, no nosso destacamento, quatro helicópteros, donde saiu um agente da PIDE e o guerrilheiro. A chegada dos Hélis tinha como objetivo transportar um grupo de combate para assaltar uma base guerrilheira que, segundo o pide, o guerrilheiro iria confessar e dizer onde se situava.

 Foi destacado o meu pelotão para a assalto e, a determinada altura, o comandante da esquadra e Helicópteros chama a atenção para o adiantado da hora e que, dificilmente haveria luz do dia para efetuar o percurso de ida e volta.

Esperámos, mas do pide não havia novidades. O meu comandante ordena-me, então, que vá perguntar ao agente para saber se ainda demorava muito o interrogatório. Chego ao local e transmito a mensagem ao pide que, face ao silêncio absoluto do guerrilheiro, ainda não tinha conseguido “sacar-lhe” nenhuma informação e, incomodado pelo seu fracasso, julguei, diz-me: 

 Espere aí, sr. alferes, ele vai já bufar tudo. 

De seguida pergunta-lhe:

– Como te chamas? 

Um silêncio absoluto por parte do guerrilheiro e, ato contínuo, o agente rapa de um pau – tipo taco de basebol – e acerta-lhe com força no nariz e pergunta: 

 Como te chamas?

Depois, face ao silêncio daquele homem, repete o mesmo golpe nos joelhos, nas canelas e nos tornozelos e, eu, perplexo saio dali, imediatamente. Felizmente para o guerrilheiro – homem de grande coragem - que não traiu os seus camaradas - e para o meu grupo de combate, a operação foi abortada. Para nós, foi menos uma no pelo!

Nunca esqueci, apesar da Guerra, que não valia tudo! 

Durante os dois anos e meio da minha comissão de serviço obrigatório, nunca o meu grupo de combate cometeu alguma atrocidade perante a população civil capturada, violou mulheres ou matou qualquer guerrilheiro gratuitamente, fora, evidentemente, nas situações de confronto direto entre nós: em que sobrevive quem dispara primeiro!

Mas eu vi!.. Eu presenciei! Nem sempre alguns dos meus camaradas procederam, assim!

Em julho sai da tropa, passei á “peluda”. Depois da tropa, licenciei-me em Educação Física no INEF e fui em 1978, ainda, o primeiro licenciado da minha aldeia!

Neste ano que se comemora o 25 de abril e, simultaneamente,  faço 52 anos que terminei a minha comissão em Angola - a guerra continua! Não consegui escapar! Foi o que me calhou na rifa da vida.

Se em setembro de 1968 tivesse os 10 contos para pagar ao passador e desertar para França, a minha vida teria sido diferente?

Talvez, não sei!

Obrigado

Lourinhã, Seixal,  5 de maio de 2024

(Revisão / fixação de texto: LG)

___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de maio de  2024 > Guiné 61/74 - P25485: Os 50 anos do 25 de Abril (17) : Conversas sobre "Portugal-África. Guerra Colonial. Madrinhas de Guerra", com Marta Martins Silva e 3 antigos combatentes, Hélder Sousa, Luís Graça e Jaime Silva. 3ª feira, dia 7 de maio, no ISCSP-ULisboa, Campus Universitário do Alto da Ajuda

12 comentários:

JC Abreu dos Santos disse...

Apenas mais um erro de casting.

Anónimo disse...


Um depoimento importante de um homem com carácter, que sabe o que faz, o que quer, o que diz e o rumo que dar à vida, dentro das opções possíveis. Parabéns ao Jaime Silva

Francisco Baptista

Antº Rosinha disse...

No Leste de Angola andava a Unita mais a facção Chipenda do MPLA, que já não se entendiam entre si, e o povo das diversas etnias locais não acreditavam neles.

Evidentemente que desde rebentasse uma simples mina anti-pessoal era sinal que havia guerra, e dizer que quem sofreu a maior violência dos 28 anos de guerra civil, foram as populações dessa região Leste e sudeste que praticamente nem chegou a saber o que foi a guerra anti-colonial, e pouco soube o que foi ser colonizado

Atenção que os 1000 Klm. que medeiam no litoral desde a ilha de Luanda até ao rio Cunene apenas no 25 de Abril é que se iniciou uma guerra a sério com cubanos, russos e sulafricanos e outros mais.

Aqueles mil quilómetros foi a paz que os estudantes do império sonhavam um dia viver.

E até poderão viver uma paz melhor, (alguns, os que sobraram)mas talvez seja de vez em quando em Cascais, Paris ou Nova York ou...Dubai!

Anónimo disse...

Reparei, pensei e comparei.
Com uns quantos dos outros especiais, de livro esbaforido escrito pró erótico, só não alegando lá que fugiam aos contactos sempre que possível mesmo sabendo os maus irem atacar os que eles por tão especiais tinham a obrigação de defender e fazer com que esse ato não acontecesse.
Autoproclamam-se nessa pseudo literatura dos maiores heróis nas suas bestiais e horrentas
passadas em terras de antanho.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Há sempre algum há algum pudor e relutância em contar episódios da nossa vida íntima, que de algum modo possam parecer insólitos, chocantes e, muitas vezes até, inverosímeis aos olhos dos outros...

Desde 2008 até agora, só quatro dezenas de camaradas vieram aqui ao "confessionário"... Merecem o nosso apreço pela ua exposição pública e pela sua autenticidade... Por outro lado, e em princípio, é pressuposto (é um "acordo de cavalheiros" entre nós") que ninguém faça "juizos de valor" ou "chalaça" sobre o(s) segredo(s) partilhado(s)...

São estas histórias que , afinal, humanizam a guerra, engrandecem os seres humanos que as protagonizam, nos tocam, fundo, e dão valor, pela diferença, ao nosso blogue...

Obrigado, Jaime.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Jaime, aqui tens alguns comentários postados, hoje, no Facebook da Tabanca Grande (onbde não costumas ir):

(i) Fernando Laureano (17h42):

Acho importante, talvez por defeito profissional de arquivista, a pserservação, destas memórias para as gerações vindouras. Acho mesmo que deviria existir um projecto apoiado pelo estado, oara recolher os testemunhos directos acompanhados com fotos, e documentos disponibilizados pelos próprios.Tive pena de não ter tido conhecimento, senão iria assistir.

(ii) Jerónimo Magina (17h49):

Não sei o resumo da conversa: Não devia ter falado da Guiné, ou, teria de postar outra fotografia. Sim, porque esta foto foi tirada em outro território de África. A arma que ostenta não se usava na Guiné e, no meu tempo não usavamos a arma à caçador, era impensável algum paraquedista transportar a arma desta maneira.

(iii) Nelson Ferreira (19h13): Jerónimo Magina, Ler por completo... O diagnóstico vem depois... É mais razoavel...

(iv) José Quintas (19h36): Jose Quintas

Se é na Guiné, não sei, a verdade é que Militares de Comandos, Paraquedistas ou Fuzileiros, nunca transportam a arma assim!!!

(v) Tabanca Grande Luís Graça (21h23):
Camaradas e amigos, parece-me que alguns de vocês estão a olhar só para o ramo da árvore, não vêem a árvore e muito menos a floresta... É uma história de vida, bolas!

Fernando Ribeiro disse...

Faço minhas as palavras do camarada Francisco Baptista. Também andei pelos montes Mil e Vinte e pela impenetrável floresta virgem que os cobria, pois ficavam dentro da área da responsabilidade da minha companhia, e por isso julgo saber o que sentiu o companheiro Jaime Silva quando lá viu morrer um dos seus homens. Aquilo era mesmo assim. Quanto aos comentários feitos sobre o seu honesto testemunho pessoal, apenas digo que estamos num país livre e o disparate também é livre. Um abraço a Jaime Silva e outro a Francisco Baptista.

Hélder Valério disse...

Caro amigo Jaime Silva

Li com atenção e interesse o teu depoimento e, por assim dizer, "história de vida", o qual não deixa de ser motivo de reflexão.
Na realidade, as tuas circunstâncias impregnaram-te de forte humanismo, e isso refletiu-se no teu comportamento durante a guerra.
Como escreves "não vale tudo", ou melhor, não devia valer tudo....
A tua coragem em relatares esses momentos em que "foste humano" é bem mais valorizada do que as diatribes que normalmente aparecem a criticar, a desvalorizar, a amesquinhar essas narrativas.
Um forte abraço.

Hélder Sousa

Valdemar Silva disse...

Os dois militares levam a arma em "cajado-arma", que naquelas circunstâncias seria a melhor maneira de ser transportada. Andar dentro d'água, a arma tem de ser levada sempre numa posição superior, e neste caso, por uma questão de equilíbrio e para afastar a vegetação, a posição em "cajado-arma" deve ser a que mais dá jeito. Julgo que se trata da espingarda metralhadora FN.
Lembro-me, no CSM na EPA, Vendas Novas, para atravessar uma lagoa a arma também era transportada em "cajado-arma" por a mão esquerda ou direita segurava a corda que estava instalada no percurso.

Valdemar Queiroz

Victor Costa disse...

A arma dos militares atravessando terreno alagado, na fotografia é parecida com a 5.56mm Colt XM177E2 Commando.
Projetado por Eugene Stoner, o M16 surgiu primeiro como o Ar-10 de 7.62mm, em meados dos anos 1950, seguido pelo AR-!5, adaptado para a munição de 5,56mm. A arma teve exportação significativa para o Sudeste Asiático, Reino Unido, Força Aérea dos EUA e finalmente, o Exército dos EUA, que lhe deu a designação M16. A promessa inicial não foi cumprida, quase na totalidade, nos primeiros anos de serviço no Vietname, onde revelou tendência para encravar em combate, tendo que ser mantido muito limpo (algo difícil de conseguir na selva). Descobriu-se que o problema se devia a uma nova carga propulsora. As modificações na arma e na carga propulsora, produziram uma excelente espingarda automática o M16A1. O fabrico em plástico e aço prensado tornou-o mais leve e a elevada velocidade da munição compensou o seu pequeno calibre, em combate. O M16 surge numa variedade de formas modificadas, incluindo versões de cano pesado e curto. (...). Esta versão tem a designação de 5.56mm Colt XM177E2 Commando (...).
Um abraço,
Victor Costa
Ex.Fur.Mil.At.Inf.C.Caç.4541/72

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Por que é que o Jaime Silva, que alf mil paraquedista em Angola e não na Guiné, tem honras de "Tabanca Grande", perguntarão alguns ?


Já aqui o explicámos, quando ele foi apresentado aos "amigos e camaradas da Guiné"...

(...) !Jaime, o teu nome já anda associado ao nosso blogue desde, pelo menos, 24/5/2005, quando demos a notícia da inauguração, na nossa terra, do monumento aos mortos da guerra do ultramar, de cuja comissão organizadora fizeste parte.

"Depois disso, interessaste-te pela história do malogrado José Henriques Mateus, desaparecido na Guiné, e teu vizinho da Areia Branca. Em 2009 empenhaste-te, de alma e coração, na conceção e organização da exposição evocativa da participação dos jovens do Seixal, Lourinhã, na guerra colonial, uma iniciativa inédita em Portugal, tanto quanto eu sei.

"Enfim, em 2013 deste força à viúva do malogrado cap inf José Jerónimo Manuel Cravidão, cmdt da CCAÇ 1585 (Nema e Farim, 1966/68), morto em combate em 4 de junho de 1967, para o evocar no nosso blogue...

"Em conclusão, acho que não precisaríamos de mais boas ações tuas para te meter no quadro de honra do blogue se por acaso a gente tivesse um quadro de honra... Não o tendo, só nos resta sentar-te sob o poilão da nossa Tabanca Grande e atribuir-te o lugar nº 643 (...).

"Não estivestes na Guiné mas já mostraste que és um dos nossos. Ficas em boa companhia. Conheces as nossas regras do jogo. Resta-me desejar que te dês bem por cá e que nos ajudes também a desatar os nós da memória e a partilhar afetos. Um fraterno alfabravo do teu amigo e camarada Luís Graça." (...)

31 DE JANEIRO DE 2014
Guiné 63/74 - P12658: Tabanca Grande (423): Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72), natural da Lourinhã, a viver em Fafe, grã-tabanqueiro nº 643

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2014/01/guine-6374-p12658-tabanca-grande-423.html

Tabanca Grande Luís Graça disse...

É uma história conturbada a desta arma, de que se terão produzido menos de dez mil exemplares... incluindo o famoso modelo português...

(...) A versão final da holandesa Artillerie Inrichtingen (a quem a american ArmaLite tinha vendido um contrato de produção de cinco anos) é conhecida como o modelo português AR-10.

Esta versão final incorporou tudo o que foi aprendido até à data sobre o AR-10, incluindo a espingarda do serviço de infantaria e os relatórios dos testes de campo. Além de um corpo ("barrel", em inglês) mais pesado com câmara revestida de cromo, bipé opcional e os protetores de mão removíveis de plástico/metal do modelo de transição, a variante portuguesa tinha alças de parafusos mais largas, um extrator mais forte, um novo regulador de gás simplificado de três posições e uma braçadeira de armar com uma ajuda de parafuso dianteiro. (...)

Acredita-se que aproximadamente 4 a 5 mil variantes portuguesas foram produzidas. Quase todas foram vendidas ao Ministério da Defesa Nacional de Portugal pelo negociador de armas com sede em Bruxelas, SIDEM International, em 1960. (...)

A AR-10 foi oficialmente adotada pelos batalhões de caçadores paraquedistas portugueses, e a espingarda fez um considerável serviço de combate nas campanhas de contra-subversão de Portugal em Angola e Moçambique (...)

Adapt. livre da versão inglesa:

https://en.wikipedia.org/wiki/ArmaLite_AR-10