Jovens falantes de português no Sri Lanka, segundo o projecto "Preserving Sri Lanka Portuguese"
Foto DR/Facebook, https://www.facebook.com/preservingsrilankaportuguese1 (com a devida vénia)
Lusodescendentes do Sri Lanka com "interesse crescente" em salvar o crioulo
Diário de Notícias | Agência Lusa | 08 mai 2023 09:40
É uma peça da Agência Lusa, reproduzida no portal www.dnoticias.pt, que merece a nossa atenção, de portugueses e lusófonos: a existência de uma pequena comunidade de lusodescendentes do Sri Lança (o antigo Ceilão) que teima em manter a sua identidade e inclusive o crioulo de base portuguesa que está em sério risco de extinção.
A estes esforços está associada a investigadora Patrícia Costa do Centro de Linguística da Unibversidade de Lisboa (CLUL) e que é entrevistada pela Agència Lusa.
Reproduzimos alguns excertos da peça, com a devida vénia (*):
(...) A investigadora Patrícia Costa lançou um projeto para divulgar o crioulo de base portuguesa do Sri Lanka nas redes sociais porque considera que há 'um interesse crescente' nas comunidades lusodescendentes em preservar a língua."
Em abril de 2023, um grupo de jovens começou a organizar aulas de crioulo português para jovens e crianças.
(...) "O mesmo grupo tem também procurado dinamizar ações para promover a língua no Sri Lanka, onde 'a maior parte da população desconhece totalmente que existe esta comunidade de euro-asiáticos e desconhece que há uma língua totalmente diferente', referiu Costa." (...)
Destaque para um desses jovens, "Derrick Keil, lançou em fevereiro uma versão moderna de uma canção tradicional em crioulo português, 'Minha Amor', após ter participado no programa de talentos 'The Voice Sri Lanka' (...)
Em abril de 2023, um grupo de jovens começou a organizar aulas de crioulo português para jovens e crianças.
(...) "O mesmo grupo tem também procurado dinamizar ações para promover a língua no Sri Lanka, onde 'a maior parte da população desconhece totalmente que existe esta comunidade de euro-asiáticos e desconhece que há uma língua totalmente diferente', referiu Costa." (...)
Destaque para um desses jovens, "Derrick Keil, lançou em fevereiro uma versão moderna de uma canção tradicional em crioulo português, 'Minha Amor', após ter participado no programa de talentos 'The Voice Sri Lanka' (...)
Patrícia Costa, ouvida pela Agência Lusa, diz que é "um marco importante na história da comunidade, porque pela primeira vez temos uma música dirigida a audiências várias que tem o crioulo como língua" (...)
A "baila", hoje o género de música talvez mais popular no país, foi introduzidda no Sri Lanka justamente pela "comunidade de falantes do crioulo português",
Patrícia Costa e Vyvonne Joseph, "jovem falante da língua", foram quem, em 2020, kançaram o projeto Preserving Sri Lanka Portuguese (Preservar o Portuguès do Sri Lanka), nas redes sociais (Instagram e Facebook).
A "baila", hoje o género de música talvez mais popular no país, foi introduzidda no Sri Lanka justamente pela "comunidade de falantes do crioulo português",
Patrícia Costa e Vyvonne Joseph, "jovem falante da língua", foram quem, em 2020, kançaram o projeto Preserving Sri Lanka Portuguese (Preservar o Portuguès do Sri Lanka), nas redes sociais (Instagram e Facebook).
O objetivo da inciativa, segundo a investigadora portuguesa do CLUL é4 de "dar a conhecer a audiências mais gerais, também fora do Sri Lanka, a existência desta língua, porque mesmo em Portugal não há uma grande consciência de que estas comunidades crioulófonas existem".
Um segundo objetivo é auxiliar, com materiais didáticos simples, os membros da comunidade que querem aprender ou aperfeiçoar a língua.
(...) O crioulo português do Sri Lanka 'neste momento é uma língua definitivamente ameaçada. O número absoluto de falantes é bastante reduzido', por volta de 1.300, sendo que a maioria são 'pessoas mais velhas' (...). Para os jovens, 'aprender o crioulo português não tem o valor instrumental que as línguas oficiais do Sri Lanka, o cingalês e o tâmil, têm, no acesso à educação e ao emprego, referiu Costa" (...)
Além disso, disse a investigadora, é preciso superar alguns preconceitos e ideias feitas, no seio da própria comunidade: para alguns membros seria uma língua obsoleta, e segundo outros "aprender o crioulo português em casa pode prejudicar a aprendizagem de outras línguas na escola"...
Embora em risco de desaparecer, o crioulo português do Sri Lanka pode ter futuro.
(...) "A académica defendeu ainda que uma maior ligação com os países falantes de português 'seria muitíssimo vantajoso para as comunidades crioulófonas, que teriam uma espécie de reconhecimento oficial da sua existência, da sua importância e da sua herança.
"O crioulo português do Sri Lanka, antigo Ceilão, é uma herança da expansão marítima portuguesa no século XVI, quando nasceu como língua de contacto entre cingaleses e portugueses, os primeiros europeus a lá chegar.
"A colonização portuguesa da ilha não durou mais de 150 anos, mas, mais de meio século depois, este crioulo continua a ser falado no seio das comunidades burghers, tradicionalmente católicas." (...)
A palavra "burghers" ( "cidadãos", "citadinos", "burgieses", em holandês) é a designação comum, usada hoje para todas as pessoas que tèm uma ascendência euro-asiática (n0omeadeamente portugueses e holandeses), no Sri Lanka.
Mapa do Sri Lanka: principais cidades do país... Em três delas (assinalada a tracejado verde e vermelho) residem comunidades de lusodescendentes. Os portugueses e seus descendentes fixaram-se sobretudo na costa leste, em Trincomalee e em Batticalloa
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)
(...) No Sri Lanka de hoje o crioulo limita-se à linguagem falada. A maioria dos falantes são os burghers da província oriental, em Baticaloa e Triquinimale. Atualmente o inglês tornou-se a língua comum, com o cingalês ensinado nas escolas como segunda língua. De influência portuguesa existem ainda os cafrinhas ou kaffir do Sri Lanka, uma comunidade de origem africana, na província do noroeste Putalão, originalmente trazidos por portugueses, neerlandeses e ingleses para trabalhar no Seri Lanca, e que mantêm assumidamente uma cultura e religião portuguesas.
No Censo de 1981 os burghers (holandeses e portugueses) contavam cerca de 40.000 (0,3% da população total do Sri lanka).
Muitos burghers emigraram para outros países. Existem ainda 100 famílias em Baticaloa e Triquinimale e 80 famílias Kaffir em Putalão que falam o crioulo português. Numerosos apelidos de origem portuguesa permanecem até hoje, como Perera, Pereira, Abreu, Salgado, Fonseca, Fernando, Rodrigo e Silva, que se tornaram parte da cultura do Seri Lanca.
A população burgher no mundo será de 100.000 aproximadamente, concentrada sobretudo no Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. (...)
(Fonte: Excerto de Wikipedia > Burghers Portugueses (com a devida vénia)...
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfd5_mdKGAzcNeRW7zS35c_rmtPmBBX5JP2r1HbiZqOa_M_6ZFxIaRVFPZkrJrt-x3db-XOMkueGL4lP-UEQd7IPm-gKDyhCAWrdYyfD3BWYIWublR2CZvrYy9WlTKkFCruT8h1J6nuiS0FU5ItG4vBoHC43FSpzN35RuGzzSYN_EseKPJ0jRL/w563-h640/104316-portugueese-in-sri-lanka-ii-by-harshana-bandara-preview-400x516_V3.jpg)
Excerto de banda desenhada infantil "Portuguese in Sri Lanka: part two: their exploits" (em inglês). Texto. Hashana Bandara; ilustração: Saman Kalubowila. (Sumitha Publishers. s/d., s/l. 24 pp.) Fonte: Poth Pancha, Panadura, Sri Lanka: uma livraria "on line" para crianças com menos de 12 anos (Imagem reproduzida com a devida vénia...)
Na primeira imagem acima pode ler-se em inglês: "Os Portugueses que chegaram ao Sri Lanka acidentalmente, em 1505, empenharam-se em estabelecer o seu poder na região costeira norte da ilha, até por volta de 1580" (... o que não é exato: a presença portuguesa manteve-se até meados do séc. XVII, Colombom na costa oeste, cairia nas mãos dos holandeses apenas em 1656, depois de uma heróica resistência, tendo sobrevivido apenas menos de uma centena de defensores...Os holandeses por sua vez serão substituídos pelos ingleses em finais do séc. XVIII, princípios do séc. XIX. O Sri Lanka tornou-se, mais ou ,menos pacificamente, independente da coroa britânica em 1948.
______________
Nota do editor:
(*) Último poste da série > 2 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26224: Recortes de imprensa (141): Morreu aos 80 anos o comandante do PAIGC, Júlio de Carvalho ("Julinho"), e também primeiro cmdt das Forças Armadas de Cabo Verde ("A Semana", de 26nov2024)
2 comentários:
Como é possível ainda haver resquícios do idioma depois de sermos varridos pelos holandeses e estes serem despejados pelos ingleses, posteriormente.
De admirar haver ainda algo do idioma nosso, principalmente passados 400 anos. da nossa presença.
Pois foi do tempo dos "filipes" que os holandeses que se julgavam com direitos adquiridos de tomarem conta das diversas possessões e fortalezas portuguesas foram varrendo com a gente.
Só em Luanda e Brasil é que os tipos bateram com a tromba na porta.
Segundo leituras, parece que a única coisa que holandeses e ingleses respeitavam da nossa presença eram as fortalezas e os cemitérios, pois os seus cemitérios ficavam contíguos aos dos portugueses, e os mortos não se desentendiam.
Dez anos atrás, mais ou menos, morreu o último falante de indo-português de Cochim, no sul da Índia, provavelmente um idioma muito semelhante ao crioulo do Sri Lanka.
Tenho ideia de ter lido há muitos anos que também em Chaul, nas proximidades de Bombaim (Mumbai) teria sido falado um idioma indo-português. Muito provavelmente já se extinguiu há imenso tempo.
Há coisa de vinte anos ou talvez menos, a Fundação Oriente resolveu promover a língua portuguesa no seio da comunidade de descendentes de portugueses em Malaca. Para tal, contratou em Portugal uma professora que passou, pelo menos, um ano no seio dessa comunidade. O resultado não foi o esperado, porque os membros da comunidade não estavam interessados em aprender o português de cá. Queriam alguém que ensinasse aos seus filhos o seu próprio idioma, o papiá cristão, a que também chamam "português antigo", por conter muitos termos agora arcaicos em Portugal. Por enquanto, o papiá cristão ainda é falado pelos membros da comunidade em Malaca, assim como pela sua diáspora em Singapura, Austrália, etc.
https://www.youtube.com/watch?v=ezV8u2SdDFc&t=88
Há já várias décadas, faleceu o último falante de papiá tugu, o idioma da comunidade tugu, em Djakarta, capital da Indonésia. O papiá tugu era um idioma muito semelhante ao papiá cristão de Malaca. Apenas sobrevivem muito poucos poemas e canções.
https://www.youtube.com/watch?v=tNlAQHLhlb0
Os cristãos da ilha indonésia das Flores, próxima de Timor, também falavam um crioulo de base portuguesa, que há muito é dado como extinto.
O patuá de Macau ainda resiste no seio da comunidade macaense, mas esta é uma comunidade minúscula face ao número esmagador da população chinesa do território.
https://www.youtube.com/watch?v=3ut1q76K6cE
A política de casamentos entre portugueses e mulheres locais na Ásia, com vista à constituição de famílias estáveis e leais a Portugal, foi concebida e posta em prática por Afonso de Albuquerque por volta do ano 1510. Foi uma prática que durou pouco tempo, porque o rei D. Manuel a proibiu. Se esta política tivesse podido continuar, o que teria acontecido?
Enviar um comentário