1. Mensagem do nosso camarada João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72), com data de 8 de Setembro de 2025:
Boa tarde
Com votos de saúde para vós e vossas famílias junto mais 5 fotos de selos da Guiné para publicação no nosso blogue.
Continuação de saúde para todos.
Até à próxima remessa na próxima semana.
Abraço
João Moreira
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Nota do editor
Último post da série de 4 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27185: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (36): Filatelia da Guiné
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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quinta-feira, 11 de setembro de 2025
Guiné 61/74 - P27209: Facebook...ando (94): Tabanca de Matosinhos: homenagem ao cap cav Leite Rodrigues (1945-2025), seis meses de saudade... Faria 80 anos no próximo dia 15.
Foto nº1
Foto nº 2
Pormenor de quadro, emoldurado, com uma fota da Filipa, a cavalo, e com os seguintes dizeres:
"Em memória de Filipa Leite Rodrigues e a sua paixáo pelo desporto equestre. 1992-2005.
Deus só colhe as mais belas e viçosas flores do Seu jardim"
Assinado, Sua Alteza Real Princesa Haya Bint Al Hussein da Jordânia, Presidente da Federação Equestre Internacional (FEI), e de toda a Família FEI.
Foto nº 3 e 3A
Tabanca de Matosinhos > Centro Hípico de Matosinhos > Leça da Palmeira > Restaurante A Cepa > 10 de setembro de 2025 : Homenagem ao Leite Rodrigues > Da direita para a esquerda: Zé Teixeira, Zé Manel Lopes, (?) e Rodrigo Teixeira
Fotos: Tabanca de Matosinhos (2025). Edião e legendagem: Blogue Luís Greaça & Camaradas da Guiné (2025)
1. O Alberto Bernardo Leite Rodrigues (15/09/1945 – 21/02/2025) era capitão reformado da GNR, cavaleiro e professor de equitação; ex- alf mil cav, CCAV 1748 (Bissau, Bula, Contuboel e Farim, jul 67 / jun 69); condecorado com a cruz de guerra de 4.ª classe, atribuída em 1972.
Postagem da Tabanca de Matosinhos, no Facebook da Tabanca Grande, quarta feira, 10 de setembro de 2025, 17:36
O Capitão Leite Rodrigues se ainda estivesse entre nós comemorava o seu 80º aniversário no próximo dia 15.
Já partiu para a eternidade, mas continua presente entre nós, os camaradas que semanalmente se encontram para viver a vida, num convívio fraterno.
A Tabanca deslocou-se ao Centro Hípico de Matosinhos em Leça da Palmeira, onde o Leite Rodrigues passou grande parte da sua vida a dar instrução de hipismo.
Com o espírito do Leite Rodrigues presente, resolvemos prestar-lhe uma singela homenagem colocando na sala do Restaurante A Cêpa, um pequeno quadro com a sua fotografia e uma mensagem, junto ao quadro, ali presente, que recorda a sua querida filha que faleceu com quatorze anos, num acidente com um cavalo.
Obrigado, Leite Rodrigues. Não esqueceremos a tua mensagem: "A Tabanca viverá, até ao dia que um último combatente, tenha de apagar a luz e fechar a porta".
Na próxima semana, continuaremos o nosso convívio semanal no Resaurante O Espigueirom em Matosinhos.
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Nota do editor LG:
Guiné 61/74 - P27208: Felizmente ainda há verão em 2025 (31): Amarante, a princesa do Tâmega, a 30 km de Candoz, e onde a natureza, a história e a cultura se combinam na perfeição (Luís Graça) - Parte I
Foto nº 1 > Amarante > 5 de setembro de 2025 > Rio Tâmega, as poldras, a ilha dos amores...
Foto nº 2 > Amarante > 5 de setembro de 2025 > Rio Tâmego, afluente internacional do rio Douro
Foto nº 3 > Amarante > 5 de setembro de 2025 > Natureza, história, cultura..
Foto nº 4 > Amarante > 5 de setembro de 2025 > O rio e a silhiueta da ponte e da igreja de São Gonçalo...
Foto nº 5 > Amarante > 5 de setembro de 2025 > A porta do Marão... "A travessia do Tâmega transformou o local em zona de passagem obrigatória, determinando um desenvolvimento urbanístico ao longo de um eixo viário tradicional, na ligação da zona de Entre-Douro-e-Minho com a de Trás-os-Montes e Alto Douro"...
Foto nº 6 > Amarante > 5 de setembro de 2025 > Uma cidade cénica, fortemente marcada pelo rio Tâmego, as suas margens, o seu rio e o seu casario... A atual ponte não é "medieval", como alguns pensam... Existia, sim, uma ponte primitiva desde pelo menos o século XIII, referida nas Inquirições de 1250. No entanto, essa ponte colapsou com as cheias de 1763.
A atual ponte data de finais do séc. XVIII, desenhada pelo arquiteto Carlos Amarante e inaugurada por volta de 1790. Estilo barroco e maneirista. E em 1809 foi testemunha de atos heróicos da nossa gente.
Foto nº 7 > Amarante > 5 de setembro de 2025 > Placa alusiva à defesa da Ponte de Amarante, um dos episódios (18 de abril a 2 de maio de 1809), mais marcantes da Segunda Invasão Francesa.
Foto nº 8 > Amarante > 5 de setembro de 2025 > Exterior da igreja de São Gonçalo: uma pequena estátua da Virgem e do Senhor Morto, uma obra-prima da escultura popular.
Foto nº 9 > Amarante > 5 de setembro de 2025 > A perdição dos doces e a malícia amarantina... Mas há mais, incluindo as "lérias"... Que as monjas de Santa Clara tinham a eternidade toda por sua conta.. Mas Amarante é muito mais que o seu patrono, São Gonçalo, o casamenteiro das "encalhadas", e a terra dos doces fálicos, os "gonçalinhos", aqui representados no cartaz publicitário da pastelaria que os confecciona e vende, e evocados na célebre quadra popular de sabor arcaizante: “Se fordes ao S. Gonçalo, / Trazei-me um S. Gonçalinho; / Se não puderdes co’ele grande, / Trazei-me um pequenininho!”.
Foto nº 10 > Amarante > 5 de setembro de 2025 > O fascínio da baixa amarantina, banhada pelo rio Tâmega, atrai cada vez mais turistas...
Foto nº 11 > Amarante > 5 de setembro de 2025 > Cada vez mais aberta ao turismo, e com risco de se "gentrificar"... que é o que acontece quando as tascas dão a lugar a alojamentos locais... (sinais dos tempos).
Foto nº 12 > Amarante > 5 de setembro de 2025 > Rua Teixeira de Vasconcelos, nº 131: placa na casa onde nasceu o Teixeira de Pascoaes, o poeta-filósofo da saudade... Pena que a casa esteja en ruínas...
Foto nº 13 > Amarante > 5 de setembro de 2025 > Junto à Casa dos Macedos (que tinha o brazão tapado com pano preto, sinal de luto), na rua Teixeira de Vasconcelos.
Foto nº 14 > Amarante > 5 de setembro de 2025 > Mural de arte urbana, no centro histórico da cidade. Da autoria de Francisco Fonseca, baseado em marcos de arquitetura da cidade e da sua história.
Foto nº 15 > Amarante > 5 de setembro de 2025 > "O que resta é sempre o princípio feliz de alguma coisa" (Agustina Bessa-Luís)... Só podia ser sentido e escrito por uma mulher do Norte (e de quem, confesso, só li "A Sibila").
Fotos nos 16, 17 e 18 > Amarante > 5 de setembro de 2025 > Casa da Cadeia, agora “Lugar Saudade – Teixeira de Pascoaes” > Exposição temporária “Teixeira de Pascoaes: Entre Ruínas e Fantasmas”, dedicada à vida e obra do poeta e pensador amarantino, que tirou o curso de Direito em Coimbra mas não fez a vida boémia coimbrã...
Foto nº 19 > Amarante > 5 de setembro de 2025 : O poeta-.filósofo da saudade, Teixeira de Pascoais (São Gonçalo, Amarante, 1877 - Gatão, Amarante, 1952)... Repousa no cemitério em frente à Igreja de São João Baptista de Gatão. Na campa, rasa, pode ler-se os versos que o autor propositadamente escreveu, narcisicamente, para o seu epitáfio: "Apagado de tanta luz que deu / Frio de tanto calor que derramou"...
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2025). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
1. Felizmente ainda há verão... A cidade está cheia de turistas (japoneses, espanhóis, franceses, nórdicos)... E eu pergunto: quantos portugueses do sul conhecem a "princesa do Tâmega" ? E comeram um "caralhinho de São Gonçalo" ? Ou provaram umas "lérias" ? Ou beberam um copo de vinho verde "Avesso", monocasta ? Ou viu um quadro do Amadeo Sousa-Cardoso, tão genial como o Picasso ?
Descobri-a, no veráo de 1975... Pela mão (amorosa) da Alice. Está a pouco mais de 30 km de Candoz... Devia cá vir mais vezes, em diferentes alturas do ano... e do dia. Um sítio onde há lugar os peões. E onde apetece parar. Para beber um copo de vinho verde avesso e comeer umas "lérias". E ler um livro ou escrever um poema. À máo, no bloco de notas. E deixar o tempo parar... Ouvir o respirar do silèncio. Deswcobrir a saudade.
Faz parte do Caminho de Santiago. E da Rota do Românico.. E da Região Demarcada dos Vinhos Verdes (sim, no plural). E mais: aqui estamos no berço de Portugal, os Vales do Sousa e do Tàmego. Que melhor sítio do mundo para se fazer a "autópsia", o estudo "anatomopatológico" da alma portuguesa ?
Foto nº 19 > Amarante > 5 de setembro de 2025 : O poeta-.filósofo da saudade, Teixeira de Pascoais (São Gonçalo, Amarante, 1877 - Gatão, Amarante, 1952)... Repousa no cemitério em frente à Igreja de São João Baptista de Gatão. Na campa, rasa, pode ler-se os versos que o autor propositadamente escreveu, narcisicamente, para o seu epitáfio: "Apagado de tanta luz que deu / Frio de tanto calor que derramou"...
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2025). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
1. Felizmente ainda há verão... A cidade está cheia de turistas (japoneses, espanhóis, franceses, nórdicos)... E eu pergunto: quantos portugueses do sul conhecem a "princesa do Tâmega" ? E comeram um "caralhinho de São Gonçalo" ? Ou provaram umas "lérias" ? Ou beberam um copo de vinho verde "Avesso", monocasta ? Ou viu um quadro do Amadeo Sousa-Cardoso, tão genial como o Picasso ?
Descobri-a, no veráo de 1975... Pela mão (amorosa) da Alice. Está a pouco mais de 30 km de Candoz... Devia cá vir mais vezes, em diferentes alturas do ano... e do dia. Um sítio onde há lugar os peões. E onde apetece parar. Para beber um copo de vinho verde avesso e comeer umas "lérias". E ler um livro ou escrever um poema. À máo, no bloco de notas. E deixar o tempo parar... Ouvir o respirar do silèncio. Deswcobrir a saudade.
Devia cá vir mais vezes... E conhecer melhor o concelho: nunca fui, por exemplo, a Gatão (casa do Teixeira de Pascoaes) ou a Manhufe (casa do Amadeo Sousa-Cardoso)...
Amarante combina 3 coisas que eu valorizo numa terra: natureza, hstória e cultura (incluindo a gastronomia)..Além das vias pedonais... Estaciona-se longe, vem-se a pé, como o peregrino de Santiago ou o romeiro de São Gonçalo. É, além disso, a terra de 3 génios das artes e das letras portuguesas: Amadeo Sousa-Cardoso, Teixeira de Pascoais, Agustina Bessa-Luís...
Amarante combina 3 coisas que eu valorizo numa terra: natureza, hstória e cultura (incluindo a gastronomia)..Além das vias pedonais... Estaciona-se longe, vem-se a pé, como o peregrino de Santiago ou o romeiro de São Gonçalo. É, além disso, a terra de 3 génios das artes e das letras portuguesas: Amadeo Sousa-Cardoso, Teixeira de Pascoais, Agustina Bessa-Luís...
Faz parte do Caminho de Santiago. E da Rota do Românico.. E da Região Demarcada dos Vinhos Verdes (sim, no plural). E mais: aqui estamos no berço de Portugal, os Vales do Sousa e do Tàmego. Que melhor sítio do mundo para se fazer a "autópsia", o estudo "anatomopatológico" da alma portuguesa ?
Aqui ficam alguns apontamentos de uma recente visita à cidade de Amarante... Fui lá ver a exposição dedicada ao Teixeira de Pascoaes, o nosso "anatomista patológico" da alma portuguesa.
Aviso: não é cidade para se andar de canadianas...e máquina fotográfica a tiracolo... No dia seguinte a minha anca ressentiu-se... (LG)
PS - Se bem os contei, o concelho de Amarante teve 51 mortos na guerra do ultramar / guerra colonial, aqui listados no portal UTW - Dos Veteranos da Guerra do Ultramar. No TO da Guiné morreu um quarto (n=13). Em 1970, o concelho tinha c. de 49,3 mil habitantes.
(Continua)
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Nota do editor LG:
Último poste da série > 4 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27182: Felizmente ainda há verão em 2025 (30): A "política de terra queimada": a guerra peninsular (1807-1814) e a guerra colonial no CTIG (1963/74) - II (e última) Parte
Último poste da série > 4 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27182: Felizmente ainda há verão em 2025 (30): A "política de terra queimada": a guerra peninsular (1807-1814) e a guerra colonial no CTIG (1963/74) - II (e última) Parte
Guiné 61/74 - P27207: Parabéns a você (2416): Adolfo Cruz, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2796 (Gadamael e Quinhamel, 1970/72)
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Nota do editor
Último post da série de 5 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27186: Parabéns a você (2415): José Martins, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5 (Canjadude, 1968/70)
Nota do editor
Último post da série de 5 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27186: Parabéns a você (2415): José Martins, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5 (Canjadude, 1968/70)
quarta-feira, 10 de setembro de 2025
Guiné 63/74 – P27206: Filatelia(s) (11): Selos da Guiné Portuguesa da colecção do Alf Mil João Rodrigues Lobo (2)

1. Continuação da publicação de selos da Guiné (então da República Portuguesa) da colecção do nosso camarada João Rodrigues Lobo, ex-Alf Mil, CMDT do Pelotão de Transportes Especiais / BENG 447 (Bissau, Brá, 1968/71), enviada ao nosso blogue em 29 de Agosto de 2025:
(continua)
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Nota do editor
Último post da série de 9 de Setembro de 2025 > Guiné 63/74 – P27200: Filatelia(s) (10): Selos da Guiné Portuguesa da colecção do Alf Mil João Rodrigues Lobo (1)
Guiné 61/74 - P27205: Historiografia da presença portuguesa em África (496): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial da Colónia da Guiné Portuguesa, finais de 1940, princípios de 1941 (52) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Abril de 2025:
Queridos amigos,
Permito-me recordar ao leitor que a análise do Boletim Oficial, tal como estamos a fazer, numa longa sequência cronológica, não passa de um mero instrumento de análise, uma ferramenta que deve ser usada com a necessária dose de circunspeção e prudência. Vimos atrás como houve um governador como Velez Caroço que mandava publicar todo o expediente militar; governadores houve que entenderam que não devia ficar plasmado no Boletim Oficial acontecimentos do tipo insurrecional; Carvalho Viegas é assumidamente um governador respeitador das regras do Império, em momento algum antes se verificara este turbilhão de processos disciplinares; para o investigador, é bastante útil folhear estes documentos para ver como se processou o início da guerra na Europa, como emergiram as dificuldades do abastecimento e como se deu a resposta mais conveniente. Certo e seguro, Carvalho Viegas deixou uma administração mais competente do que a que recebera. O seu sucessor, Ricardo Vaz Monteiro, irá potenciar essa energia, e não será por casualidade que o governador Sarmento Rodrigues será confrontado com uma administração de gente melhor preparada, que irá seguir o seu entusiasmo de tornar a colónia uma parcela visível do Império.
Um abraço do
Mário
A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Oficial da Colónia da Guiné, finais de 1940, princípios de 1941 (52)
Mário Beja Santos
É o último ano da governação de Carvalho Viegas, é insuficiente, como é natural, apreciar o seu tempo de governação com base no Boletim Oficial, Carvalho Viegas não se coibirá de vir a escrever todo o seu mandato em vários volumes, a tentação hagiográfica é enorme, reconheça-se, porém, que há dados fundamentais da sua governação que o seu substituto, o Major Ricardo Vaz Monteiro, irá gerir e com proficiência. Carvalho Viegas apreciava a retórica e mostrou sempre um forte pendor para exarar doutrina no Boletim Oficial, quis deixar a imagem de um homem que se pautava pela equidade, pela independência face a outros interesses, que era dotado de uma integridade inflexível. Vem isto a propósito do que consta do Boletim Oficial n.º 34, de 19 de agosto de 1940, sai do seu punho uma decisão sobre um pedido do presidente do Tribunal Militar Territorial da Colónia da Guiné, pedia-se ao Governador autorização para poder ser demandado criminalmente o atual Administrador do Concelho de Bissau, ex-Administrador da Circunscrição dos Bijagós.
Matéria de facto, segundo o Promotor de Justiça, era de que o primeiro divulgador do boato do encerramento das operações da Companhia Agrícola e Fabril da Guiné fora Pereira Cardoso, boato que teve como porta-voz em Bubaque António Pires Leitão. Observa o governador:
“O Administrador Pereira Cardoso não faltou à verdade porquanto a referida companhia encerrou os seus estabelecimentos na ilha de Sogá no fim do mês de setembro, mês e que deflagrou a guerra europeia, despedindo centenas de indígenas trabalhadores e a seguir na ilha de Rubane e outras, além de denunciar os contratos com todos os empregados, por ordem da sua sede social em Lisboa, prevendo o seu despedimento forçado pelas circunstâncias de não poder colocar convenientemente os seus produtos. De resto, a todos sabendo as condições em que a companhia labora a sua fábrica, era natural e intuitivo que como o Administrador Pereira Cardoso pensassem, de mais a mais os factos mostrando a sua realidade que o futuro mais veio confirmar.
A presunção do Administrador é, pois, lógica, ponderosa e concordante com a situação de ocasião e futura o que ilide em absoluto a acusação.
Depois, há a considerar o que o caso tem de ridículo se querer criminar um administrador que procura alterar a tranquilidade pública – e numa fábrica e seus estabelecimentos com uns seis empregados civilizados e indígenas que do assunto se alheiam! – quando é o número um dos seus deveres manter na Área da Circunscrição a ordem e a tranquilidade pública.”
E já no final do seu despacho dirá Carvalho Viegas que não pode permitir que se desprestigie as suas autoridades deixando-as ir à barra do tribunal quando reconheça que são vítimas da função difícil e ingrata de administrar, sempre sujeitas às calunias e deturpações dos seus atos. E invocando a legislação competente, o governador denega autorização.
Passando agora para o suplemento n.º 43 referente ao Boletim Oficial n.º 25, de 23 de outubro, o Governador vai mandar deportar um rol de gente. Lendo-se a portaria n.º 162, fica-se a saber que indígenas de raça Papel, do regulado de Bandim, instigados pelos seus balobeiros, levaram a efeito vários crimes, fazendo reviver práticas de costumes bárbaros, havia que reprimir pronta e energicamente o ressuscitar destes famigerados antigos costumes. E determina a deportação para S. Tomé e Príncipe de um conjunto de instigadores e autores e só de autores, eram penas que iam de 1 ano a 28 anos de deportação.
No Boletim Oficial n.º 51, de 16 de dezembro, novo rasgo de firmeza, extinção de um regulado. Vejamos qual a matéria de facto:
“Para obstar aos inconvenientes da luta política travada entre os pretendentes ao regulado de Corlá, Farim, resolveu o governo da colónia que, a título experimental, fosse o território de Corlá anexado ao regulado de Caresse e, assim, acabasse um mal-estar que prometia prolongar-se indefinidamente, embora um dos pretendentes fosse nomeado régulo.
De facto, durante um ano nada se notou de anormal na vida do regulado, até que, ultimamente, por manobras de Demba, um dos pretendentes, apareceu em cena um seu irmão, filho do falecido régulo Djabu, de nome Sambaru, que até então tinha vivido na obscuridade no território francês.
Esta figura apagada que os manejos políticos atiraram para o primeiro plano, apresentou-se agora como pretendente ao lugar e, o que é mais interessante, na iminência de verem para sempre frustrado o seu plano com a anexação definitiva do regulado de Corlá ao de Caresse, todos os pretendentes se apresentaram em Bolama numa frente única e, esquecidos das suas dissensões, todos pretendem que o Governo escolha um deles para régulo de Corlá.
Esta última fase mostra claramente as intenções dos pretendentes em quererem, por todos os meios ao seu alcance, evitar que a região de Corlá seja anexada ao regulado do Caresse e, por consequência, possam desfrutar das vantagens que, por um momentâneo acordo, seriam equitativamente distribuídas por todos, embora um só fosse de facto o régulo e os outros os seus satélites.
Este arranjo, porém, não convém nem aos superiores interesses do Estado nem às populações indígenas. Não convém às populações porque, para satisfazer às necessidades sempre crescentes dos três pretendentes redobrariam as exigências e, por conseguinte, a incidência de maiores imposições aos habitantes da região.
Não convém ao Estado porque, sentindo-se sobrecarregados com os pedidos e exigências do futuro régulo, unido num esforço comum com os outros pretendentes e respetivas comitivas, dentro de pouco tempo os habitantes da região começariam a emigrar para outros regulados ou, o que seria mais grave, para vizinha colónia francesa.
Por todos estes motivos, sendo função do Governo da colónia proteger as populações indígenas contras as arbitrariedades e prepotência dos régulos que, muitas vezes, por excessivas provocam perturbações grandes no meio social indígena e facilitam o nomadismo que caracteriza especialmente os indígenas da raça Fula e, por vezes, os da raça Mandinga, habitando regiões próximas da fronteira.
Não convindo que os elementos perturbadores continuem permanecendo na região onde a sua acção política poderá ocasionar graves prejuízos, não só aos habitantes como também aos interesses do Estado; o Governo da colónia, no uso das atribuições que lhe estão acometidas, determina que seja extinto o regulado de Corlá, cuja região fica anexada ao regulado de Caresse; que, por sua permanência na região de Corlá se tornara inconveniente, aos indígenas Taibo Djamanca, Demba Djamanca e Sambaru Djamanca, seja fixada residência na circunscrição civil de Gabu por dois anos.”
O novo ano promete, veremos logo em fevereiro, por mão do encarregado do Governo, Armando Augusto Gonçalves de Morais e Castro (Carvalho Viegas partiu, Ricardo Vaz Monteiro chegará mais tarde). Publica legislação criando o parque Doutor Vieira Machado, algo de surpreendente e até pelo uso de uma terminologia que os ambientalistas de hoje certamente darão concordância.
(continua)
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Nota do editor
Último post da série de 3 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27180: Historiografia da presença portuguesa em África (495): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial da Colónia da Guiné Portuguesa, primeiros meses de 1940 (51) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Permito-me recordar ao leitor que a análise do Boletim Oficial, tal como estamos a fazer, numa longa sequência cronológica, não passa de um mero instrumento de análise, uma ferramenta que deve ser usada com a necessária dose de circunspeção e prudência. Vimos atrás como houve um governador como Velez Caroço que mandava publicar todo o expediente militar; governadores houve que entenderam que não devia ficar plasmado no Boletim Oficial acontecimentos do tipo insurrecional; Carvalho Viegas é assumidamente um governador respeitador das regras do Império, em momento algum antes se verificara este turbilhão de processos disciplinares; para o investigador, é bastante útil folhear estes documentos para ver como se processou o início da guerra na Europa, como emergiram as dificuldades do abastecimento e como se deu a resposta mais conveniente. Certo e seguro, Carvalho Viegas deixou uma administração mais competente do que a que recebera. O seu sucessor, Ricardo Vaz Monteiro, irá potenciar essa energia, e não será por casualidade que o governador Sarmento Rodrigues será confrontado com uma administração de gente melhor preparada, que irá seguir o seu entusiasmo de tornar a colónia uma parcela visível do Império.
Um abraço do
Mário
A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Oficial da Colónia da Guiné, finais de 1940, princípios de 1941 (52)
Mário Beja Santos
É o último ano da governação de Carvalho Viegas, é insuficiente, como é natural, apreciar o seu tempo de governação com base no Boletim Oficial, Carvalho Viegas não se coibirá de vir a escrever todo o seu mandato em vários volumes, a tentação hagiográfica é enorme, reconheça-se, porém, que há dados fundamentais da sua governação que o seu substituto, o Major Ricardo Vaz Monteiro, irá gerir e com proficiência. Carvalho Viegas apreciava a retórica e mostrou sempre um forte pendor para exarar doutrina no Boletim Oficial, quis deixar a imagem de um homem que se pautava pela equidade, pela independência face a outros interesses, que era dotado de uma integridade inflexível. Vem isto a propósito do que consta do Boletim Oficial n.º 34, de 19 de agosto de 1940, sai do seu punho uma decisão sobre um pedido do presidente do Tribunal Militar Territorial da Colónia da Guiné, pedia-se ao Governador autorização para poder ser demandado criminalmente o atual Administrador do Concelho de Bissau, ex-Administrador da Circunscrição dos Bijagós.
Matéria de facto, segundo o Promotor de Justiça, era de que o primeiro divulgador do boato do encerramento das operações da Companhia Agrícola e Fabril da Guiné fora Pereira Cardoso, boato que teve como porta-voz em Bubaque António Pires Leitão. Observa o governador:
“O Administrador Pereira Cardoso não faltou à verdade porquanto a referida companhia encerrou os seus estabelecimentos na ilha de Sogá no fim do mês de setembro, mês e que deflagrou a guerra europeia, despedindo centenas de indígenas trabalhadores e a seguir na ilha de Rubane e outras, além de denunciar os contratos com todos os empregados, por ordem da sua sede social em Lisboa, prevendo o seu despedimento forçado pelas circunstâncias de não poder colocar convenientemente os seus produtos. De resto, a todos sabendo as condições em que a companhia labora a sua fábrica, era natural e intuitivo que como o Administrador Pereira Cardoso pensassem, de mais a mais os factos mostrando a sua realidade que o futuro mais veio confirmar.
A presunção do Administrador é, pois, lógica, ponderosa e concordante com a situação de ocasião e futura o que ilide em absoluto a acusação.
Depois, há a considerar o que o caso tem de ridículo se querer criminar um administrador que procura alterar a tranquilidade pública – e numa fábrica e seus estabelecimentos com uns seis empregados civilizados e indígenas que do assunto se alheiam! – quando é o número um dos seus deveres manter na Área da Circunscrição a ordem e a tranquilidade pública.”
E já no final do seu despacho dirá Carvalho Viegas que não pode permitir que se desprestigie as suas autoridades deixando-as ir à barra do tribunal quando reconheça que são vítimas da função difícil e ingrata de administrar, sempre sujeitas às calunias e deturpações dos seus atos. E invocando a legislação competente, o governador denega autorização.
Passando agora para o suplemento n.º 43 referente ao Boletim Oficial n.º 25, de 23 de outubro, o Governador vai mandar deportar um rol de gente. Lendo-se a portaria n.º 162, fica-se a saber que indígenas de raça Papel, do regulado de Bandim, instigados pelos seus balobeiros, levaram a efeito vários crimes, fazendo reviver práticas de costumes bárbaros, havia que reprimir pronta e energicamente o ressuscitar destes famigerados antigos costumes. E determina a deportação para S. Tomé e Príncipe de um conjunto de instigadores e autores e só de autores, eram penas que iam de 1 ano a 28 anos de deportação.
No Boletim Oficial n.º 51, de 16 de dezembro, novo rasgo de firmeza, extinção de um regulado. Vejamos qual a matéria de facto:
“Para obstar aos inconvenientes da luta política travada entre os pretendentes ao regulado de Corlá, Farim, resolveu o governo da colónia que, a título experimental, fosse o território de Corlá anexado ao regulado de Caresse e, assim, acabasse um mal-estar que prometia prolongar-se indefinidamente, embora um dos pretendentes fosse nomeado régulo.
De facto, durante um ano nada se notou de anormal na vida do regulado, até que, ultimamente, por manobras de Demba, um dos pretendentes, apareceu em cena um seu irmão, filho do falecido régulo Djabu, de nome Sambaru, que até então tinha vivido na obscuridade no território francês.
Esta figura apagada que os manejos políticos atiraram para o primeiro plano, apresentou-se agora como pretendente ao lugar e, o que é mais interessante, na iminência de verem para sempre frustrado o seu plano com a anexação definitiva do regulado de Corlá ao de Caresse, todos os pretendentes se apresentaram em Bolama numa frente única e, esquecidos das suas dissensões, todos pretendem que o Governo escolha um deles para régulo de Corlá.
Esta última fase mostra claramente as intenções dos pretendentes em quererem, por todos os meios ao seu alcance, evitar que a região de Corlá seja anexada ao regulado do Caresse e, por consequência, possam desfrutar das vantagens que, por um momentâneo acordo, seriam equitativamente distribuídas por todos, embora um só fosse de facto o régulo e os outros os seus satélites.
Este arranjo, porém, não convém nem aos superiores interesses do Estado nem às populações indígenas. Não convém às populações porque, para satisfazer às necessidades sempre crescentes dos três pretendentes redobrariam as exigências e, por conseguinte, a incidência de maiores imposições aos habitantes da região.
Não convém ao Estado porque, sentindo-se sobrecarregados com os pedidos e exigências do futuro régulo, unido num esforço comum com os outros pretendentes e respetivas comitivas, dentro de pouco tempo os habitantes da região começariam a emigrar para outros regulados ou, o que seria mais grave, para vizinha colónia francesa.
Por todos estes motivos, sendo função do Governo da colónia proteger as populações indígenas contras as arbitrariedades e prepotência dos régulos que, muitas vezes, por excessivas provocam perturbações grandes no meio social indígena e facilitam o nomadismo que caracteriza especialmente os indígenas da raça Fula e, por vezes, os da raça Mandinga, habitando regiões próximas da fronteira.
Não convindo que os elementos perturbadores continuem permanecendo na região onde a sua acção política poderá ocasionar graves prejuízos, não só aos habitantes como também aos interesses do Estado; o Governo da colónia, no uso das atribuições que lhe estão acometidas, determina que seja extinto o regulado de Corlá, cuja região fica anexada ao regulado de Caresse; que, por sua permanência na região de Corlá se tornara inconveniente, aos indígenas Taibo Djamanca, Demba Djamanca e Sambaru Djamanca, seja fixada residência na circunscrição civil de Gabu por dois anos.”
O novo ano promete, veremos logo em fevereiro, por mão do encarregado do Governo, Armando Augusto Gonçalves de Morais e Castro (Carvalho Viegas partiu, Ricardo Vaz Monteiro chegará mais tarde). Publica legislação criando o parque Doutor Vieira Machado, algo de surpreendente e até pelo uso de uma terminologia que os ambientalistas de hoje certamente darão concordância.
Major Ricardo Vaz Monteiro, o governador que vem substituir Carvalho Viegas
Posto Administrativo de Safim, década de 1940
Sociedade Portuense Colonial, Bissau, 1925
Os três primeiros sacerdotes franciscanos da província de Veneza (Itália), na Guiné, impulsionadores da leprosaria de Cumura(continua)
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Nota do editor
Último post da série de 3 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27180: Historiografia da presença portuguesa em África (495): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial da Colónia da Guiné Portuguesa, primeiros meses de 1940 (51) (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P27204: (De)Caras (239): Cabos de Manobras (ou marinheiros CM), heróis esquecidos (José António Viegas, ex-fur mil art, Pel Caç Nat 54, Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole, Bolama, Ilha das Cobras e Ilha das Galinhas, 1966/68)
Foto nº 1 e 1A
Foto nº 2
Foto nº 3 e 3A
Foto nº 4 e 4A
Guiné > Região do Oio > Porto Gole > c. 1966/68
Fotos (e legendas): © José António Viegas (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
José António Viegas |
Data - 26/08/2025, 10:36
Assunto - Cabos Manobras
Caro Luis, pouco se fala destes homens, os Cabos Manobras, que pilotavam as LDM e LDP, em patrulhamento rio acima rio abaixo, fazendo patrulhas, levando mantimentos, trazendo os camaradas mortos...
De dois tenho conhecimento que morreram num ataque a navegar. Em Portugole onde aportavam várias vezes empatrulhamento e aí ficavam um ou dois dias nos anos 67/68, deram uma grande ajuda num ataque ao aquartelamento com sua peça de 20mm.
Um abraço,
Zé Viegas
2. Comentário do editor LG:
Tens razão, Zé Viegas. São heróis esquecidos. Da nossa Marinha. Da nossa guerra. Vou criar o marcador "cabo de manobra". Na nomenclatura da Marinha, o cabo de manobra chama-se Marinheiro CM, se não erro. Nem sequer existia no nosso blogue esse descritor. Em contrapartida, temos bastantes referèncias às LDG, LDM e até LDP.
Quem eram estes hoemns da Marinha Portuguesa que, apenas com o posto de cabos, comandaram LDM e as LDP ? (*)
Eis o que apurei na Net através dos assistents de IA (Gemini e ChatGPT) e do nosso blogue;
(i) Papel crucial dos cabos de manobra nas Lanchas de Desembarque na Guerra da Guiné (1961-1974)
Durante a Guerra Colonial na Guiné Portuguesa, entre 1961 e 1974, as Lanchas de Desembarque Médias (LDM) e Pequenas (LDP) da Marinha de Guerra Portuguesa desempenharam um papel vital na logística, no transporte de tropas e em operações de combate nos intrincados rios e canais do território.
No seio das suas reduzidas tripulações, a figura do "cabo de manobras" (ou cabo era essencial, acumulando funções de marinharia, liderança e, frequentemente, de combate.
(ii) As múltiplas funções do cabo de manobras
O cabo de manobras (pou marin heiro CM) era um praça especializado da Marinha, com funções técnicas e de comando em pequenas embarcações..Apesar de serem militares de baixa patente, cumpriam a missão de patrão, isto é, eram quem efetivamente conduzia e comandava a LDM ou LDP na operação diária.
Eles assumiam tipicamente o papel de patrão (comandante) das Lanchas de Desembarque Médias (LDM) e das Lanchas de Desembarque Pequenas (LDP), sendo responsáveis pela navegação, segurança, disciplina e missão operacional das suas guarnições.
Os cabos de manobras eram marinheiros promovidos que acumulavam experiência náutica e exerciam funções de comando prático nas lanchas,
As suas responsabilidades a bordo das LDM e LDP eram vastas e críticas para a operacionalidade destas embarcações em ambiente de guerra. As suas principais funções incluíam:
- Manobra da embarcação: eram responsáveis por todas as manobras de atracação, desatracação, reboque e fundeio; a sua perícia era fundamental para a aproximação a margens não preparadas, para o desembarque e embarque rápido de fuzileiros e material, por vezes vezes sob fogo inimigo;
- Navegação e governo da Lancha: nas LDP e LDM, o cabo de manobras assumia a função de patrão da lancha, sendo o responsável direto pela sua condução e segurança, navegando por rios traiçoeiros, com correntes fortes e pouca profundidade, er sujeitos a minas e emboscadas (a partir das margens);
- Manutenção do aparelho do navio: tinham a seu cargo a conservação de todo o material de convés, como cabos, guinchos, ferros e a rampa de desembarque, um elemento crucial destas embarcações;
- Funções de combate: dada a natureza do conflito e as tripulações reduzidas, os cabos de manobras operavam também o armamento a bordo, como as metralhadoras, e participavam ativamente na defesa da embarcação durante emboscadas e confrontos diretos.
A composição das tripulações e o armamento variavam consoante a classe da lancha, mas caracterizavam-se por serem reduzidas e multifuncionais.
Tipo de Embarcação | Tripulação Típica | Armamento
- DM (Lancha de Desembarque Média) | Cerca de 6 praças (frequentemente um cabo como patrão e marinheiros) | 1 peça Oerlikon de 20 mm e 2 metralhadoras MG 42;
- LDP (Lancha de Desembarque Pequena) | Cerca de 4 a 6 praças (um cabo como patrão e marinheiros) | Variava, podendo incluir 1 peça de 20 mm e/ou metralhadoras ligeiras
(iv) Memórias de dois cabos de manobras mortos em combate
Apesar das dificuldades em encontrar registos centralizados e detalhados de todas as baixas por especialidade, a investigação documental, nomeadamente em publicações como a "Revista da Armada" e em arquivos de veteranos, permite identificar casos concretos de sacrifício.
Um exemplo documentado é o do Cabo M n.º 2404, Jorge António Pereira.
A 7 de agosto de 1973, na região de Tancroal, no rio Cacheu, a LDM 113 que comandava foi violentamente emboscada. Atingida por fogo de lança-granadas (RPG), a lancha sofreu danos significativos. O Cabo Jorge António Pereira, que atuava como patrão da embarcação, teve morte quase imediata em resultado do ataque.
A sua morte, e a de tantos outros marinheiros, testemunha a dureza e os perigos constantes enfrentados pelas guarnições destas lanchas, que, com bravura e competência, foram um pilar fundamental do esforço de guerra português no território da Guiné. O cabo de manobras, em particular, personificava a resiliência e a polivalência exigidas naquele complexo teatro de operações.
Há ainda o caso, anterior também no TO da Guiné,da LDM 302, que registou oito ataques graves durante a sua vida: os dois primeiros verificaram-se em 1964, sem consequências, ocorrendo nova flagelação em 1965, da qual resultaram 30 impactes no costado, não se registando baixas no seu pessoal, para o que muito contribuiu a resposta imediata e eficiente da sua guarnição; nesse ano foi atacada de novo por mais duas vezes, sendo na última feridos 10 militares de uma unidade do Exército embarcada na lancha.
No dia 16 de dezembro de 1967 foi atacada e afundada no rio Cacheu, incidente que ocasionou a morte do seu patrão, MAR M Domingos Lopes Medeiros, e do GRT A Manuel Santos Carvalho (foram ambos condecorados a título póstumo na cerimónia do 10 de Junho de 1968, com a medalha de Cruz de Guerra de 3ª classe).
Trazida à superfície, a LDM 302 foi reparada em Bissau, e posta de novo a navegar. Logo no primeiro cruzeiro, seis meses depois e no mesmo local onde tinha sido anteriormente atacada - Porto Coco, no rio Cacheu - foi de novo atingida com violência, o que teve como consequência a morte do GRT A António Manuel, e ferimentos noutra praça.
De novo reparada, a lancha já não voltou mais ao Cacheu, passando a actuar no rio Grande de Buba, onde mais uma vez sofreu em Fevereiro de 1969 novo ataque, que causaram três feridos. Seria abatida em 30 de Novembro de 1972.(**)
Existem algumas fotos históricas destas lanchas e das suas guarnições, mas imagens individualmente identificadas de cabos manobras são raras. Em blogues de veteranos, como o "Luís Graça & Camaradas da Guiné", é possível encontrar fotografias de LDM (ex: LDM 203, LDM 302) com tripulantes, embora sem identificação detalhada dos cabos manobras ao nível individual. E sobretudo no blogue "Reserva Naval", do nosso amigo e camarada Manuel Lema Santos ( https://reservanaval.blogspot.com/ ).
Essas imagens retratam geralmente pequenas tripulações ao lado da embarcação ou em patrulha junto a margens de rios da Guiné, permitindo visualizar o ambiente operacional típico, mas raramente atribuem nomes diretamente aos cabos manobras.
Resumo: O cabo manobra era o patrão responsável pelo comando prático das LDM e LDP na Guiné, garantindo o cumprimento das missões navais de patrulha e apoio às operações terrestres e ribeirinhas. As fotos existem, mas raramente individualizam estes cabos; surgem geralmente em grupo junto às lanchas nas imagens de arquivo.
(Pesquisa: LG + assistente de IA / Gemini, ChatGPT)
(Revisão / fixação de texto: LG)
_________________
Notas do editor LG:
(*) Último poste da série > 26 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27152: (De) Caras (238): o senhor Michel Ajouz, o comerciante libanês de Bissorã, cristão maronita, amante do bom uísque (Manuel Joaquim / Rogério Freire)
(*) Último poste da série > 26 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27152: (De) Caras (238): o senhor Michel Ajouz, o comerciante libanês de Bissorã, cristão maronita, amante do bom uísque (Manuel Joaquim / Rogério Freire)
(**) Vd. poste de
28 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10084: Antologia (76): Vida e morte da gloriosa LDM 302, a cuja heróica guarnição pertenceu o marinheiro fogueiro Ludgero Henriques de Oliveira, natural da Lourinhã, condecorado com a Cruz de Guerra em 1968 (Manuel Lema Santos / Luís Graça)
Guiné 61/74 - P27203: Agenda cultural (900): Antestreia da série documental guineense "Martcha", do realizador e produtor Unkaff (pseudónimo de Onésio Caetano Soda, n. 1991): sexta, dia 12, 18h00, no Espaço Mbongi67, Praceta António Sérgio, nº 4, Queliuz
Cartaz da série documental "Martcha"
1. O realizador e produtor da série documental guineense "Martcha" teve a gentileza de nos mandar, já no passado dia 23 de agosto, o convite para assistir à sua antestreia. Infelizmente, não poderei estar presente (estou nas vindimas em Candoz, no Norte do País). Mas aqui vai a informação sobre a data e o local. O convite é dirigido a todos os amigos e camaradas da Guiné:
Data: 12 de setembro de 2025
Hora: 18h00
Local: Espaço Mbongi_67
Praceta António Sérgio, nº 4, Queluz
Entrada livre
Hora: 18h00
Local: Espaço Mbongi_67
Praceta António Sérgio, nº 4, Queluz
Entrada livre
Organização: Casa da Cultura da Guiné-Bissau
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Ao longo de três episódios — Iníciu (1950/66), Confrontu (1967/70) e Avansu (1971/74) — a série cruza arquivos históricos, resgata resistências e propõe uma narração feita de disputas, memória e humanismo.
Ao longo de três episódios — Iníciu (1950/66), Confrontu (1967/70) e Avansu (1971/74) — a série cruza arquivos históricos, resgata resistências e propõe uma narração feita de disputas, memória e humanismo.
Após a exibição, haverá uma conversa aberta com a equipa de produção e convidados especiais.
3. O realizador e produtor, Unkaff, é o pseudónimo de Onésio Caetano Soda, nascido em Bissau, Guiné-Bissau, em 8 de abril de 1991, é militar (com o posto de tenente), cineasta, escritor, ativista civico e sociólogo.
É também-fundador e membro da Associação Kabaz Kultural, é membro da Comissão da
Recolha de Dados Históricos da Luta de Libertação Nacional do Estado-Maior General das Forças Armadas e mentor do projeto Nô Ambiente, Nô mamê.É autor de:
- filmes de curta-metragem: "Vozes de Mar" (2019) e "Lágrimas de SIDA" (2020);
- ensaios: "A Luta na Guiné:da luta pacífica à luta armada" (2020); "A pequena Guiné e a sua grande história" (2022);
- livro de contos: "Vidas em letras: contos de tempo nenhum em lado nenhures" (2021);
- artigo: "O papel do Museu Militar da Luta Libertação Nacional na formação da Consciência Histórica Guineense" (2021).
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