quarta-feira, 30 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15913: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (43): Os receios europeus de um antigo colonialista português, gen Norton de Matos, em dezembro de 1943

1. Mensagem do Antº Rosinho, um dos nossos 'mais velhos', que andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado... Fez o serviço militar em Angola,  foi fur mil, em 1961/62,  diz que  foi 'colon' até 1974... 'Retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência'...


Data: 23 de março de 2016 às 19:32
Assunto: Os receios europeus de um antigo colonialista português, o limiano gen Norton de Matos (dezembro de 1943)


Sobre a II Grande Guerra, Norton de Matos (*) escreveu isto,  em livro que o nosso confrade de tertúlia JD [José Dinis] me proporcionou [ J. Norton de Matos - Memórias e trabalhos da minha vida, 4 volumes. Lisboa: Editora  Marítimo-Colonial, 1944-1945]:




José Norton de Matos (1867-1955), general e político português.   1 junho de 1917. Fonte: Hemeroteca Digital - "Portugal na Guerra :  revista quinzenal illustrada" (n.º 1, 1 Jun. 1917)
Autor: Garcez. Foto do domínio público [, tem mais de 70 anos]. Cortesia de Wikimedia Commons



" (...) Muito receio que se a guerra não acabar por todo o ano que vem (1944),  desapareçam por completo as forças capazes de lhe pôr fim por meio de um armistício e da paz que se lhe deverá seguir. Será então a continuação da luta, cada vez mais desordenada, até à aniquilação de todos os combatentes. A desordem e a anarquia a seguir para presidirem à queda das civilizações." (...)

" (... )Há até hoje duas grandes nações vencidas, a França e a Itália" (...)


" (...) "Não creio que à Alemanha só duas coisas possam acontecer, a vitória ou o desaparecimento. O desaparecimento ou aniquilação somente se darão, como acima disse, se a guerra se prolongar até que deixem de existir as forças de paz. Mas esse eclipse abrangeria então todos os povos da Europa." (...)

(...) "Para a Europa deixaria por muitos séculos qualquer missão histórica. Mas para a Europa inteira e não apenas para três nações europeias."



Eu, "colon", tertuliano, membro da Tabanca Grande, apenas quero lembrar que em dezembro de 1943, quando Norton de Matos [, Ponte Lima, 1867 - Ponte de Lima, 1955] disse isto, faltava meio ano para o princípio do fim, quando aconteceu exactamente o célebre dia D, desembarque na Normandia (ainda não havia túnel mo canal da Mancha).

Este dia D ditou aquilo que Norton de Matos temia, não houve paz, e deu-se a aniquilação da Alemanha, digo eu.

E,  como o general dizia, seria também "um eclipse de todos os povos da Europa".

Só trago isto para o blogue por 2 (dois) motivos:

(i) ser oportuno lembrar que a Europa indefesa e impotente de hoje é a continuação da Europa daquele tempo, e anda tudo ligado;

(ii) sabemos que o estado de impotência em que os países da Europa ficaram,   levou a que, por exemplo,  a França não conseguisse,  a seguir, dominar militarmente na Indochina a sublevação político-ideológica que viria a humilhar o exército Francês e mais tarde provocar o que seria a Guerra do Vietname, e em seguida o desastre de vários anos na Argélia e, por vários anos ainda,  uma descolonização imprópria, na África subsariana, com guerras intertribais, se iria reflectir mesmo em Paris, com imensos atritos raciais, e tribais e culturais.

E a Inglaterra e a Bélgica não se sentiram com resistência para continuar a suportar as "rebeldias" tribais e raciais e as ideologias internacionalistas, em colónias como a Nigéria, Quénia ou Congo e Ruanda, etc.

Daí o desastre das descolonizações africanas totalmente inadequadas,  cujas consequências negativas  também atingiram a própria Europa.

Volto ao general que ainda no mesmo capítulo vaticina (, palavra minha,) que,  caso aconteça o pior, ficariam os "povos das Américas e da Ásia" a substituir os Europeus. (O livro foi editado em 1944, a guerra ainda continuava).

Norton de Matos era um homem admirado por muitos africanistas portugueses em Angola e Moçambique e na Índia, pelas suas ideias coloniais.

Norton de Matos, antissalazarista incondicional, tinha uma ideia da II Grande Guerra e sobre as suas consequências se não houvesse acordos de paz, ideias semelhantes a Salazar.

Os anticolonialistas detestam um e o outro, sendo que há antissalazaristas, algum ainda vivos, que dizem que Salazar devia ter entrado na II Guerra,  como tínhamos entrado na I Grande Guerra.

Vou continuar a ler o livro do Norton de Matos (1944) e vou olhando para os noticiários (2016) e vou comparando o angolano Fernando Peyroteo [1918-1978], o moçambicano Eusébio [1942-2014] e o madeirense Ronaldo [n. 1985, tem costela caboverdiana].

Cumprimentos e que o Google não tire a paciência ao Luís Graça.
___________________

Notas do editor:

(*) Vd. biografia deste grande português no poste de  26 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12902 Agenda cultural (306): Vila Nova de Famalicão > Ciclo de Conferências 2014 > Ideias e práticas do colonialismo português: dos fins do séc. XIX até 1974 > 4 de abril de 2014, 21h30 > Conferência do doutor Sérgio Neto (CEIS20/UC): "De Goa a Luanda, pensamento e acção de Norton de Matos"

(**) Último poste da série > 22 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15781: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (42): A unidade que os cabo-verdianos ajudaram a criar

8 comentários:

Juvenal Amado disse...

Meu caro Rosinha
Uma Paz antes do dia D, quando a Alemanha dominava, oprimia, incinerava nos fornos crematórios os que lhes tinham servido de escravos e após ter sido derrotada a Leste, se virava para a pesquisa de novas armas com que fustigava a Inglaterra.
Pergunto-me se seria possível uma Paz sem a destruição do monstro nazi?
Uma Paz com um estado que tinha provado que só queria a sua "paz" de raça superior era impossível.
Também por tudo o Mundo a derrota do aliança entre alemães, italianos e japoneses, depois terem posto todo o Mundo a ferro e fogo, tinha que ter resultados nefastos para as potências coloniais. Os povos dessas colónias, foram utilizados como carne para canhão, para ajudar a libertação dos seus colonizadores tanto na Europa como na Ásia.
Depois disso, o que esperavam os franceses e ingleses em especial? Que os povos sobre o domínio ficassem de braços cruzados, quando tudo apontava para a auto determinação desses mesmos povos em muitos casos apoiados pelos USA como foi o caso da luta armada em Angola? Esqueceram-se rapidamente o que foi ser ocupado e quiseram, à viva força manter os seus territórios ultramarinos.
Os resultados facilmente se adivinhariam, pois quem semeia ventos acabam sempre por colher tempestades.
Não se fez descolonização a não ser quando foram obrigados a fazê-la.
As colonias eram o quê antes da guerra começar? Depois de uma guerra longa onde se criaram unidades indígenas, assente na diferença étnica ou em regalias sociais e onde se ampliavam os feitos heroicos em detrimento dos outros? Que descolonização seria possível e que fermento de guerra não ficou lá?
A Europa mesmo assim nunca teve um período de Paz tão longo dentro das suas fronteiras.
O problema não falta de força mas sim a falta de um plano comum, onde os países fazem acordos com forças ou cedem a chantagens, como foi o caso do desmembramento da Jugoslávia e agora no caso dos refugiados.
Tudo tem uma causa e efeito.
A Europa gosta dos ditadores desde que estes defendam os seus interesses. Forneceu-lhes apoio quando eles enchiam os seus cofres com a compra de armamento, em troca de riquezas minerais. A França e Bélgica apoiaram golpes de estado nos novos países, onde os novos senhores substituíram os dirigentes nacionalistas, que tinha comandado a guerra de libertação. Há quem diga que os próprios USA ajudaram a pôr os franceses para fora da Indochina. O neocolonialismo tornou-se na continuação do mesmo com outro rosto.
Alguém acredita que se mantenham no poder homens há tanto tempo no poder se esses não beneficiassem a Europa e os Estados Unidos?

Um abraço

JD disse...

Meu caro Juvenal,
Acabo de ler o teu comentário, onde me parece ter detectado uma incongruência: por um lado perguntas "as colónias eram o quê antes da guerra começar"?, e por outro adiantas que "a Europa gosta dos ditadores desde que estes defendam os seus interesses". Ora, estas duas asserções revelam que as colónias não estavam preparadas para as independências, e que quando as alcançaram (as independências) não souberam autonomizar-se, ficaram sujeitas a regimes ditatoriais e em contradição com o que proferiam os seus intelectuais da guerrilha, envolvendo-se em guerras civis que obrigam os povos a sofrimentos maiores do que no tempo colonial.
Conheci Angola antes da independência (1972/74) e durante dois anos e meio constatei a chegada de milhares de europeus, alguns já com família constituída, outros a integrarem-se nas sociedades locais; constatei o imenso desenvolvimento daquela terra, com índices de crescimento da ordem dos 20% anuais; constatei que a guerra estava confinada a um nicho das terras do fim-do-mundo, e que os cidadãos sentiam liberdade para se deslocarem por todo o lado; enfim, constatei que havia paz e progresso, e por isso, a guerrilha não tinha mais argumentos para mobilizar as populações, cada vez mais instruídas e a beneficiar de salários, e constatei que sob a bandeira de Portugal não havia resquícios de rivalidades tribais.
O futuro seria auspicioso, e tudo acontecia, apesar de alguma indiferença do governo central. Nem aqui o governo reconhecia a importância das duas maiores colónias, que enchiam os cofres do BP com ouro e divisas, e que pagavam as despesas da guerra sem o sacrificio da carga fiscal metropolitana; e que permitiam o crescimento da metrópole com índices de 7% ao ano, que impunha as colónias como mercado privilegiado da metropole, pois não era capaz de concorrer com os produtos estrangeiros. Seria natural, que os últimos constrangimentos que refiro, viessem a estimular ideias independentistas, e que essas novas sociedades viessem a ser exemplos de ordem e progresso.
Infelizmente, a história mostra-nos que a oferta das independências, não só não foram desejadas pela maioria das populações locais, como os novos líderes não tiveram capacidade dar expressão às expectativas criadas, e, de um modo geral, o mesmo aconteceu em todas as antigas colónias qualquer que fosse a origem. O MFA desempenhou um papel imberbe e criminoso enquanto interventor político, e foi ostensivamente a favor do bloco de leste na condução dos processos descolonizadores.
O tempo e as ambições, associados ao esfumar da URSS é que vieram a colocar os novos países na órbita dos USA.
Penso eu de que...
Abraços fraternos
JD

Juvenal Amado disse...

Dinis estás a falar de Angola 72/74 mas eu falo-te de Angola antes da guerra começar. Como era? Que níveis de desenvolvimento?
Os movimentos de libertação foram financiados pela URSS e seu satélites não há qualquer mentira nisso mas na verdade o petróleo esteve sempre em mãos de quem? E os diamantes? O neocolonialismo manteve a suas garras sobre as ex colónias enquanto os governantes fantoches engrossavam as suas contas pessoais em banco do Ocidente.
Quanto ao crescimento da Metrópole com índices de 7% é estranho que o regime não se aguentasse! Estávamos todos muito bem,os níveis de mortalidade infantil eram os mais altos da Europa, a iliteracia idem idem e não estávamos fartos daquela guerra.
Nunca vi um país tão próspero entrar em combustão como Portugal estava a entrar e não era só por causa da guerra.
Estarei enganado?
O MFA no turbilhão pós 25 de Abril em que ninguém aceitava embarcar e os soldados que lá estavam queriam era vir embora, fez o que podia na minha opinião.
Não fizeram tudo bem até posso dizer que fizeram muita coisa mal mas já o regime que governou Portugal quase 50 anos , que obrigava a carta de chamada, impunha uma moeda diferente como prova que aquilo era uma província tal e qual como o Alentejo e Algarve fez tudo bem
Olha quanto há questão da permanência de dirigentes há demasiados anos no poder volto a reafirmar... eles só lá estão porque interessa aos negócios europeus e americanos. Se assim não fosse a prova está na derrocada do governo branco do país mais poderoso de África, a África do Sul.

Até te digo foi em 75, mas se se tem implantado um governo com a tal independência dos brancos em Angola, o resultado ia ser o mesmo mais 20 ou trinta anos fossem os anos que fossem. Não se podia parar a marcha da História.
A Europa tem hoje fronteiras desenhadas com quase mil anos de sangue derramado. África ainda está no começo pois só há sessenta ou setenta anos começou a longa caminhada para a independência a liberdade ainda é mais tarde.
Como canta o Sérgio Godinho, A PAZ, O PÃO, HABITAÇÃO, SAÚDE, EDUCAÇÃO, só há liberdade a sério.....
Até cá ainda estou à espera amigo Dinis

Antº Rosinha disse...

Os ventos da História foram os piores que se podiam imaginar.

Juvenal Amado, as fronteiras estão bem desenhadas com mil anos...com arame farpado.

Norton de Matos, era contra a II Grande Guerra, porque a Europa ia-se autodestruir juntamente com a sua civilização.

Juvenal Amado, Norton de Matos participou na I Grande Guerra e era anglófilo e antigermânico, principalmente por causa da defesa das nossas colónias.

O Eurocentrismo ainda existe hoje, mas naquele tempo seria mais consensual, mas Norton de Matos devido à sua experiência, só não previu arame farpado em Ceuta e Melila, na Hungria, e no sul da ex-Jugoslávia e no Funil do Canal da Mancha.

Mas previu o princípio do fim e nós aqui a assistir de poltrona...por enquanto.

Isso que o NM quis entender, também quem era retornado como eu, prevíamos a fuga do sul para a Europa, mas não podíamos explicar, porque nos calaram.

Juvenal Amado, e isto é par ti o Diniz e para qualquer anti-colonialista formado em Coimbra, Paris ou Londres, Angola antes da Guerra do Ultramaar, era muito atrasada, no conceito do Norton de Matos, e do nosso eurocentrismo cultural da época e ainda de hoje, porque o nosso complexo cultural ainda é o mesmo.

Em Angola havia tanto asfalto que imagina saír de Lisboa para Paris, e o asfalto acabar em Montemor-o-Novo.

Mas a PAZ, O PÃO, HABITAÇÃO, SAÚDE E EDUCAÇÃO, igual aquela, para Régulos, Sobas, fazendeiros e comerciantes brancos e mestiços, não torna a haver nem daqui a séculos.

E os antigos estudantes do Império até se iludiram que aquilo era canja e queriam a independência... para eles.

E os ventos da História não param, pelo menos em Angola, parece que não são permitidas «mesquitas»



Juvenal Amado disse...

Amigo Rosinha

O sonho comanda a vida como diz António Gedeão.
É da natureza humana o matar-se e tentar dominar os outros pela força. Segundo se consta mais nenhum ser mata por prazer, ou por religião ou interesses económicos, senão o Homem.
No período que acabamos de viver, passaram vários filmes Bíblicos nas nossas televisões. Quero aqui destacar A Paixão de Cristo de Mel Gibson, não só pela forma que foi realizado mas como uma verdade que encerra. Quando foi dado a escolher entre Cristo e o ladrão, o povo injectado pelos guardiões do templo e velhos interesses instituídos, escolheram soltar o ladrão. De notar que isto acontece oito dias depois de Cristo ter sido recebido em festa como o Messias, pelo o mesmo povo.
E o que tem sido a História senão uma sucessão de matanças por territórios e pela ascensão ao poder?
Esperar por um Mundo que se transforme, para o bem estar dos cidadãos é uma utopia, mas sem sonhos não há Prozac que nos valha.

Um abraço para si e outro para o Zé Dinis

JD disse...

Olá Juvenal, bom dia!
Tenho que replicar o teu segundo comentário, não para impor a minha verdade, mas para darmos alguma coerência aos escritos.
Vamos pelos antecedentes: a colonização portuguesa não foi muito diferente da dos outros europeus, embora com desenvolvimentos urbanos distintos. Os portugueses foram aqueles que se meteram mata a dentro, lá criaram as suas famílias, e trabalhavam lado a lado com os africanos. Não havia legislação laboral? Pois não, os nativos viviam com os brancos em regime de trocas, e as escassas leis laborais eram de protecção às empresas coloniais, situação que perdurou até aos anos 50. Norton de Matos, que tentou valorizar o trabalho do nativo mediante o estabelecimento de regras e a troco de salário digno, foi vítima dos grandes interesses neo-coloniais, sob o argumento de que levava vida faustosa (Norton de Matos - Biografia, José Norton, Bertrand ed.). Igualmente, Henrique Galvão, talvez o mais africanista dos nossos políticos, foi marginalizado em virtude de um relatório que denunciava a Salazar a desorganização e exploração da mão-de-obra negra a favor das companhias coloniais, que a Assembleia Nacional repudiou como falcatrua com intentos desconhecidos. Ora, até tarde demais nos anos 50, ainda era possível angariar mão-de-obra coercivamente, pela abordagem aos régulos que eram necessariamente presenteados, e disponibilizavam pessoal (que por vezes não regressavam às origens) para trabalhos na africultura, na administração, e nas grandes companhias de que a Diamang foi um exemplo. Eram os chamados contratados, que se deslocavam em grupos mais nou menos jovens enquadrados para grandes distâncias. Outra situação criticável ara a fiscal, de que os impostos de palhota foram os mais absurdos, para além do IGM - imposto geral mínimo que perdurou até 75. Como se pode observar, tanto os trusts estrangeiros eram amplamente beneficiados com essas situações dominantes, que se impunham à administração pública. refiro ainda, que pelo menos aquela companhia fazia empréstimos regulares ao Estado, e construía infra-estruturas com partilha de benefício público, de que destaco a produção e distribuição de electricidade.
A partir dos anos 60, porém, foram introduzidas muitas alterações, que estavam a valorizar as populações, com igualdade de oportunidades para todos, quase sempre em regime de salário igual para trabalho igual. Construía-se uma nação. Nas cidades já eram muitos os autóctones brancos, pretos e mulatos, a trabalhar lado a lado com os recém chegados da metrópole, tanto no público, como no privado. A população de Luanda cresceu entre 1960 e 1970 de 224.540 para 475.328 habitantes, sendo que a evolução da população branca foi de 55.567 para 124.813 e a de mulatos foi de 13.593 para 124.817 (Servindo o Futuro de Angola, de Costa Oliveira, secretário provincial de planeamento e finanças de Angola, 1972), o que dá ideia sobre a capacidade de miscigenação só permitida numa sociedade pacífica e em franco progresso.
Claro que já há muito não havia cartas de chamada, as pessoas deslocavam-se livremente no território, e as trocas comerciais como as viagens turísticas incrementavam as deslocações por via aérea ou marítima. (continua)

JD disse...

(continuação)
Pelo que antecede, e não esgota o assunto, pode-se constatar um certo paralelismo entre o atraso metropolitano e o das colónias. Os anos 60 foram já de visível melhoria e desenvolvimento. Mas o rendimento metropolitano era garantido principalmente pelas colónias, já que a produção daqui só raramente concorria com a produção externa, e aquela tinha mercados de privilégio no ultramar. Por via de múltiplas contabilidades, não era fácil constatar essa dependência, apesar, ou talvez por isso, dos grandes investimentos de que Sines foi cartaz.
referes sobre o MFA que "dez o que podia". Outra vez estamos em desacordo, pois o movimento foi corporativo, e os que o integraram eram militares profissionais, logo deveriam estar preparados para a guerra, o seu "múnus", mas atraiçoaram a Pátria, pois ninguém lhes pediu para agirem daquele modo, nem eles revelaram saber no que estavam a meter-se. Cobardia foi a motivação, e nós aqui no Blogue estamos fartos de narrativas sobre o QP durante aquela guerra. De facto, a questão dos milicianos foi ultrapassada pela revogação da lei, mas, não lembraria ao diabo entregar o ultramar como forma de resolver aquele "problema".
(continua)

JD disse...

(continuação)
Já passaram mais de 40 anos, e não podemos dizer que sofremos com o que desconhecemos. Nós não sofremos com as trágicas mortes de muitos navegadores e pioneiros, que procuravam alternativas ao domínio da nobreza. Não compreendemos o que não conhecemos, e muitos de nós conhecemos apenas parcialmente as sociedades ultramarinas, também elas tão diferentes entre si. Não vivemos a dor dos que não conhecemos, mas sabemos que foram muitos, e à maioria de nós, para avaliar, faltou a experiência de sermos mal tratados e corridos de nossas casas para a metrópole longínqua e para muitos desconhecida, privados do que tivéssemos,sem mais do que a roupa sobre o corpo, perseguidos e recebidos pelo ápodo de colonialistas.
Afinal, com quem nos identificamos? Quando será intuído que antes de termos nacionalidade, já somos cidadãos do mundo?
Havia uma luta estranha esteriotipada na guerra fria, entre dois blocos poderosos. Se de inicio ambos se manifestaram contra o domínio português no ultramar, em breve os americanos descobriram que Portugal era de facto um tampão à progressão das forças de orientação contrária, e que os países do bloco afro-asiático admitidos na ONU já constituíam ruidosa maioria, pelo que passaram a apoiar-nos discretamente, enquanto essas sociedades portuguesas evoluíam para a autodeterminação, em paz e progresso. Em nenhuma das colónias em guerra pode dizer-se que os emancipalistas tiveram o apoio das populações. Pelo contrário. Terá sido porque a guerra começou tarde, enquanto se esbatiam as características de governos coloniais que subjugaram o ultramar? Acho que sim, aquelas regiões estavam em processo de modernização rápida.
Abraços fraternos
JD