Guiné > Região do Oio > Mansoa >9 de setembro de 1974 > Uma foto para a história: o ex-fur mil op ersp / ranger, Eduardo Magalhães Ribeiro,. hoje nosso coeditor, CCS/BCAÇ 4612/74 (Mansoa, abr - out 1974), a arriar a bandeira verde-rubra, na presença de representantes do PAIGC (incluindo a viúva de Amílcar Cabral) e de autoridades militares do CTIG.
Foto (e legenda): © Eduardo Magalhães Ribeiro (2005). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. "O Prisioneiro da Ilha das Galinhas", da autoria do Abílio Magro, é uma das crónicas "divertidas" da série "Um amanuense em terras de Kako Baldé" (de que se publicaram 15 postes enter janeiro de 2013 e março de publicada em 2016, e que estamos agora a revisitar).
O título é enganador: o "prisioneiro" personifica aqui, metaforicamente falando, o "último dos moicanos"...
Sabe-se que No dia 14 de Outubro, pelas 3 da manhã, o comandante-chefe Carlos Fabião partiu do aeroporto de Bissalanca, juntamente com os comandantes do CTIG, da Zona Aérea, do seu Estado-Maior (onde se encontrava também o seu CEM, Henrique Gonçalves Vaz) e os oficiais da Comissão Coordenadora do MFA na Guiné. Este voo representou o penúltimo contingente das nossas tropas, e não o último. No aeroporto encontravam-se representantes do PAIGC em Bissau, nomeadamente Juvêncio Gomes, Vítor Monteiro, Constantino Teixeira, Paulo Correia e Silva Cabral (nome de guerra, "Gazela").
O então Comodoro Vicente Manuel de Moura Coutinho de Almeida D´ Eça tinha passado a ser, entretanto, a partir de 14 de Outubro, à uma hora, o comandante de todas as forças dos três Ramos presentes no TO da Guiné.
Na manhã do dia 14 de outubro realizou-se a entrega do Palácio do Governo, tendo assistido a esta cerimónia o comodoro Vicente Almeida d' Éça, em representação do Governo Português (segundo Jorge Sales Golias, este foi o último acto oficial antes da retirada de todas as Forças Portuguesas) (**)
O comandante das Forças Terrestres a embarcar foi o coronel de infantaria António Marques Lopes: este sim o último contingente militar a abandonar o TO da Guiné, no T/T Uíge, em 15 de outubro (chegado a Lisboa, a 20; nele veio também o nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro) (*).
2. Recordemos a cronologia desses últimos dias do Império, no que diz respeito à Guiné... Garantida a independência pela Lei n.º 7/74, o período (de 30 de julho a 15 de outubro de 1974) foi caracterizado por "ausência significativa de pressão política ou militar", destacando-se no entanto, as seguintes acções mais relevantes (estamos a citar a CECA- Comissão para o Estudo das Campanhas de Ágfrica) (***)
(i) desmobilização, até fianl de agosto, das forças de recrutamento local, que lutaram a nosso lado contra o PAIGC, razão pela qual o seu desarmamento e desmobilização constituíram período crítico na fase final da nossa permanência na Guiné;
Os nossos "cronistas" desse tempo são o Eduardo Magalhães Ribeiro, o Albano Mendes de Matos e... o Abílio Magro, ex-fur mil amanuense, Chefia do Serviço de Justiça e Disciplina (CSJD), QG/CTIG, março 1973/ setembro 1974).
A cena passa-se em Bissau, em finais de setembro de 1974, com os últimos militares portugueses a fazerem a "comissão liquidatária" do impériom (a destruir papéis, a arrumar caixotes, a deitar fora a tralha da guerra, a transferir serviços, a fazer as malas para regressar a casa, a beber as últimas "basucas", etc.).
Faz sentido republicar agora, na efenéride dos 51 anos, esta história na série "Memórias dos últimos soldados do império" (*)
A República da Guiné-Bissau já tiha sido reconhecida por Portugal, "de jure et de facto", em 10 de setembro. O brigadeiro graduado Carlos Fabião, último governador e comandante-chefe, ainda era, até 14 de outubro desse ano, formalmente, o representante do Governo português, do território.
Na manhã do dia 14 de outubro realizou-se a entrega do Palácio do Governo, tendo assistido a esta cerimónia o comodoro Vicente Almeida d' Éça, em representação do Governo Português (segundo Jorge Sales Golias, este foi o último acto oficial antes da retirada de todas as Forças Portuguesas) (**)
O comandante das Forças Terrestres a embarcar foi o coronel de infantaria António Marques Lopes: este sim o último contingente militar a abandonar o TO da Guiné, no T/T Uíge, em 15 de outubro (chegado a Lisboa, a 20; nele veio também o nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro) (*).
(i) desmobilização, até fianl de agosto, das forças de recrutamento local, que lutaram a nosso lado contra o PAIGC, razão pela qual o seu desarmamento e desmobilização constituíram período crítico na fase final da nossa permanência na Guiné;
(ii) a retirada das nossas forças do teatro de guerra, sua concentração em Bissau e transporte das últimas unidades para Lisboa, em 15 de Outubro;
(iii) neste período, o potencial relativo de combate das NT relativamente às do PAIGC era-nos desfavorável, pelo que se tornou necessário gerir o evoluir da situação com o maior tacto político e militar, garantindo sempre o máximo possível de segurança para as nossas tropas.
(iii) neste período, o potencial relativo de combate das NT relativamente às do PAIGC era-nos desfavorável, pelo que se tornou necessário gerir o evoluir da situação com o maior tacto político e militar, garantindo sempre o máximo possível de segurança para as nossas tropas.
Recorde-se as datas-chave:;
- 26 de agosto, em Argel, assinatura do acordo entre o Governo Português e o PAIGC para a independência da Guiné-Bissau, tendo-se assentado nos seguintes pontos essenciais: (a) independência em 10 de setembro de 1974; (b) retirada das Forças Armadas Portuguesas até 31 de outubro; (c) cessar fogo "de jure" desde a mesma data;
- de 4 a 9 de setembro, chegada a Bissau de vários membros do Governo e responsáveis do PAIGC; no dia 9, chegou também o primeiro contingente militar do novo Estado;
- 10 de setembro, em Lisboa, cerimónia formal de reconhecimento da independência da Guiné-Bissau por Portugal; na mesma data, em Bissau, iniciava-se a transferência dos principais serviços públicos para a responsabilidade da administração do novo Estado;
- 15 de outubro, retirada dos últimos contingentes das forças militares portuguesas estacionadas em Bissau; regresso nos TAM e no T/T Uíge e navios da marinha;
- no total, regressaram a Lisboa cerca de 23.800 combatentes do efectivo metropolitano.

O Abílio Magro também um dos últimos "moicanos" (leia-se: soldados do império), tendo regressado a caso em fins de setembro, nos TAM. O ten cor Albano Mendes Matos, a 14, também de de avião. O Eduardo, a 15, no T/T Uíge.
O Abílio Magro é o nosso grão-tabanqueiro nº 600, tendo ingressado formalmente no blogu em 13/1/2013. Tem 73 referências.
Os "últimos moicanos" - Parte I
por Abílio Magro
A azáfama fazia lembrar uma tarde de fim de feira numa qualquer terra do interior de Portugal, onde as embalagens vazias de cartão se amontoam ao lado de cada tenda e os feirantes se apressam a recolher os artefactos e produtos não transacionados para, na madrugada seguinte, regressarem à estrada e ocupar novamente as “montras” numa outra feira qualquer.
Estávamos em finais de setembro de 1974 e o recinto da “feira” era a pequena “parada” defronte do edifício do QG/CTIG.
Com efeito, havia muita movimentação de pessoas e bens e o asseio parecia ter sido algo descurado. Notava-se algum nervosismo e pressa em fazer malas. Lembrava o término de um qualquer período de férias de Agosto no Algarve em que havia necessidade de andar lesto, a fim de se evitar as longas filas de trânsito das estradas algarvias daqueles tempos.
As entradas e saídas do Quartel-General eram constantes e respirava-se, efetivamente, um fim de feira com desfazer de tendas. A grande maioria das Unidades Militares que tinham estado sediadas no interior do território, já tinha regressado à Metrópole e era agora chegado o momento dos últimos “moicanos”, nomeadamente os militares metropolitanos que se encontravam presos na Ilha das Galinhas.
A pequena Ilha das Galinhas, com apenas 50 km² de área, é uma das oitenta e oito ilhas que compõem o Arquipélago de Bijagós. Durante o período colonial funcionou nesta ilha uma prisão, designada por "Colónia Penal e Agrícola da Ilha das Galinhas".
Esta colónia estava destinada, essencialmente, a presos políticos, incluindo elementos do PAIGC, alguns dos quais ali estariam em trânsito para a prisão do Tarrafal (Ilha de Santiago, Cabo Verde).
Os prisioneiros andavam soltos pela ilha e a maioria trabalhava na bolanha (cultivo de arroz) e nas plantações de ananás e mancarra (amendoim) que havia pelo campo.
Nos finais de setembro de 1974, um desses prisioneiros, militar metropolitano, andava por ali no recinto da “feira” do QG/CTIG a aguardar não se sabia muito bem o quê.
Fazia-se acompanhar por um corpulento macaco-cão que segurava por uma trela de corrente de aço.
Este “prisioneiro à solta” apresentava uma tez bastante avermelhada, indiciando excesso de sol recente (ou algum excesso de aguardente) e trajava de um modo demasiadamente informal para um militar naquele local; camisa, calções e sapatos de ténis militares. Na cabeça, sempre descoberta, ostentava uma farta cabeleira arruivada e encaracolada e, nas pernas e coxas, várias tatuagens “pornográficas” a necessitarem de “bolinha vermelha”.
Era de poucas falas e parecia andar por ali apenas com o intuito de desafiar “altas patentes”, digo eu.
Com efeito, dava-me um certo gozo ver majores, tenentes-coronéis, coronéis, etc., que entravam ou saíam do QG, depararem-se com aquela figura acompanhada do “seu animalzinho de estimação” e, pasmados, fitando o “moicano”, receberem em troca um olhar ostensivamente desafiador que os desarmava por completo e os “aconselhava” a prosseguir o seu caminho, o que faziam sem pestanejar.
Com muito custo lá conseguimos chegar à fala com o “moicano” e, segundo recordo, ele aguardava autorização para trazer o “companheiro” para a Metrópole, mas, confrontado com a nossa convicção de que isso não seria possível, logo afirmou que “então cortava o pescoço ao símio!”
Eram dias de muita rebaldaria e, lá fora, na estrada que passava em frente ao QG/CTIG, era constante o movimento de negros alombando para suas tabancas “troféus de guerra” diversos, tais como: colchões, frigoríficos, aparelhos de ar condicionado, etc.
Alguns capitães conduziam jipes bastante “mal-tratados” que avariavam constantemente e era vê-los a empurrar a “sucata” com a ajuda de um ou outro militar…
Há algo de pungente na tua descrição, tão singela, ingénua e ao mesmo tempo tão realista e quase cinematográfica dos últimos dias de Bissau... São pinceladas, são apontamentos, são "flashes", são pequenos detalhes de uma atmosfera, única, a da véspera de se partir, definitivamente, para casa e deixar atrás a tralha da História, e as ruínas de uma guerra, que vai, contudo, continuar a arder em lume brando...
Acho que, quem como tu, foi um dos últimos guerreiros do império, mesmo tendo sido um honestíssimo e patriótico amanuense, não mais poderia esquecer esses últimos dias, essas últimas horas...
O teu "prisioneiro da ilha das Galinhas" é um "boneco" bem apanhado!... Estou a imaginar a cara de desagrado, confusão e impotência dos nossos "maiores" (tenentes coroneis e majores) ao tropeçar, à portas do QG, com o teu "moicanho"... Mas todos foram, "chefes e índios", tristes figurantes do filme em que os "tugas" sairam de cena... daquela parte de África aonde justamente tinham sido os primeiros, dos europeus, a chegar, em meados do séc. XV!...
Obrigado, mano Magro, por mais este delicioso naco de prosa!..
Estávamos em finais de setembro de 1974 e o recinto da “feira” era a pequena “parada” defronte do edifício do QG/CTIG.
Com efeito, havia muita movimentação de pessoas e bens e o asseio parecia ter sido algo descurado. Notava-se algum nervosismo e pressa em fazer malas. Lembrava o término de um qualquer período de férias de Agosto no Algarve em que havia necessidade de andar lesto, a fim de se evitar as longas filas de trânsito das estradas algarvias daqueles tempos.
As entradas e saídas do Quartel-General eram constantes e respirava-se, efetivamente, um fim de feira com desfazer de tendas. A grande maioria das Unidades Militares que tinham estado sediadas no interior do território, já tinha regressado à Metrópole e era agora chegado o momento dos últimos “moicanos”, nomeadamente os militares metropolitanos que se encontravam presos na Ilha das Galinhas.
A pequena Ilha das Galinhas, com apenas 50 km² de área, é uma das oitenta e oito ilhas que compõem o Arquipélago de Bijagós. Durante o período colonial funcionou nesta ilha uma prisão, designada por "Colónia Penal e Agrícola da Ilha das Galinhas".
Esta colónia estava destinada, essencialmente, a presos políticos, incluindo elementos do PAIGC, alguns dos quais ali estariam em trânsito para a prisão do Tarrafal (Ilha de Santiago, Cabo Verde).
Os prisioneiros andavam soltos pela ilha e a maioria trabalhava na bolanha (cultivo de arroz) e nas plantações de ananás e mancarra (amendoim) que havia pelo campo.
Nos finais de setembro de 1974, um desses prisioneiros, militar metropolitano, andava por ali no recinto da “feira” do QG/CTIG a aguardar não se sabia muito bem o quê.
Fazia-se acompanhar por um corpulento macaco-cão que segurava por uma trela de corrente de aço.
Este “prisioneiro à solta” apresentava uma tez bastante avermelhada, indiciando excesso de sol recente (ou algum excesso de aguardente) e trajava de um modo demasiadamente informal para um militar naquele local; camisa, calções e sapatos de ténis militares. Na cabeça, sempre descoberta, ostentava uma farta cabeleira arruivada e encaracolada e, nas pernas e coxas, várias tatuagens “pornográficas” a necessitarem de “bolinha vermelha”.
Era de poucas falas e parecia andar por ali apenas com o intuito de desafiar “altas patentes”, digo eu.
Com efeito, dava-me um certo gozo ver majores, tenentes-coronéis, coronéis, etc., que entravam ou saíam do QG, depararem-se com aquela figura acompanhada do “seu animalzinho de estimação” e, pasmados, fitando o “moicano”, receberem em troca um olhar ostensivamente desafiador que os desarmava por completo e os “aconselhava” a prosseguir o seu caminho, o que faziam sem pestanejar.
Com muito custo lá conseguimos chegar à fala com o “moicano” e, segundo recordo, ele aguardava autorização para trazer o “companheiro” para a Metrópole, mas, confrontado com a nossa convicção de que isso não seria possível, logo afirmou que “então cortava o pescoço ao símio!”
Eram dias de muita rebaldaria e, lá fora, na estrada que passava em frente ao QG/CTIG, era constante o movimento de negros alombando para suas tabancas “troféus de guerra” diversos, tais como: colchões, frigoríficos, aparelhos de ar condicionado, etc.
Alguns capitães conduziam jipes bastante “mal-tratados” que avariavam constantemente e era vê-los a empurrar a “sucata” com a ajuda de um ou outro militar…
Enfim, imagens vivas do fim do Império Colonial Português!
Uns dias depois é chegada a hora do meu regresso a casa e lá estava no aeroporto de Bissalanca o “moicano”, sem macaco. Viajou connosco e disse-nos que o tinha matado (??).
Uns dias depois é chegada a hora do meu regresso a casa e lá estava no aeroporto de Bissalanca o “moicano”, sem macaco. Viajou connosco e disse-nos que o tinha matado (??).
Abílio Magro
(Revsião / fixação de texto, título: LG)
2. Na altura, o editor LG tinha deixado o seguinte comentário no poste P15618;
Há algo de pungente na tua descrição, tão singela, ingénua e ao mesmo tempo tão realista e quase cinematográfica dos últimos dias de Bissau... São pinceladas, são apontamentos, são "flashes", são pequenos detalhes de uma atmosfera, única, a da véspera de se partir, definitivamente, para casa e deixar atrás a tralha da História, e as ruínas de uma guerra, que vai, contudo, continuar a arder em lume brando...
Acho que, quem como tu, foi um dos últimos guerreiros do império, mesmo tendo sido um honestíssimo e patriótico amanuense, não mais poderia esquecer esses últimos dias, essas últimas horas...
O teu "prisioneiro da ilha das Galinhas" é um "boneco" bem apanhado!... Estou a imaginar a cara de desagrado, confusão e impotência dos nossos "maiores" (tenentes coroneis e majores) ao tropeçar, à portas do QG, com o teu "moicanho"... Mas todos foram, "chefes e índios", tristes figurantes do filme em que os "tugas" sairam de cena... daquela parte de África aonde justamente tinham sido os primeiros, dos europeus, a chegar, em meados do séc. XV!...
Obrigado, mano Magro, por mais este delicioso naco de prosa!..
quinta-feira, 14 de janeiro de 2016 às 22:04:00 WET
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(*) Vd. último poste da série > 14 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12979: Memórias dos últimos soldados do império (3): (Albano Mendes de Matos / Magalhães Ribeiro)
(***) Vd. poste d3e 14 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24952: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (23): A narrativa da CECA (Comissão para o Estudo das Campanhas de África) - Parte I
(...) Fonte: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da actividade operacional: Tomo II - Guiné - Livro III (1.ª edição, Lisboa, 2015), pp. 420/423-
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Notas do editor LG:
(*) Vd. último poste da série > 14 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12979: Memórias dos últimos soldados do império (3): (Albano Mendes de Matos / Magalhães Ribeiro)
(***) Vd. poste d3e 14 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24952: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (23): A narrativa da CECA (Comissão para o Estudo das Campanhas de África) - Parte I
8 comentários:
Abílio, espero que não me batas por ter trocado o título da tua crónica... A imagem do "moicano" é tua...Vês se concordas também com a "leitura" que o assistente de IA (o Gemini) faz desta metáfora, "Os últimos moicanos", que afinal foram vocês todos que ficaram em Bissau até ao fim, tu, o "prisioneiro da Ilha das Galinhas", o Magalhães Ribeiro, o Albano Mendes de Matos, o Carlos Fabião, etc.
(...) A Metáfora do "Último dos Moicanos"
A expressão "últimos moicanos" é universalmente entendida como uma referência aos últimos sobreviventes de uma causa, de um povo ou de uma era. Inspirada na obra literária de James Fenimore Cooper, "O Último dos Moicanos", a metáfora evoca uma sensação de resistência solitária, de testemunho do desaparecimento de um mundo.
Ao aplicar esta metáfora aos portugueses em Bissau, em outubro de 1974, descreve-se a sua posição como os remanescentes de um poder colonial derrotado. Eram os últimos representantes de uma ordem que se desmoronara, observando a ascensão de uma nova realidade da qual já não faziam parte. A expressão carrega um misto de melancolia, nostalgia e a consciência de serem as derradeiras testemunhas de um capítulo da História de Portugal que se encerrava de forma definitiva.
O Sentimento de Fim de uma Era
Para além do facto histórico, a expressão traduz um estado de espírito. Para muitos dos que ficaram até ao fim, havia um sentimento de abandono e de desilusão. Eram soldados que combateram numa guerra que terminou abruptamente, funcionários de uma administração que deixou de existir e civis que viam o seu modo de vida desaparecer.
A atmosfera em Bissau, naquele mês, era complexa. Por um lado, a euforia da independência para o povo guineense; por outro, a incerteza e a tristeza para muitos dos portugueses que partiam. A imagem dos navios que zarpavam, levando os últimos soldados e civis, simbolizava o corte final com o passado imperial. Aqueles que embarcaram nesses últimos transportes eram, de facto, os "últimos moicanos" a deixar o território que fora um dos pilares do império.
Em suma, a expressão "Os 'últimos moicanos' do último império colonial português, Bissau, outubro de 1974..." significa a representação simbólica do fim do ciclo imperial português, personificado nos últimos indivíduos que testemunharam a transição final de poder na Guiné-Bissau. É uma poderosa imagem que encapsula a solidão, a irreversibilidade da história e a melancolia associada ao fim de uma longa e controversa era.(...)
Antonio Duarte (by email)
17 set 2025 15:25
Boa tarde a todos.
Quando leio este post, fico com uma pena terrível de não ter participado no fim do Império. Regressei em 20 de janeiro de 1974 e não me importava nada de lá ter ficado até outubro.
Teria assistido no Xime ao encontro da Ccaç 12 com o grupo do PAIGC que atuava na zona e teria assistido em Bissau às cenas “cinematográficas” que o Magro relatou.
Que marcante para o Magalhães o arrear da bandeira nacional.
Um grande sbraço para todos
António Duarte
Estive a ler estes passados e tristes acontecimentos, que já passaram ha mais de meio século, fica para a história, que devemos estes nossos camaradas dos ultimos dos moicanos.
Nunca tinha lido quase nada, embora conhecia mais por alto a história do Adeus às Armas, por pessoas que lá estavam na hora, entre eles o meu saudoso Pai, que nunca se alargou muito em comentários, era afinal um militar, Oficial do Regime, e as suas funções finais foram meramente administrativas.
Diss ele, quando chegou que veio no último voo militar ,não ficando ninguém para trás.
Conta uns episódios, que não vou aqui reproduzir, por respeito à sua memória.
Apenas posso relembrar que nunca gostou muito da Guiné, e muito menos após o içar da bandeira do PAIGC, e de outras barbaridades que estão no esquecimento.
Não tenho uma unica fotografia dele na Guiné, nem sei o que vestia....
Ao contrário tenho algumas da India - 1955-1958 - bem como várias de Moçambique, com a familia, mulher e 2 filhos - 1969 a 1971.
Aliás não tenho as fotos, cheguei a vê-las ainda quando era vivo, mas o meu irmão mais velho, também militar de carreira, na hora da sua morte, levou de casa as pastas e todo o espólio do meu , nosso, pai.
Nunca lhe pedi nada, e quando ele morreu em 2021, ficou tudo na posse da mulher, minha cunhada, que nunca teve a amabilidade de perguntar e fazer um rastreio ds coisas da história do meu pai. Agora não falamos, há anos.
Com isto para complementar o inicio do fim do Império.
Saúdo o trabalho levado a cabo por tanta gente, a quem ficamos gratos, e não aos contadores de histórias que ainda pululam por aí, ao sabor de nada.
Virgilio Teixeira
Obrigado, António, pelo teu comentário... São cada vez mais raros, os comentários da malta... Mal sinal, e duas uma: o material que aqui se publica já não tem "graça", ou o então são os comentadores que vão enconstando à "boxes", como os velhos carros de corrida que vão ficando "empanados" pelo caminho...
O Império durou 500 anos, o blogue já passou há muito o seu prazo de validade: 21 anos e 5 meses na Web é uma eternidade... Começo a ter pesadelos de noite (eu e o Vinhal): bolas, o que é que vamos publicar amanhã ?
Abílio, a propósito de chamares "símio" ao corpulento macaco-cão que o teu "moicano" passeava ostensivamente frente ao QG/CTIG, em Santa Luzia, fizeste-me lembra em 1994/95 (!) cheguei a dar aulas de "sociobiologia" numa universidade privada, a UAL... À noite. E, tanto quanto me lembro, eu ensinava os meus alunos a fazer a distinção entre "macacos" e "grandes símios"... Dizia-lhes: "por favor, nunca chamem macaco ao chimpanzé, o mais aparentado, geneticamente, falando com o Homo Sapiens Sapiens"...
Socorrendo-me dos meus apontamentos (dava execelenbtes "sebenyas" aos alunos, náo havia textos em português nessa época....), posso recordar que o macaco-cão, na Guiné-Bissau (babuino, no resto da África) não é propriamente um "símio", é um "macaco do Velho Mundo", distinto dos "grandes símios", como o gorila, o chimpanzé, o bonobo...
O "macaco-cão", como é conhecido na Guiné-Bissau, em cripoulo, e que corresponde ao babuíno (mais especificamente, o babuíno-da-guiné, Papio papio), não é um símio no sentido estrito de "grande símio". A sua classificação zoológica enquadra-o como um "macaco do Velho Mundo".
Esta distinção é fundamental na primatologia (a ciência que estuda os primatas) e baseia-se em linhagens evolutivas distintas. Os primatas da subordem Haplorrhini dividem-se em duas infraordens principais:
(i) Platyrrhini: os macacos do Novo Mundo (Américas), que se caracterizam por terem narinas afastadas e voltadas para os lados;
(ii) Catarrhini: os primatas do Velho Mundo (África e Ásia), com narinas próximas e voltadas para baixo.
Dentro do grupo Catarrhini existem duas superfamílias principais:
(iia) Cercopithecoidea: esta superfamília inclui todos os macacos do Velho Mundo, como os babuínos, mandris, colobos e macacos-rhesus; ma característica distintiva de muitos destes macacos é a presença de uma cauda, que, no entanto, não é preênsil (não consegue agarrar); os babuínos, com o seu focinho alongado que lhes vale o nome de "macaco-cão" (na Guiné-Bissau), são um exemplo proeminente deste grupo.
(iib) HominoideaHominidae, hominídios): Gorilas, chimpanzés, bonobos e orangotangos.
(iibb) Símios menores (família Hylobatidae): Gibões e siamangos (os grandes "trapezistas": deslocam-se através de braquiação, isto é, (em suspensão, balançando-se de ramo em ramo das árvores);
A principal característica que distingue os símios (Hominoidea) dos restantes macacos é a ausência de cauda; além disso, os tendem a ter um cérebro maior em proporção ao corpo, um tórax mais largo e uma maior mobilidade nos ombros, adaptações relacionadas com a braquiação.
Em resumo, o macaco-cão (babuíno) é um macaco do Velho Mundo, pertencente a um ramo evolutivo diferente daquele que deu origem aos grandes símios, como gorilas e chimpanzés (estes últimos também existem na Guiné-Bissau, no Boé e no Cantanhez, embora em risco de extinção).
O chimpanzé é, geneticamente falando, o mais "aparentado" com o Homo sapiens sapiens "a besta quadrada que não somos" (criada à imagem e semelhança de Deus,segundo os criacionistas...).
Dentro da ordem dos primatas, os grandes símios (chimpanzés, bonobos, gorilas e orangotangos) são, sem qualquer dúvida, os nossos parentes evolutivos mais próximos. O Homo sapiens sapiens pertence a este mesmo grupo.
Para clarificar o grau de parentesco, podemos visualizar a árvore evolutiva dos primatas do Velho Mundo (Catarrhini):
(i) Primeira grande divisão (há cerca de 25-30 milhões de anos): ocorreu a separação entre duas superfamílias:
Cercopithecoidea: a linhagem que deu origem a todos os macacos do Velho Mundo (como o macaco-cão/babuíno, mandris, colobos, etc.);
Hominoidea: a linhagem que deu origem a todos os símios (grandes e menores) e aos humanos.
Isto significa que o nosso último ancestral comum com um babuíno viveu há cerca de 25 a 30 milhões de anos.
Divisões dentro dos Hominoidea (os símios): Depois dessa grande separação, a linhagem dos Hominoidea continuou a ramificar-se:
Primeiro, separou-se a linhagem dos gibões (símios menores); depois, a do orangotango; a seguir, a do gorila... A divisão final foi "só" há cerca de 6-8 milhões de anos: a linhagem que restava, dividiu-se uma última vez, dando origem, por um lado, aos chimpanzés e bonobos (género Pan) e, por outro, à linhagem dos hominídeos que culminou no Homo sapiens
Em conclusão, os chimpanzés e os bonobos são os nossos parentes vivos mais próximos.
A prova mais forte deste parentesco próximo vem da genética: nós, Humanos e osChimpanzés/Bonobos, partilhamos cerca de 98.8% do nosso ADN. Esta semelhança é tão grande que alguns cientistas já defenderam que os chimpanzés deveriam ser reclassificados para o mesmo género que os humanos (Homo).
Humanos e Gorilas: a semelhança genética é de aproximadamente 98%.
Humanos e Babuínos (Macacos do Velho Mundo): a semelhança genética desce para cerca de 93%.
Em resumo, enquanto partilhamos um ancestral comum longínquo com o macaco-cão, o nosso parentesco com os grandes símios, e em especial com os chimpanzés, é imensamente mais recente e profundo, tanto a nível anatómico como genético. Nós não evoluímos dos chimpanzés, mas partilhamos com eles um ancestral comum que não é partilhado com mais nenhum outro primata vivo.
Mais uma razão, para "respeitarmos" todos os primatas, a começar pelo macaco-cão e o chimpanzé que fizeram a guerra connosco nas florestas da Guiné...Porque não chamar-lhes camaradas de armas ? Os tipos do PAIGC comiam-nos, e eles "sabiam disso", avisavam-nos da sua presença... O macaco-cão, em especial, livrou-nos de algumas emboscadas...
A mim foi-me contada uma história do fim do império na qual eu tenho " dificuldade " em acreditar. Então não é que quando o exército indiano invadiu o Estado português da Índia alguém se lembrou de ordenar o combate até ao último homem!!
Abraço
Eduardo Estrela
Abraço
Confirmo.
O meu irmão estava lá.
Vassalo e Silva num gesto de grande valor, rendeu-se.
Ficaram lá prisioneiros 6 meses, e chegaram cá, via Paquistão, escondidos das vistas de todos, da imprensa, era a vergonha do Ditador...
Virgilio Teixeira
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