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segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27220: In Memoriam (559): Isabel Bandeira de Melo (Rilvas) (1935-2025): uma mulher pioneira em vários domínios, interditos às mulheres, a começar pelo paraquedismo... Foi a "madrinha" das enfermeiras paraquedistas (1961).






Isabel Rilva (1936-2025): uma mulher portuguesa antes do seu tempo: não foi militar, não foi paraquedista, não foi à guerra, mas ajudou outras mulheres (as enfermeiras paraquedistas) a abrir, pela primeira vez, as portas da caserna...e entrar no teatro de operações.

Fonte: Fotogaleria da realizadora de cinema, Marta Pessoa, autora do documentário "Quem Vai à Guerra" (Portugal, 2011), página do Facebook


1. A triste notícia chegou-nos por mensagem do Miguel Pessoa e confirmada às  9h45 na página do Facebook de Miguel Machado, antigo oficial paraquedista e estudioso da história do paraquedismo em Portugal:

Isabel Bandeira de Melo (Rilvas), filha dos condes de Rilvas. carinhosamente apelidada pelos paraquedistas e pelas enfermeiras paraquedistas por Isabelinha, faleceu ontem,  14 de setembro de 2025, aos noventa anos de idade. Nascera em 8 de janeiro de 1935.

Tinha festejado, a 4 de janeiro último,   o seu 90º aniversário  com salto em queda livre, um salto tandem, a uma altura de cerca de 3 mil metros, a partir do aeródromo de Tancos, numa aeronave do Para Clube os Boinas Verdes, segundo notícia de Mário Rui Fonseca, publicada no jornal Médio Tejo, em 7 de janeiro de 2025.
 
Temos quatro referências à Isabel Rilvas. A Maria Aminda já aqui, em poste de 2011,  veio justamente lembrar o papel pioneiro que a Isabel Rilvas teve na criação do corpo de enfermeiras paraquedistas em 1961,  dizendo no seu discurso,  por ocasião do 50º aniversário do 1º curso de enfermeiras parquedistas,  o seguinte (**):

(...) Convêm também relembrar, neste processo, a importância da Sr.ª. Dª Isabel Bandeira de Mello, conhecida entre nós por Isabelinha Rilvas, à época a primeira Paraquedista da Península Ibérica, em ceder ao Tenente-Coronel Kaúlza de Arriaga, a documentação relativa aos treinos que executavam as “Enfermeiras do Ar”, pertencentes à Cruz Vermelha Francesa.

A Isabelinha, como colega e amiga da maioria das candidatas que integraram esse primeiro curso, teve também a sua quota-parte de influência, na decisão em aceitarem esse desafio.

Pela primeira vez iam ser treinadas em Portugal, mulheres para Paraquedistas. A sua preparação teve início a 6 de junho de 1961 e terminou a 8 de agosto, com a conquista da tão almejada boina verde e brevê, que lhes conferiram o título pelo qual passaram a ser designadas, “ As Enfermeiras Paraquedistas”.

Para se chegar a esse dia, foi preciso percorrer um duro e difícil caminho; vencer barreiras a que não estávamos habituadas, ultrapassar receios e preconceitos, superar debilidades físicas, momentos de fadiga, desânimo e medo do fracasso. Porém entrámos determinadas e convictas de que poderíamos chegar ao fim. Aceitámos voluntariamente esse grande desafio, de trocar a nossa vida rotineira, tranquila e profissionalmente estável, por outra que imaginávamos ser mais agitada, mas da qual não sabíamos como iria decorrer. Éramos jovens, e como tal generosas e aventureiras. (...)


2. A Tabanca Grande partilha, com a família e os/as amigos/as da Isabel Rilvas, a dor pela sua perda. Registe-se, entretanto, a mensagem, acabada de enviar pelo Miguel Pessoa: 

Transcrevo a mensagem que recebi da AFAP (Associação da Força Aérea Portuguesa):

"É com muita tristeza que a AFAP faz saber do falecimento da D. Isabel Rilvas, uma das pioneiras na aviação e no paraquedismo, e nossa sócia extraordinária. A nossa “Isabelinha” conseguiu o seu brevet (aos 19 anos) em 1954 em aviões e planadores; em 1956 tornou-se na primeira mulher paraquedista da Península Ibérica; e em 1981 obteve a licença de voo em balão de ar quente nos Estados Unidos.

O seu falecimento é realmente uma grande perda para a aviação portuguesa.

Informamos os/as nossos/as associados/as que o féretro vai hoje (15SET2025) às 17h30 para a Igreja da Força Aérea (São Domingos de Benfica), e amanhã (16SET2025) o funeral seguirá às 14h00 para o Cemitério dos Prazeres.

Até sempre, Isabelinha!

A AFAP expressa os seus sentidos pêsames à família e amigos!"



Isabel Rilvas


(com a devida vénia..)


3. Algumas notas biográficas desta mulher que, nunca tendo sido militar nem enfermeira paraquedista, teve uma vida notável e foi pioneira num domínio interdito às mulheres portuguesas, a aviação e o paraquedismo:
  • começou a aprender a pilotar aviões na Escola de Aviação Civil do Aero Club de Portugal (Sintra),em 1953, apadrinhada pelo director das Oficinas Gerais de Material Aeronáutico (OGMA), Pedro Avilez (para fazer o curso teve sempre a companhia de Chica,  uma empregada da familia que fez o papel de dama de companhia dela, tais eram os preconceitos da época);
  • em 1954, com 19 anos, tirou o brevê de pilotagem de aviões ligeiros (e posteriormente obteve as licenças equivalentes na África do Sul, Espanha, Itália e Estados Unidos da América, países onde viveu enquanto mulher do embaixador Leonardo Mathias); 
  • tirou também o brevê de voo à vela;
  • em 1955, ao ir com o pai ver um festival aéreo no aeroporto Le Bourget, entrou em contacto com as Enfermeiras Paraquedistas Socorristas do Ar, da Cruz Vermelha francesa. e tem a ideia de criar um grupo de enfermeiras semelhante em Portugal:
  • em 1955, é segunda mulher portuguesa a obter o brevê C que permite pilotar planadores;
  •  em França frequenta o curso de Instrutor Paraquedista no Solo no Centro de Paraquedismo de Biscarrosse onde é aluna da socorrista do ar Jacqueline Domerge; 
  • obtém, em 1956, brevê de 1.º grau de paraquedismo civil e no ano seguinte o de 2.º grau;  foi então a primeira mulher portuguesa (e ibérica) a saltar de paraquedas, no contexto civil; 
  •  para poder manter as suas licenças de paraquedista, Isabel tinha de completar um número específico de saltos, mas foi confrontada com a inexistência de locais onde fosse possível fazê-lo em Portugal; por isso, pediu à Força Aérea que a autorizasse a saltar na base militar de Tancos, local de treino dos soldados paraquedistas; obteve uma licença provisória para saltar no país; foi-lhe também concedida autorização para o fazer com os paraquedistas militares; o seu primeiro salto em Tancos teve lugar em 18 de janeiro de 1959, aos aos 24 anos;
  • fez o curso de instrutora de paraquedismo, completando 25 saltos;
  • em 3 de maio de 1959, convidada pelo Aeroclube de Luanda, saltou em queda-livre em Angola, perante luandenses maravilhados; repetiu a proeza em 17 de maio em Lourenço Marques, fascinando uma multidão de moçambicanos;
  • efectuou saltos de paraquedas de diversos tipos de aviões, entre eles: Stampe, Junkers JU52, Dakota, Tiger Moth, Dragon Rapid e Noratlas;
  • bateu o recorde português de voo sem motor: permaneceu no ar por 11 horas e 15 minutos em Alverca, em julho de 1960;
  • foi a primeira mulher a fazer acrobacias aéreas da Península Ibérica, tendo entrado em várias competições de festivais da modalidade, pilotando vários tipos de aviões;
  • foi a grande impulsionadora da criação do Corpo de Enfermeiras Paraquedistas Portuguesas em 1961 (o 1º curso começou em 6 de junho e terminou em 8 de agosto, na Base de Tancos; das candidatas iniciais, foram selecionadas 11, e só 6 concluíram e receberam o brevê, sendo conhecidas como as “Seis Marias”, como lembru a nossa amiga e camarada Maria Arminda);
  • conseguiu concretizar o seu sonho em 1961, quando Kaúlza de Arriaga, face aos desafios e exigências do inicio da guerra colonial em Angol,  apresentou a ideia a Salazar que, com ressalvas, autorizou a criação do grupo de enfermeiras;
  • em 1981, obteve uma licença de voo em balão de ar quente, nos EUA, sendo a primeira portuguesa a fazê-lo; de regresso a Portugal tentou junto da Direcção-Geral da Aeronáutica Civil obter uma equivalência, uma licença portuguesa, mas foi impossível, por não haver legislação para balões de ar-quente, nem sequer balões;
  • em 2017, foi condecoarada, pelo Presidente da República, com o grau de Grande-oficial da Ordem do Infante D. Henrique, 


(**) Vd. poste 5 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8998: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (28): Comemoração dos 50 anos dos cursos de 1961 das Tropas Pára-quedistas (Rosa Serra / Maria Arminda)

4 comentários:

Miguel disse...

Transcrevo a mensagem que recebi da AFAP (Associação da Força Aérea Portuguesa)
Miguel Pessoa

"É com muita tristeza que a AFAP faz saber do falecimento da D. Isabel Rilvas, uma das pioneiras na aviação e no paraquedismo, e nossa sócia extraordinária. A nossa “Isabelinha” conseguiu o seu brevet (aos 19 anos) em 1954 em aviões e planadores; em 1956 tornou-se na primeira mulher paraquedista da Península Ibérica; e em 1981 obteve a licença de voo em balão de ar quente nos Estados Unidos.
O seu falecimento é realmente uma grande perda para a aviação portuguesa.
Informamos os/as nossos/as associados/as que o féretro vai hoje (15SET2025) às 17h30 para a Igreja da Força Aérea (São Domingos de Benfica), e amanhã (16SET2025) o funeral seguirá às 14h00 para o Cemitério dos Prazeres.
Até sempre Isabelinha!
A AFAP expressa os seus sentidos pêsames à família e amigos!"

Anónimo disse...


Joaquim Caldeira (by email)
15 set 2025 15:53

Sentido pesar pela morte de uma heroína a quem nunca foi reconhecido valor e a quem não foram feitas as homenagens mais que merecidas.
Os ex-combatentes estão de luto.
Joaquim Caldeira
C.CAÇ.2314. Furriel caçador e minas e armadilhas,

Anónimo disse...


Virgilio Teixeira (by email)
15 set 2025 16:03

Não conheci esta Senhora, pelos vistos de grande mérito.
A nação não reconhece os seus compatriotas.
Nem sabia desta existência, por falta de informações das pessoas ilustres que fazem parte da nossa história.
Os meus pêsames a toda a familia, enlutada, amigos e desconhecidos.
Paz à sua alma

Virgilio Teixeira

Anónimo disse...


Eduardo Estrela (by email)
15 set 2025 16:08

Aos familiares e amigos da falecida apresento as minhas sinceras condolências.
Tal como muitos de nós certamente, não conhecia a senhora nem nunca tinha ouvido o seu nome.
Abraço
Eduardo Estrela