Marco de Canavezes > Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz > 13 de setembro de 2025 > Um trepadeira que nasceu na "pedra" da antiga eira.. É o último piso, de quatro, da casa que, reconstruída, se encaixa perfeitamente numa rocha de granito: 1º piso (ao nível da estrada municipal, M642): "loja" (adega); 2º piso: varanda exterior, entrada principal, hall, cozinha e sala de jantar, 1 quarto, 2 casas de banho; 3º piso: 3 quartos, 1 casa de banho, escadas interiortes; 4º piso: "salão", com saída para a antiga "eira"...
No salão está instalado um pequeno núcleo museológico com peças que hoje perderam o seu uso funcional (desde de novelos de linho a instrumentos de trabalho, como este semeador manual, em ferro, de duas rodas e guiador de duas mãos; serviua +ara semear milhão, centeio, feijão) ...
A porta (exterior) que se vê na foto pouca se usa... A trepadeira, sorrateiramente, brotou do chão que é em pedra, e pôs-se a fazer aquilo quer sabe fazer, que é "trepar"... É caso para dizer: "na natureza nada se perde..."
Fotos (e legenda): © Luís Graça (2025). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Fotos (e legenda): © Luís Graça (2025). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. "Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma"...Parece ser verdade em toda parte, em todos os continentes... Até na guerra, que nos coube em sorte, há 50/60 anos, na então Guiné Portuguesa...
É verdade na nossa quinta de Candoz, a c. 250 metros acima do nível do mar, na margem direita do rio Douro, a escassos quilómetros da albufeira da barragem do Carrapatelo, nas faldas da serra de Montedeiras.
Por aqui passou o Zé do Telhado (1816-1875) e o seu bando, a caminho da Casa do Carrapatelo (o mais célebre e o mais funesto dos assaltos cometidos por aquele "capitão de bandoleiros", no dia 8 de janeiro de 1852). Por aqui passaram inúmeros povos desde o neolítico até ao império romano, mais os visigodos, os mouros, os escravos de África...E passei eu, que vim do Sul... Aqui as antigas florestas de carvalho e castanheiros deram lugar a campos de milho, linho e centeio... E mais tarde a vinhas, com castas indígenas como o pedernã (arinto, no sul), azal, avesso, trajadura, loureiro, alvarinho...
A frase é atribuída a Antoine Lavoisier (1743-1794): é uma síntese, de senso comum, do princípio da "conservação da matéria"... A frase não é propriamente do Lavoisier, é uma paráfrase, mas para o caso não interessa. Lavoisier é considerado o pai da química moderna, ao mostrar que numa reação química a massa dos reagentes é igual à massa dos produtos (no seu "Tratado Elementar de Química", 1789).
A frase é atribuída a Antoine Lavoisier (1743-1794): é uma síntese, de senso comum, do princípio da "conservação da matéria"... A frase não é propriamente do Lavoisier, é uma paráfrase, mas para o caso não interessa. Lavoisier é considerado o pai da química moderna, ao mostrar que numa reação química a massa dos reagentes é igual à massa dos produtos (no seu "Tratado Elementar de Química", 1789).
Eu não sei nada de química. Nem mesmo, desgraçadamente, da química do vinho... Não vou discutir aqui a validade científica da lei, mas apenas explorar em termos filosóficos e literários o seu alcance, ilustrado pelas fotos acima. (Parece que a lei é verdadeira no contexto das reações químicas, mas falsa quando falamos de reações nucleares.)
Filosoficamente, a frase aponta para uma visão dinâmica da realidade...Na natureza, de facto:
- Nada se perde → a matéria não desaparece; mesmo quando algo parece “sumir” (por exemplo, o incêndio dos nossos "montes" há 10, 15, 20, 30, 40 anos atrás), apenas muda de forma (pinheiros e mato dão lugar a troncos calcinados, cinzas, gases, calor, nos pinheiros e matp; os dinossauros morreram há 150 milhões na "formação Lourinhã", mas os seus ossos (e até os seus ninhos de ovos) fossilizaram-se e hoje a minha terra é a "capital dos dinossauros";
- Nada se cria → não há "geração expontânea", não consigo "produzir" matéria a partir do nada; afinal, o que fazemos é combinar/ recombinar, juntar e reorganizar elementos que já existiam previamente; por exemplo, o granito e a madeira para fazer esta casa, ou o aço pata fazer as cubas do vinho:
- Tudo se transforma → Os processos naturais e artificiais são, na essência, transformações da matéria (física ou química), em que os átomos se rearranjam em novas combinações; mas o mesmo se aplica às ideias, conceitos, teorias, etc., são a matéria-prima que, depois de processadas, origina novo conhecimento; com as palavras, em português, escrevo este poste neste blogue.
Em termos literários e filosóficos, a paráfrase de Lavoisier remete-nos para o estatuto que temos no universo: somos apenas "pó de estrelas", não somos "deuses", não criámos a vida nem a matéria...
Para quê, afinal, meus queridos, tanta arrogância, orgulho, altanaria, altivez, atrevimento, bazófia, convencimento, empáfia, enfatuação, enfatuamento, imodéstia, insolência, jactância, ostentação, pedantismo, pesporrência, presunção, soberba, sobranceria, vanglória ?!... "Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris" (Lembra-te, ó homem, que és pó e que em pó te hás-de tornar)... (Tiro sempre o barrete ao fidalgo da terra quando vou ao cemitério e passo pelo seu imponente jazigo em mármore.)
Aprendemos, ao longo da nossa evolução, a transformarmos o que já existia, somos parte da natureza, estamos inseridos numa ordem natural e cósmica que nos ultrapassa, um ciclo maior, o ciclo da vida e da morte. Somos parte da natureza, mas o que diferencia de outros seres vivos, animais e plantas, é a cultura (da linguagem à arte, da arte da guerra à enologia).
Nada (e muito menos nós) morre por completo. O fim é apenas uma etapa de transformação. O corpo que se desfaz volta à terra, mesmo que sob a forma de cinzas, se formos cremados, e vai nutrir novas formas de vida. Pelos filhos reproduzimos o nosso ADN. A semente desta trepadeira (que ainda não consegui identificar com rigor...), não morreu debaixo do cimento e da pedra da eira da quinta de Candoz... Há dezenas de anos que não se usa a eira para malhar ou secar o milho e o centeio... Dansei nela quando aqui me casei, em 7 de agosto de 1976... E mesmo assim a trepadeira vai cobrir a parede e a porta e galgar o telhado, se a gente não a arrancar...
Tudo flui, tudo muda. Nada é imutável. E até mesmo o que é hoje tragédia, guerra e dor, pode ser amanhã paz, esperança, sabedoria. As ruínas podem originar beleza (Tongóbriga) , a anarquia e o caos uma nova ordem (barragem do Carrapatelo)...
Nada (e muito menos nós) morre por completo. O fim é apenas uma etapa de transformação. O corpo que se desfaz volta à terra, mesmo que sob a forma de cinzas, se formos cremados, e vai nutrir novas formas de vida. Pelos filhos reproduzimos o nosso ADN. A semente desta trepadeira (que ainda não consegui identificar com rigor...), não morreu debaixo do cimento e da pedra da eira da quinta de Candoz... Há dezenas de anos que não se usa a eira para malhar ou secar o milho e o centeio... Dansei nela quando aqui me casei, em 7 de agosto de 1976... E mesmo assim a trepadeira vai cobrir a parede e a porta e galgar o telhado, se a gente não a arrancar...
Tudo flui, tudo muda. Nada é imutável. E até mesmo o que é hoje tragédia, guerra e dor, pode ser amanhã paz, esperança, sabedoria. As ruínas podem originar beleza (Tongóbriga) , a anarquia e o caos uma nova ordem (barragem do Carrapatelo)...
A natureza tem horror ao vazio...
Nota do editor LG:
Será ? Reflexões, mais ou menos melancólicas, ao fim do segundo dia da primeira vindima em Candoz que deixou a quinta já meia despida... Para a semana, sexta feira, 19 de setembro, vindima-se a outra metade... Mas nas cubas inox, graças à natureza e à cultura, vai começar a fermentar amanhã o vinho Nita de 2025 que, depois depois de engarrafado e de estagiar um ano nas "minas" (de água), haveremos de beber em 2026... "Aos nossos amigos, aos nossos amores!"...
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