terça-feira, 12 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4324: Convívios (125): Almoço/Convívio da CCAÇ 816 – 1965/67, em Esposende (Rui Silva)



O nosso Camarada Rui Silva enviou-nos notícias da festa anual da sua Companhia:
Caríssimos Luís Graça, Vinhal, Briote e M. Ribeiro,
Como sempre, as minhas primeiras palavras expressam o envio de um grande abraço e votos de muita saúde, extensivos a todos os ex-Combatentes da Guiné, mais ainda para aqueles que de algum modo ainda sofrem de sequelas daquela maldita guerra.
A Companhia de Caçadores n.º 816 (Guiné 65-67) levou a efeito mais um alegre, vivido e salutar Convívio anual.
O evento teve lugar na Estalagem Zende em Esposende no passado sábado dia 9 de Maio, começando com a habitual missa em homenagem, muito sentida, aos nossos 2 colegas mortos em combate (Furriel Silva e Soldado Manso) e também para aqueles que depois, por cá, foram falecendo.
O programa teve de tudo um pouco (estes sessentões da 816!) como é habitual: Cantigas individuais e em conjunto, baile, a habitual alocução do nosso Capitão Riquito e a solene cerimónia do dividir do Bolo, com o emblema da Companhia, rematando assim o evento.
Este ano tivemos uma grata novidade, que foi a presença do açoriano Manuel Brandão, Alferes comandante da guarnição de Artilharia no Olossato, aquando da nossa estada naquela povoação. 44 anos depois… aquele abraço! Ele veio expressamente dos Açores para deixar uma lágrima junto da família 816.
Este Convívio teve como promotor o nosso querido camarada da Companhia, Carlos Salsa, que se saiu com preceito e é justo aqui realçar.

A família 816 (só os ex-militares, pois havia esposas, filhos, netos etc.) numa das entradas da Estalagem







A alocução do então capitão Riquito com palavras elogiosas e regeneradoras para o seu pessoal
O açoreano Manuel Brandão, ex-Alferes dos Obuses no Olossato, convidado a partir o Bolo







A esposa do Manuel “das Taipas” sempre nos brinda com o seu belo cantar
O Salsa (pullover vermelho) também fez parte dos músicos, ele que nos deliciava nas festas da Companhia na Guiné com a sua bela voz (“Os dois ao luar…”)


Panorama geral da sala aonde foi servido o almoço
(Rui Silva)
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Nota de MR:
Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P4323: Histórias de Juvenal Candeias (2): Incêndio no Rio Cacine

1. Segunda história de Juvenal Candeias, ex-Alf Mil da CCAÇ 3520, Cameconde, 1971/74.


INCÊNDIO NO RIO

Desconheço estatísticas referentes a acidentes ocorridos na Guiné, durante a guerra, nem mesmo o número de mortes que terá tido essa origem. Não sei mesmo se existe esse tipo de estatísticas.

Porém, quem por lá passou, está seguro que o número de acidentes foi significativo.

Se um militar limpa a G3 em posição de fogo e coloca a ponta do cano no sovaco é provável que, na melhor das hipóteses, nos meses seguintes, apenas consiga transportar a arma no ombro do sovaco oposto…

Se um operacional está de sentinela à porta de armas, dispõe de uma mesa para jogar sueca com os amigos, encosta ao pé da mesa a FBP (Fábrica Braço de Prata – extraordinária pistola metralhadora portuguesa que mesmo em posição de tiro a tiro constitui uma verdadeira surpresa, pois nunca se sabe se de lá vem uma rajada…) e vem um cão que a deita ao chão… aí está a referida rajada, que tem, na melhor das hipóteses, o efeito de fazer saltar das cadeiras os quatro parceiros de sueca para que possam dançar uma versão improvisada do kuduro

Se um atirador de infantaria está na praia a fazer treino de tiro, dispara um dilagrama (adaptação que permite lançar longe uma granada defensiva através da espingarda G3) a uma distância de três metros, é provável que todos os camaradas mergulhem para trás das três canoas gentílicas que estão por perto… a granada, na melhor das hipóteses, não rebenta… e não rebentou mesmo!... (às vezes os defeitos de fabrico até dão jeito!).

Negligência, distracção, inconsciência da juventude, factores incontroláveis, são, entre outras, razões justificativas.

Pesca artesanal no Rio Cacine


01 JANEIRO 1973

Dia de Ano Novo! Seria um dia igual a tantos outros passados no mato! Mas não o foi!

A tarde estava quente e húmida, como era habitual nesta altura do ano, a pele mantinha-se permanentemente pegajosa e a melhor solução era estar na água ou muito perto dela!

Cacine era frequentemente visitada pela Marinha, que patrulhava o rio, permanecendo vários dias e ancorando ao largo, mesmo em frente do aquartelamento!

Eram dias que permitiam também algum convívio Exército - Marinha, com jogos de futebol em que a discussão e rivalidade Sporting - Benfica pouco tinham de comparável, tal era o entusiasmo gerado!

Os almoços, ora no exército, ora nos barcos da Marinha, ocorriam, pelo menos uma vez em cada visita!

Uma amizade forte caracterizava esta relação!

Neste 1.º de Janeiro de 1973, uma LFG (Lancha de Fiscalização Grande) - não querem que seja capaz de dizer o nome, 36 anos depois, pois não? Ainda bem!... - Ou seria uma LDG (Lancha de Desembarque Grande)? Talvez a “Montante”!... Talvez a “Bombarda”!... Seja, portanto, a LFG que terminava a missão em Cacine e voltava a Bissau!

Uma boa oportunidade para uma despedida adequada!

Coincidência das coincidências!... Nesse mesmo dia estava planeada uma patrulha fluvial, pelo que alguns voluntários prepararam o respectivo sintex.

Importa dizer que a Companhia de Caçadores 3520 estava equipada com dois sintex, barcos em fibra de vidro, com motor fora de bordo, que dispunham de dois bancos longitudinais com capacidade para não mais de 10 pessoas.

Barco preparado, entraram a bordo, para além do necessário operador de sintex, três operacionais, devidamente fardados de calção e T-shirt e óculos escuros!

Transportavam, naturalmente, material de guerra diverso, nomeadamente, duas espingardas G3 (chegava e sobrava!), um depósito de combustível de reserva (não fosse a operação prolongar-se!), uma máquina fotográfica (imprescindível numa perigosa operação de patrulhamento!), cigarros SG Filtro e um isqueiro Ronson!

O material foi distribuído, depósito de combustível no chão, restante nos bancos, já que a lotação estava longe de esgotada!

Importa, contudo, e antes de mais, dizer que o território da Guiné é bastante plano, pelo que, na maré cheia, o mar entra pelos rios, provocando a inundação das margens pantanosas, submergindo uma significativa parcela do território – cerca de 8000 Km2 dos 36.000 Km2 que constituem a superfície da Guiné.

O Rio Cacine, bastante extenso e largo, obedece a esta realidade, com fortes correntes e margens pantanosas repletas de árvores anfíbias – o tarrafo.

O rio proporciona às populações ribeirinhas o enriquecimento da sua dieta com peixe (desconheço os correspondentes em português para as denominações em dialecto local, mas destaco uma espécie de tubarão, inofensivo, que, qual golfinho, costuma acompanhar os barcos!) e marisco (ostras e camarão).

Constitui ainda uma óptima via de comunicação, num território em que as estradas, no interior, eram, praticamente inexistentes.

Foi nesta importante via de comunicação que iniciámos o nosso patrulhamento, que deveria levar-nos a um dos seus inúmeros afluentes!

Mas antes disso, havia que acompanhar, por algum tempo, a LFG, rumo a jusante, o que constituía a nossa despedida!

Com quase todo o pessoal da Marinha no convés, e depois de algumas acelerações, abandonámos a LFG, que continuou a ser acompanhada pelos tubarões, e tomámos o caminho de montante, para procurarmos o afluente, objectivo da nossa patrulha.

Na confluência dos rios, e porque os preliminares haviam consumido bastante combustível, decidiu-se transferir alguma gasolina do depósito de reserva para o depósito do motor.

Operação complicada que provocou o transbordo de combustível para o fundo do barco!

Nem todos, porém, estavam atentos ao transvase, preocupando-se mais com as fotografias!

E se ao passatempo da fotografia associarmos o vício de fumar, que nem sempre mata, mas pode provocar prejuízos colaterais, temos os ingredientes suficientes para uma grande confusão!

Foi o que aconteceu!... O fotógrafo retira um SG, dispensa a utilização do Ronson, acende o cigarro com os seus fósforos - típico do crava – e atira o fósforo aceso para o fundo do barco. O calor e a ausência de qualquer aragem, provoca o imediato incêndio da gasolina que tinha transbordado para o fundo do barco!

Homens ao mar, melhor, ao rio, verifica-se então que o operador de sintex… não sabe nadar – como é possível! – um outro, nada apenas o suficiente para não se afogar e – haja Deus! – há dois bons nadadores!

A cena imediata é trágica e caricata, com o operador de sintex a agarrar-se a quem pouco sabia nadar até que, finalmente, os bons nadadores colocam alguma ordem na questão, fazendo agarrar os maus, ao próprio barco e à corda de atracagem!

O plano seguinte passava por fazer chegar o barco ao tarrafo, onde nos agarraríamos às árvores e esperaríamos que alguém fosse em nosso socorro!

Não estava fácil! Por muito que nadássemos, a corrente não permitia a mínima deslocação!

As chamas eram cada vez maiores! A gasolina dos depósitos, deixados abertos, começara já a arder! As munições da G3, por acção do fogo, rebentavam por todo o lado!

O receio de explosão dos depósitos – provavelmente, abertos não poderiam explodir – começou a pairar!

As chamas dificultavam já mantermo-nos agarrados ao barco!

Que iria acontecer?

De repente, vindos do nada, surgem dois zebros dos fuzileiros, que nos içam em peso, lá para dentro, que as forças já não davam para entrar de outro modo!

Salvos!

As chamas tinham sido vistas do quartel e, rapidamente, os fuzileiros, que tinham, nessa altura, aquartelamento em Cacine, colocaram os barcos no rio, e foram em nosso socorro!

Desta estávamos safos! Mas como iríamos justificar tanto material danificado ao Exército? O tio Jaime – amigo com influência em Bissau – resolveria mais essa situação!

Não houve apoio psicológico! O trauma foi grande e persistiu! Ainda hoje há quem não aprecie um calmo passeio à beira-rio.
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4294: Tabanca Grande (136): Juvenal Candeias, ex-Alf Mil da CCAÇ 3520, Cameconde (1972/74)

Vd. último poste da série de 7 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4299: Histórias de Juvenal Candeias (1): Pirofobia ou a mina que não rebentou por simpatia

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4322: Tabanca Grande (138): José Carlos Neves, ex-Soldado Radiotelegrafista do STM, Cufar, 1974

1. Mensagem de José Carlos Neves, ex-Soldado Radiotelegrafista do STM, Cufar, 1974, com data de 8 de Maio de 2009:

Boa tarde Vinhal!

Tenho visto o vosso Blog vezes sem conta. Não tenho tido a coragem necessária para me considerar um combatente, porque quando fui já se tinha dado o 25 de Abril. Fui em rendição individual, era Radiotelegrafista do STM e calhou-me a sorte de ir bater com as costelas a CUFAR. Nunca embrulhei embora ainda tivesse ouvido alguns foguetes ao longe. Regressei no dia 5 de Outubro de 74. E quem sou eu? Teu colega da APDL, José Carlos Neves. Fui muitas coisas na APDL, e acabei como Operador de Radar. Gostava de um dia falar contigo, sobre o assunto pois não sei se fui combatente ou não só sei que o que vi não me agradou, que a fome que passei também não, que o paludismo também não e os mosquitos nem falar. Um refeitório onde os caixões estavam amontoados à espera de alguém foi uma imagem marcante entre outras. Se um dia tiveres disponibilidade de falar comigo dá-me um toque.

José Carlos Neves


2. No mesmo dia enviei esta resposta ao Carlos Neves:

Caro Carlos Neves
Foi bom que me (nos) tenhas contactado.
Primeiro. Não tens que ter complexos por não teres passado pela guerra. Sorte tua. Se tens ideia, espero que sim, de te juntares a nós, serás tão bem recebido como aquele que só conta histórias a cheirar a pólvora. Temos um défice de histórias do pós 25 de Abril na Guiné. Parece que a malta viu coisas que não quer contar. A vida também não vos foi fácil, concerteza, e as privações não devem ter sido menores. Tinham a incerteza da segurança ou a certeza da insegurança, que vai dar ao mesmo.
A tua experiência, assim como a de outros camaradas na tua condição, são necessárias no nosso Blogue.

Lê atentamente o lado esquerdo da nossa página onde poderás ver o que somos e não somos, assim como os nossos objectivos. Já deves ter reparado que queremos manter um certo nível quer ao nível das relações, quer da linguagem e do respeito pela diferença.

Já temos muitos camaradas do concelho de Matosinhos entre a tertúlia e tu serás mais um. Aparece.

Se quiseres fazer parte da nossa tabanca, manda uma foto do teu tempo de Guiné, uma actual, em formato JPEG, conta um pouco do teu percurso na Guiné, como Posto, Especialidade, locais por onde andaste, datas de ida e volta, etc.

Podes podes um pouco de ti enquanto civil, como por exemplo teres sido funcionário da APDL, da tua actividade como fotógrafo, etc.

Espero notícias tuas.

Deixo-te um abraço
Carlos Vinhal


3. Ainda no mesmo dia recebi, do Carlos, esta mensagem de volta

Olá boa tarde!

Fui mobilizado para o Ultramar em Abril de 1974 (logo a seguir ao 25 de Abril), não sei ao certo o dia, mas ainda em Abril. Estava então com 14 meses de tropa, colocado no RI6 a tomar conta do Posto Emissor do STM que servia o Quartel General do Porto e a pensar que me ia safar. Puro engano.

Uma bela noite recebo um telefonema do meu camarada Laranjeira (Perafita), pelo telefone interno a dar-me a notícia que tinha recebido a mensagem com a minha mobilização para o Ultramar, é que eu era Radiotelegrafiata do STM e esta coisas passavam-nos pela mãos.

Lá fui com guia de Marcha até Lisboa. Chegado à Escola Prática de Transmissóes, então na freguesia da Graça, fui informado que iria para a Guiné.

Fiz o que todos fazem, pelo menos os de Rendição Individual, fui até aos Adidos onde recebi as Vacinas da Febre Amarela, Cólera e mais outra qualquer que já não sei. Fiquei que nem um passador todo furado.

E assim se passou. Dias depois embarquei para a Guné no Boeing dos TAM onde fui colocado no Agrupamento de Transmissões à espera do mato.

E o que era o mato? Ingénuo e puto não fazia ideia concreta, embora já alguns colegas que por lá passaram me tivessem dito que não era bom. Tive a sorte de ter um primo que era advogado e que estava lá no Departamento de Justiça em Bissau e que me acompanhou e com quem passei a conviver, ou seja sempre à civil, na Messe dos Oficiais. É que eu era Soldado (por questões que uma dia posso contar de outra guerra em que já tinha estado).

Assim e com o convívio com vários oficiais foi-me proposto que procurasse um lugar onde ser colocado em Bissau, que as coisas se arranjariam. Mas o palerma do valentão disse não senhor! Já que estou aqui quero conhecer o que é o mato. E assim foi.

Uma bela noite fui informado para estar pronto às tantas da manhã para embarcar no avião que me iria levar para Cufar.

Bom lá vou eu para a cidade de Cufar. Qual o meu espanto quando aterrei e vi a dita cidade, ou seja um amontuado de palhotas dentro de círculo de 500 metros de diâmetro de arame farpado. Estou feito! Logo aí me arrependi de me ter armado em esperto.

E lá fui levado até à minha tabanca onde permaneci cerca de 4 ou 5 meses a trabalhar no Rádio em Morse e a fazer 24 horas por dia divididas por 3 Operadores. Estive lá com a CCAÇ 4740 (quase todos açorianos) que regressaram, salvo o erro, em Agosto, e depois com o pessoal que tinha retirado de Gadamael e que foi recuando até Cufar para depois virmos todos embora, entregando a cidade de Cufar ao PAIGC.

Regressei então em Setembro a Bissau com o resto do pessoal, numa LDG, trazendo tudo que era possível e deixando para trás aquilo que não se conseguia carregar.

Em Bissau esperei que me enviassem para a Metrópole.

De regresso à vida civil fui para onde já estava colocado ou seja para a APDL, onde fiz várias funções desde electricista (que é a minha formação académica - Curso Industrial) até Operador de Radar, passando por fotógrafo, Administrativo, etc.

Estou Aposentado, desde o ano 2000, e desenvolvo a profissão de fotógrafo (velha paixão que infelizmente só bateu depois da tropa).

Talvez um dia possa contar mais alguma coisa, mas isto às vezes não é facil de relembrar. E se não o é para mim como será para aqueles que viram os seus companheiros a tombar ao seu lado! Não passei directamente pela guerra, mas o que vi bastou-me.

Um grande abraço para todos especialmente para ti Carlos Vinhal.
José Carlos Neves


4. Comentário de CV:

É sempre agradável dar as boas-vindas a um camarada, mas quando esse novo camarada é alguém que conhecemos há tantos anos, é um prazer redobrado.

Na verdade andámos lado a lado (como na cantiga) na APDL e ainda por cima somos vizinhos, sem eu imaginar que tivesses estado também na Guiné. E como soldado. Batoteiro. Não sabias que era perigoso não declarar as verdadeiras habilitações literárias?

Como te disse na mensagem que te enviei, as histórias daqueles que não conheceram a guerra como os seus antecessores, são também muito importantes. Vai escrevendo e mandando as tuas fotos que nós as publicaremos com o mesmo pundonor.

Já agora, apanha para a nossa tertúlia, o teu homónimo de profissão e nome, o Operador de Radar Delfim Neves, conterrâneo do nosso camarada Albano Costa, porque também ele é um ex-combatente da Guiné, e sei, é também um acompanhante diário do nosso Blogue.

Renovo o convite que já te fiz, de participares no nosso próximo Encontro do dia 30 de Junho próximo, caso possas e queiras, claro.

Esperando a tua colaboração, deixo-te o tradicional abraço de boas-vindas em nome da Tertúlia.

Teu colega, amigo, vizinho e camarada
Carlos Vinhal

Ano de 1974 > A bordo do navio Uige, aquando do feliz regresso a casa

Apanhado pelo clima? Será este o parafuso em falta? Efeitos da Guiné concerteza

Ano 2000 > José Carlos Neves no seu último ano como Operador da Radar do Porto de Leixões

Ano 2008 > José Carlos Neves e a sua bajuda para a vida

Fotos: © José Carlos Neves (2009). Direitos reservados
Edição das fotos e legendas do Editor CV

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4308: Tabanca Grande (137): Amílcar Ventura, ex-Fur Mil da 1.ª CCAV/BCAV 8323, Bajocunda, 1973/74

Guiné 63/74 - P4321: Os Bu...rakos em que vivemos (9): No Mato Cão, com o Ten-Cor Polidoro Monteiro, em finais de 1971 (Paulo Santiago)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Mato Cão > O Ten Cor Polidoro Monteiro, último comandante do BART 2917, o Alf Médico Vilar e o Alf Mil Paulo Santiago, instrutor de milícias, com um jacaré do rio Geba...

Foto tirada em Novembro ou Dezembro de 1971 no Mato Cão, após ocupação da zona com vista à construção de um destacamento, encarregue de proteger a navegação no Geba Estreito e impedir as infiltrações na guerrilha no reordenamento de Nhabijões, um enorme conjunto de tabancas de população balanta e mandinga tradicionalmente "sob duplo controlo".

Foto: © Paulo Santiago (2006). Direitos reservados




1. Comentário do Paulo Santiago, ex-Comandante do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72, ao poste do J. Mexia Alves (*):


Não conheci o Mato Cão com as óptimas instalações de que fala o Mexia Alves. Fui lá um dia de Sintex com motor, para lá com a descida da maré,para cá com a subida.Foi para aí em Dezembro de 1971,tinha sido aquela estância de férias ocupada pouco tempo antes, e no barco de recreio ía, além do soldado barqueiro,o Ten-Cor Polidoro Monteiro, comandante do BART [2917], de Bambadinca, o Alf Mil de Armas Pesadas e o Alf Mil Médico Vilar.

As instalações na altura estavam bem implantadas,com todo o respeito pelo ambiente,nada de agressões ambientais. Dispondo-se em semi-circulo,havia uns 40 bu...rakos com as dimensões de um colchão,em cada canto um pau (de 1 metro) ao alto para suster a rede mosquiteira. Depois havia a cozinha, a céu aberto, que consistia num estrado de ferro, sob o qual se acendia a fogueira. Era um camping funcional e barato.

Fogachal?... Muito. No Domingo a seguir à visita brincaram à guerra durante 1 hora... Ouvia-se bem em Bambadinca, e um dos atacantes ficou lá com a pistola à cinta.

Acrescento,o Ten-Cor Polidoro ficou lá naquele campo de férias, não regressou,ao fim da tarde, connosco à sede do batalhão. Tinha tomates. (***).

O Ten-Cor que foi lá, em 72,de heli, deverá ter sido o Tiago Martins, comandante do Mexia.

Era o Pel Caç Nat 63, comandado pelo Alf Mil Manuel Coelho, que lá se encontrava quando visitei tão parasídiaco local.

Paulo Santiago

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 11 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4317: Os Bu... rakos em que vivemos (8): Estância de férias Mato de Cão, junto ao Rio Geba (J. Mexia Alves)

(**) Vd. poste de 6 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1049: O destacamento de Mato Cão (Paulo Santiago)

(...) "Quando lá fui de visita, em Novembro ou Dezembro de 71, as condições eram do pior. Não havia qualquer construção, por mais rudimentar que fosse, não havia valas nem arame farpado. Tinham desmatado uma zona junto ao rio, onde tinham aberto uns buracos para caberem os colchões, protegidos pelos mosquiteiros" (...).

(***) Vd. poste de 9 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3189: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (17): Instrutor de milícias em Bambadinca (Out 1971).

Vd. também I Série do nosso blogue > Poste de 26 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XXVI: A malta do triângulo Xime-Bambadinca-Xitole (6) (David Guimarães / Luís Graça)

(...)A CART 3492 (Xitole, Janeiro de 1972 / Março de 1974) foi exactamente a Companhia que rendeu a CART 2716 a que eu pertenci e fomos nós que fizemos a sobreposição (...).

Muito gostaria de ter narrações do que se passou no Xitole, mais concretas, por que eu sei que houve para lá muita porrada com eles, segundo me soou aos ouvidos....

Um dia o Comandante do BART 2917, já na sobreposição, apareceu no Xitole. O Luís Graça e o Humberto Reis conheciam-no. Era o Tenente Coronel Polidoro Monteiro... Conto-vos uma peripécia passada com ele.

Perguntava eu, bem perfilado, ao Polidoro Monteiro:
- Meu comandante, a nossa missão é ir ensinar o caminho a esta gente...Proponho que ensinemos o início dos caminhos por onde passamos tantas vezes....

Resposta:
- Vai-te foder, seu caralho, quero que lhes ensinem a toca! (...)

Guiné 63/74 - P4320: Convívios (124): 13º Almoço/Convívio da CCAV 8351 “Os Tigres de Cumbijã”, em Viana do Castelo (Magalhães Ribeiro)


















Já dizia um velho sábio anónimo que: “A vida é um intervalo entre o dia do nosso nascimento e o dia da nossa morte e que devemos aproveitá-lo o melhor possível”.
Outro velho ditado muito popular e actual diz que: “Tristezas não pagam dívidas”.
Vem isto a propósito das confraternizações anuais dos diversos batalhões, companhias e pelotões, que se vão sucedendo, ano após anos, entre os camaradas de cada um deles, acrescidas, em tempo passado recente, pelas nossas estimadas esposas, a que se vieram juntando, posteriormente, os nossos queridos filhos e os tão adorados netos.
Alguns, têm já a felicidade de serem bisavós.
São os ciclos da vida, progressivos, implacáveis e irreversíveis, com muitos momentos de felicidade entremeados pelas vicissitudes da vida pessoal, individual, que no seu universo vai dando origem ao nosso envelhecimento.
Velhice esta que, sendo então inevitável, devemos enfrentar com serenidade e sabedoria, tirando o melhor partido e proveito nos “entretantos”.
Num destes “entretantos”, decorreu em Viana do Castelo, na Quinta da Presa, em 9 de Maio p.p., o Almoço/Convívio da CCAV 8351 – Os Tigres de Cumbijã.
Adjectivos classificativos que me surgem para retratar este “bando” de Cumbijã: Alegria, Camaradagem, Fraternidade, Felicidade, Cumplicidade e União.
Esta malta alimenta-se razoavelmente bem e dança melhor que ninguém.
Este ano fomos convidados, para esta festa pelo Comandante desta “rapaziada” - Capitão Vasco da Gama -, o periquito desta Companhia - o José Casimiro Carvalho -, nosso camarada tertuliano, que depois transitou para a CCAV 8350 “Os Piratas de Guileje” e eu - o periquito de Mansoa.
A certa altura apareceu o João Reis Melo, também nosso camarada do blogue, perfazendo assim 4 tertulianos nesta festa.
A actuação de um rancho folclórico da região, a meio da tarde, fez com que quase toda a gente saltasse para o terreno e desse ao pé, inclusive, o comandante desta “rapaziada” – o Capitão Vasco da Gama -, que ainda não estando a 100% recuperado de um problema de saúde, não regateou um esforço que equivaleu, na minha avaliação pessoal, a umas 50 completas.
Deus permita que para o ano, este animado pessoal, se não for de modo ainda melhor, que, pelo menos, mantenha a pedalada que apresentou no presente evento.
A finalizar deixo aqui registado um grande abraço Amigo para todos os TIGRES e um agradecimento notável ao Cap. Vasco da Gama, pelo modo simpático com que me acolheram, e à minha esposa, no seio da vossa rara e fabulosa companhia.
Muito obrigado,
(Magalhães Ribeiro)

Uma companhia envelhecida, pelo tempo, mas renovada para o que for preciso.
















Tigres e familiares misturaram-se com os elementos do grupo folclórico e dançaram a preceito sem preconceitos.



O João Melo Reis, recebe o seu certificado de presença,sob o olhar atento do Furriel Tigre Costa (organizador do evento).

O "Zé Bazuca" também teve direito ao seu "diplomazinho", bem como todos os Tigres.















Os 4 camaradas bloguistas (MR, Vasco da Gama, João Melo e Casimiro Carvalho)












Não podia faltar o bolo comemorativo da praxe, que foi devida e irmamente retalhado, e dividido por todos.

O Capitão Vasco da Gama "arranca" para um pé de folclore com uma animada esposa de um dos Tigres.


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Guiné 63/74 - P4319: Convívios (122): 16º Encontro Nacional do 10 de Junho - Dia do Combatente do Ultramar, em Lisboa (Magalhães Ribeiro)

Amigos e Camaradas,

Junto o programa das comemorações do dia do Combatente do Ultramar, que vai decorrer, como já vem sendo habitual nos últimos anos, no dia 10 de Junho, junto ao monumento (Forte do Bom Sucesso), em Belém/Lisboa.

Para a malta cá de "cima" e arredores, se conseguirmos pessoal que baste, contrataremos um autocarro, que sai do Porto (prevê-se um preço de 13 € / pessoa).

Caso queiram ir no autocarro, liguem-me logo que possível, para a marcação de lugares: 965 059 516 ou 228 314 589 (Casa).

Um abraço Amigo para todos vós,
MR

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Nota de MR:

Vd. último poste da série em:

8 de Maio de 2009 >
Guiné 63/74 - P4303: Convívios (121): 20º Almoço Convívio da 1ª Cia. do BCAV 8323, no dia 30 de Maio de 2009, em Anadia (Amilcar Ventura)

Guiné 63/74 - P4318: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (10): Ivone Reis, Anjo da Guarda na Guiné, Angola e Moçambique (António Brandão)

1. Recebi de um dos meus bons Amigos Rangers - o Brandão (que cumpriu a sua comissão em Angola) - , notícias de mais uma das nossas enfermeiras pára-quedistas, de nome Maria Ivone Reis, que cumpriu comissões entre 1961 e 1974, em Angola Moçambique e Guiné. Diz o Brandão no e-mail que me dirigiu: 

  Amigo M. Ribeiro: Aqui vai o que te disse, um texto e uma fotografia (é a única que tenho), desta Senhora Enfermeira Pára por quem nutro muito carinho, para eventual publicação no vosso blogue da Guiné (o qual tenho acompanhado com muito interesse), dado que esta Senhora deve ser conhecida por muito pessoal que combateu o PAIGC. 

 Os meus melhores cumprimentos para todo o pessoal do blogue do Luís Graça e, em especial, ao Mário Fitas e ao Jorge Félix, porque sem a ajuda deles não sei se algum dia reencontraria o único Anjo de Guarda que comigo se cruzou na minha vida militar. 

 NOTA: A Dª Ivone autorizou a publicação da foto. 

 Um abraço Amigo, António Brandão 

  
2. Uma Enfermeira Pára, de todos nós (*) 

 Texto: António Brandão 

 Estávamos em 2006, estávamos em Junho, no local e dia do reencontro com os nossos mortos, Belém/Lisboa, dia 10. Desde as primeiras comemorações que tinha vontade de lá ir, mas por razões várias, uma delas a distância, nunca tinha acontecido. Estava só, sentia-me, no entanto, rodeado de amigos. Amigos que nunca vira na vida, mas que sabia serem meus camaradas e também tinham estado lá, em Angola, Guiné ou Moçambique. 

 Nesse ano as circunstâncias conjugaram-se em sentido contrário, corri o memorial... tanta juventude desperdiçada, tantos camaradas, tantos amigos... Encontrei-os quase todos, com o pensamento distante, sem definição. Os olhos humedeceram-se-me pelo sem número de recordações, mas lá arranjei forças para percorrer todas aquelas frias placas de mármore. Aqui e ali tirava uma ou outra fotografia, à placa do Varinho, do Lebres, do Vale Leitão, do Fonseca... Rogério... Eusébio...Tantos (demais para o meu gosto). Cruzei-me com muita gente, uns mais velhos, outros menos. Outros ainda, tão velhos quanto eu. Neles, sob aquelas boinas que o tempo se encarregou de desbotar, tentei reconhecer uma cara. Não reconhecia ninguém, até que, num momento qualquer, encontrei um camarada especial. Um camarada que, a seu modo, batalhou nas três frentes da guerra, ao lado de todos nós. Com todos e por todos. Tinha uma Boina Verde, um corpo frágil, elegante, e era um dos convidados de Honra das celebrações. O convidado n.º 98 e o seu nome é Maria Ivone Reis. 

Apresentei-me, dizendo-lhe quem era, onde estivera, o meu posto e, com a voz embargada, pedi-lhe autorização para tirar uma fotografia ao seu lado, ao que a Senhora acedeu. Era esta Senhora, uma das nossas queridas enfermeiras pára-quedistas. Recrutei um voluntário entre o pessoal que na altura por ali circulava. O mesmo, talvez por que se ter apercebido das palavras que havíamos trocado, prontificou-se a fazer de fotógrafo e, assim, este tão agradável momento ficou registado numa foto (caro camarada voluntário, caso estejas a ler estas palavras, agradeço-te a gentileza que tiveste). Depois disto, despedimo-nos. 

 Na altura ainda pensei em pedir a direcção à Senhora, para lhe remeter a fotografia, mas um certo preconceito meu, pessoal, determinou que isso pudesse ser por ela considerado um atrevimento e fiquei calado. Desde então, voltei sempre nesse dia às cerimónias, em 2007 e 2008 procurei essa garbosa Capitã, agora reformada, em vão. Desde então fui vivendo com a revolta de não lhe ter pedido, pelo menos, o seu endereço postal. Não me perdoava desta minha atitude. 

 O tempo foi passando e um belo dia, como sou frequente leitor assíduo do vosso blogue, vi publicada no poste P3914 (da autoria do Mário Fitas) (**), uma fotografia de uma Enfermeira Pára-quedista, que o Jorge Félix identifica como sendo a então Alferes Ivone. Ao ler este nome, mais do que ver a fotografia, produziu-se em mim um clic na minha memória, não me era um nome, de maneira alguma, estranho. De imediato recorri aos serviços da minha secretária particular, minha confidente, minha esposa e mãe dos meus filhos, e aos da minha filha Marta (uma menina com a idade do 25 de Abril, que, numa missão de um ano, prestada em Quinhamel, em 2001, a população local lhe dizia que ela era branca por fora, mas negra por dentro), pedindo-lhes para compararem as 2 fotos (a minha e a do Mário Fitas) e me emitirem as suas conclusões. 

 Coloquei então as 2 fotos lado a lado, e perguntei-lhes se havia possibilidade de ser a mesma pessoa, apesar das dezenas de anos que as separavam. A resposta foi positiva, quase não tinham dúvidas, só diziam: “Olha para as mãos, são as mesmas”. Passada a 1ª prova, recorri ao especialista do blogue em Helis, Fotografia, Vídeo e, também, em identificação de Enfermeiras Páras, o Jorge Félix. Para o efeito, em 18 de Fevereiro último, mandei-lhe um recorte da cara e, na “volta" do correio, recebi uma resposta cheia de ternura: Caro Brandão, é a Ivone. Está linda. Já deve "ir" nos 70 anitos. Boa imagem. Vou guardá-la no meu arquivo pessoal. Um abraço Jorge Félix. 

 O resto foi rápido, saber o seu número de telefone, ligar-lhe e cumprimentá-la, resumir-lhe a estória, marcar um encontro em casa dela, em Lisboa, e entregar-lhe a fotografia. Tudo em cerca de dois meses. Por volta do dia 20 de Abril, a Dª Maria Ivone Reis, acompanhada da sua sobrinha, recebia-me a mim e aquela que é minha mulher há 38 anos. Apenas reparei em duas coisas em casa dela (que me perdoe a inconfidência), numa parede, devidamente encaixilhado, estava um pequeno mapa da Guiné, todo ele marcado por tudo quanto era sítio com pionés, assinalando os lugares para onde tinha sido solicitada. 

 Recordei-me então de um poste do Virgínio Briote, em que apresentava um pequeno mapa que mais parecia estar com o sarampo, ou ter levado um tiro de caçadeira. Uma outra coisa que vi, estava em cima de um pequeno móvel, entre outros objectos, um Nord Atlas e um outro avião, que me pareceu um Dakota (como não sou especialista da “arte”, pode ser outro avião qualquer). 

Gostaria, ao terminar, de agradecer publicamente à querida Enfermeira Pára-quedista Ivone Reis, o ter-me facultado esta fotografia do P3914 (**), que guardarei com muito carinho. Para ela e para todas as outras queridas Anjos da Guarda, pelas suas disponibilidades nas missões que tão bem souberam desempenhar: O meu grande Xi, António Brandão

 
Foto da esquerda: a Enfermeira Pára-quedista M. Ivone Reis, identificada pelo Jorge Félix - ex-Alf Pil Al III -, membro da nossa Tabanca Grande. 

 Foto da direita: A M. Ivone R., no dia 10 de Junho de 2006, ao lado do Brandão. 

 Fotos: António Brandão (à direita); Mário Fitas (à esquerda)

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 Notas de MR: 


(**) Sobre a série "As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas", vd. os restantes postes anteriores: 








Guiné 63/74 - P4317: Os Bu...rakos em que vivemos (8): Estância de férias Mato de Cão, junto ao Rio Geba (J. Mexia Alves)

1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil da CART 3492, (Xitole / Ponte dos Fulas), Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15, (Mansoa).

Caro Carlos

Tendo em vista a série Os Bu... rakos em que vivemos, lembrei-me do Mato de Cão, pois então, nome oficial segundo sei, da reconhecida estância de férias junto ao Geba, e que albergou durante largos meses o Bando do 52.

Ora bem, chegava-se ao Mato Cão, (tiro-lhe o de), vindo de Bambadinca, pelo rio Geba, de sintex a remos, aportando aos restos de um antigo cais(?), onde se desembarcava.

Se me não falha a memória, logo à esquerda, e com vista para a bolanha do lado do Enxalé, ficava o complexo dos balneários, sobretudo a zona de duches.
Dado o clima ameno e soalheiro, estes duches ficavam ao ar livre, e eram constituídos por um buraco no chão, que dava acesso a um poço, cheio de uma água leitosa, e que respondia inteiramente aos melhores padrões da qualidade de águas domésticas.

Os utentes colocavam-se à volta do referido buraco e, alegremente, todos nus em franca camaradagem, (nada de más interpretações!), utilizavam uma espécie de terrina da sopa, em alumínio da tropa, presa por umas cordas, e que, trazida à superfície cheia de água, era a mesma retirada da referida terrina com umas estéticas latas de pêssego em calda, derramando depois os militares a água sobre as suas cabeças para procederem aos seus banhos de limpeza.

Para se chegar ao destacamento propriamente dito, subia-se então uma ladeira íngreme, (o burrinho da água só a conseguia subir em marcha atrás), acedendo-se então à parada à volta da qual, mais coisa menos coisa, se desenvolvia todo o complexo militar.

À esquerda, salvo o erro, ficavam os espaldões de dois morteiros 81 e respectivas instalações, dormitórios do pessoal do pelotão de morteiros.

Um pouco mais à frente e do lado direito ficava o bar e a sala de banquetes, toda forrada a chapas de zinco e assim também coberta, sendo aberta do lado da frente para o exterior, como convém a instalações de férias em climas tropicais.

A arca a pitrol refrescava as cervejas que o pessoal ia com todo o prazer consumindo. Fazia também algum gelo para dar mais alegria aos uísques emborcados, sobretudo ao fim da tarde.

Para encurtar razões, e sobretudo o texto, os quartos de dormir eram todos situados abaixo do chão, cavados na terra, para que assim não se perdesse o calor que tanta falta fazia nas longas noites de Inverno da Guiné!

Por cima, o telhado, de chapas de zinco, era sustentado normalmente em paus de cibo, que assentavam em graciosos bidões cheios de uma massa de cimento e terra.
Lembro-me de como era agradável o jogo que então fazia, quando deitado na cama, os ratos, de quando em vez, passeavam por cima do mosquiteiro, e com pancadas secas os projectava contra o tecto, voltando depois a cair sobre o mosquiteiro.

Tal jogo e divertimento não se consegue nas melhores estâncias de férias das Caraíbas!

No espaço central deste planalto, (porque o Mato Cão era um pequeno planalto), erguiam-se as tabancas do pessoal africano do Bando do 52.

Tudo estava rodeado de umas incompreensíveis valas sobretudo para o lado Sinchã Corubal, Madina, Belel, junto à qual, se a memória não me atraiçoa, estava uma guarita térrea com uma metralhadora Breda.

Ao fim da tarde, e na esplanada do bar e sala de banquetes, bebendo umas cervejas e uns uísques, o pessoal esperava ansioso o ligar da iluminação pública, o que curiosamente nunca acontecia, talvez pelo facto de não haver gerador no Mato Cão.

Bem, o Mato Cão era um verdadeiro Bur…ako, tendo apenas a vantagem, valha-nos isso, do pessoal amigo do PAIGC não ter incomodado muito durante a minha estadia.

Há aliás um post no blogue, de alguém ligado à Força Aérea que faz uma descrição do Mato Cão, por onde passou de helicóptero, que é reveladora das condições de vida (**).

Ah,… uma coisa boa… tinha um lindíssimo Pôr-do-Sol!

Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves

Mando fotografias que podem escolher obviamente.
Tenho pena de não ter nunhuma dos banhos!!!
Na 2024 está este vosso amigo com os Furriéis Bonito, Santos e Varrasquinho, por ordem de alturas!!

A chega à Estância era sempre um momento vivido com prazer

Para que não fiquem dúvidas quanto à qualidade do serviço, aqui fica a vista parcial das modelares instalações

Na sala de jantar imperava o conforto e era obrigatório o uso de traje formal, como documenta a imagem

Um pequeno descanso após as lautas refeições, era sempre bem-vindo

Os momentos de diversão eram proprcionados utilizando os mais modernos equipamentos à disposição. Indispensável a companhia de animais domésticos, seleccionados entre as melhores raças da espécie.

Mais um recanto. Cada hóspede tinha direito a dois colaboradores, sempre atentos às suas necessidades

O convívio e a camaradagem são notáveis. Reparem que o camarada da direita (Fur Mil Varrasquinho), para não correr o risco de estragar a sequência de alturas, se encolhe ligeiramente

Prova de que não estamos aqui a enganar as pessoas, é este lindíssimo pôr-do-sol em Mato Cão.

Fotos: © J. Mexia Alves (2009). Direitos reservados.
Fotos editadas e legendadas pelo editor



2. Comentário de CV:

Desculpem-me, mas é mais forte do que eu. Tenho que meter a colherada.

O camarada Mexia há muito que nos presenteia com alguns mimos literários, carregados de humor e ironia. Duas coisas indispensáveis quando queremos doirar a pílula.

O período entre o 25 de Abril e o 1.º de Maio é, por excelência, a época em que, como aves migratórias, aparecem os heróis da clandestinidade, que coitados, em países subdesenvolvidos como França, Bélgica, Holanda e equiparados, para evitarem a chatice de irem fazer a guerra colonial, sofreram as mais violentas agruras, disparando perigosas canções revolucionárias, enquanto figurões, como o Mexia Alves, se deleitavam em luxuosos aquartelamentos militares da Guiné, Angola e Moçambique, onde a falta de conforto era coisa impensável.

No caso particular, Burako de Mato de Cão (***), fala quem sabe, pois as Termas de Monte Real foram fundadas pela família deste nosso camarada.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Maio > Guiné 63/74 - P4288: Espelho meu, diz-me quem sou eu (1): Joaquim Mexia Alves

Vd. último poste da série de 27 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4252: Os Bu... rakos em que vivemos (7): Destacamento de Rio Caium (Luís Borrega)

(**) Possivelmente o António Martins de Matos... Vd. poste de 11 de Março de 2009 >Guiné 63/74 - P4010: FAP (15): Correio com antenas... (António Martins de Matos, ex-Ten Pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74)

... Mas não é. O Joaquim já descobriu qual é, é um poste, mais antigo, de 2 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1912: Um buraco chamado Mato Cão (Nuno Almeida, ex-mecânico de heli / Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 52)

Aqui vai um excerto: é uma história, bonita, de solidariedade entre a gente do ar e da terra:

(...) Mensagem de Nuno Almeida, ex-Esp MMA (Canibais), DFA Guiné, que vive em Lisboa (foto à esquerda, cortesia do blogue de Victor Barata, Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74), a quem agradeço, mais uma vez´, este depoimento, mas não volto a convidar para aderir à nossa Tabanca Grande, porque ele já cá está, de pleno direito... (LG):

Camarada Mexia Alves:

Estava a ler o blogue do Luís Graça e vi a sua referência a Mato Cão, o que me fez recordar um episódio, não sei se passado, também, consigo e que passo a relatar:

Fui mecânico de helicópteros da FAP e cumpri o ano 1972 na Guiné. Um dia, creio que no Verão de 1972, fui com um heli fazer o que, creio, se chamava o Comando de Sector (levar o [Ten-] Coronel de Bambadinca a visitar os aquartelamentos).

Fomos visitando vários locais e, quando sinto o piloto fazer manobra para proceder a uma aterragem, fico em estado de choque, pois não se vislumbrava nada no terreno que indicasse haver ali alguém ou algo minimamente capaz de albergar seres humanos. Inicialmente temi que o piloto tivesse detectado alguma falha no aparelho e fosse aterrar para que eu verificasse a condição do mesmo e poder continuar a voar. Mas quando aterramos (num espaço de mato desbravado e completamente inóspito), e a intensa poeira, levantada pelas pás do heli, começa a assentar, vejo surgirem, de buracos cavados no chão, homens em estado de higiene e aspecto físico degradantes (pelo menos aos olhos dum militar que dormia em Bissau e tinha água corrente para se lavar a seu bel prazer).

Chocou-me, e ao piloto também, a situação sub-humana em que esses homens estavam a viver.

A sua reacção, ao verem o [Ten-] Coronel, foi a de parecer que o queriam linchar, tal era a sua revolta pelo que estavam a ser obrigados a suportar.

Quando regressámos a Bambadinca, o piloto foi ao bar e comprou dois pacotes de tabaco Marlboro, escreveu neles algo que creio foi: "com a amizade da Força Aérea", e quando passámos à vertical de Mato Cão largámos esses pacotes, querendo demonstrar a nossa solidariedade para com quem tão maltratado estava a ser.

Mais tarde, em [25 de] Novembro de 1972, fui ferido [com gravidade], ao proceder a uma evacuação, na mata de Choquemone, em Bula, e aí melhor me apercebi das privações e sobressaltos que, a todo o momento, uma geração de jovens, na casa dos 20 anos, foi obrigada a suportar, adquirindo mazelas físicas e, principalmente, psicológicas, que ainda hoje perduram, e que muitos teimam em não aceitar que existem e estão latentes no nosso dia-a-dia.

Abraços, do ex-1º cabo FAP Nuno Almeida (o Poeta)
(...)

(***) O sítio, paradisíaco, do Mato Cão era tão popular na época que no nosso blogue há mais de três dezenas de referências com este descritor: Vd. marcadores ou palavras-chave na coluna do lado esquerdo...

Esta estância (turística) também era muito frequentada por outros camaradas nossos como o Beja Santos (Pel Caç Nat 52, 1968/70), Luís Graça e Humberto Reis (CCAÇ 12, 1969/71), Jorge Cabral (Pel Caç Nat 63, 1969/1)... Mas nesse tempo não ainda havia as luxuosas infra-estrtuturas hoteleiras aqui tão bem descritas pelo J. Mexia Alves (devem ter construídas e inauguradas depois, em 1972)... O turistame fazia lá campismo selvagem... Bons tempos! Nessa altura o Rio Geba era muito concorrido, até se faziam comboios entre o Xime e Bambadinca e até mesmo Bafatá (no chamado Geba Estreito)... Dizem-nos que o rio agora está assoreado, por aquelas bandas... (LG)

domingo, 10 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4316: Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (4): A bazuca em rajada

A BAZUKA EM RAJADA

Esta história tem os seguintes considerandos iniciais.

A sua lembrança é motivada pelo comentário do Alberto Branquinho à minha história anterior, em que ele sublinha que a sua insistência em negar-se a “falar de si ou do seu umbigo” tem como alvo “aqueles que falam/escrevem só e sempre sobre o seu próprio umbigo”. Acho que o compreendo!

Por outro lado tive sempre a tentação de reagir a um artigo publicado no P2264, que é uma espécie de carta escrita pelo Luís Graça a um seu amigo (o Tony Levezinho) transformando-o em interlocutor imaginário daquilo que observou durante uma estadia em Bissau quando, durante algum tempo, esteve “desenfiado” do “Vietnam”.

Para além de considerar essa carta muito interessante, pelo seu conteúdo, pelos pressupostos, até por referir algumas situações ou episódios que eu, ao tempo, “vivia” cá na chamada “Metrópole”, e também para além de retratar, com bastante azedume, aliás, alguma da “fauna” de Bissau, há lá um aspecto que eu próprio testemunhei mais tarde, provando que, nesse capítulo, pouco ou nada se alterou entre o “tempo” do Luís e o meu “tempo”.

Refiro-me ao facto “as tropas especiais” normalmente se “pavonearem” por Bissau, nos períodos em que por lá andavam. Mas, em termos de “exageros de actividade operacional”, também havia, e muito, quem gostasse de contar as suas histórias, as suas aventuras, os seus actos inigualáveis de heroísmo, sempre mais, maiores e mais ousados que o do “contador” antecedente.

Sempre tive alguma dificuldade em entender porque deveriam ser “heróis” aqueles que tinham (têm) como mérito o “saberem matar muito, destruir muito”, em detrimento daqueles que “salvaram, construíram, ajudaram, muito ou pouco”. Certamente será um problema meu, que passará com o tempo, ou então, não!

Foi então a junção destas duas lembranças, “os que falavam de si” e os que exageravam até à náusea, que me fez recordar este pequeno episódio.

Num daqueles dias em que a paciência estava esgotada, vá lá agora lembrar-me porquê, em que não havia paciência para aturar as fanfarronices, as idiotices desbocadas, o exacerbamento do ego de alguns daqueles elementos da “fauna” de Bissau, estando no bar de Sargentos de Santa Luzia, depois do almoço, deixei-me estar na roda de “heróis” que contavam as suas façanhas.

Como disse, a paciência não era muita e depois de ouvir três ou quatro episódios em que haviam sempre emboscadas com, invariavelmente, dois bigrupos (não sei porquê, mas isto dos dois bigrupos era infalível, parecia o Juca Chaves a parodiar o Gary Cooper), em que os personagens “contadores da história” acabavam por ser o elemento decisivo para a resolução do problema e em que em resultado da sua acção os elementos do IN caíam que nem tordos, a fazer lembrar os filmes de “faroeste” com os índios a serem dizimados às dúzias, não me contive e disse que também tinha uma história parecida para contar.

Tendo em conta a minha atitude normalmente reservada, ficaram admirados que tivesse alguma coisa a revelar, mas dispuseram-se a ouvir.

Então eu disse que também se tinha passado comigo uma situação semelhante às que eles tinham estado a contar, que tinha ocorrido numa coluna em que vinha inserido, pouco depois do k3 (era sempre bom referir estes locais de respeito), a qual caiu numa emboscada medonha, eram pelo menos dois bigrupos, talvez até três, e em que a rapaziada ficou tão surpreendida que saltámos dos “unimogs” e alguns até abandonaram os seus equipamentos.

Os “gajos” estavam em cima da gente, a coisa estava feia e eu, que até nem era nada dado a actos de heroísmo, nem sei o que me passou pela cabeça, saltei do chão, agarrei na bazuca que tinha ficado em cima da viatura, coloquei-a junto à cintura, enfrentei os gajos fazendo a “menina” cantar… rá tá tá tá tá tá tá tá, rá tá tá tá tá tá tá tá,. Com esta minha intervenção os tipos assustaram-se, a nossa malta ganhou ânimo e conseguimos abortar a emboscada com poucos feridos e causando inúmeras baixas ao IN.

Propuseram-me um louvor e colocaram-me na “Escuta”. Era por isso que agora eu estava lá.

Como calculam, após alguns breves instantes de perplexidade e de estupefacção (não se esqueçam que isto se passa no Bar, após o almoço…) um dos ouvintes diz: “é pá, mas a bazuca não dispara em rajada!”

Aí eu disse: Ai não? E porquê? Na minha história dispara, sim senhor! Então vocês podem contar as histórias como querem, com as invenções que entendem, e eu não posso? Pois estão enganados, na minha história há uma bazuca que dispara em rajada e vai ficar sempre assim, porque essa é a minha verdade, vocês fiquem com as vossas! Passem bem!

Após esta saída de cena, houve desmobilização geral. Alguns ainda pretenderam empertigar-se um bocado, sentindo-se ofendidos na sua honra, pela dúvida lançada quanto à veracidade das suas histórias, mas foi sol de pouca dura pois começaram a discutir entre eles, cada qual desmentindo os outros.

Reconheço que foi uma atitude pouco conciliadora e certamente injusta para com aqueles que na verdade enfrentaram reais situações mas, como disse, a paciência tem limites e, também em boa verdade, aquelas conversas já enjoavam. Mas foi quase “remédio santo” pois durante bastante tempo não houve bigrupos…

E pronto, esta história já está!

Um abraço para toda a Tabanca!

Hélder Sousa

Fur. Mil. Transmissões TSF

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Nota de MR:

Vd. último poste da série em: 22 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4235: Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (3): Recordar aos poucos ou circuncisão espectacular

Guiné 63/74 - P4315: Agenda Cultural (13): O livro A Mulher Portuguesa na Guerra e nas Forças Armadas (Miguel Pessoa)

1. Texto do nosso camarada Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, Guiné (1972/74):

Amigos,
Esta conversa relaciona-se com a visita que hoje, aproveitando o feriado do 1º de Maio, fiz ao Forte do Bom Sucesso (Liga dos Combatentes), em Belém, junto ao Monumento dos Combatentes do Ultramar.
Refiro, a propósito, que o monumento está agora a sofrer obras de restauro, para lhe dar o brilho que merece.
A exposição que decorre, sobre "Piratas - Os ladrões dos Mares", apresenta algumas peças interessantes, nomeadamente vestuário e armamento (ligeiro) desse tempo.
O armamento pesado, mais virado para o Séc XX, esse está cá fora, no Forte, ou noutras salas - desde as peças de artilharia de costa (ainda no seu sítio), metralhadoras que equiparam diversas aeronaves da FAP e navios da Armada, um carro de combate, um Zebro e, para me matar as saudades, a parte da frente de um Fiat G-91 R4, igual aos da Guiné - isto, se não esteve lá... (aqui um desabafo meu para lamentar que esteja com a pintura um bocadinho estragada, com a canopy ligeiramente aberta - a chuva não faz muito bem ao seu interior - mas sempre é uma referência que me apraz rever).

Também está a decorrer uma exposição de cartoons relacionados com o "humor na tropa" desde os anos 60 até aos nossos dias. Peço desculpa por alguma imprecisão no que descrevo, mas estou a escrever "de cabeça" e já devem ter descoberto como sou um bocado distraído...

Finalmente, o motivo principal desta conversa, tive a oportunidade de ver à venda (e de comprar, claro) um livro publicado recentemente, editado pela Liga dos Combatentes e intitulado "A Mulher Portuguesa na Guerra e nas Forças Armadas" (edição: 2008; preço: 15 euros).

Trata-se, conforme referido na contra-capa, de uma centena de depoimentos de Mulheres que viveram a guerra no ultramar, acompanhando familiares ou como enfermeiras pára-quedistas, ou que sentiram de longe os efeitos da guerra por lá terem alguém a combater e, finalmente, testemunhos mais recentes de Mulheres servindo nos 3 Ramos das Forças Armadas. Infelizmente é uma edição de apenas 1.000 exemplares, que eu prevejo que possa acabar depressa.
Para quem possa estar interessado.

Um abraço,
Miguel Pessoa
Nota: A imagem junta foi retirada, com a devida vénia, da revista Combatente, nº 345, de Setembro de 2008, da Liga dos Combatentes.
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Nota de MR:

Guiné 63/74 - P4314: Nino: Vídeos (5): 'A guerra é uma das coisas mais horríveis da vida' (Nino Vieira)

Guiné-Bissau > Bissau > Palácio Presidencial > 6 de Março de 2008 > Último excerto, em vídeo, da audiência que o Presidente João Bernardo 'Nino' Vieira (1939-2009) deu, por volta das 12h, a cerca de duas dezenas de participantes estrangeiros do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de Março de 2008) (*). 

 Sinopse: 

Referência às difíceis negociações de Argel, em 1974, entre Portugal (representado por Mário Soares e Almeida Santos) e o PAIGC, com vista ao acordo de paz. Posição de Spínola que acaba por dar o seu OK, facilitando assim o desfecho das negociações. Grande apreço de 'Nino' pelo velho marechal. Quando estava já em coma, fez questão de o visitar no hospital. Encontro, nessa ocasião, com o Gen Almeida Bruno, que estava emocionado. Bruno e 'Nino' falam de Guileje e Gadamael. Bruno pergunta a 'Nino' a razão por que é que o PAIGC não quis tomar Gadamael, quando tinha todas as condições para o fazer. A resposta de 'Nino' foi que, para o PAIGC, Gadamael seria uma cilada das NT. Depois de entrar em Gadamael, as tropas do PAIGC seriam facilmente dizimadas. Mantendo o seu tom de confidências, 'Nino' diz taxativamente que "a guerra é uma das coisas mais horríveis da vida".... 

Volta a fazer um apelo à cooperação. A antiga colónia portuguesa precisa hoje, não de ser novamente colonizada, mas atacar os seus problemas de desenvolvimento. Remata, por fim, com um apelo a Cuba e Portugal "para que ajudem a escrever a história"... A Guiné-Bissau precisa de preservar a sua memória. "Os senhores têm filmes, documentos, fotografias"... Visivelmente feliz e bem disposto, 'Nino' faz um agradecimento final aos presentes por terem vindo à Guiné-Bissau participar no Simpósio de Guileje... 

 Vídeo (7' 00''): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. 

Alojado em You Tube > Nhabijoes

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 Notas de L.G.: 

 Vd. postes anteriores da série:

8 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3996: Nino: Vídeos (1): Ouvindo a versão do Coutinho e Lima sobre a retirada de Guileje (Luís Graça) 

 9 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4002: Nino: Vídeos (2): O amigo de Cuba... e de Portugal, que em Março de 2008 pedia mais professores de português (Luís Graça) 

 17 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4045: Nino: Vídeos (3): Em Portugal, um vizinho meu, antigo combatente, reconheceu-me e tratou-me por 'comandante Nino'... 

 14 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4185: Nino: Vídeos (4): Guidaje, Guileje, Gadamael: A Op Amílcar Cabral