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sábado, 13 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27216: Felizmente ainda há verão em 2025 (33): A natureza tem horror ao vazio... Reflexões, mais ou menos melancólicas, no dia seguinte à primeira vindima de Candoz












Marco de Canavezes > Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz > 13 de setembro de 2025 > Um trepadeira que nasceu na "pedra" da antiga eira.. É o último piso, de quatro, da casa que, reconstruída,  se encaixa perfeitamente numa rocha de granito: 1º piso (ao nível da estrada municipal, M642): "loja" (adega); 2º piso: varanda exterior, entrada principal, hall, cozinha e sala de jantar, 1 quarto, 2 casas de banho; 3º piso: 3 quartos, 1 casa de banho, escadas interiortes; 4º piso:  "salão", com saída para a antiga "eira"... 

No salão está instalado um pequeno núcleo museológico com peças que hoje perderam o seu uso funcional (desde de novelos de linho a aparelhos de rádio, cestos de verga, instrumentos de trabalho, como este semeador manual, em ferro, de duas rodas e guiador de duas mãos; servia para semear milhão, centeio, feijão) ... 

A porta (exterior) que se vê na foto pouca se usa... A trepadeira, sorrateiramente, brotou do chão  que é em pedra, e pôs-se a fazer aquilo quer sabe fazer, que é "trepar"... É caso para dizer: "na natureza nada se perde..." (pelos meus escassos comnhecimentos de botânica, e com a ajuda do Google Lens, acho que se trata de uma  Thalictrum minus subsp. matritense, endémica na Península Ibérica).


Fotos (e legenda): © Luís Graça (2025). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 

1. "Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma"...Parece ser verdade em toda parte, em todos os continentes... Até na guerra, que nos coube em sorte, há 50/60 anos, na então Guiné Portuguesa... 

É verdade na nossa quinta de Candoz, a c. 250 metros acima do nível do mar, na margem direita do rio Douro, a escassos quilómetros da albufeira da barragem do Carrapatelo, nas faldas da serra de Montedeiras. 

Por aqui passou o Zé do Telhado (1816-1875) e o seu bando, a caminho da Casa do Carrapatelo (o mais célebre e o mais funesto dos assaltos cometidos por aquele "capitão de bandoleiros", no dia 8 de janeiro de 1852). Sabemos que o bando, antes do assalto, se reuniu à volta da capela românica de Fandinhães, terra da minha falecida sogra, Maria Ferreira.

Por aqui passaram inúmeros povos desde o neolítico  até ao império romano, mais os visigodos, os mouros, os escravos de África...E passei eu, que vim do Sul... Aqui as antigas florestas de carvalho e castanheiros deram lugar a campos de milho, linho e centeio... E mais tarde a vinhas, com castas indígenas como o pedernã (arinto, no sul), azal, avesso, trajadura, loureiro, alvarinho...

A frase "Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma" é atribuída a Antoine Lavoisier (1743-1794): é uma síntese, de senso comum, do princípio da "conservação da matéria"... A frase não é propriamente do Lavoisier, é uma paráfrase, mas para o caso não interessa. Lavoisier é considerado o pai da química moderna, ao mostrar que numa reação química a massa dos reagentes é igual à massa dos produtos (no seu "Tratado Elementar de Química", 1789).

Eu não sei nada de química. Nem mesmo, desgraçadamente,  da química do vinho... Não vou discutir aqui a validade científica da lei, mas apenas explorar em termos filosóficos e literários o  seu alcance, ilustrado pelas fotos acima. (Parece que a lei é verdadeira no contexto das reações químicas, mas falsa quando falamos de  reações nucleares.)

 Filosoficamente, a frase aponta para uma visão dinâmica da realidade...Na natureza, de facto:
  • Nada se perde → a matéria não desaparece; mesmo quando algo parece “sumir” (por exemplo, o incêndio dos nossos "montes" há 10, 15, 20, 30, 40 anos atrás), apenas muda de forma (pinheiros e mato dão lugar a troncos calcinados,  cinzas, gases, calor, nos pinheiros e mato; os dinossauros morreram há 150 milhões na "formação Lourinhã", mas os seus ossos (e até os seus ninhos de ovos) fossilizaram-se e hoje a minha terra é a "capital dos dinossauros";
  • Nada se cria → não há "geração espontânea", não consigo "produzir" matéria a partir do nada; afinal, o que fazemos é combinar/ recombinar, juntar e reorganizar elementos que já existiam previamente; por exemplo, o granito e a madeira para fazer esta casa, ou o aço pata fazer as cubas do vinho:
  • Tudo se transforma → Os processos naturais e artificiais são, na essência, transformações da matéria (física ou química), em que os átomos se rearranjam em novas combinações; mas o mesmo se aplica às ideias, conceitos, teorias, etc., são a matéria-prima que, depois de processadas,  origina novo conhecimento; com as palavras, em português, escrevo este poste neste blogue.

Em termos literários e filosóficos, a paráfrase de Lavoisier remete-nos para o estatuto que temos no universo: somos apenas "pó de estrelas",  não somos "deuses", não criámos a vida nem a matéria... 

Para quê, afinal, meus queridos, tanta arrogância, orgulho, altanaria, altivez, atrevimento, bazófia, convencimento, empáfia, enfatuação, enfatuamento, imodéstia, insolência, jactância, ostentação, pedantismo, pesporrência, presunção, soberba, sobranceria, vanglória ?!... "Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris" (Lembra-te, ó homem, que és pó e que em pó te hás-de tornar)... (Tiro sempre o barrete ao fidalgo da terra quando vou ao cemitério e passo pelo seu imponente jazigo em mármore.)

Aprendemos, ao longo da nossa evolução, a  transformarmos o que já existia, somos parte da natureza, estamos inseridos numa ordem natural e cósmica que nos ultrapassa, um ciclo maior, o ciclo da vida e da morte. Somos parte da natureza, mas o  que nos diferencia de outros seres vivos, animais e plantas, é afinal a  cultura (da linguagem à poesia, do uso do fogo à da arte da guerra,  da enologia à gastronomia, etc.).

Nada (e muito menos nós) morre por completo. O fim é apenas uma etapa de transformação. O corpo que se desfaz volta à terra, mesmo que sob a forma de cinzas, se formos cremados,  e vai nutrir novas formas de vida. Pelos filhos reproduzimos o nosso ADN. A semente desta trepadeira,  não morreu debaixo do cimento e da pedra da eira da quinta de Candoz... Há dezenas de anos que não se usa a eira para malhar ou secar o milho e o centeio... Dancei nela quando aqui me casei,  em 7 de agosto de 1976... E mesmo assim a trepadeira vai cobrir a parede e a porta e galgar o telhado, se a gente não a arrancar...

Tudo flui, tudo muda. Nada é imutável. A água que nasce nas nossa sminas vai parar ao rio Douro. E até mesmo o que é hoje tragédia, guerra e dor, pode amanhã ser  paz, esperança, sabedoria. As ruínas podem originar beleza (Tongóbriga) , a anarquia e o caos uma nova ordem (albufeira da barragem do Carrapatelo)... 

A natureza tem horror ao vazio... Será ? Reflexões, mais ou menos melancólicas, ao fim do segundo dia da primeira vindima em Candoz que deixou a quinta já meia despida... 

Na próxima sexta feira, 19 de setembro,  vindima-se a outra metade da quinta... Mas nas cubas inox, graças à natureza e à cultura, vai começar a fermentar amanhã o vinho Nita  2025 que, depois depois de engarrafado e de estagiar um ano nas "minas" (de água),  haveremos de beber em 2026... "Aos nossos amigos, aos nossos amores!"... 
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Nota do editor LG:

Guiné 61/74 - P27215: Os nossos seres, saberes e lazeres (700): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (221): Um jardim Zen no Planalto das Cezaredas - 2 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Julho 2025:

Queridos amigos,
Dá-se continuação à humilde história de como um matagal se metamorfoseou em jardim Zen, não é para deixar o leitor embevecido, mas poder-se-á dar o caso desse mesmo leitor ter uns pedregulhos à volta de casa e pretenda esverdear a paisagem, é o que aqui está a acontecer, dentro daquele processo de ensaio, tentativa, erro, até chegar a uma vegetação adequada a este oceano de pedra, já se viu que aqui podem crescer árvores de fruto, catos, vão se descobrindo plantas resistentes, sempre diante de uma perspetiva de evitar a monotonia dos loendros, sardinheiras e afins. O papel que gosto de representar, quando acordo com genica, é lançar-me num combate com as ervas daninhas, combate interminável, aí não há ilusões. Confesso que me dou por feliz quando, nos fins de tarde com temperatura amena, por aqui deambulo, à procura de novos trabalhos, sabendo de antemão que a natureza é tendencialmente vitoriosa. Mas ser obstinado no combate que lhe reservo é um saboroso sal da terra.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (221):
Um jardim Zen no Planalto das Cezaredas - 2


Mário Beja Santos

Já contei na semana anterior como aqui se chegou e como se foi desvendando os segredos de um matagal que se vai ajardinando como se pode. Os trabalhos de arrancar ervas à volta das casas, nos terraços dão-me imenso descanso à cabeça, não tanto aos vizinhos, tenho um potente gira-discos, posso começar a manhã com o Ouro do Reno, a primeira ópera da Tetralogia, um soberbo Wagner, ou mesmo com a Norma, de Bellini, os vizinhos não se queixam com as altas sonoridades, resta dizer que o trabalho é insano, quando aqui volto é para recomeçar, a natureza não adormece, muito menos as ervas daninhas. Mostro agora ao leitor outros aspetos do jardim Zen, momentos há em que ganha a utopia de que um dia todos estes pedregulhos ficarão esverdeados, mas como em todas as utopias a realidade obriga-nos a descer à terra, o mais importante de tudo é o diálogo entre a pedra a possível flora. Basta de conversa, vamos ver o que ainda falta ver do jardim.


O limite deste jardim Zen é pouco lá mais abaixo, mas gosto muito de me posicionar aqui, primeiro por todo aquele tapete lavrado, terra fecunda, onde a Susana e o Henrique este ano colheram a batata, os feijões foram comidos pelos coelhos, só ficou aquela correnteza à direita, a explicação que me deram é que é um tipo de feijão que os coelhos não gostam, nada percebo do assunto, confio na explicação. Mas o meu jubilo vai para esta vara de ferro onde se prende a macieira que lá vai medrando, as árvores de fruto têm sido cuidadas, na minha ausência a Susana anda por aqui com a extensa mangueira e o verde sai das pedras. Não sei quantos anos serão necessários para eu vir comer algumas maçãs desta árvore
Interstícios à primeira vista impraticáveis para fazer brotar espécies possíveis de flora obrigam a escolhas irredutíveis de catos, e o que se julgava impraticável faz arrebitar esta matéria verde e quando passeio por aqui questiono como irão todos estes catos resistir ao espartilho da pedra
Que grande surpresa! Junto ao caminho vicinal vai medrando a buganvília, parece-me temerosa no seu crescimento, só lhe desejo longa vida, gosto muito deste pintalgado cor de sangue a confrontar-se com o loendreiro e aquele espantoso cato que já o vi tão pequenino e que vai inchando e escondendo a pedra
Pareceu-me interessante mostrar a temerosa buganvília num plano que mostra uma das casinhas, esta tem à entrada um guarda-loiça gigantesco, que chegou aqui às peças, sr. José António montou-o e envernizou-o, à entrada fica-se com a ilusão de que estamos em casa de grandes proprietários rurais, há mesa para comer, sofá para ler e dormir, segue-se o espaço da cozinha e há portas que ligam à casa de banho e há um quarto que tem a vista mais espetacular sobre o vale e a correnteza de moinhos, lá no alto, onde a Junta de Freguesia de Reguengo Grande mandou fazer um miradouro
Vista de moinhos e miradouro, a vegetação envolvente é a mesma que encontramos nos quatro concelhos por onde se estende o Planalto das Cezaredas
Guardo um certo pendor neorromântico, havia que aproveitar este banco que estava numa casa em Tomar, o sr. José António fez-lhe uns calços em pedra, pode imaginar-se uma tarde acalorada, vem-se para aqui com um livro e goza-se a sombra da figueira, guardo-lhe um certo rancor, dá uns figos pequeninos e imprestáveis; ora, num dos terraços das duas casas tive a sombra da figueira do sr. Raul, era uma fragância que dava gosto, não há bem que sempre dure, veio uma noite de tempestade que matou a figueira, tenho agora este refúgio e faço questão de dizer que o banco é regularmente limpo e tratado, como em breve vai acontecer
Temos aqui uma fronteira entre o jardim Zen e os arvoredos que pertencem à Susana e ao Henrique, lá no alto dá para ver habitação e até moinho. Na época dos figos, estou autorizado a apanhar o que esta figueira oferece.
Um outro ângulo da lavoura da Susana e do Henrique, lá ao fundo algum casario do Reguengo Grande
Quem diria, temos aqui o mais inesperado dos lírios, quem passeia pelo Planalto sente as alegrias de encontrar plantas silvestres e de grande beleza, a começar pelos lírios bravos
Despeço-me com outra vista do miradouro, às vezes adormeço a recordar a formosura agreste da região, pródiga em vinhas e fruta, mas aqui o que conta é este vale úbere e o esplendor da cercania. Até à próxima.
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Nota do editor

Último post da série de 6 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27190: Os nossos seres, saberes e lazeres (699): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (220): Um jardim Zen no Planalto das Cezaredas - 1 (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27214: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XXVIII: Mansoa, sector O4




Foto nº 1A,1, 1B, 1C: Hastear da bandeira










Foto nº 2, 2A, 2B, 2C, 2D > Bairro dos soldados africanos 


Foto nº 3 > TCor Inf João Pedro do Carmo Chaves de Carvalho (n. 1923), cmdt do BCAÇ 2885  (Mansoa, 1969/71)






Foto nº 4, 4A, 4B > Campo de arroz: o capelão Zé Torres Neves, à esquerda, e em segundo plano a ponte velha sobre o rio Mansoa




Foto nº 5: > "Djubis" na rua principal de Mansoa


Foto nº 6 > Marcas de canhoada em edifício exterior


Foto nº 7 > Marcas de canhoada na caserna, junto a uma cama





Foto nº 8~, 6A, 6B > Dança de miúdos balantas


Foto nº 9 > 1º Cabo, não identificado, com tubo de morteiro 81


Fot0o nºç 10 >O nosso capelão com o tubo do morteiro 81

Guiné > Zona Oeste > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) 

Fotos do álbum do Padre José Torres Neves, antigo capelão militar.

Fotos (e legendas): © José Torres Neves (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Alf capelão graduado José Torres Neves,
BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71), natural de Penamacor;
missionário da Consolata, reformado


1. Mais um conjunto de fotos enviadas no passado dia passado dia 2 de agosto pelo nosso camarada e amigo Ernestino Caniço;

(i) ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa; Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, Bissau, fev 1970/fev 1971, hoje médico, a residir em Tomar; o Ernestino Caniço fez amizade com o Zé Neves, e este confiou-lhe o seu álbum fotográfico da Guiné, que temos vindo a publicar desde março de 2022; são cerca de duas centenas de imagens, provenientes dos seus diapositivos, digitalizados; uma coleção única, preciosa;

(ii) o Ernestino Caniço tem sido o zeloso e diligente guardião do álbum fotográfico da Guiné, deste padre missionário da Consolata, José Torres Neves, natural de Meimoa, Penamacor, merecendo os dois os nossos melhores elogios e saudações.

(iii) o Padre Neves, nosso grão-tabanqueiro, reformou-se recentemente de uma vida inteira, generosa,  abnegada, dedicada às missões católicas, nomeadamente em África; tem já cerca de 4 dezenas de referências no nosso blogue


Guião o BCAÇ 2885, "Nós Somos Capazes"  (Mansoa, 1969/71)


2. Ficha de unidade > Batalhão de Caçadores nº 2885

Identificação:  BCaç 2885
Unidade Mob: RI 15 - Tomar
Cmdt: TCor Inf João Pedro do Carmo Chaves de Carvalho
2.° Cmdt: Maj Inf Valentino Diniz Tavares Galhardo
OInfOp/Adj: Maj Inf Alfredo José
Cmdts Comp:
CCS:.Cap SGE Abílio do Nascimento Castro
CCaç 2587:Cap Mil Art Lourenço Gomes de Campos
CCaç 2588:Cap Inf Fernando do Amaral Campos Sarmento | Cap Inf Luís da Piedade Faria | Cap Mil Art Armando Vieira dos Santos Caeiro | 
CCaç 2589:Cap Inf Francisco António Mendonça Martins Vicente | Cap Mil Art Jorge Manuel Simões Picado

Divisa: "Nós Somos Capazes"

Partida: Embarque em 07Mai69; desembarque em 13Mai69 | Regresso: Embarque em 25Fev71

Síntese da Actividade Operacional

(i) em 14Mai69, rendendo o BCaç 1912, assumiu a responsabilidade do Sector 04, com sede em Mansoa e abrangendo os subsectores de Porto Gole e Mansoa;

(ii) em 230ut69, por extinção do Sector 03, a zona de acção foi aumentada do subsector
de Mansabá, o qual lhe foi novamente retirado em 11Nov70, após reactivação do COP 6;

(iii) em 290ut69, o subsector de Porto Gole, foi reduzido da área de Enxa1é, que passou a ser integrada no sector do BCaç 2852 (Bambadinca,m Sector L1);

(iv) em 15Nov69, por ajustamento do dispositivo, foi criado o subsector de JuguduI

(v) as suas subunidades mantiveram-se sempre integradas no dispositivo e manobra do batalhão;

(vi) desenvolveu intensa actividade operacional, efectuando numerosas operações e acções, golpes de mão, emboscadas, escoltas e patrulhamentos;

(vii) colaborou ainda na protecção e segurança dos movimentos das colunas de transporte dos meios de pavimentação e asfaltagem da estrada Mansabá-Farim e na segurança e protecção dos aldeamentos e organização dos sistemas de autodefesa e promoção sócioeconómica das populações;M
 
(viii) em 14Fev71, foi rendido no Sector 04 pelo BCaç 3832 e recolheu a Bissau para embarque.

(ix) de entre o armamento capturado mais significativo, salienta-se: 
  • 3 metralhadoras pesadas, 
  • 1 pistola-metralhadora,
  •  8 espingardas
  • 28 granadas de armas pesadas
  •  50 minas detectadas e levantadas.

Fonte: Excertos:  Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: fichas das unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp.  133/134-

Guiné 63/74 – P27213: Filatelia(s) (12): Selos da Guiné Portuguesa da colecção do Alf Mil João Rodrigues Lobo (3)





1. Continuação da publicação de selos da Guiné (então da República Portuguesa) da colecção do nosso camarada João Rodrigues Lobo, ex-Alf Mil, CMDT do Pelotão de Transportes Especiais / BENG 447 (Bissau, Brá, 1968/71), enviada ao nosso blogue em 29 de Agosto de 2025:




(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 10 de setembro de 2025 > Guiné 63/74 – P27206: Filatelia(s) (11): Selos da Guiné Portuguesa da colecção do Alf Mil João Rodrigues Lobo (2)

Guiné 61/74 - P27212: Notas de leitura (1837): Para melhor entender o início da presença portuguesa na Senegâmbia (século XV) – 11 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Agosto de 2025:

Queridos amigos,
Convém recordar o móbil que acompanhou esta compilação de textos, os três volumes de Documentos da Expansão Portuguesa, organizados pelo Vitorino Magalhães Godinho. Falamos aqui no blogue sistematicamente na Senegâmbia, parecia-me, estou em crer, uma descrição das nossas navegações e explorações da costa para se percecionar o que se entende por Grande Senegâmbia. Não é por acaso que aqui se mostra uma carta de 1680, oriunda de França. Não dispúnhamos de meios para fazer comércio em todas as rias e rios, cedo começou a concorrência, e depois da Restauração o país foi confrontado com a dura realidade, ocupava-se, e tenuamente, a Pequena Senegâmbia, franceses e britânicos tinham ocupado vastos territórios que constituem hoje, grosso modo, o Senegal, a Gâmbia, a Guiné Conacri e a Serra Leoa. Foram invocados os principais documentos referentes a esta digressão, há este ou outro ponto que se tratará separadamente, é o caso dos Fulas do Senegal, artigo de Teixeira da Mota.

Abraço do
Mário



Para melhor entender o início da presença portuguesa na Senegâmbia (século XV) – 11

Mário Beja Santos

Entra-se no derradeiro capítulo do livro Documentos sobre a Expansão Portuguesa, Volume III, organizado por Vitorino Magalhães Godinho. O historiador procede aqui ao levantamento documental com referência às navegações na costa ocidental africana, antes e depois da morte do Infante D. Henrique, fica-se agora com uma imagem do que se podia considerar a Grande Senegâmbia, do século XV para o século XVI, entre o continental Cabo Verde, no norte do Senegal, até à Serra Leoa. Falando desta, diz Duarte Pacheco Pereira no Esmeraldo:
“E muitos cuidam que este nome de Serra Leoa lhe foi posto por aqui haver leões, e isto é falso, porque Pedro de Sintra, um Cavaleiro do Infante D. Henrique, que por seu mandado esta terra descobriu, por ver uma terra tão áspera e brava lhe pôs nome Leoa, e não por outra causa; e isto se não deve duvidar, porque é verdade, porque ele mo disse assim.”

Repetidamente Duarte Pacheco Pereira sublinha que em vida de D. Henrique se descobriu só até à Serra Leoa, o que João de Barros confirma, e até Rui de Pina, importa recordar o que João de Barros referiu a propósito do contrato celebrado com Fernão Gomes:
“… o arrendou por tempo de cinco anos a Fernão Gomes, um cidadão honrado de Lisboa, por duzentos mil reais cada ano. Com a condição de que em cada um destes cinco anos fosse obrigado a descobrir pela costa em diante cem léguas, de maneira que no cabo do seu arrendamento desse quinhentas léguas descobertas. O qual descobrimento havia de começar da Serra Leoa, onde acabaram Pedro de Sintra e Soeiro da Costa, que foram antes deste arrendamento os derradeiros descobridores.”
Magalhães Godinho em nota observa que o historiador Jaime Cortesão aventara a hipótese de que até 1460 não só se teria explorado o Golfo da Guiné, como ainda a Costa de África Meridional, argumentação que foi refutada por Duarte Leite.

Ganha realce o que escreveu Cadamosto na Navegação Segunda acerca do Capitão Pedro de Sintra que navegou de região de Buba até ao Cabo da Verga:
“O que tenho referido é o que eu vi, e ouvi no tempo que andei por estas patas: mas após mim foram outros, e principalmente duas caravelas armadas, que El-Rei de Portugal mandou depois da morte do Senhor Infante D. Henrique, cujo capitão era Pedro de Sintra, escudeiro do Infante, percorreu adiante por aquela costa dos negros a descobrir países novos.”
Cadamosto encontrou Pedro de Sintra em Lagos e falara-se muito sobre aquela terra dos Negros, referindo concretamente a ida até aos Bijagós e ao cabo a que puseram o nome de Cabo da Verga, daqui navegaram ao longo da costa cerca de oitenta milhas, descobriram um outro cabo, era o mais alto que nunca tinham visto, puseram-lhe o nome de Cabo de Sagres, também conhecido por Cabo de Sagres da Guiné; referiu Pedro de Sintra que os habitantes da região era idólatras, adoravam imagens de pau com forma humana, tinham alguns sinais feitos com ferro em brasa na cara e cobriam o sexo com cascas de árvore, não dispunham de armas porque não havia ferro e sustentavam-se de arroz, milho e legumes, havia também carne de vaca e cabra.

Por o mar dentro deste cabo estavam duas ilhas, os seus habitantes dispunham de almadias, muito grandes, em cada uma das quais navegam trinta a quarenta homens. “Tem esta gente as orelhas furadas com buracos por todas elas, em que trazem diversos anéis de ouro uns após os outros, todos alinhados; e também têm o nariz furado no meio em a parte inferior, e nele trazem pendurado um anel de ouro do mesmo modo que entre nós trazem os búfalos: e quando querem comer o tiram, usando dele tanto os homens como as mulheres. Dizem também que as mulheres dos reis e senhores, ou dos homens ricos deste país, todas têm nas suas partes genitais do mesmo modo que nas orelhas alguns furos, em que trazem por dignidade, e como prova de grandeza e estado anéis de ouro, os quais tiram e põe em seu arbítrio.”

Prossegue o relato, já se passou o Cabo de Sagres, avistou-se o rio chamado de São Vicente, escreve-se que a costa é montuosa, e por toda ela há bons surgidouros e bom fundo, passa-se o Cabo Ledo, e depois avista-se a Serra Leoa. “Passada toda esta costa da Serra Leoa, daí para diante é tudo terra baixa, e praia com muitos bancos de areia, que entram pelo mar dentro, e andando coisa de trinta milhas mais adiante da ponta daquela montanha, acha-se outro grande rio largo na sua foz, coisa de três milhas, ao qual puseram o nome de Rio Vermelho.”

Pedro de Sintra faz a descrição do que aqui se avista, passa-se depois além do Cabo de Santana, a seguir o Cabo do Monte, e umas boas milhas adiante há um bosque grande com muitas árvores verdíssimas, ao qual deram o nome de Mata de Santa Maria, vieram até às caravelas pequenas almadias, homens nus que traziam nas mãos paus aguçados na ponta, que pareciam uma espécie de dardos, e alguns estavam armados de uns cutelos pequenos, tendo todos duas adargas de couro com três arcos, não se entendia uma só palavra. Entraram em uma das caravelas e destes três retiveram um os portugueses, e deixaram ir os outros; e isto para cumprir com a ordem d’El-Rei, que lhes determinou, que na última terra onde chegassem, não querendo passar mais avante, se porventura os seus intérpretes não fossem entendidos da gente dela, tratassem de lhe trazer, ou por bem ou por mal, alguns dos negros daquele país, para poder fazer neles averiguações, por via dos muitos intérpretes negros que se acham que Portugal; ou mesmo pelo tempo adiante aprenderem eles a falar português.

Regressou-se a Portugal, o homem trazido falou com diversos negros, e por uma escrava de um cidadão de Lisboa houve entendimento. O que o dito negro referiu a El-Rei, por meio daquela mulher, não se entende bem, exceto que entre outras coisas acharem-se na sua terra unicórnios vivos: e assim o dito Senhor tendo retido alguns meses e feito mostrar muitas coisas do seu reino, dando-lhe algumas roupas, com grandes carícias o fez conduzir de novo por uma caravela ao seu país: e deste último lugar não tinha passado navio algum até à minha partida de Espanha, que foi no primeiro dia do mês de fevereiro de 1463. E assim termina a Navegação Segunda de Cadamosto.

Resumindo as notas de Magalhães Godinho, em 1460, ano da morte do Infante D. Henrique, Pedro de Sintra terá chegado ao Cabo Ledo, só depois é que se descobriu a Mata de Santa Maria; Pedro de Sintra explorou numa primeira viagem, talvez em 1460, o litoral da Terra dos Negros, desde o Rio Geba até à ponta ocidental da Serra Leoa (o Cabo Ledo). A viagem seguinte de Pedro de Sintra terá tido a iniciativa do Rei, Pedro de Sintra esteve mais tarde ao serviço do rico burguês lisboeta Fernão Gomes. Mais observa Magalhães Godinho que numa carta portuguesa de cerca de 1471 se faz referência ao Rio Grande (certamente do Geba), ao Rio Buba e ao Rio Tombali até ao Cabo da Verga. Noutra carta de 1486 já se fala dos Nalus, de palmares, Rio de Nuno e Cabo da Verga; e confronta estas cartas com os textos de Duarte Pacheco Pereira e de Valentim Fernandes, concluindo que a exploração da costa por Pedro de Sintra foi muito sumária.


Vitorino Magalhães Godinho, Ministro da Educação e da Cultura, imagem dos arquivos da RTP, com a devida vénia
Mapa da Serra Leoa, 1732
Mapa de 1899 mostrando territórios dos Biafadas para lá do Geba
Carta de África e das ilhas de Cabo Verde por Sanson, cerca de 1680
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Notas do editor

Vd. post de 5 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27188: Notas de leitura (1835): Para melhor entender o início da presença portuguesa na Senegâmbia (século XV) – 10 (Mário Beja Santos)

Último post da série de 8 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27197: Notas de leitura (1836): O uso do napalm na guerra da Guiné, na Revista de Relações Internacionais de Junho de 2009 (Mário Beja Santos)