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sábado, 6 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27190: Os nossos seres, saberes e lazeres (699): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (220): Um jardim Zen no Planalto das Cezaredas - 1 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Julho 2025:

Queridos amigos,
Por acaso da fortuna, já sem qualquer ligação habitacional a Pedrógão Grande, a Pedrógão Pequeno ou a Tomar, aspirei a passar alguns momentos num espaço pequenino, mas com algum idílio à volta, obviamente a curta distância de Lisboa, aconteceu amor fulminante por 70 metros quadrados em duas casinhas no Planalto das Cezaredas, um maciço calcário que me lembrou quando aqui cheguei, sabe-se lá porquê, muita da natureza da Serra d'Aire e Candeeiros, esta com muita água lá no fundo, as Cezaredas beneficiando de um clima relativamente próximo do oceano, neblinas de manhã não faltam. O anterior proprietário não queria jardim, temia acidentes com os seus clientes do alojamento local. Como não tenho alojamento local, logo matutei um empreendimento que pusesse vegetação frondosa no meio daqueles pedregulhos. É este o resultado, naturalmente provisório, que aqui se mostra e um pouco mais adiante.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (220):
Um jardim Zen no Planalto das Cezaredas - 1


Mário Beja Santos

Concretizara-se o sonho. Andando à procura de ofertas imobiliárias na Região Oeste, fazendo sempre as contas a uma distância não superior a uma hora de Lisboa, porque a idade não perdoa, deu-se com um anúncio bizarro, duas casinhas num baixio, casas recuperadas, tinham sido idealizadas para alojamento local. Acordou-se com a promotora imobiliária a visita, foi amor à primeira vista. A senhora revelou-se objetiva na apresentação, falou dos rigores do clima, atalhei que passara durante muitos anos férias num sítio então pacato chamado Foz do Arelho, neblina na praia até à uma da tarde, incompreensíveis noites álgidas em pleno verão, não seria pelos rigores do tempo que me demoveria, o preço era aceitável, o então proprietário aceitou a incumbência de fazer obras. Mostrou as casas, uma beleza de tetos, logo pensei em alterações na cozinha, etc. e maravilhei-me com uma casa de banho como nunca vira na vida, quase metade do espaço ocupado pelo quarto e cozinha, com pedra à vista e forrada de pedra marmoreada. E chegou a vez de irmos ver um outro espaço incorporado na compra, era um matagal, cá de cima eram bem visíveis duas laranjeiras, lá ao fundo uma figueira monumental e uma estranhíssima árvore, ramalhuda, nunca lhe vi nem espero ver um mínimo de flor.
Adquirido o espaço, feitas as alterações sumárias e já a congeminar noutras, impunha-se “civilizar” o matagal. É esse o retrato que aqui se mostra, faz muito bem à saúde de quem ajardina, e à falta de melhor termo vamos crismar toda esta penedia de jardim Zen. Tenho dito.

Ainda não tinham chegado os dias ferventes, mas recebi o anúncio que em breve iriam chegar as minhas sumarentas laranjas
Glicínia perversa, andou-se três anos a esperar espevitar-se, não passava de um fio de vida, desço ao jardim, e deparo-me com esta formidável surpresa, está a medrar, resta-me o pensamento mágico de que a verei espalhar-se à volta, enchendo de lilás ou branco todo este espaço escalvado, o homem sonha…
É tempo de agapantos, inebriantes, deu-lhes a natureza o condão de despontarem acima do outro folhedo, haja rosmaninho ou lavanda, é preciso acreditar nos milagres da natureza, como é possível no meio desta bruteza calcária, fatiada, haver húmus capaz de impor o viço desta flora
Agapantos sobranceiros, lá do alto da encosta acompanharam os trabalhos da Susana e do Henrique que andaram a apanhar a batata, foi próspera a colheita, manda a boa vizinhança que tenha beneficiado de um saco opulento, é regalo para as sopas, para acompanhar o peixe cozido, e mais não digo
Também o loendreiro quis dar um ar da sua graça, o perfume da flor é mínimo, mas o branco é vistoso, elevando-se da penedia
Foi o sr. José António quem concebeu este ajardinamento, desfez um montão de pedras, pô-las em círculo, depois deitou-se a semente à terra, procuro puxar pela imaginação, faço a suposição que estou a ver um extenso osso de baleia e a sardinheira em flor a olhar para mim como se me dissesse que queria ficar na fotografia
Tendo este meu habitáculo lugar numa terra de pera-rocha e maçã-reguengueira, houve que procurar um espaço para plantar esta pereira, ao tempo iam crescendo, mas não esconde a felicidade de ver que as árvores de fruto já não são só as laranjeiras e a figueira, a natureza vai cedendo aos caprichos do jardineiro, há que regar, afastar as ervas daninhas, vigiar constantemente que árvore de fruto se implantou com solidez, é o caso, há catos e agapantos à volta, parecem em boa convivência
Havia que encher entre as toalhas de pedra e até ao caminho vicinal que passa acima deste jardim, tudo se tem experimentado em catos, rosmaninho e lavanda, remove-se a persistente urze, o resultado não é notável, o jardineiro teima, confia que dentro de anos os catos vençam toda esta monumental frieza das pedras milenárias do Planalto das Cezaredas
O jardineiro revela-se ufano, estas gretas pareciam insistir na esterilidade, teimou-se, agora os catos vão crescendo, mais catos haverão, nunca se esqueceu quem aqui planta e replanta que há poucos anos atrás, quando se adquiriram estes casinhotos, o então proprietário explicava que queria todo este espaço em matagal, tinha os casinhotos em alojamento local, julgava assim afugentar os hóspedes do risco de acidentes, diga-se na verdade mais do que prováveis, a ver se o trago para ele contemplar no que deu o então matagal que crescia nos veios da pedra

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 30 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27168: Os nossos seres, saberes e lazeres (698): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (219): Um novo e belo museu regional, de visita obrigatória, o do Bombarral - 2 (Mário Beja Santos)

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