1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Abril de 2011:
Queridos amigos,
Os estudiosos da biologia das essências florestais da Guiné portuguesa deixaram aos leigos um texto totalmente indigesto tanto nas notas agrológicas, nos inúmeros quadros com parcelas de estudo em que as espécies são apresentadas em latim. Usam uma linguagem científica, aqui e acolá percebemos que estão a falar do bissilão, do pau-sangue, do pau-incenso, do pau-conta, do pau-de-sangue-branco. A certa altura o relator deslumbra-se e diz que a tabá é uma essência dominante na biologia da floresta, pelo seu magnífico coberto, como a imagem documenta.
O estudo inclui fotografias espantosas com as farrobas de lala que ouvia quase todos os dias entre Maná e Chicri, quando ia montar vigilância aos barcos que passavam por Mato de Cão. Os estudiosos queixam-se das queimadas que feitas tão arbitrariamente estavam a impedir a regeneração florestal (a situação, ao que parece, agravou-se consideravelmente na Guiné de hoje).
Outro aspecto curioso do estudo é o tom pessimista utilizado, escreve-se mesmo: “O futuro da riqueza florestal da província apresentar perspectivas poucos animadoras, pois a regeneração natural não permite a manutenção das essências valiosas… Dentro de 40 anos o bissilão terá praticamente desaparecido da floresta seca aberta da nossa Guiné ou, pelo menos, deixará de ter valor económico, atendendo a que podem ficar ainda alguns bissilões defeituosos sem interesse madeireiro”.
Pelos vistos, há mais de 60 anos que ronda a apreensão sobre o futuro das belíssimas e riquíssimas florestas guineenses.
Um abraço do
Mário
Feitiço e assombro das florestas guineenses
Beja Santos
Não é de mais insistir que a década de 50 do século passado foi pródiga em levantamentos científicos na então Guiné portuguesa. Quatro estudiosos deslocaram-se à então província para proceder ao reconhecimento florestal, já então a produção madeireira era uma cobiçada riqueza, impunha-se proceder a uma avaliação do coberto florestal e das consequências ecológicas face à exploração madeireira e até às actividades agrícolas. Nos primeiros meses de 1954, uma equipa chefiada pelo engenheiro agrónomo José Diogo Sampayo d’Orey, director agrícola do Museu Agrícola do Ultramar encetou um estudo que ficou limitado às regiões florestais de Farim e do Cantanhez, a primeira caracterizada pelo seu valor económico e a segunda pela sua especial composição florística.
Como se compreenderá, só se carreia para o blogue o fascínio da imagem, não se vai dissertar sobre ciência florestal nem sobre os valores dos solos. Os estudiosos deleitaram-se, sente-se na escrita, satisfeita e exaltada. Falando dos solos da região de Farim, pontificam: a cor do horizonte superficial é geralmente cinzenta a cinzenta-escura; nos horizontes inferiores, a cor é um tanto variável: desde a cinzenta a parda e castanha, podendo nalguns casos apresentar estas cores com tonalidade avermelhada. A textura varia bastante. Os horizontes superficiais têm geralmente textura franco-arenosa a arenosa. Tal como o jargão que utilizam para os solos da região do Cantanhez, a saber: cor normalmente vermelha, podendo passar ao laranja ou pardo-avermelhado. Ainda que o horizonte superficial nalguns casos seja franco-arenoso, em geral o perfil tem textura franco-argilo-arenosa a argilo-arenosa.
Passando para as florestas, o relatório é indecifrável para os leigos, analisam parcela a parcela. Glorificam estratos herbáceos e arbustivos, falam na regeneração dessas espécies, identificam as árvores da floresta seca aberta de Farim e da floresta seca densa da região do Cantanhez. O que não se pode perceber do estudo não impede que se sinta o esplendor dessas matas por onde andámos, cruzadas por lalas, muitas vezes tendo na orla tarrafe emaranhado, fica-se mesmo a meditar nas lanchas que desembarcavam operacionais que tinham muitas vezes à espera os galheiros na orla da mata, favorecidos pela visibilidade e pela sua natural submersão dentro da massa florestal.
O livro “Contribuição para o estudo do problema florestal da Guiné portuguesa” data de 1956 e foi editado pela Junta de Investigações do Ultramar. Do acervo fotográfico seleccionam-se arbitrariamente algumas imagens ligadas ao nosso passado, à antevisão dos perigos, àquelas travessias que fizemos com alma em desassossego. E o que é curioso é o assombro que rescende do Cantanhez. Dizia o almirante Teixeira da Mota (e ele calcorreou muita África e conheceu a Guiné de ponta a ponta) que o Cantanhez é a mais linda floresta do mundo, o facto é que no mínimo a única fotografia a cores do livro deixa-nos extasiados com a altura das copas e a espessura do verde. Pois vejamos as imagens:
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 10 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8253: Notas de leitura (237): Eduardo Malta, a Exposição Colonial Portuguesa (Porto, 1934) e a Guiné (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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1 comentário:
Uma das grandes explorações das riquezas coloniais por parte dos governos portugueses foram as madeiras.
Mas, como tudo, tirando Cabinda em escala razoável, tanto na Guiné como em Angola foi uma exploração tão diminuta e por processos tão rudimentares, que a natureza nem se ressentia dessa exploração.
Mas com a ajuda da Suécia e sua cooperação, até as árvores da beira das estradas vieram para a europa
Esta exploração com meios modernos Juntamente com a exploração do carvão para a grande Bissau, está a desertificar a Guiné a uma velocidade enorme.
Antº Rosinha
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