1. Trabalho do nosso camarada António Nobre* (ex-Fur Mil da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861, Buba, Nhala e Binar, 1969/70), historiando resumidamente a actividade operacional da sua Companhia na Guiné.
COMPANHIA CAÇADORES 2464
BATALHÃO DE CAÇADORES 2861
GUINÉ - FEV69 / DEZ70
Embarcámos em 05 de Fevereiro de 1969 no paquete UIGE, com chegada a Bissau a 11 do mesmo mês, e colocação temporária nos Adidos.
Toda a viagem decorreu com perfeita normalidade.
Passados 4 dias foi superiormente decidido a nossa partida para zonas operacionais, concretamente: Metade da Companhia foi colocada no Biambe sob o comando do Capitão Prata
- A outra metade, sob o comando do Alferes Miliciano António Vale, administrativamente com destino idêntico, mas alocada fisicamente em Encheia.
Após o normal período de adaptação, ocorreram as primeiras operações em 23 de Março do mesmo ano, com três pelotões e uma primeira emboscada que resultou em 2 prisioneiros inimigos e não registando quaisquer feridos nas nossas Tropas.
Nesta mesma noite, provavelmente por represália à nossa intervenção, ocorreu o primeiro ataque (flagelação) ao nosso aquartelamento que resultou no primeiro ferido ligeiro. Dada a intensidade deste ataque, fomos forçados a socorrermo-nos de apoio aéreo que resultou plenamente.
Posteriormente, concretamente a 23 de Março, desenvolveu-se uma operação denominada “ FOGO RASANTE”, concretizada a nível de Batalhão com a participação de tropas de 3 Companhias, tendo a minha - CCAÇ 2464 - participado com 2 pelotões (O 1.º sob o comando do Alferes Lázaro e o 4.º sob o comando do Alferes Vale)
Operação que chegou ao fim após nove horas, e fomos alvo de uma emboscada após contacto com o IN, sem consequências muito graves (um ferido ligeiro) tendo em conta uma intervenção rápida da força aérea que nos acompanhou no regresso ao aquartelamento.
O pior viria nos dias seguintes, designadamente em 07 de Abril de 1969 com a saída para o TAMA de 2 pelotões (3.º sob o comando do Alferes Viamonte e o 4.º sob o comando do Alferes Vale), tendo no inicio da operação, após termos percorrido cerca de 1,5 quilómetros. Sofrida uma intensíssima emboscada, resultando que em pleno teatro de operações o Soldado Radiotelegrafista Claro pisasse uma mina anti-pessoal, tendo ficado sem uma perna, mais ferimentos graves no Fur. Mil.º Mendes e um Milícia os quais, após os primeiros socorros, foram posteriormente evacuados para o Hospital Militar em Bissau.
Ainda durante os meses de Abril e Maio desenvolveram-se diversas operações, grande parte delas com contactos com o IN, particularizando-se uma bala na mão do Soldado Loureiro e uma bala nas costas do Soldado Sousa e ainda diversos feridos graves em soldados de uma Companhia de açorianos que connosco participaram nestas operações.
Após estas operações, mais concretamente a 23 de Maio de 1969, o 4.º Pelotão parte para Encheia para reforçar aquele aquartelamento onde já se encontrava o 2.º Pelotão e um de açorianos Com a nossa tropa (4.º Pelotão) segue igualmente o Capitão Prata, Comandante da Companhia, acompanhado com a sua comitiva de excelência, o Furriel Cascais, o Domingos (técnico), o chefe da milícia local, o “Quinze” e o Fur. Mil.º Alves.
O Capitão Prata, segundo ele, com esta comitiva iria dinamizar a actividade operacional do destacamento em Encheia que estaria muito pouco activa.
Durante a permanência em Encheia, houve incompatibilidades com a Companhia açoriana que se terá negado a intervir conjuntamente com a nossa Companhia.
Deste facto resultou que o Comandante-Chefe, sua Excelência General António de Spínola tenha visitado Encheia para resolver o diferendo sem resultados.
Com efeito, naquele destacamento e durante a sua visita, a população, via Chefe de Posto, fez muitas queixas, designadamente sevícias, violações sexuais, tendo-se retirado com promessas de que iria mandar averiguar.
Para ultimar a averiguação, foi deslocado para o aquartelamento um Oficial do Batalhão, concretamente o Senhor Major Lima.
Para evitar quaisquer diferendos futuros e dentro daquela politica da “PSICO” a nossa Companhia foi mandada apresentar-se em Bissau - Aquartelamento de Brá, onde pernoitámos e saímos em 09 de Junho para o aquartelamento de Buba, numa LDG, tendo chegado ao entardecer para integrarmos um contingente operacional de apoio ao CAOP e COP 5, cuja intervenção conjunta se destinava a reabertura da estrada BUBA / ALDEIA FORMOSA, com 750 capinadores, em conjunto com uma Companhia de Comandos, o COP comandados pelo nosso bem conhecido, na altura Major Fabião, e um Esquadrão de Panhards comandados pelo então Major Monge.
Toda a companhia permaneceu durante algum tempo em Buba, tendo posteriormente sido alocada num aquartalemento (?) próximo, concretamente em NHALA.
Permanecemos naquele aquartelamento durante algum tempo, mas dadas as precárias condições de alojamento (foram as piores instalações de toda a nossa Comissão, onde o nosso banho pessoal era efectuado na Bolanha e na “fonte”, vejam bem).
Passados largos meses e para compensar a nossa péssima estadia em NHALA, fomos transferidos para Binar- Sector de Bula - onde permanecemos “principescamente” até ao final da Comissão, tendo embarcado para a Metrópole em DEZEMBRO de 1970.
Em resumo, não tivemos mortes, pese a existência de vários feridos, alguns deles com muita gravidade.
Esta é a história da “minha guerra”.
Para a completar esta informação, junta-se algumas fotos evocativas.
FOTO 1 - Biambe - Abril de 1969 - Quelha, Quinze, Nobre, Sena e Humberto
FOTO 2 - Tabanca do Biambe - Abril (Páscoa de 1969) - Prata, Viamonte, Nobre, Quinze e Humberto
FOTO 3 - Biambe - Junho de 1969 - Branco, Teixeira, Mesquita, Nobre, Silva e Sena
FOTO 4 - Nhala - Agosto de 1969 - Equipa da Formação que venceu o Torneio relâmpago - De pé: Nobre, Óscar, Lázaro, Gomes e Ventura. Em primeiro plano: Setúbal, Daniel, Djacta e Henrique
FOTO 5 - Chaves - Fevereiro de 2009 - Em Almoço de comemoração do 40.º aniversário do embarque
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Nota de CV:
(*) Vd. poste de 10 de Abril de 2012 >
Guiné 63/74 – P9724: Convívios (331): Encontro do pessoal da CCAÇ 2464, dia 28 de Abril de 2012 em Aveiro (António Nobre)