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Nota do editor
Último poste da série de 10 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14592: Parabéns a você (901): Fernando Valente (Magro), ex-Cap Mil do BENG 447 (Guiné, 1970/72) e Henrique Matos, ex-Alf Mil Art, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Guiné, 1966/68)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 15 de maio de 2015
quinta-feira, 14 de maio de 2015
Guiné 63/74 - P14615: Convívios (683): XXXVI Encontro do pessoal da CCAV 2639, a levar a efeito no próximo dia 20 de Junho, em Aguim-Anadia (Mário Lourenço)
1. Pede-nos o nosso camarada Mário Lourenço (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CCAV 2639 Binar, Pete, Bula, Ponta Consolação e Capunga, 1969/71), que anunciemos o 36.º Convívio da sua Unidade, a levar a efeito no próximo dia 20 de Junho, em Aguim-Anadia.
CONCENTRAÇÃO PELAS 12 HORAS JUNTO AO RESTAURANTE "NOVA CASA DOS LEITÕES" EM AGUIM-ANADIA
GRATOS PELA VOSSA ATENÇÃO.
FICAMOS A AGUARDAR PELA VOSSA PRESENÇA
CONTACTO; JOSÉ CERVEIRA LAGOA - 96 883 76 81 / 91 293 32 43 / 91 554 25 64
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Nota do editor
Último poste da série de 13 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14612: Convívios (682): IX Encontro do pessoal da CCAÇ 4740, dia 20 de Junho de 2015, em Fátima (Armando Faria)
VAI-SE REALIZAR, NO DIA 20 DE JUNHO DE 2015,
O 36.º CONVÍVIO DOS ANTIGOS COMBATENTES DA
COMPANHIA DE CAVALARIA 2639
CONCENTRAÇÃO PELAS 12 HORAS JUNTO AO RESTAURANTE "NOVA CASA DOS LEITÕES" EM AGUIM-ANADIA
GRATOS PELA VOSSA ATENÇÃO.
FICAMOS A AGUARDAR PELA VOSSA PRESENÇA
CONTACTO; JOSÉ CERVEIRA LAGOA - 96 883 76 81 / 91 293 32 43 / 91 554 25 64
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Nota do editor
Último poste da série de 13 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14612: Convívios (682): IX Encontro do pessoal da CCAÇ 4740, dia 20 de Junho de 2015, em Fátima (Armando Faria)
Guiné 63/74 - P14614: A bianda nossa de cada dia (6): O que bebíamos e comíamos na 1659, nem uma onça escapou (Mário Vitorino Gaspar)
1. Mensagem do nosso camarada Mário
Vitorino Gaspar (ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68), com data de 8 de Maio de 2015:
Camaradas e Amigos
Na CART 1659, minha Companhia, repleta de amigos, existia um Vaguemestre, meu Amigo, Augusto Varandas Casimiro. Curiosamente, o Cozinheiro era o 1.º Cabo Zacarias Salvador Branco e não existiam padeiros. Ninguém se lembrou que era imprescindível haver um padeiro.
Quando pisámos terras de Gadamael Porto, segui logo para o destacamento de Ganturé. Pediram-me para gerir o “rancho” de todo o pessoal e ao mesmo tempo para ser Gerente de Messe. No caso de Gerente de Messe combinou-se ser este cargo rotativo. Além de Atirador de Artilharia de G3 e de ter o Curso de Minas e Armadilhas, era Vaguemestre, com certeza apoiado pelo Casimiro.
No seguinte dia, já que a CCAÇ 798 deixara bastante pão, o Capitão numa reunião disse não haver na CART 1659 um Padeiro, e estava com dificuldades em resolver a situação. Existiam entretanto uns Soldados que diziam já terem visto fazer pão, e que estavam prontos a darem o seu contributo. Padeiro oficialmente não existia, ninguém sabia, nem sequer o Exército, que eu era padeiro, até com Carteira Profissional.
Nunca senti amores pela profissão do meu pai, muito embora se possa dizer ter nascido numa padaria. Se leram o texto sobre “O meu Pai”, já o sabem. Mas teria sido melhor para mim, dizer que era padeiro quando fui incorporado.
Verdade ou não? – É a pergunta que faço à Tabanca.
Disse que era Padeiro, mas que não queria voltar a ser, mas prontifiquei-me em colaborar na primeira fornada, acompanhado com os futuros padeiros. Fui uma noite só, depois surgiu a sabedoria “desenrascar sempre”.
Existia fabrico de pão, tivemos a sorte da farinha ser de muito boa qualidade. Farinha Francesa. Com o pano dos sacos, os civis aproveitavam para fazerem saias e os tais trapos enrolados. Que lindas fincavam! Carimbadas com marca da farinha francesa, e a tinta não saía.
Quanto aos cozinheiros, o 1.º Cabo Zacarias (que deve ainda morar na Charneca da Caparica e devia juntar-se à tabanca da “bianda”), há muito que não o vejo, ficou com a carga de uns tantos soldados-padeiros aprendizes para o apoiarem.
E as Messes? Em Ganturé existia uma: no início éramos dois Alferes Miliciano (um deles ficara lá, rendera um Alferes Miliciano da CCAÇ 798); 2.º Sargento e 3 Furriéis Milicianos. E tínhamos Messe e um Soldado Atirador cozinheiro desenrascado – os portugueses possuem essa bênção – são desenrascados. Para o “rancho” saquei ao Casimiro um bidão de azeite, penso que éramos abastecidos quase diariamente.
O prato principal era a famosa, e eu que nunca a vi com olhos, nunca desde criança gostei a “bianda”.
O vinho era entregue em barris e garrafões de 15/20 litros cada, tudo tara perdida. Os barris serviam para se fazerem cadeiras de baloiço.
É verdade que nos barcos retiravam vinho, mas faziam-no para o beberem na ocasião. Quando cumpri a comissão todo o vasilhame é de tara perdida.
Criança com uns 12 anos, sendo os meus pais proprietários de uma quinta, com vinha, vinho de qualidade, era a primeira pessoa a beber umas gotas de vinho, dizia: Este ano é bom! Os anos passaram e apurei mais o paladar, dizendo inclusive as razões.
Quando me apresentei no RI 5 nas Caldas da Rainha para o Curso de Sargentos Milicianos, pertenci a um grupo que percorreu todas, e muitas tabernas que lá existiam, sabia onde estava o melhor vinho. Na Guiné provei a primeira vez, não gostei, pior fiquei desconfiado. Com certeza que se tratava de vinho, nem sequer baptizado, antes anestesiante. Deixei de beber, não arrisquei. Ouvi falar de cânfora.
Pergunto: E a cerveja? O que continha a cerveja, diferente daquela que se bebe cá?
Quando fui transferido para Gadamael, fiquei a dormir junto do Furriéis Milicianos o Vaguemestre Casimiro e o Furriel Auto, o Guerreiro Justo, este malandro, que vai ler esta minha discrição, não era guerreiro, era Auto e seria justo? Decerto que sim. Um grande amigo.
Como não comia arroz, antes bianda, procurava refúgio no atum, mas um dia descobri que no armazém existia um monte de caixas, julgo ter perguntado o que estava naquelas caixas, e eram muitas. Então o que vi? Eram latas de borrachos com ervilhas, mas fora de prazo. A CCAÇ 798 deixou-nos, ou deixou uma alternativa que substituía a bianda. Devo ter sido eu a comer tudo, estavam todas as latas fora de prazo, mas em condições.
A sopa era um outro grande prato, alcunhámos a sopa de “365 dias”. Sempre e sempre lá estava ela, mandada pelo PAIGC. Estava… mascarada? Tipo Knorr. Lembro-me que um dia recebemos os chamados “frescos”, normalmente: frangos de aviário; sardinha fresca; ovos; tomate e não sei se mais algum outro comestível.
Iam surgindo menus novos – até em termos de boa comida – quando vi os tais ovos, resolvi, até por haver pão duro, pedir ao cozinheiro, ao grande cozinheiro, que fizesse Sopa à Alentejana. Foi um descalabro, e os ovos ganharam asas. Não foram aproveitados os ovos para outras refeições. Concluí mais tarde que os “frescos eram uma bênção dos céus”, eles vinham mesmo nos céus, e de helicóptero.
O “desenrascar” dava para cada um de nós fazer um copo. Uma garrafa de 6 decilitros de cerveja sagres vazia, um ferro e óleo queimado. O necessário para levar avante a tarefa. Enchia-se a garrafa até a altura que pretendíamos que o copo tivesse, colocava-se a vara de ferro ao lume até ficar incandescente, colocar o ferro no gargalo da garrafa e zás, lá estava o copo.
Quanto ao comer, muitas e muitas vezes “peixinhos da bolanha” e lá estavam os tais peixinhos. A acompanhar? Feijão-frade! Acho que foram algumas vezes uns destes peixinhos para Guileje e Mejo. Talvez até para Sangonhá e Cacoca.
No período em que havia pesca e caça dava para dividir pelas Companhias.
Quase sempre a comida tinha de ser inventada e passávamos maus bocados, sendo a cerveja para mim a alternativa, não alimentava o estômago mas a alma. Bacalhau carregado de cal, se não era cal, era parecido. Dobrada desidratada, era uma beleza. Depois e sempre ao almoço e ao jantar, fosse no Rancho ou na Messe lá estava a tal sopa.
Para não enjoar, vou tratar de recuperar o isqueiro Zippo do Movimento Nacional Feminino, e possuía 3 avariados, mas se conseguisse aproveitar um, era óptimo. E consegui. Uma oferta de um Furriel que se desenfiou, da CCAÇ 798, rendida pela CART 1659.
Quem ia de Gadamael para Ganturé, depois da entrada à esquerda lá estava a minha habitação, uma barraca de lama e capim coberta com chapa. Tipo forno de tortura. Mas tinha três isqueiros e restou um. Obrigado Furriel Miliciano da CCAÇ 798!
Vamos ver os tais utensílios. Tudo velho: colheres, pratos, tachos, panelas, garfos, facas e era… Improvisar. De caixote fazia-se um armário; uma mesa-de-cabeceira; um móvel para colocar a mala de cartão. Mas tinha de ficar por ali, mais não. Onde meter aquilo que tinha e espaço? Meus vizinhos, um abrigo improvisado de chapa de bidão; bidão; terra batida e o telhado de chapa de zinco.
Forno…Melhorias? Um tecto falso feito de capim e colocar capim sobre zinco… molhar quando há tempo.
Sucedia que apanhavam caça, uma alegria. Houve um período que comer havia, tanto peixe como carne do mato. As salsichas, se existindo era uma festa. Sardinha em lata. Atum, e que fartura do atum, então não que inventei (registado o invento) o prato:
“Atum de conserva assada no forno”.
Como fazer?
– Abrem-se as latas de 2,200 Kg cada uma de atum e parte-se ao meio o conteúdo de cada lata, na altura com certeza. Fica metade de cada lata, espalha-se as metades e tempera-se; um pouco de pimenta; cebola às rodelas; um pouco de azeite (o atum vem em azeite, portanto é pouco azeite) e leva-se ao forno velho e a cair num tabuleiro de chapa de bidão. Que cheirinho! Comer…
Em Gadamael Porto criaram-se duas Messes: de Oficiais e de Sargentos e era nomeado um Gerente de cada Messe. Tocava a todos, era rotativo. Então e os utensílios da cozinha. Tabuleiros fortes, feitos na Oficina onde se encontravam os Mecânicos – esta era uma boa Equipa chefiada pelo Furriel Miliciano, algarvio de Loulé – um camarada – José Manuel Guerreiro Justo (acompanha o Blogue).
Os algarvios não têm terra, são “algarvios”. Portanto estamos em família porque o Camarada Joviano Neto Mendonça Teixeira é natural da Luz de Tavira. Andei por estas andanças em Agosto de 1965. Era terra de mulher bonita, gostava dos Milicianos.
Lembro quando cheguei ao CISMI, esperavam-nos um grupo de jovens morenas algarvias, dizia: Tavira tem bonitas raparigas e boa uva.
Lavar a roupa, engomar umas calças, o dinheiro não chegava. E a água? Uma bica 12 tostões e mais 6 tostões por um copo de água. Havia bom vinho, e subia.
Tudo era improvisado na Guiné. Os tais tabuleiros iam ao forno do pão, e era o único alimento de qualidade. É verdade que existiam uns naturais que iam à pesca e caça. A pesca quase sempre peixinhos muito pequenos. Apareceu lá um negro da Serra Leoa, falava com o tipo, em Francês, sempre desconfiei dele, ia à pesca mas já ao mar, trazia um peixe semelhante à pescada, a cabeça comprida. Deitavam fora as cabeças. Um dia disse para as guardarem e pendurá-las no alpendre, como vira em Sesimbra. Depois de aberta a cabeça, pendurada e seca. Era um pitéu.
A sopa era da boa, tão boa que todos os dias era sempre igual. Tínhamos um bom camarada, andava sempre connosco, o feijão-frade (duas caras, feijão preto e ciclistas). Nunca enjoei, e não vou contar os feijões que comi por unidade, mas por medida. Se a cerveja coubesse numa piscina Olímpica de 100 metros, os camaradas “ciclistas” davam para fazer um a um alinhados, em bicha de pirilau faziam a fronteira pelo menos de Portugal, este cantinho à beira-mar plantado.
A água era imprópria para consumo, mesmo filtrada. Logo no início da comissão deixei de bebê-la e substituí pela sempre bela cerveja de 6 decilitros. A comida repetida. Tendo reparado que nas operações em que levávamos ração de combate que a rapaziada não comia aquele triângulo de queijo. Disse ao Furriel Miliciano Vaguemestre que era melhor, quando na entrega das rações, ele perguntar se cada um comia o queijo. Guardava os queijos num caixote. Dava sempre para desenrascar, metiam-se 3 triângulos no pão e bebia-se 7 cervejas das tais, sempre as “bazucas”.
Um dia ao dar uma volta por Gadamael Porto, vi umas folhas juntas à paliçada. Perguntei a um Soldado se sabia o que era aquilo. Respondeu-me a gritar:
– Beldroegas, meu furriel!
Além de ter de descobrir as minas, descobrira a pólvora. Nunca se chegou a saber o nome daquele conjunto de beldroegas e “365 dias”. As folhinhas nadavam e numa colherada ia a verdura para o maneta. Saía-nos a sorte grande quando apanhavam caça. Num período, e longo ficámos sem abastecimento.
A “bianda” nunca foi para mim um problema, nunca gostei de arroz e de nabos. Curiosamente de nabos, nem duns nem doutros.
Um dia chego junto do Cozinheiro da Messe e digo-lhe que tínhamos de combinar o prato, respondeu-me que eram salsichas com arroz. Eu sabia, referi que o ajudaria a fazer o prato. Iniciámos a obra.
Em cada salsicha colocaram-se quatro palitos, ficando a mesma parecendo mais um animal com quatro patas, mas em pé. Tudo feito secretamente. Os pratos foram todos para a mesa com as salsichas e o arroz e ao mesmo tempo.
O pessoal, que andava em baixo e nem sequer tinha vontade de rir, desatou numa sonora gargalhada. Um grito. Riram.
Também segundo o que me lembre faltava o correio. Nem a avioneta nem barco. Em toda a guerra foi o pior. Logo de seguida, estou no cais, por nós construído, mas enganados com promessas de 18 meses de comissão. Prometeram no início se fizéssemos o cais eram 18 meses e juraram.
Estando no cais vejo algo. Sonho? Então não está um civil a tirar a pele a um animal que não reconhecia. Olhei para aquela carne fresca, perguntei se não vendia. Respondeu que “cá presta”, foi o que percebi, e insisti. Levou o bicho para a Messe, e segui com uma bonita pele nas mãos.
Disse para assar as pernas e o resto era para guisar noutra refeição. Assisti a todo o trabalho do Soldado Lima.
Temperou, cebolas ainda existiam. Levaram os tabuleiros de chapa de bidão. Neste período já tínhamos outro conforto. Os copos feitos de garrafas de cerveja tinham sido substituídos por copos de inox. Pratos e talheres tudo de inox. Não tomávamos banho de púcaro. Tínhamos duches ainda improvisados mas os bidões estavam sobre estacas, altos e com torneiras. A Companhia quase que podia tomar banho à mesma hora. Tínhamos terminado de acabar as obras da Sala do Soldado, foi já no fim e pouco gozámos. Em suma: condições mínimas existiam, mas víveres no fim. O Capitão gritava para Bissau. Os barcos não chegavam. Sofríamos nós e Mejo, Guileje e Gandembel. E ataques, com muto mais frequência a Ganturé. Os pescadores e caçadores não saíam.
Bem, o Capitão aproxima-se de mim e diz, “então Mário, onde foi buscar a carne. Cheira tão bem”. Respondi “se gosta, venha almoçar connosco”. Tive entretanto conhecimento pelo civil que me entregara a carne que o bicho caçado era uma onça, e que eu insistira mas que a carne de onça não é boa para comer, embora não fazendo mal nem morresse quem a comesse. Fui àquilo que denominavam de Enfermaria e estava lá o Furriel Miliciano Enfermeiro José Jorge Fernandes Durães (desconheço o seu paradeiro. Se estás a ler um grade abraço!). Contei o que se passava e respondeu-me que pode a carne não prestar mas não mata ninguém.
Chegou a hora do almoço. Cheirava bem, o pessoal ansioso e vem a comida para o prato. Espeto o garfo e a carne separava-se. Comem, até que o Durães diz, “Justo, compraste a pele e por que razão não compraram a carne do bicho”. O Capitão respondeu que o Justo é que havia comprado a pele, e que ele morria se comesse a carne de uma onça. O Durães diz, rindo: - “Então morra por que é o que está a comer”.
Os barcos não chegam e o Capitão informa o Batalhão que o moral da Companhia está em baixo, se não chegarem víveres não saímos de Gadamael nem de Ganturé.
Chegam frescos de Bissau, penso que só frango, um frango por cada um. Entregam na Messe uns 19 frangos e grandes.
Chamei o Soldado Cozinheiro Lima e disse que eram todos assados no forno e um para cada. Alegria total, alguns quase que deitavam frango pelos olhos, um dia bem passado. Quando o Capitão tomou conhecimento veio zangado dizer “e agora, comeram um frango que era para quatro refeições, o que comem agora”. Respondi que continuávamos a comer o que havia antes.
Bem chegaram os víveres, barcos carregados de tudo. Tivemos o prazer de comer naquele dia.
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Nota do editor
Último poste da série de 11 de Maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14598: A bianda nossa de cada dia (5): Se a vida era boa em Lisboa, em Bissau nem tudo era mau... Do arroz de todas cores ao vinho verde alvarinho "Palácio da Brejoeira"... (Hélder Sousa)
Camaradas e Amigos
Na CART 1659, minha Companhia, repleta de amigos, existia um Vaguemestre, meu Amigo, Augusto Varandas Casimiro. Curiosamente, o Cozinheiro era o 1.º Cabo Zacarias Salvador Branco e não existiam padeiros. Ninguém se lembrou que era imprescindível haver um padeiro.
Quando pisámos terras de Gadamael Porto, segui logo para o destacamento de Ganturé. Pediram-me para gerir o “rancho” de todo o pessoal e ao mesmo tempo para ser Gerente de Messe. No caso de Gerente de Messe combinou-se ser este cargo rotativo. Além de Atirador de Artilharia de G3 e de ter o Curso de Minas e Armadilhas, era Vaguemestre, com certeza apoiado pelo Casimiro.
No seguinte dia, já que a CCAÇ 798 deixara bastante pão, o Capitão numa reunião disse não haver na CART 1659 um Padeiro, e estava com dificuldades em resolver a situação. Existiam entretanto uns Soldados que diziam já terem visto fazer pão, e que estavam prontos a darem o seu contributo. Padeiro oficialmente não existia, ninguém sabia, nem sequer o Exército, que eu era padeiro, até com Carteira Profissional.
Nunca senti amores pela profissão do meu pai, muito embora se possa dizer ter nascido numa padaria. Se leram o texto sobre “O meu Pai”, já o sabem. Mas teria sido melhor para mim, dizer que era padeiro quando fui incorporado.
Verdade ou não? – É a pergunta que faço à Tabanca.
Disse que era Padeiro, mas que não queria voltar a ser, mas prontifiquei-me em colaborar na primeira fornada, acompanhado com os futuros padeiros. Fui uma noite só, depois surgiu a sabedoria “desenrascar sempre”.
Existia fabrico de pão, tivemos a sorte da farinha ser de muito boa qualidade. Farinha Francesa. Com o pano dos sacos, os civis aproveitavam para fazerem saias e os tais trapos enrolados. Que lindas fincavam! Carimbadas com marca da farinha francesa, e a tinta não saía.
Quanto aos cozinheiros, o 1.º Cabo Zacarias (que deve ainda morar na Charneca da Caparica e devia juntar-se à tabanca da “bianda”), há muito que não o vejo, ficou com a carga de uns tantos soldados-padeiros aprendizes para o apoiarem.
E as Messes? Em Ganturé existia uma: no início éramos dois Alferes Miliciano (um deles ficara lá, rendera um Alferes Miliciano da CCAÇ 798); 2.º Sargento e 3 Furriéis Milicianos. E tínhamos Messe e um Soldado Atirador cozinheiro desenrascado – os portugueses possuem essa bênção – são desenrascados. Para o “rancho” saquei ao Casimiro um bidão de azeite, penso que éramos abastecidos quase diariamente.
O prato principal era a famosa, e eu que nunca a vi com olhos, nunca desde criança gostei a “bianda”.
O vinho era entregue em barris e garrafões de 15/20 litros cada, tudo tara perdida. Os barris serviam para se fazerem cadeiras de baloiço.
É verdade que nos barcos retiravam vinho, mas faziam-no para o beberem na ocasião. Quando cumpri a comissão todo o vasilhame é de tara perdida.
Criança com uns 12 anos, sendo os meus pais proprietários de uma quinta, com vinha, vinho de qualidade, era a primeira pessoa a beber umas gotas de vinho, dizia: Este ano é bom! Os anos passaram e apurei mais o paladar, dizendo inclusive as razões.
Quando me apresentei no RI 5 nas Caldas da Rainha para o Curso de Sargentos Milicianos, pertenci a um grupo que percorreu todas, e muitas tabernas que lá existiam, sabia onde estava o melhor vinho. Na Guiné provei a primeira vez, não gostei, pior fiquei desconfiado. Com certeza que se tratava de vinho, nem sequer baptizado, antes anestesiante. Deixei de beber, não arrisquei. Ouvi falar de cânfora.
Pergunto: E a cerveja? O que continha a cerveja, diferente daquela que se bebe cá?
Quando fui transferido para Gadamael, fiquei a dormir junto do Furriéis Milicianos o Vaguemestre Casimiro e o Furriel Auto, o Guerreiro Justo, este malandro, que vai ler esta minha discrição, não era guerreiro, era Auto e seria justo? Decerto que sim. Um grande amigo.
Como não comia arroz, antes bianda, procurava refúgio no atum, mas um dia descobri que no armazém existia um monte de caixas, julgo ter perguntado o que estava naquelas caixas, e eram muitas. Então o que vi? Eram latas de borrachos com ervilhas, mas fora de prazo. A CCAÇ 798 deixou-nos, ou deixou uma alternativa que substituía a bianda. Devo ter sido eu a comer tudo, estavam todas as latas fora de prazo, mas em condições.
A sopa era um outro grande prato, alcunhámos a sopa de “365 dias”. Sempre e sempre lá estava ela, mandada pelo PAIGC. Estava… mascarada? Tipo Knorr. Lembro-me que um dia recebemos os chamados “frescos”, normalmente: frangos de aviário; sardinha fresca; ovos; tomate e não sei se mais algum outro comestível.
Iam surgindo menus novos – até em termos de boa comida – quando vi os tais ovos, resolvi, até por haver pão duro, pedir ao cozinheiro, ao grande cozinheiro, que fizesse Sopa à Alentejana. Foi um descalabro, e os ovos ganharam asas. Não foram aproveitados os ovos para outras refeições. Concluí mais tarde que os “frescos eram uma bênção dos céus”, eles vinham mesmo nos céus, e de helicóptero.
O “desenrascar” dava para cada um de nós fazer um copo. Uma garrafa de 6 decilitros de cerveja sagres vazia, um ferro e óleo queimado. O necessário para levar avante a tarefa. Enchia-se a garrafa até a altura que pretendíamos que o copo tivesse, colocava-se a vara de ferro ao lume até ficar incandescente, colocar o ferro no gargalo da garrafa e zás, lá estava o copo.
Quanto ao comer, muitas e muitas vezes “peixinhos da bolanha” e lá estavam os tais peixinhos. A acompanhar? Feijão-frade! Acho que foram algumas vezes uns destes peixinhos para Guileje e Mejo. Talvez até para Sangonhá e Cacoca.
No período em que havia pesca e caça dava para dividir pelas Companhias.
Quase sempre a comida tinha de ser inventada e passávamos maus bocados, sendo a cerveja para mim a alternativa, não alimentava o estômago mas a alma. Bacalhau carregado de cal, se não era cal, era parecido. Dobrada desidratada, era uma beleza. Depois e sempre ao almoço e ao jantar, fosse no Rancho ou na Messe lá estava a tal sopa.
Para não enjoar, vou tratar de recuperar o isqueiro Zippo do Movimento Nacional Feminino, e possuía 3 avariados, mas se conseguisse aproveitar um, era óptimo. E consegui. Uma oferta de um Furriel que se desenfiou, da CCAÇ 798, rendida pela CART 1659.
Virar a meio, à esquerda lá está o meu palacete
Quem ia de Gadamael para Ganturé, depois da entrada à esquerda lá estava a minha habitação, uma barraca de lama e capim coberta com chapa. Tipo forno de tortura. Mas tinha três isqueiros e restou um. Obrigado Furriel Miliciano da CCAÇ 798!
Vamos ver os tais utensílios. Tudo velho: colheres, pratos, tachos, panelas, garfos, facas e era… Improvisar. De caixote fazia-se um armário; uma mesa-de-cabeceira; um móvel para colocar a mala de cartão. Mas tinha de ficar por ali, mais não. Onde meter aquilo que tinha e espaço? Meus vizinhos, um abrigo improvisado de chapa de bidão; bidão; terra batida e o telhado de chapa de zinco.
Forno…Melhorias? Um tecto falso feito de capim e colocar capim sobre zinco… molhar quando há tempo.
Sucedia que apanhavam caça, uma alegria. Houve um período que comer havia, tanto peixe como carne do mato. As salsichas, se existindo era uma festa. Sardinha em lata. Atum, e que fartura do atum, então não que inventei (registado o invento) o prato:
“Atum de conserva assada no forno”.
Como fazer?
– Abrem-se as latas de 2,200 Kg cada uma de atum e parte-se ao meio o conteúdo de cada lata, na altura com certeza. Fica metade de cada lata, espalha-se as metades e tempera-se; um pouco de pimenta; cebola às rodelas; um pouco de azeite (o atum vem em azeite, portanto é pouco azeite) e leva-se ao forno velho e a cair num tabuleiro de chapa de bidão. Que cheirinho! Comer…
Gadamael Porto – SET68 Final da Comissão
Em Gadamael Porto criaram-se duas Messes: de Oficiais e de Sargentos e era nomeado um Gerente de cada Messe. Tocava a todos, era rotativo. Então e os utensílios da cozinha. Tabuleiros fortes, feitos na Oficina onde se encontravam os Mecânicos – esta era uma boa Equipa chefiada pelo Furriel Miliciano, algarvio de Loulé – um camarada – José Manuel Guerreiro Justo (acompanha o Blogue).
Os algarvios não têm terra, são “algarvios”. Portanto estamos em família porque o Camarada Joviano Neto Mendonça Teixeira é natural da Luz de Tavira. Andei por estas andanças em Agosto de 1965. Era terra de mulher bonita, gostava dos Milicianos.
Lembro quando cheguei ao CISMI, esperavam-nos um grupo de jovens morenas algarvias, dizia: Tavira tem bonitas raparigas e boa uva.
Lavar a roupa, engomar umas calças, o dinheiro não chegava. E a água? Uma bica 12 tostões e mais 6 tostões por um copo de água. Havia bom vinho, e subia.
Tudo era improvisado na Guiné. Os tais tabuleiros iam ao forno do pão, e era o único alimento de qualidade. É verdade que existiam uns naturais que iam à pesca e caça. A pesca quase sempre peixinhos muito pequenos. Apareceu lá um negro da Serra Leoa, falava com o tipo, em Francês, sempre desconfiei dele, ia à pesca mas já ao mar, trazia um peixe semelhante à pescada, a cabeça comprida. Deitavam fora as cabeças. Um dia disse para as guardarem e pendurá-las no alpendre, como vira em Sesimbra. Depois de aberta a cabeça, pendurada e seca. Era um pitéu.
A sopa era da boa, tão boa que todos os dias era sempre igual. Tínhamos um bom camarada, andava sempre connosco, o feijão-frade (duas caras, feijão preto e ciclistas). Nunca enjoei, e não vou contar os feijões que comi por unidade, mas por medida. Se a cerveja coubesse numa piscina Olímpica de 100 metros, os camaradas “ciclistas” davam para fazer um a um alinhados, em bicha de pirilau faziam a fronteira pelo menos de Portugal, este cantinho à beira-mar plantado.
A água era imprópria para consumo, mesmo filtrada. Logo no início da comissão deixei de bebê-la e substituí pela sempre bela cerveja de 6 decilitros. A comida repetida. Tendo reparado que nas operações em que levávamos ração de combate que a rapaziada não comia aquele triângulo de queijo. Disse ao Furriel Miliciano Vaguemestre que era melhor, quando na entrega das rações, ele perguntar se cada um comia o queijo. Guardava os queijos num caixote. Dava sempre para desenrascar, metiam-se 3 triângulos no pão e bebia-se 7 cervejas das tais, sempre as “bazucas”.
Um dia ao dar uma volta por Gadamael Porto, vi umas folhas juntas à paliçada. Perguntei a um Soldado se sabia o que era aquilo. Respondeu-me a gritar:
– Beldroegas, meu furriel!
Além de ter de descobrir as minas, descobrira a pólvora. Nunca se chegou a saber o nome daquele conjunto de beldroegas e “365 dias”. As folhinhas nadavam e numa colherada ia a verdura para o maneta. Saía-nos a sorte grande quando apanhavam caça. Num período, e longo ficámos sem abastecimento.
A “bianda” nunca foi para mim um problema, nunca gostei de arroz e de nabos. Curiosamente de nabos, nem duns nem doutros.
Um dia chego junto do Cozinheiro da Messe e digo-lhe que tínhamos de combinar o prato, respondeu-me que eram salsichas com arroz. Eu sabia, referi que o ajudaria a fazer o prato. Iniciámos a obra.
Em cada salsicha colocaram-se quatro palitos, ficando a mesma parecendo mais um animal com quatro patas, mas em pé. Tudo feito secretamente. Os pratos foram todos para a mesa com as salsichas e o arroz e ao mesmo tempo.
O pessoal, que andava em baixo e nem sequer tinha vontade de rir, desatou numa sonora gargalhada. Um grito. Riram.
Também segundo o que me lembre faltava o correio. Nem a avioneta nem barco. Em toda a guerra foi o pior. Logo de seguida, estou no cais, por nós construído, mas enganados com promessas de 18 meses de comissão. Prometeram no início se fizéssemos o cais eram 18 meses e juraram.
Estando no cais vejo algo. Sonho? Então não está um civil a tirar a pele a um animal que não reconhecia. Olhei para aquela carne fresca, perguntei se não vendia. Respondeu que “cá presta”, foi o que percebi, e insisti. Levou o bicho para a Messe, e segui com uma bonita pele nas mãos.
Disse para assar as pernas e o resto era para guisar noutra refeição. Assisti a todo o trabalho do Soldado Lima.
Temperou, cebolas ainda existiam. Levaram os tabuleiros de chapa de bidão. Neste período já tínhamos outro conforto. Os copos feitos de garrafas de cerveja tinham sido substituídos por copos de inox. Pratos e talheres tudo de inox. Não tomávamos banho de púcaro. Tínhamos duches ainda improvisados mas os bidões estavam sobre estacas, altos e com torneiras. A Companhia quase que podia tomar banho à mesma hora. Tínhamos terminado de acabar as obras da Sala do Soldado, foi já no fim e pouco gozámos. Em suma: condições mínimas existiam, mas víveres no fim. O Capitão gritava para Bissau. Os barcos não chegavam. Sofríamos nós e Mejo, Guileje e Gandembel. E ataques, com muto mais frequência a Ganturé. Os pescadores e caçadores não saíam.
Bem, o Capitão aproxima-se de mim e diz, “então Mário, onde foi buscar a carne. Cheira tão bem”. Respondi “se gosta, venha almoçar connosco”. Tive entretanto conhecimento pelo civil que me entregara a carne que o bicho caçado era uma onça, e que eu insistira mas que a carne de onça não é boa para comer, embora não fazendo mal nem morresse quem a comesse. Fui àquilo que denominavam de Enfermaria e estava lá o Furriel Miliciano Enfermeiro José Jorge Fernandes Durães (desconheço o seu paradeiro. Se estás a ler um grade abraço!). Contei o que se passava e respondeu-me que pode a carne não prestar mas não mata ninguém.
Chegou a hora do almoço. Cheirava bem, o pessoal ansioso e vem a comida para o prato. Espeto o garfo e a carne separava-se. Comem, até que o Durães diz, “Justo, compraste a pele e por que razão não compraram a carne do bicho”. O Capitão respondeu que o Justo é que havia comprado a pele, e que ele morria se comesse a carne de uma onça. O Durães diz, rindo: - “Então morra por que é o que está a comer”.
Os barcos não chegam e o Capitão informa o Batalhão que o moral da Companhia está em baixo, se não chegarem víveres não saímos de Gadamael nem de Ganturé.
Chegam frescos de Bissau, penso que só frango, um frango por cada um. Entregam na Messe uns 19 frangos e grandes.
Chamei o Soldado Cozinheiro Lima e disse que eram todos assados no forno e um para cada. Alegria total, alguns quase que deitavam frango pelos olhos, um dia bem passado. Quando o Capitão tomou conhecimento veio zangado dizer “e agora, comeram um frango que era para quatro refeições, o que comem agora”. Respondi que continuávamos a comer o que havia antes.
Bem chegaram os víveres, barcos carregados de tudo. Tivemos o prazer de comer naquele dia.
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Nota do editor
Último poste da série de 11 de Maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14598: A bianda nossa de cada dia (5): Se a vida era boa em Lisboa, em Bissau nem tudo era mau... Do arroz de todas cores ao vinho verde alvarinho "Palácio da Brejoeira"... (Hélder Sousa)
Guiné 63/74 - P14613: Memória dos lugares (293): Bissau, Bambadinca e Farim, em 2011 (José Maria Sousa Ferreira, ex-viola solo do conjunto musical "Os Bambas d'Incas", Bambadinca, 1968/70)
Guiné-Bissau > Bissau > 2011 > Antigo Palácio do Governador, ainda em ruínas... À varanda, no 1º piso, o José Sousa...
Guiné-Bissau > Bambadinca > 2011 > Subindo a rampa que levava ao nosso antigo aquartelamento (hoje ocupado pelo exército guineense) ... Ao fundo, vê-se a antena das transmissões... Com o assoreamento do Rio Geba Estreito, desaparteceu o porto fluvial de Bambadinca, a cidade desenvolveu-se para o lado oeste e sudeste (ao longo da estrada para o Saltinho )... Terá hoje cerca de 8 mil habitantes... (Vd. aqui Google Earh)... Poucas estrtuturas restam do jnosso tempo: o edifício em U, que era o coamndo de batalhão, e as instalações de oficiais e sargentos; a capela; o campio de futebol... E, felizmente, a grande bolanha de Bambadinca... Vd. aqui foto aérea do aquartelamento de Bambadinca (1970).
Guiné-Bissau > Bambadinca > 2011 > Antigo aquartelamento das NT > Junto ao que resta do refeitório das praças > O José Sousa é o primeiro, à esquerda, de óculos escuros...
Guiné-Bissau > Bambadinca > 2011 > Antigo aquartelamento das NT > Junto ao que resta do refeitório das praças > Foto de grupo...
Guiné-Bissau > Bambadinca > 2011 > Antigo aquartelamento das NT > Confraternização com militares guineenses... O José de Sousa aparece ao centro, de óculos
Guiné-Bissau > Bambadinca > 2011 > Antigo aquartelamento das NT > O José Sousa oferecendo um relógio a "chefe militar"...
Guiné-Bissau > Bambadinca > 2011 > O José de Sousa ao centro, um português, antigo combatente,. que o acompamhou nesta visita, e mais dois militares guineenses...
Guiné-Bissau > Far4im > 2011 > O José de Sousa ao centro, pondo o braço o ombro de um antigo combatente do PAIGC... Ao fundo, restos (?) da antiga piscina de Farim.. No lado direito, o antigo militar guineense que esteve ao serviço das NT. (Vd. aqui Farim de hioje, no mapa do Google)
Guiné-Bissau > Farim > Rio Cacheu > 2011 > O José Sousa...
Guiné-Bissau > Farim > Rio Cacheu > 2011 > O José Sousa, com mais camaradas que o acompanharam...
Guiné-Bissau > Farim > 2011 > O José Sousa, junto a árvore de fruto, que me parece ser coqueiro...
Fotos: © José Maria Sousa Ferreira (2015). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: L.G.)
Fotos: © José Maria Sousa Ferreira (2015). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: L.G.)
1. Fotos enviadas pelo nosso camarada José Maria Sousa Fernandes... Segundo elel nos indicou, "foram tiradas quando estive em férias em 2011, onde se pode ver a minha pessoa na varanda do Palácio do Governo, já destruído pela guerra civil, e as outras [fotos] em Bamdadinca e Farim".
E mais esclarece: "Há umas fotos numa cerimónia que tivemos em Bambadinca, em que eu apareço a colocar um relógio no pulso do chefe militar. A foto em que tenho a mão pelas costas de um negro, esse negro, era combatente inimigo (terrorista). O outro que está ao meu lado na mesma foto, era militar português".
Recorde-se que o José Maria Sousa Ferreira, conhecido pelo "Braga", foi sold mec da CCS/BART 1904, de rendição individual, em 1968; foi depois integrado, na segunda parte da sua comissão, no Pelotão de Intendência, sediado em Bambadinca (em 1969/70, já com instalações próprias, junto ao porto fluvial, na margem esquerda do Rio Geba Estreito); e foi membro do conjunto musical Os Bambas d'Incas, onde tocava viola solo (*). Terminou a sua comissão em abril de 1970. É hoje empresário, sendo sócio de várias escolas de condução. Anda à procura da malta do seu etmpo e em especial dos elementos que integraram o saudoso conjunto musical Os Bambas d'Incas. O pessoal que esteve em Bambadinca enter 1968 e 1971 (CCS/BCAÇ 2852, CCAÇ 12, etc.) vai-se encontrar na Trofa no dia 30 do corrente. O José Sousa vai lá estar.
Recorde-se que o José Maria Sousa Ferreira, conhecido pelo "Braga", foi sold mec da CCS/BART 1904, de rendição individual, em 1968; foi depois integrado, na segunda parte da sua comissão, no Pelotão de Intendência, sediado em Bambadinca (em 1969/70, já com instalações próprias, junto ao porto fluvial, na margem esquerda do Rio Geba Estreito); e foi membro do conjunto musical Os Bambas d'Incas, onde tocava viola solo (*). Terminou a sua comissão em abril de 1970. É hoje empresário, sendo sócio de várias escolas de condução. Anda à procura da malta do seu etmpo e em especial dos elementos que integraram o saudoso conjunto musical Os Bambas d'Incas. O pessoal que esteve em Bambadinca enter 1968 e 1971 (CCS/BCAÇ 2852, CCAÇ 12, etc.) vai-se encontrar na Trofa no dia 30 do corrente. O José Sousa vai lá estar.
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Nota do editor:
(*) Último poste da série > 12 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14600: Memória dos lugares (290): conjunto musical "Os Bambas D' Incas" em Mansambo, 1969 (José Maria Sousa Ferreira , o "Braga", viola solo, ex-sold mec auto, CCS/BART 1904 e Pelotão de Intendência, Bambadinca, 1968/70, e hoje empresário)
(*) Último poste da série > 12 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14600: Memória dos lugares (290): conjunto musical "Os Bambas D' Incas" em Mansambo, 1969 (José Maria Sousa Ferreira , o "Braga", viola solo, ex-sold mec auto, CCS/BART 1904 e Pelotão de Intendência, Bambadinca, 1968/70, e hoje empresário)
quarta-feira, 13 de maio de 2015
Guiné 63/74 - P14612: Convívios (682): IX Encontro do pessoal da CCAÇ 4740, dia 20 de Junho de 2015, em Fátima (Armando Faria)
1. O nosso Camarada Armando Faria (ex-Fur Mil Inf Minas e Armadilhas da CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74), solicitou-nos a publicação do seguinte convite para o convívio anual da sua Unidade:
Camaradas e amigos,
Porque estamos a preparar o nosso IX encontro do pessoal da CCAÇ 4740 e de todos que nesses dias passaram por Cufar, agradecíamos que do mesmo fosse feita menção no Blogue.
Gratos por mais este serviço prestado em favor, estimulo para que todos os combatentes possam reencontrar os seus camaradas e com eles conviver por alguns minutos.
Abraço Cufariano do tamanho do Cumbijã.
Em nome da CCAÇ 4740
Armando Faria, Furriel Miliciano
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
13 DE MAIO DE 2015 > Guiné 63/74 - P14607: Convívios (681): XXX Convívio anual da CART 3494, dia 13 de Junho de 2015, Vila Nova de Gaia (Sousa de Castro)
Guiné 63/74 - P14611: Filhos do vento (30): Gesto de solidariedade com a associação “Fidju di Tuga” na Guiné (José Saúde)
1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.
Gesto de solidariedade com a associação “Fidju di Tuga” na Guiné,
“Filhos do Vento”
Claro que sim, Luís! Tanto mais que em território guineense já está instalada uma comissão denominada “Fidju di Tuga” que visa exclusivamente ultrapassar barreiras e o assumir de danos que a guerra propiciou.
Hoje, ao viajarmos nas “asas do vento”, chegamos a um porto seguro e deparamo-nos com realidades que se reportam a um tempo de guerra que, nós jovens, vivemos com muita intensidade.
Falar do tempo da guerrilha na Guiné, um conflito onde coabitamos na primeira pessoa, é afinal um tema que nos absorve e que traz à tona das nossas memórias imagens de índole sentimental que ainda fazem literalmente parte de um baú de histórias vividas num palco adverso.
Porém, o conhecimento generalizado que todos nós ainda hoje perfilhamos de uma outra parte da guerra que não dava tréguas, remete-nos para momentos íntimos de prazeres amorosos onde não proliferava o amor de corações partidos mas, tão-só, mais uma “escapadinha” ao interior de uma mulher humilde, e quiçá honrada, onde o enlaço carnal era simplesmente mais um delírio de um “puto” com pouco mais de 20 anos.
Reconheço que o meu espírito humanista levou-me, a dada altura, trazer a público a “menina de Gabu”. Chamei-lhe mais uma semente dos “filhos do vento”. A jornalista Catarina Gomes, do jornal “O Público”, desenvolveu a temática e foi à Guiné e andou nos trilhos dos “filhos do vento”.
A sua reportagem teve um grande impacto e hoje já está constituída uma associação em Bissau que se intitula “Fidju di Tuga”. [Vd. aqui o seu blogue: http://fidju-di-tuga.webnode.com/]
Gentes que sempre sonharam conhecer o seu verdadeiro progenitor. É óbvio que têm pai, irmãos e família. A Catarina Gomes tem desenvolvido um excelente trabalho de aproximação com esses homens e mulheres que por lá ficaram.
Prepara-se para partir em breve, uma vez mais, a caminho da Guiné-Bissau. Presentemente não se pede caridade. Além disso o nosso blogue tem princípios que urge respeitar. Pede-se, apenas, um simples rádio, um gravador ou uma máquina fotográfica digital, por exemplo, para que esses bens façam parte da bagagem da Catarina.
Camaradas, respeitemos sangues portugueses que por lá ficaram e que vivem ansiosamente o indesmentível desejo de conhecerem alguém que lhes deu o ser.
Um abraço, camaradas
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
Guiné 63/74 - P14610: Efemérides (187): Cerimónias comemorativas do 13.º aniversário da inauguração do Monumento ao Torrienses Mortos na Guerra do Ultramar e do 89.º aniversário do Núcleo de Torres Vedras e Lourinhã, dia 31 de Maio de 2015, em Torres Vedras
C O N V I T E
Estimados amigos e Caros Consócios Combatentes
O Núcleo da Liga dos Combatentes de Torres Vedras e Lourinhã, evocando o 13.º aniversário da inauguração do “Monumento aos Torrienses Mortos na Guerra do Ultramar” vai organizar uma cerimónia militar, em 31 de Maio próximo, em homenagem aos cinquenta e dois Torrienses, cujos nomes se encontram inscritos na base daquele monumento erigido em sua honra, no campo da Várzea.
Simultaneamente comemora-se o dia do Núcleo, recordando o 89.º aniversário da instalação da Liga dos Combatentes em Torres Vedras.
As cerimónias terão a seguinte sequência:
10h15 - Missa na Igreja da Graça, em honra dos Combatentes Torrienses falecidos;
11h45 - Concentração junto ao monumento e recepção à Entidades convidadas;
12h15 - Cerimónia Militar, com deposição de uma coroa de flores na base do monumento e prestação de honras aos combatentes falecidos;
12h30 - Imposição de condecorações a antigos combatentes;
13h00 - Almoço/convívio no restaurante “O Voluntário”.
Nota: os familiares de antigos combatentes que assim o entenderem poderão trazer flores e a sua deposição na base do monumento será integrada na cerimónia.
Convocam-se, para estas cerimónias, todos os cidadãos em geral e, em especial os familiares dos combatentes que têm os nomes dos seus entes queridos gravados naquele monumento.
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Nota do editor
Último poste da série de 8 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14587: Efemérides (186): 8 de maio de 1945: o fim da II Guerra Mundial na Europa, com a capitulação da Alemanha nazi... O mundo não voltaria mais a ser o mesmo...
Guiné 63/74 - P14609: Os nossos seres, saberes e lazeres (93): Bruxelles, mon village (Parte 5) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 15 de Abril de 2015:
Queridos amigos,
Arribei a Bruxelas por razões puramente profissionais, no distante ano de 1977. Depois aproximei-me, familiarizei-me, passei a ir uma dia mais cedo ou a ficar um dia mais tarde, sempre estonteado pelas descobertas, tanto por iniciativa própria como empurrado por mãos amigas: jardins e parques, museus e espaços de exposições, mais tarde descobri a Feira da Ladra, fiquei dependente de toda aquela traquitana que se expõe nos dias em que não chove.
A cidade desvenda-se e em dado momento descobrimos, sabe-se lá com que sentimento de posse, que aquele espaço desmesurado por onde cirandam gentes de mais de 120 países, a quem um slogan turístico chama a "encruzilhada da Europa" é também um espaço muito nosso, uma extensão do nosso bairro.
Como escreveu Amadeu Ferreira, "os acasos surgem quando estamos preparados para os levar no sentido certo. Nós andamos no mundo e, quando mudamos uma pequenina areia de um sítio para o outro, ajudamos a mudar o mundo. O importante é que o ajudemos a mudar para melhor".
É assim que me sinto quando calcorreio esta Bruxelas.
Um abraço do
Mário
Bruxelles, mon village (5)
Beja Santos
Vim a Lovaina inicialmente um pouco contrafeito, tivesse eu plena liberdade de ação e metia-me num comboio até Mons, este ano capital europeia da cultura, sentia-me acicatado pela exposição à volta do primeiro Van Gogh, foi nesta região que se talhou o seu destino de artista, e é escusado acrescentar mais sobre a sua vida trágica e as obras imorredoiras que nos legou. Gosto igualmente muito das comunas na órbita de Bruxelas, salta-se no tempo, em minutos somos sujeitos à confrontação brusca dos contrastes entre as formas de vida de valões e flamengos. Mas o André Cornerotte telefonara à ceramista Christiane Zeghers que viveu alguns anos em plena Serra da Arrábida, ela aplaudiu a nossa visita e temos agora umas vitualhas à nossa espera, pela caminhada começo a salivar por patês e queijos e há mais de um ano que não vejo os trabalhos da Christiane. Mas deu, na caminhada, para parar diante desta lindíssima fachada barroca, não fixei o nome do santo que a apadrinha, agora atravessamos um parque, toca-se à campainha, está tudo a postos para o ágape.
Hein Severijns estava em plena laboração, deu-me autorização para captar a imagem, não sei porquê lembrei-me da personagem de Cipriano Algor, o oleiro que José Saramago criou para o seu romance “A Caverna”, pena que uma fotografia não nos dê a movimentação do torno, aquelas mãos afeiçoadas a fecundar a porcelana, trabalho de paciência e alta concentração, só quando o artista endireita os ombros e retira as mãos é que temos a obra acabada.
Hein Severijns trabalha exclusivamente em porcelana, e não escondo o meu assombro e admiração pelas suas decorações ousadas, um misto de passado e futuro. Como veremos, com Christiane e os seus trabalhos de cerâmica sente-se a mesma pulsação.
Ainda não falámos da Arrábida, tenho o estômago a bater horas, mas pedi-lhe que ma deixasse fotografar, tenho as suas demostrações de talento espalhadas pela minha casa, é um encanto conversar com ela, sentir-lhe as vacilações entre o francês e o flamengo, ver-lhe o olhar nostálgico quando fala dos seus anos portugueses, tão marcantes.
São peças que nos tiram o fôlego, parece que saíram do forno com estes rastilhos de incêndio, este estranhíssimo arco-íris, com reminiscências clássicas e a superabundância de hipermodernidade. Vamos agora para a mesa, à sorrelfa disparo para as coisas encantadoras que se espalham pelo atelier.
Estas preciosidades vendem-se em casas de luxo e estabelecimentos para bolsas mais acessíveis, os artistas não descuram a polivalência e a versatilidade comercial, têm obras em galerias, comparecem em exposições, vão a feiras, distribuem pelo retalho, e são bem-sucedidos.
Regressámos a Bruxelas, pelas minhas contas ainda tenho uma hora de luz, quero andar por ali sem norte, se houver tempo ainda vou mexericar nos alfarrábios, não encontrei nada que me despertasse a atenção em bailado, concertos e quejandos, bem havia um recital de um grande pianista russo, bilhetes a 45 euros, ele que vá roubar para a estrada, temos sempre o recurso da Gulbenkian… Voltei à Grand Place, ali ao lado há uma placa de Arte Nova de homenagem a um burgomestre, é uma peça linda, sempre que posso venho contemplá-la. E zás, ficou com alguma nitidez, fico contente de a incluir nestas cirandas contadas para o blogue.
Amanhã vou andar por aqui perto, venho ver a retrospetiva Chagall nos Museus Reais das Belas Artes da Bélgica e depois, havendo tempo, quero ir ao Bozar ver a exposição dos retratos da Renascença dos Países Baixos, século XVI. Lembro-me deste edifício dos estabelecimentos Old England abandonados ao pé de uma livraria onde uma vez encontrei Vasco da Graça Moura, era ele deputado, ali fazia incursões, conversámos um pouco sobre as delícias das livrarias de Bruxelas. Mais tarde encontrei um artigo dele na revista da TAP, exatamente sobre estes recantos de Bruxelas, o fascínio desta intimidade, o prazer da descoberta. Hoje o Old England está convertido no museu dos instrumentos musicais, é possível aqui ouvir-se música gratuitamente, pequenos recitais, tal como no Conservatório Real e em muitas igrejas. E lembrei-me do Old England, na Baixa lisboeta, de vez em quando a minha mãe oferecia-me uma camisa em popelina, requinte quando o rei faz anos. Mas o estabelecimento não possuía este esplendor ornamental, o restauro está impecável, sugiro a quem visite Bruxelas e goste de música que venha aqui e passeie-se calmamente por estas salas pejadas de instrumentos musicais de imenso valor.
Quando chego à Praça de Brouckère vejo as fachadas iluminadas pela hora dourada, os últimos lampejos de poalha que nos reserva o dia antes de se ensimesmar no negrume da noite. No passado, esta praça era tida como uma das mais imponentes da cidade, o camartelo derrubou edifícios, pôs lá escritórios e mamarrachos a funcionar como cinemas. Mas ficaram resquícios desses esplendores de outrora, como se mostra, a pedra parece que se incendeia na hora dourada.
E agora anoiteceu, poderá ter interesse recordar que havia galerias e passagens com diverso comércio, esta passagem atravessa a chamada Rue Neuve, sempre febril até ao fim do dia e o Boulevard Adolph Max. Aqui fica uma imagem da Passage du Nord, cerca de dois quilómetros à frente temos a Gare du Nord, pejada de hotéis, bares e locais para a satisfação da líbido, as meninas e as senhoras da mais velha profissão do mundo dispõem-se como numa vitrina, e com néon.
Regresso a penates, estes dias de total malandrice caminham para o fim, já começo a ter saudades do futuro. Esta cidade toca-me o coração, apazigua-me, frequento-a há decénios e ela paga-me com este regozijo, os monumentos, as diversões musicais, os livros em segunda mão, as exposições de referência. Amanhã há mais e depois despeço-me. Não quero influenciar ninguém com este oásis talvez ficcionado, a minha Bruxelas, gigantíssima aldeia dos meus sonhos.
(Continua)
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Nota do editor
Poste anterior da série de 6 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14576: Os nossos seres, saberes e lazeres (92): Bruxelles, mon village (Parte 4) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Arribei a Bruxelas por razões puramente profissionais, no distante ano de 1977. Depois aproximei-me, familiarizei-me, passei a ir uma dia mais cedo ou a ficar um dia mais tarde, sempre estonteado pelas descobertas, tanto por iniciativa própria como empurrado por mãos amigas: jardins e parques, museus e espaços de exposições, mais tarde descobri a Feira da Ladra, fiquei dependente de toda aquela traquitana que se expõe nos dias em que não chove.
A cidade desvenda-se e em dado momento descobrimos, sabe-se lá com que sentimento de posse, que aquele espaço desmesurado por onde cirandam gentes de mais de 120 países, a quem um slogan turístico chama a "encruzilhada da Europa" é também um espaço muito nosso, uma extensão do nosso bairro.
Como escreveu Amadeu Ferreira, "os acasos surgem quando estamos preparados para os levar no sentido certo. Nós andamos no mundo e, quando mudamos uma pequenina areia de um sítio para o outro, ajudamos a mudar o mundo. O importante é que o ajudemos a mudar para melhor".
É assim que me sinto quando calcorreio esta Bruxelas.
Um abraço do
Mário
Bruxelles, mon village (5)
Beja Santos
Vim a Lovaina inicialmente um pouco contrafeito, tivesse eu plena liberdade de ação e metia-me num comboio até Mons, este ano capital europeia da cultura, sentia-me acicatado pela exposição à volta do primeiro Van Gogh, foi nesta região que se talhou o seu destino de artista, e é escusado acrescentar mais sobre a sua vida trágica e as obras imorredoiras que nos legou. Gosto igualmente muito das comunas na órbita de Bruxelas, salta-se no tempo, em minutos somos sujeitos à confrontação brusca dos contrastes entre as formas de vida de valões e flamengos. Mas o André Cornerotte telefonara à ceramista Christiane Zeghers que viveu alguns anos em plena Serra da Arrábida, ela aplaudiu a nossa visita e temos agora umas vitualhas à nossa espera, pela caminhada começo a salivar por patês e queijos e há mais de um ano que não vejo os trabalhos da Christiane. Mas deu, na caminhada, para parar diante desta lindíssima fachada barroca, não fixei o nome do santo que a apadrinha, agora atravessamos um parque, toca-se à campainha, está tudo a postos para o ágape.
Hein Severijns estava em plena laboração, deu-me autorização para captar a imagem, não sei porquê lembrei-me da personagem de Cipriano Algor, o oleiro que José Saramago criou para o seu romance “A Caverna”, pena que uma fotografia não nos dê a movimentação do torno, aquelas mãos afeiçoadas a fecundar a porcelana, trabalho de paciência e alta concentração, só quando o artista endireita os ombros e retira as mãos é que temos a obra acabada.
Hein Severijns trabalha exclusivamente em porcelana, e não escondo o meu assombro e admiração pelas suas decorações ousadas, um misto de passado e futuro. Como veremos, com Christiane e os seus trabalhos de cerâmica sente-se a mesma pulsação.
Ainda não falámos da Arrábida, tenho o estômago a bater horas, mas pedi-lhe que ma deixasse fotografar, tenho as suas demostrações de talento espalhadas pela minha casa, é um encanto conversar com ela, sentir-lhe as vacilações entre o francês e o flamengo, ver-lhe o olhar nostálgico quando fala dos seus anos portugueses, tão marcantes.
São peças que nos tiram o fôlego, parece que saíram do forno com estes rastilhos de incêndio, este estranhíssimo arco-íris, com reminiscências clássicas e a superabundância de hipermodernidade. Vamos agora para a mesa, à sorrelfa disparo para as coisas encantadoras que se espalham pelo atelier.
Estas preciosidades vendem-se em casas de luxo e estabelecimentos para bolsas mais acessíveis, os artistas não descuram a polivalência e a versatilidade comercial, têm obras em galerias, comparecem em exposições, vão a feiras, distribuem pelo retalho, e são bem-sucedidos.
Regressámos a Bruxelas, pelas minhas contas ainda tenho uma hora de luz, quero andar por ali sem norte, se houver tempo ainda vou mexericar nos alfarrábios, não encontrei nada que me despertasse a atenção em bailado, concertos e quejandos, bem havia um recital de um grande pianista russo, bilhetes a 45 euros, ele que vá roubar para a estrada, temos sempre o recurso da Gulbenkian… Voltei à Grand Place, ali ao lado há uma placa de Arte Nova de homenagem a um burgomestre, é uma peça linda, sempre que posso venho contemplá-la. E zás, ficou com alguma nitidez, fico contente de a incluir nestas cirandas contadas para o blogue.
Amanhã vou andar por aqui perto, venho ver a retrospetiva Chagall nos Museus Reais das Belas Artes da Bélgica e depois, havendo tempo, quero ir ao Bozar ver a exposição dos retratos da Renascença dos Países Baixos, século XVI. Lembro-me deste edifício dos estabelecimentos Old England abandonados ao pé de uma livraria onde uma vez encontrei Vasco da Graça Moura, era ele deputado, ali fazia incursões, conversámos um pouco sobre as delícias das livrarias de Bruxelas. Mais tarde encontrei um artigo dele na revista da TAP, exatamente sobre estes recantos de Bruxelas, o fascínio desta intimidade, o prazer da descoberta. Hoje o Old England está convertido no museu dos instrumentos musicais, é possível aqui ouvir-se música gratuitamente, pequenos recitais, tal como no Conservatório Real e em muitas igrejas. E lembrei-me do Old England, na Baixa lisboeta, de vez em quando a minha mãe oferecia-me uma camisa em popelina, requinte quando o rei faz anos. Mas o estabelecimento não possuía este esplendor ornamental, o restauro está impecável, sugiro a quem visite Bruxelas e goste de música que venha aqui e passeie-se calmamente por estas salas pejadas de instrumentos musicais de imenso valor.
Quando chego à Praça de Brouckère vejo as fachadas iluminadas pela hora dourada, os últimos lampejos de poalha que nos reserva o dia antes de se ensimesmar no negrume da noite. No passado, esta praça era tida como uma das mais imponentes da cidade, o camartelo derrubou edifícios, pôs lá escritórios e mamarrachos a funcionar como cinemas. Mas ficaram resquícios desses esplendores de outrora, como se mostra, a pedra parece que se incendeia na hora dourada.
E agora anoiteceu, poderá ter interesse recordar que havia galerias e passagens com diverso comércio, esta passagem atravessa a chamada Rue Neuve, sempre febril até ao fim do dia e o Boulevard Adolph Max. Aqui fica uma imagem da Passage du Nord, cerca de dois quilómetros à frente temos a Gare du Nord, pejada de hotéis, bares e locais para a satisfação da líbido, as meninas e as senhoras da mais velha profissão do mundo dispõem-se como numa vitrina, e com néon.
Regresso a penates, estes dias de total malandrice caminham para o fim, já começo a ter saudades do futuro. Esta cidade toca-me o coração, apazigua-me, frequento-a há decénios e ela paga-me com este regozijo, os monumentos, as diversões musicais, os livros em segunda mão, as exposições de referência. Amanhã há mais e depois despeço-me. Não quero influenciar ninguém com este oásis talvez ficcionado, a minha Bruxelas, gigantíssima aldeia dos meus sonhos.
(Continua)
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Nota do editor
Poste anterior da série de 6 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14576: Os nossos seres, saberes e lazeres (92): Bruxelles, mon village (Parte 4) (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P14608: Blogues da nossa blogosfera (69): "De volta ao sul da Guiné", um artigo sobre Gadamael 1973, da autoria do Coronel Ref Manuel Ferreira da Silva, publicado na Revista "Mama Sume" da Associação de Comandos, reproduzido no Blogue da Tabanca do Centro
1. Com a devida vénia ao Coronel Ref Manuel Ferreira da Silva, autor do artigo; à Revista "Mama Sume" da Associação de Comandos, onde o artigo foi publicado e ao nosso camarada Miguel Pessoa, reproduzimos um Poste do passado dia 8 de Maio da Tabanca do Centro.
DE VOLTA AO SUL DA GUINÉ
No decorrer do nosso último convívio, no passado dia 27 de Março, tivemos o prazer de confraternizar com um novo camarigo, recém-chegado aos nossos encontros. Trata-se do Manuel Ferreira da Silva, Coronel Reformado.
Este camarada é um oficial de carreira vindo das escolas da Academia Militar, onde entrou em 1961. Como combatente comandou a 14.ª Companhia de Comandos em Angola e esteve na Guiné de Dezembro de 1971 a Novembro de 1973, nos Comandos Africanos em Bolama e em Gadamael.
Vem agora disponibilizar-nos o texto que se segue, artigo esse que foi publicado na revista da Associação de Comandos, "Mama Sume". Aqui divulgamos o referido texto, com a devida vénia ao autor e à revista da associação de Comandos, "Mama Sume", onde ele foi publicado.
A Tabanca do Centro
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Nota do editor
Último poste da série de 13 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13730: Blogues da nossa blogosfera (68): Quando dois desconhecidos se apaixonam (1): Início - Blogue Molianos, viajando no tempo (António Eduardo Ferreira)
DE VOLTA AO SUL DA GUINÉ
No decorrer do nosso último convívio, no passado dia 27 de Março, tivemos o prazer de confraternizar com um novo camarigo, recém-chegado aos nossos encontros. Trata-se do Manuel Ferreira da Silva, Coronel Reformado.
Este camarada é um oficial de carreira vindo das escolas da Academia Militar, onde entrou em 1961. Como combatente comandou a 14.ª Companhia de Comandos em Angola e esteve na Guiné de Dezembro de 1971 a Novembro de 1973, nos Comandos Africanos em Bolama e em Gadamael.
Vem agora disponibilizar-nos o texto que se segue, artigo esse que foi publicado na revista da Associação de Comandos, "Mama Sume". Aqui divulgamos o referido texto, com a devida vénia ao autor e à revista da associação de Comandos, "Mama Sume", onde ele foi publicado.
A Tabanca do Centro
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Nota do editor
Último poste da série de 13 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13730: Blogues da nossa blogosfera (68): Quando dois desconhecidos se apaixonam (1): Início - Blogue Molianos, viajando no tempo (António Eduardo Ferreira)
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Guiné 63/74 - P14607: Convívios (681): XXX Convívio anual da CART 3494, dia 13 de Junho de 2015, Vila Nova de Gaia (Sousa de Castro)
1. O nosso Camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), solicitou-nos a publicação do seguinte convite para o convívio anual da sua Unidade:
XXX CONVÍVIO ANUAL DA CART 3494 A REALIZAR NO DIA 13 DE JUNHO DE 2015 EM VILA NOVA DE GAIA
ORGANIZAÇÃO A CARGO DOS:
Ex- Fur. Milº TRMS Luís Coutinho Domingues, TM: 961 070 184 e Ex-Fur. Milº Artª Manuel Benjamim Martins Dias, TM: 965 879 408 E-mail: benjanimdias21@gmail.com
PROGRAMA
CONCENTRAÇÃO NO EX-RAP 2
QUINTA DA PARADELA, LOCAL DO REPASTO
→ NÃO ESQUECER A CONFIRMAÇÃO ATÉ AO DIA 30 DE MAIO ←
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
12 DE MAIO DE 2015 > Guiné 63/74 - P14604: Convívios (680): XXII Encontro do pessoal da CCS do BCAÇ 2912 (Galomaro, 1970/72), dia 6 de Junho de 2015, em Mira de Aire (António Tavares)
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