Capa da brochura "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra", da autoria de Gabriel Moura
I. Mensagem do nosso camarada Francisco Gamelas (ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 3089, Teixeira Pinto, 1971/73), com data de 2 de Setembro de 2016:
Olá Luís, muito bom dia.
Espero que tenhas recarregado todas as tuas baterias, e estejas pronto para mais um ano de luta.
Em tempos falei-te de um trabalho de uma camarada nosso - Gabriel Moura - que esteve em Tite a partir de 1961, ou seja, assistiu e foi intérprete do primeiro ataque formal do PAIGC na Guiné. Ao dar-te notícia deste trabalho, falei-te na possibilidade de ele te ser enviado para análise e, cumulativamente, passar a integrar o espólio do teu blogue. Para o efeito, tinha contactado a filha - Gabriela Moura - uma colega minha de trabalho, que, gentilmente mo tinha feito chegar à mão, pedindo-lhe autorização para to enviar, explicando-lhe as razões de tal pedido. A Gabriela falou com a mãe e os irmãos - o pai já faleceu há algum tempo - que acederam ao meu pedido.
Assim, após deixar passar o período de férias, aqui estou para cumprir o prometido e remeter-te o trabalho em questão. Dele direi que é precioso na informação do tal primeiro ataque do PAIGC, assim como os pormenores com que descreve o quotidiano em Tite nas vésperas da guerra ter início. Ainda me parece de especial realce os dados referentes à sua mobilização, descrevendo o caos absoluto em que se encontrava o nosso aparelho militar. Tem outras flores narrativas com muito interesse, mas, estas foram as que mais me chamaram mais a atenção.
Outro aspecto relevante, é o seu acervo fotográfico, que é riquíssimo. Pedi à minha colega que tentasse descobrir no espólio do pai, se os originais das fotografias do livro ali se encontravam, a fim de as poder digitalizar, para te serem enviadas.
Aguardo da Gabriela uma resposta.
Espero que seja do teu agrado o texto do nosso camarada Gabriel Moura.
Um grande abraço.
Francisco Gamelas
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II. Mensagem de resposta do editor Luís Graça com data de 5 de Setembro de 2016:
(c/c Gabriela Moura, Carlos Vinhal, José Martins e Carlos Silva)
1. Recordo-me de me teres falado, ao telefone, neste trabalho, de fôlego, do nosso camarada Gabriel Moura. Na altura não fixei o nome. Afinal, já tínhamos publicado, em tempos, alguns excertos desse trabalho, que nos chegaram à mão por via do Carlos Silva, advogado, seu amigo e conterrâneo de Gondomar.
Na altura um dos colaboradores permanentes do nosso blogue, o José Martins, escreveu o seguinte:
(...) "Quando li ou reli o texto do Moura, senti-me "muito pequeno", pelo que estava a ler. É um texto que emociona qualquer um. quer tenha ou não experiência de combate. É realista e, para mim, muito credível. Proponho que o seu nome passe a figurar, entre os "grã-tabanqueiros que da lei da morte se foram libertando". Seria uma forma de honrar a sua memória".
Pelo exposto, e pensando "com os meus botões", achei oportuno lembrar os que se tinham distinguido, para o bem ou para o mal, o facto de que se vai ao perfazer os 50 anos: Quem atacou, quem reagiu e quem tombou. Daí a sugestão de (re)leitura dos postes do Carlos Silva/Gabriel Moura" (...)
Temos 4 referências ao Gabriel Moura no nosso blogue... Foram publicados 3 postes, com excertos do pdf (que terá chegado às mãos do Carlos Silva diretamente remetido pelo autor, em 2004.
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/Gabriel%20Moura
Gabriel Moura
2. Faltava-nos um elo (perdido) da cadeia que nos leva agora à família, e em especial à filha do Gabriel Moura. Faz todo o sentido publicar na íntegra este manuscrito, importantíssimo para a historiografia da guerra colonial na Guiné. Estou grato a ti e à Gabriela por nos terem feito chegar, em pdf, este trabalho que, segundo creio, é de 2004. Seria um "crime de lesa-memória" que o documento não chegasse ao público-alvo a que se destinava, para além da família e amigos mais próximos. (Foi nesse sentido que o Carlos Silva começou a publicá-lo no seu blogue mandou-nos alguns excertos, mais especificamente sobre o ataque de 23 de janeiro de 1963).
Vamos abrir uma série nova, mas para isso precisamos de um bom título... Tite Guiné 1961/1963 é demasiado telegráfico e impessoal... O nome do Gabriel Moura deverá constar do título da série... Podemos trocar impressões com a Gabriela sobre o título... E sobre o formato da série... Dado tratar-se de um blogue, não podemos publicar textos extensos... O ideal, para manter a "legibilidade", é publicar, postes com 3/4 pp., no máximo, com fotos, e talvez duas vezes por semana...
E é também chegada a ocasião de, aceitando a sugestão do José Martins, juntar o nome do Gabriel Moura (que morreu em 2006, e cujo ano de nascimento desconhecemos) à lista dos nossos camaradas que "da lei da morte já se foram libertando"... Honramos a sua memória e a de todos os nossos camaradas que passaram por Tite e pela Guiné no início da guerra, em circunstâncias extremamente duras e difíceis.
Com o Gabriel Moura passaremos a ser um comunidade virtual de 726 grã-tabanqueiros, dos quais 679 vivos e 47 mortos... Só precisamos da autorização da família. O seu nome passa a figurar permanentemente na página de rosto do nosso blogue, na extensa coluna do lado esquerdo...
A Gabriela, como filha, também nos pode honrar com a sua presença (formal). É uma questão de querer "dar a cara"... Temos, entre nós, diversos filhos, filhas, netos, netas, viúvas e outros parentes de camaradas nossos já falecidos... . Como sabes, encontramo-nos, a Tabanca Grande, todos os anos em Monte Real, e além disso temos diversas tabancas, filiais da TG, que se reúnem com regularidade (Tabanca do Centro, Tabanca da Linha, Tabanca de Matosinhos, Tabanca dos Melros, em Gondomar...).
A Gabriela poderá escrever, se assim o entender, um pequeno texto de apresentação sobre o pai e sobre as suas memórias da Guiné. E sobre si própria, se nos der a honra de se juntar a este blogue de partilha de memórias (e de afetos) à volta da Guiné e da guerra de 1961/74...
Pedi ao meu coeditor Carlos Vinhal para se incumbir da edição regular desta nova série. A Gabriela fica também com o contacto (email) dele.
Ficamos a aguardar, entretanto, o eventual envio das fotos digitalizadas. Seria bom encontrar os originais do Gabriel. Não sei se tu, Francisco, te poderias encarregar de os digitalizar, com boa resolução, como fizeste com o teu belíssimo álbum fotográfico que temos vindo a publicar...
Vamos ficar em contacto.
Um abraço fraterno.
Luís Graça
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(Continua)