Um aerograma expedido pelo nosso camarada Silvério Dias, na altura 2º srgt art, CART 1802, Nova Sintra, 1967/69, SPM 4618 [e depois 1º Srg Art, locutor do PFA, Bissau QG/CTIG, 1969/74], para a esposa, a residir em Carnide, Lisboa.
Os indicativos postais tinham 4 dígitos. No caso da Guiné, terminava sempre em 8 (oito).
Foto: © Silvério Dias (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Em agosto de 1961, foi aprovado o celebre "aerograma", considerado um impresso-carta, isento de porte e de sobretaxa aérea, e que era constituído por 1 folha de papel com o peso máximo de 3 gramas, dobrável em 2 ou 4 partes, mas de forma que as suas dimensões depois da dobragem não excedessem os limites máximos de 150 x 105 mms, e mínimos de 100x70 mms. Dele apenas podia constar o nome, posto, e número e o indicativo de SPM atribuído.
Na Guiné, o aerograma era carinhosamente conhecido como "bate-estradas" ou "corta-capim".
No final da guerra, o Movimento Nacional Feminino, criado também em 1961, tal como o SPM, estava a imprimir e distribuir 32 milhões de aerogramas por ano. Durante os anos de guerra a expedição média diária foi de 10 toneladas de correio (!!!) para um total transportado de 21 mil toneladas (incluindo aerogramas, cartas, encomendas postais, valores declarados...).
O SPM terá sido um dos serviços militares que melhor funcionou durante toda a guerra colonial...
Achamos oportuno reproduzir aqui, nesta série antológica, um texto da autoria do cor inf ref José Aparício, de resto nosso camarada na Guiné, na qualidade de comandante operacional da CCAÇ 1790, a subunidade que retirou de Madina do Boé em 6/2/1969 e que, na travesssia do rio Corubal, em Cheche, perdeu 25 dos seus homens (Op Mabecos Bravios).
José Aparício foi cmdt da PSP de Lisboa, a seguir ao 25 de Abril.
2. O Correio durante a Guerra Colonial
por José Aparício [cor inf ref, ex-cmdt CCAÇ 1790, Madina do Boé, 1967/69]
[com a devida vénia ao portal Guerra Colonial 1961-74, da A25A - Associação 25 de Abril]; revisão e fixação de texto: LG]
Com a deslocação para África de grandes efectivos militares a partir de 1961, as Forças Armadas Portuguesas foram confrontadas com a necessidade óbvia de fazer chegar "O Correio" a todos os locais onde estivessem estacionadas unidades militares. Naturalmente, a grande maioria das forças do exército encontrava-se dispersa no mato em grandes áreas, onde não havia estações dos correios normais, muitas vezes em locais isolados e inóspitos, alguns de muito difícil acesso.
Do antecedente o Exército Português tinha a experiência vivida na Flandres durante a 1ª Grande Guerra, quando foi criado, aprovado, e posto em execução o "Regulamento do Serviço Postal do Corpo Expedicionário Português - CEP" que serviu as tropas portuguesas em França em 1917 e 1918.
No final dos anos 50 início da década de 60, houve necessidade de tornar operacional a Chefia do Serviço Postal da Divisão quando o Exército constituiu e tornou operacional a divisão "Nuno Álvares" integrada no SHAPE. O activar deste serviço nas grandes manobras que então ocorriam durante todo o mês de Setembro em Santa Margarida, e que envolviam cerca de 10,000 militares, aconteceu nas manobras de 1960.
Para exercer as funções de chefia desse serviço postal, o Estado Maior do Exército requisitou aos serviços dos Correios um seu funcionário qualificado que graduou em Capitão, e que desempenhou com toda a eficiência a sua missão. Terminadas as manobras este quadro dos CTT regressou à sua anterior situação.
Quando em 23 de Junho de 1961 foi decidido criar um serviço de correios militar, o general Câmara Pina, Chefe do Estado Maior do Exército [CEME], requisitou de novo aos CTT o mesmo funcionário a quem, depois de graduar de novo em capitão, encarregou expressamente de organizar e pôr em funcionamento um Serviço Postal Militar no Ultramar. Nasceu assim o Serviço Postal Militar (SPM) tendo sido o seu primeiro responsável e Chefe do Serviço o capitão miliciano graduado Ernesto Lourenço Dias Tapadas, que até ao fim desenvolveu um trabalho notabilíssimo.
Aproveitando a experiência adquirida pelo Exército português na 1ª Grande Guerra, adaptou o que achou por conveniente, percebeu rapidamente todo a problemática envolvente, e estabeleceu o seu plano de acção eliminando com muita habilidade e diplomacia todas as dificuldades que foram surgindo com os 2 colossos monopolistas, que eram os CTT Continentais e os CTTU do Ultramar, e também com os serviços de Alfândega metropolitanos e ultramarinos.
A definição dos códigos de endereços foi a tarefa imediata a que a Chefia do SPM se dedicou e que se tornou determinante para o lançamento do serviço. Esses códigos eram constituídos por 4 dígitos, dos quais os primeiros 3 definiam a unidade militar, e o ultimo a província ultramarina. Assim, inicialmente o digito 1 correspondia à Índia, o 2 a S Tomé, o 3 a Macau, o 4 a Moçambique, o 5 a Timor, o 6 a Angola, o 7 a Cabo Verde, o 8 à Guiné, e o 9 à Metrópole.
Devido ao cada vez maior número de unidades em Africa, o critério inicial teve de ser rapidamente alterado, e a atribuição dos IP (indicativos postais) passou a ser feita, pelo Estado Maior do Exército [EME] para as unidades mobilizadas no continente, e pelos respectivos Comandantes Militares nos diferentes territórios para as unidades ali organizadas, mantendo-se sempre o ultimo digito definidor do território de destino.
Um problema entretanto surgido foi com os navios da Armada que quando saíam das suas localizações iniciais, e navegavam para outros territórios, e de e para a metrópole, recebiam a correspondência com atraso. Para resolver o problema, o 4º dígito 1, que inicialmente dizia respeito a Índia, passou a ser atribuído aos navios da Armada, em substituição dos dígitos recebidos inicialmente conforme os locais onde se encontravam Após algum tempo, a atribuição de todos os IP foi atribuída a Chefia do SPM.
Entretanto em Agosto de 1961, depois de difíceis e complicadas reuniões entre o Secretariado Geral da Defesa Nacional , a Administração Geral dos Correios, Telégrafos e Telefones (CTT) e os Correios Telégrafos e Telefones do Ultramar (CTTU), foi aprovado o celebre "aerograma", considerado um impresso-carta, isento de porte e de sobretaxa aérea, e que era constituído por 1 folha de papel com o peso máximo de 3 gramas, dobrável em 2 ou 4 partes, mas de forma que as suas dimensões depois da dobragem não excedessem os limites máximos de 150 x 105 mms, e mínimos de 100 x 70 mms.
As regras estabelecidas para o endereço a colocar em toda a correspondência a enviar para as unidades expedicionárias obrigavam a que dele apenas constasse o nome, posto, e número e o indicativo de SPM atribuído.
A organização geral do SPM consistia numa Chefia em Lisboa, pelo menos uma Estação Postal Principal em cada território, e dentro destes tantas Estações Postais Secundárias quantas as que se revelaram necessárias face ao respectivo movimento postal, e ao número de PMC (Postos Militares de Correio), cada um destes apoiando até 2500 homens.
No fim da cadeia, havia em cada unidade um Encarregado da Delegação Postal da Unidade (EDPU) normalmente o(s) cabo(s) escriturário(s) da(s) unidade(s), que recebiam formação específica para essas funções.
Em 21 de Julho de 1961 entrou em funcionamento em Luanda a Estação Postal Militar Principal nº 6, menos de um mês depois da criação do SPM! Quando se iniciaram as hostilidades na Guiné e em Moçambique já ali se encontrava completamente operacional o SPM.
O SPM foi um serviço totalmente constituído por milicianos, nele tendo servido 202 oficiais e 504 sargentos. O seu quadro foi constituído inicialmente apenas por funcionários dos CTT e CTTU, graduados em oficiais e sargentos conforme a sua posição hierárquica nos seus serviços. A partir de 1966 o recrutamento passou a fazer-se entre oficiais e sargentos milicianos da metrópole a quem era dado um curso específico no Centro de Instrução do SPM no Forte do Bom Sucesso em Lisboa.
O serviço prestado pelo SPM foi notável. Muito para além dos números impressionantes de milhões de aerogramas, cartas, encomendas, vales do correio e valores declarados, por eles tratados e enviados; durante os anos de guerra a expedição média diária foi de 10 toneladas de correio (!!!) para um total transportado de 21 mil toneladas. É que nunca falhou, mesmo nos locais mais perigosos, difíceis e isolados, e os prazos médios entre a expedição e a recepção eram mínimos.
Só quem ali viveu esses tempos pode testemunhar o alvoroço e a alegria da chegada do correio, o conforto e ajuda que todos sentíamos pelas noticias da família e dos amigos.
O SPM foi extinto em 10 de Julho de 1981, cessando toda a sua actividade em 31 de Dezembro de 1981. Com a discrição com que iniciaram os seus trabalhos, assim os terminaram, como se nada de especial tivessem feito, naturalmente sem reconhecimento público assinalável. O SPM que escolheu como divisa do seu guião "A vida por uma mensagem", bem a honrou até ao fim.
Ao Capitão Miliciano Ernesto Tapadas, e a todos os que integraram o SPM durante toda a sua existência, é devida uma enorme gratidão por milhões de portugueses; por todos os que, de 1961 a 1975, serviram na Índia, em África, em Macau e em Timor, e também por todas as suas famílias que em Portugal mitigavam as saudades e as suas angústias com as noticias dos seus filhos tão longe. Os que estiveram na guerra nunca os esquecem!
_______
Nota do autor:
A informação relevante acima descrita foi retirada de: BARREIROS, Eduardo ; BARREIROS, Luís - História do serviço postal militar. [Lisboa] : E. Barreiros, D.L. 2004. 460 p. : il. ; 30 cm. Ed. bilingue em português e inglês. Bibliografia, p. 458-460. ISBN 972-9119-65-1
_______
Nota do editor:
Último poste da série > 5 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9000: Antologia (75): Tarrafo, crónica de guerra, de Armor Pires Mota, 1ª ed, 1965 (8): Ilha do Como, 15 de Março de 1964: E Deus desceu à guerra para a paz (Último episódio)...
Foto: © Silvério Dias (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Em agosto de 1961, foi aprovado o celebre "aerograma", considerado um impresso-carta, isento de porte e de sobretaxa aérea, e que era constituído por 1 folha de papel com o peso máximo de 3 gramas, dobrável em 2 ou 4 partes, mas de forma que as suas dimensões depois da dobragem não excedessem os limites máximos de 150 x 105 mms, e mínimos de 100x70 mms. Dele apenas podia constar o nome, posto, e número e o indicativo de SPM atribuído.
Na Guiné, o aerograma era carinhosamente conhecido como "bate-estradas" ou "corta-capim".
No final da guerra, o Movimento Nacional Feminino, criado também em 1961, tal como o SPM, estava a imprimir e distribuir 32 milhões de aerogramas por ano. Durante os anos de guerra a expedição média diária foi de 10 toneladas de correio (!!!) para um total transportado de 21 mil toneladas (incluindo aerogramas, cartas, encomendas postais, valores declarados...).
O SPM terá sido um dos serviços militares que melhor funcionou durante toda a guerra colonial...
Achamos oportuno reproduzir aqui, nesta série antológica, um texto da autoria do cor inf ref José Aparício, de resto nosso camarada na Guiné, na qualidade de comandante operacional da CCAÇ 1790, a subunidade que retirou de Madina do Boé em 6/2/1969 e que, na travesssia do rio Corubal, em Cheche, perdeu 25 dos seus homens (Op Mabecos Bravios).
José Aparício foi cmdt da PSP de Lisboa, a seguir ao 25 de Abril.
2. O Correio durante a Guerra Colonial
por José Aparício [cor inf ref, ex-cmdt CCAÇ 1790, Madina do Boé, 1967/69]
[com a devida vénia ao portal Guerra Colonial 1961-74, da A25A - Associação 25 de Abril]; revisão e fixação de texto: LG]
Com a deslocação para África de grandes efectivos militares a partir de 1961, as Forças Armadas Portuguesas foram confrontadas com a necessidade óbvia de fazer chegar "O Correio" a todos os locais onde estivessem estacionadas unidades militares. Naturalmente, a grande maioria das forças do exército encontrava-se dispersa no mato em grandes áreas, onde não havia estações dos correios normais, muitas vezes em locais isolados e inóspitos, alguns de muito difícil acesso.
Do antecedente o Exército Português tinha a experiência vivida na Flandres durante a 1ª Grande Guerra, quando foi criado, aprovado, e posto em execução o "Regulamento do Serviço Postal do Corpo Expedicionário Português - CEP" que serviu as tropas portuguesas em França em 1917 e 1918.
No final dos anos 50 início da década de 60, houve necessidade de tornar operacional a Chefia do Serviço Postal da Divisão quando o Exército constituiu e tornou operacional a divisão "Nuno Álvares" integrada no SHAPE. O activar deste serviço nas grandes manobras que então ocorriam durante todo o mês de Setembro em Santa Margarida, e que envolviam cerca de 10,000 militares, aconteceu nas manobras de 1960.
Para exercer as funções de chefia desse serviço postal, o Estado Maior do Exército requisitou aos serviços dos Correios um seu funcionário qualificado que graduou em Capitão, e que desempenhou com toda a eficiência a sua missão. Terminadas as manobras este quadro dos CTT regressou à sua anterior situação.
Quando em 23 de Junho de 1961 foi decidido criar um serviço de correios militar, o general Câmara Pina, Chefe do Estado Maior do Exército [CEME], requisitou de novo aos CTT o mesmo funcionário a quem, depois de graduar de novo em capitão, encarregou expressamente de organizar e pôr em funcionamento um Serviço Postal Militar no Ultramar. Nasceu assim o Serviço Postal Militar (SPM) tendo sido o seu primeiro responsável e Chefe do Serviço o capitão miliciano graduado Ernesto Lourenço Dias Tapadas, que até ao fim desenvolveu um trabalho notabilíssimo.
Aproveitando a experiência adquirida pelo Exército português na 1ª Grande Guerra, adaptou o que achou por conveniente, percebeu rapidamente todo a problemática envolvente, e estabeleceu o seu plano de acção eliminando com muita habilidade e diplomacia todas as dificuldades que foram surgindo com os 2 colossos monopolistas, que eram os CTT Continentais e os CTTU do Ultramar, e também com os serviços de Alfândega metropolitanos e ultramarinos.
A definição dos códigos de endereços foi a tarefa imediata a que a Chefia do SPM se dedicou e que se tornou determinante para o lançamento do serviço. Esses códigos eram constituídos por 4 dígitos, dos quais os primeiros 3 definiam a unidade militar, e o ultimo a província ultramarina. Assim, inicialmente o digito 1 correspondia à Índia, o 2 a S Tomé, o 3 a Macau, o 4 a Moçambique, o 5 a Timor, o 6 a Angola, o 7 a Cabo Verde, o 8 à Guiné, e o 9 à Metrópole.
Devido ao cada vez maior número de unidades em Africa, o critério inicial teve de ser rapidamente alterado, e a atribuição dos IP (indicativos postais) passou a ser feita, pelo Estado Maior do Exército [EME] para as unidades mobilizadas no continente, e pelos respectivos Comandantes Militares nos diferentes territórios para as unidades ali organizadas, mantendo-se sempre o ultimo digito definidor do território de destino.
Um problema entretanto surgido foi com os navios da Armada que quando saíam das suas localizações iniciais, e navegavam para outros territórios, e de e para a metrópole, recebiam a correspondência com atraso. Para resolver o problema, o 4º dígito 1, que inicialmente dizia respeito a Índia, passou a ser atribuído aos navios da Armada, em substituição dos dígitos recebidos inicialmente conforme os locais onde se encontravam Após algum tempo, a atribuição de todos os IP foi atribuída a Chefia do SPM.
Entretanto em Agosto de 1961, depois de difíceis e complicadas reuniões entre o Secretariado Geral da Defesa Nacional , a Administração Geral dos Correios, Telégrafos e Telefones (CTT) e os Correios Telégrafos e Telefones do Ultramar (CTTU), foi aprovado o celebre "aerograma", considerado um impresso-carta, isento de porte e de sobretaxa aérea, e que era constituído por 1 folha de papel com o peso máximo de 3 gramas, dobrável em 2 ou 4 partes, mas de forma que as suas dimensões depois da dobragem não excedessem os limites máximos de 150 x 105 mms, e mínimos de 100 x 70 mms.
As regras estabelecidas para o endereço a colocar em toda a correspondência a enviar para as unidades expedicionárias obrigavam a que dele apenas constasse o nome, posto, e número e o indicativo de SPM atribuído.
A organização geral do SPM consistia numa Chefia em Lisboa, pelo menos uma Estação Postal Principal em cada território, e dentro destes tantas Estações Postais Secundárias quantas as que se revelaram necessárias face ao respectivo movimento postal, e ao número de PMC (Postos Militares de Correio), cada um destes apoiando até 2500 homens.
No fim da cadeia, havia em cada unidade um Encarregado da Delegação Postal da Unidade (EDPU) normalmente o(s) cabo(s) escriturário(s) da(s) unidade(s), que recebiam formação específica para essas funções.
Em 21 de Julho de 1961 entrou em funcionamento em Luanda a Estação Postal Militar Principal nº 6, menos de um mês depois da criação do SPM! Quando se iniciaram as hostilidades na Guiné e em Moçambique já ali se encontrava completamente operacional o SPM.
O SPM foi um serviço totalmente constituído por milicianos, nele tendo servido 202 oficiais e 504 sargentos. O seu quadro foi constituído inicialmente apenas por funcionários dos CTT e CTTU, graduados em oficiais e sargentos conforme a sua posição hierárquica nos seus serviços. A partir de 1966 o recrutamento passou a fazer-se entre oficiais e sargentos milicianos da metrópole a quem era dado um curso específico no Centro de Instrução do SPM no Forte do Bom Sucesso em Lisboa.
O serviço prestado pelo SPM foi notável. Muito para além dos números impressionantes de milhões de aerogramas, cartas, encomendas, vales do correio e valores declarados, por eles tratados e enviados; durante os anos de guerra a expedição média diária foi de 10 toneladas de correio (!!!) para um total transportado de 21 mil toneladas. É que nunca falhou, mesmo nos locais mais perigosos, difíceis e isolados, e os prazos médios entre a expedição e a recepção eram mínimos.
Só quem ali viveu esses tempos pode testemunhar o alvoroço e a alegria da chegada do correio, o conforto e ajuda que todos sentíamos pelas noticias da família e dos amigos.
O SPM foi extinto em 10 de Julho de 1981, cessando toda a sua actividade em 31 de Dezembro de 1981. Com a discrição com que iniciaram os seus trabalhos, assim os terminaram, como se nada de especial tivessem feito, naturalmente sem reconhecimento público assinalável. O SPM que escolheu como divisa do seu guião "A vida por uma mensagem", bem a honrou até ao fim.
Ao Capitão Miliciano Ernesto Tapadas, e a todos os que integraram o SPM durante toda a sua existência, é devida uma enorme gratidão por milhões de portugueses; por todos os que, de 1961 a 1975, serviram na Índia, em África, em Macau e em Timor, e também por todas as suas famílias que em Portugal mitigavam as saudades e as suas angústias com as noticias dos seus filhos tão longe. Os que estiveram na guerra nunca os esquecem!
_______
Nota do autor:
A informação relevante acima descrita foi retirada de: BARREIROS, Eduardo ; BARREIROS, Luís - História do serviço postal militar. [Lisboa] : E. Barreiros, D.L. 2004. 460 p. : il. ; 30 cm. Ed. bilingue em português e inglês. Bibliografia, p. 458-460. ISBN 972-9119-65-1
_______
Nota do editor:
Último poste da série > 5 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9000: Antologia (75): Tarrafo, crónica de guerra, de Armor Pires Mota, 1ª ed, 1965 (8): Ilha do Como, 15 de Março de 1964: E Deus desceu à guerra para a paz (Último episódio)...
11 comentários:
Confesso que já não me lembro do meu código postal militar (SPM)... Fico a saber que terminava em 8 (oito). Também é verdade que limitava a minha correspondência ao mínimo... Mas recebia semanalmente dois jronais do reviralho, o "Comércio do Funchal" (o célebre jornal cor de rosa...) e o "Notícias da Amadora"... Tenho ideia que chegavam sempre com regularidade... Também, de vez em quando, recebia "valores declarados" através do SPM, quando a guita acabava antes de chegar ao fim do mês ou havia despesas extras (bilhete de avião, etc.). Também recebi, da família, uma ou outra encomenda postal, com guloseimas...
Acho que o meu número mecanográfico e o SPM da minha Companhia (1388) jamais esquecerei.
Já gora outros números: Caldas da Rainha, 2109; Vendas Novas, 131 e Tancos, 16.
Carlos Vinhal
Fiz pouco uso do aerograma do nosso contentamento... Sempre tive receio de que fosse "censurado"... Há quem garanta que não, que a PIDE/DGS não metia o "bedelho" no SPM...
De qualquer modo, já não me lembrava do seguinte:
(i) os primeiros aerogramas editados pelo MNF, eram impressos em papel azul pálido;
(ii) a partir de março de 1962, começaram também a aparecer os aerogramas impressos em papel amarelo;
(iii) os amarelos circulavam exclusivamente sentido Ultramar-Metrópole, eram portanto, na sua grande maioria remetidos por nós, militares em serviço nos "territórios ultramarinos":
(iv) os aerogramas impressos em papel azul deveriam ser utilizados no sentido inverso, Metrópole- Ultramar, eram portanto os que os nossos familiares e amigos usavam...
Dez mil quilos de correspondência expedida pelo SPM, em média, diariamente, era muito aerograma... Não creio que a PIDE/DGS tivesse meios humanos e técnicos para vigiar essa correspondência, no todo ou em parte, nem sequer uma ínfima parte... Temos tendência para sobrevalorizar a extensão e o peso do "braço totalitário" da PIDE/DGS... Chegava a todo o lado, seguramente, e inclusive não seria difícil marcar e vigiar "militares suspeitos"... Os aerogramas e cartas poderiam ser "intercetados" tanto na origem como no destino...
Não creio que a PIDE/DGS estivesse infiltrada no SPM e tivesse "bufos" em todas as companhias e batalhões... Há quem garanta que sim... Em todo o caso, era mais fácil "caçar a presa", neste caso, um aerograma ou carta de um indivíduo suspeito, na secretaria da companhia ou na estação local dos CTT, aquando da receção...
Acredito que tenha havido casos de violação da correspondência... O aerograma não nos inspirava confiança, não havia garantia de sigilo... Vivíamos num Estado policial, parecem que muitos de nós já esqueceram isso... Mas terá sido muito mais eficaz a autocensura... Cada um de nós tinha o seu "censor" na cabeça... Muitos de nós (eu incluído), nos aerogramas limitavamo-nos à "conversa da treta"; nós por cá todos bem!... O Estado Novo conseguiu criar o muito de um estado todo poderoso que vigiava tudo e todos...Na realidade, caiu de podre no 25 de Abril... Mas a "castração mental" funcionou, durante décadas, por via do medo...
Em 1961, início da Guerra do Ultramar, os mancebos "brancos" estavamos tão despolitizados quanto ao que se estava a passar na política ultramarina em África, (incluindo oficiais e sargentos do QP)que a PIDE nem se preocuparia com os bate-estradas que escrevessemos.
Mesmo a PIDE desactualizadíssima, (em Luanda eram uma peneira rota), só davam importância aos mancebos africanos, brancos mulatos ou pretos, esses sim, sabiam o que se passava, daí vermos um ou outro colega ser chamado à pedra e a sua correspondência violada.
Os segredos da PIDE em Luanda eram muito mal guardados, andavam de boca em boca.
Talvez lançados cá para fora por eles próprios para dizer que trabalhavam muito.
A maioria dos PIDES, vocacionalmente não passavam de uns acomodados funcionários encostados ao orçamento à espera de repetir mais uma comissão sem chatices. (há sempre excepções)
Embora "protegidos" pelos generais que irão integrar a Junta de Salvação Nacional (Spínola, Costa Gomes, etc.), até por serem "úteis" em África, na "guerra antissubversiva" e na continuação da guerra no pós-25 de Abril até ao processo (que se estimava difícil, complexo e demorado) de negociação política com os representantes dos movimentos nacionalistas de Angola, Guiné e Moçambique, a PIDE/DGS nunca chegou aos "calcanhares" de outras polícias políticas de Estados autoritários ou totalitários, contemporâneos do Estado Novo...
Apesar da sua rede de informadores e dos seus métodos brutais, tenho ideia que terá sido muito "amadorística", nomeadamente em África... O desastre da Op Mar Verde terá também muito a ver com clamorosas falhas da "inteligência"... A PIDE/DGS era também o "espelho da Nação"!...
Veho, por exemplo, pelas cartas (e não tanto pelos aerogramas) do nosso camarada J. Casimiro Carvalho que a malta em 1973 (na altura dos três Guês - Guidaje, Guileje, Gadamael) escrevia tudo o que lhe apetecia, ou que lhe vinha à cabeça, sem grande receio de violação da correspondência... Estou-me a referir a "informação sensível" do ponto de vista político e militar... que chegava nas calmas aos lares portugueses...
Há quem garanta que a PIDE/DGS não punha o "bedelho" no SPM... Será verdade ? Não estou assim tão seguro... Vou mais pela tese da "autocensura": só os "despolitizados" é que eram "desbocados"... A malta mais politizada tinha os tiques da "luta clandestina", e via PIDES por todo o lado, desde o 1º sargento ao 2º comandante do batalhão...
No penúltimo comenta´rio, eu queria dizer "MITO" e não "MUITO":
(...) "O Estado Novo conseguiu criar o MITO de um estado todo poderoso que vigiava tudo e todos...Na realidade, caiu de podre no 25 de Abril... Mas a 'castração mental' funcionou, durante décadas, por via do medo" (...).
Para dizer apenas, que ainda hoje me lembro bem do Número Mecanográfico que era 098837/71 e o SPM 2148, os outros números que tive por onde passei não me lembro!Julgo que o nr. do SPM tem a ver com a CART 3494.
SdC
Se calha ainda me podem escrever para o meu SPM-5358 Abraço J.Cabral
Caro "Alma",
com sorte, ou engano, ainda vai parar ao meu... 0358!
Hélder Sousa
O meu era dos mais antigos: 0028
Enviar um comentário