segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25904: Notas de leitura (1723): Breve história da evangelização da Guiné (3) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Abril de 2023:

Queridos amigos,
Estamos chegados ao Estado Novo e os autores dão-nos conta das atividades desenvolvidas desde a Missão da Guiné, constituída em 1940, até praticamente aos finais do século XX. Esta Missão foi desafetada do bispado de Cabo Verde, começaram grandes desafios para Franciscanos e para as Franciscanas Hospitaleiras, estas ficaram à frente dos Asilos de Bor e Bafatá. Logo a seguir vieram os missionários italianos de duas ordens, dinamizou-se o trabalho na leprosaria de Cumura. Dinamizou-se a atividade educativa que, evidentemente, foi fustigada pela guerra de libertação, e que levou ao encerramento de muitas escolas missionárias. Com a libertação, Roma decide criar a diocese de Bissau, aumentaram as vocações sacerdotais e religiosas, nasceram novas missões, a evangelização abriu as causas da saúde, educação e da promoção da mulher, uma evangelização que abarca hospitais, uma leprosaria, um liceu diocesano e duas escolas profissionais médias. Esta monografia tem o mérito de atualizar o trabalho de referência do padre Henrique Pinto Rema.

Um abraço do
Mário



Breve história da evangelização da Guiné (3)

Mário Beja Santos

Já aqui se deu amplo acolhimento à obra magna do Padre Henrique Pinto Rema, "História das Missões Católicas na Guiné", dela até coligi um resumo para um livro que tenho em preparação sobre os textos fundamentais da presença portuguesa na Guiné. Mas também não se pode descurar outras iniciativas como esta "Breve História da Evangelização da Guiné", da autoria de dois franciscanos devotados a estudos guineenses. Trata-se de uma edição do Secretariado Nacional das Comemorações dos 5 Séculos, datada de maio de 1997. Os autores explicam o significado daquele ano jubilar, tem a ver com a deslocação de D. Frei Victoriano Portuense, há precisamente 300 anos, saiu da sua sede de diocese, na Cidade Velha, na ilha de Santiago, e foi visitar as comunidades cristãs da Guiné; o significado também abrange os 20 anos de existência da Diocese de Bissau.

Já estamos em plenos anos 1940 e 1950. Viviam-se tempos anteriores ao Concilio Vaticano II, a tolerância dialogante sobre valores existentes em todas as religiões eram palavras desconhecidas. A evangelização na Guiné não escapava à regra – religião única era apenas a cristã. Com boa vontade, talvez possamos encontrar duas pequenas exceções a esta regra: o interesse dos Franciscanos no século XVIII em conhecer os usos e costumes dos Pepéis da ilha de Bissau (o desejo de conhecer é o primeiro passo para o respeito e pelo diálogo subsequentes); na morte de Becampolo Có em Bissau, em finais do século XVII, como era cristão o corpo do rei foi sepultado na capela do hospício franciscano em Bissau – os pepéis condescenderam, mas exigiram e conseguiram obter dos frades que nas cerimónias do choro que se pudessem matar vacas, bem como beber e comer à vontade.

Falemos agora da Missão da Guiné, 1940. Em 4 de setembro desse ano, o Papa Pio XII separou definitivamente a Missão da Guiné do bispado de Cabo Verde, ao qual estivera ligado desde 1533. Autónoma nos seus destinos, já com duas congregações religiosas permanentes (Franciscanos portugueses e Franciscanas Hospitaleiras portuguesas) e com a perspetiva de se poder abrir a outras congregações, com uma nova organização missionária voltada para a evangelização e promoção social, a Missão da Guiné trazia amplas expetativas.

Em 1932, os Franciscanos portugueses foram quase obrigados a regressar onde, nos séculos anteriores tinham estado mais de 170 anos seguidos. Regressaram e estabeleceram quartel-general em Bula, sendo durante alguns anos os únicos missionários presentes no território. Mas “arrastaram” consigo as Irmãs Franciscanas Hospitaleiras portuguesas (logo em 1933), primeiramente em Bula e depois nos Asilos de Bor e Bafatá e no Hospital Central de Bissau. A seguir chegaram os missionários estrangeiros, os primeiros foram os missionários do Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras, e com o seu precioso auxílio foi possível garantir melhor a assistência religiosa permanente a Geba-Bafatá, Bambadinca, Catió, Farim e Suzana. Em 1955, juntaram-se também à missionação os Franciscanos da província de Santo António de Veneza. Deste grupo faziam parte D. Settimio A. Ferrazzetta, o primeiro bispo de Bissau, e Frei Epifânio Cardin, que trabalhou na missão de Cumura. Em 1969, assumiram a direção da leprosaria. Mais tarde estenderiam a sua ação de bem fazer e de evangelização até Bolama, Biombo, Nhacra e Bissau. Também os Franciscanos italianos virão a “arrastar” consigo as Irmãs Franciscanas do Coração Imaculado de Maria, que chegarão à Guiné em 1970, trabalhando primeiro na leprosaria de Cumura e posteriormente em Quinhamel. Em 1969, chegavam à Prefeitura Apostólica da Guiné as Irmãs do Instituto do Santo Nome de Deus, italianas, que se instalaram em Suzana e em Bubaque até 1993.

A ação educativa missionária ir-se-á revelar do maior interesse. A partir da entrega do ensino primário não-oficial às Missões, muitas escolas espalharam-se pelo interior da Guiné. Para o regular funcionamento das aulas, os missionários socorreram-se de professores catequistas, formados sobretudo das escolas das missões de Bula e Bafatá.

Na assistência social e sanitária, foi igualmente relevante o papel das missões católicas em Bor, Bafatá, Bula, Bissau, sem esquecer os internatos menores de Bubaque, Mansoa, Quinhamel e Cumura. A guerra de libertação, como é facilmente compreensível, causou uma enorme perturbação da atividade missionária da Guiné. Muitas escolas missionárias tiveram de fechar as portas por falta de gente que as fizesse funcionar.

E assim chegamos à Diocese de Bissau (1977-1996). Pela Bula Rerum Catholicorum, de 21 de março de 1977, o Papa Paulo VI elevou a Prefeitura Apostólica da Guiné à dignidade de diocese. A sede ficou em Bissau, o seu templo principal é a igreja catedral de Nossa Senhora da Candelária.

Houve um fomento claro e decidido de vocações sacerdotais e religiosas no país. Em 1977 não havia um sacerdote autóctone, em 1997 eram 15. Após 1977 abriram-se mais 6 paróquias em Bissau e novas missões em Tite, Buba, Empada, Bedanda, Ingoré, Cacheu, Caió, Bajob, Betenta, Bigene, Nhoma, Bissorã, entre outras. É uma evangelização que não esquece a promoção social: na saúde, educação e promoção da mulher. Além de 3 hospitais de maiores proporções e de uma leprosaria, há uma trintena de pequenos centros onde diariamente as pessoas acorrem e onde bebés desnutridos ou adultos com toda a sorte de doenças ou problemas vêm procurar alívio.

Por fim, os autores resumem as atividades da educação e da promoção da mulher. A diocese possuiu já um liceu diocesano e duas escolas profissionais médias. Mais de 200 guineenses estudaram fora da Guiné com bolsas obtidas pela diocese, graças aos Amigos das Missões. Hoje as bolsas continuam a ser dadas, mas para estudos dentro do país, no liceu João XXIII e nas faculdades de Medicina e Direito em Bissau.

Trata-se pois de uma monografia que reatualiza o indispensável trabalho do padre Henrique Pinto Rema.


Igreja de Catió, agosto de 1973. Imagem retirada do blogue Arquivo Digital, com a devida vénia
Festa religiosa de Nossa Senhora de Fátima, Padroeira de Catió, 2014
Igreja de Nova Lamego (hoje Gabu), imagem retirada do nosso blogue
Imagem tirada durante a celebração de uma missa no Gabu, 2014
Administração do Crisma a jovens da Paróquia de Santa Isabel de Gabu
Cerimónia presidida pelo segundo bispo de Bissau, D. José Lampra Cá
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Notas do editor:

Vd. post anterior de 26 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25882: Notas de leitura (1721): Breve história da evangelização da Guiné (2) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 30 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25896: Notas de leitura (1722): Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX (e referidos no Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, ano de 1873) (18) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25903: Manuel de Pinho Brandão: entre o mito e a realidade - Parte VII: A Bolama de finais dos anos 30


Os BVB tinham a sede na Rua Gov Sequeira


Não sabemos ao certo qual era avenida ou rua...


Em segundo plano, do lado direito a um dos imponentes "sobrados" da cidade


Onde ficava também o mercado municipal...

Guiné > Bolama > 1938 > Imagens da cidade, que foi capital da colónia  até 1941


Jornal-programa (sic) editado pelo "Sport Lisboa e Bolama", novembro de 1938. Composto e impresso pela Imprensa Nacional da Guiné, Bolama. Nº de páginas: 12 (doze).Visado pela Comissão de Censura,


Fonte: Câmara Municipal de Lisboa > Hemeroteca Digital >  Sport Lisboa e Bolama, novembro de 1938 (com a devida vénia).




1. Já fizemos referência ao jornal do Sport Lisboa e Bolama (**), com data de novembro de 1938. Foi feita na altura uma edição única, com o  propósito de comemorar  o 5.º aniversário do fundação do clube, em Bolama, em novembro de 1933.  

Pelo cabeçalho que acima se repoduz, vê-se que era uma filial  do Sport Lisboa e Benfica (fundado, por sua vez, em  28 de fevereiro de 1904).  (Com a transferência, em 1943,  da capital de Bolama para Bissau, irá nascer o Sport Bissau e Benfica, em 27 de maio de este1944, sendo este a vigésima nona filial do Sport Lisboa e Benfica.)
 
Mas a nós interessa-nos agora ter uma ideia da toponímia da cidade bem como do comércio local existente em meados dos anos 30. 



Croquis de Bolama que o António Estácio (Bissau, 1947-Algueirão, Sintram  2022) conheceu nos anos 1950 por lá ter morado com os pais, e lá ter feito a instrução primária. Este croquis permite-nos reconstituir a malha urbana, identificando  avenidas, ruas e edifícios (adminstração pública, comércio e habitaçáo). A cidade. já em decadência, com a transferência da capital para Bissau, em 1943,  era organizada numa malha ortogonal com dois grandes eixos de avenidas, e com ruas que se cruzavam dividindo-a em quatro setores. Vários pontos de referência são sinalizados: a ponte-cais,  a câmara municipal,  a alfândega, os bombeiros, o Sport Lisboa e Bolam, o BNU,  a praça Infante Domn Henrique, a estátua de Ulysses Grant, o Mercado, a Casa Gouveia, etc. 

Fonte:  Estácio (2012) (*)



Nada como selecionar e analisar as fotos (mesmo de fraca qualidade) da cidade e os anúncios que vêm inseridos nesta edição única.  Uma coisa que salta à vista, pelo conjunto de anúnciios, que reproduzimos abaixo,  é a ausência da Casa Brandão, de Manuel de Pinho Brandão. 

Ora, ele na época já era um comerciante conhecido, e dono  de um dos principais "sobrados" de Bolama, edifício que dava nas vistas. Em 1935 ele morava em Bolama, e devia ter já perto dos 45 anos de idade.  

Segundo uma fonte que nos acaba de chcgar às mãos (por intermédio do nosso camarada Manuel  Barros Castro, ex-fur mil enf, CCAÇ 414, que esteve em Catió, quase um ano antes da Op Tridente, entre abril de 1963 e fevereiro de 1964, e conheceu o velho Brandão), este terá chegado à Guiné em finais da década de 1910. Em 1963  teria já 71  anos, pelas nossas contas.  

Não sabemos ao certo quando, na década de 1930, se mudou para a zona de Catió, e se tornou um dos grandes agricultores da região de Tombali. No final da  década de 1950 produzia duas mil toneladas de arroz e tinha um efetivo de 50 trabalhadores (fora os sazonais). Mais: já dispunha de tractores e máquinas agrícolasm sem nunca ter  deixado também de ser comerciante, como se vê por este documento de 1934.



Guiné > Bolama > Direcção dos Serviços e Negócios Indígenas > Nota de dívida ao comerciante Manuel de Pinho Brandão, pelo "fornecimento de uma secretária americana e de uma cadeira", no valor de 3300 escudos, valor que foi liquidado em 11 de junho de 1934.


Portal Casa Comum | Fundação Mário Soares | Instituição: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, Bissau | Pasta: 10427.126 | Assunto: Nota de dívida da Direcção dos Serviços e Negócios Indígenas à empresa Manoel de Pinho Brandão, pelo fornecimento de mobiliário de escritório. | Data: Terça, 29 de Maio de 1934 | Fundo: C1.6 - Secretaria dos Negócios Indígenas | Tipo Documental: DocumentosPágina(s): 1


Citação:
(1934), Sem Título, Fundação Mário Soares / C1.6 - Secretaria dos Negócios Indígenas, Disponível HTTP: http://www.casacomum.org/cc/visualizador?pasta=10427.126 (2024-9-1)



2. Podemos admitir que o Manuel de Pinho Brandão fosse forreta e não quisesse gastar patacão em publicidade... Por outro lado, podia não ser benquista e não querer, portanto,  contribuir para a festa do clube local. Mas, o mais provável, era já não viver na cidade, em  finais de 1938.

De entre os comerciantes e industriais que patrocionaram a edição (única) do jornal "Sport Lisboa e Bolama" , o destaque vai para alguns nossos conhecidos  como   Fausto [da Silva] Teixeira ("Serração Eléctro-Mecânica") e Júlio Lopes Pereira (representante na Guiné da máquina de escrever Royal).

Recorde-se que o Fausto Teixeira foi um dos primeiros militantes comunistas [segundo reivindicação do PCP] a ser deportado para a Guiné, logo em 1925, com 25 anos, ainda no tempo da I República.  

Era dono, em novembro de 1938, segundo o anúncio que abaixo se reproduz, de "a mais apetrechada de todas as Serrações existente nesta Colónia". E o anúncio acrescenta: "Em 'stock' sempre as mais raras madeiras. Preços especiais a revendedores. Agentes em Bolama, Bissau e nos principais centros comerciais da Guiné"... 

Na altura a sede ou o estabelecimento principal era no Xitole... Foi expandindo a sua rede de serrações pelo território: Fá Mandinga, Bafatá, Banjara... Era exportador de madeiras tropicais, colono próspero e figura respeitável na colónia em 1947, um dos primeiros a ter telefone em Bafatá, amigo de Amílcar Cabral, tendo inclusive ajudado o Luís Cabral a fugir para o Senegal, em 1960... Naturalmente, sempre vigiado pela PIDE

outros  nomes das empresas que patrocinaram o 5.º aniversário do Sport Lisboa e Bolama, como o libanês João Saad,  a casa Guedes, a casa Machado, a casa Antunes, a "Competidora", de António de Almeida, o Lourenço Marques Duarte, o José Lopes, o Cipriamo José Jacinto, o João Alves da Silva, etc. 

Outras firmas comerciais, por sua vez,  não estão aqui representadas como o BNU, a Casa Gouveia (a "poderosa empresa de António da Silva Gouveia"),  o António dos Santos Teixeira ("rico e respeitado comerciante guineense"), o Manuel Simões Marcelino, a casa Pintosinho (como era mais conhecido o português Ernesto Gonçaves de Carvalho"),  o guineense Carlos Domingos Gomes ("Cadogo Pai"). (**)

Em suma, não atribuímos particular significado à ausência da Casa Brandão nesta amostra de anúncios comerciais.

 
   















  














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Notas do editor:


Vd. também poste de 25 de abril de 2022 > Guiné 61/74 - P23200: 18º aniversário do nosso blogue (5): Roteiro da nossa saudosa Bolama (Antonio Júlio Emerenciano Estácio, luso-guineense, nascido em 1947, e escritor)

(**) Vd. poste de 17 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20152: Jorge Araújo: memórias de Bolama: a imprensa e o comércio locais há oito décadas atrás.

domingo, 1 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25902: Contos do ser e não ser: Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (33): "Na senda do poema azul"

Adão Pinho Cruz
Ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547
Autor do livro "Contos do Ser e Não Ser"


Na senda do poema azul

Cruzaram as portas, correram os campos das árvores novas e os olhos de trabalhar não cederam ao sono nem triangularam o medo nem cavaram rugas no solo imponente das alamedas sombreadas de tílias.

Nesse dia, demorou um pouco mais o beijo que ele habitualmente depunha na sua face sedosa e apertou-a levemente contra o peito. Era uma mulher cheia de ternura e singularmente bela, uma daquelas belezas que roubam tudo o que se é no curto instante em que os olhos se cruzam.

Não se erguem pedestais de peso vazio, nem mulheres de vitrina são granito de amor ou seara ondulante que o vento não quebra, ou lágrima doce de criança com cheiro a alecrim.

Anos mais tarde, abraçou-a longamente e apertou-a fortemente, tentando beijá-la, mas ela cruzou o dedo sobre os seus lábios. De ambos, era apenas a poesia seu único elo de ligação.

Força centenária nunca inventada, criada dia a dia na cultura do percurso, na perenidade do ser, na alegria renascida da memória revisitada sem mágoa num espelho de lágrimas pode, um dia, o amor renascer e ganhar flor na miragem do deserto.

Tempos depois, beijou-a sofregamente e disse que tinha de fazer amor com ela, pois morreria se tal não acontecesse.

- Nem pense, respondeu. Não porque também o não desejasse ardentemente, mas não conseguiria ultrapassar a barreira que a impedia. Não… não eram os vinte anos a menos, mas o facto de ser casada.

Na posse de um presente incerto, de nada valem carismas de futuro nem linguagem detergente, nem jogos de vitrina nem letras ficcionais de reinvento externo, encenando convulsas narrativas de amor eterno.

Um dia, ela veio. Veio firme e decidida. Os cabelos caídos, a beleza amadurecida pela idade e por um lindo rosto ardendo de fogo. Beijou-o suavemente na testa, roçou os lábios pelos seus e espetou o dedo indicador no sítio onde o beijara, avisando com firmeza: “A primeira e última vez, nunca mais.”

O amor, naturalmente estético, não faz profecias nem confere paradigmas de futuro nas assimetrias das almas, o amor triunfa na força de ser fraco, na doçura decisória do dilema, na transparência da lágrima, na equação matemática da razão, que reduz harmoniosamente o tempo e o espaço a uma alma louca de paixão.

Sentiu o chão fugir-lhe debaixo dos pés e começou a voar, estonteado pelos céus vibrantes da emoção, quando ela começou, delicadamente, a despir-se.

Abraçou-a pela cintura como chama escaldante e os dois ajoelharam num fino tremor que lhes atravessava o corpo como prenúncio de terramoto. Ela apertou-lhe a face entre as mãos e colou a sua boca à dele numa avidez devoradora. Abriu as entranhas num vulcão de lume e, a um passo do céu, sentiram um novo tempo a eternizar a vida.

Uma hora depois, seus corpos jaziam abraçados no chão, envoltos num pegajoso manto de suor. Um sorriso doce caía dos olhos semicerrados e dos lábios ligeiramente entreabertos dessa eterna imagem que nunca mais haveria de libertar-se do Poema Azul. O poema, onde a luz de sempre, que a noite amanhece, muda o espaço, inverte o tempo, descobre o sonho. E no mais fundo do ser, a dimensão aparece.

Uma hora mais até que os corpos se descolassem, e uma profunda tristeza começasse lentamente a invadirlhes a alma à medida que o sangue arrefecia e o coração insistentemente repetia: Nunca mais, nunca mais!

Voltou a vê-la, dois anos depois, num cruzar de olhos e quatro anos mais tarde, quando ela lhe ofereceu a face e um sorriso, onde umas finas rugas se inscreviam e diziam: Nunca mais!

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Nota do editor

Último post da série de 25 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25879: Contos do ser e não ser: Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (32): "Ciência e poesia"

Guiné 61/74 - P25901: Memórias de um artilheiro (José Álvaro Carvalho, ex-alf mil, Pel Art / BAC, 8.8 cm, Bissau, Olossato e Catió, 1963/65) - Parte VII: "Carvalhinho, você ainda me mata algum homem, temos tropas na mata! " (ten cor Fernando Cavaleiro, cmdt da Op Tridente)



Foto à direita: os alferes milicianos José Álvaro Carvalho ("Carvalhinho"), do QG / CTIG (em 1º plano, à esquerda), e João Sacôto, da CCAÇ 617/ BCAÇ 619, em 2º plano, à direita



1. Estamos a publicar algumas das memóras do ex-alf mil art, José Álvaro Carvalho, membro  nº 890 da nossa Tabanca Grande:

(i) tem 85 anos, sendo natural de Reguengo Grande, Lourinhã;

(ii) com 26 meses de tropa, acabou por ser moblizado para o CTIG por volta da primavera de 1963 (não conseguimos ainda  apurar a data);

 (iii) foi render um alferes de uma companhia de intervenção, de infantaria, sediada em Bissau (QG/CTIG); 

(iv) irá cumprir mais uns 26 ou 27 meses, no TO da Guiné, entre o primeiro trimestre de 1963 e o início do segundo semestre de 1965;

 (v) passou por Bissau, Olossato, Catió e a ilha do Como, aqui já a comandar um Pel Art, obus 8.8 (a duas bocas de fogo), com que participou, entre outras, na Op Tridente (jan-mar 1964);

(vi) no CTIG era popularmente conhecido pelo seu nome artístico, "Carvalhinho" (cantava o fado de Lisboa e tocava guitarra); em Bissau, chegou a fazer espetáculos com o alf médico Luís Goes (que cantaca e tocava o "fado de Coimbra"); 

(vii) tornou-se também amigo dos então alferes milicianos 'comandos' Justino Coelho Godinho e Maurício Saraiva (já falecidos), quando se estavam a organizar os Comandos do CTIG;

 (viii) o José Álvaro Almeida de Carvalho (seu nome completo) publicou em 2019 o "Livro de C", Lisboa, na Chiado Books (710 pp.) ("C" é o "nickname" pelo qual o pai o tratava); 

(ix) é empresário reformado, trabalhou também como quadro técnico em  empresas metalomecânicas como  a L. Dargent Lda, de que  o Zé Álvaro era diretor do departamento de trabalhos exteriores, e sócio minoritário (fez , por exemplo, a montagem da superestrutura metálica e cabos de suspensão da ponte na foz do Rio Cuanza em Angola).

2. Voltando às memórias do José Álvaro Carvalho (*), estamos agora em 1964, em Catió, no BCAÇ 619, 1964/66: ele está destacado com um Pel Art 8.8 a duas bocas de fogo, pertencente à BAC (Bateria de Artilharia de Campanha) (ou ao BCAÇ 600, estamos na dúvida).

Este Pel Art participaria em grandes operações no setor de Catió ("Tridente", "Broca", "Macaco", "Tornado" e "Remate"). A atuação do seu comandante, no campo operacional valeu-lhe, em 1967, uma Cruz de Guerra de 3ª Classe.

Estamos  na Ilha do Como, no decorrer da Op Tridente (jan-mar 1964). O texto que se segue, será completado por um apontamento do Mário Dias sobre o "alferes Carvalhinho" como comandante do Pel Art que apoiou as NT no Como.

 
Guiné > Região de Tombali > Ilha do Como > O sargento do Pel Art / BAC obus 8.8, comandando pelo alf mil art José Álvaro Carvalho. O obus .8,8 cm m/943.possuía uma plataforma circular,  fazia tiro empregando munições de carga variada (granada explosiva 11,3 kg e granada de fumos) tnha em alcance de 12250 metros a + 44º.  Peso: 1796 kg (incluindo reparo). Tracção por tractor de rodas. Na Op Tridente terão sido disparadas c. 1200 granadas de obus 8,8.


Fotos  (e legendas): © José Álvaro Carvalho (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Memórias de um artilheiro (José Álvaro Carvalho, ex-alf mil, Pel Art / BAC, 8.8 cm, Bissau, Olossato e Catió, 1963/65) (*)


Parte VII: "Carvalhinho, você ainda me mata algum homem, temos tropas na mata"



Era noite e o alf mil art Carvalho, cmdt do Pel Art 8.8,  preparava-se para dormir quando foi chamado ao comando do batalhão porque o rádio emitia preocupantes pedidos de socorro, que partiam dum pelotão estacionado a cerca de 7 km que estava a ser atacado por um grupo numeroso de guerrilheiros impossíveis de conter sem ajuda.

A água, a lama e a mata cerrada que na zona crescia tornavam impossível enviar reforços à noite,  só de manhã. Mandaram-lhe ver o que conseguia fazer com os obuses. 

O pelotão a cerca de 7 kms de distância, encontrava-se entre os atacantes e um canal e rodeado de mata com lama exceto por onde estava a ser atacado. Só havia a possibilidade de fazer fogo de barreira para trás dos atacantes e começar a rodar os tubos na direcção do pelotão, havendo sempre o perigo de com algum descuido lhe acertar. As pontarias em direcção eram mais delicadas que em alcance. No rádio, os pedidos de socorro sucediam-se cada vez com mais insistência.

O alferes decidiu trabalhar só com um obus e verificar pessoalmente as pontarias. Disse ao sargento para carregar sempre e só o primeiro obus e só disparasse por sua ordem depois da pontaria ser por si verificada.

− Alça 8000 jardas, direcção 81º.

Verificou os elementos introduzidos pelo apontador e ordenou:

− Fogo!

A primeira granada partiu. Disparou mais 3 granadas com alcances intervalados de 300 jardas.

Ouviu-se no rádio :

− Mais para cá. Estão a cair longe. Mais para cá!

Sempre junto do apontador disse-lhe :

− Alça 7500 jardas, direção 80º. 

Verificou os elementos e ordenou:

− Fogo!

Mandou disparar mais 2 granadas com alcances de 300 jardas para mais e para menos.

No rádio ouviu-se:

− Está melhor. O ataque diminuiu. Mas mais para cá.

A voz já estava menos assustada mas pedia granadas para junto de si próprio. A preocupação que tinha de acertar no pelotão aumentou.

− Alça 7200 jardas, direção 79.5º. 

Verificou de novo os elementos e ordenou:

− Fogo!

No rádio ouviu-se:

− O ataque continua a diminuir. Mas mais para cá! Mais para cá!

Mandou disparar outras 2 granadas com a diferença no alcance de mais e menos 300 jardas. O rádio continuou a pedi-las mais próximas, tendo chegado á direção de 79º. Àquela distância,  1º representava muitos metros. Daqui a sua preocupação. Continuou a disparar granadas de flagelação para a zona com direções diferenciadas em alguns minutos até o operador rádio dizer:

− Obrigado, o ataque terminou por agora.

A preocupação que teve nesta operação fê-lo desprezar a necessidade de abrir a boca quando de cada disparo, o que lhe originou a perfuração dum tímpano com infeção e dores violentas nos dias que se seguiram. O médico começou a dar-lhe injeções de penicilina 2 vezes por dia e só passadas 2 semanas conseguiu entrar de novo em operações com o ouvido muito protegido e afastado das zonas de disparo tanto quanto possível .

No dia seguinte o comandante do batalhão visitou o local de helicóptero e verificou que tinham rebentado granadas a cerca de 150m do sítio onde o pelotão se encontrava estacionado.

(Revisão / fixação de texto/ título e subtítulo: LG)



2. Excerto do poste P356 (**),  de Mário Dias, ex-srgt 'comando' (Brá, 1963/66), que participou na Op Tridente, integrando o Gr Comds do alf mil 'cmd' Maurício Saraiva

(...) A Base Logística onde também funcionava o posto de comando, estava ampliada e melhorada. Pousavam lá os aviões ligeiros (Auster e Dornier) bem como helicópteros desde que a maré não estivesse totalmente cheia. A areia molhada formava uma excelente pista de aterragem. 

Também já lá estavam duas bocas de fogo de obus 8,8cm, comandadas pelo alf mil Carvalhinho, exímio tocador de guitarra e igualmente exímio tocador de garrafa de cerveja que nunca abandonava.

Uma tarde, depois de almoço, estava eu a descansar um pouco e ouvi um tiro de obus. Fui ver. O alferes Carvalinho, de calções, tronco nu, indispensável cerveja na mão, alguns passos atrás das peças ia ordenando ao apontador:

 Pá, levanta um bocadinho… não, foi demais, baixa… um pouco para a direita… está bom. Fogo!

E a granada partiu rumo ao seu destino. Salta de lá o tenente-coronel  Fernando Cavaleiro, comandante da Op Tridente:

 
− Ó Carvalinho, você ainda me mata algum homem, temos tropas na mata!

 
− Calma,  meu tenente coronel, isto vai ter aonde eu quero . 

E continuou:

 Eh pá, baixa um pouco… está bom. Fogo! 

E foi assim até disparar 4 granadas. Acercando-me dele perguntei:

− Meu alferes, para onde foram esses tiros? 

Mostrando-me a carta,  indicou:

 Para o cruzamento destes caminhos. 

E apontou um cruzamento de um caminho com a picada de Cassaca.

Não é que, alguns dias depois, ao passar pelo referido local, lá estavam, muito próximos uns dos outros, os 4 impactos das granadas?!

(Revisão / fixação de texto, itálicos, negritos: LG)
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 11 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25830: Memórias de um artilheiro (José Álvaro Carvalho, ex-alf mil, Pel Art / BAC, 8.8 cm, Bissau, Olossato e Catió, 1963/65) - Parte VI: dois meses na ilha do Como, na Op Tridente: farto do arroz com conservas, o pessoal comia búzios, e carne e ovos de tartaruga

Guiné 61/74 - P25900: Parabéns a você (2306): Manuel Joaquim, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 1419 / BCAÇ 1857 (Bissorã e Mansabá, 1965/67)

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Nota do editor

Último post da série de 27 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25887: Parabéns a você (2305): Jaime Machado, ex-Alf Mil Cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2026 (Bambadinca, 1968/70)

sábado, 31 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25899: Verão de 2024: Nós por cá todos bem (9): O amor mora em Queens: Vilma (esloveno-americana) e João (luso-americano) (Recorte do jornal "Dnevnik", 5 de julho de 2024)


 



Ljubezen v Queensu: Vilma in João | Love in Queens: Vilma and João | O amor mora em Queens: Vilma & João


1. Recorte (e fotos) do jornal "Dnevnik" , Liubliana, Eslovénia, 5 de julho de 2024. Artigo de Nik Erik Neubauer, que acompanhou o casal Crisóstomo, Vilma e João, desde a sua casa, em Queens, Nova IOrque, em viagem de férias, até à terra da Vilma, Brestanica, na Eslovénia, aproveitando o ensejo para contar o seu feliz reencontro há 13 anos atrás. Amigos desde 1971, João e Vilma estiveram sem notícias um do outro até 2011. Casaram-se em 2013.  Com a ajuda do Google Translate, traduzimos e adaptámos a versão inglesa do artigo (gentilmente disponibilizado pelo João). E que reproduzimos aqui, com a devida vénia. (LG)


I met Vilma Kračun and João Crisóstomo over coffee in the community space of the Slovenian church in Manhattan. When I introduce myself and tell them what I'm doing in New York, João tells me: "Today you will have lunch with us!"

Conheci   a Vilma Kračun e o João Crisóstomo  a tomar um café,  no espaço comunitário da igreja eslovena em Manhattan. Quando me apresentei e contei-lhes o que estava a  fazer em Nova York, o João disse-me logo: "Hoje você vai almoçar conosco!" (*)

 In a few minutes we are already driving to their house in Queens, and at the same time I get a short tour of the sights of Manhattan. I am most amazed by the tall and narrow skyscrapers, 

Em poucos minutos já estávamos a ir de carro para a  casa deles em Queens, e ao mesmo tempo que eu  ia fazendo  uma visita guiada aos pontos turísticos de Manhattan. O que mais me impressionava eram os altos e estreitos.arranha-céus 

Vilma laughs and says: "We call them cigarettes!". They tell me that they drive everywhere by car, because they feel that the subway is not adapted for elderly people, but at the same time, according to them, it can also be dangerous and you never know who you will run into.

A Vilma ri-se e diz-me: “Chamamo-lhes cigarros!”. Dizem-me que vão para todo o lado de carro, porque acham que o metro não é apropriado  para gente  idosa, e ao mesmo tempo, segundo eles, também pode ser perigoso,  nunca se sabendo com quem se vai deparar nos corredores.

When I enter their house, which somewhow reminds me of terraced houses in Koseze, I am surrounded by walls full of photos, documents, handwritten notes and newspaper articles from all over the world. Their love story went around the world and was published in many media.

Quando entro na casa deles, que de alguma forma me lembra as casas geminadas de Koseze, vejo-me cercado por paredes cheias de fotos, documentos, notas manuscritas en recortes de  artigos de jornais de todo o mundo. A sua história de amor deu a volta ao mundo e foi publicada em muitos meios de comunicação.

The couple met in 1971 and then reunited four decades later in 2011. They had met in London, where Vilma was working as an au pair and he as a waiter, after which they lost touch when João moved to New York. Together with his then-partner, he tried to find a lost friendship until 1997, when he and his then-wife broke . And from then on he continued to do it alone. He sent letters to her address, but they always bounced back.

O casal conheceu-se em 1971 e reencontrou-se quatro décadas depois, em 2011. Eles timha-se conhecido  em Londres, onde Vilma trabalhava como "au pair gitl"  e ele como porteiro de hotel, após o que perderam o contato um do ouytro quando o  João se mudou para Nova York.  Junto com sua então companheira, mãe dos seus filhos, ele tentou reencontrar uma amiga perdida até 1997, altura em que  se separaram, ele e a sua  esposa. E a partir daí ele continuou à procura da Vilma, mas agira sozinho. Enviou cartas para o endereço dela, mas foram sempre devolvidas.

He also tried to use all his many acquaintances to reunite with Vilma. He continued looking for her when he worked as a butler for people from high circles of American society, including Jacqueline Kennedy Onassis. He also tried to contact Vilma through a friend, Ramos Costa who was then the Portuguese Ambassador in Yugoslavia, but this was also unsuccessful, as Vilma had moved to Paris in the meantime. On Valentine's Day, in 2011, his then sister-in-law, who lived in Toronto, called him and told him that she had found Vilma on Facebook.

Ele também tentou usar a sua rede de contactos pessoais e sociais  para descobrir  a Vilma. Ele continuou a procurá-la quando trabalhava como mordomo para pessoas de alta sociedade americana, incluindo Jacqueline Kennedy Onassis. Tentou também contactar a Vilma através de um amigo, Ramos Costa, então embaixador de Portugal na Jugoslávia, mas também não teve sucesso, uma vez a Vilma tinmha-se entretanto mudado para Paris. No Dia dos Namorados, em 2011, uma cunhada do João, que morava em Toronto, ligou-lhe econtou que havia encontrado a Vilma no Facebook.

João immediately called her and Vilma answered him in the middle of the night at two in the morning. In the following weeks and months, they spent hours and hours on the phone, talking and getting to know each other. A year later, João came to Vilma in Paris. "When he arrived, I felt as if I had known him all my life. He hugged me as tightly as the Portuguese do and I thought my heart would burst from all the emotions." 

João ligou-lhe  imediatamente. A Vilma atendeu a chamada, eram duas da madrugada...  Nas semanas e meses seguintes, eles passaram horas e horas ao telefone, conversando e conhecendo-se melhior. Um ano depois, o João veio ter com a Vilma a Paris. "Quando ele chegou, senti como se o conhecesse desde sempre. Ele abraçou-me com tanta força como os portugueseso fazem, e pensei que o meu coração fosse explodir de t
anta emoção." 

Vilma had already started to fall in love with Joao during all the conversations on the phone, while he primarily wanted to find his good friend: "I don't like to lose friendships, which are our greatest treasure in life. But when we hugged then it was really like love at first sight." On the two-hours journey to a border town in Switzerland, they also told each other in person everything that they had not been able to do over the phone before. Soon after, they moved to New York and got married.

Vilma já havia começado a apaixonar-se  pelo João ldurante as primeiras  conversas mantidas ao telefone, enquanto ele queria principalmente encontrar a sua boa amigo: "Não gosto de perder amizades, que são o nosso maior tesouro na vida. Mas quando nos abraçámos então foi realmente amor à primeira vista." Na viagem de duas horas até uma cidade fronteiriça na Suíça, eles também contaram um ao outro pessoalmente tudo o que antes não tinham conseguido fazer por telefone. Logo depois, mudaram-se para Nova York e casaram-se.


João's unyielding character is also manifested in many humanitarian purposes. He was involved and influential in preventing the construction of a dam in Portugal that would have caused the destruction of Stone Age drawings in the Portuguese town of Vila Nova de Foz Côa. In 1998, UNESCO listed the area as a World Heritage Site. Rupert Murdock, an Australian businessman and media magnate, for whom he occasionally worked as a butler helped him, by recommending him to the editor of the “Times of London” one of the many publications he owned. For his role in rallying the international media to this campaign to save the Fozcoa Engravings he was thanked for his efforts by the then Prime Minister of Portugal, today's Secretary General of the United Nations, António Guterres.

O carácter determinado  do João também se manifesta em muitos propósitos de cariz humanitário. Teve envolvimento e influência na campanha contra  a construção de uma barragem em Portugal que teria causado a destruição de gravuras da Idade da Pedra em Vila Nova de Foz Côa. Em 1998, a UNESCO classificou  a área como Patrimônio Mundial. Rupert Murdock, empresário australiano e magnata da comunicação social, para quem trabalhou ocasionalmente como mordomo, ajudou-o, recomendando-o ao editor do “Times of London”, uma das muitas publicações que possuía. Pelo seu papel na mobilização dos meios de comunicação internacionais para esta campanha para salvar as Gravuras de Foz Coa, foi objeto de apreço e gratidão   pelo então Primeiro-Ministro de Portugal, hoje Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres.

He also played an important role in the independence of East Timor, by his contacts with Patrick Kennedy, Bill Clinton and Nelson Mandela and other leaders and key people in world affairs.

 Desempenhou também um papel importante na independência de Timor-Leste, através dos seus contactos com Patrick Kennedy, Bill Clinton e Nelson Mandela e outros líderes e pessoas-chave na política internacional. 

He was also influential in his contacts with the international media, the US Senate and the Clinton administration. His desire to help, whenever he felt his involvement could be useful, led him to collect signatures of support for the release of three American hostages from Colombia in 2008. He is always tireless in his efforts, forced sometimes due to time zones differences to stay up all night on the landline to contact influential people from around the world.

Ele também foi influente nos seus contatos com os órgãos de comunicação a níve internacional,.  o Senado dos EUA e a administração Clinton. A sua vontade de ajudar, sempre que sentiu que o seu envolvimento poderia ser útil, levou-o a recolher assinaturas de apoio à libertação de três reféns americanos da Colômbia em 2008. É sempre incansável nos seus esforços, obrigado às vezes, devido a diferenças de fuso horário, a ficar acordado a noite toda, ao telefone fixo,  para entrar em contato com pessoas influentes de todo o mundo. 


At the moment João and and Vilma are on a visit to Slovenia, visiting her hometown in Brestanica.

They will soon go to Portugal, where a ceremony will be held on July 19 when the former home of the portuguese diplomat Aristides de Sousa Mendes, after long repairs and reconstruction will be reopened by the President of Portugal .


This new renovated home, now transformed into a Museum will be the new headquarters of the Day of Conscience.

Neste momento João e Vilma estão de visita à Eslovênia, visitando  da Vilma cidade natal, Brestanica. (**)

Irão em breve para Portugal, onde será realizada uma cerimónia no dia 19 de julho, quando a antiga casa do diplomata português Aristides de Sousa Mendes, após um longo restauro e  reconstrução, será reaberta pelo Presidente de Portugal. (***)

Esta nova casa renovada, agora transformada em Museu, será a nova sede do Dia da Consciência. 

The “Day of Conscience” was first publicly remembered in 2004 by João Crisóstomo with dozens of events in 21 countries around the world to commemorate the day ( 17 of June 1940) when Aristides de Sousa Mendes, against the express orders of Lisbon, but in accordance with his conscience, began issuing as many visas as he could, many thousands of them, to Jews and other refugees during the Second World War.

O “Dia da Consciência” foi recordado publicamente pela primeira vez em 2004 por João Crisóstomo com dezenas de eventos em 21 países de todo o mundo para comemorar o dia (17 de Junho de 1940) em que Aristides de Sousa Mendes, contra as ordens expressas de Lisboa, mas em de acordo com a sua consciência, começou a emitir tantos vistos quanto pôde, muitos milhares deles, para judeus e outros refugiados durante a Segunda Guerra Mundial. 

During His General Audience on June 17 2020 Pope Francis, following long and perseverant efforts by João Crisóstomo, founder of this project, recognized the great humanitarian diplomat Aristides de Sousa Mendes and the “Day of Conscience”.

Durante a Audiência Geral de 17 de junho de 2020, o Papa Francisco, após longos e perseverantes esforços de João Crisóstomo, fundador deste projeto, reconheceu o grande diplomata humanista Aristides de Sousa Mendes e o “Dia da Consciência”.


(Tradução, adaptação, revisão/fixação de texto, tíitulo, itálicos e negritos: LG)
 (Com a devida vénia...)
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Notas do editor:


(*) Últimos cinco poste da série >
29 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25893: Verão de 2024: Nós por cá todos bem (8): Mensagem enviada ao Blogue pelo ex-Alf Mil Rogério Parreira do BENG 447 (Guiné, 1968/70)


29 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25891: Verão de 2024: Nós por cá todos bem (7): ... E vamos lá estar, no Porto, na Casa da Música: Orquestra Médica Ibérica, Concerto solidário, dia 8 de setembro, domingo, às 18h00

27 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25888: Verão de 2024: Nós por cá todos bem (6): Lançamento do livro "A Pesca da Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores", de Arsénio Chaves Puim, dia 29, 4ª feira, pelas 21h00, na Biblioteca Municipal de Vila do Porto.

26 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25884: Verão de 2024: Nós por cá todos bem (5): Tabanca do Algarve, com o con inf ref Manuel Figueiras (Tavira e CCS/BCAÇ 2852), o Humberto Reis (CCAÇ 12), e dois camaradas do TO de Moçambique (Eduardo Estrela, ex-fur mil, CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71)

15 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25843: Verão 2024: Olá, nós por cá todos bem (4), um bom livro, de sabor camiliano, o último do Joaquim Costa, para se ler na praia, no pinhal ou na esplanada, de trás para a frente e de frente para trá


(**) Vd. postes de

25 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25881: Tabanca da Diáspora Lusófona (24): As minhas férias possíveis em 2024: EUA, Portugal e Eslovénia - Parte I (João Crisóstomo
26 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25883: Tabanca da Diáspora Lusófona (25): As minhas férias possíveis em 2024: EUA, Portugal e Eslovénia - II (e última) Parte (Rui Chamusco / João Crisóstomo)


(***) Vd. poste de 19 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25762: Efemérides (442): Hoje, no dia do 139º aniversário natalício de Aristides de Sousa Mendes (1885-1954), e na inauguração do seu Museu, em Cabanas de Viriato, Carregal do Sal, o Papa Francisco deu-nos a graça e a honra da Sua Benção (João Crisóstomo)